INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION CURSO DE FORMAÇÃO DOCENTE EM BIODANZA ASPECTOS BIOLÓGICOS DE BIODANZA Prof. Rolando Toro Biodanza ASPECTOS BIOLÓGICOS DE BIODANZA Sumário Princípios Universais do Ser Vivo 3 Filiação Biológica do Ser Vivo 6 Hierarquia da Organização Molecular nas Células 7 Autopoiese 10 Evolução 10 Invariância Reprodutiva 13 Seletividade: Relação com o Ambiente 14 Diferenciação 14 Memória 15 Autorregulação 15 Características Especiais de alguns Processos Biológicos da Vida Humana 15 Existe o Progresso Biológico? 16 Copyright by Rolando Toro 2 PRINCÍPIOS UNIVERSAIS DO SER VIVO Os seres vivos têm algumas características comuns, apesar de seus diferentes graus de organização. Para compreender o fenômeno da vida como acontecer cósmico, é necessário conhecer, mesmo de forma resumida, as características universais do ser vivo. Este conhecimento nos permite uma visão da unidade universal do ser vivo, indispensável para compreender o Princípio Biocêntrico. A vida conhecida na Terra está fortemente relacionada a uma estrela: o Sol, que é essencial para a preservação da vida. Vivemos em um universo de astros (1). As estrelas são no cosmos como as células no mundo vivo. De maneira semelhante como as células se agrupam em complexas estruturas que são os seres vivos, as estrelas se encontram reunidas em grandes conglomerados que se denominam galáxias e que são os tijolos constitutivos do universo (2). Existem galáxias elípticas, irregulares e espiraladas, e nelas continuam se formando estrelas. Supõe-se que o universo se originou entre 18 a 20 bilhões de anos atrás e que nosso Sol se formou há 5 bilhões de anos. A Terra, por seu lado, teria aproximadamente 4,5 bilhões de anos e a vida teria surgido nela a cerca de 3,8 bilhões de anos atrás. As estrelas se formariam devido ao colapso gravitacional de nuvens de gases e poeira interestelar. José Maza, em “Uma visão global do cosmos”, diz: “As estrelas de primeira geração contêm, como matéria prima, Hidrogênio (74%) e Hélio (26%). As estrelas transmutam os elementos químicos para obter energia. Primeiro transmutam o Hidrogênio em Hélio, a seguir o Hélio em Carbono e Oxigênio, e posteriormente estes em Neônio, Magnésio, Silício, Enxofre, etc., até chegar ao Ferro. As estrelas de alta massa têm uma vida muito breve, menor que 10 milhões de anos, que é muito menos que o tempo de colapso da galáxia (uns 100 milhões de anos). A maioria das estrelas de alta massa explodem como supernovas, lançando sua matéria ao espaço, o que contaminará o gás primordial com elementos mais pesados que o Hélio. No instante da explosão de uma supernova são originados, graças à alta temperatura gerada, os elementos químicos mais pesados que o Ferro 26. O gás primordial contaminado com uma pequena quantidade de elementos mais pesados que o Hélio gerará novas estrelas que agora terão uma composição química inicial de 73% de Hidrogênio, 26% de Hélio e 1% de elementos mais pesados que o Hélio (estas porcentagens se referem à quantidade por unidade de massa). No caso de uma galáxia espiral como a que nós habitamos, o colapso inicial forma cúmulos globulares de estrelas e estrelas individuais em um halo esférico em torno do núcleo. Ao continuar o colapso da matéria gasosa restante, entra em cena o momento angular do sistema. A rotação faz com que o colapso ocorra com muito maior facilidade na direção do eixo de rotação que em sentido perpendicular a ele. Por isso, o material restante colapsa na forma de um disco que é um plano principal de simetria do sistema. No disco o gás contaminado vai lentamente dando origem a novas estrelas. As estrelas de primeira geração não poderiam gerar planetas como a Terra por carecer de elementos pesados que se poderiam condensar em partículas. As estrelas de disco, ao contrário, podem formar sistemas planetários tal como ocorreu com o Sol. No entanto, é interessante recordar que os elementos pesados foram sintetizados no interior de uma estrela, logo formaram a Terra e a seguir parte dos organismos vivos. Podemos repetir aqui o belo conceito que todos nós fomos parte de uma estrela; ou ao menos os átomos de Cálcio de nossos ossos, o Ferro de nossos glóbulos vermelhos, foram fabricados no interior de uma 3 estrela, para serem logo lançados violentamente ao espaço em uma explosão de supernova e passar mais tarde a constituir a nebulosa solar primitiva e a seguir a Terra. Portanto, quando estudamos as estrelas, estamos simplesmente buscando nossas raízes mais profundas”. 