análise semântico-pragmática do conector se

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FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca do CCH / UENF
020/2010
M745
Monken, Priscila Mattos
O valor semântico-pragmático do conector se / Priscila Mattos Monken -Campos dos Goytacazes, RJ, 2009.
216 f. : il
Orientador: Gilberto Lourenço Gomes
Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) – Universidade Estadual
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências do Homem, 2009
Bibliografia: f. 202 - 210
1. Conjunções Condicionais – Semântica. 2. Análise do Discurso. 3.
Linguística. I. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.
Centro de Ciências do Homem. II. Título.
UNIVERSIDADE ESTADUAL NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
DEPARTAMENTO DE COGNIÇÃO E LINGUAGEM – PÓS-GRADUAÇÃO
PRISCILA MATTOS MONKEN
ANÁLISE SEMÂNTICO-PRAGMÁTICA DO CONECTOR SE
CAMPOS
2009
PRISCILA MATTOS MONKEN
O VALOR SEMÂNTICO-PRAGMÁTICO DO CONECTOR SE
Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Cognição e Linguagem, como
requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre.
Área de concentração: Estudos da Linguagem. Subárea: Língua Portuguesa.
ORIENTADOR:
Prof.
LOURENÇO GOMES
CAMPOS
2009
Dr.
GILBERTO
A Deus que sempre me iluminou em cada passo
meu. Aos meus pais, as pessoas mais incríveis que
conheci, Neide e Kurt, pelo amor incondicional. A
meu marido Glauber, minha filha Júlia e a
Carminha pelo acompanhamento e dedicação nos
momentos mais difíceis; amo vocês. Ao meu tio
Guilherme por todo apoio e incentivo aos meus
estudos.
AGRADECIMENTOS
Essa pesquisa só foi possível devido à colaboração de muitas pessoas,
colaboração esta que se iniciou desde o primeiro dia em que decidi participar do processo
seletivo de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem na Uenf.
Não haverá palavras que traduzam toda a minha gratidão aos familiares,
amigos e professores que me conduziram com suas presenças, palavras de conforto e
ensinamentos à realização do grande sonho que foi e é essa pesquisa.
Ao professor Dr. Gilberto Gomes, a quem
agradeço por todo o conhecimento que me
foi passado e por toda a paciência ao ajudarme a superar minhas grandes dificuldades e
assim
alcançar
meu
tão
esperado
crescimento. Registro aqui meu carinho e
gratidão a você, grande responsável por esta
conquista.
Às professoras Dras. Arlete Parrilha Sendra
e Maria Luiza que me incentivaram a
participar do Programa de Pós-Graduação
em Cognição e Linguagem.
Ao professor Frederico Schwerin Secco por
suas palavras amigas que me confortaram
em tantos momentos e ao professor Nilson e
André Fernandes Meirelles pela ajuda no
tratamento estatístico dos dados da pesquisa.
Às amigas Ana Clarice Barroso, Ana Flávia,
Adriana-Flor de Souza, Cynthia Viviane
Machado e Fernanda Renne pela amizade
sempre disponível em todos meus momentos
difíceis, por compreenderem minha ausência
em tantos eventos e também pela indicação
de algumas bibliografias fundamentais para
minha pesquisa.
Agradeço a todos os informantes que
responderam
meus
questionários,
viabilizando essa pesquisa.
Espero ter correspondido, dentro de minhas
limitações, a tudo o que desta pesquisa se
pode esperar.
EPÍGRAFE
ÍTACA
Constantino Kavafis
Se partires um dia rumo à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posidon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.
RESUMO
Investigamos, neste trabalho, a hipótese de uma possível ambigüidade
factual do conector condicional se. Para testá-la propomos a paráfrase do se pelos
conectores já que e caso. Dessa forma, através de uma descrição e análise de tais
conectores, pretendemos explorar a semanticidade do se.
A primeira etapa da nossa dissertação consiste em uma discussão teórica
sobre a Teoria Variacionista da Sociolingüística, a Semântica, a Pragmática e a Análise do
Discurso. Isso fornece o suporte teórico para nossa pesquisa empírica, por conseguinte para
a nossa segunda etapa da dissertação. Esta consiste em uma pesquisa que visa a fornecer
dados quantitativos e qualitativos a respeito do uso do se. Para tanto, elaboramos dois
formulários em que o informante deve substituir o se pelos conectores expostos nas
alternativas deste.
Julgamos que as escolhas feitas por nosso informante ou por qualquer outro
falante da língua portuguesa nunca são aleatórias. Essas escolhas evidenciam intenções
comunicativas, e, portanto, aspectos semântico-pragmáticos da própria língua. Estes
aspectos relacionam-se com a factualidade do se e dos demais conectores escolhidos por
nós.
Através de uma visão funcionalista e discursiva, atrelaremos os dados
quantitativos aos dados qualitativos para obtermos uma melhor descrição do uso do se.
Objetivamos, com nossas pesquisas, contribuir para o desenvolvimento de estudos sobre a
língua portuguesa, mostrando que a língua é passível de uma sistematização sintática,
embora, não haja como delimitar seus usos no campo semântico-pragmático do discurso
proferido pelos falantes.
ABSTRACT
We investigated, in this work, the hypothesis of a possible factual ambiguity of the
conditional connector if. For that test, we propose the paraphrase of if for the connectors
since and case. In that way, through a description and analysis of such connectors, we
intended to explore the semanticity of the if.
The first stage of our dissertation consists of a theoretical discussion on the
Varitionist Theory of Sociolinguistic, the Semantics, the Pragmatic and the Analysis of the
Speech. It consists in the theoretical support for our empiric research, consequently for our
second stage of the dissertation. This consists of a research that seeks to supply quantitative
and qualitative data regarding the use of the if. For that, we elaborated two forms which the
informer should substitute it if for the exposed connectors in the alternatives of this.
We judged that the choices done by our informer or for any other speaker of
Portuguese are never aleatory. Those choices evidence communicative intentions, and,
therefore, semantic-pragmatic aspects of the own language. These aspects link with the
factuality of if and of the other chosen connectors by us.
Through a functional and discursive vision, we will harness the quantitative
data to the qualitative data for us to obtain a better description of the use of if. We aimed at,
with our researches, to contribute for the development of studies on the Portuguese
language, showing that the language is susceptible to a syntactic sistematization, although,
there is not way to delimit it uses in the semantic-pragmatic field of the speech uttered by
the speakers.
SUMÁRIO
PRIMEIRA PARTE – INTRODUÇÃO ................................................................... 12
1. CONSIDERÇÕES INICIAIS .................................................................................................................... 12
2.
JUSTIFICATIVA................................................................................................................................... 19
3.
OBJETIVOS.......................................................................................................................................... 20
3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................................... 20
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................................................ 20
SEGUNDA PARTE – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................... 22
4.
TEORIAS LINGUÍSTICAS RELEVANTES PARA O ESTUDO DOS CONECTORES
CONDICIONAIS. ........................................................................................................................................... 22
4.1- Teoria da Variação lingüística. .................................................................................................... 22
4.2- FUNCIONALISMO LINGUÍSTICO................................................................................................. 27
4.2.1 Funcionalismo X Formalismo ............................................................................................... 27
4.2.2 Gramaticalização...................................................................................................................... 33
4.2.3 Análise do discurso................................................................................................................. 40
4.2.4 Pragmática ................................................................................................................................. 41
4.2.5 Semântica .................................................................................................................................. 49
5.
ASPECTOS TEÓRICOS DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS............................................. 52
5.1 Considerações gerais sobre condicionais................................................................................ 52
5.2- Classificação dos condicionais quanto à factualidade ........................................................ 55
5.3
Modo e Tempo verbais e sua relação com a factualidade............................................. 76
5.4 Então nos condicionais.................................................................................................................. 78
5.5 Expressão do futuro nos condicionais ...................................................................................... 85
5.6- Esquemas verbais em orações condicionais.......................................................................... 88
5.7 Sobre o conceito de tempo ........................................................................................................... 89
5.8 Modo X modalidade......................................................................................................................... 92
5.9 Aspectos pragmáticos das construções condicionais com presente do indicativo e
futuro do subjuntivo. ............................................................................................................................. 94
5.10 Diferenças gramaticais nos condicionais e sua finalidade ................................................ 99
5.11 Ironia nos condicionais.............................................................................................................. 102
6.
CONECTORES CONDICIONAIS.................................................................................................... 104
6.1 Os conectores condicionais ....................................................................................................... 104
6.2 Conector se e já que...................................................................................................................... 113
6.3 Distinção entre o se e o já que ................................................................................................... 117
TERCEIRA PARTE – PESQUISA EMPÍRICA .................................................... 123
7.
Hipóteses ........................................................................................................................................... 123
8. Formulário 1 ........................................................................................................................................... 123
8.1 Metodologia ..................................................................................................................................... 123
8.2 Texto do Formulário1.................................................................................................................... 131
8.3 Percurso do formulário I .............................................................................................................. 137
8.4 Resultados ....................................................................................................................................... 139
8.5 Discussão......................................................................................................................................... 142
9. FORMULÁRIO II ..................................................................................................................................... 150
9.1 Metodologia ..................................................................................................................................... 150
9.1.1 Descrição geral............................................................................................................................ 150
9.2 Texto do formulário II.................................................................................................................... 159
9.3 Percurso do Formulário II ............................................................................................................ 167
9.4 Resultados ....................................................................................................................................... 169
9.5 Discussão......................................................................................................................................... 184
10. Discussão geral dos resultados da pesquisa empírica ............................................................ 192
11. Considerações finais ......................................................................................................................... 195
QUARTA PARTE – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................. 198
ANEXO ............................................................................................................... 207
Primeira parte – Introdução
1. CONSIDERÇÕES INICIAIS
As orações condicionais apresentam em suas construções uma
grande variedade de esquemas sintáticos e semânticos, além de representarem
uma riqueza de possibilidades expressivas. Epifânio (apud Leão, 1961:74), sobre
o período condicional, afirma que:
[...] usa-se com os mais diferentes propósitos comunicativos
e expressivos. Com ele apresentam-se argumentos de um
raciocínio, prova-se ou refuta-se uma afirmação, acentua-se
a oposição entre dois fatos ou dois seres, evidencia-se a
coexistência de situações, supõe-se e dela se tiram
conseqüências.
As construções condicionais são enunciadas, normalmente, como
observa Neves (2000), das seguintes formas:
Se
Oração Condicional Oração Principal
Oração Principal Se
Oração Condicional
Devemos registrar ainda a possibilidade de a oração condicional
ocorrer interpolada, no meio da oração principal.
Essa fórmula geral abriga uma ampla variedade de condicionais, pois
como visto em Ferrari (2001), podemos ter na oração principal orações
declarativas, interrogativas ou imperativas e podemos ter na oração condicional
uma conjunção ou locução conjuntiva diferente de se, como caso, a menos que,
mesmo se, só se, entre outras.
Também notaremos uma variação modo-temporal na oração
condicional e na oração principal, algumas dessas possibilidades são descritas por
Ferrari (2001) nos seguintes exemplos:
•
Se Marcos faltar à reunião, ele será/vai ser demitido.
•
Se Marcos falta à reunião, ele é demitido.
•
Se Marcos faltasse à reunião, ele seria demitido.
•
Se Marcos tivesse faltado à reunião, ele teria sido/tinha
sido demitido.
Essas variações verbais marcam a perspectiva do falante em relação
ao evento descrito, assim como a escolha de conectores condicionais também a
marca.
Em relação à moldura sintática, Leão (1961:74) nos diz que, na
maioria das vezes, o período condicional estrutura-se com a oração subordinada
anteposta e que essa disposição das orações marcaria uma precedência lógica e
cronológica da hipótese à sua conseqüência. Ela nos explica que, quando
concebemos o fato, já vemos o mesmo submetido a determinadas condições.
Ao se referir à ordem das orações no período condicional, Leão nos
diz que tal estrutura seria explicada pela precedência lógica e cronológica,
contudo não concordamos com a precedência cronológica para explicar essa
estrutura. Em grande parte dos casos temos uma precedência lógica, não
obstante, em frases como Se a estrada estiver molhada, choveu, percebemos que
primeiro tem que haver a chuva e somente depois a estrada estará molhada. Em
casos como esse, observamos que o aspecto cronológico não é evidenciado pelo
esquema “Se A, C”.
No texto “Ah, se eu fosse você, eu voltava pra mim: pensamento e
linguagem nas afirmações condicionais”, Gomes (2007) nos diz que, segundo
Bhatt e Pancheva, temos razões lingüísticas para considerar que a forma “Se A,
C” deriva da forma “C, se A”, tendo a oração principal antes da oração
subordinada condicional. Gomes exemplifica esse fato com algumas frases:
Podemos dizer ‘Se João vier, ele vai jogar’, usando ele para fazer
referência a João, mas também podemos dizer, com o mesmo sentido,
‘Se ele vier, João vai jogar’. Ou seja, o pronome pessoal pode vir em
primeiro lugar, mas ainda assim poderá fazer referência ao substantivo
que vem depois. Já a frase ‘João vai jogar, se ele vier’, na qual ele
refere-se a João, não é equivalente a ‘Ele vai jogar, se João vier’. Ou
seja, o pronome pessoal, se vem em primeiro lugar, não pode fazer
referência ao substantivo que vem depois, mas é naturalmente
interpretado como se referindo a algum outro substantivo anteriormente
citado [...].
Dessa forma, o autor supracitado nos mostra que, como o pronome
pessoal se refere a um substantivo anteriormente citado, na frase “João vai jogar,
se ele vier”, nós temos a ordem primitiva das orações.
A ordem “Se A, C” é forma mais utilizada. Notemos ainda que a
oração que exprime condição é também chamada de prótase e a que exprime o
que é condicionado é chamada de apódose.
Ainda que o se seja apenas uma das conjunções condicionais usada
nesse tipo de período, Leão (1961) afirma que o se é a conjunção condicional por
excelência por abarcar tempos verbais negligenciados por outras conjunções tidas
como condicionais.
Nas construções “Se A, C”, podemos ter na apódose a presença do
então, que nesse caso deixa de ser temporal e passa a ser usado como conector
lógico discursivo. Bechara (2003:325) nos lembra que: “[...] em algumas
construções, se pode alterar o significado originário do advérbio, motivado pelos
significados dos lexemas que entram na oração e por uma interpretação
suplementar, contextual, do falante, calcada na experiência de mundo”. Sobre o
uso do então, Leão (1961:101) afirma que:
A correlação hipotética, que existe logicamente, costuma resolver-se na
língua por uma estrutura de subordinação. Entretanto, o falante sente, às
vezes, necessidade de por em maior evidência a relação entre os dois
fatos por uma estrutura que lembre de perto a correlação lógica, isto é,
com a presença de dois termos correlativos. O português recorre a se...
então, o francês a si... alors, o inglês a if... then, o alemão a wenn... so
Verificamos que as afirmações condicionais representam uma
riqueza de possibilidades expressivas, e por isso mesmo tornam-se assunto de
grande importância para a lingüística e outras áreas.
A lógica foi a ciência que descobriu a importância dos condicionais.
Ela é uma ciência formal da linguagem, mas de uma linguagem muito peculiar,
construída com base no modelo da matemática.
Os períodos da oração, para a lógica, são tidos como proposições.
Utilizamo-nos de estruturas cognitivas para formularmos essas proposições.
Facilmente, criamos proposições, contudo, elas podem ser falsas ou verdadeiras,
dependendo do conteúdo da realidade do nosso pensamento.
A lógica não se importa com o conteúdo, cabe a ela somente o
cálculo das proposições, que permite estabelecer procedimentos para que se
possa determinar valor de verdade ou falsidade de uma proposição. Tais
procedimentos constituem um modelo sistemático não ambíguo.
Os casos mais simples de cálculos de proposição referem-se à
conjunção (Ele bebe e come), negação (Ele não come), disjunção (Ele bebe ou ele
come) e implicação (Se ele bebe, então ele come).
Para que possamos entender um pouco mais sobre esse sistema,
vejamos como podemos simbolizar o cálculo das proposições:
Neste quadro, a afirmação condicional: (A
B) obedece às
condições de verdade estabelecidas, na Antiguidade grega, por Filo de Mégara.
Esse condicional, dito “verofuncional”, foi consagrado pela Lógica Proposicional.
A B A e B A ou B A
B
V V
V
V
V
V F
F
V
F
F V
F
V
V
F F
F
F
V
Dessa forma, um condicional só será falso quando seu antecedente
é verdadeiro e o seu conseqüente é falso, segundo a lógica proposicional. Nessa
teoria temos que considerar como verdadeiro um condicional como “Se a baleia é
um réptil, então ela é um mamífero”.
Como dito anteriormente, os condicionais também são um tema
estudado pela lingüística. Essa ciência desenvolveu-se a partir do século XX e,
segundo um de seus pioneiros teóricos, Saussure, a linguagem é formada de duas
dimensões: a língua e a fala. A primeira é tida como instituição social, enquanto a
segunda é individual, ou seja, é a forma como o indivíduo emprega a língua. Em
uma determinada língua, como postula Saussure, temos o significante e o
significado. A relação dos significantes ou signos com a coisa que designam é
arbitrária, convencional. Contudo, uma vez estabelecida a relação constituída, a
língua como sistema de relações entre signos e significados, entre palavras e
coisas, torna-se necessária para todos os falantes da língua.
Sob a vertente da lingüística, verificamos uma preocupação com o
estudo das estruturas dos condicionais como um sistema dotado de princípios
internos de funcionamento e transformação. Nesse momento, adotamos uma
visão multidisciplinar, uma vez que sob essa vertente nos disponibilizamos do
dispositivo teórico da Teoria Variacionista, aliada à Semântica, à Pragmática e à
Análise do Discurso. Essa multidisciplinaridade ocorre porque ao nos dedicarmos
ao estudo dos condicionais lingüísticos, notamos que, na linguagem, junto a
restrições sintáticas, operam restrições semânticas, por isso um verbo como
comer não admite como sujeito gramatical um substantivo como televisão. Por
conseguinte, o conhecimento que um falante tem de sua língua não é somente
sintático, mas também semântico. O falante associa a signos significados que
influem nas restrições sintáticas, contudo não devemos nos ater apenas ao
sistema, mas à relação do sistema com aqueles que o empregam e o contexto em
que esse sistema é empregado. Nessa visão, surge a pragmática, que tenta dar
conta dos propósitos do falante ao utilizar determinadas construções lingüísticas.
Devemos notar que a linguagem, então, não pode ser concebida
apenas como instrumento externo de comunicação e transmissão de informação,
mas também como um meio de expressarmos e desenvolvermos nosso
pensamento, atendendo não só a nossas intenções comunicativas e sociais, mas
também a nossas necessidades cognitivas. Quando a empregamos, não o
fazemos na forma de palavras soltas e estruturas gramaticais apenas, e sim em
forma de discurso que tem ao mesmo tempo dimensões lingüísticas e
extralingüísticas. Incorpora-se nas nossas pesquisas então a análise do discurso.
Notamos que os discursos veiculados são construídos de formas
diferentes por diferentes pessoas e para diferentes pessoas, dependendo de
fatores como escolaridade, idade, entre outros. Acrescenta-se então a
sociolingüística.
Utilizamo-nos
encaminharmos
nossas
da
vertente
pesquisas
da
sobre
lingüística
condicionais
e
da
lógica
para
lingüísticos,
mais
precisamente sobre o conector condicional se e outros conectores condicionais
utilizados, muitas vezes, no lugar do consagrado se – caso e já que. Nos tópicos
seguintes apresentaremos as diretrizes teóricas que orientam nosso estudo.
2. JUSTIFICATIVA
Consideramos que o estudo dos condicionais lingüísticos possa
colaborar na interdisciplinaridade que o programa de mestrado cultiva. Ao
estudarmos seus usos, notamos que favorecemos o processo de compreensão de
atos comunicativos, como também entendemos melhor os mecanismos da língua
portuguesa, em particular, e de linguagem em geral. Além disso, observamos que
os períodos condicionais envolvem aspectos cognitivos, possuem uma natureza
pragmática e ainda têm um valor semântico discutido sob várias vertentes,
embora, ao consultarmos gramáticas, notemos que muitas se limitam a um
conceito meramente sintático e que muitos estudos acerca do assunto são
incompletos.
Dessa forma, pesquisar estruturas condicionais torna-se não
somente necessário como também fascinante.
3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Mostrar em nosso trabalho a importância das estruturas condicionais,
que ultrapassam aspectos sintáticos, tratando-se também de um processo
cognitivo.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•
Evidenciar a relação estreita entre linguagem e suas funções.
•
Contribuir para uma nova abordagem sobre os períodos condicionais e o
uso de seus conectores.
•
Fortalecer a linha de pesquisa relativa à Sociolingüística Variacionista e ao
Funcionalismo com nossa pesquisa.
•
Verificar a semântica do se a partir da comparação com os conectores
condicionais caso e já que.
•
Observar se determinados conectores condicionais estão ligados mais à
dúvida, enquanto outros mais a certeza.
•
Evidenciar as estratégias interacionais a que os condicionais favorecem.
•
Mostrar a mobilidade semântica de certos vocábulos na língua portuguesa
como o já que, o se e o advérbio então, muito utilizado nas orações
condicionais.
Segunda Parte – Fundamentação Teórica
4. TEORIAS LINGUÍSTICAS RELEVANTES PARA O ESTUDO DOS
CONECTORES CONDICIONAIS.
4.1- Teoria da Variação lingüística.
A língua portuguesa não é falada do mesmo modo por todas as
pessoas que a utilizam. Se empreendermos uma viagem pelo Brasil, notaremos
que os modos de falar das pessoas são diferentes em diversos lugares. Todas as
línguas, em qualquer momento da história e em qualquer lugar, não serão nunca
expressas
de
modo
uniforme,
sendo
sua
principal
característica
a
heterogeneidade. As línguas mudam numa sucessão de passos, pois cada nova
geração introduz alguma mudança na língua. Lemle (1965:61) diz que:
Algumas pessoas, quando percebem mudanças na língua, reagem como
se tivessem sofrido alguma ofensa moral. Essas pessoas crêem que a
nova língua é inferior à anterior, no que diz respeito à beleza e à
possibilidade de veicular idéias, conhecimentos, pensamentos, cultura.
Alguns até, lutam em favor da conservação da língua. Isso acontece há
muitos séculos.
Os modos de falar dos brasileiros mudam devido a diversidades
sociais, como o grau de escolaridade das pessoas, sua situação socioeconômica,
a faixa etária, sua origem geográfica, sua etnia e seu sexo. Os modos de falar dos
brasileiros cultos também variam, contudo apresentam muitos traços comuns em
razão de serem falados por pessoas com formação de nível superior de educação
formal. Os falantes cultos, por terem sido expostos à norma padrão por muito
tempo, procuram muitas vezes se aproximar do ideal da língua culta padrão. Essa
aproximação, muitas vezes, decorre do fato da linguagem refletir um determinado
grupo social tão bem como outras formas de comportamento. Assim, as classes
com maior poder aquisitivo, quase sempre, dão-se conta desse fato e tentam
preservar traços lingüísticos mais próximos do preconizado pela gramática,
diferenciando-se de traços lingüísticos utilizados pela maior parte da população,
que normalmente é constituída pelas pessoas de classe social mais baixa. A
língua padrão, como Cunha & Cintra (2007) ponderam, é sempre a forma mais
prestigiada devido a atuar como modelo, como norma e como um ideal lingüístico
de uma comunidade.
Evanildo Bechara (2003:30), ainda sobre a linguagem, comenta, em
sua Moderna Gramática Portuguesa:
Só de um modo ideal se pensa em linguagem como um só sistema de
signos, na realidade, há na linguagem diversos sistemas de signos – isto
é, de línguas -, diversidade que varia entre países, entre comunidades
sociais ou outros grupos de falantes.
Câmara (1976) ressalta que a língua, como unidade, é uma estrutura
ideal, que apresenta em si traços básicos comuns a todas as suas variedades.
Acrescenta que a língua é invariante, abstrata e virtual, sobreposta a um mosaico
de variantes concretas e atuais. Isto reforça o que Bechara afirma sobre a
linguagem, como defini-la apenas como um sistema de signos, situa-se em plano
um ideal. O estudo das relações que existem entre todas essas variantes sociais e
as variantes lingüísticas que caracterizam determinado fenômeno lingüístico
denomina-se sociolingüística. A sociolingüística não vê nenhum modo de falar
como inferior, para ela, existem variantes da língua padrão e estas são utilizadas
em diferentes contextos. Isto significa dizer, que para a sociolingüística, todas as
variantes lingüísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas
que se modelam de acordo com as necessidades de cada usuário de língua
portuguesa.
O termo sociolingüística fixou-se em 1964, tendo surgido em um
congresso, na Universidade da Califórnia em Los Angeles. Tal termo constitui um
modelo teórico que tem por pressuposto teórico a possibilidade de sistematização
da heterogeneidade lingüística. Dessa forma, questiona vários conceitos do
estruturalismo, desde seu objeto, que é a língua, entendida como um sistema
homogêneo, até o corte temporal que é feito, isto é, nos eixos sincrônico e
diacrônico.
A ruptura entre sincronia e diacronia se faz na Teoria Variacionista a
partir da noção teórica de tempo aparente, uma vez que seria possível a análise
de um momento determinado da língua, isto é, a sincronia, tornar evidente uma
variação temporal, a diacronia. Para isso, em um recorte de tempo determinado,
as diferenças de faixa etária poderiam mostrar diferenças históricas e, também,
indícios de mudanças lingüísticas, quando a implementação da mudança se dá
nas faixas etárias mais jovens e as mais velhas permanecem com a forma
canônica.
Existe uma ruptura da dicotomia língua/fala, uma vez que o
Estruturalismo compreende que apenas os fatos da língua são passíveis de
análise, por serem os que apresentam regularidade. A sociolingüística entende
que é possível a sistematização da heterogeneidade lingüística, isto é, dos fatos
denominados pelo Estruturalismo como pertencentes à fala. Esta sistematização
ocorre por fatos relativos à própria estrutura da língua, como também, por fatos
sociais, discursivos e pragmáticos.
Essa ciência enfatiza a importância da atuação de fatores sociais
sobre fenômenos lingüísticos, entende que a língua reflete os processos sociais
vivenciados por uma determinada comunidade lingüística. Segundo E. Labov
(apud Tarallo, 1986), é impossível existir uma teoria lingüística que não priorize a
relação entre língua e sociedade. Segundo a afirmativa de Labov (apud Tarallo,
1990), o termo Sociolingüística é redundante, uma vez que todo estudo da
linguagem deveria ser social, uma vez que a linguagem é um fato social, que
serve de base a todas sociedades. Labov relaciona fenômenos lingüísticos a fatos
sociais e assim observa que a variação lingüística existente pode ou não ter um
caráter estigmatizado ou, ao contrário, de prestígio. De acordo com Scherre
(2003), observamos, por exemplo, que na língua portuguesa alguns fenômenos
como ausência de concordâncias nominal ou verbal, são estigmatizados,
enquanto outros fatos, como o uso da pessoa verbal discordante no imperativo,
não o são. Os falantes utilizam indiscriminadamente a conjugação de um
determinado verbo no imperativo com a pessoa do discurso inadequada - um bom
exemplo está na frase Ei, você, pede isso para mim. No exemplo dado o verbo
está conjugado na segunda pessoa do singular (tu), no entanto o enunciador
utiliza a terceira pessoa do singular, que corresponderia à peça isso para mim.
Podemos verificar que o uso do pretérito imperfeito em ambiências do futuro do
pretérito não é estigmatizado, sendo, inclusive, utilizado com freqüência em textos
escritos. Também podemos observar que o uso de conectores como caso,
supondo que, já que e dado que aparece nas gramáticas tradicionais com os
respectivos modos que devem ser usados nas orações que são iniciadas por
esses conectores. O uso de determinados conectores com formas verbais não
previstas nas gramáticas é estigmatizado.
As
correntes
que
antecederam
a
sociolingüística
laboviana
explicavam os fatos lingüísticos com outros fatos lingüísticos, limitando-se à
estrutura da própria língua. Saussure, no início do século XX, não exclui o
componente social em seus estudos sobre a língua. A langue ele reserva o fator
social, uma vez que é como instituição mantenedora de uma regra compartilhada
entre os membros de uma mesma comunidade lingüística. Enquanto a parole diz
respeito às realizações individuais do falante, a variação. Saussure (1916) diz: “[...]
a língua é um fato social, no sentido de que é um sistema convencional adquirido
pelos indivíduos no convívio social”.A lingüística saussureana estabeleceu a
homogeneidade do sistema lingüístico como um pré-requisito para a análise
lingüística.
Depois do Estruturalismo de Ferdinand de Saussure, Noam Chomsky
propõe o Gerativismo, contudo esta nova corrente continua dando à língua um
tratamento que não considera fatores que lhe são externos, continuando a dar á
língua um caráter homogêneo. Assim, o Estruturalismo e o Gerativismo
consideraram a língua como homogênea, desconsiderando que um indivíduo
participa de diferentes subsistemas lingüísticos e que muda seus hábitos
lingüísticos. William Labov reage a essas teorias com sua Teoria Variacionista,
afirmando a relação entre língua e sociedade, que só foi estabelecida com maior
precisão com a Sociolingüística. Percebemos que a concepção de língua como
instrumento de comunicação social, diversificado em seus aspectos, como meio
de expressão de pessoas que vivem em sociedades diversificadas cultural, social
e geograficamente, é recente.
A tendência de relacionar linguagem e sociedade está presente em
reflexões de autores do século XX. Temos alguns estudiosos como Mikhail
Bakhtin, Emile Benveniste, Roman Jakobson, que apesar de suas diferenças
teóricas, constituem referências bibliográficas na consideração social dos estudos
lingüísticos.
A partir da nova concepção de língua, tornou-se possível esclarecer
casos de pluralidade de normas derivadas, inter-relação de fatores geográficos,
históricos e sociais que atuam no complexo operar de uma língua. Torna-se,
então, evidente que o uso de um conector condicional em detrimento de outro
deve estar condicionado de maneira consistente dentro de cada grupo social e das
partes integrantes da competência lingüística de seus membros. Cabe lembrar
que essa variação, que é inerente ao sistema da língua e à multiplicidade de
realização do sistema lingüístico, em nada prejudica suas condições funcionais.
4.2- FUNCIONALISMO LINGUÍSTICO
4.2.1 Funcionalismo X Formalismo
Atualmente, temos três principais abordagens teóricas lingüísticas:
estruturalismo, formalismo (abordagem gerativista) e funcionalismo.
A noção de estruturalismo lingüístico é disseminada a partir de 1928
e 1929 nas teses dos primeiros fonologistas que inauguraram as atividades do
Círculo Lingüístico de Praga e que tinham como fundamento as idéias de
Saussure e Baudoin de Courtenay. O estruturalismo descreve as estruturas
gramaticais como fonemas, morfemas, relações sintáticas, semânticas e
sentenças. Com a Escola de Copenhague, o estruturalismo atinge sua mais
radical expressão. É o desdobramento da tese de Saussure de que linguagem é
forma e não substância. A língua sob essa ótica será constituída de peças e de
regras. Logo após o estruturalismo, temos o gerativismo, em que Chomsky
concebe as propriedades lingüísticas universais como parte da faculdade da
linguagem. Chomsky difere de Saussure ao ter a língua como um patrimônio de
toda uma comunidade e não de cada falante, que retém apenas parte do sistema.
Segundo ele, cada falante absorve a gramática de sua língua graças a sua
competência lingüística. Essa competência representa para ele a capacidade de
produzir, através de meios finitos de regras, um conjunto infinito de frases.
O formalismo veio, então, designar um estudo da forma lingüística,
objetivo da gramática tradicional. Porém, o termo passou a designar também um
estudo que utiliza dispositivos lógico-matemáticos, como é o caso da gramática
gerativa, que por frisar especialmente a forma lingüística, embora sem negar a
importância do significado ou do uso, e por dar continuidade à problemática
tradicional da morfossintaxe, passou a ter essa designação (Dillinger 19991:397).
O funcionalismo, semelhante ao gerativismo e ao estruturalismo,
analisa a estrutura gramatical, mas inclui na análise toda a situação comunicativa.
Para o Círculo Lingüístico de Praga, a língua é considerada concomitantemente
estrutura e função. Cardoso (1999:18) comenta que:
Devido ao empréstimo de noções da Teoria da Comunicação, a
dicotomia saussureana língua/fala é repensada em termos de
código/mensagem. Os praguenses consideram a língua em uso, ou seja,
as condições do exercício social da linguagem. Daí a importância de
noções como ‘comunicação’, ‘intenção’, ‘função social’, ‘atos de fala’ etc.
A significação, na perspectiva desses estudiosos, se desloca à medida
que já não vai ser buscada nas propriedades formais das expressões
lingüísticas, mas nas necessidades, funções e condições da
comunicação, ou seja, da linguagem em uso, em condições adequadas,
que envolvem contextos e enunciadores interagindo entre si, com o
mundo e com uma cultura.
Neves (1997:22) observa que: “[...] a gramática funcional visa a
explicar regularidades dentro das línguas e através delas, em termos de aspectos
recorrentes das circunstâncias sob as quais as pessoas usam a língua”.
Uma das distinções dos modelos funcionalista e formalista –
estruturalismo e gerativismo - diz respeito ao primeiro, nas palavras de Costa
(1997:46), “[...] partir do princípio de que a sintaxe não é autônoma, mas depende
do discurso”, assim de acordo com o paradigma funcional, a língua é instrumento
de interação social, enquanto que o modelo formalista demonstra as descrições e
regras da língua com exemplos artificiais e isolados. A distinção entre formalismo
e funcionalismo se deriva de uma oposição entre o estudo da forma lingüística e o
estudo das suas funções na comunicação. Assim, Cunha e Cintra (2007) relatam
que o funcionalismo lingüístico contemporâneo se diferencia das outras
abordagens formalistas por entender a linguagem como interação social e por
investigar mais do que a estrutura gramática de uma língua, buscando as
motivações para as diversas ocorrências dessa língua.
