o IDJ mostra a realidade do jovem brasileiro Lançado pela Unesco em março de 2004, o Relatório de Desenvolvimento Juvenil revela a situação social e econômica dos jovens brasileiros na faixa de 15 a 24 anos, com foco em três áreas centrais: educação (condições para o conhecimento), renda, estudo e trabalho (condições para um nível de vida digno) e saúde (condições para uma vida longa e saudável). As três áreas foram mapeadas a partir dos seguintes indicadores: taxa de analfabetismo entre os jovens; escolarização adequada; qualidade de ensino; taxa de mortalidade por causas internas e renda familiar per capita dos jovens. Esses cinco indicadores são combinados para estruturar índices parciais relativos às áreas de educação, saúde e renda além do índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ) - que representa um indicador geral da qualidade de vida e do grau de vulnerabilidade da população jovem. As principais conclusões dos relatórios da Unesco realizados nos últimos anos sobre o Brasil foram as seguintes: • A profunda desigualdade na distribuição de renda no país tem gerado formas muito diferenciadas de acesso dos jovens aos serviços sociais básicos, reforçando a vulnerabilidade especialmente entre os brancos pobres e os afrodescendentes e entre os residentes nas regiões Norte e Nordeste. • As limitadas condições, de acesso a uma educação de qualidade e ao mercado de trabalho ampliam os contingentes de jovens sem atividade definida. • Embora o país tenha registrado significativos avanços na redução do analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos em quase 75% das UFs [Unidades da Federação], as médias de anos de estudo não chegam aos 8 anos (e em algumas Unidades não atingem 5 anos). • Em decorrência da virtual universalização do ensino fundamental, vem aumentando significativamente a demanda por vagas no ensino médio e no ensino superior. Porém, a qualidade do acesso ao conhecimento é bastante precária: dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) apontam déficits significativos quanto às competências em leitura, matemática e ciências dos jovens de 15 anos. • Ao contrário do que ocorre com a população em geral, a mortalidade juvenil vem crescendo historicamente, sendo sua principal causa a violência. As dificuldades de acesso à qualificação profissional e ao mercado de trabalho ampliam a exposição dos jovens a situações de risco. Na fotografia, jovens detidos para identificação, em Porto Alegre (RS), por serem suspeitos de combinar brigas pela internet, em 2008. UNIDADE l-A nova ordem e a regionalização o número de adolescentes que buscam completar o ensino fundamental e médio aumentou, mas a média de anos de estudo no país ainda não chegou aos 8 anos. Na fotografia, jovens em escola técnica na cidade de São Paulo (SP), em 2007. do espaço mundial o ranking dos estados brasileiros, segundo o IDJ e os índices parciais, pode ser observado na tabela abaixo. O índice varia de O a I, sendo que, quanto mais próximo de zero, piores as condições de vida dos jovens. Veja o resultado do Relatório de Desenvolvimento Juvenil realizado em 2007. Unidade da Federação IDJ Educação Saúde Renda SC 0,647 0,769 0,681 0,492 DF 0,666 0,80 I 0,554 0,643 RS 0,616 0,752 0,667 0,429 SP 0,626 0,715 0,686 0,476 PR 0,552 0,694 0,551 0,412 MG 0,567 0,703 0,652 0,347 GO 0,551 0,651 0,639 ----0,467 -- - - 0,712 0,548 RJ -'-- - MS t + 0,536 _-+-_0_,6_73_ - - 0,620 0,523 MT ES 0~1_8 _ RN 0,469 - --+--- t 0,461 1_ 0,372 0,605 0,343 ~~_ 0,718 0,229 0,618 0,272 0,611 0,234 0,595 0,661 0,311 0,694 0,673 0,202 0,639 0,203 ---+---- -- TO 0,489 AP 0,508 0,577 RO 0,522 BA 0,473 0,522 0,429 0,426 -0:678 -!-- ------ 0,463 ~,667 --I-- _0~3~ --+----+ MA 0:.:'63 _ 0,357 . - T - 0,189 !-- I-- t-- CE ~8 ~3~_ -l- PA AM SE 0,438 0,517 O,5~_ _ ?:229 0,474 0,519 0,632 0,271 0,474 0,561 0,619 0,243 --1'- 0430 PI -RR -- -- q-4-0~26- AC P~ - - ~,~ 0,460 PE 0,394 Al 0,367 - -- 0,486 0,581 0,622 -o,6iõ 0,476 0,548 0,675 0,555 0,213 0,276 0,488 0,479 - - -- 0,359 I - 0,564 0,224 -0.287 . 1 0,216 1 0,178 latino-Americana (RITlA). Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2007. Obtido em: <www.ritla.net>. Acessado em: 25/08/2009. Rede de Informação Tecnológica As origens históricas do desenvolvimento e do subdesenvolvimento A análise periódica de indicadores socioeconômicos, como o IDH, tem tido grande importância para detectar tanto o nível de desenvolvimento quanto as profundas desigualdades socioeconômicas que separam os países ricos e industrializados do Norte dos países pobres e tecnologicamente atrasados do Sul. Mas como se pode explicar a existência de desigualdades tão acentuadas? Qual seria a origem do desenvolvimento e do subdesenvolvimento das nações? Para responder a essas questões, devemos recorrer mais uma vez à história do modo de produção capitalista no mundo. CAPíTULO 4 - A regionalização do espaço geográfico mundial Vimos no capítulo I que durante as fases do capitalismo comercial e industrial, entre os séculos XV e XIX, estabeleceram-se as bases da relação de dominação e de dependência entre as metrópoles europeias e suas colônias na América, na África e na Ásia, reveladas especialmente por meio da Divisão Internacional do Trabalho (DIT). As metrópoles mercantes (Inglaterra, Bélgica, Holanda, Espanha e Portugal, entre outras) passaram a explorar os recursos econômicos que havia nas colônias, sobretudo minérios, especiarias e produtos agrícolas tropicais. Dessa maneira, as metrópoles enriqueceram à custa da exploração das riquezas retiradas de suas colônias, o que permitiu, por exemplo, a acumulação de capital suficiente para impulsionar a atividade industrial e a revolução das técnicas que ocorreria a partir de então. Tal fato colocou essas nações na vanguarda do desenvolvimento econômico, tecnológico e social, posição que mantêm até os dias atuais. As colônias, por sua vez, permaneceram durante séculos sob o domínio político e econômico das metrópoles, exportando matérias-primas e importando produtos manufaturados. Mesmo depois do processo de independência, a maioria delas - com exceção de Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia - continua dependente dos países desenvolvidos ou das antigas metrópoles. Assim, podemos dizer que o desenvolvimento e o subdesenvolvimento são processos relacionados à história do capitalismo e da divisão internacional do trabalho por ele imposta. ~ ., i >- ~ .JII..: 8: ~ ~ L? ____ A economia de muitos países africanos ainda tem como base a exportação de produtos agrícolas primários para os países europeus. Na fotografia acima, vemos membros de uma comunidade rural trabalhando na colheita do cacau, na Costa do Marfim, no ano de 2007. O cacau é um dos principais produtos de exportação desse país africano, antiga colônia francesa. Como interpretar o mundo desenvolvido e o subdesenvolvido Nas páginas anteriores, examinamos vários elementos (dados estatísticos, informações históricas, etc.) utilizados na classificação dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Cabe lembrar que toda caracterização regional deve ser analisada de forma cuidadosa, ou seja, devemos relativizá-Ia para ter uma visão realista do mundo atual. UNIDADE 1- A nova ordem e a regionalização do espaço mundial Ainda que os países desenvolvidos constituam um conjunto com certa homogeneidade no que se refere aos aspectos socioeconômicos - são altamente industrializados e a maior parte de sua população usufrui de uma excelente qualidade de vida -, vários deles vêm enfrentando sérios problemas sociais, como a violência urbana, o desemprego e a pobreza. Os Estados Unidos, por exemplo, dispõem da economia mais desenvolvida do mundo, de um complexo parque industrial, de um amplo setor de serviços e de uma atividade agrícola altamente mecanizada e moderna. Contudo, cerca de 13,6% da população do país (aproximadamente 39,5 milhões de habitantes) vive com menos de II dólares por dia, o que configura, nessa sociedade, uma situação de pobreza. Na França, um dos países europeus com melhor qualidade de vida, os índices de desem,/ ,,prego são alarmantes desde a última década A fotografia, de 2007, mostra um morador de rua (algo em torno de 12% de sua PEA), problema dormindo próximo à praia em Los Angeles, cidade presente também em países como a Espanha e famosa por abrigar milionários e estrelas de Hollywood. Calcula-se que vivam atualmente