1- Luis E. Campusano: “Las estrellas no son inmutables”. ARKA vida en el universo. Editorial Universitaria. 2- José Maza: “Una visión global del cosmos”. ARKA vida en el Universo. Editorial Universitaria. QUANTIDADES QUÍMICAS Número Crosta Água Corpo Elemento Símbolo Atômico Univers o Terra terrestre oceânic a humano Hidrogênio H 1 92.056 120 2.882 66.200 60.583 Hélio He 2 7.835 Lítio Li 3 9 Berílio Be 4 Boro B 5 Carbono C 6 30 85 55 1 ,4 10.880 Nitrogênio N 7 8 0 ,3 7 2.440 Oxigênio O 8 61 40.880 80.425 33.100 25.670 Fluor F 9 3 ,8 77 Neônio Ne 10 8 Sódio Na 11 0 ,2 640 2.554 90 75 Magnésio Mg 12 2 12.500 1784 34 11 Alumínio Al 13 0 ,2 1.300 6.251 Silício Si 14 3 14.000 20.475 Fósforo P 15 140 79 130 Enxofre S 16 2 1.400 33 17 130 Cloro Cl 17 45 11 340 33 Argônio Ar 18 0 ,5 Potássio K 19 56 1.374 6 37 Cálcio Ca 20 0 ,2 480 1.878 6 230 Escândio Sc 21 Titanio Ti 22 28 191 Vanadio V 23 4 Cromo Cr 24 8 Manganês Mn 25 56 37 Ferro Fe 26 4 18.870 1.648 Cobalto Co 27 1 Níquel Ni 28 0 ,2 1.400 3 Cobre Cu 29 1 Zinco Zn 30 2 Quantidades dos primeiros 30 elementos químicos da Tabela Periódica, em número de átomos por cada 100 mil, no Universo, na totalidade da Terra, na crosta terrestre, na água oceânica e no corpo humano. Como se observa, a distribuição relativa dos elementos químicos de um organismo vivo é muito diferente da encontrada no resto na natureza. Dos mais de 100 elementos químicos da Tabela Periódica, só aproximadamente 24 participam nos processos biológicos de qualquer organismo vivo. (Adaptado de Dickerson, R.E., Scientific American 239: 70, 1978). 4 MOLÉCULAS IDENTIFICADAS NO ESPAÇO INTERESTELAR Moléculas H2 CH+ CH OH C2 CN Freqüências óptica, infravermelho óptica óptica, rádio óptica, rádio óptica óptica, rádio CO NO CS SiO SO NS SiS H2O C2H+ óptica, rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio HCN HNC HCO HCO+ N2H+ H2S HNO OCS SO2 rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio HCS++ NH3 C2H2 rádio rádio infravermelho Moléculas H2CO HNCO H2CS C2 N HNCS CH4b Freqüências rádio rádio rádio rádio rádio rádio CH2NH CH2CO NH2CN HCOOH C4H+ HC3N CH3CN NH2CHO CH3SH rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio CH3NH2 CH3OCH CH2CHO CH2CHCN HC3N HCOOCH3 C2H3OH CH3OCH3 C2H3CN rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio rádio HC2N HC2N+ rádio rádio Moléculas que foram identificadas no espaço interestelar. A identificação foi obtida fundamentalmente com radiotelescópios. 5 FILIAÇÃO BIOLÓGICA DO SER VIVO Dos mais de cem de elementos químicos da Tabela Periódica, só cerca de 24 participam nos processos biológicos de qualquer organismo vivo. Destes, alguns são majoritários, enquanto outros aparecem somente como traços. ELEMENTOS Bactéria % Hidrogênio Oxigênio Carbono Nitrogênio Fósforo Enxofre Cálcio 63 29 6,4 1,4 0,12 0,06 Mamíferos % 61 26 10,5 2,4 0,13 0,13 0,23 Poeira interestelar % 55 30 13 1 0,8 Fração volátil de cometas % 56 31 10 2,7 0,3 Composição percentual dos seis elementos químicos encontrados em maior quantidade nos organismos em relação com a composição estimada na poeira interestelar e na fração volátil de cometas. A grande semelhança que existe entre estas composições poderia apoiar eventualmente uma origem extraterrestre das moléculas orgânicas vitais ou da vida. (Adaptado de Delsemme, A.H. - Les cometes et I'origene de la vie. L'Astronomie 95:293, 1981). A distribuição relativa (%) dos elementos químicos de um organismo vivo é muito diferente daquela encontrada no universo, na totalidade da Terra e na crosta terrestre. O conjunto de elementos que compõem os organismos vivos podem combinar-se em milhões de moléculas diferentes. Muitas destas moléculas estão presentes e identificadas no espaço interestelar e também formando parte de meteoritos que caíram na Terra. No entanto, este grande número novamente pode reduzir-se a uma classificação simples. A partir das moléculas precursoras do meio ambiente, tais como anidrido carbônico, água e Nitrogênio, alguns