A visão funcionalista da linguagem tem, desse modo, a língua como
um instrumento de interação social entre os falantes de uma comunidade
lingüística, utilizado com o objetivo primeiro de estabelecer relações comunicativas
entre seus usuários. O objeto de estudo do funcionalismo pode, assim, ser
designado como referente aos processos utilizados pelos falantes na construção
do discurso, que é responsável pela forma da língua nas interações verbais. A
linha de pesquisa do funcionalismo tenta, assim, descobrir a fonte da estrutura, na
sua evolução funcional.
Dellinger (1991) cita Leech (1983:46) que menciona diferentes
aspectos dos formalitas e dos funcionalistas:
1-
Os formalistas consideram a língua como fenômeno
mental; os funcionalistas encaram-na como um fenômeno
social.
2-
Os formalistas explicam os universais lingüísticos, como
derivados de uma herança lingüística genética, própria da
espécie humana; os funcionalistas consideram os universais
lingüísticos, derivados da universalidade de empregos da
língua.
3-
Os formalistas explicam a aquisição da linguagem, em
termos de uma capacidade própria do homem para aprender
a língua; os funcionalistas explicam-na em termos de
desenvolvimento
das
necessidades
comunicativas
e
habilidades da criança na sociedade.
4-
Os formalistas estudam a língua como um sistema
autônomo, enquanto os funcionalistas estudam-na em
relação a sua função social.
Nascimento (1990) acredita que os dois tipos diferentes de análise
(formalista e funcionalista) podem não se excluir, mas servir um de apoio para o
progresso do outro. Segundo o autor, ambas as análises definem objetos de
estudo diversos e se referem aos aspectos diversos no que diz respeito dos
fenômenos da linguagem. Para ele, o lingüista não deve apenas se contentar com
uma descrição exterior da língua, mas também com os elementos que a
constituem.
Ao falar de fenômeno da linguagem, cabe, aqui, ressaltar que há
uma diferença entre objeto e fenômeno. Dillinger (1991) cita Bunge, que distingue
objeto-modelo de uma teoria e o seu objeto propriamente dito, considerando
objeto-modelo, como um conjunto de fenômenos que envolvem algo em comum,
cujo estudo varia de teoria para teoria; e o objeto propriamente dito, a coisa com
existência material, cujas características são estudadas através dos fenômenos
selecionados. Dessa forma, afirma que os formalistas e funcionalistas estudam
fenômenos diferentes. Contudo, esses fenômenos envolvem um mesmo objeto de
estudo. Dillinger (1991:401) nos revela a importância de distinguirmos, claramente,
o fenômeno do objeto, a fim de que não afirmemos que as teorias formalista e
funcionalista abordam objetos diferentes.
Naro e Votre (1992:288) ressaltam que “tanto o funcionalista quanto
o gerativista observam aspectos reais do comportamento humano; enquanto o
funcionalista estuda o comportamento lingüístico observado, o gerativista estuda
outro tipo de comportamento: o de refletir e raciocinar sobre a língua”.
Funcionalistas estudam o uso da língua no discurso, analisando-a
em seu contexto social. Os discursos analisados pelos gerativistas são
desprovidos de contexto, já que estudam intuições sobre a língua, fora de
qualquer contexto que seja além do sentencial.
Kato (1998:146) mostra a existência de mais de uma forma de
funcionalismo e ressalta que o contraste entre as diversas perspectivas dessa
teoria se assemelha aos contrastes das abordagens funcionalistas.
A autora diferencia o funcionalismo direcionado a um modelo
abstrato de uso da língua e o funcionalismo direcionado à língua tal como ela se
manifesta em seu uso efetivo, revelando que mesmo na perspectiva funcionalista
temos correlatos da língua I (interna) e da língua E (externa), definidas por
Chomsky como sendo, a primeira, representação da competência sintática do
falante e a segunda, o objeto gramatical externo, observável. A distinção, de
acordo com a autora, é que na perspectiva do funcionalista são estudados os
processos mentais que entram em jogo no uso da língua e não apenas o
conhecimento estrutural dos enunciados, e na visão E, leva-se em conta o
contexto social.
Com todo o exposto acima, podemos notar que estruturalismo,
formalismo e funcionalismo se completam, uma vez que irão estudar de formas
diferentes fenômenos que se referem a um mesmo objeto. Essas correntes são,
portanto, alternativas, representando, assim, aspectos complementares que
contribuem para uma compreensão maior da linguagem. Em outras palavras, as
noções estruturais lingüísticas e o gerativismo analisam a estrutura gramatical da
língua que serve de apoio para o funcionalismo que engloba a essa noção
estrutural da língua o contexto sócio-comunicativo. Isso torna essas teorias parte
de um único conjunto: o que tenta explicar e compreender a linguagem.
4.2.2 Gramaticalização
O estudo funcionalista permite um novo olhar sobre as categorias
lingüísticas, evidenciando a influência do contexto nos padrões de uso de um
termo.
Notamos que existem muitas formas com mesma etimologia
apresentando funções e valores diferentes. Isso revela que as gramáticas das
línguas passam por remodelação, e que assim usos antigos podem assumir, de
forma linear e sucessiva, funções e valores novos. Essas mudanças lingüísticas
inscrevem-se no quadro da lingüística funcional como um processo associado à
gramaticalização, demonstrando o caráter não estático da gramática. O processo
de gramaticalização passa a ser visto como a atribuição de um caráter gramatical
a uma palavra autônoma com Meillet, no século XX.
Gramaticalização pode ser denominada, então, como um processo
de mudança lingüística, em que um determinado item de uma categoria lexical se
transfere para uma categoria mais gramatical, ou então, um determinado item já
gramatical transforma-se em um item ainda mais gramatical (Hopper & Traugott,
1993).
Existem duas perspectivas de estudo da gramaticalização: a
histórica, que estuda as origens das formas gramaticais, como também as
mudanças típicas que as afetam, e a perspectiva sincrônica, que estuda o
fenômeno sob o ponto de vista de padrões fluidos de uso lingüístico.
A gramaticalização consiste em um fenômeno sincrônico e diacrônico
e possui um caráter gradual. Ainda que se possa encontrar uma estrutura
substituindo outra estrutura, por um tempo considerável ainda coexistirão a forma
nova e a velha, que entram em variação, sob diversas condições. Essa variação
encontrada caracteriza-se por ser um reflexo do caráter gradual da mudança
lingüística. É importante salientar que a nova forma não extirpa a forma velha de
imediato. Contudo, aquela começa a ser usada como variante cada vez mais
freqüente, até que seja possível a substituição da forma velha.
Como podemos observar, não podemos separar a diacronia da
sincronia, já que se trata de um processo contínuo.
Um aspecto relevante a ser mencionado sobre a gramaticalização diz
respeito aos cinco princípios de gramaticalização, úteis para verificar o status de
elementos gramaticais emergentes, postulados por Hopper (1991:22):
•
Estratificação
(layering):
coexistência
de
diversas
camadas, isto é, de acordo com Hopper (1991), as camadas
novas vão emergindo enquanto as mais velhas não são
rejeitadas obrigatoriamente.
Muitas vezes, em um processo de mudança lingüística, surgem
formas para desempenhar a mesma função. Estabelece-se o princípio de
estratificação. O surgimento de novas camadas/variantes não implica
eliminação das antigas, as antigas podem coexistir e interagir com as
camadas mais novas dentro de um mesmo ambiente funcional.
Hopper (1991) exemplifica esse princípio com a existência de
diversos elementos que denotam o futuro em inglês: be going + to, be + -ing,
be + to. Esses elementos denotam, como Park afirma, a mesma função
gramatical. “Assim quando um marcador gramatical evolui pode coexistir com
o velho.” (Park, 2003:29)
No exemplo dado por Hopper as formas novas estratificadas são be
+ ing e be + to.
Outro exemplo seria o caso das formas sintéticas e perifrásticas de
tempos verbais como o futuro do presente e o futuro do pretérito, em
português.
O uso do então, também pode ser citado como exemplo: ainda que
seja utilizado como conjunção, coexiste com outras formas como portanto,
logo, por isso, etc. Além do então, também se enquadram neste parâmetro o
já que e o se se enquadram neste parâmetro, visto que coexistem
respectivamente com formas como logo, porque e caso, que podem expressar
a mesma função que as expressões citadas.
•
Divergência: remete à preservação, conservação da
forma lexical que origina um processo de gramaticalização,
isto é, a unidade lexical que dá origem ao processo de
gramaticalização pode manter suas propriedades originais,
preservando-se como item autônomo. A forma fonte, na
terminologia de Heine et allii (apud Omena & Braga,
1996:79), pode continuar como um item lexical autônomo e,
enquanto tal, sofrer ou não mudanças que atingem os itens
da classe a que pertence.
Park (2003) exemplifica esse princípio citando a palavra well, em
inglês. Também em português, seu correspondente bem é usado como um
predicado adjetival como em eu estou fazendo bem, e pode ser utilizado como um
marcador pragmático como em bem, eu não penso assim. Outro exemplo é o
verbo IR que mantém seu estatuto de verbo pleno em Iria à escola hoje e aparece
também como verbo auxiliar na forma perifrástica como em Iria estudar hoje.
Podemos identificar a divergência no uso do então, pois ocorre em
uma mesma sincronia com funções sintático-semânticas de advérbio de tempo,
que deu origem, provavelmente, ao processo de gramaticalização, de conector
seqüenciador e de nexo conclusivo, expressando relações lógicas – de causaconsequência ou de condicionalidade – e inferência do falante, funcionando como
operador argumentativo.O uso do se também se inclui nesse parâmetro, pois, em
uma mesma sincronia, ocorre com funções sintático-semânticas de conjunção ou
conjunção integrante.
•
Especialização:
estreitamento
de
este
parâmetro
escolhas
sofridas
refere-se
por
ao
construções
gramaticais. Uma determinada forma pode se tornar
obrigatória, pelo estreitamento de opções para se codificar
determinada função, à medida que uma dessas opções tem
sua freqüência de uso aumentada, porque está mais
gramaticalizada. Hopper (1991) exemplifica esse princípio
com a negação francesa pas. Park (2003:29) comenta que,
entre muitos elementos da construção da negativa francesa,
seja
no francês antigo ou médio,
somente o
pas
permaneceu como uma negação verdadeira no período
moderno, tendo uso freqüente, semanticamente não enfático
e não marcado.
Acreditamos que o uso do conector se possa se inserir nessa
categoria, pois seu uso se torna obrigatório quando o falante para designar
determinada condição deseja fazer uso de uma ambigüidade factual. Essa
ambigüidade nos parece ser somente evidenciada pelo uso da conjunção se.
Tentaremos comprovar esse fato em nossa pesquisa através da substituição do se
por conectores condicionais denotadores de maior ou menor factualidade. Tais
conectores foram elencados por nós.
•
Persistência: refere-se à permanência e à manutenção
de vestígios do significado lexical original de alguns traços
semânticos da forma fonte na qual sofre gramaticalização.
Podemos citar como exemplo o então. A forma-fonte do
então é o advérbio de tempo e a forma inovadora é a
conjunção. Percebemos que esta mantém traços do valor
temporal, ainda que sejam mais tênues quando o então
apresenta a função de conjunção conclusiva ou de operador
argumentativo.
A forma fonte do se era o pronome locativo, que passa a conjunção
condicional estabelecendo uma relação de conjunção, depois a conjunção
integrante. Observamos que o seu uso como conjunção integrante teve o sentido
condicional esvaído, mas ainda mantém um resquício de incerteza do sentido
primitivo. Dessa forma o se também se enquadra nessa categoria. Se
considerarmos o valor condicional da conjunção já que também a incluiremos
nessa categoria, uma vez que a associação da conjunção já que à factualidade
pode evidenciar um resquício de seu sentido primeiro de causa. É o que veremos
ao longo de nossa pesquisa.
•
Descategorização: refere-se a uma diminuição do
estatuto categorial de itens gramaticalizados, e assim,
aparecimento de formas híbridas. As formas em processo de
gramaticalização tendem a perder ou neutralizar os
marcadores
morfológicos
e
os
privilégios
sintáticos
característicos das categorias plenas nome e verbo, e a
assumir atributos característicos de categorias secundárias
como,
por
exemplo,
adjetivo,
preposição,
pronomes,
advérbios, conjunções, etc.(Hopper 1991:22)
Segundo Park (2003) durante o processo de descategorização da
categoria gramatical principal como nome e verbo à categoria menor, os
elementos lexicais perdem seus privilégios morfo-sintáticos como sua inflexão
e sua liberdade de distribuição.
O verbo IR está assumindo uma posição de verbo auxiliar na forma
perifrástica como na frase vou estudar no lugar de irei estudar, no entanto,
ainda, não adquiriu estatuto pleno de verbo auxiliar, pois a frase Eu vou ir para
escola hoje, em muitos casos, sofre estigmatização. O se e o já que já
adquiriram um estatuto pleno de conjunção, contudo o então não perdeu seu
caráter anafórico, típico da forma adverbial e também não possui ainda
posição fixa na oração, não podendo ser comprovado plenamente como
conjunção e assim não se classificando ainda como uma categoria plena.
A idéia de que o uso da língua nas situações reais de comunicação
envolve as modificações a que se sujeitam os elementos lingüísticos põe em
evidência a unidirecionalidade dessas mudanças. Martelotta et all (1996:59)
postula que:
[...] os elementos, com o processo de gramaticalização, perdem a
liberdade típica da criatividade contextualmente motivada do discurso e
tornam-se mais fixos e mais regulares. Assim, advérbios de lugar
assumem função de conjunção, e não
transformam-se em afixos, e não vice-versa.
vice-versa;
vocábulos
A unidirecionalidade se relaciona ao fato de que a língua, em um
continuum unidirecional, parte de um estágio mais concreto para um mais
abstrato, conforme a escala proposta por Traugott & Heine (apud Furtado da
Cunha, Costa & Cezario, 2003:54): espaço > (tempo) > texto. Esses estágios
levam à mudança de um item lexical para um item gramatical ou de um item
menos gramatical –nomes e verbos - para um item mais gramatical – conjunções,
verbos auxiliares, pronomes e demonstrativos -, sendo os adjetivos e advérbios
representantes de intermediários desse processo.
O uso da língua, conforme visto acima, passa por um processo de regularização
em uma trajetória unidirecional, do discurso à gramática, do concreto para o
abstrato. Nessa perspectiva, a gramática se encontra em um contínuo fazer-se,
mostrando-nos a relativa instabilidade da estrutura lingüística.
4.2.3 Análise do discurso
Entre várias linhas e abordagens sobre a Análise do Discurso, temos
aquelas que convergem com o funcionalismo lingüístico. Brown & Yule (apud
Costa, 1997:52) afirmam que “[...] a análise do discurso é, necessariamente, a
análise da língua em uso. Como tal, não pode restringir-se à descrição das formas
lingüísticas independentemente dos propósitos ou funções que desempenham nas
relações humanas”. Essa visão é compatível com o funcionalismo lingüístico e
também com a sociolingüística.
Quando usamos a linguagem de forma significativa, objetivamos
produzir discurso, que envolvem condições como um locutor, um alocutário, um
referente, uma forma de dizer, um contexto. Dessa forma, jamais podemos afirmar
que as escolhas do falante ao produzir um discurso seriam aleatórias. O discurso
é um lugar de investimentos sociais, ideológicos, psíquicos, em que o falante
interage com pessoas de uma comunidade lingüística.
Sendo
a
estrutura
condicional
uma
estrutura
de
múltiplas
interpretações que permite o falante ser mais polido, produzir humor, ser irônico,
argumentar, entre outras coisas, a análise do discurso nos auxilia em nossas
investigações. Quando fazemos entrevistas não podemos omitir fatores como para
quem
falamos,
estratégias
que
nosso
interlocutor
usa
para
expressar
determinados pensamentos, as circunstâncias em que estamos inseridos e os
fatores políticos, históricos e sociais em que nos encontramos. Assim, esse
dispositivo teórico vem ao encontro de outros aparatos utilizados por nós e faz
com que nossa pesquisa não seja meramente quantitativa, como também
qualitativa. Isso porque percebemos que a produção do discurso não envolve
somente a organização de elementos sintáticos, mas está atrelada às questões
semântico-pragmáticas que constituem o sentido do discurso. Discurso esse que
jamais é desprovido de uma visão pessoal, política e social que o falante tem de si
mesmo, do mundo e das experiências vivenciadas por ele.
4.2.4 Pragmática
De acordo com Armengaud (2006), ao utilizarmos a linguagem
desejamos não apenas ser compreendidos, mas exercermos influência sobre os
outros. Para ele, a língua não serve para sermos somente compreendidos e sim
para influenciarmos uns aos outros (Armengaud, 2006). Nesse contexto temos a
pragmática que tenta relacionar não somente os signos entre si, mas os signos
com as coisas e também com seus intérpretes.
Para Joana Plaza Pinto (2001:48), “[...] os estudos pragmáticos
pretendem definir o que é linguagem e analisá-la trazendo para a definição
conceitos de sociedade e de comunicação descartados pela lingüística
saussureana na subtração da fala, ou seja, na subtração das pessoas que falam”.
Segundo a autora, quando utilizamo-nos desta ciência para fazer uma análise,
ultrapassamos o convencional, considerando também elementos criativos do uso
lingüístico.
São muitos os autores que tentam estabelecer um conceito para a
pragmática, contudo a pragmática não possui um conceito unívoco, possuindo
várias correntes. Entre essas correntes, encontramos a proposta por Grice, em
que a pragmática tem por tarefa o estudo dos signos em sua situação
comunicativa, o que ele nomeia de princípio da cooperação (PC).
O filósofo H. P. Grice em seus estudos sobre lógica e conversação,
reconhece a conversação como um acordo tácito entre os membros envolvidos
em uma determinada interação lingüística. Para ele, em nossos diálogos temos
esforços cooperativos para que a conversa não seja desconexa e faça sentido
entre os participantes dessa interação, que envolve um propósito comum entre os
falantes que participam dela.
O princípio da cooperação tem como princípio geral para a
conversação o seguinte: “Faça sua contribuição conversacional tal como é
requerida, no momento em que ocorre, pelo propósito ou direção do intercâmbio
conversacional em que você está engajado” (Grice, 1982:86).
A partir desse princípio, Grice criou quatro categorias básicas,
denominadas máximas. Obedecer a essas categorias indica, para ele, que o
falante está sendo cooperativo. O falante, contudo, pode violar alguma dessas
máximas, não deixando de ser cooperativo. Quando isso acontece, temos um
recurso lingüístico que visa a transmitir o que está além do convencional e que
garante toda a riqueza da linguagem. Nesse caso, são geradas implicaturas
conversacionais, que exigem do ouvinte determinadas inferências que se baseiam
em alguns dados para que o ouvinte deduza o propósito do falante.
Armengaud (2006:91) afirma que a implicatura conversacional é “[...]
a hipótese pela qual a harmonia é restabelecida no mundo da fala cooperativa. A
aptidão do ouvinte em forjar tal hipótese é justamente sua aptidão a receber a
informação implícita que o falante não quer dar explicitamente”. Por a
decodificação do signo, somente, não ser suficiente para que seja entendida a
intenção do falante, a implicatura surge como essa habilidade de entender o que
está, nas palavras de Armengaud (2006), subentendido; habilidade de inferir algo
de determinado enunciado. Segundo Souza (2006: 14-15), o processo de
inferência é bem diferente do processo de decodificação, pois “na decodificação,
toma-se um sinal como input e produz-se como output, uma mensagem associada
como o sinal através de um código subjacente, que deve ser mutuamente
conhecido pelos participantes do ato comunicativo. Na inferência, toma-se um
conjunto de premissas como input e produz-se como output um conjunto de
conclusões que se segue logicamente, de, ou, pelo menos são garantidas por
aquelas premissas”.
É importante ressaltar que as implicaturas não surgem sempre a
partir da violação de uma máxima. As implicaturas, como salienta Armengaud
(2006:87), correspondem a uma sugestão e a uma insinuação, portanto não
podemos afirmar que estejam, necessariamente, atreladas a alguma violação de
máxima.
Tentamos mostrar, aqui em nossos estudos, que, quando as
máximas são violadas, constatamos, na maioria das vezes, que o enunciado se
torna muito mais interessante. Isso porque temos mais informações do que o que
é dito explicitamente.
A violação, de alguma maneira que nos parece intuitiva, não nos
leva a pensar que o falante cometeu um erro. A implicatura que geramos a partir
da violação nos faz ter um sentido completo da conversa. Assim, a violação da
máxima se torna intencional em um discurso, não ocorre de forma aleatória. Esse
recurso lingüístico do falante é utilizado na construção do humor e pode dar
destaque a elementos já conhecidos na linguagem, como a ironia, a metáfora, a
ambigüidade, entre outros.
Vejamos agora as máximas propostas por Grice, que abarcam um
modelo inferencial, isto é, controem o sentido e a interpretação por meio de
evidências:
Quantidade
a) Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerida para o
propósito corrente da conversação.
b) Não faça sua contribuição mais informativa do que é requerido.
Qualidade
a) Não diga o que você acredita ser falso.
b) Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidência adequada.
Relação
a)
Seja relevante.
Modo
a) Evite obscuridade de expressão.
b) Evite ambigüidades.
c) Seja breve.
d) Seja ordenado.
Pela primeira máxima pressupõe-se que tudo o que o interlocutor diz
é necessário, pela segunda que ele só diz o que é verdadeiro, pela terceira que só
diz o que é pertinente para uma determinada comunicação e, por fim, a quarta
máxima mostra que o falante deve fazer a comunicação do melhor modo possível.
Percebemos que nos condicionais lingüísticos, muitas vezes,
podemos observar a violação dessas máximas, o que gera as implicaturas
conversacionais – significados adicionais ao que foi dito. Isso não é visto de uma
maneira negativa, visto que essas implicaturas fazem parte de nossos diálogos
cotidianos e geram, muitas vezes, elementos da linguagem por nós já citados,
como a ironia.
As implicaturas, nos condicionais lingüísticos, podem se revelar
falsas sem que a proposição que a gerou se veja alterada em seu valor de
verdade. Por exemplo, quando recomendamos uma cozinheira para uma amiga e
dizemos que aquela é muito simpática, esta pode inferir que a cozinheira não deve
cozinhar muito bem. Contudo, posteriormente, nossa amiga pode descobrir que a
cozinheira que recomendamos é uma ótima cozinheira e assim nossa amiga pode
reclamar conosco de não termos falado outras características da cozinheira senão
a sua simpatia. Bem, nesse momento, podemos alegar que além de ótima
cozinheira a pessoa que recomendamos continua sendo simpática. Dessa forma,
a implicatura que nossa amiga fez a partir do nosso enunciado era falsa, todavia o
enunciado continua verdadeiro. Armengaud (2006:88), a respeito disso, tece o
seguinte comentário: “A implicatura não tem vínculo nem com os valores de
verdade, nem com a forma lingüística. Ela não é nem lógica, no sentido estrito,
nem lingüística. É discursiva e contextual. [...]”.
Para que um relacionamento seja mais harmonioso, o falante muito
das vezes utiliza um condicional para falar algo que de outra forma seria ofensivo.
Podemos dar como exemplo uma conversa entre duas pessoas, em que a
primeira diz: Se você fosse um idiota, teria ido lá. Ao pronunciar tal enunciado ela
viola a máxima de qualidade, pois ela utiliza-se de um período lingüístico,
comumente, utilizado para eventos dos quais o falante tem a certeza de que não
ocorreram para expressar de forma sutil o que ela acredita que possa ter ocorrido.
Na verdade, a primeira pessoa sabe que a segunda pessoa foi lá e a considera
como uma idiota, contudo pelo enunciado que pronuncia, fala o que acredita ser
falso, não acreditando, portanto, que a segunda pessoa não possa ter ido lá.
Nesse caso, ela apenas encontrou uma forma menos direta de chamar a segunda
pessoa de idiota sem se comprometer. Esse é apenas um exemplo de situações
que nós podemos vivenciar em nossas conversas cotidianas.
O enunciado que pronunciamos não consiste em um fato isolado, é
um texto que para ser entendido precisa ao menos de três sentidos:
•
Referencial
•
Situacional
•
Pragmático
No exemplo que demos acima qual seria o sentido referencial? A pessoa não é
idiota porque não foi lá. Qual seria o sentido situacional? Esse sentido se relaciona
com o momento de produção do enunciado; no caso citado, podemos especular
que foi algum momento depois de o falante descobrir que a outra pessoa
realmente foi lá. Assim, no sentido situacional, compreendemos que a primeira
pessoa chamou a segunda de idiota. O sentido pragmático nos revela imagens
sociais, faz-nos pensar no porquê da primeira pessoa não ter dito de forma clara
que a segunda pessoa é uma idiota. Podemos constatar que a primeira pessoa
utilizando-se de tal enunciado demonstra polidez e que, portanto, trata-se de uma
pessoa educada que merece nosso respeito.
O sentido pragmático desenvolve imagens sociais de autoridade, não
autoridade, entre outras.
Para perceber os significados implícitos do enunciado devemos
elaborar perguntas. Por exemplo, quando é que você não dá informações sobre
algo que lhe perguntam?
1.
Quando pressupomos que o outro saiba.
2.
Quando não sabemos.
3.
Quando a informação nos é prejudicial.
4.
Quando a informação não é pertinente.
Assim, devemos pensar:
1.
Se ele sabe que eu não sei essa informação, por que
não me diz? Ou: Se ele sabe que eu já sei isso, por que está
me dizendo?
2.
Se ele não sabe sobre tal informação, por que
inventou?
3.
Se a informação que ele deu o prejudica, por que fez
isso?
4.
Se a informação não é pertinente, por que ele deu?
Esses são exemplos de como buscarmos depreender os significados
dos enunciados que nos são ditos e também do porquê das máximas quando
violadas não serem vistas como uma forma de erro e sim como uma construção
que atende às pressões interacionais.
Os períodos condicionais são assim usados, por exemplo na
linguagem jurídica, no humor e cotidianamente em nossas conversas. Esse fato
ocorre
devido
a
essas
sentenças
produzirem
efeitos
como
o
não
comprometimento do falante com o próprio enunciado e afirmações indiretas,
entre outros. Nota-se, então, que, em uma conversa, nosso interlocutor irá inferir
mais do que o dito no código lingüístico, contudo, se quisermos, poderemos negar
essa inferência – essa implicatura, mantendo-nos no distanciamento de certas
acusações, por exemplo. Nesse sentido as construções condicionais são
estratégias para que não passemos para nossos interlocutores que alguns
conteúdos dessas construções são impostos.
Nossas análises sobre condicionais lingüísticos tentarão mostrar,
entre outras coisas, os efeitos pragmáticos causados pelos condicionais
lingüísticos. Procuraremos evidenciar também as distintas implicaturas surgidas
na troca dos conectores condicionais.
4.2.5 Semântica
Todos sabem que a comunicação não ocorre apenas pela linguagem
verbal; através de gestos e olhares, através de nossa maneira de ser nos
comunicamos e interagimos com nossa comunidade lingüística.
A semiótica estuda o signo dos diversos tipos de linguagem: escrita,
falada, pictórica, gestual, etc. Os problemas concernentes à semiótica podem
retroceder a pensadores como Platão, que previu a relação triádica do signo
(nome, idéia, coisa). Contudo, somente no início do século XX, devido a trabalhos
de especialistas como Saussure e C. S. Peirce é que a semiótica começa a ter
status de ciência e a conquistar sua autonomia.
Dentro da semiótica há várias subdivisões, como a Semântica.
Verificamos um crescente aumento de interesse por essa ciência nas últimas
décadas. Isso se deveu a nova visão da língua como estrutura altamente
organizada, formada por elementos que juntos constituem uma rede de relações
significativas. A importância que as palavras adquirem devido ao reconhecimento
de seu papel fundamental na modalização de nossos pensamentos, também
contribuiu para o aumento de interesse pela Semântica.
A semântica em nossos estudos é utilizada no intuito de fornecer
informações acerca da possível ambigüidade do se através da análise dos
conectores condicionais já que e caso.
A ambigüidade do conector se se deve a um traço da fala humana: a
polissemia. A ambigüidade assim como a polissemia é uma construção do texto e
não do dicionário, pois o se nos fará desvelar diversos valores através do
referente, da situação de produção e também da pragmática. Isso quer dizer que o
dicionário não nos revela a riqueza semântica das palavras, esta só é desvelada
em situação de uso, quando interagem com contextos extralingüísticos.
A Semântica encontra-se, desse modo, atrelada à Pragmática.
Somente através de uma análise discursiva textual é que podemos notar o sentido
do se. Sentido este que se constrói a partir não de si mesmo, mas de todo um
sintagma que o integra e do contexto em que se insere o mesmo.
Assim como qualquer outra palavra, o conector se vai designar um
determinado número de aspectos semânticos diferentes de acordo com o contexto
em que é utilizado. Dessa forma, o se não indicará apenas uma condição, como
também um tempo, hipótese, argumentação, etc. Ainda em suas ramificações
semânticas, encontraremos aspectos subjacentes à verdade da proposição,
indicando maior ou menor probabilidade de realização do evento descrito no
enunciado iniciado por se.
O deslizamento semântico do se não depende somente do contexto,
mas também de fatores importantes como tonalidades emotivas.
De acordo com o filósofo W. M. Urban (apud. Ulllmann, 1974:338):
O fato de um signo poder designar uma coisa sem deixar de designar
outra, o facto de que, por ser um signo expressivo da segunda tenha
também de o ser para a primeira, é precisamente o que faz da
linguagem um instrumento de conhecimento. Esta tensão acumulada
das palavras é a origem fecunda da ambigüidade, mas é também a
origem dessa predicação analógica, causa única do poder simbólico da
linguagem.
Aristóteles, na sua retórica, criticou a polissemia. Segundo ele, as
palavras de significado ambíguo serviriam apenas para fazer com que sofistas
desorientassem seus ouvintes. (Ullmann, 1974). Na prática, percebemos que não
se trata de um defeito da língua; a polissemia, ao contrário do que afirmava
Aristóteles, garante a eficiência da língua. Ao atribuir diferentes sentidos a uma
mesma palavra, fazemos uma economia lingüística e, por conseguinte, evitamos
uma sobrecarga em nossa memória. “A polissemia é um fator inapreciável de
economia e flexibilidade da língua [...]” (Ullmann, 1974:347).
Apesar do número de significados que uma palavra pode adquirir
apesar da ambigüidade que pode surgir, essa será desfeita pelo falante quando
somente um desses significados fizer sentido na situação em que o falante/ouvinte
se encontrarem, atendendo suas competências persuasivas e interpretativas.
5. ASPECTOS TEÓRICOS DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS
5.1 Considerações gerais sobre condicionais
Consideramos um enunciado como condicional quando temos duas
proposições, sendo que uma será introduzida pela conjunção condicional e a outra
poderá ser introduzida por então.
Koch (2000:129) postula que em um condicional não afirmamos que o
antecedente é verdadeiro, todavia se o antecedente for verdadeiro o conseqüente
também o será. Uma das explicações para essa relação é chamada de implicação
material, em que não há conexão necessária entre o antecedente e o
conseqüente, despreza uma abordagem cognitiva, há apenas valores de verdade
para as proposições constituintes do condicional e através desses valores é que
se infere a verdade ou não do condicional.
Com a implicação material, surge o que chamamos, de paradoxos do
condicional material, pois temos que aceitar como condicionais verdadeiras frases
como: “Se o Brasil fica na África, elefante é carneiro" Pela lógica esse condicional
é considerado verdadeiro, mas para nós, falantes de uma mesma comunidade
lingüística, parece-nos estranho, ou seja, é um paradoxo. Tenta-se desfazer esse
paradoxo com uma outra relação entre as proposições condicional proposta por
Brennan (2003). De acordo com esse autor quando um condicional se A, B é
verdadeiro, dizemos que a verdade do antecedente é suficiente para a verdade do
conseqüente e, por conseguinte, a verdade do conseqüente é necessária para a
verdade do conseqüente. Ele nos afirma que em qualquer sentença condicional
parece ter uma relação de uma condição suficiente bem como uma relação de
uma condição necessária. Através do exemplo “Se eu abri a porta, eu usei a
chave”, Brennan (2003) mostra que a primeira proposição é uma condição
suficiente para eu ter utilizado a chave e, por conseguinte, ter usado a chave é
uma condição necessária para eu ter aberto a porta. Nesse exemplo, observa-se
que para o uso da chave ser uma condição necessária para abrir a porta, não
podemos ter nenhum esforço físico para a abertura da porta, consideramos que a
porta não poderá ser aberta através de um arrombamento, por exemplo. A
proposta de Brennan faz com que aceitemos bem essa teoria, contudo Brennan
diz que em condicionais como “Se você me tocar, eu gritarei” não temos essa
relação. Nessa frase, você me tocar parece-nos uma condição suficiente para
gritar, porém gritar não nos parece necessário para que nós sejamos tocados.
Esse problema é desfeito quando Gomes (2007) explica que ao considerarmos
não existir nessa frase uma relação recíproca de suficiência e necessidade,
estamos pensando em uma relação causal. Para ele, o correto é focar nossa
atenção para a verdade das declarações. Gomes pondera que gritar não é evento
causalmente necessário para a ocorrência da ação de tocar, no entanto é um
efeito necessário para que seja verdade a declaração da oração antecedente.
Diferentemente de Brennan (2003), Gomes (2009) não fala apenas em causa
suficiente e causa necessária, mas salienta que em relação a uma causa
necessária teremos um efeito suficiente e em relação a uma causa suficiente,
teremos um efeito necessário. Esses termos acabam com os questionamentos de
Brennan sobre a relação, em uma proposição, de causa necessária e causa
suficiente.
Gomes (2009), ainda, pondera informações importantes acerca dos
condicionais ao comentar sobre condicionais lógicos e condicionais causais. Ele
afirma que esses dois tipos de condicionais possuem a mesma estrutura e ambos
excluem a conjunção de A com ~B. Porém, haveria uma diferença entre eles que
Gomes (2009) diz ser a de que nos condicionais lógicos existe uma razão lógica
para a exclusão de Se A, ~B, enquanto que nos condicionais causais não existe
uma incompatibilidade entre A e ~B. O autor sustenta que os condicionais de
causa suficiente como “Se ele foi à festa, ele chegou tarde em casa” possuem a
direção de inferência igual à direção da causalidade; já condicionais de causa
necessária como “Se ele passou na seleção de mestrado, ele teve nota maior do
que 6” possuem direção de causalidade contrária à inferência. Isso implica afirmar
que, a seqüência dos eventos nem sempre seguem a seqüência inferencial.
