FICHA 01 - O que é e para que a filosofia? Introdução à Filosofia “Conforme a tradição, o criador do termo "filosofia" foi Pitágoras (...). O termo certamente foi cunhado por um espírito religioso, que pressupunha só ser possível aos deuses uma ‘Sofia’ ("sabedoria"), ou seja, a posse certa e total do verdadeiro, enquanto reservava ao homem apenas uma tendência à Sofia, uma continua aproximação do verdadeiro, um amor ao saber nunca totalmente saciado - de onde, justamente, o nome "filosofia", ou seja, "amor pela sabedoria". (REALE,) “Atualmente designamos por filosofia a ciência – se por ciência, entendermos o conhecimento por causas - de todas as coisas por suas causas mais elevadas, adquirida à luz natural da razão. Colocado diante de um fenômeno da natureza (uma trovoada com seus relâmpagos, ou um incêndio na mata, ou uma seca..), o homem experimenta surpresa e admiração. Espontaneamente ele procura saber a causa desse fenômeno surpreendente. Ele o faz primeiramente mediante a observação da natureza, e assim descobre as causas imediatas dos fenômenos que o cercam, dando início ao que chamamos as ciências experimentais: a física, a química, a biologia... Mas o desejo de saber não para aí... ainda espontaneamente, o homem pergunta a si mesmo: E de onde vem as forças da natureza que causam os trovões, os raios, o calor, o frio? Quais são as causas dessas causas? E qual é a causa última de todas as causas? É esse desejo de saber não apenas enumerando fenômenos, mas procurando compreendê-los e explicá-los pelas suas causas mais remotas, que nós chamamos filosofia.” (Estêvão Tavares Bettencourt OSB, Curso de Filosofia. Rio de Janeiro. Escola Mater Ecclesiae) “Sob o intenso azul Do céu, um ou outro pássaro voa; Nunca se detém: porque todas as imagens levam escrito: ‘mais além’. (MONTALE, E. L’agave sul lo scoglio.) Vemos assim que a filosofia se diferencia das ciências entendidas no sentido moderno dessa palavra. Embora a filosofia e as ciências naturais procurem explicar os fenômenos por suas causas, notamos que há uma hierarquia ou uma escala de causas (...) Do que foi dito, depreende-se que todo o ser humano é um pouco filósofo. Mesmo o cientista, que cultiva a área do saber próximo ou imediato, sente necessidade de explicações mais amplas ou globais ou do que se chama uma cosmovisão, uma visão que abranja o universo inteiro e explique o valor ou o sentido de cada coisa existente. Quando mais não seja, todo homem é para si mesmo, uma interrogação...interrogação da qual ele não pode fugir e para qual ele tende a procurar uma resposta, se ele quer dar um sentido à sua vida e orientar seus passos no conjunto dos demais seres. “E sempre que te vejo Estar tão muda assim sobre o deserto, Que em seu limite incerto o céu confina, Ou sobre o meu rebanho, Indo, indo, a seguir-me bem de perto, E olhando o céu de estrelas sobre as rochas, Digo-me a mim pensando: Para que tantas tochas? Que fazem o ar infindo e essa profunda, Azul serenidade? Que quer dizer a solidão imensa? E eu que sou? (LEOPARDI, G. Canto notturno di un pastore errante dell’Azia) Para que a filosofia? Quem não tem enfrentado problemas na vida? Todos sem exceção. O que diferencia as pessoas é a maneira como se colocam diante dos problemas de sua existência. Exemplo: para resolver um desacordo com outra pessoa um homem pode se valer da violência ou do diálogo; a primeira põe em jogo a força física, o segundo põe em jogo a força da razão e o compromisso com a verdade e não os seus interesses particulares. A filosofia oferece a pessoa um novo caminho ou método para estar diante dos problemas da vida de uma maneira mais adequada à realidade. Por que a filosofia? Por que todos deveriam aprender a pensar filosoficamente - a fazer as questões pungentes que as crianças e os filósofos fazem, e a que os filósofos às vezes respondem? Há muito tempo creio que todos deveriam ocupar-se da filosofia – mas não para obter mais informações sobre o mundo, sobre a sociedade, ou sobre nós mesmos. Para isso, é melhor voltar-se para as ciências sociais e para a história. A filosofia nos é útil de um outro jeito – ela nos ajuda a compreender coisas que já sabemos, a compreendê-las melhor do que agora. É por