FORÇAS DE DIFUSÃO M Filomena Botelho Força de difusão A variação do potencial químico é a força motora dos processos de difusão Quando temos um soluto não electrolítico, a força de difusão por mol de soluto é: dµ FD = dx Ou seja: A força por mole presente na difusão é igual ao gradiente do potencial químico (µ) segundo a direcção dos xx, vezes -1 Para soluções muito diluídas de concentração Cs, o potencial químico µ de um soluto é: µ = µ0 + RT ln Cs Constante que depende da pressão e temperatura µ0 = constante µ0 = µ0 (P, T) A dependência da pressão é pouco importante para os solutos, sendo contudo muito importante para o potencial químico da água É possível obter-se a 1ª lei de Fick, a partir da força de difusão, FD vCs 1 2 1 cm2 O tubo, com 1 cm2 de secção, contém uma solução com concentração molar de soluto de Cs, que se desloca com uma velocidade média vÉ suposto que não haja deslocamento de solvente Neste caso: - O número de moles de soluto que num segundo passa através da secção 1, é igual ao número de moles contido num cilindro de volume: • 1 x v- cm3 Sendo • 1 cm2 a área da base • v- a distância média percorrida pelas partículas durante 1 segundo Sendo assim: = A densidade de corrente de soluto é: v Cs Js = - Quando temos moléculas de soluto a deslocarem-se, sobre as moléculas de soluto actuam 2 tipos de forças – Força motora de difusão – neste caso, força de difusão por F partícula = f = D A – Força de fricção – ft – resultante do atrito com as moléculas do solvente O resultado da actuação destas forças, é pela equação fundamental da dinâmica: • f + ft = m . a Aceleração da moléculas do soluto ft – esta força de fricção, é uma força de atrito, que se opõe ao movimento da partícula do soluto, sendo o seu valor tanto maior quanto maior a velocidade da partícula ft = - K vNo caso particular de a partícula ser esférica, K toma o valor de: • 6 πη r η – viscosidade do meio r – raio da partícula No caso da situação ser estacionária no que respeita ao deslocamento das moléculas de solutos, a aceleração é nula Então, se a ≈ 0 ∴ f + ft = m . a f = - ft Ou seja: f = - K vforça de difusão a actuar por molécula ft = - K v f = - K vPor outro lado, é também importante o conceito de mobilidade molecular, u’: -v u’ = f Que representam a velocidade média das moléculas do soluto por unidade de força motora A mobilidade molecular u’, é uma constante que depende do: - soluto - solvente - temperatura Podemos então dizer que a densidade de corrente de soluto, é: Js = Cs v- u’ = = Cs u’ f = Cs u’ FD A Como: FD = - dµ dx Cs u’ Js = A dµ dx -v f -v = u’ f FD f= A Cs u’ Js = A dµ dx dµ dx Cs u’ Js = A RT Cs = d (µ0 + RT ln Cs) = dx RT Cs dCs dx dCs dx u’ RT dCs =dx A se: D= u’ RT A Então: Js = - D dCs dx 1ª Lei de Fick da Difusão TRANSPORTE DE IÕES M Filomena Botelho • As equações da difusão podem ser generalizadas e aplicadas a solutos iónicos • Comecemos por generalizar a soluções iónicas, a equação do potencial químico que aplicámos a soluções neutras • No caso de soluções iónicas, existem – Potencial químico – Potencial eléctrico • No caso de soluções iónicas, existem – Potencial químico – Potencial eléctrico ψ – energia potencial eléctrica / Coulomb de iões positivos (o número de Coulomb transportado por 1 mole de iões, depende da valência e do sinal dos iões) Zi – valência e sinal dos iões da espécie i exemplos: Cl- Na+ Ca++ -1 +1 +2 F = A . e – carga do electrão x nº Avogadro = 96 500 C = Faraday 1,6 x 10-19 X 6,023 x 1023 F . Zi – carga em Coulombs de 1 mole de iões i A energia potencial eléctrica de 1 mole de iões = F . Zi . ψ J/mol Carga eléctrica C (Coulomb) U.Es.Q. Coulomb é a quantidade de carga que passa por um condutor, durante 