universidade regional do noroeste do estado do rio grande

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO
ESCOLA E DIFERENÇA: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES
ADRIANE MÜLLER DE QUADROS
IJUÍ (RS)
2015
ADRIANE MÜLLER DE QUADROS
ESCOLA E DIFERENÇA: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de Licenciatura em Pedagogia, da
Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul (UNIJUI), como
requisito parcial à obtenção do Grau de
Licenciatura em Pedagogia.
Orientadora: Professora Ms Daniela Medeiros
IJUÍ (RS)
2015
A Banca Examinadora abaixo-assinada aprova a Monografia:
ESCOLA E DIFERENÇA: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES
Elaborada por
ADRIANE MÜLLER DE QUADROS
Como requisito parcial para obtenção do Grau de Licenciada em Pedagogia
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________
Professora Ms. Daniela Medeiros
Orientadora
___________________________________________
Professora Ms. Marta Estela Borgmann
Banca Examinadora
IJUÍ (RS)
2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que me concedeu saúde e tem me dado
sabedoria e força para superar os obstáculos e desafios da vida, e, sobretudo, pela
oportunidade que está dando-me de concluir mais uma etapa em minha vida.
E о qυе dizer а você Prof.ª Daniela? Obrigada pеlа paciência, pelo incentivo,
pela força е, principalmente, pelo carinho. Valeu а pena todo sofrimento, todos os
medos. Valeu а pena tudo isso. Hoje estamos colhendo, juntas, os frutos dо nosso
empenho!
Aos professores em geral e, em especial, a professora e coordenadora
Eulalia Beschorner Marin, que foram os nossos guias durante a minha formação.
Sou grata a algumas pessoas que me são mais próximas, e cujo apoio direto
e afetivo foi de todo imprescindível, e também outras que em vários lugares e
situações fizeram parte do meu percurso, contribuindo para a concretização da
minha formação. São eles: os meus pais, as minhas irmãs, os meus amigos e
colegas e a minha família de um modo geral.
Ao meu marido, sempre companheiro, que me incentivou nesta caminhada.
Quero agradecer, também, a minha filha Fernanda que sempre de uma maneira
especial me iluminou.
A todos vocês meu muito obrigado.
Dedico este trabalho à minha família, base da minha vida.
À professora Daniela, pela orientação segura e por
acreditar neste trabalho.
“Por mais que invistamos em criar identidades, as diferenças nos escapam e
brincam neste espaço estriado como se fosse vazio, liso, um imenso e plano
gramado... A diferença brinca conosco, livremente e sem regras, como crianças
brincam alegres no campo” (GALLO, 2011, p.222).
RESUMO
O presente estudo trata sobre as concepções dos professores a respeito das
diferenças e teve como norteamento uma entrevista realizada com quatro
professores que atuam em escolas de educação básica. A pergunta norteadora da
pesquisa e entregue aos colaboradores foi: “Como você compreende e percebe as
diferenças na escola?” A partir disso, o objetivo da pesquisa foi compreender os
entrelaçamentos entre os conceitos de escola e diferença por meio dos discursos
dos professores. Busca compreender algumas concepções acerca da diferença a
fim de, posteriormente, compreender e, talvez, problematizar, como ela é vista, os
modos que ela se processa, e como ela é entendida no interior da escola,
especialmente através dos discursos dos professores. Neste sentido, a partir de tal
problemática e da análise das respostas dos referidos colaboradores, pude constatar
que tal temática ainda se faz sob muitos desafios. Desafios estes de ter/criar
estratégias de um ensino diversificado, valorizando e respeitando as diferenças, de
modo que possam realizar efetivamente a inclusão e não somente a integração de
todos os alunos. Por este motivo tornar-se uma escola realmente inclusiva, que
valoriza as diferenças, é um grande desafio para muitas escolas, e isto só pode ser
efetivado com a colaboração ativa dos professores envolvidos neste processo.
Finalmente, pude perceber que alguns professores ainda vinculam o termo diferença
à deficiência, inclusão e AEE, trazem também a questão da negação e da
padronização, lutas contra as formas de desigualdade e discriminação, direitos de
igualdade. Outros, por sua vez, parecem demonstrar uma preocupação com uma
educação multicultural por se tratar de diferentes culturas encontradas no espaço
escolar.
Palavras-chaves: Concepções de professores; Diferenças; Escola.
ABSTRACT
This study is about the teachers ' conceptions about the differences and providing
guidance an interview held with four teachers who work in schools of basic
education. The guiding question of research and delivered to developers was: "As
you understand and realize the differences in school?" From this, the objective of the
research was to understand the interlinks between the concepts of school and
difference through the speeches of teachers. Tries to understand some concepts
about the difference in order to later understand and, maybe, questioning, as she is
seen, the kind she is, and how it is perceived within the school, especially through
the speeches of teachers. In this sense, from such problems and the analysis of the
responses of those employees, I was able to see that such a subject still under many
challenges. These challenges have/create a diverse teaching strategies, valuing and
respecting the differences, so that they can perform effectively the inclusion and not
only the integration of all students. For this reason become a truly inclusive school
that values differences, is a great challenge for many schools, and this can only be
accomplished with the active collaboration of the teachers involved in this process.
