UNIBAN – Universidade Bandeirante de São Paulo Matéria: Economia. Profª. Lúcia Fabiano 1º Semestre de 2008. ELASTICIDADE Cada produto tem uma sensibilidade específica com relação às variações dos preços e da renda. Essa sensibilidade ou reação pode ser medida por meio do conceito de elasticidade. Genericamente, a elasticidade reflete o grau de reação ou sensibilidade de uma variável quando ocorrem alterações em outra variável, coeteris paribus. Trata-se de um conceito econômico que pode ser objeto de cálculo a partir de dados do mundo real, permitindo-se, desse modo, o confronto das proposições da teoria econômica com os dados da realidade. O conceito de elasticidade representa uma informação bastante útil tanto para as empresas como para a administração pública. Nas empresas, a previsão de vendas é de extrema importância, pois permite uma estimativa da reação dos consumidores em face das alterações nos preços da empresa, dos concorrentes e em seus salários. Para o planejamento macroeconômico, a elasticidade é de igual importância, pois pode-se prever, da balança , por exemplo, qual seria o impacto de uma desvalorização cambial de 30% sobre o saldo da balança comercial, ou qual a sensibilidade dos investimentos privados a alterações na tributação ou na taxa de juros. Variações nos Preços e a Elasticidade da Demanda Todas as empresas sabem que, dada uma curva de demanda, a quantidade demandada será maior se baixarem os preços. Porém, se estes sobem, a quantidade demandada reduzirá. Uma informação de grande interesse às empresas é como as mudanças de preços afetam a receita total. O que os empresários querem saber é se as mudanças nos preços elevarão ou reduzirão a receita total, isto é, qual o resultado da multiplicação do preço pela quantidade vendida. Segundo o quadro abaixo, quando se reduz o preço de venda, passando de R$ 100,00 para R$ 80,00 a unidade, a quantidade demandada aumenta. De qualquer modo, o resultado para a empresa será muito diferente se estivermos no caso 1 ou no caso 2. Em ambas as situações, a quantidade demandada aumenta, porém no caso 1 a receita total diminui, enquanto no caso 2 a receita total aumenta em relação á situação inicial, na qual a empresa obtinha R$ 30.000,00. O sentido da variação da receita total, quando muda o preço, depende da “sensibilidade da quantidade demandada”. Isso se expressa por meio do conceito de elasticidade da demanda. 1 Quadro: Variação dos preços Preço R$ Situação inicial Situação final Caso 1 Caso 2 100 Quantidade Demandada (ou vendida) por dia 300 Receita Total por dia R$ 30.000 80 80 340 390 27.200 31.200 Elasticidade Preço da Demanda Elasticidade preço demanda é a resposta relativa da quantidade demandada de um bem X às variações de seu preço, ou de outra forma, é a variação percentual na quantidade procurada do bem X em relação a uma variação percentual em seu preço, coeteris paribus. Para calcular a elasticidade da demanda (Ed), pode-se utilizar a seguinte expressão: Elasticidade preço demanda = Δ% Quantidade Demandada Quantidade ______________________________ x 100 Δ% do Preço Preço Dado que a curva de demanda tem uma inclinação negativa, as variações de P e Q são no sentido contrário, pois o quociente da variação teria sinal negativo. Por isso, o valor da elasticidade geralmente é multiplicado por -1 para que se trabalhe com valores positivos. Além do mais, as variações estão expressas em porcentagem, pois a unidade em que o bem é medido não influi na elasticidade. Vamos aplicar essa fórmula para calcular a elasticidade da demanda de três empresas que vendem balas. Os quadros e os gráficos abaixo refletem, para dois valores reais de preço, a variação entre o preço das balas e a quantidade demandada de balas para cada uma das empresas, a partir dos quais se calcula o valor da elasticidade. Quadro: Elasticidade da demanda da empresa Balas Sul S/A Preço unitário das balas (R$) (P) 0,05 Quantidade Demandada (milhares de (unidades) (Q) 100 0,03 180 Variação percentual Da quantidade Demandada (ΔQ/Q x 100) 80 x 100 = 80% 100 Variação percentual do preço (ΔP/P x 100) Elasticidade da demanda (Ed) 0,02 x 100 = 0,40 0,05 80/100 = 2 