isso que todos deveriam aprender a pensar filosoficamente. (ADLER, Mortimer J. Aristóteles para todos: uma introdução simples a um pensamento complexo. Tradução Pedro Sette-Câmera. São Paulo: Ed. É Realizações, 2010.) PONTO DE PARTIDA DA FILOSOFIA O ponto de partida da filosofia é um problema real, um problema que seja verdadeiro. Não há coisa mais absurda do que buscar uma solução para um problema que não existe. Por isso, algumas pessoas compreendem a filosofia como algo sem sentido, e que de certo modo, não deve despertar o nosso interesse, muito menos nossa atenção. Na origem desse desinteresse está um desconhecimento dos problemas enfrentados pela filosofia e do fato de que elas fazem parte daquilo que nós somos. A partir do que foi dito até agora, já podemos enfrentar uma tentativa de síntese que defina e explique a utilidade da filosofia. Se a filosofia parte de um problema real, ela não se contenta com qualquer resposta a esse problema. Não basta saber COMO as coisas acontecem, ou de que são feitas, mas o PORQUÊ delas existirem. “Há em todo homem um desejo natural de conhecer as causas daquilo que percebe. É, portanto, em consequência da admiração sentida em face dos objetos, mas cujas causas lhe permanecem escondidas, que o homem se põe a filosofar. Uma vez descobertas as causas, seu espírito se tranquiliza. Mas a busca não cessa até que tenha chegado à primeira causa, por que só quando esta é conhecida é que o homem julga conhecer de maneira perfeita.” (Tomás de Aquino, Suma contra os gentios) Alguém poderá perguntar: Por que o homem sentiu necessidade de filosofar? 0s antigos respondiam que tal necessidade se enraíza estruturalmente na própria natureza do homem. Escreve Aristóteles: "Por natureza, todos os homens aspiram ao saber." E ainda: "Exercitar a sabedoria e o conhecer são por si mesmos desejáveis aos homens: com efeito, não é possível viver como homens sem essas coisas." E os homens tendem ao saber porque se sentem cheios de "estupor" ou de maravilhamento". Diz Aristóteles: "0s homens começaram a filosofar, tanto agora como na origem, por causa do maravilhamento: no princípio, ficavam maravilhados diante das dificuldades mais simples; em seguida, progredindo pouco a pouco, chegaram a se colocar problemas sempre maiores, como os relativos aos fenômenos da lua, do sol e dos astros e, depois, os problemas relativos a origem de todo o universo." Assim, a raiz da filosofia é precisamente esse "maravilhar-se", surgido no homem que se defronta com o Todo (a totalidade), perguntando-se qual a origem e o fundamento do mesmo, bem como o lugar que ele próprio ocupa nesse universo. Sendo assim, a filosofia é indispensável e irrenunciável, justamente porque não se pode extinguir o deslumbramento diante do ser nem se pode renunciar à necessidade de satisfazê-lo. Por que existe tudo isso? De onde surgiu? Qual é sua razão de ser? Esses são problemas que equivalem ao seguinte: Por que existe o ser e não o nada? E um momento particular desse problema geral é o seguinte: Por que existe o homem? Por que eu existo? Trata-se, evidentemente, de problemas que o homem não pode deixar de se propor ou, pelo menos, são problemas que, à medida que são rejeitados, diminuem aquele que os rejeita. E são problemas que mantêm seu sentido preciso mesmo depois do triunfo das ciências particulares modernas, porque nenhuma delas consegue resolvê-los, uma vez que as ciências respondem apenas a perguntas sobre a parte e não a perguntas sobre o sentido do "todo". Por essas razões, portanto, podemos repetir, com Aristóteles, que não apenas na origem, mas também agora e sempre, a antiga pergunta sobre o todo tem sentido – e terá sentido enquanto o homem se maravilhar diante do ser das coisas e diante do seu próprio ser. (REALE, Giovanni. História da Filosofia: filosofia antiga e pagã. V 1; [Tradução Ivo Storniolo] – São Paulo: Paulus, 2003.) Questões: Qual a sua compreensão e entendimento a respeito de: 1) 2) 3) 4) O que é Filosofia? Para que Filosofia? Como se origina a indagação filosófica? “Não basta saber COMO as coisas acontecem, ou de que são feitas, mas o PORQUÊ delas existirem.” Explique? 5) O que é “estupor” de que fala o texto? Cite dois ou mais exemplos.