Finally, I could see that some teachers still link the term difference to disability,
inclusion and ESA, bring the issue of denial and the standardization, fights against
the forms of inequality and discrimination, equality rights. Others, in turn, seem to
demonstrate a concern for multicultural education by dealing with different cultures
found in the school space.
Key words: conceptions of teachers; Differences; School.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 10
1 OS MOTIVOS E CAMINHOS QUE COMPÕEM A PESQUISA ............................................... 12
2 AS DIFERENÇAS NO ÂMBITO ESCOLAR .............................................................................. 14
2.1 Algumas concepções acerca da diferença .................................................................... 14
2.2 Escolas: De que lugar estamos falando? ...................................................................... 16
3
CONCEPÇÃO
DE
DIFERENÇA
NA
ESCOLA:
OUVINDO
AS
FALAS
DOS
PROFESSORES ................................................................................................................................ 19
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 25
10
INTRODUÇÃO
As discussões que interpelam a escola, nos tempos atuais, têm girado em
torno dos diferentes sujeitos que a constituem, dentre eles aqueles que chamamos
de “diferentes”. É a partir de tal conceito (diferenças) que busco discutir a temática
das diferenças e das questões que nos permitam pensar sobre elas.
Aí, as discussões, problematizações e pesquisas em torno do assunto se
tornam relevantes, sobre os sujeitos e sobre os discursos que os constituem e nos
constituem. A diferença é uma relação social, que está longe de ser simétrica, e sua
peculiaridade depende das ações do sistema de ensino. Para tanto, a aposta é que
aquilo que se apresenta como diferente não seja entendido/percebido como um
estado indesejável, mas, talvez, como uma variação do mesmo.
Estas questões de diferença estão no centro de muitas discussões,
principalmente no âmbito educacional. Partindo desse pressuposto, a educação se
organiza apoiada em discursos que criam e recriam a fim de naturalizar relações de
poder que vão se estabelecendo a partir do estranhamento pelas diferenças. Essas
diferenças nos produzem efeitos, ao mesmo tempo em que são subjugadas pela
cultura e pelo âmbito escolar.
Todavia, como a escola está tradicionalmente fundamentada na hegemonia,
a questão da aceitação e prática da diferença fica comprometida, gerando o
preconceito devido à dificuldade que as pessoas têm em aceitar as diferenças dos
outros, resultando num sentimento de intolerância. As diferenças podem, assim, ser
marcadas somente em um sujeito ou em um grupo, pobres, negros, sábios, etc. No
geral, acreditamos que a diferença está no outro, naquele que se diferencia de nós,
ou mesmo que se distancia da normalidade.
Neste sentido, a elaboração deste trabalho baseia-se, especialmente, a partir
de um problema maior: Que concepções de diferença constituem os professores da
educação básica? Junto ao referido problema busco compreender as concepções
acerca da diferença de professores da educação básica, e, assim, problematizar
como suas concepções (sobre diferença) interferem nas suas práticas docentes.
Na direção de tais objetivos, este trabalho se constrói a partir de uma
pesquisa desenvolvida dentro de um contexto escolar. Nesta perspectiva, faz-se
11
necessário problematizar os aspectos relacionados às atitudes e comportamentos
dos professores no seu dia-a-dia escolar.
Esta pesquisa foi desenvolvida com quatro professoras da educação básica
da rede municipal de um município do noroeste do estado do RS. Para isso, foram
realizadas entrevistas, de modo a levantar opiniões dos mesmos a respeito do
objetivo lançado. Entrevistas são fundamentais quando se precisa/deseja mapear
crenças, valores e falas/pensamentos dos educadores. As entrevistas foram
deixadas e transcritas e os seus nomes foram preservados (fictícios). A pesquisa
insere-se nas opiniões e contribuições para a análise de suas concepções acerca da
diferença na perspectiva do âmbito escolar.
Finalmente, o trabalho se organiza em três capítulos, que seguem após os
escritos introdutórios. O primeiro capítulo, intitulado “Os Motivos e Caminhos que
compõe a Pesquisa” busca explanar algumas explicações acerca da escolha pela
realização desta pesquisa, bem como as escolhas metodológicas feitas. O segundo
capítulo, intitulado “As Diferenças no Âmbito Escolar”, subdivide-se em dois
momentos, os quais buscam problematizar o conceito de diferença, de escola e os
entrecruzamentos entre estes conceitos. O terceiro capítulo, “Concepção de
diferença na escola: ouvindo as falas dos professores”, por sua vez, traz as
entrevistas realizadas com os professores da rede municipal. Finalmente, trago as
considerações finais e a bibliografia como parte integrante desse trabalho.