Outra questão sobre condicionais de causa necessária e causa
suficiente, é o questionamento do sentido causal ou necessário que o se admite
ao encabeçar uma determinada oração condicional. Muitos autores, como Gomes,
questionam se uma pessoa quando enuncia frase do tipo “Se não chover, vou à
praia”, ela considera vai à praia ainda que chova ou considera que só irá à praia
se não chover. Se a última hipótese for a escolhida por essa pessoa, ela considera
a frase pronunciada por ela própria equivalente à “Se e somente se não chover,
vou à praia”. Quando digo “Se não chover, vou à praia” não afirmo que no caso de
chover deixaria de ir à praia. Nesse sentido temos uma condição suficiente na
oração subordinada. Enquanto ao falarmos “Somente se não chover, vou à praia”,
temos uma condição necessária na prótase. O problema parece surgir quando
constatamos que, muitas vezes, utilizamos apenas o se e inferimos no enunciado
uma condição necessária. Fica a pergunta: O se indica uma condição suficiente e
o falante ao inferir uma sentença encabeçada por tal conector entende como uma
condição necessária?
Além dos condicionais de conexão lógica e causal, citados
anteriormente por autores como Gomes, temos, segundo Koch (2003)
condicionais de caráter definidor e de conexão de decisão. A autora exemplifica o
primeiro com a frase “Se Paulo é solteiro, então Paulo não é casado, já o segundo
caráter ela exemplifica com “Se meu time perder, então beberei a noite inteira”
(Koch, 2003:129).
Adotamos em nossa pesquisa a concepção de Gomes por nos
parecer mais pertinente, justamente por não deixar fendas em suas definições.
Essa classificação dos condicionais constitui apenas uma das abordagens sobre
esse assunto. Outra classificação dos condicionais diz respeito da factualidade e
será mais detalhada a seguir.
5.2- Classificação dos condicionais quanto à factualidade
Quando emitimos um enunciado, procuramos alcançar nosso desejo.
Esse discurso pronunciado por nós envolve nossa subjetividade, a temporalidade
e nossos sentimentos. O discurso nos aproxima das pessoas, estabelecendo
assim um contato social e também nos interage com o mundo em que estamos
inseridos. Através das atitudes que buscamos expressar em nossos discursos, tais
como dúvida, probabilidade, necessidade, certeza, obrigação, entre outras, temos
nosso discurso modalizado. Essa modalidade, de acordo com Koch (2003), nos
revela uma parte da atividade ilocucionária que revela nossa atitude perante nosso
enunciado. Parret (apud Koch, 2003:75) ressalta que esses atos ilocucionários são
motivados pelo reconhecimento das intenções do falante. Assim, temos na
modalidade um questionamento do falante com o outro a respeito de condições,
potencialidades, chances de realização ou não da proposição e o grau de adesão
do falante ao seu próprio enunciado.
Essa modalidade que pode ser encarada como a ação do falante
sobre o mundo, uma ação que é dotada de intencionalidade, pode ser vista como
requisito na classificação que autores atribuem aos condicionais.
Para Givón (1984; 1990) essa modalidade pode ser traduzida como realis
(certeza, verdade, factual) e irrealis (hipótese, possibilidade, dúvida, condição) e
definida a partir do ‘contrato’ falante-ouvinte.
O autor supracitado se refere à três tipos de modalidades, que se
constroem em relação ás atitudes do falante-ouvinte a respeito do discurso:
a- Conhecimento não contestado (verdade necessária,
analítica e pressuposta);
b- Conhecimento assertivo do realis (verdade factual,
sintética);
c- Conhecimento assertivo do irrealis (verdade possível,
condicional).
No segundo volume da sua obra, Syntax (1990), Givón reduz as três
modalidades em apenas duas: realis e irrealis.
Muitos autores como Schwenter (1999:11) dissertam sobre o
conceito de realis e irrealis na classificação dos condicionais. Em sua obra, o autor
salienta que podemos ter uma visão tripartida dos condicionais, como Harris
(1986), e assim dividi-los em real (realis), potential (irrealis) e unreal
(contrafactual). Note aí que o autor acrescentou á visão de Givón o conceito de
unreal. Também é possível notar uma diferença na nomenclatura, ao chamar de
potential o que Givón nomeia de irrealis. Apesar da diferente nomenclatura há
uma aproximação de Givón e Harris, pois para aquele irrealis denota uma verdade
possível, o que pode ser traduzido em potential deste, uma vez que potential
denota uma possibilidade. Uma classificação muito semelhante a de Harris é a
classificação tripartida, vista em obras de autores como Gryner (apud Costa 1997),
que nos revela três tipos de condicionais a saber: realis, potentialis e irrealis.
Nessa classificação o irrealis, como o próprio nome sugere, designa condicional
em que o fato descrito é irreal, o realis designa condicional em que o fato descrito
é real e o potentialis engloba condicional em que o fato descrito pode ou não
acontecer, isto é, é hipotético. A diferença desta classificação da de autores como
Harris não parece distinguir-se pelos conceitos, e sim pelas inter-relações de
nomes e conceitos.
Vejamos a Classificação de Gryner (apud Costa) para entendermos melhor a
proposta deste autor:
a- Período hipotético do real (realis) ou factual
Ex.: Se (=já que) é para bem de todos, fico.
(Considero que é para o bem de todos, uma vez que acabei de ser informado
disso);
b- Período hipotético do potencial (potentialis)
Ex.: Se for para o bem de todos, ficarei.
(Considero que pode ser ou não ser para bem de todos);
c-Período hipotético do irreal (irrealis) ou contrafactual
Ex.: Se fosse para bem de todos, ficaria.
(Considero que não é para bem de todos).
Segundo
Leão
(1961:31-32),
temos
três
tipos
de
períodos
hipotéticos, a saber, período hipotético do real, período hipotético do potencial e
período hipotético do irreal. No realis “a condição é, foi ou deve ser realizada
efetivamente; trata-se de um fato cuja realidade se reconhece; às vezes é uma
realidade que se deseja acentuar”. A autora pondera que esse período é
caracterizado pelo fato de apresentar verbos no modo indicativo. No período
hipotético do potencial, “a condição é eventual, simplesmente possível. O fato
pode realizar-se ou não, mas não há nenhum pronunciamento do falante sobre a
realidade desse fato”. Já o irrealis é expresso por uma “condição contrária à
realidade”. Isto é, não pôde e nem nunca poderá realizar-se.
Já Costa (1997:27) tem uma concepção bipartida de irrealidade, que
ela expressa no seguinte quadro:
IRREALIS
Não-factualidade
Contrafactualidade
- Dúvida quanto à irrealidade.
- Certeza quanto à irrealidade
-
Não
descarta
possibilidade
realização
de - Descarta qualquer possibilidade de
realização
Quadro 2: Concepção de irrealidade, extraído de Costa (1997:27)
Essa acepção parece ter sido originada de uma derivação latina, pois
sendo o modo indicativo utilizado, normalmente, no realis, o modo subjuntivo,
considerado como o modo da incerteza, ou irrealis, seria utilizado tanto no
potentialis como no contrafactual.
Outra classificação citada por Schwenter (1999:12) é a de Taylor,
baseada na distinção entre factual, hipotético e contrafactual. De acordo com
Taylor (apud Schwenter), em condicionais factuais o conteúdo da oração
subordinada condicional iniciada por se pode também ser entendida como causa.
Nos contrafactuais o conteúdo da oração subordinada iniciada por se é tido como
contrário ao fato. Entre essas duas categorias, temos condicionais hipotéticos, em
que o conteúdo da oração subordinada iniciada por se é tido como possibilidade.
Taylor (apud Schwenter 1999:12) profere, ainda dentro dessas categorias, três
possibilidades epistêmicas a respeito da crença do falante na proposição
condicional e comenta sobre “words-to-world fit”, em que temos palavras + visão
do falante da realidade mundo se encaixando. Isto é, podemos caracterizar
condicionais proferidas em contextos particulares, de maneira mais precisa, se
utilizarmo-nos dessa perspectiva epistêmica. Assim, condicionais que parecem
cair entre a classificação factual e hipotética ou parecem cair entre a classificação
hipotética e contrafactual são mais bem distinguidas quando concebemos “wordsto-world fit”.
Então uma frase como Se isso é bom, eu farei, tradicionalmente por
sua morfologia é tida como uma oração condicional factual. Contudo, essa visão
epistêmica na classificação de Taylor faz com que uma frase como a citada
anteriormente seja classificada de acordo com o contexto do falante.
Há outras formas, de acordo com Schwenter (1999:12), de
conduzirmos uma determinada interpretação dos condicionais. Nos exemplos
abaixo, elaborados pelo autor e traduzidos por nós, podemos notar que o que é
descrito dentro do parêntesis auxilia a inferência do valor de factualidade dos
condicionais.
a-
Se ele disse isso (e eu o ouvi), então ele é um
mentiroso. (factual)
b-
Se ele disse isso (eu não sei se ele disse), então ele é
um mentiroso. (hipotético)
c-
Se ele dissesse isso (eu sei que ele nunca diria), então
ele seria um mentiroso. (contrafactual)
Esses exemplos ilustram que, como Taylor propôs, as orações
condicionais com o conector condicional se podem ser interpretadas como
factuais, hipotéticas e contrafactuais. Mais que isso, a factualidade da oração pode
não ser inerente ao conteúdo léxico somente, ou especificamente, à semântica da
conjunção. O léxico, nesta visão, encaixa-se com a crença de realidade do falante
para compor uma interpretação, o que evidencia uma ambigüidade do conector
se.
Schwenter (1999:13-14) também comenta sobre a classificação de
Sweetser que é distinguida em três tipos: condicionais de conteúdo, condicionais
epistêmicos e condicionais de ato de fala. Essa classificação é consoante com o
domínio epistêmico cognitivo no qual são empregados ou interpretados.
Vejamos a seguir, embora não nos aprofundemos, a classificação de Sweetser:
a-
Condicionais de conteúdo – são aqueles em que o
falante faz uma predição sobre o mundo sócio-físico externo.
Os eventos descritos estão em relação condicional e causal,
como afirma Ferrari (1999:117). Nessa classificação temos
frases como Se chover, a festa será cancelada, em que não
podemos afirmar sem risco de erros que de fato irá chover
ou não, ainda que contemos com todo um aparato
metereológico.
b-
Condicionais epistêmicos – são aqueles em que o
falante desenha uma inferência na apódose e a prótase
fornece base para essa inferência. De acordo com Ferrari
(1999:117) temos nesses condicionais uma relação de
causalidade que não se estabelece entre eventos no mundo
descrito, mas sim entre o conhecimento do falante a respeito
de um evento e uma conclusão motivada por esse
conhecimento. São condicionais como Se ele foi à festa,
certamente o viu, em que temos dúvidas ligadas a uma base
epistêmica do falante.
c-
Condicionais de ato de fala ou pragmáticas – são
aqueles em que o falante executa um ato de fala
condicionalmente na apódose e a prótase faz com que o ato
de fala seja relevante. Nesses condicionais não temos a
presença de uma relação causal entre os eventos descritos
na prótase e na apódose. Temos como exemplo: Se você
ficar chateado, venha aqui em casa.
Essa classificação proposta por Sweetser, apesar de representar
uma visão tripartida dos condicionais, difere-se da classificação tradicional por
considerar critérios de domínio cognitivo epistêmico.
A classificação de Taylor e Sweetser foram direcionadas em um
quadro elaborado por Schwenter (1999:16):
Conteúdo
Epistêmico
Ato de fala
Factual
-
+
+
Hipotético
+
+
+
Contrafactual
+
+
-
Conforme observado acima, condicionais de conteúdo como Se
chover, eles cancelarão a partida, exemplo de Schwenter (1999:13), são menos
factuais, uma vez que são preditivos e mais hipotético, e podem ser menos
factuais e mais contrafactuais se forem condicionais de conteúdo como Se
chovesse, eles cancelariam a partida.. Condicionais epistêmicos podem ser
factuais, hipotéticos ou contrafactuais, pois envolvem a crença do falante, o
conhecimento prévio de cada indivíduo. Na frase Se eles não pegaram suas
correspondências, eles saíram de férias, a apódose é desenhada com base na
prótase e eu devo considerar o conhecimento prévio deles terem ou não pegado
as correspondências para certificar-me de que viajaram ou não.
Condicionais de ato de fala podem ser tanto factuais quanto
hipotéticos, mas não contrafactuais. Em Se você se aborrecer, venha me ver no
trabalho, notamos o uso da forma imperativa na apódose, o que caracteriza um
dos tipos de condicional, segundo a concepção de Sweetser. Contudo,
apropriando-me da convergência dessas duas teoria, no condicional Se você
fizesse a lição de casa, sua nota subiria, temos um condicional, de acordo com
Sweetser, de conteúdo e na classificação de Taylor esse condicional pode ser
tanto um condicional hipotético como contrafactual. O que faz, então,
classificarmos o condicional em hipotético ou contrafactual? A crença do falante,
ou o “worlds-to-world” de Taylor.
Como vimos, são diversas as formas de classificar os condicionais.
Em língua inglesa, por exemplo, temos uma divisão em condicionais indicativos e
condicionais subjuntivos. Essa classificação é comentada por Gomes (2008) e é
baseada em Edgington 1995, Dancygier 1998 e Bennet 2003.
Tal classificação tem, em línguas inglesas, o subjuntivo como o que
nós temos no português como contrafactual. Em língua portuguesa, essa
classificação não seria adequada, uma vez que temos o modo subjuntivo e este
não é utilizado somente em contrafactuais, mas também em condicionais em que
o fato descrito na prótase é tido como possível. Devido a esta inadequação,
Gomes (2008) propõe uma que chamemos de indicativo condicionais de fato
aceito e de fato incerto e que mantenhamos a nomenclatura contrafactual para o
que em língua inglesa pode ser chamado de condicional subjuntivo.
Em língua portuguesa, chamar um condicional de subjuntivo ou de
indicativo seria inadequado, já que um condicional de modo subjuntivo pode ter
uma forma indicativa: Se ele foi lá, ele certamente a viu. Assim, pela morfologia
verbal temos o uso do modo indicativo, todavia este não denota necessariamente
uma certeza, mas uma hipótese. Diante das falácias de transpormos tal
classificação para a língua portuguesa, é adequado comentarmos um pouco sobre
o que Gomes sustenta: uma proposta baseada no que ele chama de aceitação
suposta, que seria, simplesmente, classificar os condicionais de acordo com a
crença que o falante faz sobre o evento descrito na prótase. Ele então divide os
condicionais em três tipos: condicionais de fato aceito, condicionais de fato incerto
e condicionais contrafactuais. (Gomes, 2008:219)
Neves (2000:836) nos explica que apesar da tradição classificar as
construções condicionais como reais, irreais e eventuais – que seria o potenciais -,
o período chamado de real, que é concebido como uma conseqüência necessária
e, dessa forma, real, não se confirma quando avaliamos o uso efetivo de uma
determinada língua. Ela ratifica essa afirmação ao salientar que não se pode falar
em realidade, tendo como referencial o que é visto em um enunciado. Isso porque,
para a autora, realidade não se confunde com linguagem. Real ou não-real não é
nunca o que é dito e sim um estado de coisas. Com base nesse pensamento não
é possível dizer que em uma construção condicional temos uma realidade ou nãorealidade de um estado de coisas afirmada. O que é afirmado é a factualidade ou
não-factualidade do que é dito em uma proposição. As denominações de Gomes
em relação às construções condicionais parecem estar em consonância com as
de Neves, contudo o conceito de cada definição se diverge um pouco. Veremos a
seguir os conceitos de Gomes.
Condicionais de fato aceito são, para o autor supracitado,
condicionais em que o falante aceita ou age como se aceitasse a verdade do
antecedente. Dessa forma, um condicional de fato aceito seria determinado pela
crença que o falante faz sobre o fato descrito na prótase. Estes condicionais são
constituídos de verbos no indicativo e assim a crença que o falante faz coincide
com a forma verbal indicativa.
Condicionais de fato incerto podem ser constituídos de verbos no
indicativo ou no subjuntivo, uma vez que esses condicionais se caracterizam pelo
fato do falante está incerto ou agir como se estivesse incerto sobre a verdade do
antecedente. Essa crença do falante pode ser expressa pelos dois tipos verbais.
Condicionais chamados de contrafactual, normalmente, têm uma
forma verbal distinta, pretérito imperfeito do subjuntivo e futuro do pretérito. No
entanto, percebemos que há sim a possibilidade de termos condicionais
constituídos de morfologia verbal indicativa e ainda sim designarem um
condicional contrafactual. Podemos citar como exemplo o condicional: Se sou eu
lá, faço tudo diferente. Aí temos um contrafactual com o uso do indicativo, mas
que vai ao encontro da proposta de Gomes, por compartilhar da idéia de que o
falante acredita que o antecedente é falso ou age como se acreditasse que o
antecedente é falso. É importante notar que o uso do presente do indicativo neste
caso não indica que o fato descrito no enunciado é aceito pelo falante, o uso
desse tempo verbal indica uma contrafactualidade, já que o falante o tem como
algo que não foi vivido e, portanto, que não é verdade. Assim, podemos perguntar
o porquê do uso do indicativo no lugar do uso do subjuntivo. A resposta é
encontrada no cotidiano nosso. Quando nos encontramos em uma situação, ainda
que falemos um fato contrafactual, devido a estarmos vivenciando-o naquele
instante damos preferência a forma indicativa. O contrário acontece quando nos
projetamos para uma situação contrafactual distante de nosso momento de fala,
damos preferência a forma por excelência contrafactual.
Fica bem nítido que um condicional com uma única estrutura
lingüística pode abarcar diversas interpretações, dependentes dos conhecimentos
prévios dos participantes da conversa e da crença destes sobre os seus
enunciados.
Em relação aos contrafactuais também, creio que essa estrutura nem
sempre designe que o falante finge acreditar no antecedente ou acredita na
falsidade do antecedente de um condicional. Irei explicar. Ao nos dar exemplos
como: Se você tomasse um táxi, você chegaria a tempo, Gomes argumentaria que
o falante pode muito bem se utilizar dessa forma verbal, ainda que acredite que o
antecedente possa não ser falso ou irreal. Nesse caso, apenas fingiria uma crença
para manter um certo distanciamento do enunciado. Gomes nos leva a refletir
sobre o porquê do falante não ter usado nenhuma outra forma verbal e ele poderia
nos perguntar por que o falante não usou, por exemplo: Se você tomar um táxi,
chegará a tempo. (Gomes 2008)
Ao enunciar Se você pegasse um táxi, você chegaria a tempo, o
falante não pensa necessariamente que age como se fingisse que não acredita no
antecedente, como seu interlocutor também não tem necessariamente em mente
que o locutor, com o qual compartilha uma conversa, finge algo. Pode,
simplesmente, pensar que essa é uma sugestão que o locutor criou através de
uma situação imaginária. Por acreditar, que pragmaticamente, com o enunciado
visto acima, o locutor e o interlocutor não fingem não crer no seu enunciado e nem
acreditam na falsidade deste é que chamaria esse condicional de imaginativo
hipotético, nomenclatura que autores, como Leão, chamariam de potential.
Podem perguntar por que o locutor não usou Se você tomar um táxi,
chegará a tempo? Creio que a forma Pretérito imperfeito + Futuro do pretérito seja,
comumente, vista em contrafactuais, é muito utilizada para sugestões e não
obrigatoriamente devido ao falante fingir a falsidade do evento descrito no seu
enunciado ou a acreditar na impossibilidade do evento descrito. O falante pode
acreditar que a forma que normalmente designa um contrafactual transmita melhor
a sutileza de uma sugestão dita por outra forma. Apesar de não ser foco de nossa
pesquisa saber precisamente o porquê do falante preferir uma forma normalmente
contrafactual para designar, segundo nós, uma sugestão, iremos citar outra frase
em que sua análise favorece nosso argumento de que a forma Pretérito imperfeito
+ Futuro do pretérito não designa obrigatoriamente um contrafactual.
Observe as frases:
a-
As pessoas estão inclinando seu corpo para frente e
pegando suas sacolas.
b-
As pessoas fazem isso quando o ônibus chega.
Nas frases acima, o surgimento do ônibus é um fator que condiciona
as pessoas a fazerem tal movimento com o corpo. Reproduzindo tais enunciados
em uma estrutura condicional, tentando não fazer modificações lingüísticas e
mantendo-se fiel à oração subordinada, que é a chegada do ônibus, já que a
incerteza que temos é sobre esse fato, eu falo: Se o ônibus chegar, as pessoas
fazem esse movimento com o corpo. No entanto, o movimento com o corpo não
consiste em uma incerteza e sim em algo certo confirmado pelo sentido da visão.
Isso porque o autor de tal construção lingüística vê que as pessoas fazem esse
movimento com o corpo, se o ônibus chega. Essa construção parece então
inviável no uso do cotidiano, como também modifica muito a estrutura inicial da
frase original. A maioria das pessoas parafraseariam a frase original com Se o
ônibus estivesse chegando, as pessoas fariam esse movimento com o corpo. É
possível perceber que na frase que normalmente diríamos, não temos uma crença
na falsidade do enunciado ou fingimos acreditar na falsidade do que é descrito
neste. O que se pretende ao pronunciar uma frase como essa é simplesmente
imaginar uma situação, demonstrar uma hipótese que em muitos casos parece
condicionar o uso da forma pretérito imperfeito + futuro do pretérito. Isso responde
por que um falante opta por uma forma lingüística em detrimento de outra, em
contextos determinados. Podemos considerar a preferência do falante, podemos
considerar a melhor forma lingüística, em alguns casos, para atender aos seus
propósitos comunicativos como uma sugestão. Se você pegar um táxi pode
representar uma possibilidade, mas Se você pegasse um táxi parece expressar
melhor um mundo hipotético e ao mesmo tempo imaginativo, uma construção de
todo um cenário de possibilidades e talvez por isso a melhor opção de sugerirmos
algo. Levamos nosso interlocutor a um convite de imaginar junto conosco,
chamamo-lo a se transportar dentro de todo o cenário que elaboramos. Quando
falo Se você pegar um táxi [...], haverá quem entenda esse enunciado como
possibilidade, mas não vejo nessa forma de denotar um convite ou de convidar
nosso interlocutor a uma reflexão sobre o que propomos. A única forma que
permite o locutor a inserir em seu discurso uma sugestão não é a forma verbal
utilizada em contrafactuais. Contudo, se essa forma, em alguns casos não designa
que o falante acredita na falsidade do antecedente e isto não é interpretado por
nenhum componente da conversa, não devemos chamar esse condicional de
contrafactual. Gomes em suas classificações se baseia sempre no uso da língua
e, considerando a língua em seu aspecto funcional, frases como a exposta
anteriormente não pode ser limitada à classificação de um condicional
contrafactual. Se não considerarmos tais condicionais como pertencentes à
classificação dos condicionais de fato incerto, desconsideramos as pretensões
comunicativas dentro de uma interação verbal. É assistir a forma verbal um
significado intrínseco.
Gomes (2008), em seu artigo, sustenta sua classificação com a
paráfrase do conector se por caso e supondo que para condicionais de fato incerto
e já que e dado que para condicionais de fato aceito. Creio que estas não sejam
as únicas possibilidades de demonstrar as circunstâncias expressas pelos
condicionais, mas que nos sirva para sustentarmos nossa tese. Uma frase como
Se você pegasse um táxi, chegaria a tempo, pode ser parafraseada por Caso você
pegue um táxi, chegará a tempo ou Quando você pegar um táxi, não correrá o
risco de chegar atrasado. Assim, não temos um contrafactual, senão quando
observamos um condicional como Já que ela é uma rainha, eu sou um rei,
teríamos, obrigatoriedade de classificá-lo como condicional de fato aceito e jamais
como um contrafactual.
É evidente que em condicionais como Se eu fosse o assassino, eu
estaria lá naquela noite, ditos em uma audiência, por exemplo, podemos ter um
contrafactual. Visto que ainda que quem pronuncie essa frase seja um assassino,
ele finge não ser o assassino, utilizando-se dessa forma verbal para mostrar sua
inocência.
Neves (2000: 837-843) dispõem os condicionais em três grupos:
condicionais factuais/reais, condicionais contrafactuais/irreais e condicionais
eventuais/potenciais.
Em construções condicionais factuais, a autora verifica que há a
presença de um valor conclusivo na oração principal, contudo, há outros usos
presenciados nessas construções como o de contraste. Um exemplo dado pela
autora para o matiz de contraste é Se os homens letrados eram poucos, as
mulheres alfabetizadas formavam um número bem reduzido. Ela nos mostra que
mesmo com uma conjunção prototípica de um determinado valor podemos
presenciar outros valores que não o prototípico.
Neves (2000:838) acrescenta ainda a idéia que nas orações condicionais
factuais: “[...] enquanto o elemento SE encabeça uma proposição de factualidade
verificada, o outro segmento que contrabalança a construção traz outra proposição
que também é factual [...]”.
Em contrafactuais/irreais, Neves (2000:840-841) comenta que há
casos em que a contrafactualidade é garantida e em outros casos apenas temos
uma indicação possível de contrafactualidade. Ela nos dá os seguintes exemplos:
•
Se a pergunta partisse da Irmã Flora, a resposta teria
sido outra.
•
Se eu estivesse livre – repisou Raul – não tenho dúvida
de que me casaria com ela, ainda que mamãe se zangasse.
Nesses exemplos, a autora explica que na primeira construção a
contrafactualidade é assegurada pelo modo verbal e tempo verbal da apódose,
futuro do pretérito composto – teria sido -. Dessa forma, afirma-nos que dizer que
teria sido é a mesma coisa que dizer que não foi e ainda que um interlocutor não
soubesse que a pergunta partiu da Irmã Flora, só pelo modo e tempo verbais a
construção seria contrafactual. Na segunda construção, com apódose em futuro
do pretérito simples, me casaria, e a prótase em imperfeito do subjuntivo,
estivesse, indicam contrafactualidade, mas não a asseguram. A autora ainda
acrescenta que para que a leitura da construção não seja equivocadamente
contrafactual, nesses casos, é preciso que tenhamos uma convergência entre a
proposição e o contexto em que essa se insere.
Condicionais contrafactuais, também são, para Neves (2000) uma
construção que expressa contraste, como visto em seu exemplo: Se você é Rui do
Pajeú, eu sou Virgolino Lampeão.
Condicionais eventuais/potenciais são conceituadas para Neves
(2000:842) como construções em que a prótase denota eventualidade e a
apódose é tida como certa caso se satisfaça a condição expressa na prótase.
Essas construções são também nomeadas de acordo com seu sentido que,
consoante com a autora, é denominado construção condicional eventual de valor
privativo e construção eventual de valor não-privativo e implicativo. A construção
eventual de valor privativo é “[...] marcada pela locução conjuntiva de sentido
privativo SEM QUE. A oração principal, no caso, é negativa: Ela não pode ser
entendida SEM QUE sua religião seja considerada”. (Neves 2000:843) Com o
conectivo que Neves (2000) diz que também podemos ter a construção eventual
privativa. Contudo, ela observa que para tanto temos que ter forma negativa tanto
na prótase quanto na apódose. Neves (2000:843) nos mostra o seguinte exemplo:
Você não pode ver flor que não corra logo para cheirar e o traduz como Você não
pode ver flor sem que corra para cheirar. As construções eventuais não-privativas
ocorrem muitas vezes com o uso do elemento então, que Neves (2000:843)
conceitua como elemento conclusivo. Ela nos dá o seguinte exemplo: Se se
montar a peça com dois cenários, organiza-se então a cena para o julgamento
que se segue. Com seu exemplo ela mostra que além de uma construção eventual
não-privativa, notamos a existência de uma implicação, pois a condição enunciada
implica o que se afirma na oração principal dessa construção. Assim, o fato de
alguém montar a peça com dois cenários implicará a organização da cena para o
julgamento que se segue.
Neves (2000:846) comenta que não temos sempre nas construções
eventuais uma implicação e nos mostra também que condicionais eventuais, ainda
que iniciadas pela conjunção se, podem mesclar a noção de condicionalidade com
outras noções como:
a-
Alternância: Se você não consegue se controlar, você
não consegue dormir. (= Ou você consegue se controlar ou
você não consegue dormir)
b-
Concessividade: Mesmo Se quisesse não conseguiria
trair.
c-
Comparação: Como se tivesse mudado de idéia,
apertou a campainha.
Ela nos ressalta ainda que em uma construção condicional a alternância entre
condicionalidade e concessividade se torna ainda mais evidente quando temos o
elemento concessivo mesmo precedendo o elemento condicional se; e alternância
entre condicionalidade e comparação provém da coexistência entre o elemento
comparativo como com o elemento condicional se.
Em nossa tese, adotamos a classificação tradicional em realis,
irrealis e potencialis, ainda que o termo realis não seja bem aceito por Neves
(2000), adotamos essa denominação com um conceito não de realização de um
estado de coisas e sim de uma factualidade.
Ao decorrer da pesquisa foi notório que a classificação dos
condicionais é devida a um contexto e não propriamente a semântica verbal,
principalmente se considerarmos a fala que desvia muitas vezes da norma padrão
da língua portuguesa. Ao escolher a classificação latina, reafirmo a dificuldade em
considerarmos tais classificações como elementos estanques, pois dependendo
da situação contextual temos um condicional que normalmente se encontra em
uma certa classificação, transitando por outras classificações. Podemos também
nos deparar com impossibilidade de uma classificação precisa.
Essa dificuldade em classificar condicionais é vista por Leão
(1961:85-86) quando comenta sobre a árdua tarefa de aceitarmos que o Se +
Imperfeito do subjuntivo + futuro do pretérito sempre traduza irrealidade.
Para melhor evidenciar tal questão a autora nos mostra exemplos
como:
a- Se eu tivesse asas, voaria para lá.
b- Se eu fosse você, agiria dessa maneira.
c- Se eu tivesse dinheiro, repartiria com você.
d- Se quisesses, ainda chegarias a tempo.
Leão (1961:86) aponta as condições dos períodos a e b como irreais
ou impossíveis, enquanto que a condição de c, para a autora, é improvável,
contudo não impossível e a condição de d é possível, com maior grau de
possibilidade de realização que a de c. Seguindo seu raciocínio, a realidade ou
irrealidade dos períodos não está no molde das frases e sim no contexto.
Portanto, fatos da língua revelariam a impossibilidade de se manter uma distinção
entre realis, potencialis e irrealis somente baseando-se na forma lingüística e
assim surge, para Leão, a necessidade de um outro critério de classificação para
períodos hipotéticos.
Logicamente, não podemos desconsiderar aspectos morfológicos
dos verbos, mas estes devem permanecer atrelados a fatores como contexto,
crença do falante e semântica dos conectores. Leão (1961:98) demonstra, por
exemplo, que o tempo verbal somente não determina a classificação do
condicional. “Consideramos variações estilísticas os períodos que para exprimir
hipótese, provável ou não, usem indicativo em vez de subjuntivo, na oração
subordinada. Não haverá mudança do conteúdo intelectivo, mas o valor
expressivo será outro, refletindo a linguagem coloquial na obra literária e
realizando imaginariamente a hipótese e sua conseqüência”. É claro que Leão
utiliza-se de um corpus literário para verificar a classificação e por isso mesmo
considera tal caso como uma questão de coloquialidade na obra literária. Porém, é
evidenciada a questão de que ligar tempos verbais para classificar condicionais é
uma limitação gramatical, rompida no aspecto funcional da língua. Leão reforça
seu pensamento com a seguinte frase de Machado de Assis: “Agora, se querem
saber em que circunstâncias se deu o fenômeno, basta-lhes ler este capítulo até o
fim”. E explica que nessa frase o se querem equivale a se quiserem.
No caso das orações subordinadas condicionais iniciadas por se, ou
até mesmo por já que, a ambigüidade destes mais a inadequação de uma análise
puramente morfológica do verbo tornam o contexto e a crença do falante fatores
mais relevantes na inferência das proposições condicionais.
Esse contexto, segundo Souza (2006:27), é um subconjunto de
suposições do ouvinte sobre o mundo, que é adquirida no decorrer da vida e
renovado a cada processamento de informações. O contexto usado para
interpretar um enunciado é restringido pela organização da memória enciclopédica
do indivíduo, pelas suas habilidades cognitivas e também pela atividade mental na
qual está engajado em determinado momento como afirma Sperber e Wilson.
Dessa forma, na interpretação dos enunciados, o contexto é individual e provoca
uma crença diferenciada em cada falante. Isso o torna fator preponderante na
interpretação dos condicionais.
5.3
Modo e Tempo verbais e sua relação com a
factualidade
De acordo com Neves (2000:848-854) há um esquema modo
temporal que indicaria a factualidade das orações condicionais. Sob essa
perspectiva temos para as orações condicionais factuais o seguinte quadro:
Oração condicional
Oração principal
Presente do Indicativo Presente do Indicativo
Passado do Indicativo Passado do Indicativo
Futuro do Indicativo
------------------
Através do quadro acima, notamos o que caracteriza as orações
condicionais factuais é o uso do modo indicativo.
Nas construções contrafactuais, a autora afirma que, normalmente,
os verbos da prótase estão no modo subjuntivo e numa forma passada, como
pretérito imperfeito e pretérito mais que perfeito. Ela ressalta que só há
contrafactual no passado, uma vez que o verbo da oração principal é sempre de
passado. (Neves 2000:850)
A autora explica que ao vermos uma construção condicional como
em Se eu não chego a tempo, o senhor bebia todo o rio Paraíba, apesar do uso do
presente do modo indicativo na prótase, isso não invalida a afirmação anterior de
que construções condicionais contrafactuais só apresentam verbos no passado,
pois embora a forma morfológica seja de presente o valor é de passado. Essa
construção poderia ser traduzida como Se eu não tivesse chegado a tempo, o
senhor beberia todo o rio Paraíba.