organismos biossintetizam as moléculas orgânicas primordiais, a partir das quais são sintetizadas todas as demais. Estes precursores primordiais compreendem vinte L-aminoácidos, cinco bases nitrogenadas (adenina, timina, citosina, guanina, uracilo), dois açúcares (ribose e glicose), um ácido graxo (ácido palmítico), um álcool (glicerol) e um amino-álcool (colina). Estas moléculas são transformadas em proteínas, ácidos nuclêicos, polissacarídeos e lipídios, moléculas fundamentais comuns a todos os organismos vivos, desde as bactérias até o Homem. Estas moléculas, por transformações posteriores, formam complexos supramoleculares, organelas e finalmente a célula, unidade morfológica e funcional da vida. Assim, a matéria viva é capaz de auto-organizar-se a partir de moléculas simples por meio de reações em cadeia, integradas e específicas (metabolismo intermediário), compreendendo reações de biossíntese e de degradação. 6 HIERARQUIA DA ORGANIZAÇÃO MOLECULAR NAS CÉLULAS Célula Organelas núcleo mitocondria cloroplasto Complexos supramoleculares PM = 106~ 109 Complexo enzimático Ribossomas Sistemas contráteis Macromoléculas PM = 103~ 109 Ácidos nuclêicos Proteínas Biomoléculas fundamentais PM = 100~ 350 Mono nucleo tídeos Aminoácidos Açúcares simples Intermediários PM = 50~ 250 Ribose Carbamil Fosfato -Cetoácidos Fosfopiruvato Malato Precursores do meio ambiente PM = 18~ 44 Polissacarídeos Lipídios Ácidos graxos e Glicerol Acetato Malonato CO2 ; H2O ; N2 As biomoléculas de todos os organismos vivos podem hierarquizar de acordo com uma complexidade molecular crescente e segundo a função que desempenham. (Adaptado de BIOCHEMISTRY, A. Lehninger, Worth Publisher Inc., 1972) 7 Para que as reações biológicas ocorram, os organismos necessitam de energia. Os organismos autotróficos (plantas, algas unicelulares e algumas bactérias) obtêm a energia da luz solar, transformando-a em energia química aproveitável. Por outro lado, os organismos heterotróficos (animais, fungos, etc.) devem obter sua energia a partir de compostos preformados, tais como a glicose, que é sintetizada pelos organismos autotróficos. Tanto os autotróficos como os heterotróficos degradam a glicose a anidrido carbônico e água e produzem uma molécula fundamental para realizar as reações biológicas: o ATP (adenosina trifosfato). Uma característica fundamental do ser vivo é a autorregulação: as reações metabólicas estão reguladas por mecanismos específicos que atuam durante a ontogenia do organismo. Autorreplicação: a matéria viva tem a capacidade de autorreplicar-se, de acordo com um código estabelecido. A informação genética está contida na molécula de ADN (ácido desoxiribonucleico). Existem exceções, alguns vírus que utilizam ARN (ácido ribonucleico), uma molécula parecida ao ADN. O ADN é uma dupla hélice formada por um esqueleto açúcar/fosfato e bases nitrogenadas (adenina, guanina, citosina, timina). Estas bases se dispõem linearmente no ADN estabelecendo uma seqüência característica para cada espécie. A mensagem contida no ADN é primeiramente transcrita a uma molécula de ARN e logo traduzida a uma seqüência de aminoácidos que formam as proteínas, que são os compostos que, com sua presença predominante, caracterizam morfológica e fisiologicamente um organismo. A informação contida no ADN se transmite de geração em geração, perpetuando as espécies. Os processos de transferência de informação genética podem resumir-se de forma simplificada no chamado Dogma Central da biologia da seguinte maneira: Replicação ADN ARN Transcrição Proteínas Tradução No ADN, a informação é lida através de tripletes de bases nitrogenadas (códons). Assim, existem vocábulos de código genético para cada um dos aminoácidos que formam as proteínas. Todos os organismos vivos neste planeta utilizam o mesmo código genético (vale dizer que a leitura de três bases nitrogenadas consecutivas especifica um determinado aminoácido e não outro), o que permite supor que o código genético é universal. Foi constatado que as proteínas de todos os organismos vivos estão formadas por aminoácidos que têm todos a configuração L ou levógira. Por outro lado, as seqüências de aminoácidos de uma determinada proteína que cumpre uma determinada função, são parecidas em organismos muito diferentes, o que permite inferir relações de parentesco. Por último, as reações químicas (metabolismo), mediante as quais os organismos vivos conseguem a conversão de energia a formas utilizáveis, são extraordinariamente semelhantes em todos os seres vivos. Isto demonstra que, apesar das grandes diferenças observadas entre os seres vivos, estas reações obedecem neles a um plano bioquímico básico que é comum a todas as formas vivas. 