1 seg quando a corrente é de 1A A carga de 1 e = 1,602177x10-19 C Q=It 1 C = 2,998 x 109 U. Es. Q. ≈ 3 x 109 U. Es. Q. Unidade electrostática cgs de carga é a quantidade de carga que passa por um condutor, durante 1 seg quando a corrente é de 1 U. Es. I. O transporte de iões pode ser tratado da mesma maneira que o transporte de moléculas neutras. Assim: C u’ dµ ~ Js = - s Ci u’ dµ A dx Ji = A dx ~ dµ d (µ0 + RT ln Ci + F Zi ψ) 1 = RT = dx dx Ci Ji = - Ji = - Ci u’ A RTu’ A dCi dx + F Zi dψ dx Ci u’ RT dCi dψ F Zi Ci dx A dx Ci u’ dCi dψ F Zi A dx dx Equação de Nernst-Plank (forma simplificada e pouco rigorosa) Densidade de corrente eléctrica - Difusão • Carga eléctrica, que por segundo (unidade de tempo) atravessa a unidade de área, colocada normalmente à direcção da propagação - Ji O efeito produzido por cargas eléctricas positivas quando se deslocam num sentido, é igual ao produzido por cargas negativas que se deslocam em sentido contrário O sentido positivo da densidade de corrente eléctrica, é convencionalmente, o sentido do • deslocamento das cargas positivas (as cargas negativas deslocam-se em sentido contrário) A densidade de corrente eléctrica, para uma espécie iónica i, é • Ji = ρ v- ρ = densidade espacial de carga (carga por unidade de volume) v- = velocidade média dos iões Se considerarmos C a - concentração molar dos iões A densidade espacial de carga ρ é: -CFZ ρ=CFZ F = A . e = 96 500 C Z = carga e sinal dos iões Ji = ρ v- ρ=CFZ A densidade de corrente eléctrica, toma então outra forma: = Ji = C F Z v- Js Ji = Js F Z e pode ser considerada como: - densidade de corrente de difusão de soluto iónico Unidades Ji = Coulomb cm-2 s-1 Voltemos à equação anterior Ji = Js F Z Substituindo na equação, o valor de Js, vem Cs u’ Js = A dµ dx Cs u’ 1 dCs u’ RT dCs =RT =A dx dx Cs A D u’ RT Ji = A dCs FZ dx O sentido da densidade de corrente eléctrica, depende do sinal do ião MOBILIDADES M Filomena Botelho Mobilidades • Molecular u’ • Eléctrica u • Molecular u’ Moléculas neutras Já falámos de mobilidade molecular = Relação entre a • velocidade média de uma molécula, e a • força que actua sobre ela Quando falamos de iões, a mobilidade molecular é aplicável, mas é mais frequente o uso da - mobilidade eléctrica dos iões Mobilidade eléctrica – u Pode ser definida como: = a velocidade média dos iões por unidade de campo eléctrico u= -v E campo eléctrico - força que actua na unidade de carga positiva Consideremos um ião, com carga Zi.e = a força que actua sobre o ião, quando sujeito à acção do campo eléctrico E, é em módulo f = ∣Zi∣ e E Deste modo, como a mobilidade molecular é: = u’ = -v f -v = ∣Z ∣ e E i mas u= u’ = ∣Z ∣ueEE i = ∣Z ∣ue i u’ = u ∣Zi∣ e -v E Voltemos agora atrás, à expressão da densidade de corrente eléctrica u’ RT Ji = A dCs F Zi dx Podemos agora substituir a mobilidade molecular pela mobilidade eléctrica u’ = u RT Ji = ∣Zi∣e A Ji = - u RT ∣Zi∣ dCs F Zi dx dCs Zi dx u ∣Zi∣ e Densidade de corrente eléctrica correspondente à difusão de iões de carga Zi.e Densidade de corrente iónica em campos eléctricos Podemos considerar, como já vimos, que a densidade de corrente eléctrica para iões, que se deslocam com uma velocidade média ve que têm uma densidade espacial de carga ρ, como: Ji = ρ vSe os iões de deslocarem por acção de um campo eléctrico Como: • a concentração dos iões é Ci • a valência dos iões é Zi vem: Ji = Ci ∣Zi∣ F v - Ji = Ci ∣Zi∣ F u E -v = u E ∣Zi∣ - em módulo porque quando o campo eléctrico actua, provoca uma corrente que é sempre no sentido do campo Cargas positivas a deslocarem-se no sentido do campo Cargas negativas em sentido contrário Como o campo eléctrico está relacionado com o potencial eléctrico: E=- O gradiente de potencial eléctrico segundo a direcção x, corresponde à intensidade do campo segundo a mesma direcção dψ dx Podemos então dizer que: A densidade de corrente iónica produzida pelo campo eléctrico (ou pelo gradiente de potencial eléctrico) é: Ji = - Ci ∣Zi∣ F u dψ dx Densidade de corrente eléctrica iónica Coulombs cm-2 s-1 Adoptando um raciocínio semelhante ao que aplicámos para a difusão EQUAÇÃO DE NERSNT-PLANCK M Filomena Botelho Equação de Nernst-Planck • Equação que traduz a densidade de corrente eléctrica, quando sobre uma dada espécie iónica i, actuam simultaneamente – Forças de difusão – Forças eléctricas Densidade de corrente eléctrica, por acção de forças de difusão dCi u RT F Zi Ji = ∣Zi∣ A e dx u’ C Ji = A dµ dx F Zi Densidade de corrente eléctrica produzida por um gradiente de potencial químico Densidade de corrente eléctrica, por acção de forças eléctricas Ji = ρ v- -v = u E =ρ uE ρ = Ci F ∣Zi∣ Ji = Ci F ∣Zi∣ u E Em módulo, porque o campo eléctrico actua produzindo corrente sempre no sentido do campo: • cargas positivas – deslocam-se no sentido do campo • cargas negativas – deslocam-se no sentido oposto Ji = Ci F ∣Zi∣ u E Como a intensidade do campo segundo a direcção dos igual a: xx é - menos o gradiente de potencial eléctrico E=- dψ dx Então Ji = - Ci F ∣Zi∣ u dψ dx Densidade de corrente eléctrica produzida por um gradiente de potencial eléctrico Densidade de corrente eléctrica, quando actuam gradientes de potencial químico e eléctrico (forças de difusão e eléctricas) u’ Ci Ji = A u’ ( = - Ci A = - Ci ( u’ A dµ dx dψ ) F Zi + (- Ci F ∣Zi∣ u dx dµ F Zi + F ∣Zi∣ u dx dψ dx RT dCi F Zi + F ∣Zi∣ u dx Ci dCi u Zi + u Ci F ∣Zi∣ Ji = - ( RT ∣Zi∣ dx ) dψ dx dψ dx ) ) Equação de Nernst-Planck dCi u Zi + u Ci F ∣Zi∣ Ji = - ( RT ∣Zi∣ dx dψ dx ) Se para uma dada espécie iónica, existe equilíbrio através duma membrana, a: Ji = 0 e os coeficientes de partição forem iguais para ambos os lados da membrana, então: dψ RT 1 =dx F Zi Ci dCi dx dψ RT 1 =dx F Zi Ci dCi dx Integrando no interior da membrana, entre 0 e ∆x (espessura da membrana) vem: ψ(∆x) – ψ(0) RT = F Zi Ci (0) ln Ci (∆x) ou: ψ(∆x) = ψ(2) ψ(2) – ψ(1) = C1 RT ln F Zi C2 ψ(0) = ψ(1) Equação de Nernst EQUAÇÃO DE NERNST M Filomena Botelho Potencial electroquímico • Quando temos iões em solução, constituindo uma solução iónica, actuam dois tipos de forças: – Forças originadas pelo gradiente de potencial químico – Forças resultantes do gradiente de potencial eléctrico (os campos eléctricos actuantes, podem ser os campos das próprias cargas eléctricas) Neste caso (soluções iónicas) o potencial total ou electroquímico é a soma do: • potencial químico • energia potencial eléctrica por mole ~ µ i = µ0 + RT lnCi + F Zi ψ Ci = concentração da espécie iónica i Quando consideramos uma espécie iónica qualquer i, através de uma membrana celular, existe equilíbrio, ou seja, a densidade de corrente eléctrica dessa espécie iónica é nula Ji = 0 O potencial electroquímico da espécie iónica i nos dois lados da membrana é igual ~ µi i = µ~ie Esta igualdade tem a ver com o equilíbrio e não com o repouso µi0i + RT lnCii + F Zi ψii = µe0i + RT lnCie + F Zi ψie µi0i + RT lnCii + F Zi ψii = µe0i + RT lnCie + F Zi ψie F Zi (ψii - ψie ) = - RT ln RT ∆ψ = ψii - ψie = F Zi µi0i = µe0i Zi ∆ψ ln Cii Cie Cii Cie Equação de Nernst Para uma dada membrana, as condições de pressão e temperatura são supostamente as mesmas nos dois lados da membrana Carga e sinal do ião Diferença de potencial eléctrico que deverá existir através da membrana para que a relação Cii / Cie se mantenha O potencial eléctrico compensará a diferença de potencial químico, produzido pela diferença de concentração