Nas construções condicionais eventuais, temos uma grande
variedade de esquemas modo-temporais, observada por Neves e apresentada no
seguinte quadro baseado em suas observações:
Oração condicional
Oração principal
Presente do Indicativo ou Subjuntivo Presente do Indicativo ou Subjuntivo
Passado do Indicativo ou Subjuntivo Passado do Indicativo ou Subjuntivo
Futuro do Indicativo ou Subjuntivo
Futuro do Indicativo ou Subjuntivo
Neves (2000:852) constata que a forma modo-temporal mais comum
em construções eventuais é a prótase com o futuro do subjuntivo e que essa
forma é exclusiva dessas orações.
Pretendemos verificar se essa relação temporal está diretamente
atrelada à idéia de factualidade ou se existem fatores mais relevantes nessa
análise
que tornam os aspectos verbais morfológicos coadjuvantes na
classificação de construções condicionais.
5.4 Então nos condicionais
Ao consultarmos uma gramática como a de Evanildo Bechara
(2003:289) nos deparamos com a grande polêmica: o fato de alguns advérbios,
entre os quais poderíamos incluir o então, serem tidos como conjunção. O autor
nos mostra que, muitas vezes, advérbios, como o então, devido à sua mobilidade
posicional na oração são vistos no início de orações e considerados, assim, uma
conjunção coordenativa explicativa ou conclusiva. Ele salienta, ainda, que:
Levada pelo aspecto de certa proximidade de equivalência semântica, a
tradição gramatical tem incluído entre as conjunções coordenativas
certos advérbios que estabelecem relações interoracionais ou
intertextuais. É o caso de pois, logo, portanto, entretanto, contudo,
todavia, não obstante. Assim, além das conjunções coordenativas já
assinaladas, teríamos as explicativas (pois, porquanto, etc.) e
conclusivas (pois [posposto], logo, portanto, então, assim, por
conseguinte, etc.), sem contar contudo, entretanto, todavia que se
alinham junto com as adversativas. Não incluir tais palavras entre as
conjunções coordenativas já era lição antiga na gramaticografia de
língua portuguesa; vemo-la em versões de sua Gramática [MMa.1].
Perceberam que tais advérbios marcam relações textuais e não
desempenham o papel de conector das conjunções coordenativas,
apesar de alguns manterem com elas certas aproximações ou mesmo
identidades semânticas. (Bechara, 2003:316)
Carone (1988) defende que as conjunções são geralmente
expressões que deslizaram do estatuto de advérbio para o de conjunção. De
acordo com ela, o então figura entre os operadores (além disso, apesar disso, pelo
contrário, assim, aliás, etc.) que atuam como elementos de coesão entre partes de
um texto, incluindo-se, assim, na faixa de transição do advérbio para a conjunção.
Para alguns autores, como Faraco e Moura, o então ainda é
classificado apenas como advérbio de tempo, mas se consultarmos alguns
autores de gramáticas pedagógicas (Terra, 2002; Infante, 1995; Nicola & Infante,
1997; Sacconi, 1994) já notaremos o reconhecimento do caráter multifuncional e
polissêmico do termo. Eles o apresentam não só como um advérbio puramente,
mas também como um conector interfrásico que articula partes de um texto,
assumido, desse modo, o papel de conjunção. Neste caso, o então abarca um
novo valor semântico-pragmático. Esse termo pode, assim, comportar-se como
um nexo conclusivo, expressando uma relação factual de causa-consequência ou
uma relação de inferência entre proposições, sendo a primeira uma das
premisssas e a segunda uma conclusão.
A relação factual de causa-consequência e a relação de inferência
entre proposições condizem respectivamente ao que Halliday & Hasan (1976,
apud Pezatti, 2002:191) entendem como função ideacional e função interpessoal
da linguagem. Nesse caso, o nexo conclusivo pode expressar uma conseqüência
factual ou assumir um valor argumentativo.
Gomes (2004) separa os condicionais em dois tipos: condicionais
típicos e atípicos.
Os condicionais típicos seriam aqueles em que poderíamos usar o
então, que nesse caso não se traduziria como um advérbio temporal, mas
implicaria a idéia de conseqüência. Esses condicionais constituiriam, desse modo,
uma operação específica do pensamento humano, que é a de estabelecer uma
relação de dependência entre duas proposições, na qual uma expressa uma
condição suficiente para que a outra se verifique.
O autor ainda cita que condicionais denominados atípicos, nos quais
não cabe o uso do então, podem ser representados por frases como Se você tiver
fome, há comida na geladeira. Não poderíamos dizer em tal frase Se você tiver
fome, então há comida na geladeira. Se há comida na geladeira, a comida está lá
independente de você ter fome ou não. Se não expressam a mesma relação entre
antecedente e conseqüente, por que condicionais atípicos têm a forma de um
condicional? Segundo Gomes, seu uso se justifica pela existência subjacente de
um condicional típico como Se você tiver fome, será útil para você a informação de
que há comida na geladeira.
Leão (1961:101) comenta que esse processo, de termos o uso do
então em condicionais é freqüente na linguagem familiar e encontra-se também na
língua literária. Ela postula que esse uso na língua literária talvez possa ser
explicado:
a-
Porque o escritor veja nos recursos orais a fonte
mesma da expressividade
b-
Porque, sentindo muito longe o se, o autor tenha
necessidade de reavivar no espírito do leitor a relação que
supõe esquecida.
c-
Porque o orador, querendo manter a atenção do
auditório, usa instrumentos que sublinhem a intenção de
suas frases e dêem tempo ao ouvinte de acompanhar-lhe o
pensamento.
Leão (1961:102) exemplifica esses usos com trechos de Machado de
Assis, Monteiro Lobato e Eduardo Frieiro:
a-
Se o aneurisma lhe resiste ao embate, então é que o
aneurisma era uma potoca [...] (M. Lobato, p. 119).
b-
Porém se, conservando o marido e o amante, tentam
novas aventuras, então o caso muda de figura: perdem o
direito a qualquer desculpa, equiparam-se às mulheres
perdidas, às que se vendem. (E. Frieiro, p. 160)
c-
[...] se o senhor doutor algum dia chegar a casar com
Iaiá, então sim, é que há de ver o anjo que ela é. (M. Assis,
p. 251) nesse exemplo sente se bem a transição do sentido
temporal para o consequencial.
Vários autores reconhecem, como visto acima, o uso do então não
somente com um advérbio.
Paremos para pensar sobre os usos do então:
1-
Se ele esteve aqui ontem, então ele nos viu.
2-
Eu fui lá e o vi, desde então nos falamos.
3-
Fui atravessar a rua e vinha um ônibus, então me
desviei dele.
4-
Ele tirou uma nota boa, e então se ele tivesse estudado
mais tiraria uma nota ainda melhor.
Nos exemplos dados, parece que na primeira frase o uso do então
articula as duas orações e possui um valor de seqüência lógica. No exemplo 2 o
uso do então é vislumbrado como anafórico de valor temporal. O exemplo 3,
embora
também
denote
uma
seqüência,
esta
seqüência
é
temporal,
diferenciando-se do exemplo 1. Já no exemplo 4 o então aponta uma conclusão.
Koch (1992) verificou o modo como os elementos lingüísticos se
relacionam entre si numa seqüência linear. Destacou aqueles por meio dos quais
se exprimem os diferentes tipos de interdependência semântica ou pragmática: os
conectores interfrásicos. Segundo a autora, a conexão interfrástica se dá mediante
conectores do tipo lógico e encadeadores de tipo discursivo. Apreciaremos agora
a relação pertinente ao comportamento sintático-semântico do então em relação à
orações condicionais iniciadas por se. Para Koch, conectores lógicos são aqueles
que podem estabelecer relações lógicas entre as proposições do interior de um
enunciado resultante de um ato de fala único. Podemos ter nesse ato de fala uma
relação de condicionalidade, expressa pela combinação de duas proposições,
uma iniciada pelo conector se ou caso (antecedente) e outra por então, que pode
estar implícito (conseqüente). Nesse caso, o conteúdo proposicional da oração
conseqüente é considerado como certo, caso seja, eventualmente, satisfeita a
condição enunciada na proposição antecedente.
Daremos alguns exemplos retirados de Koch (1992:87):
1.
Se aquecermos o ferro, (então) ele se derreterá.
2.
Caso faça bom tempo, (então) iremos à praia.
3.
Se você fosse realmente minha amiga, (então) teria
tentado ajudar-me nessa situação difícil.
Como podemos observar, em tais exemplos, o então estabelece uma
relação entre o antecedente e o conseqüente. Isso implica dizer que sendo o
antecedente verdadeiro, o conseqüente também o será. O então, nos
condicionais, pode estabelecer um valor anafórico, consequencial, em que temos
o equivalente a em conseqüência disso. Neves (2000:837) ressalta que em alguns
casos, na oração condicional factual, muitas vezes, apresenta um elemento
conclusivo e como exemplo cita o então, visto na oração principal.
Os usos do então não se limitam aos exemplos expostos acima,
bons exemplos são os dados na fala como: Então menina!, no sentido de vamos
lá. Através de seus usos variados fica muito difícil pensar no então apenas como
advérbio. Isso seria desconsiderar toda a polissemia das palavras em nossa
língua, seria desconsiderar a abordagem funcional da língua.
De acordo com o funcionalismo, procura-se explicar os fatores
lingüísticos de acordo com o uso interativo da língua, analisando as diferentes
situações comunicativas em que temos esse uso.
Para essa teoria, a estrutura gramatical depende do uso que se faz
da língua (Furtado da Cunha, Costa & Cezario, 2003:29).
Com a diversidade dos usos do então, torna-se clara a necessidade
de analisá-lo dentro de um contexto e de um propósito comunicativo. Para reforçar
essa idéia é só lembrarmos da arbritariedade lingüística do signo lingüístico, vista
em Saussure, arbitrariedade essa que perde sua força quando passamos a
conceber o funcionalismo da língua. Para Martelotta & Áreas (2003:25), “o falante
não inventa arbitrariamente seqüências novas de sons, mas tende fortemente
utilizar material já existente na língua”. Isso quer dizer que, normalmente, não
criamos coisas novas, mas garantimo-nos da polissemia das palavras para
expressarmos todos nossos pensamentos e intenções comunicativas.
Os estudos sobre a trajetória do advérbio então à conjunção então
não são recentes. Almeida (1957:261) subdivide os advérbios em simples e
conjuntivos obedecendo a suas funções:
É simples o advérbio que só tem função de advérbio (hoje, amanhã,
sim, não, muito, pouco, sempre, nunca, etc.) e conjuntivo o advérbio que além de
funcionar na oração como advérbio, funciona também como conjunção: quando,
onde, como, enquanto, etc.
Ainda que não caiba aqui a análise de cada ocorrência do então, já
se pode vislumbrar que a multifuncionalidade e a polissemia do termo não são
recentes e implicam não o considerar apenas como advérbio.
O então ocorre tanto como advérbio de tempo como articulador de
partes de textos e orações como as subordinadas condicionais.
5.5 Expressão do futuro nos condicionais
Ao
consultarmos
uma
Gramática
Normativa
do
português
perceberemos que os usos dos tempos verbais não fazem alusão a aspectos
subjacentes ao seu significado e ao seu funcionamento, relacionando tempo
verbal a tempo cronológico. Essas gramáticas preconizam a língua escrita ao
ditarem regras para regular e medir a língua escrita literária, não considerando
variações lingüísticas como a alternância entre a forma sintética do futuro do
pretérito (faria) e a forma perifrástica (ia fazer). Temos então uma carência de um
estudo sobre verbos, visto que essas considerações normativas, ainda que
tenham contribuído para nossos estudos, são incompletas e, portanto,
insatisfatórias.
Ao estudarmos os períodos condicionais, verificamos que ocorre
muito essa variação verbal do futuro e que esse assunto, por ser descartado por
gramáticas tradicionais, merece uma atenção maior.
O tempo futuro enquanto categoria lingüística ocorre com facilidade no
português, seja na língua escrita ou falada. O futuro nos aparece não como um
tempo concreto, mas como um tempo suposto. Por conseguinte o futuro pode ser
tido como um modo muito mais do que como tempo, uma vez que constrói um
mundo de possibilidades para o falante/ouvinte. Para Corôa (2005:55), “É
justamente pelo lugar de ação do futuro ser no mundo do possível que optam por
representar esse tempus não como uma continuação linear do passado e
presente, mas como um feixe de ‘mundos possíveis’”. Para a autora, o futuro
expressa um pensamento que parte sempre do possível para a certeza,
envolvendo interpretações sobre esse percurso.
Martin (apud Corôa, 2005:57), afirma que o condicional inscreve-se
em um processo de um vir-a-ser repleto de incertezas. A natureza do condicional
não é concebida além da conjetura, é um tempus em que temos grande
freqüência do uso modal. Assim, ao passo que o futuro parte de um conjunto de
possibilidades para um mundo que é ou será temporal, o condicional parte de uma
base temporal para um mundo extremamente hipotético, que passa pelo modal.
Isso implica afirmar que em construções do tipo “Sairei amanhã” temos um futuro
modal, já que carrega consigo as noções de probabilidade – de sairmos, e logo
depois teremos o futuro que chamamos de temporal, marcado pela morfologia
verbal. Todavia, quando falamos “Se eu puder, eu sairei amanhã”, notamos o uso
modal como derivado da função temporal.
Para expressar o futuro o falante utiliza várias formas verbais, como
o futuro do presente do indicativo, o futuro do pretérito do indicativo e a forma
perifrástica. É de nosso interesse verificar se o uso das formas perifrásticas, que
designam futuro, nos condicionais, influi na escolha de determinados conectores.
Dubois (2001:300) chama o futuro do pretérito de condicional e
afirma que este é a combinação do futuro com o passado. Isso se comprova em
alguns contextos, como exemplo, podemos citar um diálogo em que um dos
integrantes da conversa diga Iria ao cinema hoje, o seu interlocutor,
provavelmente inferiria que se algo não acontecesse, ele iria ao cinema hoje. O
futuro do pretérito aponta, nessa frase, para uma inferência condicional, para uma
oração subordinada condicional. Na frase Iria ao cinema hoje, temos a elipse da
oração subordinada condicional. Não podemos, no entanto, pensar que sempre o
futuro do pretérito irá sugerir uma condição. Ao imaginarmos um contexto em que
alguém diz Eu pensei que eu iria ao shopping, que iria ao cinema e que iria jantar
na rua notamos que as frase com o uso do futuro do pretérito são orações
subordinadas substantivas que complementam a oração principal Eu pensei.
Nesse contexto o futuro do pretérito não é uma condição, é um objeto direto da
oração principal. Ainda sendo o objeto direto e não apontando diretamente para
uma condição, alguém poderia argumentar que, na frase acima, houve algum
impedimento para que os fatos que alguém disse pensar que iriam acontecer não
acontecerem. Esse impedimento poderia ser traduzido em uma oração condicional
como Eu iria ao cinema, se tivesse recebido meu salário hoje ou Eu iria ao
shopping, se o meu carro não tivesse quebrado no meio do caminho. Sim, mas
outros exemplos não admitem tal argumentação. Pensemos em uma conversa em
que alguém diga Encontrei com meu amigo ontem e ele me disse que iria ao
cinema; nessa frase não temos o futuro do pretérito como designador de uma
condicionalidade e sim denotando apenas um futuro referente ao passado.
Com isso, percebemos que nem sempre temos no futuro do pretérito
uma condição e que a denotação de condicionalidade depende diretamente do
contexto ao qual estamos inseridos.
5.6- Esquemas verbais em orações condicionais
Neves (2000:848) apresenta um esquema modo temporal das
construções condicionais. Segundo a autora, assim como Leão (1961), a
conjunção se inicia tanto orações com verbos no indicativo, quanto com verbos no
subjuntivo. Já as outras conjunções condicionais só se constroem com verbos no
subjuntivo.
Ao considerarmos a conjunção já que também como uma conjunção
condicional, admitimos que tal conjunção acompanhe verbos no indicativo e não
acompanhe verbos no subjuntivo, isso indica que tal conjunção é merecedora de
uma categoria intermediária entre o conector se e os outros conectores
condicionais. Poderíamos expressar o que foi dito da seguinte forma:
Conectores condicionais
Modos verbais
Se
Indicativo e Subjuntivo
Já que
Indicativo
Outros conectores condicionais
Subjuntivo
Na oração principal, Neves (2000:848) salienta que ocorre o modo
indicativo, o contrário só ocorrerá se tivermos um tipo de modalização que nos
leve ao uso do subjuntivo, como em seus exemplos:
a-
Se tivesse podido prever o resultado, talvez nada
tivesse mandado dizer. (A)
b-
Se desse a autorização, talvez as duas famílias se
reconciliassem. (FR)
c-
Se Solovieff tivesse sido executado, quem sabe Se o
futoro Lênin tivesse orientado de modo diferente a sua
atuação. (AM-O)
Em relação ao tempo verbal, a autora afirma que a conjunção se e
aquelas em que o se vem focalizado – salvo se, exceto se – iniciam orações no
tempo presente, passado e futuro. Isso foi verificado em nossa parte empírica, em
que frases iniciadas por essa conjunção podem atrelar-se a todos os tempos
verbais.
Neves (200:848)
verifica que “Todas as
outras conjunções
condicionais iniciam orações de presente e de passado”. Esse fato também nos é
confirmado, pois ao tentarmos produzir enunciados condicionais iniciados por
conjunções condicionais diferentes do se, verificamos que o uso do futuro se torna
inviável.
5.7 Sobre o conceito de tempo
O tempo, de acordo com Santos (apud Corôa, 2005:24), pode ser
dividido em tempo cronológico, que se caracteriza por um ponto em contínua
deslocação ao futuro; tempo psicológico, como aquele que existe em função do
mundo interior do indivíduo e o gramatical, que se caracteriza no português por
morfemas típicos.
Para as gramáticas tradicionais há três tipos de tempos fundamentais:
presente, passado e futuro. Contudo, essas gramáticas de língua portuguesa
apresentam uma ambigüidade entre Tempo (tense), uma categoria gramatical, e
tempo (time), uma entidade fundamentalmente experiencial. Tal ambigüidade, de
acordo com Santos (2000), teve como conseqüência a prática de chamar tenses
(tempo verbal) de acordo com a seqüência de tempo (time) linear: passado,
presente e futuro. Diferenciando time e tense, temos que este é uma categoria
gramatical enquanto aquele uma construção mental. Sendo assim, temos tense
como uma expressão da seqüência de eventos, anterioridade, simultaneidade e
posterioridade.
Em nossa língua materna, comumente associamos ao verbo a noção
temporal. Contudo, temos outras expressões que podem dar informações em
relação à ordenação temporal – advérbios, conjunções, numerais e adjetivos
(Corôa, 2005).
Santos (apud Corôa, 2005:34) postula que, embora, normalmente,
definamos o verbo pelo seu caráter dinâmico, levando em conta assim o aspecto
semântico, essa seria uma maneira errônea, se não incompleta de conceituar o
verbo, pois na língua portuguesa encontramos nomes com um caráter dinâmico
maior do que alguns verbos. O autor exemplifica com o nome “desfile”, que
segundo ele tem mais dinamismo do que o verbo “permanecer”. Dessa maneira, o
mais sensato é distinguir o verbo dos nomes pelas suas características de voz,
modo, tempo, aspecto, pessoa e número, ou seja, pelo aspecto mórfico.
Na Gramática de Ingedore Koch e Mário Villaça (2001), podemos
observar que o verbo serve para marcar a posição que os fatos enunciados
ocupam no tempo, e que este, enquanto categoria gramatical, é realizado
exclusivamente pelo verbo e, enquanto categoria nocional, por morfemas, lexemas
e outras expressões.
Jean Dubois (2001:300) conceitua o tempo como uma categoria
gramatical que normalmente está ligada a um verbo e que traduz diversas
categorizações do tempo real ou natural.
Ainda que conceituar verbo seja uma tarefa tão árdua, não podemos
negar que essa categoria verbal, seja lá qual for sua conceituação, sempre está
vinculada à noção temporal e que é de extrema importância no ato comunicativo,
uma vez que permite ao falante/ouvinte situar-se no tempo em relação a ações,
estados e eventos em seus processos.
No português, essa classe gramatical apresenta uma riqueza de
morfemas Temporais, temos então morfemas característicos para cada Tempo
verbal, como –ria para o futuro do pretérito e –va para o pretérito imperfeito, em
verbos pertencentes à Primeira conjugação e –ia para os de segunda e terceira
conjugação.
Maria Helena Mira Mateus et al. (1983:104) diz que “no português os
Tempos naturais são o presente, o passado e o futuro”; faz ainda a observação de
que, dado que o futuro exprime sempre um valor modal, em línguas em que não
está ainda gramaticalizado, é discutível considerá-lo um tempo.
Nos condicionais lingüísticos observamos que o futuro se torna um
assunto muito intrigante. Como exemplo, podemos citar o futuro do pretérito,
tempo verbal de conceituação muito difícil, uma vez que temos com freqüência
esse tempo em construções condicionais do irrealis, que possuem uma natureza
incerta ou irreal. Dessa forma, esse tempo que se encontra no modo indicativo,
comumente caracterizado por exprimir fatos que se situam no âmbito do real,
apresenta-se em outra ambiência.
Aos enunciados que fazem referência ao passado é possível
atribuirmos valores de verdade, porém não podemos fazer isso com enunciados
sobre o futuro e dessa forma um de nossos objetos de estudo, o uso dos
conectores condicionais, quando estiverem atrelados ao uso do futuro, ao
expressarem realidade e irrealidade, envolvem também modalidade, que
estudaremos a seguir.
5.8 Modo X modalidade
Apesar de modo e modalidade muitas vezes serem vistos como
sinônimos, o modo apresenta-se como uma categoria gramatical, enquanto a
modalidade está relacionada com o evento de produção do enunciado, indicando
intenções e atitudes do falante em relação ao seu discurso. A modalidade, como
postula Mateus (1983), pode ser explicitada pelo modo do verbo e pelos verbos
modais como will, can, may e must na língua inglesa. Travaglia (1991) salienta
que a modalidade pode ser marcada também por advérbios como ‘talvez’, por uma
oração principal como ‘eu acho que’ ou ainda por verbos como ‘proibir’ e ‘crer’. O
autor também revela que a entonação da voz pode marcar modalidade.
O futuro, muitas vezes, tido como um conceito meramente temporal,
deve ser visto como um tempo verbal que indica modo e modalidade, já que, como
Lyons (19977) afirma, na enunciação do futuro temos suposição, inferência,
desejo, intenção e vontade.
Quando queremos expressar o futuro, podemos utilizar o futuro do
pretérito, o futuro do presente e até mesmo o presente. O futuro do pretérito e o
futuro do presente podem ser representados por suas formas perifrásticas, Ir +
Infinitivo. As formas perifrásticas, vistas também em estruturas condicionais,
podem designar uma determinada modalidade.
As modalidades que são tradicionalmente reconhecidas, desde a
época de Aristóteles, são:
a- Modalidade alética – as relações denotarão noções de
possibilidade, necessidade, contingência e impossibilidade,
e referem-se ao valor de verdade de proposições.
b- Modalidade epistêmica – referem-se ao conhecimento
que o locutor possui sobre o conteúdo de suas proposições.
c – Modalidade deôntica – está relacionada às normas de
conduta, àquilo que devemos fazer.
A gramática tradicional herdou da modalidade epistêmica a oposição
entre realis e irrealis. Dessa maneira, o modo indicativo se opõe ao modo
subjuntivo, posto que o primeiro é tido como o modo ligado a fatos reconhecidos
pelo locutor como certos de serem realizados, já o segundo aparece ligado
fundamentalmente a eventos reconhecidos como não-realizados ou irreais. Dessa
maneira, temos, comumente, o modo indicativo em asserções do realis, e o modo
subjuntivo indicando asserções do potentialis e irrealis.
Palmer (1986:191) nos lembra que condições irreais usam diversos
processos como o modo subjuntivo, tempo pretérito e verbos modais.
A noção de irrealis, potentialis e realis expressadas pelos
condicionais foram discutidas na seção 5.2 que descreve a classificação dos
condicionais.
5.9 Aspectos pragmáticos das construções condicionais com
presente do indicativo e futuro do subjuntivo.
O esquema “Se P, (então) Q”, como retrata Ferrari (2001), pode
aparecer de diversas formas com diversas variedades verbais na prótase e
apódose.
Ela nos mostra algumas dessas possibilidades nos seguintes
exemplos (Ferrari, 2002:226):
a-
Se chove, eles cancelam o jogo.
b-
Se chover, eles cancelam o jogo.
c-
Se chovesse, eles cancelariam o jogo.
d-
Se choveu, eles cancelaram o jogo.
A autora supracitada reconhece que cada uma dessas construções
sintáticas representa um significado particular, mas que analisará apenas as
construções a e b, focando na implicação sociocognitiva entre o presente do
indicativo e o futuro do subjuntivo em prótases condicionais. A perspectiva
sociocognitiva permite, como a autora afirma, o detalhamento das relações entre
condicionalidade e modalidade.
A autora analisa sob essa perspectiva a
introdução de um tópico e a mudança de tópico através dessas construções
condicionais.
Segundo Chafe (apud Ferrari 2005) “o tópico discursivo pode ser
definido como uma quantidade de informação que pode estar semi-ativa na
consciência”. Podemos ter nos tópicos uma organização hierárquica em que há a
presença de tópicos maiores e tópicos menores.
Para Chafe (apud Ferrari, 2002), o desenvolvimento do tópico se dá
através da elicitação e narração. Na elicitação, existe uma seqüência breve de
turnos, envolvendo dois ou mais interlocutores. O desenvolvimento do tópico é
interacional e quem introduz o tópico é o elicitador.
Na introdução de um tópico discursivo, Ferrari (2002) demonstra
através da transcrição, na qual o discurso se organiza através do supertópico
gêneros textuais, que a introdução de um tópico é feita com um condicional que
apresenta verbo no presente do indicativo, utilizado pelo coordenador em sua fala.
Coordinator: Se você pega aqui é um ensaio/ esse texto é
um ensaio tá vendo?
Teacher 1: [ahã]
Teacher 2: ce já tem no ensaio/ ce, ce já faz aquela
reflexão...argumentativo/
Teacher 3: [argumentativo é]
Teacher 2:
que o autor vai nos levar a refletir sobre
determinado assunto, mas que ele não vai fechar questão,
vai...o leitor né/se questionar/
Coordinator: é o ensaio é até mais reflexivo até
Coordinator: tem um ponto sei lá/(+) se pegar um editorial
que também é argumentativo/oeditorial/ele tem um tom
muito mais polêmico, enquanto texto argumentativo, do que
ensaio (++) né
Também é demonstrada, na transcrição acima, a mudança de tópico
que ocorre quando o editorial é citado, e com o uso de uma construção
condicional com protáse no futuro do subjuntivo.
Para Ferrari (2002) a utilização do futuro do subjuntivo constitui uma
estratégia na mudança de tópicos.
Na revista Marie Claire (Abril, 2009, n.27), na seção Abaixo as
Dúvidas, em que leitores escrevem para a revista com o intuito de esclarecerem
suas dúvidas, notamos que o uso do futuro do subjuntivo na prótase foi um
recurso na mudança de tópico. Vejamos a seguir uma dessas cartas:
Tenho a impressão de que as máscaras e as ampolas de
hidratação não proporcionam mais que um efeito puramente
cosmético. Dão um brilho discreto e deixam os fios macios
por algumas horas, mas depois de uma ou duas lavagens o
resultado desaparece.
Os consultores respondem:
Você tem razão. Os produtos cosméticos são ótimos aliados
para tratar a aparência externa do fio, mas não agem
internamente, nem alteram a qualidade do cabelo que ainda
vai nascer. Se quiser melhora em longo prazo, é
necessário avaliar a qualidade da sua alimentação e,
eventualmente, fazer uma complementação oral.
Houve uma mudança de tópico, em que o consultor muda do tópico
da impressão que o leitor tem para o tópico sobre a melhora do cabelo do leitor.
Na mesma revista, observamos o uso de um condicional com
prótase do presente do indicativo, na resposta do consultor, contudo notamos que
não há mudança de tópico, o que reafirma a idéia de Ferrari. Vejamos:
Sou vegetariana e tenho notado que meus fios estão
enfraquecidos. Pode ser falta de carne?
O consultor responde:
Sim. O ferro, encontrado na carne, é essencial para que o
cabelo cresça saudável. Se você restringe esse alimento, a
saída é recorrer a cápsulas ou comprimidos do nutriente.
Na revista Época do mês de abril, em uma entrevista intitulada O
Brasil construiu um modelo próprio, com Marcelo Néri, sobre a crise, Época
pergunta:
Já que o modelo não é planejado, como o Brasil conseguiu
construí-lo?
Néri responde:
Como o Brasil tem muitas desigualdades, você não pode ter
uma visão ultraliberal da economia. O Brasil tem déficits
sociais que, numa democracia, são cobrados, e, portanto,
você tem de conciliar. Há uma dinâmica política na
sociedade brasileira que leva a um equilibrismo. Nós
seguimos algumas coisas do Consenso de Washington, mas
mantivemos uma economia ainda relativamente fechada,
bancos públicos grandes e reformados, um mercado de
crédito que cresceu muito nos últimos anos, mas é
embrionário em relação a outros países. Essas coisas eram
vistas como defeitos, mas, com a crise, passaram a ser
vistas
como
qualidades,
porque
os mecanismos
de
propagação dos choques financeiros externos não nos
atingem tanto. Por outro lado, se você começa a fazer
muitas coisas contra o mercado, as pessoas também
gritam. Foi isso que fez o Lula, em seu primeiro mandato,
ao colocar Antônio Palocci no Ministério da Fazenda [...]
Na entrevista acima, notamos que a mudança de tópico, feita por
Néri, não atendeu à forma prevista por Ferrari. Pois, na mudança de tópico,
presenciamos o uso do presente do indicativo em Se você começa a fazer. Isso
demonstra que não podemos estabelecer na análise funcionalista da língua uma
forma verbal como uma única possibilidade de expressar determinada idéia ou
como única estratégia de um propósito discursivo. Porém notamos que a forma
verbal mencionada por Ferrari é uma estratégia de mudança de tópico e, embora
não seja a única, talvez seja um recurso priorizado na mudança de tópico.
5.10 Diferenças gramaticais nos condicionais e sua finalidade
Para Ferrari (2002:232-233) temos nos condicionais diferenças
gramaticais entre condicionais que representam sugestões e aconselhamentos
dos condicionais que representam pedidos e convites.
A autora salienta que em condicionais que sugerem ou aconselham,
o beneficiado é o ouvinte e a construção verbal utilizada nessas construções é o
presente do indicativo na prótase e o imperativo na apódose. Essa forma verbal
reforçaria a sugestão ou o aconselhamento. Ela nos dá a seguinte frase:
1-
Se você detesta escutar gente buzinando, escute a JB
FM.
Já em convites e pedidos, em que o interesse do falante é focado em
si mesmo, notamos construções com prótase no futuro do subjuntivo como na
frase:
2- Se você puder, me ligue hoje à tarde. (Ferrari, 2002:233)
A autora nos fala que quando temos um pedido ou um convite,
precisamos evidenciar nosso desejo ou capacidade de realizá-lo, e por isso, as
condicionais hipotéticas, com o uso do futuro do subjuntivo, são utilizadas. Isso
garante segundo a autora a preservação da face do falante, isto é, no caso de
possíveis recusas o falante se preserva através de sua postura neutra, efetivada
pela forma verbal do condicional utilizado.
Poderíamos argumentar que em contextos semelhantes ao dado
pela autora, ou seja, de sugestão ou aconselhamento, em que o ouvinte é
beneficiado, poderíamos ter a seguinte frase: Se beber, não dirija. É possível
falarmos dessa forma e vemos e ouvimos, constantemente, essa frase em
anúncios publicitários contra o uso de bebida alcoólica no trânsito. Essa frase é
um conselho, em que o maior beneficiado é a pessoa que o segue, pois ao seguir
o conselho, ela preserva sua própria vida. Podemos imaginar essa frase com o
uso do presente do indicativo, Se bebe, não dirija, mas não parece natural falar
dessa forma.
Temos uma frase que não admite, de forma natural, a estrutura com
o presente, mesmo que nessa frase tenhamos um conselho. Se o presente fosse,
realmente, usado nessa frase de combate do álcool no trânsito, não teríamos o
mesmo efeito, pois estaríamos admitindo que o interlocutor inferisse, por exemplo,
que o anúncio quis dizer que ele bebe habitualmente e que por isso não deve
dirigir. Com certeza esse não é o propósito da campanha.
Ao utilizar o futuro do subjuntivo, o conselho não atinge aos que não
bebem, não afirma que o interlocutor bebe sempre, o que transmite é que às
vezes as pessoas bebem e que nessas vezes não devem dirigir.
Assim, não constitui uma regra usar o presente do indicativo sempre
que tivermos um aconselhamento ou sugestão. Contudo, se observarmos os
principais anúncios publicitários, vistos em comerciais de televisão, por exemplo,
notaremos uma preferência pelo uso do presente do indicativo, em detrimento ao
uso do presente do subjuntivo.
Na revista Marie Claire (Abril, 2009, n.27), em uma matéria intitulada
Depois daquela Festa, observamos os seguintes enunciados:
Se você adota o estilo curto...
A vantagem é que não precisa pensar duas vezes antes de
decidir se vai lavar o cabelo [...]
Se seus fios acordam sem volume...
A dica de Marcos Proença é, assim que você se levantar,
aplicar um spray de volume [...]
Se quer cachos cheios de bossa...
O cabeleireiro Almiro Nunes [...] ensina como reavivá-los [...]
Notamos nos exemplos acima sugestões que ocorrem de maneira
implícita como no primeiro exemplo ou de uma maneira explícita como no segundo
exemplo. Nos condicionais vistos acima, apesar de termos o uso do presente do
indicativo na prótase de condicionais, não temos o uso do imperativo na apódose.
Isso mostra que existem outras construções verbais que também transmitem
sugestões (explícitas ou implícitas) e conselhos. Não notamos em toda a revista
nenhum registro de uso de futuro do subjuntivo em construções condicionais que
designem esses valores. Isso sugere dizer que mesmo que possamos transmitir
um conselho ou sugestão com o uso do futuro do subjuntivo, essa não é a forma
preferencial. Também concluímos que há a combinação do presente do indicativo
com o presente do indicativo também na apódose. Essa seria uma outra forma de
sugerir ou aconselhar com a utilização de condicionais.