12
1 OS MOTIVOS E CAMINHOS QUE COMPÕEM A PESQUISA
O trabalho realizado discorre sobre concepções de diferença no âmbito
escolar. Tal proposição se constitui pela hipótese, inicial, de que o atual sistema
educacional homogeneíza os alunos ao criar um padrão de aluno ideal e, aí, as
concepções dos docentes acerca da diferença se tornam relevantes e com
possibilidade de análise e problematização.
Compreendo que a comunidade escolar é um dos locais onde as diferenças
se constituem, se apresentam e se desdobram, isto porque nela encontramos uma
diversidade humana, (alunos, professores, órgãos administrativo, funcionários e
demais pessoas) cada um com os seus hábitos, costumes e crenças diferentes.
Entretanto, o desafio que se coloca a escola face as diferenças consiste, sobretudo,
em adotar estratégias e medidas no sentido de compreender a diferença a partir
dela mesma, sem comparabilidades ou estabelecimento de normas.
Este tema durante a minha graduação sempre me instigou por ser cada dia
mais pertinente, pois, falar de diferenças no contexto escolar não constitui um
fenômeno novo, e, como sabemos, as diferenças são inerentes ao ser humano.
Todos nós somos diferentes e, portanto, falar de diferença é falar do coletivo, e no
meio desse coletivo encontramos muitas diferenças individuais.
Parte-se do pressuposto que a vida cotidiana é heterogênea, e o homem já
nasce inserido em sua cotidianidade. Com o amadurecimento, ele adquire todas as
habilidades para a vida cotidiana da sociedade. A partir disso e das motivações
surgidas durante o percurso da graduação, trago, para compor esta pesquisa,
alguns autores importantes e que foram bases para a composição do meu trabalho.
Sendo eles: CORAZZA (2006), LOPES; ROOS (2007) e GALLO (2011). Autores que
se preocuparam com as concepções de diferenças que são encontradas nos
diferentes níveis de escolaridade.
Por acreditar que a diferença faz parte da vida de todas as pessoas e
principalmente da vida escolar, escolhi o tema diferença como eixo central desta
pesquisa. Tema esse, de múltiplas interpretações, as quais podem ser trazidas para
análise e reflexão.
O grupo de professores escolhido como colaboradores da pesquisa trabalha
na rede municipal de ensino. A escolha por estes se deu ao fato de que tenho maior
13
contato com alguns destes grupos e, assim, maior disponibilidade para conversas e,
consequentemente,
entrevistas.
Percebo,
também,
que
possuem
formação
continuada mensalmente, umas das atividades que considero importante para a
formação do professor, pois é nesses momentos que discutem as problemáticas que
envolvem o contexto escolar e, a partir desses encontros, traçam metas e
estratégias para resolvê-las. Sendo assim, fica mais fácil dialogar com esses
profissionais.
Os sujeitos envolvidos na pesquisa totalizam um grupo de quatro
profissionais, sendo esses todos professores da rede municipal de ensino. A fim de
preservar suas identidades, seus nomes não serão revelados e os mesmos serão
chamados de Andréia, Michele, Francisca e Antônia.
Em um primeiro momento, fiz contato com a diretora da escola, no qual
marcamos a hora do intervalo para a conversa com os profissionais. Apresentei-me
dizendo quem eu era e qual seria o motivo que estaria ali, pois alguns já me
conheciam e outros não. Falei da escolha do meu tema de pesquisa, que é “Escola e
Diferença: Concepções de Professores” e pedi se eles gostariam de fazer parte desse
momento tão especial para mim. Levei uma pergunta impressa que é “Como você
compreende e percebe as diferenças na escola?” deixando com eles, pois a hora do
intervalo passa muito rápido e, por conta disso, me pediram se poderiam levar para
casa e responder em alguns dias.
No geral, posso afirmar que os professores convidados foram muitos
atenciosos. Porém, nem todas as respostas voltaram, por questão de não terem
muito tempo ou por não saberem falar muito sobre o tema.
Enquanto falava, alguns professores já tinham a opinião sobre o assunto, mas
quando fui buscar as respostas alguns deram a desculpa de terem esquecido outros
de não terem tempo. Peguei um grupo de dez professores e somente quatro
responderam.
14
2 AS DIFERENÇAS NO ÂMBITO ESCOLAR
Neste capítulo, com o objetivo de compreender os entrelaçamentos entre
escola e diferença, irei abordar as questões de diferença e também de escola.
Busco compreender algumas concepções acerca da diferença a fim de,
posteriormente, compreender e, talvez, problematizar, como ela é vista, os modos
que ela se processa, e como ela é entendida no interior da escola, especialmente
através dos discursos dos professores.
No que se refere à escola, alguns professores, ao se depararem com
inesperados e enigmáticos desafios gerados pela diferença, acabam por criar
percursos que os distanciam da proposta pedagógica. O empenho em compreender
a diferença, resulta, quase sempre, em representações estáticas e impostas, e pode
ser enriquecido se tomarmos como questão central a construção do ensino pela
diferença humana. Nem maior, nem menor. Nem mais, nem menos importante.