8 9 AUTOPOIESE Uma das características essenciais da vida é a auto-organização. A capacidade dos seres vivos de gerar-se a si mesmos foi denominada por Humberto Maturana autopoiese. Os organismos vivos possuem a capacidade de "parir-se a si mesmos". A autoorganização dos seres vivos revela uma autonomia do biológico, através da qual as células parecem "saber" como deslocar-se no tempo e no espaço para gerar os diversos órgãos e realizar as funções vitais. As células e os tecidos possuem uma "cognição" que lhes permite organizar-se. Francisco Varela realizou extensos estudos sobre a autonomia nos processos vivos. O conceito de Inconsciente Vital proposto por Rolando Toro é coerente com o processo cognitivo de auto-organização, este psiquismo das células. Maturana e Varela se referem à autopoiese: "Os seres vivos se caracterizam por, literalmente, produzir-se a si mesmos continuamente, pelo que indicamos chamar a organização que os define, como organização autopoiética. EVOLUÇÃO Os processos biológicos estão agrupados em certas teorias como a Teoria Celular, a Teoria Genética e a Teoria da Evolução. A evolução é o princípio central da Biologia, que permite dar sentido à geração de variabilidade no mundo vivo. Todos os organismos vivos têm muito em comum: reprodução, metabolismo, organização, etc. Mas também muitas diferenças. A evolução é mudança no tempo. A evolução, em Biologia, é um sistema de idéias que descreve as mudanças que os seres vivos experimentam ao longo do tempo. A idéia de mudança se opõe ao princípio fixista. As mudanças são históricas, devem recordar a história. Os acontecimentos são únicos e irrepetíveis; a evolução não volta atrás. A ciência da evolução biológica começa com Lamarck (1744-1829), o qual estabeleceu que os organismos podem transmitir a sua descendência suas próprias características adquiridas. A Teoria da Evolução Biológica mais geral e de maior poder explicativo foi formulada por Charles Darwin en seu livro “A origem das espécies”, publicado em 1860. Darwin, em sua viagem no navio “Beagle” pelo novo mundo, observou sucessões de caracteres nas espécies, o que o levou a postular a Evolução Filética: os animais evoluíram de outros animais. Por exemplo, na América encontrou animais semelhantes a coelhos europeus (saltam, têm orelhas longas, etc.) mas têm estrutura dentária distintas Darwin formulou a idéia que todos os organismos provêm de um tronco comum e sofrem mudanças segundo o ambiente (processo de adaptação). Wallace também foi um naturalista, fornecia materiais para zoológicos e museus. Também veio a América (Amazonas, Rio Negro e Orinoco). Suas observações acerca da distribuição dos organismos vivos o fizeram ser considerado como o pai da Biogeografia. 10 Escala temporal da vida sobre a Terra: a linha superior representa, de modo comprimido, o tempo transcorrido entre a formação do planeta e o momento atual. Alguns eventos importantes estão indicados. As linhas seguintes são ampliações de períodos importantes: A segunda linha é uma expansão do período Fanerozóico. A terceira linha é uma ampliação das eras Mesozóica e Cenozóica. A quarta linha expande o Terciário e o Quaternário. Finalmente, a última linha representa somente o período Quaternário expandido. (Adaptado de MAYR, 1957). 11 Tanto Darwin como Wallace acreditavam na Evolução, mas faltava-lhes propor um mecanismo. A ambos serviu de sugestão o livro de Malthus que dizia que os organismos crescem em proporção matemática. Por outra parte, coincidem em que a individualidade está baseada nas diferenças e que a evolução se mede em relação ao êxito reprodutivo; na capacidade de transmitir à descendência suas vantagens adaptativas. Por seu lado, o Homem introduz seleção artificial. Por exemplo, durante a revolução neolítica o Homem deixou de ser coletor e passou a ser produtor e, assim, realizou seleção artificial de certas plantas. Estas idéias foram tomadas por Darwin e adequadas ao processo que ocorre na natureza. Das contribuições de Darwin e Wallace (1858, A Teoria da Seleção Natural) poderíamos resgatar como fundamentais os seguintes conceitos: 1) A tendência ao crescimento das populações é maior do que a dos recursos (parâmetro Malthusiano). 