5.11 Ironia nos condicionais
Silveira e Feltes (2002) comentam que desde a época de Aristóteles
se seguia o modelo de código semiótico, em que a comunicação é realizada por
meio da codificação e decodificação das mensagens. Tal modelo demonstra que
quando o falante diz algo, ele o transmite através de um canal de idéias
(codificação),
cabendo
ao
ouvinte
por
um
processo
de
decodificação,
compreender o que lhe foi dito. Contudo, há mensagens que precisam ser
interpretadas não só pelo que foi dito, mas por aquilo que está além do que foi
dito. Como exemplo, podemos citar a ironia de determinados enunciados
condicionais como:
Se você passou no vestibular, eu sou a rainha da Inglaterra.
O que se pode deduzir desse enunciado? Você passou no
vestibular? Eu sou a rainha da Inglaterra? Pelo que se percebe, decodificar
apenas a mensagem acima não explica esse caso porque é preciso que se
conheça o contexto em que tal enunciado foi dito para depreendermos
corretamente
esse
condicional.
Há
outros
aspectos
relevantes
para
compreendermos tal enunciado, como a falta de relação entre prótase e apódose
e improbabilidade extrema da verdade da apódose, porém estes aspectos são
desvelados através de uma realidade compartilhada pelos membros de uma
conversa e pelo contexto.
Não podemos, assim, negligenciar o contexto para entendermos a
ironia aí presente, temos que não só decodificar a mensagem acima como
também inferi-la.
A essência da ironia, segundo Freud (1969:199), consiste em dizer o
contrário do que se pretende comunicar a outra pessoa, mas poupando a esta
uma replica contraditória fazendo-lhe entender, seja pelo tom de voz ou por algum
gesto simultâneo, ou por pequenas indicações estilísticas que se quer dizer o
contrário do que se diz.
Para Searle (1969:104), a ironia se caracteriza como um ato de fala
indireto, sendo um enunciado cuja estrutura gramatical indica uma força
ilocucionária diferente daquela pretendida pelo falante. A estrutura gramatical do
exemplo “Você pode me passar o açúcar?”, aparentemente, indica uma pergunta,
enquanto na verdade o falante está fazendo um pedido.
Nos condicionais, poderíamos pensar como equivalente à frase “Se
você me permite, eu vou dar minha opinião”, nesse caso a estrutura gramatical
aponta para uma condicionalidade da expressão da sua opinião em relação a uma
suposta autorização que deveria ser dada pelo interlocutor, contudo, em tal frase,
o falante está apenas anunciando que dará sua opinião de uma forma mais polida.
De acordo com o autor, a força ilocucionária de enunciados como o
primeiro exemplo dado é seu verdadeiro significado. Nesse exemplo, o ato de fala
constitui uma condição e a força ilocucionária é aquela para qual aponta a
estrutura gramatical.
Os atos de fala ilocutórios – ato de fazer uma declaração, oferta,
promessa, etc; ao enunciar uma sentença, em virtude da força convencional
associada a ela -, propostos por Austin e Searle, são elementos que contemplam
a ironia.
A ironia, como ato de fala não-direto, está entre uma dissociação
daquilo que o enunciado manifesta, o literal, e a proposição visada, que
corresponde ao que está implícito. (Brait, 1996:78) De acordo com a autora, o
valor ilocutório da ironia explica uma de suas particularidades formais, a que diz
respeito às coerções que pesam sobre a inversão semântica. Assim, a ironia
geralmente descreve em termos valorizantes uma realidade que ela trata de
desvalorizar.
Em nossas discussões sobre a ambigüidade do conector se,
retornaremos esse assunto.
6. CONECTORES CONDICIONAIS
6.1 Os conectores condicionais
Alguns
gramáticos
tradicionais,
como
Bechara
(2003:498),
reconheceram a multiplicidade de relações exibidas pela articulação de orações.
Assim, o autor aponta que, além das orações condicionais exprimirem condição,
são capazes de encerrar idéias de hipótese, eventualidade, concessão, tempo,
sem que se consigam delimitar demarcações entre campos do pensamento.
O autor supracitado ainda postula que este tipo de período é muito
utilizado em argumentações e que tem como principais conjunções se, caso, sem
que, uma vez que, desde que, dado que e contanto que. Ele menciona a
conjunção já que, todavia explica que esse conector pode ter uma interpretação
causal além da condicional. Para ele, essa interpretação é resultado de uma
motivação semântico-pragmática, uma vez que, como observado pelo mesmo
autor, algumas palavras que constituem a oração “[...] passam por uma
interpretação suplementar, contextual, do falante, calcada na sua experiência de
mundo”. (Bechara, 2003:325).
Podemos, portanto, afirmar, que as sentenças condicionais iniciadas
pela conjunção já que possuem aspectos inter-relacionados, que impedem que
possamos classificar construções iniciadas por esse conector somente como
condicionais ou somente como causais. Leão (1961) também percebe que há
casos em que a distinção entre causa e condição é quase impossível.
A autora ressalta que “Há casos em que é quase impossível saber se
se trata de causa ou condição, de condição ou tempo, concessão ou restrição”.
(Leão, 1961:22)
Neves (2000) ressalta que a noção de condicionalidade pode
mesclar-se a outras noções. Cita como exemplo algumas construções temporais,
que em certos tempos verbais, têm matiz condicional.
Será notória, então, uma imprecisão ao definir a circunstância de
uma oração adverbial através do conector que a inicia. Pensemos agora: qual é a
diferença significativa entre a partícula se e o já que? O se, de acordo com nossa
hipótese, pode implicar a certeza ou a dúvida do falante sobre a ocorrência do
evento expresso na oração.
O já que possui também uma ambigüidade factual, denotando orações
factuais e não factuais? Se sim, a factualidade dessa conjunção em construções
condicionais se deve ao fato desta ser também uma conjunção causal?
Othon M. Garcia (1912:97) salienta que a conjunção condicional
típica é o se que, normalmente, exige o verbo no subjuntivo, mas que também
pode apresentar verbos no indicativo. Ele cita outras conjunções como caso,
contanto que, uma vez que, desde que, dado que, sem que e a menos que. Ele
não cita, assim como também não o fazem Neves (2000) e Luft (2002), a
conjunção já que, contudo fala na conjunção dado que, citada também por Neves
(2000) e que para ele equivale a contanto que (quando o verbo se apresentar no
subjuntivo). Quando o verbo ligado à conjunção dado que estiver no modo
indicativo, segundo o autor, teria um sentido causal. Luft (2002) é muito tradicional
em suas colocações sobre condicionais, não abrangendo outras conjunções
condicionais diferentes das vistas em gramáticas tradicionais. Contudo, Luft (2002)
fala que conjunções condicionais exprimem condição e ao citar as conjunções
tradicionais, como se, caso, exceto se, contanto que, com tal que, a não ser que, a
menos que, sem que, ele fala da existência de conjunções semelhantes. Essas
conjunções podem ser entendidas como qualquer conjunção que denote condição
e, consoante com tal interpretação, poderíamos dizer que ele poderia considerar o
já que como uma conjunção condicional, ainda que não a tenha citado.
Como Othon M. Garcia, Azeredo (2008:326) afirma que a conjunção
condicional típica é o se, que introduz, para ele, um fato real ou hipotético.
Ele distingue duas espécies de construções hipotéticas com se
(Azeredo, 2008:326):
a- Aquelas que expressam a típica relação entre uma causa
e um efeito hipotético e apresentam correlação obrigatória
entre o tempo da oração subordinada e o da principal (neste
grupo, se é substituível por caso);
b- Aquelas que apresentam liberdade na combinação dos
tempos verbais e cuja oração principal contém uma
inferência do que se declara na oração subordinada.
O autor salienta que os conectivos desde que, contanto que, com a
condição (de) que são para um uso formal, e, ainda que não tenham variedade de
sentidos expressas por se, possuem valor condicional contundente e impositivo. O
autor exemplifica esses valores condicionais com as seguintes frases (Azeredo,
2008:326):
c-
Vocês podem usar o salão para o ensaio, desde que
deixem tudo arrumado novamente.
d-
O senador aceitará o cargo de ministro, contanto que
disponha de dinheiro para novos investimentos.
Nas frases acima o valor é impositivo. Se utilizarmos se, para que
essas frases tenham valor contundente, o autor ressalta que devem apresentar a
conjunção se reforçada, obrigatoriamente, por palavras que acentuem sua
exclusividade:
e- Vocês só podem usar o salão para o ensaio, se deixarem
tudo arrumado novamente.
f- O senador aceitará o cargo de ministro somente se
dispuser de dinheiro para novos investimentos.
Azeredo (2008) observa que o conteúdo da oração condicional nem
sempre expressa a causa hipotética do conteúdo da oração principal. Para melhor
entendermos ele nos dá o seguinte exemplo: Se você mudar de idéia, aqui está
meu telefone e comenta que a frase condicional nesse exemplo possui uma
mensagem implícita no conteúdo da oração principal. Essa mensagem pode ser
traduzida como: Telefone-me. Na inferência dos condicionais, o autor já evidencia
que é preciso estarmos atentos a toda uma situação comunicativa e analisar não
somente o que foi dito, mas como também o que não foi dito.
Azeredo (2008) mostra também a condição expressa pelos
conectivos a menos que, a não ser que e exceto se e dá a estas um valor
imperioso. “O enunciador se serve da oração condicional para indicar a única
situação capaz de reverter o que vem expresso na oração principal” (Azeredo,
2008:327).
Ele nos dá os seguintes exemplos:
a-
O senador não aceitará o cargo de ministro, a não ser
que disponha de dinheiro para novos investimentos.
b-
“... não há velhice que nos detenha, a não ser que
tenhamos, por vontade própria, deixado de usar o
cérebro”.[MEDEIROS, Martha. O Globo, 27/4/2008]
c-
“A advogada disse que seu cliente não tem nada o que
fazer do ponto de vista jurídico, a menos que o laudo técnico
o responsabilize nominalmente pelo desabamento do
prédio”. [ Jornal do Brasil, 19/5/1998]
d-
“Com certeza até o diabo terá que reciclar sua retórica
neste fim de século, a menos que depois de velho tenha
virado um anarquista capaz de encantar o Terceiro Mundo”.
[SPÍNOLA, Noênio. Jornal do Brasil 25/5/1998]
De acordo com o autor, as construções hipotéticas iniciadas por se
servem para exprimir também a relação entre dois conteúdos que se
contrapõem, mas não se anulam, funcionando o segundo como atenuação ou
compensação do primeiro. Temos abaixo as frases que reafirmam a fala de
Azeredo (2008:327):
a-
“Se são justas as reivindicações das empregadas,
também é verdade que as donas de casa não são
empresas”.[O Globo, 17/5/1998]
b-
“É saudável que o novo ministro assuma com propostas
que, se não resolvem o problema e até reabrem polêmicas
antigas, ao menos permitem que se inicie uma reflexão mais
aprofundada”.[Folha de S. Paulo, 14/4/1998]
“Às vezes estas construções vêm reforçadas por pares correlativos
do tipo por um lado...” (Azeredo, 2008:328). Temos frases como Se, por um lado,
ele fez coisas erradas, por outro também é verdade que ele fez isso sem querer,
tentando acertar.
Azeredo nos mostra a diversidade dos usos dos condicionais, muito
embora não considere a conjunção já que como condicional, limitando-se a uma
visão puramente tradicional na análise dos condicionais.
Cunha & Cintra (2007:601) ponderam que as orações condicionais
indicam uma hipótese ou uma condição necessária para a realização do fato
principal. Dá-nos como exemplo de conjunções condicionais se, caso, contanto
que, salvo se, sem que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que, entre
outras existentes. O interessante em sua obra é que os autores, em suas
explicações sobre conjunções, mencionam a conjunção já que denotando apenas
o sentido de causa, mas logo depois nos falam sobre polissemia conjuncional.
Nas palavras dos próprios autores (Cunha &Cintra, 2007:604):
Algumas conjunções subordinativas (que, como, porque, se, etc) podem
pertencer a mais de uma classe. Sendo assim, o seu valor está
condicionado ao contexto em que se inserem, nem sempre isento de
ambigüidades, pois que há circunstâncias fronteiriças: a condição da
concessão, o fim da conseqüência, etc.
Acrescentaria ao exposto acima que uma das ambigüidades que
percebemos também pode ser constatada entre a condição e a causa. Isto é
notado em orações encabeçadas pela conjunção já que. Mesmo que o autor não
cite tal conjunção como denotadora também de condição, ao falar em polissemia
conjunção, revela-nos a possibilidade de essa conjunção permear por outros
matizes semânticos.
Azeredo (2008:325) ressalta que a diferença entre causa e condição
consiste na distinção de atitudes do enunciador em relação à realidade da
informação contida na oração adverbial. Torna-se tarefa difícil distinguir a causa
da condição, contudo, uma das formas é, justamente, a análise da situação
comunicativa.
Um outro aspecto interessante, merecedor de uma análise, é se
falantes utilizam o dado que apenas com verbos no indicativo ou se o uso do
subjuntivo também é comum. Será o verbo que denota junto à conjunção a idéia
de condição e causa ou será que, além do ambiente sintático, são fatores
discursivo-pragmáticos que inserem nesses períodos a relação condicional ou
causal?
A questão colocada por Garcia de que contanto que é uma
conjunção de valor mais impositivo à condição (Garcia, 2000:97), também é
merecedora de uma análise. Fica-nos a pergunta: será que dado que, que
possivelmente equivale a contanto que, denota também esse valor impositivo? Tal
questão foi uma de nossas propostas iniciais, que refletimos brevemente em
nosso primeiro formulário. No entanto, ao especificarmos mais nossa pesquisa,
deixamos tais reflexões como sugestão de futuros estudos e como um novo
caminho para trilharmos posteriormente.
Devemos lembrar que apesar de alguns gramáticos como Bechara
levantarem algumas reflexões, a análise tradicional das sentenças condicionais se
pauta no pressuposto de que sua classificação está relacionada à conjunção que
a inicia. Essa análise nos parece um tanto inadequada e insuficiente, por não
captar outros tipos de relação que poderiam ser inferidos através do contexto em
que a sentença é encontrada. A proposta funcionalista questiona, justamente, tal
postura tradicional, e entende que nem sempre as sentenças condicionais devem
ser consideradas apenas com esse único sentido, devido à sua mobilidade
pragmática.
Um exemplo de gramática tradicional que, como muitas, é seguida
em salas de aula, é a gramática de Faraco & Moura. Para esses autores, as
orações condicionais “indicam a situação necessária para que ocorra ou não a
ação do verbo da oração principal”. (1999:487)
Eles citam como principais conjunções dos períodos condicionais o
se, caso, exceto, salvo, desde que, contanto que, sem que, a menos que e a não
ser que. A forma como apresentam as conjunções nos faz entender que as
ocorrências das relações condicionais nas sentenças são determinadas por seus
articuladores. Sabemos, no entanto, que não podemos desconsiderar fatores
importantes como as formas verbais que acompanham os conectivos e os valores
semânticos, pragmáticos e discursivos desempenhados pelas conjunções. Os
autores citados acima omitem tais informações que são apontadas por Cunha &
Cintra, ao mencionarem a ambigüidade semântica presenciada em certas orações
subordinadas.
Acreditamos
que
uma
análise
bem-sucedida
de
conectores
condicionais nas construções de períodos deve ser calcada nas inferências
suscitadas por meio da análise da linguagem como um instrumento imprescindível
à satisfação das necessidades comunicativas. Tais necessidades variam com o
tempo e por isso são apoiadas em contextos sociais. Assim, o propósito de nosso
trabalho é verificar o comportamento dos conectores por nós escolhidos, através
de uma análise que não descarte a sintaxe, mas alie a ela elementos semânticos,
pragmáticos e discursivos. “Se uma língua pode abarcar vários sistemas, ou seja,
as formas ideais de sua realização, dinamicidade, o seu modo de fazer-se, pode
também admitir várias normas, que representam modelos, escolhas que se
consagram dentro das possibilidades de realizações de um sistema lingüístico”
(Cunha & Cintra, 2007:7).
6.2 Conector se e já que
A conjunção é um dos vários meios que a língua tem para articular
partes do texto, isto é, estabelecer conexão entre as palavras, grupos de palavras
ou frases. É uma categoria que comporta uma gama enorme de valores e
sentidos. Comentaremos um pouco sobre a conjunção condicional se e logo
depois sobre a conjunção já que que permeia pelo sentido causal e também pelo
sentido condicional.
O conector se
provém da conjunção latina si. Essa forma, de
acordo com Rubio (1983:345), remonta a evolução natural das leis fonéticas
latinas, a sei, forma documentada em textos arcaicos, locativo do tema pronominal
so/as que significavam, em primeira instância, “neste caso”, “assim” e “em tal
situação”.
A forma sei, acrescida da partícula dêitica ce, originou a forma sic.
Como locativos indiferenciados, o si e sic ocorrem ainda no período
histórico da língua latina, embora apareçam com maior freqüência com sentidos e
funções diversificadas, o locativo com a partícula dêitica, sic, com função de
advérbio e si, como conjunção condicional.
Faria (1997:267) comenta que no próprio latim clássico, o si
condicional passou a funcionar como conjunção integrante.
De acordo com Leão (1961:26), temos três hipóteses apresentadas
como explicação para a evolução semântica e sintática da palavra si. As
explicações são as de Bréal (1924), de Ernout e Meillet (1953) e de Hoffman
(1958).
Segundo Bréal, trata-se de um fenômeno de contágio, de reanálise,
em que a vizinhança do subjuntivo ou do optativo transmitiu ao advérbio si a
denotação de condição. Já de acordo com Ernout e Meillet a idéia de condição
surgiu em duas orações justapostas, sendo uma delas iniciada pelo advérbio si(c).
A interdependência das idéias determinou o surgimento de duas proposições
correlatas introduzidas por si...si ou sic...si, ou ita...si. Para ratificar as hipóteses,
os autores mostram a existência de vestígios dessa correlação em Cícero: Ita
enim senectus honesta est, si se ipsa defendit. A tradução seria Assim, pois, a
velhice é honrada se ela mesma se defende.
Contudo, Leão (1961:28) postula que Ernout e Meillet não explicam a
transição da relação sintática de interdependência para a de dependência,
considerando o período hipotético sempre como um conjunto de duas proposições
correlatas, o que leva a se concluir que consideram correlação gramatical, o que
seria uma correlação lógica.
Hoffman, afirma que as origens das orações iniciadas por si
encontram-se em outras situações lingüísticas. Ele considera provável que tenham
tido origem, ora em frases interrogativas, ora em frases declarativas, ora em
frases imperativas às quais justapunham outras proposições.
Transpondo tais idéias para dentro de uma concepção funcionalista,
podemos notar que Hoffmannn acredita que a noção de condição adveio de
implicaturas conversacionais, já que fenômenos volitivos e afetivos eram
traduzidos por interrogações diretas, por imperativos ou pela entoação de certas
declarações.
A passagem de pronome interrogativo a conjunção condicional é
explicada por Dias (1956:273), ao afirmar que, no discurso animado, um período
hipotético pode ser facilmente substituído por uma oração interrogativa, seguida
por uma oração assertiva: Conta-me? Guardo segredo. (= se tu me contas, guardo
segredo).
No latim falado, como afirma Said Ali (1964:221), si era um pronome
interrogativo empregado no lugar das partículas ne, num, nonne, na, utum... na.
Usado em frases interrogativas, passou também a ser empregado como
conjunção condicional ou integrante. Conseqüentemente, seu emprego passou a
ser vinculado a um verbo principal de significação duvidosa, negativa, ou de
questionamento, como não saber, ignorar, perguntar.
Passando à conjunção integrante, o sentido condicional esvai-se,
ficando, no entanto, na conjunção integrante si, uma certa idéia de dúvida, que
seria um vestígio do sentido primitivo.
Notamos, dessa forma, que a trajetória do conector passar de um
conteúdo semântico mais concreto para um menos concreto ou mais abstrato.
Si pronome – locativo como em tal situação, neste caso - conjunção condicional –
conjunção integrante.
Observamos com toda a explanação acima que a gramaticalização
desse item conjuncional ocorreu no latim, passando este item ao português já
como conjunção condicional ou integrante.
Portanto, o conector condicional se, em língua portuguesa, é
proveniente da conjunção latina si. “[...] a partícula se (port. Europeu [se], port.
Brasileiro [si]), [...] provém da conjunção latina si para expressar condição”.
(Câmara, 1976:185)
Si era empregada, no latim clássico, em três tipos de períodos
hipotéticos. Como explica Leão (1961:31), a conjunção se, de acordo com a
natureza da condição expressa na oração principal do período, poderia ser usada
em relação a: o real – a condição deve ser realizada efetivamente -, o potencial –
a condição é possível – e o irreal – a condição é contrária à realidade.
Em relação à gramaticalização da conjunção si, no latim temos a
passagem do pronome interrogativo, item menos gramatical, à conjunção
condicional e, posteriormente, integrante em itens mais gramaticais. Temos uma
mudança de distribuição na sentença e perda do conteúdo semântico.
A forma já advém do advérbio latino jam, que significava agora, já,
breve e que funcionava como conjunção coordenativa aditiva, com o valor de a
mais.
A transição do advérbio jam à conjunção já que é explicado por um
processo de reanálise, em que o advérbio se desloca de uma sentença para a
outra, dando origem a uma sintaticização e uma semanticização.
Temos, para tal, a combinação do advérbio com a partícula que; o
que, conjunção causal, junta-se com o já, que iniciando as sentenças seguintes,
passa a ser interpretado como elemento constituinte da sentença subordinada.
Como visto em Câmara (1976:185), a associação da conjunção que,
de valor semanticamente causal, faz com que o advérbio já perca sua denotação
semântica original e passe a designar, juntamente com a partícula que, um valor
causal. Dessa forma, o advérbio já, quando seguido da conjunção que, com valor
causal, que inicia uma sentença seguinte, passa a ser interpretado como um item
constituinte da sentença subordinada.
A conjunção já que sempre tem sido abordada como conjunção
causal. Somente o autor Bechara, em nossos estudos, salientou o valor
condicional dessa conjunção, ainda que não tenha explicado esse valor e
exemplificado com frases o valor condicional do conector já que.
6.3 Distinção entre o se e o já que
Leão (1961:72) distingue a conjunção se das outras conjunções não
só por exigências semânticas, como também por exigências sintáticas. Ela afirma
que o se pode ser seguido de verbo no indicativo, o que não ocorre com nenhuma
outra conjunção condicional. De acordo com a autora, “[...] se todas elas admitem
o subjuntivo, se exige futuro ou imperfeito e não admite presente [...]”.
No decorrer de nosso trabalho mostraremos que a distinção do se
das outras conjunções não seria a impossibilidade de outras conjunções não
poderem estar atreladas a verbos no modo indicativo. Faremos agora uma breve
distinção entre o conector se e já que, que possibilitará notarmos o equívoco da
autora supracitada.
Schwenter (1999:77) nos mostra que a principal diferença entre if e o
since é o senso de certeza do falante que, segundo ele, é mais forte neste do que
naquele. De fato nos parece que ao usarmos o since transmitimos maior
probabilidade de acontecer o fato descrito na prótase. Assim, em exemplos como
o dado pelo próprio autor Since the key fits, the door will open, o falante entenderá
que a chave se encaixou e, portanto a porta irá se abrir. Schwenter, no entanto,
não nos mostra essa frase de forma isolada.
Para explicar as diferenciações entre os conectores, vejamos os
exemplos dados (Schwenter, 1999:77):
a-
If the key fits, the door will open.
b-
(For all the speaker knows) the key may or may not fit;
the door may or may not open.
c-
Since the key fits, the door will open.
Segundo o autor uma diferença marcante entre as frases acima é
que o if poderá implicar tanto certeza quanto incerteza, contudo o since evitará a
implicatura de incerteza. Apesar de uma inerência semântica dos conectores since
e if o que de fato os identifica seria sua distinção pragmática que só ocorre devido
ao registro de seu uso.
Na frase a podemos tanto inferir que a chave encaixou ou que não
encaixou e que a porta abrirá ou não abrirá. Já na frase c temos o descarte de
uma incerteza dos eventos descritos na oração. Parece simples notar que
dificilmente alguém diria a frase c querendo que seu interlocutor inferisse que a
porta não abrirá ou que a chave não encaixou. Mas isso não se deve apenas ao
fato de que o since também participa de construções adverbiais causais,
denotando assim certeza do evento da oração. Isto porque o que deve ser
considerado também, como já dito anteriormente, é o aspecto pragmático que
considera o contexto de seu uso. Mesmo que Schwenter não tenha salientado isso
em sua tese, se apenas considerarmos o since desprovido de um contexto não
notaremos os efeitos pragmáticos que um orador nos quer passar quando
pronuncia Já que ele é inteligente, como dizem, não precisa de professores. Na
frase citada o falante em um primeiro momento mostra ao seu interlocutor que
acredita no fato descrito no seu enunciado, contudo, o interlocutor logo percebe
que o falante não acredita nem finge acreditar na inteligência dessa pessoa.
Sendo assim temos um condicional que expressa, através de sua forma verbal e
de seu conector, um evento factual, isto é, que é verificado na prótase. Contudo,
logo se nota que esse fato não é verificado e assim o falante enunciou um
discurso contrário àquilo que pensa. Ao analisarmos que o falante falou como se
seu enunciado fosse verdadeiro e percebermos que o contexto evidenciou que o
falante com seu enunciado disse o contrário do que queria dizer, notamos que
esse enunciado tem um efeito irônico. Para que seja irônico é necessário,
justamente, que o falante tenha a sensibilidade de notar que esse enunciado,
inserido em um contexto conversacional, denota o contrário do que as marcas
lingüísticas evidenciam. Temos um enunciado em que o falante finge acreditar no
que é descrito e provoca, então, um efeito discursivo: a ironia.
Outros exemplos dados pelo autor sobre o conector já que
(Schwenter, 1999:80):
ab-
Since it’s snowing, it’s winter.
If it’s snowing, it’s winter.
O autor tenta demonstrar que a incerteza não é um valor intrínseco
de if através da seguinte ilustração de um contexto:
[It is the middle of October in Chicago. A is looking ou the window but B isn’t]
A: It’s snowing!
B: It’s not even winter!
A: if it’s snowing, then it’s winter.
Segundo ele, não temos nada de incerto no uso de if por A, dentro
desse contexto. Isso porque se A olhou pela janela ele construiu seu enunciado
baseado em uma evidência visual. Assim a implicatura gerada a partir de If it´s
snowing, it´s winter não será a mesma que a vista em If it´s snowing, then it´s
winter. No contexto dado acima, o if aproxima-se do sentido do since por descartar
uma interpretação de incerteza e conferir ao enunciado um maior grau de
aceitabilidade, isto é, de aceitar a verdade descrita na oração.
Caso o if tivesse o valor intrínseco de incerteza teríamos uma contradição
entre o que foi dito por nas duas frases A do contexto acima, uma vez que A
afirmou que nevava e assim na declaração If it´s snowing, then it´s winter
observamos uma declaração na qual o falante visa a transmitir que está nevando
e, portanto é inverno.
Um outro exemplo que pode exemplificar que o if ou si não carregam
em si mesmos necessariamente, o valor de incerteza é visto na frase:
Si eso pasa, y yo sé que va a pasar, va a haber problemas
(Schwenter, 1999:81).
Na frase acima podemos observar que temos uma visão positiva do
falante expressa pelo verbo saber. Isso faz com que essa frase expresse um
condicional de fato aceito, ou seja, em que o falante age como se acreditasse que
isso vai passar.
Observamos em uma análise mais detalhada que nesses casos, em
que o falante usa o if ou si com o sentido de certeza, poderíamos substituir o if por
since.
Essa possível substituição, juntamente com todas as explanações do
autor acerca do valor do if, leva-nos a perceber uma ambigüidade do if. Uma
ambigüidade que pode ser comprovada pela paráfrase do if. Quando perguntamos
a uma pessoa que falou “Si eso pasa, y yo sé que va a pasar, va a haber
problemas” o que ela quis dizer, ela irá nos responder, provavelmente que “isso
vai se passar e vai haver problemas”. Dessa forma, notamos que a interpretação
do if envolve uma crença do falante sobre aquilo que ele enuncia e também
envolve um conhecimento prévio de mundo em enunciados que envolvem
situações que podem envolver outras pessoas além do orador. Poderíamos ter
como exemplo: Se ele foi à festa, ele a viu. Nessa frase é necessário que
consideremos o conhecimento do orador, se o orador sabe se ‘ele’ foi à festa ou
não. Desse modo, não podemos simplesmente considerar a semântica do if sem
considerar o seu contexto, pois não temos um valor intrínseco nos conectores,
sejam eles condicionais ou não. Mesmo em conectores como o since, temos que
considerar o contexto, pois em Já que ele é inteligente, não precisa de professores
para perceber o sentido irônico da oração é necessário que eu não considere
apenas o valor do conector mas/também a crença do falante e seus
conhecimentos prévios. ’
O senso de certeza de que Schwenter (1999) nos fala, realmente, é
maior para conectores como since. Já o senso de incerteza é visto no if assim
como também o senso de certeza, o que nos mostra a ambigüidade do if.
Então por que o falante em orações em que sua crença é positiva
não usa, muitas vezes, o since? Justamente pelo maior senso de certeza que
esse nos traz é que o orador normalmente usa o if, para aproveitar-se do sentido
ambíguo desse conector e manter um distanciamento de seu discurso, sendo
assim, mais cortês em suas relações sociais.
Terceira parte – Pesquisa Empírica
7. Hipóteses
As nossas hipóteses são:
1- O conector condicional se é passível de uma interpretação tanto do realis
(quando o falante assume um compromisso com a verdade do enunciado) quanto
do irrealis (quando o falante assume um compromisso com a falsidade do
enunciado) ou quanto do potentialis (quando o falante apresenta dúvida com
relação à realização do evento descrito no enunciado).
2- O conector já que se relaciona às proposições do realis.
3- O conector caso se relaciona às proposições do irrealis ou do potentialis.
Tentaremos comprovar essa hipótese com nossa pesquisa empírica
que propõe a paráfrase do se pelos conectores já que e caso.
8. Formulário 1
8.1 Metodologia
Essa dissertação provém da idéia primeira de fazermos um projeto
sobre os conectores condicionais se, já que, dado que, caso e supondo que.
Primeiramente, pensou-se nos efeitos pragmáticos e semânticos causados pela
substituição do conector se pelos outros conectores citados acima. Para tanto,
elaboramos um formulário, em que a linguagem utilizada por nós foi do tipo
informal, para que o informante não ficasse inibido e conseguisse expressar o que
normalmente diria. A vantagem que o formulário apresenta, em relação a outros
métodos, segundo Cervo e Bervian (2005:49), é “[...] a assistência direta do
investigador, a possibilidade de comportar perguntas mais complexas, a garantia
da uniformidade na interpretação dos dados e dos critérios pelos quais são
fornecidos. O formulário pode ser aplicado a grupos heterogêneos, inclusive
analfabetos, o que não ocorre com o questionário”. Isso se deve ao fato de o
formulário poder ser preenchido pelo próprio investigador.
Em
nosso
formulário,
o
preenchimento
foi
feito
por
nós
investigadores, todavia notamos que o formulário devia ser preenchido pelos
respondentes para que não os induzíssemos a nenhuma resposta. Constatado
esse fato, os respondentes liam e preenchiam sozinhos os formulários, contudo
muitas vezes pelo cansaço e devido a algum desinteresse pela pesquisa, tivemos
que interferir, preenchendo o formulário para os nossos informantes.
O formulário consistia em trinta e duas frases, nas quais o
informante devia escolher a opção em que o conector condicional mantinha o
sentido da primeira frase dada por nós. O falante tinha a opção de marcar duas
alternativas ou ainda não marcar nenhuma. Na elaboração do formulário, criamos
trinta e dois enunciados que obedeciam aos seguintes critérios: alguns eram
compostos pelo uso de tempos no indicativo, outros compostos pelo uso de
tempos do subjuntivo. Essa disposição foi feita no intuito de sabermos a relação
dos modos verbais às questões de interpretação de factualidade que o falante
fazia sobre o enunciado.
A utilização de conectores diferentes nas alternativas dos enunciados
surgiu com o propósito de estabelecer uma ligação entre a factualidade e os
conectores, isto é, se o falante acreditasse que o evento descrito no enunciado era
verdadeiro, ele substituiria o conector condicional do enunciado por qual conector
das alternativas? Ou não substituiria por nenhum conector das alternativas, devido
a estes não atenderem a sua interpretação factual do enunciado? Para analisar
tais questões, não nos limitamos apenas às marcações das alternativas,
buscamos explicações para cada opção assinalada.
A amostra coletada era do tipo controlada, uma vez que o formulário
era predeterminado de acordo com as variáveis lingüísticas demográficas que
consideramos. Os informantes se encaixavam nas características de variáveis
como sexo, faixa etária e nível de escolaridade.
A escolha dessas variáveis não foi aleatória, obedeceu aos seguintes
critérios:
1- Sexo: Acreditamos que a linguagem de homens e mulheres possa apresentar
alguns traços de distinção em seu modo de expressar pensamentos. Isso porque
podemos perceber que ao longo da história homens tiveram, muitas vezes, uma
posição de prestígio e de poder, enquanto mulheres ocuparam muitas posições de
menor prestígio, seja pessoal ou profissionalmente.
2- Faixa etária: esse fator é muito importante, pois através dele podemos verificar
se um fenômeno lingüístico se encontra em um estágio de variação ou se já pode
ser considerado como uma mudança em processo. Observaremos as formas de
comunicação de jovens e pessoas mais velhas, caso notemos que estas utilizam
os conectores condicionais indiferentemente, nosso fenômeno se trata de uma
variação. Já se notarmos o contrário, temos um índice de um processo de
mudança.
3- Nível de escolaridade: esta variável visa a verificar se a força coercitiva da
escola influencia nas escolhas lexicais e gramaticais, já que, em geral, notamos
que quanto mais alto for o nível de escolaridade de uma pessoa, mais proximidade
a fala desta pessoa tem com a linguagem padrão.