Simplesmente diferença. É pela convivência sem categorizações entre professores e
alunos que a diferença ganha visibilidade.
2.1 Algumas concepções acerca da diferença
Tecer algumas concepções e (in) compreensões acerca da diferença me
exige a busca e leitura de autores que se dedicam a pesquisar e escrever sobre o
assunto. Assim, nesta pesquisa “a diferença não é o diverso. O diverso é dado.
Mas a diferença é aquilo pelo qual o dado é dado. É aquilo pelo qual o dado é dado
como diverso. A diferença não é o fenômeno, mas o número mais próximo do
fenômeno” (ROOS, 2007, p. 28). “Tem dimensão intensa e ingovernável entendida
como intensidade afirmativa, capaz de se furtar ao controle” (ROOS, 2007, p.29).
Apesar disso, compreendo e considero que a diferença, por vezes, “é
pensada sempre em relação à identidade. Pensamos sempre em relação a algo,
nunca a diferença pela diferença, ou a diferença de si mesmo” (GALLO, 2011, p.8).
Não se trata das questões de identidade e nem de comparabilidade, tampouco da
diferença em relação a algo ou alguém. A necessidade de outro para garantir a
construção de um eu, demonstra que precisamos estar atentos e saber como que se
15
lida com o que é estranho e com o que é familiar, e como os seres humanos se
relacionam (ou não) e/ou dialogam com as diferenças.
Nessa linha, é bastante comum o dito que “ser diferente é normal”. Pois, o
que difere de mim são os traços, a cultura, as atitudes, o falar, o jeito de ser. Pensar
em outras culturas, em outra maneira de ser, é romper com a ideia de ser igual a
outro. Todo mundo tem seu jeito singular, de ser feliz de viver e de enxergar. Já
paramos para pensar se todo mundo fosse igual? Ser diferente é normal. Se o
normal é ser diferente, por que queremos tanto igualar (normalizar) as pessoas?
Todos somos iguais perante a lei, mas isto não significa que agiremos e pensaremos
todos do mesmo modo.
“A filosofia da diferença tem por meta tirar a diferença do jugo da
representação, em que ela é vista mais como negação ou ao menos como relativa a
uma identidade” (GALLO, 2011, p.9). Não se coloca o outro como diferente, mas
compreendemos as diferenças como formas concretas de existência, ou seja, como
formas possíveis e dignas de se estar no mundo. Não devemos falar das diferenças
como algo externo a nós, como se a sociedade fosse composta apenas pelos ditos
diferentes.
“Tomar a diferença de si mesma e para si mesma, sem ser relativo a algo ou
mesmo uma negação significa deslocar o referencial da unidade para a
multiplicidade” (GALLO, 2011, p.9).Pode-se dizer que isso não é simples e nem
fácil, pois é a lógica mais comum na sociedade, que, no geral, entende a diferença
do outro a partir daquilo que se difere de si ou mesmo dos seus valores e padrões
de normalidade.
“Diferenças que não podem ser reduzidas ao mesmo, ao uno, diferenças que
não estão para ser toleradas, aceitas, normalizadas” (GALLO, 2011, p. 9). Aí nosso
desafio maior, especialmente enquanto escola, não reduzir as diferenças a simples
aceitação ou tolerância. E como escapar das tentativas de normalizar? Falar de
normalização significa, em primeira instância, falar de norma e do sentido da
mesma. Essa ideia de norma é a ideia de um modelo ou padrão que, numa
determinada sociedade se convencionou considerar como o comportamento ideal,
sendo adotado e incorporado no cotidiano.
Respeitar as pessoas assim como são é algo que deveria ser analisado com
extrema cautela, pois, por vezes, pode-se ter a compreensão de que as diferenças
16
são fixas, definitivamente estabelecidas, de tal modo que só nos resta respeitá-la.
No entanto, a diferença não é fixa, uma e tampouco imutável. Pelo contrário, a
diferença está em constante processo de elaboração. Diferenças inacabadas e em
processo.
Aí, corremos o risco de acreditar que a diferença é algo que está sempre no
outro, que não faz parte de nós, e que só nos resta respeitar assim como é. É um
conceito que foi construído historicamente de acordo com os interesses sociais de
cada época.
Não nos atentemos para o fato que as diferenças são determinadas, isto é,
produzidas socialmente, e estão relacionadas ao poder, dependendo muito dos
valores de cada época e de cada cultura. Apenas a afirmação da tolerância e do
respeito pode impedir de se ver a diferença entre nós/eles como um processo de
produção social que envolve relações de poder e que, portanto, não são resolvidas
somente pelo diálogo. As diferenças são produzidas socialmente e estão associadas
às relações de poder que permitem incluir ou excluir pessoas, delimitar fronteiras e
diferenciar entre o nós e o eles.