2) Há variáveis intra e interpopulacional. 3) É diferente a reprodução das variantes mais adequadas (“Fitness”, “Adaptância” ou “Adequação Darwiniana”) Para que haja Evolução deve haver variabilidade. Uma forma pragmática de entender isto é ver como se produz esta variabilidade. A seguir serão citados os fatores que modificam a composição genética das populações e que produzem variabilidade: 1.- Mutações 2.- Arraste meiótico 3.- Fluxo genético 4.- Seleção 5.- Oscilação genética (ao acaso) Segundo Darwin, a seleção natural funciona em todos os organismos vivos. Quando Darwin postulou sua teoria, as bases da genética não eram conhecidas. Quando Mendel formulou as leis da herança, surgiram críticas a Darwin, já que tudo é herdado, o vantajoso e o desvantajoso. Tornou-se necessário estabelecer uma série de compromissos entre a Teoria da Evolução, de Darwin, e a Teoria da Herança, de Mendel, e surgiu o Neodarwinismo que é a Teoria da Seleção Natural mais as contribuições da Genética e da Taxonomia. Isto culminou com a Teoria Sintética da Evolução. Um dos resultados desta síntese foi uma concepção moderna das unidades de evolução: a espécie. Anteriormente se trabalhava com um conceito tipológico de espécie. Daí em diante se define a espécie como “a maior e mais abrangente comunidade de indivíduos que compartem um acervo genético comum”. (Dobzhansky, 1970). Espécie: população que tem estrutura genética que se mantém no tempo. 12 A espécie é também concebida como uma unidade reprodutiva: grupos de populações naturais, potenciais ou realmente interférteis, que estão isoladas reprodutivamente de outros grupos. (Mayr, E., 1957). Van Valen (1976) define espécie como uma linhagem (conjunto de descendentes) que ocupa uma zona adaptativa minimamente diferente à de qualquer outra linhagem, e que evolui separadamente de todas as outras linhagens. Eis aí três definições que abarcam causas genéticas, reprodutivas, ecológicas ou evolutivas. Discute-se ainda como aparecem as novas espécies. Atualmente, foram integradas também as contribuições da Biologia Molecular e apareceram definições mais abrangentes que podem ser aplicadas a organismos de reprodução assexuada. Definição de espécie por coesão: “A população mais abrangente de indivíduos que têm o potencial de coesão fenotípica através de mecanismos intrínsecos de coesão”. (Templeton, 1989). Há algumas décadas, Jay Gould propôs o modelo de equilíbrio intermitente ou pontuado. Segundo ele, na evolução ocorrem episódios de mudança brusca nos caracteres durante a especiação, seguidos por prolongados períodos de equilíbrio ou êxtase morfológico (evolução com êxtase e equilíbrio intermitente). Por outro lado, com o desenvolvimento da Biologia Molecular, verificou-se que muitas mutações que afetam às proteínas se acumulam gradualmente em função do tempo e eram, portanto, seletivamente neutras. Isto levou Kimura a postular sua Teoria Neutralista da Evolução. Isto conduziu à noção de “relógios moleculares” que permitem estimar o tempo transcorrido desde o último ancestral comum. Um novo campo da Biologia do Desenvolvimento, o estruturalismo (derivado da morfologia dos séculos XVIII e XIX), enfatiza a busca das regras epigenéticas, que emergem da estrutura e dinâmica do próprio organismo, independente do tempo. Este enfoque pode contribuir sobre as “novidades evolutivas” (Endler, 1986). Finalmente, as teorias evolutivas reúnem muitos campos de investigação e debate e isto pôde ser fundamental para se poder interpretar muitos dos fenômenos biológicos. INVARIÂNCIA REPRODUTIVA Jacques Monod definiu esta característica dos seres vivos como “a capacidade de reproduzir uma estrutura de alto grau de ordem”. O conteúdo de informação genética de cada espécie, transmitido de geração em geração, garante a conservação da norma estrutural específica. Cada espécie tem um