A seleção dos informantes, referente a esse formulário, atendeu ao
critério básico de serem naturais de Campos ou filhos de pais campistas, além de
terem sempre morado nesta cidade. Contudo, foram aceitas pessoas que tenham
vindo morar em Campos até os cinco anos de idade, em casos em que
encontramos dificuldade de encontrar um determinado tipo de informante.
Realizamos somente um contato com os informantes selecionados,
em que explicamos um pouco sobre nossa entrevista e esclarecemos que não se
trata de uma pesquisa gramatical na qual o informante teria uma opção certa e
outra errada, mas sim uma pesquisa que busca saber o que, normalmente, as
pessoas diriam para expressar determinadas situações. Lemos as frases e
perguntamos qual a opção que o informante utilizaria para expressar determinado
pensamento. Posteriormente, perguntamos o porquê de suas escolhas e
anotamos as respostas para entendermos por que algumas opções escolhidas
pelos informantes não atendiam às nossas expectativas e assim verificamos por
que estavam ocorrendo certos fenômenos lingüísticos.
Na análise dos dados quantitativos desse formulário, consideramos
não só as primeiras opções assinaladas pelo nosso informante, pois após o
inventário
alguns
informantes
mudaram
suas
respostas
e
estas
foram
consideradas.
Apesar de termos preparado um outro formulário diferente do
apresentado abaixo, aplicamos somente este. No formulário aplicado, todas as
questões, exceto uma, apresentam a ordem prótase-apódose O formulário que
tínhamos elaborado e que não aplicamos, consistia nas mesmas frases, todavia
com ordem inversa. Percebemos, com nossos estudos, que a segunda versão do
formulário que pretendíamos aplicar, centrada na ordem inversa da subordinação
nas estruturas condicionais, não era um fator de relevância na determinação do
uso dos conectores condicionais e da interligação destes com a factualidade. Isso
se deve ao fato de que, como Neves (2000) comenta, a grande parte das
construções condicionais serem estruturadas pela oração subordinada antes da
principal.
Neves (2000:836) salienta que a ocorrência dessa ordem revela um
princípio de iconicidade, prevendo para a seqüência – anteposição da oração
condicionante – a seguinte configuração:
•
Enuncia-se primeiro a ocorrência de um estado de
coisas como assentamento de uma condição (prótase), que
pode ou não ser satisfeita;
•
A partir daí (e, portanto, em subseqüência), enuncia-se
um estado de coisas como factual/contrafactual/eventual
(apódose), em dependência do preenchimento daquela
condição.
A autora também afirma que a iconicidade é muito mais produtiva em
termos discursivos, pois o tópico correspondente a oração subordinada – porção
do discurso sobre a qual se vai dizer algo – justifica a tendência deste aparecer no
início da construção condicional.
A ordem inversa, como vista, além de ser a forma menos utilizada
pelos falantes de língua portuguesa, também não altera a interpretação do falante,
evidenciando somente o aspecto que o falante pretende ressaltar em seu
enunciado. Assim avaliar essa ordem se tornou inviável para nossa pesquisa.
Em nosso formulário, tivemos também a intenção de analisar alguns
fatores pragmáticos e semânticos sob a perspectiva da Sociolingüística e do
Funcionalismo.
Alguns fatores foram levantados para fazermos a análise do que
poderia influenciar a diversidade de expressões com conectores condicionais. No
entanto, nem todos os fatores se mantiveram em nossa pesquisa. O fator
ambiente sintático, por exemplo, foi retirado de nossa análise devido aos aspectos
já expostos anteriormente.
Os fatores foram considerados foram:
a- Tempo e factualidade
O tempo relaciona o enunciado ao momento da enunciação –
presente, passado e futuro, enquanto a factualidade trata da noção de como o
falante se compromete com a falsidade ou verdade da proposição que enuncia.
b- Modo do verbo
Parte-se da hipótese de que o uso do presente do modo
indicativo, na protáse, tende a favorecer a paráfrase do se através do uso
dos conectores dado que e já que.
c- Contexto modalizador
Esse fator diz respeito à presença versus ausência de marcas
de modalização de incerteza ou certeza, além da categoria gramatical de
tempo/modo, que já apresenta em sua própria existência marcas de
modalização.
Não conseguimos atender a todos os critérios que elaboramos sem
que antes reformulássemos todo o projeto. Em nosso primeiro formulário não
obtivemos o número total de informante que necessitaríamos para termos maiores
dados sobre as variáveis escolhidas por nós. Apesar disso, obtivemos resultados
que nos apontaram informações relevantes a respeito dos condicionais.
Nos encontros em que preenchíamos os formulários juntamente com
nossos informantes, um total de quarenta formulários feitos, pudemos aprimorar
nossas idéias. Percebemos, pelos resultados, que veremos logo abaixo, que o
fator mais preponderante para as escolhas dos informantes foi o contexto que
cada um criava a partir de cada enunciado que dávamos. Isso porque os
enunciados podiam ser interpretados de diversas formas devido a não termos feito
contextos indutores de certeza ou indutores de incerteza, através do uso de
algumas formas lingüísticas. Também notamos a necessidade de diminuir um
pouco a diversidade de idades, pois se tratando de uma dissertação feita em dois
anos, o tempo seria um fator preponderante na redução das análises. Notamos
que o fator ambiente sintático foi irrelevante, como já tínhamos mencionado, e que
os fatores Tempo e factualidade e Modo do verbo se encontrariam dentro de uma
mesma análise.
A pesquisa, que se iniciou com a proposta de análise do conector se
através da análise dos conectores já que, dado que, caso e supondo que, foi
reduzida, na segunda fase, à análise do conector se através da paráfrase apenas
pelos conectores já que e caso. Isso foi feito devido à complexidade de analisar
tantos conectores em tão pouco tempo e também à necessidade de reduzirmos
todas as variáveis que pudessem alterar nosso resultado. Ao trabalhar com os
conectores dado que e supondo que verificamos que devido às particularidades do
campo semântico destes, acabaríamos abordando assuntos não pertinentes a
nossa pesquisa no momento. Um exemplo é o uso do conector supondo que que
nos encaminhou a abordagem dos contrafactuais que não são alvo de nossas
pesquisas. O conector dado que também foi retirado de nossas pesquisas, na
elaboração do Formulário 2, devido a fatores semânticos, pois este conector
apresentava assim como o conector se, uma ambigüidade semântica, podendo
ser interpretado tanto como constituinte de uma construção condicional factual
quanto de uma construção não factual. Assim, além de fugirmos um pouco de
nossa proposta, trabalharíamos com variáveis que provavelmente afetariam nosso
resultado.
Apesar de termos conseguido alguns bons resultados, estes nos
mostraram que, para uma análise mais qualificada do conector se, não
poderíamos abarcar com todas as questões que surgiram durante os formulários.
8.2 Texto do Formulário1
No formulário abaixo não há resposta certa ou errada, queremos
apenas saber o que você, naturalmente, entende ou diria. Dessa forma, pedimos
que leia com atenção as perguntas e assinale a frase que você acha mais
adequada para expressar o mesmo pensamento da primeira frase de cada item.
Caso ambas sejam igualmente adequadas, assinale as duas. Caso nenhuma das
duas seja aceitável, não assinale nenhuma.
1- Se ela veio ontem, certamente o viu.
( ) Já que ela veio ontem, certamente o viu.
( ) Caso ela tenha vindo ontem, certamente o viu.
2- Se ele não é brasileiro, ele não pode se candidatar.
( ) Dado que ele não é brasileiro, ele não pode se candidatar.
( ) Supondo que ele não seja brasileiro, ele não pode se candidatar.
3- Se for para ficar aqui, então eu fico.
( ) Caso seja para eu ficar aqui, eu fico.
( ) Já que é para eu ficar aqui eu fico.
4- Se ela, como você disse, irá viajar hoje, não poderá ir à festa.
( ) Supondo que ela, como você disse, viaje hoje, não poderá ir à festa.
( ) Dado que ela, como você disse, viaja hoje, não poderá ir à festa.
5- Se você quiser uma coisa mais fina, tem que ir a outro lugar procurar.
( ) Já que você quer uma coisa mais fina, tem que ir a outro lugar procurar.
( ) Caso você queira uma coisa mais fina, tem que ir a outro lugar procurar.
]
6- Vai dar para pescar, se não houver pedras altas.
( ) Supondo que não haja pedras altas, vai dar para pescar.
( ) Dado que não há pedras altas, vai dar para pescar.
7- Se ele for amanhã ao cinema, eu vou com ele.
( ) Já que ele vai amanhã ao cinema, eu vou com ele.
( ) Dado que ele vai amanhã ao cinema, eu vou com ele.
8- Se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, estou pronto, diga que
eu fico.
( ) Caso seja para o bem de todos e a felicidade geral da nação, estou pronto, diga
que eu fico.
( ) Dado que é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, estou pronto,
diga que eu fico.
9- Se ele é inteligente, eu sou uma rainha.
( ) Caso ele seja inteligente, eu sou uma rainha.
( ) Já que ele é inteligente, eu sou uma rainha.
10- Se eu estou lá, não deixaria ela fazer isso.
( ) Dado que eu estive lá, não deixei ela fazer isso.
( ) Caso eu estivesse lá, não deixaria ela fazer isso.
11- Se eu não tenho opção, fico.
( ) Já que eu não tenho opção, fico.
( ) Supondo que eu não tenho opção, fico .
12- Se você acredita em Deus, tem que rezar.
( ) Já que você acredita em Deus, tem que rezar.
( ) Caso você acredite em Deus, tem que rezar.
13- Se você quer muito vencer, vencerá.
( ) Dado que você quer muito vencer, vencerá.
( ) Supondo que você queira muito vencer, vencerá.
14- Se você quiser, eu telefono para você.
( ) Caso você queira, eu telefono para você.
( ) Já que você quer, eu telefono para você.
15- Se ele for o bandido, que seja preso.
( ) Já que ele é o bandido, que seja preso.
( ) Dado que ele é o bandido, que seja preso.
16-Se eu não tiver opção, eu faço isso.
( ) Já que eu não tenho opção, eu faço isso.
( ) Caso eu não tenha opção, eu faço isso.
17- Se sou eu no seu lugar, eu iria embora.
( ) Supondo que fosse eu no seu lugar, eu iria embora.
( ) Caso fosse eu no seu lugar, eu iria embora.
18- Se ele passou no concurso, viajamos hoje.
( ) Dado que ele passou no concurso, viajamos hoje.
( ) Supondo que ele tenha passado no concurso, viajamos hoje.
19- Se ele tem defeitos, tem virtudes também.
( ) Caso ele tenha defeitos, tem virtudes também.
( ) Já que ele tem defeitos, tem virtudes também.
20- Se você não tem interesse pelo assunto, como demonstra, pule o capítulo.
( ) Dado que você não tem interesse pelo assunto, como demonstra, pule o
capítulo.
( ) Supondo que você não tem interesse pelo assunto, como demonstra, pule o
capítulo.
21- Se uma cidade queria adquirir status, era edificada uma catedral a custo de
muitas privações dos cidadãos.
( ) Caso uma cidade quisesse adquirir status, era edificada uma catedral a custo
de muitas privações dos cidadãos.
( ) Já que uma cidade queria adquirir status,era edificada uma catedral a custo de
muitas privações dos cidadãos.
22-Se não sabe falar, fique calado.
( ) Supondo que não saiba falar, fique calado.
( ) Dado que não sabe falar, fique calado.
23- Se lutamos pelo que é certo, não podemos admitir o que é errado.
( ) Caso lutemos pelo que é certo, não podemos admitir o que é errado.
( ) Já que lutamos pelo que é certo, não podemos admitir o que é errado.
24- Se eu o chamo de chato sempre, foi porque ele permitiu.
( ) Dado que eu o chamo de chato sempre, foi porque ele permitiu.
( ) Caso eu o chame de chato sempre, é porque ele permitiu.
25- Se é você no lugar dela, ele estava ferrado.
( ) Já que é você no lugar dela, ele estava ferrado.
( ) Supondo que fosse você no lugar dela, ele estava ferrado.
26- Se as coisas não são assim, eu não ia para lá.
( ) Caso as coisas não fossem assim, eu não ia para lá.
( ) Dado que as coisas não são assim, eu não vou para lá.
27- Se o ônibus estiver chegando, as pessoas farão um movimento para frente
com o corpo.
( ) Caso o ônibus esteja chegando, as pessoas farão um movimento para frente
com o corpo.
( ) Já que o ônibus está chegando, as pessoas farão um movimento para frente
com o corpo.
28- Se você mandar um currículo padronizado a uma empresa, ele se parecerá
com centenas de outros currículos.
( ) Supondo que você mande um currículo padronizado a uma empresa, ele se
parecerá com centenas de outros currículos.
( ) Já que você vai mandar um currículo padronizado a uma empresa, ele se
parecerá com centenas de outros currículos.
29- Se isso acontece comigo, eu fico louca.
( ) Caso isso acontecesse comigo, eu ficava louca.
( ) Dado que isso acontece comigo, eu fico louca.
30- Se tudo que eu fiz foi para vê-lo feliz, não posso entender a atitude dele.
( ) Supondo que tudo que eu fiz foi para vê-lo feliz, não posso entender a atitude
dele.
( ) Já que tudo que eu fiz foi para vê-lo feliz, não posso entender a atitude dele.
31- Se ele está aqui, é porque está interessado na matéria.
( ) Supondo que ele esteja aqui, será porque ele está interessado na matéria.
( ) Caso ele esteja aqui, será porque ele está interessado na matéria.
32- Se ele vai viajar hoje, não vai poder sair com você.
( ) Supondo que ele vai viajar hoje, não vai poder sair com você.
( ) Dado que ele vai viajar hoje, não vai poder sair com você.
8.3 Percurso do formulário I
Todos os informantes que participaram da nossa amostra foram
abordados de forma espontânea por nós.
Primeiramente, falávamos um pouco sobre a nossa pesquisa,
sempre evidenciando o caráter não normativo de nossos estudos. Explicávamos a
manutenção do anonimato em nosso formulário e o propósito de nossa pesquisa
que era saber como as pessoas expressavam determinados pensamentos em seu
cotidiano.
Nesse formulário que aplicamos, procuramos deixar que as pessoas
lessem sozinhas o enunciado e, somente, quando surgia alguma dúvida, líamos o
enunciado para elas e esclarecíamos as dúvidas que se mantinham. No decorrer
do preenchimento do formulário, as perguntas liam os enunciados respondiam a
opção que expressaria melhor determinado pensamento. Lembrando que podiam
também não marcar opção nenhum ou marcar duas opções.
Depois de responderem todas as questões, conversávamos com
nossos informantes sobre suas escolhas e conseguíamos, desse modo, entender
um pouco mais sobre a escolha de determinadas formas que não condiziam com
nossas expectativas.
O formulário foi feito em escolas, nas residências de alguns
informantes e no Asilo Nossa Senhora do Carmo de Campos dos Goytacazes. Os
formulários feitos em ambiente escolar foram tanto da rede privada quanto da rede
pública.
A duração da aplicação do formulário, como dito anteriormente, foi de
quarenta e cinco minutos aproximadamente, pois houve casos particulares, em
que a aplicação do formulário durou mais de uma hora e meia; isso ocorreu
principalmente quando o formulário era feito na residência de pessoas com mais
de quarenta anos. Essas pessoas além de demorarem mais a responder o
formulário, também mantiveram uma relação de proximidade conosco, através de
conversas que não se referiam ao formulário.
O grande número de questões de nosso formulário, muitas vezes,
provocou um cansaço nas pessoas e tivemos, em alguns casos, que dar um
intervalo de tempo para que as pessoas descansassem e não o fizesse de forma
automática para diminuir o tempo cedido ao preenchimento do formulário. Por
isso, como veremos, diminuímos o número de questões da segunda versão do
formulário.
O horário de visitação para coleta de amostras foi sempre na parte
da manhã, a partir das dez horas, e na parte da tarde, das duas horas a seis horas
da tarde. Tivemos algumas exceções, em que, por pedido do informante, fomos
aplicar o formulário depois das seis horas, devido a esse ser o horário que muitas
pessoas chegam do trabalho.
Existiu grande dificuldade na aplicação do formulário com o público
jovem, já que estes demonstraram muita impaciência no preenchimento do
formulário e também uma grande persistência na concepção de certo e errado.
Contudo, reafirmamos a estes que não se tratava de uma pesquisa gramatical e
aos poucos conseguimos contornar os obstáculos impostos por alguns
informantes.
8.4 Resultados
Na tabela 2, apresentamos os resultados da aplicação do Formulário
1. Os dados se referem à uma pequena amostra de nossa pesquisa e
representam o resultado da primeira etapa de nossa pesquisa, que se constituía
de quarenta formulários.
Nesse primeiro momento não foi possível verificar com precisão os
fatores que condicionam as escolhas dos conectores condicionais, visto que não
finalizamos todos os requisitos de nossos formulários.
É importante esclarecer que na tabela abaixo os conectores estão
numerados por obedecerem à ordem de sua apresentação nas alternativas de
cada questão. A questão 01, por exemplo, tem na sua segunda alternativa o
conector caso e, assim, preenchemos a lacuna do caso 2.
Tabela 1: Apresenta o resultado da paráfrase do se, com base no formulário 1, feito com quarenta
pessoas. Para cada conector, diferenciamos, com os números 1 e 2, os quesitos em que a
paráfrase com esse conector é a primeira daqueles em que ela é a segunda das duas opções.
TEMPOS VERBAIS
(protase + apodose)
CONECTORES CONDICIONAIS
CASO
1
CASO
2
JÁ
QUE 1
JÁ
QUE 2
DADO
QUE 1
DADO
QUE 2
SUPONDO
QUE 1
SUPONDO
QUE 2
-
-
-
-
-
-
-
-
30
-
23
-
1
PRES. IND. + PRES. IND.
-
22
40
-
2
PRES. IND. + PRES. IND.
-
-
-
-
3
30
-
-
16
5
FUT. SUBJ. + PRES. SUBJ.
FUT. PRES. IND.+FUT. PRES.
IND.
FUT. SUBJ. + PRES. IND.
27
-
6
7
4
25
-
-
-
-
-
-
-
33
16
-
-
FUT. SUBJ. + PRES. IND.
-
-
-
-
-
07
31
-
-
-
18
-
-
10
-
-
08
-
-
-
-
16
-
-
9
FUT. SUBJ. + PRES. IND.
PRES. IND. + IMPERATIVO
AFIRMATIVO
PRES. IND. + PRES. IND.
14
-
-
27
-
-
-
-
10
PRES. IND. + FUT. PRET. IND.
39
-
-
-
-
01
-
-
11
PRES. IND. + PRES. IND.
-
-
-
37
-
-
04
-
8
-
12
PRES. IND. + PRES. IND.
-
16
40
-
-
-
-
-
13
PRES. IND. + FUT. PRES. IND.
-
-
-
-
37
-
-
17
14
FUT. SUBJ. + PRES. IND.
39
-
-
26
-
-
-
-
15
FUT. SUBJ. + PRES. SUBJ.
-
-
15
-
-
14
-
-
16
FUT. SUBJ. + PRES. IND.
-
32
11
-
-
-
-
-
17
PRES. IND. + PRET. IMP. IND.
-
37
-
-
-
-
35
-
-
-
-
-
13
-
-
36
16
-
-
10
-
-
-
-
-
-
-
-
31
-
-
23
18
-
-
04
-
-
-
-
-
-
-
-
-
17
12
-
23
PRET. PERF. IND. + FUT. PRES.
IND.
PRES. IND. + PRES. IND.
PRES. IND. + IMPERATIVO
AFIRMATIVO
PRET. IMP. IND. + PRET. IMP.
IND.
PRES. IND. + IMPERATIVO
AFIRMATIVO
PRES. IND. + PRES. IND.
14
-
-
33
-
-
-
-
24
PRES. IND. + PRET. PERF. IND.
-
10
-
-
14
-
-
-
25
PRES. IND. + PRET. IMP. IND.
-
-
01
-
-
-
-
40
18
19
20
21
22
26
PRES. IND. + PRET. IMP. IND.
33
-
-
-
-
02
-
-
27
FUT. SUBJ. + FUT. PRES. IND.
25
-
-
03
-
-
-
-
28
FUT. SUBJ. + FUT. PRES. IND.
-
-
-
14
-
-
29
-
29
PRES. IND. + PRES. IND.
37
-
-
-
-
05
-
-
30
PRET. PERF. IND. + PRES. IND.
-
-
-
33
-
-
17
-
31
PRES. IND. + PRES. IND.
-
15
-
-
-
-
17
-
32
FUT. PRES. IND. + PRES. IND.
-
-
-
-
-
18
26
-
8.5 Discussão
Analisando os resultados acima, foi possível perceber que nessa
primeira coleta de dados, o uso do modo indicativo não determinou a factualidade
da proposição, assim como o uso do modo subjuntivo também não foi
determinante na não-factualidade do condicional. Isso pôde se verificar em frase
como a número 1 do formulário, em que tínhamos Se ela veio ontem, certamente
o viu. Nas respostas, tivemos não somente a opção Já que ela veio ontem,
certamente o viu como também a opção Caso ela tenha vindo ontem, certamente
o viu. como Esse fato comprovou que o aspecto mórfico dos verbos não é
suficiente na determinação da factualidade do condicional, pois o uso do presente
na frase citada anteriormente, não foi determinante na factualidade do condicional,
uma vez que tivemos a paráfrase de tal enunciado por um outro que denota
incerteza através do uso do conector caso. O contexto é um fator que, segundo os
dados coletados nesse primeiro formulário, influencia muito na factualidade
condicional.
Em cada formulário respondido, as pessoas justificaram suas
escolhas através de contextos definidos em suas mentes. Por exemplo, na frase
do formulário, número 5, uma pessoa do sexo masculino, de 20 anos, cursando o
ensino médio, ao parafrasear a questão Se você quiser uma coisa mais fina, tem
que ir a outro lugar procurar, optou pela frase Já que você quer uma coisa mais
fina, tem que ir a outro lugar procurar. Sua justificativa foi um contexto que ele
mesmo criou A pessoa foi no lugar, não gostou e falaram isso para ela. A prótase
foi aceita pelo falante como certa e a apódose veio como uma conseqüência do
fato descrito na prótase. Se esse informante não teve a mesma resposta que
muitos outros e, se nenhum informante foi capaz de produzir contextos
exatamente iguais para a justificativa de suas escolhas, isso mostra que o fator
preponderante nas escolhas dos conectores se encontra dentro do contexto
idealizado por cada participante de nossa pesquisa.
É possível observar que o conector caso está mais atrelado à idéia de nãofactualidade e contrafactualidade, enquanto o já que está vinculado à idéia de
factualidade. Isso é confirmado por pessoas entrevistadas que justificaram o uso
do caso pela falta de certeza da factualidade do condicional lingüístico.
Embora o dado que esteja associado, na maioria das vezes, a contextos
factuais, em alguns casos foi usado em relação a proposições não-factuais. Na
frase 4, Se ela, como você disse, irá viajar hoje, não poderá ir à festa, uma pessoa
do sexo masculino, de 27 anos e cursando o pós doutorado marcou as duas
opções desse enunciado: Supondo que ela, como você disse, viaje hoje, não
poderá ir à festa e Dado que ela, como você disse, viaja hoje, não poderá ir à
festa. Essa pessoa relatou que o dado que nesse exemplo expressa dúvida.
Um aspecto interessante em relação ao dado que se mostra no fato de 37
pessoas terem aceitado a paráfrase com esse conector com o presente do
indicativo e 7 pessoas acharem que uma oração encabeçada por esse conector
pode designar a idéia de dúvida e incerteza.
Na frase número 6 do formulário a
maioria marcou a opção com supondo que. Ainda que nessa mesma questão 31
pessoas tenham marcado a opção com o conector supondo que e só 8 pessoas
tenham marcado a opção dado que, não podemos afirmar que as que marcaram
dado que o fizeram por denotar certeza a oração. Isso porque tivemos quase um
empate entre os que marcaram essa opção por imprimirem certeza (3) à oração e
os que marcaram essa opção por imprimirem outro valor a essa oração. Dentre as
pessoas que optaram pela paráfrase com o dado que, tivemos o nível de
escolaridade com o Ensino Fundamental e o Segundo Grau não houve a
existência dessa escolha com pessoas do Ensino Superior.
Em relação ao supondo que, alguns respondentes apontaram uma
diferença semântica entre esse conector condicional e o caso, sendo o primeiro
mais ligado à idéia de imaginação. Assim, houve casos em que o informante
relacionou o supondo que com cláusulas contrafactuais. Em frases como a
número 17 do formulário 01, Se sou eu no seu lugar, eu iria embora, 37 pessoas
marcaram a opção em que temos o conector caso, enquanto 35 marcaram a
opção em que temos o conector supondo que. Duas pessoas que optaram pela
alternativa iniciada por supondo que distinguiram essa conjunção da outra,
justificando que supondo que equivale a imaginando que. Como a maioria dos
informantes marcou as duas opções, não tivemos uma diferenciação de uma
conjunção da outra, em termos de aceitabilidade da paráfrase. Ainda que, como
dito anteriormente, uma pequena parte dessas pessoas tenham feito uma
distinção entre uma opção e outra, não há dados que tornem essa diferença
relevante. Ainda precisamos de dados maiores para verificar se o supondo que
designa contrafactualidade.
Os universitários mostraram maior reflexão sobre a língua, e talvez
por isso, tenham sido eles os que relataram efeitos do discurso, como a ironia
provocada pelos conectores se e o já que. Uma universitária relatou que o já que
mantém o efeito irônico do enunciado, enquanto o uso de supondo que, dado que
e caso fazem com que esse efeito seja perdido. Esse aspecto foi percebido no
enunciado 9, Se ele é inteligente, eu sou uma rainha. Brait (1996:44) diz que “a
ironia só pode ser empregada quando a outra pessoa está preparada para aceitar
o oposto, de modo que não pode deixar de sentir uma inclinação a contradizer.”
Assim, nossa informante não analisou somente um enunciado solto, mas
considerou como as informações sinalizam significados e como o contexto, no
caso criado por ela, é capaz de influenciar qualquer tipo de interpretação de
discursos. Ela ainda ponderou que o se é muito usado devido à sua ambigüidade
não somente no que diz respeito à certeza, dúvida ou impossibilidade do
acontecimento, como também da ambigüidade que o se carrega em relação à
ironia. Dessa maneira, para ela, o se seria a melhor forma de falarmos e
mantermos um distanciamento de nossos enunciados. O já que mantém o efeito
discursivo da ironia, porém não possibilita essa ambigüidade do se. Essa
informante não foi a única de escolaridade de nível universitário a relatar as
propriedades do se e do já que.
Na frase 9 do formulário 1, 27 pessoas marcaram o já que, enquanto
14 marcaram caso. Conforme esperávamos, não foram todos que, em sua
justificativa, perceberam os efeitos discursivos dos conectores, tais como a ironia.
Pessoas de nível escolar menos elevado possuem uma dificuldade
em refletir sobre a língua e, assim, quanto menor é o nível escolar maior é a
dificuldade de justificar as escolhas lingüísticas. Dessa forma, tais pessoas
justificam suas escolhas pelo uso destas em suas conversas cotidianas.
Quanto à idade das pessoas, as escolhas lingüísticas não parecem
ter sido muito influenciadas por esse fator, pois pessoas mais velhas com menor
escolaridade tiveram escolhas semelhantes às escolhas de pessoas com nível de
escolaridade menor ou igual a das pessoas com idade maior que 30. Isso parece
mostrar que o tempo em que a pessoa permanece em uma instituição, em contato
com as normas gramaticais e assim com a língua padrão, influencia, notoriamente,
em seu desempenho lingüístico. Podemos ratificar essa afirmação com base em
formulários como a de um homem de quarenta anos, cursando a quarta série e da
entrevista de um outro informante do sexo masculino, de treze anos, cursando a
sexta série. Ambos tiveram respostas muito semelhantes no formulário. Por
exemplo, na questão de número 6, os dois marcaram a opção iniciada por
supondo que. Também houve semelhança nas justificativas para as respostas,
pois justificaram muito de suas escolhas com o fato de falarem daquela forma e
não com uma reflexão mais profunda sobre a língua.
A ambigüidade do se é constatada em nossos primeiros dados, pois
esse conector foi substituído por dado que, supondo que, já que e caso. As
possibilidades comunicativas do se parecem maiores do que as dos demais
conectores, além de notarmos também uma vasta possibilidade verbal em
construções iniciadas por se. Os outros conectores dependem mais de certas
formas verbais, um exemplo disso é o já que, que não é utilizado com verbos no
modo subjuntivo.
Em nossos inventários, todos foram unânimes ao não admitirem o já
que com formas verbais no subjuntivo, pois sempre que justificavam suas
respostas e mencionavam este conector, nossos informantes o atrelavam ao
modo indicativo. No entanto, com o conector supondo que, foi possível observar a
aceitação de alguns, quando esse conector estava em uma oração com o verbo
no indicativo e não com o subjuntivo que é a forma prestigiada. O interessante é
que ainda que esse conector estivesse atrelado ao modo indicativo, a sua
semântica, em nenhum caso, foi alterada. Os respondentes continuaram a
designar para essa oração o sentido de dúvida, hipótese, imaginação.
Na questão 21, Se uma cidade queria adquirir status, era edificada
uma catedral a custo de muitas privações dos cidadãos, alguns estudantes do
ensino médio e alguns universitários não optaram por nenhuma alternativa e
disseram que no lugar do se deveria estar o conector adverbial temporal quando.
Nesse
caso,
notamos
que
o
condicional
também
pode
denotar
uma
temporalidade. Uma outra interpretação, baseada em Ferrari (1999), é a de que o
conector quando, prototipicamente temporal, pode aparecer em frases como a da
questão 21 como um operador de domínio, que pode ser interpretado como nas
vezes em que. Segundo sua teoria, em uma interação conversacional, podemos
ter a necessidade de negociações de turnos e de estabelecimentos de domínios
cognitivo e a utilização de condicionais nesse aspecto se torna bastante produtiva.
A expressão de condicionalidade pode ocorrer através de alguns mecanismos
formais, como os citados pela autora (Ferrari, 1999:80):
B-
conjunção Se + Pres. Indicativo. Ex: “Se você pega uma
narrativa, o tempo verbal mais utilizado é o pretérito
perfeito”.
C- Conjunção Se + Futuro do Subjuntivo. Ex: “Se você
pegar uma narrativa, o tempo verbal mais utilizado é o
pretérito perfeito.”
D- Conjunção Quando (=nas vezes em que) + Pres.
Indicativo. Ex: “Quando você pega uma narrativa, o tempo
verbal mais utilizado é o pretérito perfeito”.
E-
Condicional Não-Finita. Ex: “Sendo uma narrativa, o
tempo verbal mais utilizado é o pretérito perfeito”.
O quando, de acordo com Ferrari, nem sempre deve ser visto como
conector temporal. Nas construções citadas acima, a construção C é um dos
possíveis exemplos em que o quando aparece como constituinte de uma
expressão que expressa condicionalidade. Em nosso formulário o uso do quando
não está associado ao uso do presente do indicativo, contudo podemos substituilo por nas vezes em que, o que implica que tal uso do quando gera uma
condicionalidade que também o faz ser um operador de domínio. E o que seria
esse operador de domínio? Ferrari (1999) explica que quando utilizamos um
condicional iniciando-o pelo conector se, estamos negociando uma introdução de
um espaço mental. Já quando temos uma construção condicional iniciada pelo
conector quando, o falante re-introduz um espaço mental que já negociou antes.
Isso significa dizer que ao usar esse conector temos um domínio cognitivo, pois
criamos espaços mentais, isto é, criamos modelos de situações do mundo real,
não necessariamente passíveis de descrição em termos de condições de verdade.
Percebemos através de nossas análises que o conector que
encabeça uma determinada oração não é suficiente para designar uma
determinada circunstância; o contexto e algumas outras marcas lingüísticas
também são igualmente importantes.
Entretanto, pode-se observar, mesmo assim:
i.
uma preponderância da paráfrase com caso quando o
verbo da prótase encontra-se no futuro do subjuntivo
(questões 3, 5, 14, 16, 27);
ii.
uma preponderância da paráfrase com supondo que nas
duas questões com futuro do subjuntivo em que uma das
alternativas tinha este conector (tendo a outra dado que na
questão 6 e já que na questão 28);
iii.
uma preponderância da paráfrase com já que na maioria
das questões com verbo da prótese no indicativo (questões
1, 9, 11, 12, 23, 30) (exceções: questão 21, com imperfeito
do indicativo tanto na prótase quanto na apódose, em que
a oração condicional tem valor temporal; e questão 25, com
presente do indicativo + imperfeito do indicativo, em que a
prótase tem valor contrafactual);
iv.
uma preponderância das paráfrases com caso (questão 10,
26 e 29) e com supondo que (questão 25), nas quatro
questões em que o presente do indicativo na prótase tem
valor contrafactual (devido ao conteúdo da frase e ao
tempo da apódose).
Outra observação a ser feita é que não foi notado efeito da ordem de
apresentação das alternativas. Assim, a preponderância de caso registrada no
item 1, acima, observou-se tanto nas questões “caso 1” (3, 14 e 27) quanto
naquelas em que este conector apareceu na segunda alternativa (5 e 16).
Também a preponderância de já que registrada no item 3 ocorreu tanto nas
questões em que a locução foi apresentada em primeiro lugar (1 e 12), quanto
naquelas em que aparecia em segundo (9, 11, 23 e 30).
9. FORMULÁRIO II
9.1 Metodologia
9.1.1 Descrição geral
Após a avaliação dos resultados do formulário 1, pensávamos em
dar continuidade a esse estudo através de uma análise mais detalhada do mesmo
formulário, com o número de questões estipulado por nós. Todavia, muitos
questionamentos mudaram nosso percurso e assim surgiram novas propostas. A
primeira foi a de trabalharmos, com os já citados se, já que e caso, deixando para
estudos futuros uma continuação do estudo dos outros conectores. O fato do
conector supondo que abarcar idéias de contrafactualidade e dado que apresentar
uma ambigüidade factual ao constituir orações condicionais tidas como factuais e
tidas como não factuais, foi preponderante em sua exclusão da pesquisa, pois não
era nosso propósito avaliar especificamente a contrafactualidade dos condicionais,
nem lidar com a ambiguidade do dado que. No intuito de tornar a pesquisa mais
direcionada à ambigüidade do se, modificamos o método da pesquisa e a forma
de aplicá-lo.