0,02/0,05 2 Para o caso da empresa Balas Sul S/A, quando o preço das balas se reduz de R$ 0,05 a unidade para R$ 0,03, a quantidade vendida aumenta 80 mil unidades, passando de 100 mil para 180 mil unidades. Essas variações de preços e quantidades, aplicando a fórmula da elasticidade, nos dão uma elasticidade da demanda igual a 2. A demanda é elástica quando: ∆%Q > ∆%P Uma redução dos preços faz com que os consumidores consumam uma quantidade maior do bem do que a variação percentual do seu preço. Quadro: Elasticidade da demanda da empresa Balas Sufur S/A Preço unitário Das balas (R$) (P) 0,03 Quantidade Demandada (milhares de (unidades) (Q) 15 0,02 20 A demanda é unitária quando: Variação percentual Da quantidade Demandada (ΔQ/Q x 100) 5 x 100 = 33% 15 Variação percentual do preço (ΔP/P x 100) 0,01 x 100 = 33% 0,03 Elasticidade da demanda (Ed) 5/15 =1 0,01/0,03 ∆%Q = ∆%P Isso quer dizer que os consumidores, consumirão proporcionalmente mais de acordo com o aumento do preço. Quadro: Elasticidade da demanda da empresa Balas Ácidas S/A. Preço unitário Das balas (R$) (P) 0,05 Quantidade Demandada (milhares de (unidades) (Q) 100 0,04 110 A demanda é inelástica quando: Variação percentual Da quantidade Demandada (ΔQ/Q x 100) 10 x 100 = 10% 100 Variação percentual do preço (ΔP/P x 100) Elasticidade da demanda (Ed) 0,01 x 100 = 20% 0,05 10/100 = 0,5 0,01/0,05 ∆%Q < ∆%P Isso quer dizer que os consumidores, irão consumir uma proporção menor do bem, em relação a variação no seu preço. 3 Gráficos: Elasticidade da Demanda A demanda é elástica quando uma variação percentual do preço gera maior aumento percentual de quantidade, no gráfico igual a 2. A elasticidade da demanda é unitária quando uma redução percentual igual ao da quantidade, no gráfico b, Ed é igual a 1. A demanda é inelástica quando uma variação percentual do preço produz menor aumento percentual de quantidade; no gráfico c, Ed é igual a 0,5. Fatores que influenciam o grau de elasticidade preço da demanda Afinal, o que faz com que alguns bens tenham demanda elástica ou inelástica, isto é, que fatores explicam os valores obtidos para a elasticidade-preço da demanda? Disponibilidade de bens substitutos: quanto mais substitutos houver para um bem, mais elástica será sua demanda, pois pequenas variações em seu preço, para cima, por exemplo, farão com que o consumidor passe a adquirir seu substituto, provocando queda em sua demanda mais que proporcional à variação do preço. Nesse sentido, quanto mais específico mercado, maior a elasticidade. Ou seja, a elasticidade preço da demanda de guaraná será maior que a de refrigerantes em geral, pois existem mais substitutos para o guaraná do que para refrigerantes em geral. Na mesma linha, a elasticidade preço da procura da pasta de dente de mentol é maior que a de pastas de dente em geral. Essencialidade do bem: se o bem é essencial, será pouco sensível à variação de preço, terá, portanto, demanda inelástica. Importância do bem, quanto a seu gasto, no orçamento do consumidor: quanto mais importante o gasto referente a determinado bem (maior ponderação) em relação ao gasto total (orçamento) do consumidor, mais sensível torna-se o consumidor a alterações em seu preço (ou seja, a demanda é mais elástica). Por exemplo, a elasticidade preço demanda de carne tende a ser mais elevada que a de fósforos, já que o consumidor gasta uma parcela maior de seu orçamento com carne do que com fósforos. 4 Elasticidade da Demanda: Casos Extremos Os dois casos extremos que vamos considerar são: quando a demanda é perfeitamente inelástica e quando a demanda é perfeitamente elástica. A demanda é perfeitamente inelástica – isto é, sua elasticidade é zero – quando, ao variar o preço, a demanda não mostra nenhuma resposta na quantidade demandada. Na figura abaixo, aparece uma curva de demanda vertical, cuja elasticidade é zero. Quando uma pessoa diz: ”Tenho de conseguir a qualquer preço”, está afirmando que, para ela, a demanda do bem é perfeitamente inelástica. A elasticidade da demanda é infinita quando a curva da demanda é horizontal. Os indivíduos estão dispostos a comprar quantidades ilimitadas ao preço P0. Esse tipo de