projeto que corresponde a determinada quantidade de informação que deve ser transferida para que as estruturas orgânicas dessa espécie cumpram suas performances. Este fato é que determina a forte estabilidade de cada espécie dentro de um padrão específico. Nos organismos pluricelulares, cada célula possui a totalidade da informação genética. Esta reiteração assegura os processos de renovação permanente e a conservação do organismo. Teleonomia; hipótese sobre um projeto que deve expressar-se em diferentes performances. Os diversos órgãos e sistemas do organismo cumprem projetos particulares que formam parte de um projeto primitivo único: a conservação da espécie e sua multiplicação. 13 SELETIVIDADE: RELAÇÃO COM O AMBIENTE Os organismos vivos seguem linhas evolutivas diferentes, de acordo com as condições do ambiente. Podemos dizer que o ambiente é a estrutura do acaso. Enquanto algumas espécies se mantêm durante milhões de anos dentro do mesmo padrão estrutural, outras se modificam ou aumentam em complexidade. Há também espécies que fracassam em seu processo adaptativo e se extinguem. A proposta sustentada por Teilhard de Chardin, de que todos os organismos vivos tendem para um aperfeiçoamento evolutivo e que o universo se organiza en formas cada vez mais complexas e diferenciadas é, na atualidade, seriamente discutível. No entanto, é notório que algumas funções evoluíram aperfeiçoando-se poderosamente nos mamíferos superiores e, em especial, no Homem. Alguns biólogos sustentam que o processo evolutivo estaria fortemente influenciado pelo princípio da entropia, conforme a 2ª lei da termodinâmica. A capacidade dos seres vivos mais complexos, e em especial o Homem, de selecionar ou escolher, dentre os raros e preciosos incidentes do meio ambiente, aqueles que o integram ou o fazem evoluir, constitui uma espécie de “máquina do tempo” para utilizar a expressão de Monod, em que os seres vivos remontam (contrapõem) a força da entropia em um caminho ascendente antientrópico. Será tarefa do futuro investigar até que ponto a atividade criadora como essência do princípio existencial , o amor e a autodoação, o êxtase cósmico, a atividade poética, etc., são performances biológicas antientrópicas que tendem a uma biossíntese evolutiva. A evolução seletiva é, à margem do processo tecnológico, uma opção maravilhosa para os seres humanos. A “estrutura seletiva” individual conecta com o ambiente por meio de mecanismos de afinidade e rechaço, em uma dupla pulsação orgânica. Esta estrutura seletiva, bastante estável e gerada em parte pela aprendizagem, determina, em amplo espectro, as relações do indivíduo com seu meio. Segundo Francisco Varela, a relação com o ambiente não é por semelhança entre estruturas externas e orgânicas mas sim por coerência. DIFERENCIAÇÃO Dentro da forte estabilidade morfológica das espécies, nos surpreendem, não obstante, sua enorme diversidade. Os processos de diferenciação evolutiva constituem uma das mais extraordinárias expressões da condição polifacética e criadora da vida. Não somente uma espécie se diferencia de outra, mas cada indivíduo da mesma espécie apresenta fortes características diferenciais que o convertem em um indivíduo único, em um exemplar biológico singular. As variações individuais, dentro de cada espécie, se dão por permutação cromossômica e recombinação dos gametas, nos organismos de reprodução sexuada. Além disso, existe a mutação, que também gera variabilidade. O processo de diferenciação individual se acentua violentamente de acordo com as possibilidades de desenvolvimento que proporciona o meio ambiente e também pela seleção efetuada sobre os produtos do acaso. O crescimento do potencial humano pode ser extraordinariamente estimulado por sistemas de desenvolvimento e integração. A diferenciação evolutiva individual se produz pelo reforço e refinamento de certos impulsos. 