Construímos um formulário formado de vinte e sete questões. As
questões foram divididas em três grupos de nove, dos quais o primeiro consiste
em enunciados com contexto indefinido. Isso quer dizer que nas frases do primeiro
grupo, os enunciados, possivelmente, poderiam ser interpretados de diversas
formas de acordo com o contexto imaginado por cada informante. Seguem-se
duas paráfrases em que o se é substituído por caso ou já que, variando-se a
ordem em que as duas são apresentadas. Como não foi observado efeito da
ordem no Formulário 1, contudo, não a levamos mais em conta na tabulação dos
resultados do Formulário 2. Em geral, a forma verbal original foi mantida na
paráfrase com já que. Com caso, o presente do indicativo foi substituído pelo
presente do subjuntivo, e o pretérito perfeito do indicativo pelo pretérito perfeito do
subjuntivo, de acordo com a norma gramatical. No item 7, o imperfeito do
indicativo, indicando ação habitual no passado, poderia ter sido substituído pelo
imperfeito do subjuntivo, na opção com caso. Entretanto, para reforçar o sentido
de habitualidade no passado, que poderia se perder, optamos pela perífrase
“costumasse falar”. No segundo e no terceiro grupos as mesmas frases foram
inseridas num contexto definido.
Tentamos, dessa forma, criar três tipos de contexto. O primeiro é um
contexto indefinido, sem nenhuma marca lingüística que induza nossos
informantes a o interpretarem dúvida ou incerteza. O segundo é um contexto
indutor de certeza. Colocamos nesse grupo marcas lingüísticas que julgamos
induzir uma convicção de certeza, ou seja, de maior aceitabilidade da realização
do evento descrito na prótase condicional. O terceiro é um contexto indutor de
incerteza. Este possui marcas lingüísticas que tendem a fazer com que nossos
informantes interpretem a proposição como uma dúvida, ou seja, tenham uma
menor aceitação da realização do evento descrito na prótase. As questões de
número 1 ao número 9 representam o contexto indefinido; as questões 10, 12, 13,
16, 19, 23, 25, 26 e 27 representam o contexto indutor de incerteza; as questões
11, 14, 15, 17, 18, 20, 21, 22 e 24 representam o contexto indutor de certeza.
Procuramos com isso estabelecer uma relação entre o contexto com
as escolhas lexicais dos nossos informantes.
Partimos da hipótese de que no contexto indefinido teremos a
paráfrase do conector se tanto com caso como com já que no contexto indutor de
incerteza acreditamos que será maior o número de paráfrase do conector se com
o conector caso e já no contexto indutor de certeza prevemos que o número de
paráfrase do conector se pelo conector já que será maior.
Os nossos informantes não mais atenderam necessariamente ao
critério de serem campistas ou terem vindo morar na cidade com cinco anos de
idade. Entendemos que por não querermos registrar a fala campista e sim
pesquisarmos uma forma lingüística, não necessitaríamos de limitar nossa
pesquisa a esse critério.
É importante ressaltar que na maioria das vezes o informante
respondeu sozinho o nosso formulário, que adquiriu assim as características de
um questionário, mas com pessoas da terceira idade e com adolescentes que
apresentaram dificuldades no preenchimento, nós preenchemos o formulário no
intuito de evitar que os respondentes o fizessem com pouco ou nenhum
comprometimento com a pesquisa.
O leitor perceberá que, em alguns casos, foram feitas modificações
nas formas verbais empregadas como já dissemos, mas tais modificações foram
feitas para melhor adaptação ao contexto de certeza ou de incerteza, bem como
ao tempo de ação. Essas frases se dispõem de modo alternado, de modo que
temos o grupo dois e três misturados. Isso foi feito para que o informante opte por
suas escolhas dentro de um processo cognitivo que não o faça reproduzir a
mesma resposta.
9.1.2 Variáveis demográficas estudadas
Os fatores relevantes para análise do novo formulário, que podem
influenciar a diversidade de expressões com conectores condicionais, foram:
9.1.2.1 Sexo
A linguagem de homens e mulheres pode representar visões de
mundo e atuações sociais diferentes e assim também apresentar diferenças em
suas linguagens.
Paiva (2004:34) nos revela que muitas pesquisas “mostram um
padrão bastante regular em que as mulheres demonstram maior preferência pelas
variantes mais prestigiadas socialmente”. O autor supracitado mostra, ainda, que
devido ao fato das mulheres passarem mais tempo diante de uma televisão e dos
homens terem uma postura diferente em relação a esse meio de comunicação é
que mulheres preferem a forma considerada prestigiada, enquanto homens
preferem a forma considerada estigmatizada. “Os homens tendem a manifestar
maior reserva com relação à mídia do que as mulheres” (Paiva, 2004:39). Além
desse fator, as mulheres demonstram maior receptividade à atuação normativa
das escolas, sendo, portanto, mais receptivas à incorporação de modelos
lingüísticos.
Labov (2001), no oitavo capítulo de sua obra, afirma que podem
existir dois princípios básicos relacionados ao paradoxo da variável sexo:
•
Em uma estratificação sociolingüística estável, os
homens usam, com maior incidência, as formas não-padrão.
•
Os fenômenos de mudanças lingüísticas, em sua
grande parte, são representados por mulheres, posto que
essas inovam usando uma forma não padrão.
Depreendemos, então, que nos processos de variação estável,
mulheres tendem a preferir formas de maior prestígio e evitam formas
estigmatizadas. Já em processos de mudança lingüística, as mulheres
apresentam um comportamento inovador, utilizando formas não padrão.
Labov (2001) alerta que além da variável sexo, precisamos
considerar outras variáveis e interligá-las à variável sexo.
Salientamos que entre as variáveis estudadas por nós não há
nenhuma forma estigmatizada socialmente. Contudo, o uso do se e do caso como
conjunções condicionais parece ter um status mais prestigiado, posto que o já que
dificilmente é descrito pelas gramáticas como conector condicional.
Outra diferença entre homens e mulheres pode ser a maior
vinculação das mulheres a uma maior interpretação não-factual das orações
condicionais, enquanto os homens, segundo nossa hipótese tenderiam a uma
interpretação mais factual dos condicionais lingüísticos. Tal hipótese advém do
percurso histórico de homens e mulheres, uma vez que homens, normalmente,
assumiam uma posição de liderança na história e já as mulheres ocupavam um
papel subalterno na sociedade.
9.1.2.2 Faixa Etária
Essa variável foi mantida devida a sua grande importância, pois esta
indica se determinado fenômeno é uma variação ou se já pode ser considerado
uma mudança em processo.
Quando comparamos a linguagem de diversas faixas etárias em um
determinado tempo, é possível visualizar diferentes estágios da língua, como
Labov (1972) afirma.
A linguagem é adquirida em sua grande parte até os 14 anos de
idade e por isso, ao observarmos a linguagem falada por um indivíduo que hoje
tem 60 anos, estaremos recuperando o vernáculo falado há 46 anos, quando esse
indivíduo tinha 14 anos de idade. Assim, obtemos uma escala de mudança em
tempo real, a partir de uma escala em tempo aparente.
Quando a faixa etária indica um processo de variação, os jovens e as
pessoas mais velhas apresentam um comportamento lingüístico semelhante.
Quando a faixa etária indica um processo de mudança lingüística, as formas
inovadoras são mais freqüentes em jovens e decaem à medida que aumenta a
faixa etária dos informantes.
9.1.2.3 Nível de Escolaridade
Trabalhamos
nesse
segundo
momento
com
três
faixas
de
escolaridade, a primeira composta por pessoas que tenham cursado ou estejam
cursando até 8ª, a segunda por pessoas que tenham cursado ou estejam
cursando o ensino médio completo e a terceira por pessoas que tenham cursado o
nível superior ou que estejam cursando o nível superior. Partimos da hipótese de
que quanto mais elevado for o nível de escolaridade, maior serão as respostas
condizentes com as definições estruturais e semânticas estabelecidas pela
gramática tradicional estudada nas escolas.
9.1.3 Análise estatística
Na quantificação de nossos dados, adotamos o método estatístico do
qui-quadrado. Esse método pode ser utilizado com duas variáveis como sexo
masculino e sexo feminino e com três variáveis como as três faixas utilizadas de
idade e de escolaridade. “Quando existem duas ou mais variáveis qualitativas de
interesse, a representação tabular das freqüências observada pode ser feita
através de uma tabela de contigência” (Oliveira, 2005:137)
Com essa tabela podemos testar se as variáveis qualitativas são
independentes ou dependentes. Dessa forma podemos testar as hipóteses:
1- Ho (hipótese nula): a freqüência relativa de respostas
caso e já que é a mesma tanto para uma determinada
variável quanto para outra.
2-
H1 (hipótese não nula): a freqüência de respostas caso
dadas por uma determinada categoria é significantemente
maior que a freqüência de respostas caso dadas por outra
categoria e, correlativamente, a freqüência de respostas já
que dadas por esta será menor do que a freqüência de
respostas já que dadas por aquela.
Esse teste pode ser feito com o cálculo do qui-quadrado, que
consiste na seguinte fórmula:
X²=∑ [(o-e)²/e]
Nessa fórmula, o é a freqüência observada e e é a freqüência
esperada.
A tabela de contingência tem a seguinte forma:
Valor 1 da variável B Valor 2 da variável B Totais
Valor 1 da variável A
Valor 2 da variável A
o
o
(e)
(e)
o
o
(e)
(e)
Totais
Os totais representam a soma das frequências observadas (o). O
cálculo da freqüência esperada (e) é dado por:
e = (total marginal da linha) (total marginal da coluna) / N.
Assim, para acharmos e multiplicamos a soma das frequências da
linha pelo soma das frequências da coluna e dividimos pela freqüência total N.
A frequência esperada corresponde ao que ocorreria se as duas
variáveis fossem completamente independentes, ou seja, se não houvesse
qualquer influência de uma sobre a outra.
O cálculo do grau de liberdade [gl] com que a variável teste deverá
ser testada pode ser calculado pela fórmula:
gl = (r – 1) (c – 1)
onde r é o número de linhas e c é o número de colunas.
9.1.4 Análise qualitativa
Nossa pesquisa continuou a ser quantitativa e, principalmente,
qualitativa, pois como somente números não atenderiam aos nossos objetivos,
além dos números temos uma análise qualitativa dos dados, baseada em nossas
conversas com os entrevistados, que traduzem o ponto de vista dos falantes. É
claro que há uma convergência nos dados estatísticos com os dados qualitativos e
é isso que almejamos: unir fatores pragmáticos, semânticos, discursivos e sociais
da língua à incidência de certas escolhas em detrimento de outras. E o mais
interessante é constatar que alguns desvios lingüísticos cometidos por nossos
informantes, sejam desvios conscientes ou não, não podem ser analisados como
anormais. Eles refletem a existência de uma língua viva, que é fruto de uma
liberdade criadora de cada falante. Ainda que estes tenham, em alguns
momentos, infringido a gramática, nossa pesquisa mostrou que a infringem para
traduzirem uma verdade psicológica que lhes convém.
9.2 Texto do formulário II
O formulário abaixo consiste em questões que possuem duas
possíveis respostas. Você deverá assinalar a que lhe parece mais de acordo
com a frase do enunciado proposto por nós. Assinale uma só resposta (a
melhor). O formulário não possui respostas certas ou erradas. Nosso
objetivo é saber como você naturalmente entende essas frases e como você
naturalmente falaria.
Obrigada.
Sexo:
Idade:
Escolaridade:
Entrevista realizada em:
/ /
1- Se ela é italiana, não precisa de passaporte para ir para a França.
( ) Caso ela seja italiana, não precisa de passaporte para ir para a França.
( ) Já que ela é italiana, não precisa de passaporte para ir para a França.
2- Se sua ovulação veio mais cedo este mês, você pode ter engravidado.
( ) Já que sua ovulação veio mais cedo este mês, você pode ter engravidado.
( ) Caso sua ovulação tenha vindo mais cedo este mês, você pode ter
engravidado.
3- Se você gostou dos exemplos que eu mandei, pode fazer "copiar e colar".
( ) Caso você tenha gostado dos exemplos que eu mandei, pode fazer "copiar
e
colar".
( ) Já que você gostou dos exemplos que eu mandei, pode fazer "copiar e
colar".
4- Se tem pedra nesse arroz, tem que catar primeiro.
( ) Já que tem pedra nesse arroz, tem que catar primeiro.
( ) Caso tenha pedra nesse arroz, tem que catar primeiro.
5- Se ele vai fazer a obra lá em casa amanhã, vai precisar de cimento.
( ) Caso ele faça a obra lá em casa, vai precisar de cimento.
( ) Já que ele vai fazer a obra lá em casa, vai precisar de cimento.
6- Se ele esteve aqui ontem, você podia ter falado com ele.
( ) Já que ele esteve aqui ontem, você podia ter falado com ele.
( ) Caso ele tenha estado aqui ontem, você podia ter falado com ele.
7- Se ela falava mal da sogra, não gostava dela.
( ) Já que ela costumava falar mal da sogra, não gostava dela.
( ) Caso ela costumasse falar mal da sogra, não gostava dela.
8- Se você recebeu a carta, não deveria ter alegado o contrário.
( ) Caso você tenha recebido a carta, não deveria ter alegado o contrário.
( ) Já que você recebeu a carta, não deveria ter alegado o contrário.
9- Se ele ganha no pôquer hoje à tarde, vai sair para beber à noite.
( ) Caso ele venha a ganhar no pôquer hoje à tarde, vai sair para beber à noite.
( ) Já que ele vai ganhar no pôquer hoje à tarde, vai sair para beber à noite.
10- Às vezes a ovulação vem mais cedo. Se sua ovulação veio mais cedo este
mês,
você
pode
ter
engravidado.
( ) Às vezes a ovulação vem mais cedo. Já que sua ovulação veio mais cedo
este
mês,
você
pode
ter
engravidado.
( ) Às vezes a ovulação vem mais cedo. Caso sua ovulação tenha vindo mais
cedo este mês, você pode ter engravidado.
11- Ela é italiana. E se ela é italiana, não precisa de passaporte para ir para a
França.
( ) Ela é italiana. E já que ela é italiana, não precisa de passaporte para ir para
a França.
( ) Ela é italiana. E caso ela seja italiana, não precisa de passaporte para ir
para a França.
12- Talvez tenha pedra nesse arroz. Se tiver pedra, tem que catar.
( ) Talvez tenha pedra nesse arroz. Já que tem pedra, tem que catar.
( ) Talvez tenha pedra nesse arroz. Caso tenha pedra, tem que catar.
13- Talvez ele faça a obra lá em casa amanhã. Se ele for fazer, vai precisar de
cimento.
( ) Talvez ele faça a obra lá em casa amanhã. Caso ele vá fazer, vai precisar
de cimento.
( ) Talvez ele faça a obra lá em casa amanhã. Já que ele vai fazer, vai precisar
de cimento.
14- Jogando com aqueles principiantes, é certo que ele ganha no pôquer hoje
à
tarde.
E
se
ganha,
vai
sair
para
beber
à
noite.
( ) Jogando com aqueles principiantes, é certo que ele ganha no pôquer hoje à
tarde.
E
caso
venha
a
ganhar,
vai
sair
para
beber
à
noite.
( ) Jogando com aqueles principiantes, é certo que ele ganha no pôquer hoje à
tarde. E já que vai ganhar, vai sair para beber à noite.
15- Ele esteve aqui ontem. Ora, se ele esteve aqui, você podia ter falado com
ele.
( ) Ele esteve aqui ontem. Ora, caso ele tenha estado aqui, você podia ter
falado com ele.
( ) Ele esteve aqui ontem. Ora, já que ele esteve aqui, você podia ter falado
com ele.
16- Ele quis saber se ela falava mal da sogra. Se ela falava mal, não gostava
dela.
( ) Ele quis saber se ela falava mal da sogra. Já que ela costumava falar mal,
não gostava dela.
( ) Ele quis saber se ela falava mal da sogra. Caso ela costumasse falar mal,
não gostava dela.
17- Você recebeu a carta. E se recebeu, não deveria ter alegado o contrário.
( ) Você recebeu a carta. E já que recebeu, não deveria ter alegado o contrário.
( ) Você recebeu a carta. E caso tenha recebido, não deveria ter alegado o
contrário.
18- Vi o resultado da dosagem hormonal que você fez no dia 5. Sua ovulação
veio mais cedo este mês. Bem, se ela veio mais cedo, você pode ter
engravidado.
( ) Vi o resultado da dosagem hormonal que você fez no dia 5. Sua ovulação
veio mais cedo este mês. Bem, já que ela veio mais cedo, você pode ter
engravidado.
( ) Vi o resultado da dosagem hormonal que você fez no dia 5. Sua ovulação
veio mais cedo este mês. Bem, caso ela tenha vindo mais cedo, você pode ter
engravidado.
19- Talvez ela seja italiana. E se ela for italiana, não precisa de passaporte
para ir para a França.
( ) Talvez ela seja italiana. E caso ela seja italiana, não precisa de passaporte
para ir para a França.
( ) Talvez ela seja italiana. E já que ela é italiana, não precisa de passaporte
para ir para a França.
20- Esse arroz está com pedra. Se tem pedra, tem que catar.
( ) Esse arroz está com pedra. Caso tenha pedra, tem que catar.
( ) Esse arroz está com pedra. Já que tem pedra, tem que catar.
21- Ele vai fazer a obra lá em casa amanhã. E se ele vai fazer, vai precisar de
cimento.
( ) Ele vai fazer a obra lá em casa amanhã. E já que ele vai fazer, vai precisar
de cimento.
( ) Ele vai fazer a obra lá em casa amanhã. E caso ele vá fazer, vai precisar de
cimento.
22- Que bom que você gostou dos exemplos que eu mandei! Pois bem, se
gostou,
pode
fazer
"copiar
e
colar".
( ) Que bom que você gostou dos exemplos que eu mandei! Pois bem, caso
tenha
gostado,
pode
fazer
"copiar
e
colar".
( ) Que bom que você gostou dos exemplos que eu mandei! Pois bem, já que
gostou, pode fazer "copiar e colar".
23- Não sei se ele esteve aqui ontem. Mas se ele esteve aqui, ela podia ter
falado com ele.
( ) Não sei se ele esteve aqui ontem. Mas já que ele esteve aqui, ela podia ter
falado com ele.
( ) Não sei se ele esteve aqui ontem. Mas caso ele tenha estado aqui, ela podia
ter falado com ele.
24- Todo mundo sabe que ela falava mal da sogra. Ora, se falava mal, não
gostava dela.
( ) Todo mundo sabe que ela falava mal da sogra. Ora, caso costumasse falar
mal, não gostava dela.
( ) Todo mundo sabe que ela falava mal da sogra. Ora, já que costumava falar
mal, não gostava dela.
25- Não sei se você recebeu a carta. Se recebeu, não deveria ter alegado o
contrário.
( ) Não sei se você recebeu a carta. Caso tenha recebido, não deveria ter
alegado o contrário.
( ) Não sei se você recebeu a carta. Já que recebeu, não deveria ter alegado o
contrário.
26- Ele pode ganhar ou perder no pôquer hoje à tarde. Se ganhar, vai sair para
beber
à
noite.
( ) Ele pode ganhar ou perder no pôquer hoje à tarde. Caso venha a ganhar,
vai
sair
para
beber
à
noite.
( ) Ele pode ganhar ou perder no pôquer hoje à tarde. Já que vai ganhar, vai
sair para beber à noite.
27- Não sei se você gostou dos exemplos que eu mandei. Se gostou, pode
fazer "copiar e colar".
( ) Não sei se você gostou dos exemplos que eu mandei. Caso tenha gostado,
pode
fazer
"copiar
e
colar".
( ) Não sei se você gostou dos exemplos que eu mandei. Já que gostou, pode
fazer "copiar e colar".
9.3 Percurso do Formulário II
O preenchimento desse formulário, assim como o primeiro, foi feito
em ambientes escolares e na casa dos informantes. Para atender aos
propósitos de nosso estudo, procuramos ser o mais informal possível,
buscando certa proximidade com nossos informantes.
Explicamos que participávamos de um programa de Pós-Graduação
na Uenf e que estávamos estudando quais eram as formas que as pessoas
utilizavam para expressar seus pensamentos. Esclarecemos que em nosso
formulário não havia a noção de certo ou errado, pois sabemos que uma língua
é capaz de abarcar vários sistemas de realizações obrigatórias, sejam eles
consagrados social ou culturalmente, e assim o seu modo de realizar-se
também admite várias normas que representam modelos, escolhas do falante.
Acreditamos que tais escolhas consagram possibilidades de realizações de um
sistema lingüístico.
Procuramos mostrar ao nosso informante que o foco de nossa
pesquisa é a descoberta das diferentes formas de expressão de um mesmo
pensamento, buscar saber como podemos representar atitudes em nosso
discurso e como marcamos nossas perspectivas em relação ao evento descrito
em nossos enunciados.
Após essa etapa, lemos o enunciado do nosso formulário, no qual
consta uma pequena explicação sobre a pesquisa.
Permanecemos ao lado da pessoa durante todo o preenchimento do
formulário. Isso para que ocasionalmente pudéssemos esclarecer dúvidas,
como Posso não marcar nenhuma alternativa? Eu falaria das duas formas,
posso marcar as duas opções?
Em alguns casos, como aconteceu no preenchimento do formulário
01, preenchemos o formulário para o nosso respondente devido a um cansaço
ou a uma dificuldade na leitura das questões. Tivemos que adotar essa
postura, principalmente, com pessoas de idade mais avançada.
Ao término do formulário, fazíamos um inventário em que
perguntávamos a respeito de algumas opções assinaladas pelos informantes.
Mais uma vez, frisávamos que as escolhas não estavam erradas, mas que
gostaríamos de saber um pouco mais sobre o pensamento expresso por
algumas de suas opções. Evidentemente só perguntávamos sobre as opções
que não correspondiam às nossas expectativas.
Algumas pessoas mudavam sua resposta quando explicavam o
porquê de suas escolhas e registrávamos em nosso inventário essa mudança
e o porquê dela ter ocorrido. Porém, os dados quantitativos de nossa pesquisa
empírica se referem apenas as primeiras escolhas de nossos informantes.
Optamos por registrar quantativamente só as primeiras escolhas para não
corrermos o risco de computar dados que possam ter sido influenciados pelos
nossos questionamentos com o respondente.
Não
exigíamos
que
os
participantes
de
nosso
estudo
se
identificassem e pedíamos apenas que escrevessem, no formulário, a idade, o
sexo e a escolaridade, já que esses dados eram essenciais em nossa
pesquisa.
O preenchimento do formulário, normalmente, durava cerca de 35
minutos, devido a não limitarmos nossa pesquisa a um simples preenchimento
deste, como também questionarmos as escolhas e mantermos um vínculo de
amizade com nossos informantes para tornar o resultado de nosso estudo o
mais próximo do natural.
O fato de o formulário ser composto por 27 enunciados a serem
respondidos, muitas vezes ocasionou, assim como no primeiro formulário,
cansaço nos informantes. Isso fez, em vários casos, com que tivéssemos que
dar uma pausa de uns dez minutos para que os informantes não os
preenchessem de forma automática. Nesses casos, ultrapassamos aos 35
minutos aproximados de nossa coleta de dados.
Ao fim de nossas coletas de dados ficou sempre o início de uma
amizade e um enorme sentimento de gratidão por aqueles que colaboraram
com a nossa dissertação. Sentimento este que não se traduz apenas no
obrigado ao término de cada visita.
9.4 Resultados
Nesta seção, mostraremos os dados de nossa pesquisa quantitativa,
referentes às porcentagens do uso de caso e já que por cada categoria escolhida
por nós e também a aplicação do teste do qui-quadrado, que nos revela a
significância das diferenças pesquisadas.
As tabelas com os números de indivíduos que optaram por caso ou
já que, estarão nos anexos de nossa dissertação, para que possamos visualizar
não somente dados estatísticos, mas também o número de indivíduos que
marcaram determinadas paráfrases em lugar de outras.
Na tabela abaixo, apresentaremos nas duas primeiras colunas os
totais de resposta caso e já que para cada questão do formulário, e os totais
gerais e de cada um dos três grupos de questões: contexto indefinido, contexto
indutor de certeza e contexto indutor de incerteza (para os dois sexos e todas as
faixas etárias e de escolaridade). A terceira coluna da tabela apresenta as
porcentagens de respostas caso. As demais colunas apresentam os totais e
porcentagens, separados por sexo.
Tabela 2: Apresenta o resultado da paráfrase do se, com base no formulário
2, feito com cento e trinta e sete pessoas.
Todas Idades
Todas Escolaridades
♀ % Caso
Menos
Questões ♀♂ Caso ♀♂ Já que ♀♂ % Caso ♀ Caso ♀ Já que ♂ Caso ♂ Já que ♀ % Caso ♂ % Caso
♂ % Caso
1
69
68
50%
44
32
25
36
58%
41%
17%
11 Cer 1
25
112
18%
19
57
6
55
25%
10%
15%
19 Inc 1
113
24
82%
65
11
48
13
86%
79%
7%
2
78
59
57%
48
28
30
31
63%
49%
14%
18 Cer 2
52
85
38%
31
45
21
40
41%
34%
6%
10 Inc 2
88
49
64%
54
22
34
27
71%
56%
15%
3
77
60
56%
44
32
33
28
58%
54%
4%
22 Cer 3
49
88
36%
33
43
16
45
43%
26%
17%
27 Inc 3
115
22
84%
63
13
52
9
83%
85%
-2%
4
61
76
45%
39
37
22
39
51%
36%
15%
20 Cer 4
30
107
22%
12
64
18
43
16%
30%
-14%
12 Inc 4
103
34
75%
56
20
47
14
74%
77%
-3%
5
73
64
53%
44
32
29
32
58%
48%
10%
21 Cer 5
32
105
23%
19
57
13
48
25%
21%
4%
13 Inc 5
122
15
89%
68
8
54
7
89%
89%
1%
6
65
72
47%
39
37
26
35
51%
43%
9%
15 Cer 6
51
86
37%
25
51
26
35
33%
43%
-10%
23 Inc 6
92
45
67%
49
27
43
18
64%
70%
-6%
7
56
81
41%
32
44
24
37
42%
39%
3%
24 Cer 7
32
105
23%
19
57
13
48
25%
21%
4%
16 Inc 7
43
94
31%
24
52
19
42
32%
31%
0%
8
48
89
35%
30
46
18
43
39%
30%
10%
17 Cer 8
40
97
29%
26
50
14
47
34%
23%
11%
25 Inc 8
97
40
71%
53
23
44
17
70%
72%
-2%
9
107
30
78%
58
18
49
12
76%
80%
-4%
14 Cer 9
57
80
42%
35
41
22
39
46%
36%
10%
26 Inc 9
104
33
76%
58
18
46
15
76%
75%
1%
Total
1879
1820
51%
1087
965
792
855
53%
48%
5%
Cont Indef
634
599
51%
378
306
256
293
55%
47%
9%
Cont Cert
368
865
30%
219
465
149
400
32%
27%
5%
Cont Incert
877
356
71%
490
194
387
162
72%
70%
1%
Excluído: ♣
Destacamos que, nas questões de contexto indefinido, houve 51%
de respostas caso, enquanto que, nas de contexto indutor de certeza houve
30% e nas de contexto indutor de incerteza, 71%.
Quanto ao sexo, observamos que, no contexto indeterminado, houve
55% de respostas caso entre as mulheres e 47% entre os homens. No
contexto indutor de certeza houve 32% de respostas caso entre mulheres e
27% entre os homens. No contexto indutor de incerteza, houve 72% de
respostas caso entre mulheres e 70% entre os homens.
Apresentaremos a seguir uma comparação das Faixas etárias e uma
comparação das escolaridades.
Tabela 3: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável faixa
etária, com base no formulário 2, feito com cento e trinta e sete pessoas.
Total
Cont
Indef
Cont Cert
Cont
Incert
14-25
Caso
Já que
728
703
Feminino ou Masculino/ Todas as Escolaridades
14-25
26-49
>50
Caso
Já que
Caso
Já que
% Caso
650
646
501
471
51%
26-49
% Caso
50%
>50
% Caso
52%
253
224
213
219
168
156
53%
49%
52%
176
301
127
305
65
259
37%
29%
20%
299
178
310
122
268
56
63%
72%
83%
Se considerarmos todas as escolaridades e ambos os sexos,
observamos que em contextos indefinidos, independente da idade, temos tanto
paráfrase do se com o conector caso quanto com o conector já que. Isso indica
que o falante cria seu contexto e com base neste escolhe seus conectores. Em
contextos indutores de certeza a escolha do conector caso foi maior com a
idade de 14 a 25 anos, pois 37% optaram pelo conector que está atrelado à
dúvida. Após esse grupo o número da porcentagem de escolha por esse
conector decresce, indicando um maior vínculo com o contexto indutor de
certeza. O grupo de 14-25 se apoiou em mundos possíveis que criaram, ou
seja, ultrapassaram o contexto lingüístico e estabeleceram contextos
pertinentes com as situações por eles imaginadas. Os grupos 26-49 e >50
apresentaram, respectivamente, 29 % e 20% de paráfrase com caso.
Notamos que o conector caso está atrelado à dúvida e o já que à
certeza, uma vez que a predominância nos contextos indutores de certeza foi
pelo conector já que.
Referente à comparação das escolaridades veremos a tabela a
seguir:
Tabela 4: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável
escolaridade, com base no formulário 2, feito com cento e trinta e sete
pessoas.
Total
Cont
Indef
Cont Cert
Cont
Incert
EF
Caso
Já que
539
514
Feminino ou Masculino/Todas as idades
EM
ES
Caso
Já que
Caso
Já que
865
836
475
470
188
163
292
275
116
235
186
235
116
387
EF
%Caso
51%
EM
%Caso
51%
ES
%Caso
50%
154
161
54%
51%
49%
381
66
249
33%
33%
21%
180
255
60
67%
68%
81%
Considerando todos os sexos e idades, notamos que em contextos
indefinidos a paráfrase do se pelo conector caso e já que é igualmente utilizada
e confirma, assim, a ambigüidade do se já comentanda no decorrer de nosso
trabalho. Já em contexto indutor de certeza, vemos uma pequena diferença
entre as escolhas de cada escolaridade; o ensino superior utiliza a paráfrase
com
caso
apenas
em
21%
das
questões,
apresenta
assim
maior
comprometimento com o contexto indutor do que o ensino fundamental e o
médio que tiveram empate em suas escolhas escolheram 33% das vezes a
paráfrase com o conector caso. Em contextos indutores de incerteza, o ensino
fundamental e o ensino médio, novamente, aproximaram-se na porcentagem
de suas escolhas, tendo 67% e 68% de paráfrase com o conector caso. O
ensino superior se distinguiu desses dois grupos com 81% de paráfrase com o
conector caso. Notamos um aumento crescente da porcentagem de paráfrase
com caso, com o aumento da escolaridade, ou seja, maior comprometimento
com o contexto indutor, quando aumentamos o nível de letramento.
Aplicando o teste do qui-quadrado, obtivemos os seguintes
resultados:
Tabela 5: Tabela de contingência referente ao contexto de certeza e
incerteza, com o número de respostas dos informantes (frequência
observada, “O”) e a frequência esperada (“E”).
Contextos
Contexto de Certeza
Caso
Não Caso
368
865
622,5
610,5
877
356
Contexto de Incerteza
622,5
610,5
Totais
1245
1221
Total
1233
1233
2466
Tabela 6: Cálculo do qui-quadrado referente ao contexto de certeza e
incerteza.
2
O
368
E
O-E
(O-E) /E
622,5
-254,5
104,0485944
877
622,5
254,5
104,0485944
865
610,5
254,5
106,0937756
356
610,5
-254,5
Qui-quadrado calculado
106,0937756
420,2847399
Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 10,828. Como o valor do quiquadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre os
contextos é significativa, no nível de 0,001
Tabela 7: Tabela de contingência referente à variável sexo, com contexto
indefinido,
apresentando
o
número
de
respostas
dos
informantes
(freqüência observada, “O”) e a freqüência esperada (“E”)
Contexto indefinido
Respostas Homem
Resposta Mulher
Total
Caso
256
282,292
378
351,708
Não Caso
293
266,708
306
332,292
Total
634
599
1233
549
684
Tabela 8: Cálculo do qui-quadrado referente à variável sexo, com contexto
indefinido
O
256
378
293
306
E
282,292
351,708
266,708
332,292
O-E
-26,292
26,29197
26,29197
-26,292
Qui-quadrado calculado
(O-E2/E
2,448768652
1,965459049
2,591851962
2,080302232
9,086381895
Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,005 é de7,378. Como o valor do qui-quadrado
calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre os sexos é
significativa, no nível de 0,005.
Tabela 9: Tabela de contingência referente à variável sexo, com contexto de
certeza
Contexto certeza
Respostas Homem
Resposta Mulher
Total
Caso
149
163,854
219
204,146
Não Caso
400
385,146
465
479,854
Total
368
865
1233
549
684
Tabela 10: Cálculo do qui-quadrado referente à variável sexo, com contexto
de certeza
O
149
219
400
465
E
163,854
204,146
385,146
479,854
O-E
-14,854
14,85401
14,85401
-14,854
Qui-quadrado calculado
(O-E)2/E
1,346575183
1,080803765
0,572878228
0,459810157
3,460067333
. Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo
do número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,05 é de 3,841. Como o valor do qui-quadrado
calculado é menor que o tabelado, concluímos que a diferença entre os sexos não
é significativa, no nível de 0,05
Tabela 11: Tabela de contingência referente à variável sexo, com contexto de
incerteza.
Contexto Incerteza
Respostas Homem
Resposta Mulher
Total
Caso
387
390,4891
490
486,5109
Não Caso
162
158,5109
194
197,4891
Total
877
356
1233
549
684
Tabela 12: Cálculo do qui-quadrado referente à variável sexo, com contexto
de incerteza.