curva de demanda representa a situação que enfrenta uma pequena empresa em um grande mercado, onde nenhuma empresa pode influir nos preços. Se uma empresa deste tipo tenta cobrara mais que os demais vendedores, perderá todos os seus clientes. Porém, como é pequeno em relação ao conjunto do mercado, pode vender tanto quanto deseja produzir ao preço P0. A demanda é perfeitamente elástica, ou infinita, quando os compradores não estão dispostos a pagar mais que determinado preço, qualquer que seja a quantidade do bem. Gráfico: A elasticidade da demanda: casos extremos 5 Elasticidade da Demanda e a Receita Total A elasticidade preço da demanda é um conceito importante para os vendedores, porque lhes permite saber o efeito na receita total, dada uma mudança nos preços. Conhecendo a elasticidade preço de um bem, poderemos saber em que sentido varia a receita quando se faz o preço. Demanda elástica: a redução no preço do bem tenderá a aumentar a receita total, pois o aumento percentual na quantidade vendida será maior do que a redução percentual do preço (trata-se de um mercado em que os consumidores têm demanda bastante sensível a preços). Da mesma forma, um aumento de preço provocará redução da receita total. Demanda Inelástica: o raciocínio é inverso – aumento de preço provoca aumento da receita total, e redução de preço provoca diminuição da receita total. Demanda de elasticidade unitária: aumento ou redução no preço corresponde a igual percentual de variação na quantidade (em sentido contrário). Isso explica o comportamento de certos agricultores que preferem queimar ou destruir parte de suas colheitas, pois, dessa forma, conseguem elevar os preços de seus produtos e aumentar as receitas totais, uma vez que a demanda do produto agrícola pode ser inelástica. A receita total do produtor, que equivale ao gasto total dos consumidores, para uma dada mercadoria é igual a quantidade vendida vezes seu preço unitário de venda. RT = P x Q RT = receita total P = preço unitário; Q = quantidade vendida Dada uma variação no preço do produto, o que acontecerá com a receita total do produtor? Tal resposta dependerá da reação dos consumidores, isto é, do grau de elasticidade preço demanda. Incidência tributária e elasticidade preço da demanda Vimos que o recolhimento de impostos aos cofres públicos é feito pelas empresas, isso não significa que ela efetivamente pagará a totalidade do imposto, pois pode repassar parte do ônus para o consumidor final, via aumento de preços de seus produtos. Parece claro que: Quanto mais inelástica for à demanda do bem, maior será a proporção do imposto repassado ao consumidor e menor a parcela paga pelo produtor. O consumidor não tem muitas condições de diminuir o consumo do bem, provavelmente porque tem poucos produtos substitutos. Trata-se de uma característica mais comum em mercados em que a produção está concentrada em poucas empresas. Quanto mais elástica for à demanda do bem, menor será a proporção do imposto repassada ao consumidor e maior a parcela paga pelo produtor. Mercados com um número bastante grande de empresas produtoras costumam apresentar esse comportamento. 6 Elasticidade Renda da Demanda O coeficiente de elasticidade renda da demanda (Er) mede a variação percentual da quantidade da mercadoria comprada resultante de uma variação percentual na renda do consumidor, coeteris paribus. Er = Δ% Quantidade Demandada Δ% Renda do Consumidor Se a elasticidade renda da demanda (Er) é negativa, o bem é inferior, ou seja, aumentos da renda levam a queda no consumo desse bem, coeteris paribus. Se a elasticidade renda da demanda (Er) é positiva, mas menor que 1, o bem é normal, isto é, aumentos de renda levam a aumentos no consumo. Se a elasticidade renda da demanda (Er) é positiva e maior que 1, o bem é superior ou de luxo, ou seja, aumentos na renda dos consumidores levam a um aumento mais que proporcional no consumo do bem. Por exemplo: Er = 1,5 – um aumento da renda do consumidor de, digamos, 10% levará a um amento do consumo desse bem de 15%, coeteris paribus. É oportuno salientar que essa distinção não tem relevância para os consumidores mais pobres, para os quais