nas a Itália. grandes cidades dos Estados Unidos centenas de Nesses países, porém, o Estado ainda tem milhares de homeless, como são chamados os semcondições de desenvolver políticas sociais, ga-teto norte-americanos. rantindo, entre outros benefícios, alimentação gratuita e salário-desemprego a fim de amenizar o impacto desses problemas na sociedade em épocas de crise. Condição um pouco diferente, porém, é a dos países ex-socialistas com economia em transição. Observando novamente os dados do mapa da página 67, podemos verificar que o IDH desses países, sobretudo o da Rússia, o dos membros da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e o dos países da antiga Europa Oriental, varia de médio a alto, valores que correspondem a uma situação de desenvolvimento. Essa característica possivelmente é um reflexo do período em que essas nações se desenvolviam sob uma economia socialista planificada, pela qual uma parcela significativa da população desfrutava de uma qualidade de vida razoável, com acesso a alimentação saudável, moradia digna e educação de qualidade, com possibilidade de ingresso em escolas de ofício e universidades. Contudo, essas nações têm enfrentado diversas dificuldades no processo de transição de uma economia estatal planificada para o sistema capitalista, passando por uma crise econômica generalizada, que acarreta desemprego, inflação, endividamento externo, concentração da renda e empobrecimento de grande parte da população, problemas que a princípio são considerados típicos do subdesenvolvimento. No grupo dos países subdesenvolvidos, também encontramos realidades socioeconômicas bastante diversas. Existem nações com economia baseada essencialmente em atividades agrícolas e extrativo-minerais (como Peru, Equador, Angola, Moçambique, Vietnã e Filipinas) e que, por isso, são altamente dependentes das exportações de produtos primários e da importação de manufaturados provindos, em geral, das nações mais ricas. O PIS desses países é baixo em relação ao daqueles com economia mais desenvolvida, o que acaba afetando a renda per capita e, consequentemente, o padrão de vida de seus habitantes, que em sua maioria vivem em condições de extrema pobreza. CAPíTULO 4 - A regionalização do espaço geográfico mundial Essa realidade diferencia-se bastante da que é encontrada nos países subdesenvolvidos de industrialização tardia, sobretudo em termos econômicos. Essas nações industrializaram-se a partir da metade do século XX, edificando economias vigorosas que atualmente se equiparam em muitos aspectos às dos países desenvolvidos. Esse é o caso de países como Brasil, México, Turquia, África do Sul e índia. Porém, a modernidade proveniente do processo de industrialização não eliminou os traços de pobreza, tendo, na realidade, acentuado ainda mais as desigualdades sociais. Existe ainda outro grupo de países subdesenvolvidos, cujo processo de industrialização ocorreu muito recentemente, a partir do final da década de 1970 e durante a década de 1980. São os chamados Tigres Asiáticos - Coreia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Cingapura, Malásia, Indonésia e Tailândia. A economia desses países, localizados no Leste e no Sudeste Asiático, passou por uma rápida modernização por meio da fabricação, sobretudo, de produtos de alta tecnologia, a custos muito baixos. O desenvolvimento econômico permitiu que esses países superassem alguns problemas ligados ao subdesenvolvimento, aumentando, por exemplo, a expectativa de vida da população, a oferta de postos de trabalho e as oportunidades de qualificação da mão de obra por meio de investimentos nas áreas da saúde e da educação. Contudo, permanecem altamente dependentes do capital internacional e das exportações de produtos manufaturados para os países desenvolvidos. Como é possível perceber, as regiões, ainda que analisadas pelo enfoque de determinadas generalizações, apresentam realidades bastante diversas. ;"'""l:II __ - Grandes investimentos do Estado em educação fizeram que os índices de analfabetismo decrescessem rapidamente , na maioria dos países J conhecidos como Tigres Asiáticos. Na fotografia, aula informatizada em uma escola da Coreia do Sul, em 2009. (