O
387
490
162
194
Qui-quadrado calculado
E
390,4891
486,5109
158,5109
197,4891
O-E
-3,48905
3,489051
3,489051
-3,48905
(O-E)2/E
0,031174952
0,025022001
0,07679897
0,061641278
0,194637201
Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,05 é de 3,841. Como o valor do qui-quadrado
calculado é menor que o tabelado, concluímos que a diferença entre os sexos não
é significativa, no nível de 0,05.
Tabela 13. Tabela de contingência referente à variável sexo, no conjunto dos
três contextos
3 contextos
Caso
Não Caso
Respostas Homem
792
855
836,635
810,365
1087
965
1042,365
1009,635
2052
1879
1820
3699
Respostas Mulher
Totais
Total
1647
Tabela 14: Cálculo do qui-quadrado referente à variável sexo, no conjunto
dos três contextos.
O
792
1087
855
965
Qui-quadrado calculado
E
836,635
1042,365
810,365
1009,635
O-E
-44,635
44,63504
44,63504
-44,635
(O-E)2/E
2,381308929
1,911313746
2,458505208
1,973273917
8,7244018
Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,005 é de 7,879. Como o valor do quiquadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre os
sexos é significativa, no nível de 0,005.
Tabela 15: Tabela de contingência referente à variável faixa etária, com
contexto indefinido.
Contexto indefinido
Caso
Não Caso
253
224
245,2700
231,7299
213
219
222,1313
209,8686
168
156
Respostas ≥ 50 a.
166,5985
157,4014
324
Total
634
599
1233
Respostas 14-25 a.
Respostas 26-49 a.
Total
477
432
Tabela 16: Cálculo do qui-quadrado à variável faixa etária, com contexto
indefinido.
2
O
E
O-E
(O-E) /E
253
245,270073
7,729927007
0,243616
213
222,1313869
-9,13138686
0,375373
168
166,5985401
1,401459854
0,011789
224
231,729927
-7,72992701
0,257851
219
209,8686131
9,131386861
0,397307
156
157,4014599
-1,40145985
0,012478
Qui-quadrado calculado
1,298415
Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)= 2. Para 2 graus de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,05 é de 5,991. Como o valor do qui-quadrado
calculado é menor que o tabelado, concluímos que a diferença entre as faixas
etáriasnão é significativa, no nível de 0,05.
Tabela 17: Tabela de contingência referente à variável faixa etária, com o
contexto de certeza.
Contexto Certeza
Caso
Não Caso
Total
176
301
Respostas 14-25 a.
142,3649
334,6350
127
305
Respostas 26-49 a.
128,9343
303,0656
65
259)
Respostas ≥ 50 a.
96,7007
227,2992
324
Total
368
865
1233
477
432
Tabela 18: Cálculo do qui-quadrado referente à variável faixa etária, com
contexto de certeza.
O
E
176
127
2
O-E
(O-E) /E
142,3649635
33,6350365
7,946588
128,9343066
-1,93430657
0,029019
65
96,70072993
-31,7007299
10,39223
301
334,6350365
-33,6350365
3,380745
305
303,0656934
1,934306569
0,012346
259
227,2992701
31,70072993
4,421203
Qui-quadrado calculado
26,18213
Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2. Para 2 graus de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 13,816. Como o valor do quiquadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre as
faixas etárias é significativa, no nível de 0,001.
Tabela 19: Tabela de contingência referente à variável faixa etária, com o
contexto de incerteza.
Contexto Incerteza
Caso
Não Caso
Total
299
178
Respostas 14-25 a.
339,2773
137,7226
310
122
Respostas 26-49 a.
307,2700
124,7299
268
56
Respostas ≥ 50 a.
230,4525
93,5474
324
Total
877
356
1233
477
432
Tabela 20: Cálculo do qui-quadrado referente à variável faixa etária, com
contexto de incerteza..
2
O
E
O-E
(O-E) /E
299
339,2773723
-40,2773723
4,781535
310
307,270073
2,729927007
0,024254
268
230,4525547
37,54744526
6,117574
178
137,7226277
40,27737226
11,77923
122
124,729927
-2,72992701
0,059749
56
93,54744526
-37,5474453
Qui-quadrado calculado
15,07054
37,83289
Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2. Para 2 graus de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 13,816. Como o valor do quiquadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre as
faixas etárias é significativa, no nível de 0,001.
Tabela 21: Tabela de contingência referente à variável escolaridade, com o
contexto indefinido.
Contexto indefinido
Caso
Não Caso
Total
188
163
Respostas EF.
180,4818
170,5182
292
275
Respostas EM.
291,5474
275,4526
154
161
Respostas ES
161,9708
153,0292
315
Total
634
599
1233
351
567
Tabela 22: Cálculo do qui-quadrado referente à variável escolaridade, com
contexto indefinido.
2
O
E
O-E
(O-E) /E
188
180,4818
7,518248
0,313184
292
291,5474
0,452555
0,000702
154
161,9708
-7,9708
0,392254
163
170,5182
-7,51825
0,331484
275
275,4526
-0,45255
0,000744
161
153,0292
7,970803
0,415174
Qui-quadrado calculado
1,453542
Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2 Para 2 graus de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,05 é de 5,991. Como o valor do qui-quadrado
calculado é menor que o tabelado, concluímos que a diferença entre os contextos
não é significativa, no nível de 0,05.
Tabela 23: Tabela de contingência referente à variável escolaridade, com o
contexto de certeza.
Contexto Certeza
Caso
Não Caso
116
235
104,7591
246,2409
186
381
Respostas EM.
169,2263
397,7737
66
249
Respostas ES
94,0146
220,9854
315
Total
368
865
1233
Respostas EF
Total
351
567
Tabela 24: Cálculo do qui-quadrado referente à variável escolaridade, com
contexto de certeza.
2
O
E
O-E
(O-E) /E
116
104,7591
11,24088
1,20617
186
169,2263
16,77372
1,662613
66
94,0146
-28,0146
8,347828
235
246,2409
-11,2409
0,513145
381
397,7737
-16,7737
0,707331
249
220,9854
28,0146
3,551446
Qui-quadrado calculado
15,98853
Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2. Para 2 graus de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 13,816. Como o valor do quiquadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre as
escolaridades é significativa, no nível de 0,001.
Tabela 25: Tabela de contingência referente à da variável escolaridade, com
o contexto de incerteza.
Contexto Incerteza
Caso
Não Caso
235
116
249,6569
101,3431
387
180
Respostas EM.
403,292
163,708
255
60
Respostas ES
224,0511
90,94891
315
Total
877
356
1233
Respostas EF
Total
351
567
Tabela 26: Cálculo do qui-quadrado referente à variável escolaridade, com
contexto de incerteza.
2
O
E
O-E
(O-E) /E
235
249,6569
-14,6569
0,860484
387
403,292
-16,292
0,658154
255
224,0511
30,94891
4,275073
116
101,3431
14,65693
2,119787
180
163,708
16,29197
1,621352
60
90,94891
-30,9489
10,53157
Qui-quadrado calculado
20,06642
Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do
número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2. Para 2 graus de liberdade, o valor
tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 13,816. Como o valor do quiquadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre as
escolaridades é significativa, no nível de 0,001.
9.5 Discussão
Contexto
Em relação à variável contexto, notamos que em contextos
indefinidos as escolhas pela paráfrase com caso e com já que dependem do
contexto criado por nossos informantes e, portanto, não temos diferenças
significativas nessas escolhas, uma vez que 51% das paráfrases foram com o
conector caso, aproximando-se da paráfrase com o conector já que. Contudo,
quando analisamos os contextos indutores de certeza e incerteza, notamos uma
diferença significante. Contextos de certeza induzem maior frequência da
paráfrase com o conector já que, pois só temos 30% de escolhas com paráfrase
caso. Contextos indutores de incerteza geram maior freqüência da paráfrase com
o conector caso, pois 71% das paráfrases foram com esse conector. Isso indica
que o conector caso está atrelado à incerteza e que o conector já que está
atrelado a certeza. Tal fato evidencia a ambigüidade semântica do conector se.
Sexo
Em relação à variável sexo, em contextos indefinidos, notamos uma
maior preferência do uso do conector caso pelas mulheres, em relação aos
homens, já que 55% delas utilizaram esse conector, contrapondo-se a 47% dos
homens. Essa diferença foi significativa, como visto na tabela 8.
Em contextos definidos de certeza, as mulheres também mostraram
maior freqüência (32%) de uso do conector caso do que os homens
(27%)..Contudo, essa diferença não foi significativa como visto na tabela 10.
É importante salientar que homens e mulheres que optaram pelo uso
do caso em contextos indutores de certeza, fizeram-no por interpretarem esses
contextos não como de certeza e sim de dúvida. Como interpretaram tais
contextos como de dúvida? Simplesmente elaboraram um novo contexto em cima
do que propusemos.
Em contextos indutores de incerteza, homens e mulheres quase
empatam na freqüência do uso do conector caso, as mulheres utilizaram 72%
desse conector contra 70% do uso desse conector pelos homens.
Os homens tendem um pouco mais a criarem contextos factuais
mesmo diante do contexto indutor de incerteza, porém a diferença entre homens e
mulheres também não se mostrou significativa conforme visto na tabela 12.
Contudo, a diferença entre homens e mulheres é significativa se
considerarmos todos os contextos e não apenas contextos particulares. Na
maioria das questões do formulário, a porcentagem de caso foi maior nas
escolhas femininas do que nas masculinas. Há algumas exceções em que
notamos mais caso nas escolhas femininas do que nas masculinas. Notamos tal
fato em questões como a de número 20 (Se tem pedra no arroz, tem que catar) e
a de número 15 (Ele esteve aqui ontem. Ora, se ele esteve aqui, você podia ter
falado com ele). Imaginamos que a frase de número 20 apresenta um contexto
mais distante da realidade dos homens, pois as tarefas do lar como cozinhar,
normalmente, são designadas às mulheres. Esse fato pode ter feito com que os
homens por não catarem arroz terem optado pelo conector caso, o que sugere
uma segurança diante de contextos desconhecidos. Já na questão de número 15,
o conector ora pode ter tido um papel fundamental nas escolhas masculinas, pois
em alguns relatos masculinos vimos esse conector como designador de dúvida.
Um menino de quatorze anos, do ensino fundamental, disse-nos que optou pelo
conector caso na questão 15 por entender essa frase como uma dúvida, pois ao
falar ora o menino relatou que estava mostrando dúvida ao seu ouvinte. Essa
interpretação do ora foi presenciada mais nos homens e por isso homens
tenderam mais à escolha ligada à não-factualidade.
Notamos que as mulheres tendem a ter uma interpretação menos
factual do conector se do que os homens. Isso indica uma postura mais cautelosa,
em que optam pela dúvida para não passarem uma imagem de autoridade, uma
imagem que ao longo da história foi vinculada ao homem.
A diferença das interpretações femininas e masculinas sugere que
mulheres em contextos indutores tendem mais a burlar marcas lingüísticas e se
esforçarem para uma interpretação não-factual do enunciado, já os homens
tendem a um discurso mais autoritário.
Esse fato é constatado em nosso inventário, pois nas questões de
contexto indutor de incerteza, em que mulheres tendem a marcar mais o conector
já que do que os homens e ainda que nesses contextos tenhamos marcas
lingüísticas que denotem incerteza, as mulheres nos inventários construíram mais
contextos de certeza em cima desses contextos propostos por nós.
Faixa Etária
Essa variável é de grande importância para nós, uma vez que ao
adotarmos faixa etária tivemos a possibilidade de perceber se certo fenômeno é
uma variação ou se já pode ser considerado como uma mudança em processo.
A faixa etária, conforme comentamos anteriormente em nossa
pesquisa, pode apontar para um processo de variação estável ou para uma
mudança lingüística. No primeiro caso, os jovens e os velhos apresentam
comportamento lingüístico semelhante, diferenciando-se de falantes de meiaidade, que inseridos no mercado de trabalho, talvez tendam a utilizar as formas
mais clássicas. Em processo de mudança lingüística, as formas inovadoras serão
mais freqüentes em jovens, decaindo à medida que notamos um aumento da faixa
etária.
Em contextos de certeza, a primeira faixa etária, de 14 a 25 anos,
apresentou maior uso do conector caso, utilizaram 37% desse conector. Contudo
nenhuma ocorrência do caso foi associada à factualidade e sim a uma
interpretação não-factual que estes deram aos enunciados através de contextos
que imaginaram.
A faixa etária, de 26 a 49 anos, apresentou menor incidência do uso
do conector caso, 29% de uso, e com a faixa etária maior do que 50 anos essa
incidência diminuiu ainda mais, 20% de uso.
Os resultados acima expõem que os jovens são mais inovadores, na
medida em que, ainda que tenhamos um contexto indutor de certeza, eles
constroem um outro contexto e utilizam em maior quantidade o conector caso.
Os jovens apresentam uma diferença significantemente maior do uso
desse conector do que as pessoas mais velhas. Isso sugere um processo em
mudança lingüística, que evidencia maior desprendimento com marcas lingüísticas
e o uso de um conector que normalmente indica incerteza, em frases com
marcadores de certeza. Os jovens desconsideram tais marcas, ou simplesmente
não as vêem como denotadoras de certeza, atribuindo a elas outros sentidos que
vão ao encontro de suas expectativas e seus contextos criados.
Tais dados sugerem que quanto maior a idade maior é atenção às
marcas lingüísticas que apontam para um determinado contexto e menos se
esforça para atribuir ao enunciado indutor de certeza um novo contexto.
Em contextos de incerteza o conector caso foi o mais utilizado e o
uso do conector já que foi associado a interpretações factuais dos enunciados de
incerteza. Notamos que quanto maior a idade maior é o comprometimento, como
visto no contexto de certeza, com uma interpretação pautada nas marcas
lingüísticas, ou seja, no contexto fornecido nas questões.
Os resultados mostram uma preferência pelas pessoas maiores de
cinqüenta a usarem, em contextos de incerteza, o conector caso; 83% optam pelo
seu uso. Já os mais jovens utilizaram, consideravelmente mais o conector já que
do que os mais velhos. Essa faixa utilizou apenas 63% de caso, na idade de 14-25
e utilizou 72% de uso de caso, na idade de 26-49. Isso nos revelou, novamente,
uma diferença entre a faixa etária mais velha da mais nova, o que caracterizou um
processo de mudança lingüística. Isto é, os mais jovens utilizam em condicionais
de contextos indutores de incerteza o conector já que, e atribuem as marcas
lingüísticas de incerteza uma conotação de certeza pautada em contextos
imaginativos. Quanto menor é a faixa etária, maior a tentativa de romper padrões,
de não se limitar apenas a um determinado aspecto lingüístico e assim ter uma
postura mais inovadora.
A diferença de idade em contextos indefinidos não nos permitiram
afirmar um processo de mudança lingüística, pois as escolhas de todas as faixas
etárias foram muito próximas, 50% de caso na idade de 14-25, 49% de caso na
idade de 26-49 e 52% de caso para as pessoas com idade igual ou superior a 50.
Dessa forma não tivemos uma diferença significativa nos resultados.
Discussão dos resultados referentes à escolaridade
Em
contextos
indefinidos
a
escolaridade
não foi
um
fator
preponderante, já que tivemos tanto o uso do caso quanto o do já que e estes
usos tiveram uma proporção quase de cinqüenta por cento para cada. O ensino
fundamental utilizou 54% de caso em suas escolhas, o ensino médio usou 51% de
caso e o ensino superior usou 49% de caso.
No contexto indefinido, como observado na tabela 21, a escolha
factual ou não-factual para parafrasear os enunciado iniciados com se não
apresentaram diferenças significantes. Isso revela que, em contextos indefinidos,
o falante cria o seu próprio contexto e através desse contexto faz suas escolhas
lexicais. Constatamos que o uso do já que e o uso do caso, em contextos
indefinidos, estavam sempre atrelados, respectivamente, à certeza e a dúvida.
Em contextos indutores de certeza, a escolaridade foi relevante, pois
o Ensino Fundamental e o Ensino Médio utilizaram mais o conector caso do que o
Ensino Superior. Ainda que o uso do caso não estivesse ligado à certeza, houve
no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, maior esforço para elaborar contextos
em que o uso do caso fosse possível.
O Ensino Fundamental e o Ensino Médio apresentaram uma maior
resistência às marcas lingüísticas que denotavam certeza.
Podemos observar tal fato em frases como a de número 17, em que
temos Você recebeu a carta. E se recebeu, não deveria ter alegado o contrário.
Um menino de 15 anos, da 7 série, optou pela paráfrase Você recebeu a carta. E
caso tenha recebido, não deveria ter alegado o contrário. Nosso informante
pensou nessa frase como Você recebeu a carta. E caso tenha recebido mesmo,
não deveria ter alegado o contrário. Ainda que a primeira oração da questão 17
nos aponte para um contexto de certeza, nosso informante compreendeu esse
contexto como de incerteza ao acrescentar a ele a palavra mesmo. Ele criou uma
dúvida nessa frase ao acrescentar tal marca lingüística e ao duvidar que a pessoa
que ouvia essa frase teria realmente recebido a carta. Assim como ele, outro
menino de 14 anos, mas da 8 série, pensou da mesma forma, sendo a única
diferença a de que este optou por acrescentar ao seu raciocínio a palavra
realmente no lugar de mesmo.
Com todo o exposto acima, observamos que o grau de conformidade
com o contexto indutor de certeza aumenta, significantemente, conforme a
escolaridade, isso no grau de significância de 0,001.
Já no contexto indutor de incerteza, houve preferência pelo conector
caso e o uso do já que, novamente, foi interpretado como factualidade nos
enunciados.
O grau de conformidade com o contexto indutor de incerteza também
aumenta, significantemente, com a escolaridade no grau de 0,001 de significância.
O Ensino Fundamental e o Ensino médio se esforçaram mais a
criarem um contexto factual para os enunciados indutores de incerteza. Esse
esforço foi menor no Ensino Superior.
No contexto indutor de incerteza, o Ensino Fundamental e o Ensino
Médio apresentaram maior uso do conector já que. Isso ocorreu, provavelmente,
pelo desejo maior de romper com o que é dito mais do que reproduzir o que é
imposto. Apresentaram, dessa forma, mais inovação e reflexão da língua, uma vez
que foram além do que denotavam as marcas lingüísticas.
O uso do já que, novamente, teve interpretação factual e o uso do
caso, novamente, uma interpretação não-factual. Contudo, tivemos um caso em
que o conector já que teve uma interpretação não-factual. Um menino de 14 anos,
da 7 série, na frase de número 12, em que tínhamos a frase Talvez tenha pedra
nesse arroz. Se tiver pedra, tem que catar optou pela paráfrase Talvez tenha
pedra nesse arroz. Já que tem pedra, tem que catar. Em sua explicação, dissenos que mesmo tendo usado o conector já que, o enunciado continuou a denotar
não-factualidade. Falou-nos que o conector expressaria uma ironia e que quando
ele diz Já que tem pedra, tem que catar ele pretende que seu ouvinte entenda
justamente o contrário.
A explicação dele não é capaz de justificar a não-factualidade do já
que, pois quando ele nos fala em ironia, esse conector passa a ter uma
interpretação factual, pois só assim é que podemos ter nesse enunciado o efeito
irônico. Ao interpretarmos o enunciado como factual e logo depois percebermos
que o falante quer que você entenda o contrário do que as marcas lingüísticas lhe
mostram, temos a ironia.
Sendo esse o único caso em que tivemos uma possível associação
do conector já que a não-factualidade, não podemos falar em ambigüidade factual
da conjunção já que. Dessa forma, os dados quantitativos nos mostram que esse
conector está associado à factualidade e que em construções como a número 12,
esse conector também denota factualidade.
10. Discussão geral dos resultados da pesquisa empírica
Em nosso estudo sobre condicionais, percebemos que o aspecto de
maior relevância para entendimento dos enunciados condicionais, assim como
qualquer outro enunciado, é o contexto. Em contextos indefinidos, 51% dos
informantes optaram por parafrasear o enunciado com caso, em contextos
indutores de certeza 30% optaram pela paráfrase com caso e em contextos
indutores de incerteza 71% dos informantes optaram pela paráfrase com caso. Em
contexto de certeza a paráfrase com o conector caso foi feita devido ao fato de o
informante não compreender o contexto como de certeza e sim como o de
incerteza. Isso nos faz perceber que o conector caso está atrelado à dúvida e o
conector já que à certeza. O contexto se mostra preponderantemente mais
relevante do que qualquer uma das variáveis, pois ainda que tenhamos uma
tendência interpretativa diferente entre homens e mulheres, entre escolaridades e
faixa etária, notamos que ambas as variáveis se apóiam no contexto para
escolherem as paráfrases que melhor expressam seu pensamento. Observamos,
então, que não há influência significativa entre as variáveis em contexto indefinido,
mas em contextos definidos as variáveis apresentam diferenças significativas em
relação à interpretação. Esse fato ocorre devido às experiências pessoais e ao
caráter criativo da língua. E nos mostra que o sentido das frases não se limitam ao
significado das palavras e vão além do que é convencionalmente percebido
quando consideramos somente a escrita.
O caráter pragmático dos condicionais revela a riqueza dessas
construções. Comprovada a ambigüidade do se, ao utilizarmos uma frase
condicional, infringimos a Máxima de Modo de Grice, na qual temos que um
enunciado deve evitar ambigüidades. Usamos, assim, uma frase como Se você
recebeu a carta, não deveria ter alegado o contrário, e que pode ser entendida
como um enunciado factual ou não-factual, para não criarmos uma desarmonia
em nossos relacionamentos. Ou seja, não somos totalmente claros para que
nós possamos nos proteger de eventuais situações desagradáveis em uma
interação social. Alguns poderiam argumentar que o contexto asseguraria uma
interpretação factual ou não-factual e que assim seria impossível evitarmos,
ainda que utilizássemos esse enunciado, uma desarmonia. O que nossa
pesquisa mostrou foi que os contextos que criamos, muitas vezes, não são
suficientes para garantir o entendimento de uma determinada interpretação,
pois as pessoas avaliam as situações que a cercam de formas diferentes. Por
isso, não conseguimos, em alguns momentos, fazer com que nosso
interlocutor entenda nossas intenções, mesmo que compartilhemos de um
mesmo contexto e que tentemos seguir todas as máximas. Desse modo, ao
utilizarmos, propositalmente, um enunciado que infringe uma máxima,
tornamos as interpretações desse enunciado ainda mais instáveis. Portanto,
podemos sim, através de um enunciado ambíguo, protegermo-nos de certas
acusações, pois poderemos alegar ao nosso ouvinte que não afirmamos nada,
apenas criamos uma hipótese e que se essa hipótese for comprovada, aí sim o
conseqüente da frase terá validade.
Podemos também contrariar a máxima de qualidade de Grice com o
uso dos condicionais. Essa máxima afirma que não devemos falar aquilo que
acreditamos ser falso. Ao enunciar Se eu fosse você, não teria feito isso, o
falante pode apenas querer que seu interlocutor não execute uma determinada
atitude, mas pode ter plena consciência de que tomaria a mesma atitude no
lugar de seu interlocutor. Os condicionais também podem contrariar a máxima
de quantidade que diz que devemos fazer nossa contribuição o tanto quanto
for requerida. Se alguém pergunta Maria voltou para o namorado? e outra
pessoa reponde Se voltou, é uma idiota, a resposta não atende ao que foi
questionado, mas devemos notar que se uma pessoa não sabe se Maria voltou
ou não para o namorado, o uso de um condicional fez com que ela não
infringisse a máxima de modo.
As orações condicionais criam contextos hipotéticos, dentro dos
quais a informação da oração principal pode se validar ou ser considerada
relevante. Devido a esse fato, utilizamo-na para protegermos nossas relações.
Para tanto, em diálogos cotidianos infringimos as máximas, pois segui-las nem
sempre garante um relacionamento harmonioso.
Nossas conclusões sobre condicionais não se encerram nesta
pesquisa, contudo esperamos ter contribuído para uma melhor análise sobre
essas construções que são muito utilizadas nas argumentações e para
produzir efeitos discursivos em interações sociais. Por esses fatores, os
condicionais estão tão presentes em nossos discursos. Seu uso contínuo
também os fizeram apresentar a riqueza de possibilidades sintáticas e
semânticas.
11. Considerações finais
A língua representa um universo inesgotável de recurso para nos
comunicar. É um universo infinito que está em constante transformação, pois
mesmo que nós conseguíssemos juntar todas as palavras da língua portuguesa e
seus respectivos sentidos, não apreenderíamos a língua em sua totalidade. Isso
se deve ao fato de que não podemos entendê-la como uma realidade estática e
que devemos entendê-la como uma realidade dinâmica da experiência humana.
Tal fato faz com que a língua forme uma multiplicidade de eventos de expressão e
interação que ocorrem cotidianamente em uma sociedade.
Podemos imaginar que alguém pudesse conhecer integralmente
todos os princípios de alterações semânticas dos vocábulos e o princípio da
criação e incorporação das palavras, mas mesmo assim, se tal fato fosse possível,
uma pessoa não teria como prever as direções do uso figurado da língua.
As diferentes e inesgotáveis formas de enunciar ou de estruturar
enunciados criam um ambiente sujeito à mudança.
Tal mudança emerge da heterogeneidade, de fenômenos típicos de
algumas variedades da língua que acabam por ser adotados progressivamente
por falantes de uma outra variedade. Tal mudança pode resultar, então, na
alteração da pronúncia ou na estrutura dos enunciados.
A produção de linguagem, desse modo, implica o desenvolvimento
de formas e conteúdos, cuja validade será estabelecida sempre pela experiência
de cada falante.
As transformações da língua, muitas vezes, são rejeitadas e não
refletidas como variantes da linguagem padrão preconizada pela educação
sistemática que é propiciada pela escola. As pessoas que acham que a língua
deve se restringir à regras desconsideram todo o dinamismo dela.
Diante desse cenário, tentamos mostrar, em nossa pesquisa, que as
conjunções condicionais, embora tratadas em algumas gramáticas como
denotadoras somente de um sentido, permeiam por diversos significados. Outras
conjunções, como já que, podem implicar sentidos além do causal. Ou seja, o
sentido não pode ser algo previamente estabelecido, pois todo sentido é
construído.
O contexto, as experiências pessoais e as intenções do falante são
fatores que influem na construção de sentido de todos os enunciados.
Assim,
em
nosso
estudo,
pudemos
perceber
uma
visível
heterogeneidade da língua portuguesa, que faz com que vejamos vários
“portugueses brasileiros”.
Uma frase como Talvez ele faça a obra lá em casa amanhã. Se ele
for fazer, vai precisar de cimento ao ser parafraseada por Talvez ele faça a obra lá
em casa amanhã. Já que ele vai fazer, vai precisar de cimento provoca
estranheza, pois podemos pensar que se o enunciado diz talvez teríamos que
pensar na frase como produtora de dúvida e não de certeza. Contudo, o que
inaceitavelmente poderia constituir uma visão de erro, dentro de uma abordagem
funcional dos fenômenos da linguagem, constitui um novo sentido apoiado pelo
contexto individual do falante.
Esperamos ter colaborado para desmistificar a visão de erro e
possibilitar uma visão mais funcionalista da língua, que não desconsidere o valor
dinâmico e criativo de toda língua, que é o processo de ressignificar suas
palavras.
Vale lembrar, no entanto, que em nossos estudos, não achamos que
não devamos estudar a língua cientificamente. À medida que compreendemos a
língua, compreendemos a nós mesmos, seres da linguagem que somos. Sabemos
que a língua padrão cumpre um papel de extrema importância sociocultural de
representar uma tentativa de construção de uma unidade sobre sua imensa
variedade. Precisamos apenas superar criticamente a cultura do erro que tem sido
tradicionalmente incorporada por nós. Essa atitude negativa deve ser substituída
por uma atitude mais condizente, seja com relevância sociocultural, seja com sua
dinâmica.
Quarta parte – Referências Bibliográficas
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Anexo
Tabela 12: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável
escolaridade, sexo feminino e faixa etária de 14 a 25 anos. Considera o
número de respondentes de cada questão do formulário 2, feito com cento e
trinta e sete pessoas.
Feminino
14-25
EM
EF
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
ES
C
J
C
J
C
J
4
2
3
4
3
5
1
2
3
3
2
3
3
2
2
1
3
3
5
1
2
4
2
4
4
3
4
1
3
2
1
2
0
4
3
2
2
3
2
2
3
3
4
2
2
0
4
3
1
3
1
1
2
1
12
13
11
9
6
9
7
8
10
10
3
13
14
6
7
6
8
10
12
5
5
9
7
2
9
12
13
5
4
6
8
11
8
10
9
7
7
14
4
3
11
10
11
9
7
5
12
12
8
10
15
8
5
4
2
4
3
3
2
1
1
0
2
4
2
3
4
3
2
0
0
2
4
1
2
2
1
1
3
3
3
2
0
1
1
2
3
3
4
2
0
2
1
0
1
2
4
4
2
0
3
2
2
3
3
1
1
1
Tabela 13: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável
sexo feminino e faixa etária de 26 a 49 anos, referentes a cada questão do
formulário dois, feito com cento e trinta e sete pessoas.
Feminino
26-49
EM
EF
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
ES
C
J
C
J
C
J
3
5
5
3
6
3
2
3
6
5
0
2
5
4
3
4
5
4
6
0
3
3
6
3
4
4
6
5
3
3
5
2
5
6
5
2
3
8
6
3
4
5
4
3
4
2
8
5
5
2
5
4
4
2
8
6
7
8
10
7
8
2
12
10
7
12
15
8
5
3
5
5
12
2
4
6
9
2
11
10
12
7
9
8
7
5
8
7
13
3
5
8
3
0
7
10
12
10
10
3
13
11
9
6
13
4
5
3
1
3
4
3
3
2
3
3
5
3
0
4
5
4
1
3
2
1
5
1
1
2
4
1
3
5
5
4
2
1
2
2
3
2
2
0
2
5
1
0
1
4
2
3
4
0
4
4
3
1
4
2
0
0
Tabela 14: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável
escolaridade, sexo feminino e faixa etária igual ou maior que 50 anos.
Considera o número de respondentes de cada questão do formulário 2, feito
com cento e trinta e sete pessoas.
Feminino
>50
EM
EF
ES
C
J
C
J
C
J
1
7
2
0
2
7
4
2
6
3
1
1
8
3
3
5
4
0
2
6
5
4
3
6
1
1
5
6
5
6
3
2
0
6
5
6
3
6
2
0
7
4
7
5
4
0
2
5
6
8
7
2
1
1
4
7
9
8
1
2
0
10
1
10
7
2
1
1
11
0
11
3
6
1
1
1
10
12
7
2
2
0
10
1
13
9
0
2
0
11
0
14
2
7
1
1
5
6
15
2
7
2
0
1
10
16
4
5
0
2
3
8
17
1
8
2
0
0
11
18
2
7
0
2
4
7
19
9
0
1
1
11
0
20
1
8
0
2
1
10
21
1
8
0
2
1
10
22
3
6
1
1
3
8
23
9
0
1
1
10
1
24
4
5
0
2
2
9
25
8
1
0
2
11
0
26
9
0
1
1
11
0
27
8
1
1
1
11
0
Tabela 15: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável
escolaridade, sexo masculino e faixa etária de 14 a 25 anos. Considera o
número de respondentes de cada questão do formulário 2, feito com cento e
trinta e sete pessoas.
Masculino
14-25
EM
EF
ES
C
J
C
J
C
J
1
4
3
11
5
0
4
2
4
3
10
6
2
2
3
3
4
8
8
2
2
4
3
4
4
12
2
2
5
5
2
9
7
0
4
6
5
2
8
8
1
3
7
3
4
8
8
1
3
8
2
5
6
10
2
2
9
5
2
12
4
3
1
10
3
4
10
6
3
1
11
1
6
4
12
0
4
12
4
3
11
5
2
2
13
4
3
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3
3
1
14
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2
5
11
2
2
15
1
6
9
7
2
2
16
1
6
6
10
2
2
17
3
4
5
11
1
3
18
3
4
6
10
2
2
19
4
3
11
5
3
1
20
4
3
5
11
1
3
21
4
3
3
13
2
2
22
1
6
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11
1
3
23
3
4
13
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2
2
24
1
6
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11
2
2
25
4
3
10
6
2
2
26
3
4
9
7
2
2
27
3
4
15
1
4
0
Tabela 16: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável
escolaridade, sexo masculino e faixa etária de 26 a 49 anos. Considera o
número de respondentes de cada questão do formulário 2, feito com
cento e trinta e sete pessoas.
Masculino
26-49
EM
EF
ES
C
J
C
J
C
J
1
2
3
3
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2
4
2
0
5
5
4
1
5
3
4
1
6
3
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1
4
2
3
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3
2
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4
1
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1
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3
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8
2
4
8
2
3
0
9
2
4
9
5
0
7
2
6
0
10
1
4
4
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4
2
11
0
5
1
8
0
6
12
5
0
8
1
5
1
13
5
0
9
0
6
0
14
0
5
4
5
2
4
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4
1
4
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1
5
16
3
2
4
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2
4
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2
3
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0
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1
4
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4
0
6
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5
0
8
1
5
1
20
2
3
3
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1
5
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2
3
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8
0
6
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2
3
4
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5
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2
3
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3
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0
5
1
8
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5
25
3
2
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3
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0
26
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0
7
2
6
0
27
4
1
8
1
5
1
Tabela 17: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável
escolaridade, sexo masculino e faixa etária maior ou igual a 50 anos.
Considera o número de respondentes de cada questão do formulário 2,
feito com cento e trinta e sete pessoas.
Masculino
>50
EM
EF
ES
C
J
C
J
C
J
1
1
4
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1
4
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2
3
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5
0
4
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5
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4
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3
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0
13
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4
0
5
0
14
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3
1
3
1
4
15
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2
2
2
0
5
16
1
4
0
4
0
5
17
0
5
0
4
0
5
18
2
3
2
2
0
5
19
3
2
4
0
5
0
20
2
3
0
4
0
5
21
1
4
0
4
0
5
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1
4
1
3
0
5
23
4
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3
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0
24
2
3
1
3
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5
25
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4
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5
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5
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5
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