2.2 Escolas: De que lugar estamos falando?
No âmbito educacional, se explicitam cada vez com maior força visões e
práticas profundamente arraigadas no cotidiano escolar. Concepções, estas, que,
por vezes, são tradicionalmente preservadas, mantidas e cuidadas no interior da
escola. Assim, a cultura escolar dominante em nossas instituições educativas,
construída fundamentalmente a partir da matriz político-social e epistemológica da
modernidade, prioriza o comum, o uniforme, o homogêneo, considerados como
elementos constitutivos do universal. Nesta ótica, as diferenças são ignoradas ou
consideradas um “problema” a resolver.
Apesar disso, a escola atual vem se constituindo pelas diferenças. Não temos
sujeitos homogêneos, iguais em tempos, ritmos e interesses e a frequência escolar
é algo obrigatório e todos precisam ali estar. No Brasil, a educação inclusiva está
17
amparada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) 1,
dentre outras, que assegura o direito à escola a todas as pessoas (brasileiras ou
estrangeiras residentes no País), sem discriminar negativamente singularidades ou
características específicas de indivíduos ou grupos humanos.
Assim, a escola moderna aberta a inclusão e obrigatória a todos os jovens se
vê diante de diferentes linguagens. No entanto, “a escola não consegue dialogar
com tais linguagens, inclusive já escutadas e discutidas em outras instâncias
culturais, muito menos com outras linguagens: as ainda não linguajadas,
impensáveis, indizíveis, inaudíveis” (CORAZZA, 2006, p.64). Tratamos daquilo que
foge as normas estabelecidas pela escola, daqueles que parecem falar uma outra
língua.
A escola ouve o murmurar de uma nova língua, faz de tudo para não
reconhecê-la. Para não se indagar com sua estranheza. Normatiza
os signos diferenciais, domestica os significados, diluem os
significantes, austeriza seus sentidos, pela assimilação ou sanção
(CORAZZA, 2006, p. 64).
Por muito tempo as instituições educacionais permaneceram destinadas a
produção de “indivíduos em série”, uniformes – talvez ainda hoje persista tal
objetivo. Entretanto, em tempos de inclusão, esta mesma escola é chamada a olhar
para todos, sem distinção, já que ela está se configurando, cada vez mais, como um
local de abrigo a diversidade. São estes espaços/instituições que lentamente se
movem rumo a possibilidades de partilha, transformando antigas opressões em
oportunidades de convivência, de (re) conhecimento do outro, de compartilhamento
de experiências, de vidas.
Esta nova dimensão educacional nos remete a um entendimento de escola
como lugar onde aprendemos a negociar nossos modos de ser e estar no mundo, de
forma a respeitar os outros. É ali que aprendemos a língua do colega para nos
comunicar com ele, neste espaço aprendemos acerca da diferença humana, bem
como a compartilhar significados por nós construídos sobre as coisas do mundo.
Entretanto, a transformação das escolas em espaços inclusivos nem sempre ocorre
de forma pacífica, não podemos crer que todos fomos atingidos repentinamente por
1
Além desta Lei, vale citar a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva/2008.
18
fagulhas de tolerância e comprometimento, transmutando-nos em seres capazes de
incluir a todos e conviver com todos.
Em relação à realidade da escola brasileira ela se fundamenta em certa ideia,
oriunda da tradição de escola republicana francesa, de que deve ser única e igual
para todos, e desta forma, oculta e mantém uma ética de indiferença em relação às
diferenças. Ou seja, há uma indiferença ao outro como fundamento da escola. A
escola se funda em uma imposição de um saber, de uma racionalidade, de uma
estética, de um sujeito epistêmico único, legitimado como hegemônico, como
parâmetro único de medida, de conhecimento, de aprendizagem e de formação.
Nesta lógica, a diferença é tratada na escola de maneira que o espaço onde
se encontra a maior diversidade cultural é também o local mais discriminador.
Trabalhar as diferenças é um desafio para o professor, por ele ser o mediador do
conhecimento, ou melhor, um facilitador do processo ensino/ aprendizagem. Se o
professor for detentor de um saber crítico, poderá questionar esses valores e saberá
extrair desse conhecimento o que ele tem de melhor.
Em alguns casos, os professores nem se dão conta que a escola é o lugar
ideal para discutir as diferentes culturas e suas contribuições na formação dos
alunos. Compreendo, no entanto, que são os educadores os responsáveis
pela formação de milhares de jovens na sua grande maioria, sendo vítimas dessa
educação preconceituosa, na qual foram formados e socializados. Esses
educadores, por vezes, não receberam uma formação adequada para lidar com as
questões das diferenças e com os preconceitos na sala de aula e no espaço escolar.