14 MEMÓRIA Um dos fenômenos mais surpreendentes dos organismos vivos constitui-se no processo de codificação, decodificação, armazenamento e evocação de informações. Estas informações se estruturam quimicamente; toda aprendizagem é sempre uma modificação bioquímica do organismo. Existe aprendizagem cognitiva operacional, emocional afetiva e visceral. O instinto pode ser considerado como a memória da espécie, uma condição teleonômica destinada a preservar a vida. AUTORREGULAÇÃO Os seres vivos são sistemas autorregulados e suas funções automáticas se baseiam na perfeição de seus mecanismos de retroalimentação. Os sistemas homeostáticos considerados, em sentido amplo, como mecanismos de equilíbrios internos encarregados de conservar a unidade intraorgânica, são de altíssima precisão. Nos mamíferos superiores, e em especial no Homem, existem também sistemas não autorregulados que, com freqüência, interferem gravemente na unidade funcional. De algum modo, a autonomia do Homem, sua liberdade e capacidade de escolha, põem em alto risco sua sobrevivência. O desordenamento das regras ecológicas, produzido pela civilização, é um exemplo deste fenômeno. CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS DE ALGUNS PROCESSOS BIOLÓGICOS DA VIDA HUMANA 1- Impulso a Integrar Unidades Cada Vez Maiores. O ser humano manifesta desde criança o impulso a transcender os limites restritos de seu ambiente. Rompe assim os padrões naturais e busca integrar totalidades cada vez maiores, em uma espécie de afã de expansão sem limites na totalidade, impulso que culmina na experiência cósmica. Nestes estados de fusão com a totalidade, entram em atividade as áreas mais altamente evoluídas do cérebro e também as mais arcaicas. O sentimento de alegria epifânica, a elevação do humor, a qualidade poética e o êxtase caracterizam esta experiência. 2- Ressonância Permanente com a Origem Foram observados em alguns animais, e também no Homem, períodos regressivos que se sucedem com períodos de crescimento e maduração. No Homem, o impulso de regressar às origens foi observada pelos antropólogos em tribos primitivas. O “Eterno Retorno” é uma conduta registrada arquetipicamente nos mitos de renascimento e nas festividades agrícolas. A tendência a voltar à ordem primeva e reciclar os padrões biológicos originários, é uma constante em todos os povos. As cerimônias de transe e renascimento são manifestações deste impulso. O impulso a regressar às origens é solidário com o voltar ao estado fetal. 15 O ser humano, ao exercer sua autodeterminação, está em constante perigo de perder as chaves originárias da vida. A nostalgia de voltar às origens renova a força do projeto vital. 3- Surgimento da Identidade Um dos processos mais evolutivos do ser humano é o surgimento da consciência de si mesmo e a vivência comovedora de estar vivo. A meditação sobre o processo de identidade está, atualmente, em plena elaboração, apesar de que sua descrição filosófica tem mais de 2.500 anos de antigüidade. O tema da identidade será o núcleo central de reflexão da psicologia do futuro. A consciência de si mesmo como ser diferenciado, é solidária com a consciência da identidade dos objetos, tal como foi proposto por Piaget. Sem dúvida, a função da consciência tem uma raiz biológica e se estrutura sobre um fundo bioquímico em que a percepção se organiza com base em padrões de coerência, como se o mundo exterior encontrasse réplicas bioquímicas no organismo vivo e este organismo pudesse funcionar frente a essas réplicas. Daí em diante, geram-se infinitos planos potenciais de decisão e, mais ainda, o mais ambicioso e ousado de todos os propósitos: o autocontrole do processo evolutivo. A fase mais misteriosa da evolução da vida se relaciona com a percepção do significado do indivíduo frente a seu semelhante. Vale dizer que a consciência, por um processo desconhecido, dá-se conta da ressonância ancestral, descobre sua íntima relação com a matriz cósmica através de uma ressonância empática com outros seres vivos. Assim, o sentimento de comunhão humana pode constituir, talvez, o eixo secreto de um inconcebível processo evolutivo. EXISTE O PROGRESSO BIOLÓGICO? A proposição desta pergunta parece ser de uma extraordinária fecundidade. O conceito de evolução implica uma hierarquização dos seres vivos desde formas de organização inferiores até formas mais aperfeiçoadas. No entanto, não é fácil afirmar que houve um progresso ao longo do tempo, desde a ameba até o Homem. A mudança evolutiva não é, necessariamente, progressiva. E como afirma Francisco J. Ayala: “A evolução de uma espécie pode conduzir à sua extinção”. Evolução