não existem bens inferiores. Produtos mais sofisticados, como eletrônicos e automóveis, apresentam elasticidade renda da demanda superior a dos produtos básicos, como alimentos, que tem um limite fisiológico a seu consumo. Ou seja, se houver aumento da renda dos consumidores, eles não consumirão muito mais de arroz, feijão, açúcar do que já consomem, mas certamente gastarão em bens de consumo duráveis como TV, automóvel, microcomputador. Elasticidade preço cruzada da demanda O conceito é muito semelhante ao da elasticidade-preço, sendo que a diferença está no fato de que se quer saber qual a mudança percentual que ocorre na quantidade demandada do bem X quando se modifica percentualmente o preço do outro bem. Desse modo, a elasticidade-preço cruzada da demanda (Ec) mede a variação percentual na quantidade procurada do bem X com relação à variação percentual no preço do bem y, coeteris paribus. Ec = ∆% quantidade demandada do bem X ∆% no preço de um bem Y Se X e Y forem bens substitutos, Ec será positiva: um aumento no preço do guaraná deve provocar uma elevação do consumo de soda, coeteris paribus. Se X e Y forem bens complementares, Ec será negativa: um aumento no preço da camisa social levará a uma queda na demanda de gravatas, coeteris paribus. 7 Elasticidade Preço da Oferta O mesmo raciocínio utilizado para a demanda também se aplica á oferta, observando-se, no entanto, que o resultado da elasticidade será positivo, pois a correlação entre preço e quantidade ofertada é direta. Quanto maior o preço, maior a quantidade que o empresário estará disposto a ofertar, coeteris paribus. Eo = Δ% Quantidade Ofertada Δ% Preço do bem Tendo em conta sua semelhança com a elasticidade da demanda, comentaremos somente os casos extremos: A elasticidade da oferta é zero, isto é, a oferta é perfeitamente inelástica quando a curva de oferta é vertical. Nesse caso, a quantidade oferecida não aumenta independentemente da elevação do preço. Assim, por exemplo, a curva de oferta de quadros do pintor Portinari é perfeitamente inelástica> Tem uma quantidade fixa que não pode aumentar, mesmo que suba o preço. A elasticidade da oferta é infinita, isto é, a oferta é perfeitamente elástica quando a curva de oferta é horizontal. Nesse caso, os ofertantes estão dispostos a vender toda a quantidade que se demanda. Observações: Na oferta perfeitamente inelástica, a quantidade oferecida pelo ofertante será sempre a mesma, independente do preço. Na oferta perfeitamente elástica, o preço oferecido será sempre o mesmo, independente de quanto exista de demanda. 8 Exercícios: 1-A quantidade demandada de um determinado bem reduziu 60% quando o preço do bem aumentou 5%. Considerando estas informações, calcule a Elasticidade da Demanda e identifique o tipo de Curva da Demanda. 2– Assinale a opção correta: a) A elasticidade-renda da demanda de um bem normal é menor que zero. b) Uma elasticidade-preço cruzada da demanda menor que zero significa que os dois bens em questão são complementares. c) Uma oferta perfeitamente inelástica significa que qualquer variação no preço causa variações na quantidade ofertada. d) Todas as alternativas acima estão corretas. 3- Aponte a alternativa correta: a) Quando o preço aumenta, a receita total aumenta, se a demanda for elástica, coeteris paribus. b) Quando o preço aumenta, a receita total diminui, se a demanda for inelástica, coeteris paribus. c) Quedas de preço de um bem redundarão em quedas da receita dos produtores desse bem, se a demanda for elástica, coeteris paribus d) Todas as alternativas anteriores são falsas. 4 - Suponhamos os seguintes dados: P0 = preço inicial = R$ 20,00 P1 = preço final = R$ 16,00 Q0 = quantidade demandada inicial = 30 Q1 = quantidade demandada final = 39 a) Descubra qual é a elasticidade preço da demanda e explique o que acontece neste mercado. b) Trace o gráfico de acordo com os dados acima. 5 – Quando a demanda é perfeitamente elástica e perfeitamente inelástica? 6 – A incidência tributária é maior sobre quem quando o bem tem demanda elástica? Extraído dos livros: Introdução a Economia de Troster e Mochón; Fundamentos da Economia de Vanconcellos e Garcia. 9