Mas, quando queremos mudar as relações na escola, precisamos mudar todo o
caráter desta iniciação, o que não é nada fácil, pois devemos fazer a mudança em
nós mesmos. Trabalhar igualmente essas diferenças não é uma tarefa fácil para o
professor, porque para lidar com elas é necessário compreender como se manifesta
e em que contexto. Além disso, o desafio maior parece ser fugir da diferença em
relação ao outro, ou da diferença como algo negativo.
19
3 CONCEPÇÃO DE DIFERENÇA NA ESCOLA: OUVINDO AS FALAS DOS
PROFESSORES
Tendo elaborado algumas compreensões acerca das concepções de
diferença e de escola, passo a analisar e pensar sobre a problemática desta
pesquisa a partir das falas dos professores. De modo geral, e a fim de atingir os
objetivos propostos,
durante
a
realização
da
pesquisa uma
questão foi
lançada/proposta para quatro professores da rede municipal: “Como você
compreende e percebe as diferenças na escola?”. A professora Andréia trabalha
com turmas da Educação Infantil e 3° ano dos Anos iniciais e tem a seguinte
concepção:
Minha concepção de diferença na escola é abrangente, pois
compreendo que todos nós temos nossas particularidades,
preferências, limites e dificuldades. Não se trata apenas de trabalhar
a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais e sim
respeitar a diferença de cada um. O que estou querendo dizer é a
negação da padronização e também a luta contra todas as formas de
desigualdade e discriminação presentes na nossa sociedade e
também na escola. Nem padronização, nem desigualdade. A
igualdade que devemos lutar para construir enquanto educadores
que somos, assume o reconhecimento e garantia dos direitos
básicos de todos. Isso significa que, esses todos não são
padronizados, não são "os mesmos", têm que ter as suas diferenças
reconhecidas como elementos presentes na construção da
igualdade. Ademais, constitui respeitar a individualidade de cada
um, encontrar um meio para que todos possam aprender e crescer
com a diversidade, ou seja, com a diferença que existe em cada um
de nós e que nos faz únicos e especiais. (Professora Andréia).
Segundo a professora, o que estamos querendo é negar a padronização e
também lutar contra todas as formas de desigualdade presentes na nossa
sociedade. Nem padronização, nem desigualdade, e sim lutar pela igualdade e
reconhecimento das diferenças.
Pensar em desigualdade é pensar em uma educação de exclusão. Mas,
estamos falando de uma educação de igualdade social, igualdade de nossos
direitos, um direito de todos. Deveríamos ter os mesmos direitos à saúde, educação,
20
alimentação e cultura. Entretanto o que percebemos é que muito se fala sobre o
direito a igualdade e nos esquecemos do respeito às diferenças.
Na verdade, somos todos diferentes, cada individuo com suas peculiaridades.
Somos contra as formas de desigualdade e discriminação do diferente e, portanto,
precisamos conviver com as diferenças da melhor forma. O respeito às lutas contra
as formas de desigualdade e discriminação, o outro e as suas peculiaridades é
fundamental, pois através deste respeito temos a possibilidade de contribuir para a
construção de uma sociedade mais justa, aprender a conviver com as diferenças de
cada sujeito. Toda instituição de ensino é um espaço onde se encontra uma das
maiores diversidades culturais, precisamos aproveitar este espaço para construirmos
problematizações que nos levem ao estudo das diferenças e ao direito de igualdade
social de todos, não havendo assim discriminação.
A professora Michele, nesta escola trabalha somente com a Educação
Especial e também traz a sua contribuição:
Muitos avanços estão acontecendo em nossas escolas Municipais,
no que se refere ao respeito, aceitação e oportunidade ás pessoas
com deficiências. É importante conhecer a turma com o qual o
professor realizará o seu trabalho, como também conhecer cada
aluno para poder desenvolver as potencialidades de todos os
educandos da sala, com respeito as individualidades. As diferenças
sempre existiram, mas é responsabilidade de cada professor, o seu
desempenho profissional, sua maneira de criar atividades e
oportunidades de aprendizagem para todos seus alunos de maneira
séria e eficaz. A escola tem procurado buscar alternativas,
experiências vivenciadas, conversas e estudos acerca das diferenças
e falando abertamente sobre determinados alunos: O que está sendo
feito, e o que está sendo bom proveitoso ou negativo (caso de nossa
Escola) em algumas reuniões neste início de ano. O AEE tem
contribuído bastante para que os alunos incluídos sejam respeitados,
aceitos e incentivados a aprender e a superar desafios diários de ser,
conviver e aprender. Estamos dispostos a cada dia melhorar as
praticas pedagógica e a qualidade de vida de nossos educandos.