não significa progresso, mas transformação, desenvolvimento, sucessão de manifestações. O problema se coloca quando tentamos estabelecer em que direção se produz a mudança. Há mudanças que representam progressos e outras que só significam transformações direcionais. Para considerar um progresso biológico, teríamos que concordar em que a mudança teria um caráter de otimização. Ayala define o progresso como “mudança sistemática de pelo menos uma característica pertencente a todos os membros de uma seqüência histórica, de tal forma que os membros mais próximos do fim da seqüência apresentem um ‘aperfeiçoamento’ da característica em questão”. “O progresso biológico não requer que o aperfeiçoamento seja ilimitado. O progresso exige uma melhoria gradual dos membros da seqüência, mas o índice de progresso pode decrescer com o tempo.” (Ayala). Que critérios se utilizaria para definir o progresso biológico? Thoday propõe que o progresso é um aumento da aptidão para a sobrevivência. Esta definição foi considerada não operacionalmente válida. Segundo Thoday, os componentes que permitem a sobrevivência são: adaptação, estabilidade genética, flexibilidade genética, flexibilidade fenotípica e a estabilidade do ambiente. Não está claro de que maneira estes componentes poderiam ser integrados em um parâmetro unitário. 16 Kimura (1961) tentou definir o progresso evolutivo em relação ao aumento da quantidade de informação genética armazenada no organismo e decodificada pelo DNA do núcleo. Julian Huxley usou critérios axiológicos como “nível de eficiência”, que não aludem a parâmetros objetivos. Pensou-se que a capacidade de expansão e a diversificação da vida poderiam ser critérios apropriados de progresso biológico. De acordo com Simpson (1949), “na evolução como um todo, podemos encontrar uma tendência da vida para expandir-se, para abarcar todos os espaços disponíveis nos ambientes habitáveis, inclusive naqueles criados pelo próprio processo de expansão.” Os critérios de progresso evolutivo investigados por Simpson incluem: dominação, invasão de novos ambientes, substituição, aperfeiçoamento na adaptação, adaptabilidade e possibilidade de progresso futuro, aumento da especialização, controle sobre o ambiente, crescente complexidade estrutural, aumento da energia geral ou manutenção do nível dos processos vitais e aumento no âmbito e na variedade de ajustamento ao ambiente. Foi proposto também que o progresso biológico estaria em função da capacidade de obter e processar informações sobre o meio ambiente. Como vemos, os diferentes critérios propostos para definir a noção de progresso biológico, caracterizam-se por ser excessivamente redutivos ou mesmo tão diversificados que impossibilitam o estabelecimento de um parâmetro unificador. Em minha opinião, um critério extraordinariamente unificador seria o nível de Autonomia. Definição de Autonomia: seria a organização de um sistema independente dentro de um sistema maior, capaz de realizar ações diferenciadas conservando uma perfeita integração com o sistema maior. Um sistema autônomo possui uma unidade diferenciada dentro da unidade do sistema ao qual pertence. Os sistemas vivos poderiam ser ordenados considerando-se os níveis de autonomia, desde os mais simples até os mais complexos. Aparentemente, três sistemas asseguram o aperfeiçoamento do nível de autonomia: Em primeiro lugar, a existência de um sistema sensório-motor de alta eficiência, cujos circuitos de retroalimentação são de extraordinária plasticidade e precisão. Isto permitiria uma grande independência dos padrões de resposta frente ao meio. O segundo fator de autonomia é, ao meu modo de ver, o sistema imunológico, destinado a preservar a identidade biológica, diminuindo o risco aos perigos do meio ambiente. O terceiro fator de autonomia parece ser a consciência do semelhante, através de um mecanismo de identificação. Este processo é o que dá ao Homem sua força expressiva, autônoma e criativa. RELATÓRIO 3 1- Descreva os argumentos científicos que permitem afirmar que somos filhos das estrelas. 2- Nomeie as duas características essenciais dos seres vivos. 3- Defina o termo “Autopoiese”. 4- A vida é um produto do acaso ou de uma programação prévia? Enuncie argumentos a favor e contra. 17