Senhor Presidente, Senhoras Deputadas, Senhores Deputados, Desejo tratar, neste instante, de um tema a respeito do qual muitos dos que aqui estão têm mais experiência, estudo e competência, mas sobre o qual não pode se omitir nenhum brasileiro, muito menos nós, parlamentares, eleitos e eleitas para defender os interesses do povo brasileiro: é a AIDS, a terrível doença contra a qual muito vem se fazendo, e felizmente vitórias têm se conquistado. No próximo dia 1º de dezembro comemora-se o Dia Internacional de Luta contra a AIDS, e o momento é mais que apropriado à reflexão e à união de esforços contra a doença. A AIDS foi reconhecida pela primeira vez em meados de 1981, nos Estados Unidos, a partir da identificação de um número subitamente elevado de pacientes adultos, do sexo masculino, homossexuais e residentes em Nova York e São Francisco. Eles apresentavam doenças extremamente raras e só observadas em pessoas com níveis de defesa e imunidade extremamente rebaixados. Surgiu a hipótese de se tratar de uma doença nova, infecciosa, transmissível e com características virais, segundo o médico Caio Rosenthal, infectologista do Instituto de Infectologia do Hospital Emílio Ribas, do Hospital do Servidor Público Estadual e do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em artigo escrito para a revista Dr!, do Sindicato dos Médicos de São Paulo. Já se passaram quase 22 anos, e mais de 25 milhões de pessoas morreram de AIDS. Para termos uma idéia da gravidade dessa doença, somente nos Estados Unidos morreram mais pessoas que a soma de todos os norte-americanos mortos na Primeira e Segunda Guerra Mundiais. 1 A primeira vitória contra a aids foi observada no início de 1996, com a disponibilidade de novas drogas, mais potentes e em uso combinado. Observou-se pela primeira vez reversão na curva de óbitos. Os números começaram a cair. O mesmo foi observado na Europa e no Brasil, locais nos quais o acesso aos medicamentos é facilitado. Segundo o mesmo médico, no Brasil as estatísticas são um pouco menos confiáveis, dificuldades na entretanto, haver inclusive notificação entre dos nós em casos cerca conseqüência de de aids. 600 de as Acredita-se, mil pessoas contaminadas pelo vírus (portadores), pelo menos até o início de 2002. Hoje, a AIDS se apresenta como um fenômeno global, dinâmico e instável, atingindo todos os países do planeta. Cerca de 40 milhões de pessoas no mundo estão carregando o vírus consigo, e diariamente 6 mil pessoas, de 15 e 24 anos, são infectadas. Em 2002, 5 milhões de pessoas se contaminaram e 3,1 milhões morreram de AIDS. Parabenizo o Ministério da Saúde pela originalíssima campanha publicitária em favor de que todos façam o teste de AIDS, especialmente aqueles que, segundo o texto, (abre aspas) “tiveram relação sexual sem camisinha”. A publicidade mostra as pessoas, de diversas faixas etárias, carregando um piano nas costas, ou seja, o peso da dúvida, da incerteza. Um peso que somente é retirado quando se faz o teste e se obtém o resultado negativo. Lembra o médico infectologista que a grande preocupação mundial em relação à AIDS é justamente fazer chegar o tratamento aos países do Terceiro Mundo com custo pelo menos acessível. Embora os preços dos remédios tenham caído, na África inteira, por exemplo, apenas 50 mil doentes a eles têm acesso. Em contrapartida, 2 no Brasil quase 120 mil pessoas receberam medicação inteiramente gratuita até início do ano de 2002, e hoje há um número muito maior. Com isso, houve uma redução de 7,5 vezes na taxa de hospitalização, resultando em uma economia na ordem de 1,1 bilhão de dólares no período de 1997 a 2001. O gasto com os medicamentos foi de cerca de 235 milhões de dólares. Infelizmente, têm acesso aos medicamentos, no mundo, apenas 4% do total de pessoas que deles necessitam. Os remédios não conseguem eliminar o vírus, mas retardam o seu desenvolvimento, dando aos pacientes uma longa perspectiva de vida. Tornam uma doença crônica perfeitamente administrável. É importante deixarmos registrado aqui o sucesso da política brasileira de combate à aids, a partir de uma longa luta de ativistas médicos e não médicos, pessoas extremamente capacitadas e dispostas, com o apoio da sociedade civil e das organizações não governamentais. E quando se consegue vencer, batalha a batalha, uma verdadeira guerra, tão dramática, tão inóspita, tão difícil, o importante é que ela seja continuada, neste e em outros governos que virão. Essas pessoas e instituições conseguiram tornar o exemplo da experiência brasileira na prevenção e no acesso gratuito e universal a todas as drogas anti-HIV um exemplo aplaudido no mundo inteiro. Uma dessas ONGs que se dedicam à luta cotidiana pela vida, pela alegria, pela saúde de homens e mulheres, e especialmente das crianças, chama-se Cefran (Centro Franciscano de Luta contra a Aids). Lá, no bairro do Belém, em São Paulo, fala-se em vida, vive-se a vida, não há tempo para se pensar em tristezas. Na verdade, são dois: o Cefran, para adultos, e o Cefranzinho, o Centro Franciscaninho. Os números são fortes: o Cefranzinho existe há um ano e atende a cerca de 100 crianças, semanalmente; 20% das crianças 3 são portadores do vírus. As demais, não portadoras, convivem com portadores. O Cefran, que existe há mais tempo (foi criado em 1994), chega a atender, também semanalmente, a cerca de 350 adultos. E há uma fila de espera de 80 pessoas. Era maior, passava de 100. Desses 350, 100% são pobres, não têm nenhuma renda, trabalhavam sem carteira assinada. O incansável coordenador da casa chama-se Odonel Ferrari Serrano, é psicólogo, e há nove anos trabalha no Cefran, sendo há um ano o coordenador. As sextas-feiras são dedicadas às visitas domiciliares. Acontecem quando os portadores não têm condições físicas de se deslocar à sede do Cefran. Todo esse trabalho começou no porão da Igreja São Francisco, no centro da cidade, e era destinado somente aos adultos. Com a pauperização da epidemia, os franciscanos sentiram a necessidade de ampliar o espaço. Daí, a casa no Belém, que já funciona há dois anos. O Cefran oferece atividades que envolvem quatro faces do ser humano: a social, incentivando-os a exercerem a cidadania; a psicológica e emocional; a espiritual; e o desenvolvimento das artes e da cultura. Um dos objetivos do Cefranzinho e do Cefran é todas as atividades produzirem solidariedade, cooperação e não-violência. Por tudo isso, por toda essa luta, deixo registrados os meus cumprimentos, os meus parabéns e os meus sinceros desejos de que essa luta seja cada vez menor, ou seja, que o acesso à ciência, à alimentação, à saúde, à prevenção, aos medicamentos, tudo isso faça com que assistamos, felizes e agradecidos a Deus, a diminuição do número de portadores do vírus HIV em todo o mundo. Deputado Vicentinho 4 5