(Professora Michele)
Conforme a professora Michele a inclusão escolar é entendida como inserção
de alunos com deficiência que frequentavam classes e escolas especiais nas turmas
das escolas comuns. Ela fala também que a escola tem buscado alternativas para
21
atender esses alunos, parecendo estar se referindo aos alunos público alvo da
educação especial (a mesma referência é feita junto ao AEE). Aí, parece haver uma
confusão ou mesmo compreensão de equivalência e sinônimo conceitual entre
deficiência e diferença. Reconhecer o Outro como “o diferente” não basta, porque
esse Outro é sempre “um” Outro e não “o” mesmo – ele difere infinitamente. O
nosso entendimento do Outro está comprometido pela imagem do aluno rotulado
que conseguimos conter em nossa cartela de categorias educacionais. Por vezes, e
a partir da fala da professora Michele, a ideia de diferença está presente no espaço
escolar, oque tem feito a escola buscar alternativas para este trabalho, mesmo que
sua fala nos faça entender que tudo aquilo que é diferente tem sido pensado e
trabalhado como uma possibilidade de inclusão e de AEE, ou mesmo como ideias
próximas a concepção de diferença e como pontes para acessar tais alunos.
A professora Michele também fala da importância de conhecer os alunos,
suas diferenças, o respeito as suas individualidades, pensar e elaborar atividades
para todos, sem distinção, e a importância da formação dos professores e estudos
diários. Assim, e por meio de sua fala, compreendo que todos têm o que ensinar e
aprender em um ambiente escolar caracterizado pela diferença de capacidades, as quais
circulam e diluem a autoria do conhecimento.
O dia a dia na escola já é educativo, pois os alunos vão criando e recriando
formas de vida social. Diante disso, é necessário questionar o tipo de educação que
queremos construir, que alunos temos, a intenção de formar no cenário da escola e
quais os papeis da escola.
Compreendemos que, necessariamente, precisamos conhecer as culturas
plurais que constituem o espaço da escola, a riqueza das contribuições familiares e
da comunidade, suas crenças e manifestações para, então, fortalecer formas de
atendimento articulados nos saberes. Entendemos que cada criança tem as suas
próprias especificidades, suas próprias características.
Nesse sentido, pode-se salientar que o aluno, independentemente de classe
social, etnia, preferência sexual, cultura, religião e capacidade intelectual necessita
ter a possibilidade de se ver como parte da escola, como um dos sujeitos do
processo educacional. A escola, por sua vez, precisaria rever sua postura, seus
entendimentos acerca do mundo, do aluno, da sociedade, do ser humano, de
diversidade, de inclusão e de tantos outros, para assim entender que o “elemento
22
estranho” é algo próprio da sociedade e que excluir só reforça a ideia de que não se
tem competência para aceitar e conviver com a diferença.
E, segundo a professora Francisca, que trabalha com Anos Iniciais:
Compreendemos que, necessariamente, precisamos conhecer as
culturas plurais que constituem o espaço da escola, a riqueza das
contribuições familiares e da comunidade, suas crenças e
manifestações para então fortalecer formas de atendimento
articulados nos saberes. Entendemos que cada criança tem as suas
próprias especificidades, suas próprias características. A criança
deve ser o centro do planejamento e, é nas interações, relações e
práticas cotidianas que ela constrói sentidos sobre o mundo e sua
identidade pessoal e coletiva, produzindo culturas. (Professora
Francisca).
Pude perceber que na significação da professora, tratar de diferença é uma
mudança que resulta/interfere na postura dos professores, em questão de seu
planejamento e de suas práticas educativas. Isso se faz necessário, porque,
segundo a professora Francisca, tratamos de crianças diferentes, cada uma com
suas características e especificidades.
Segundo a professora Francisca, a escola é uma instituição que se constitui
como um espaço onde se travam relações institucionais e interpessoais regulares
que vão além dos laços de parentesco ou comunidade.
A
cultura
escolar,
através dos conteúdos selecionados, expressa na sua organização, em seus
padrões de comportamento, em sua linguagem e práticas, a possibilidade de
fazer parte da vida destas crianças e jovens, que, por sua vez, são sujeitos de
valores e padrões culturais distintos.
Aí, os conteúdos selecionados pela escola precisariam permitir aos alunos
de diferentes origens, classes sociais, religiões, culturas, tempos e formas de
aprendizagem, identificarem-se e envolverem-se com as disciplinas curriculares e
contemplar a diversidade através de um processo centrado na aprendizagem
significativa. É a escola que cumpre uma função social essencial à formação dos
novos cidadãos, na medida em que os saberes selecionados por uma sociedade
e os seus valores serão transmitidos e construídos mediante ações educativas.
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O acesso à escola traz consigo a necessidade dos professores conviverem
não apenas com valores e padrões culturais inerentes à instituição, como
também, com a diferença que caracteriza seus alunos, seus colegas professores
e funcionários, enfim, todos aqueles que participam do cotidiano escolar. A
escola, sob este ponto de vista, uma escola das diferenças, pode ser
compreendida como um espaço privilegiado para a expressão da diversidade
social, um local de encontro entre diferentes crenças, hábitos, linguagens,
valores, costumes.
E a professora Antônia, que trabalha com turmas do 1° ano dos anos
Iniciais trouxe a seguinte fala:
A escola é o espaço onde se encontra a maior diversidade cultural e
também é o local mais discriminador. Tanto é assim que existem
escolas para ricos e pobres, de boa e má qualidade,
respectivamente. Por isso trabalhar as diferenças é um desafio para
o professor, por ele ser o mediador do conhecimento, ou melhor, um
facilitador do processo ensino aprendizagem. Muitas vezes ficamos
tão presos a grandes paradigmas, formas, padrões e com isso não
acreditamos nas mudanças. Olhar a especificidade da diferença é
instiga-la e vê-la no plano da coletividade. Pensar numa escola
pública de qualidade é pensar na perspectiva de uma educação
inclusiva. É questionar o cotidiano escolar, compreender e respeitar o
jeito de ser de cada um. Para mim, somente construindo um currículo
multicultural é que vamos respeitar as diferenças raciais, culturais,
étnicas, de gêneros e outros. (Professora Antônia).
Conforme a professora Antônia, por vezes, os professores nem se dão conta
de que o país é pluriétnico e que a escola é o lugar ideal para discutir as diferentes
culturas e suas contribuições na formação dos cidadãos. Alguns também ignoram
que muitas vezes as dificuldades do aluno advêm do processo que está relacionado
à sua cultura, tão desrespeitada ou até ignorada por alguns professores ou mesmo
pelo próprio currículo escolar.
Na concepção da professora, é importante observar no nosso cotidiano
atitudes preconceituosas nos atos, gestos e falas.
E,
não
poderia
ser
diferente, acontece o mesmo no ambiente escolar. Pensar num currículo
multicultural é opor-se ao etnocentrismo e preservar valores básicos de nossa
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sociedade. Acreditamos que seja possível a construção de uma escola que
reconheça que os alunos são diferentes, que possuem uma cultura diversa e que
repense o currículo, a partir da realidade existente dentro de uma lógica de
igualdade e de direitos sociais.
A proposta de uma educação voltada para as diferenças coloca a todos nós,
educadores, o grande desafio de estar atentos às diferenças econômicas, sociais e
raciais e de buscar o domínio de um saber crítico que permita interpretá-las.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O espaço escolar constitui-se como um ambiente em que os indivíduos ali
inseridos estão sendo preparados para a vida em sociedade e precisam aprender a
respeitar as diferenças existentes no mundo moderno. Diante disso, torna-se
importante que o professor conheça o sujeito para poder repensar os conteúdos e as
práticas, de maneira a atender às necessidades, interesses e valores de todos,
respeitando, assim, as suas diferenças.
Neste cenário e diante da problemática desta pesquisa (Que concepções de
diferença constituem os professores da educação básica?) posso afirmar que as
concepções dos professores entrevistados não apresentam uma única concepção,
igual e homogênea. No geral, suas falas trazem elementos diferentes. Alguns
rementem-se a questão da inclusão e do AEE, outros falam das mudanças já
ocorridas na escola e na formação de professores a fim de construir uma escola das
diferenças e outros, ainda, falam sobre a questão do currículo e das flexibilidades
nos planejamentos dos professores.
De qualquer modo, esta discussão conceitual parece estar presente no
cotidiano escolar dos professores entrevistados, visto que eles conseguiram trazer
elementos importantes para nos fazer pensar. Ainda á de se considerar que suas
concepções também variam de acordo com suas trajetórias e práticas e podem ir se
modificando, também, por meio da formação continuada (citada por uma das
professoras) ou mesmo da constante análise e reflexão acerca de suas práticas.
Assim, podemos compreender que a diferença parece revelar o novo, o
enigmático, o imprevisível de cada pessoa, em cada momento, portanto, as aulas
nunca serão iguais, reproduzíveis. Não se trata, no entanto, de realizar uma aula
diferenciada para/com cada aluno, nem tampouco disponibilizar atividades diferentes
para alguns da turma. Trata-se de criar um cenário educacional em que todos
tenham a oportunidade de se conectarem aos conhecimentos por meio de livros,
objetos, pessoas, consigo mesmos, mantendo um pensamento criativo que lhes
conduza à emancipação intelectual e à autonomia. Cada um à sua maneira.
É nesse processo formativo, que a problematização sobre as diferenças
devem compor elementos fundamentais, já que somos todos diferentes. Diferenças
são lógicas produzidas pela linguagem na construção de representações sociais,
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precisando estar abertos para mudanças, buscar o mapeamento no que dá sentido
para a existência e para a vida humana.
A relação entre professor/aluno é um aspecto significativo no cotidiano
escolar, considerando a sua importante dimensão socializadora. Por isso, é preciso
acreditar em nossa capacidade de fazer a diferença. Diferença no curso de nossa
própria vida, mas também no mundo em que ela é vivida. Lutar pelo apagamento da
linha da normalidade que busca, incansavelmente, apagar as diferenças.
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REFERÊNCIAS
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SILVA, Tomaz Tadeu (org.) Identidade e Diferença-a perspectiva dos estudos
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