1 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL METAIS. UMA PROPOSTA DE ABORDAGEM COM ENFOQUE CIÊNCIA/TECNOLOGIA/SOCIEDADE ÁREA: QUÍMICA PROFESSOR PDE: MARIA APARECIDA DO CARMO PADULLA SOARES ORIENTADOR: MARCELO PIMENTEL DA SILVEIRA 2008 2 METAIS Vários são os elementos químicos que fazem parte da constituição de diferentes materiais utilizados no dia-a-dia. Dentre esses materiais, escolhemos os metais para estudar nessa unidade. Você já notou se eles são importantes para a vida, ou para a sobrevivência do homem? ATIVIDADE 1 Formar grupos de, no máximo, cinco alunos e responder às questões abaixo: 1) Cite alguns materiais, ou objetos, que você julga ter a presença de metais na sua composição. 2) Vocês podem citar algum exemplo de metal? 3) Por que esses materiais que vocês citaram, são metais? 4) Que critérios vocês utilizaram para classificar o(s) material(is) citado(s) como metal(is)? 5) Será que existem algumas propriedades que permitem aos materiais citados serem classificados como metais? 6) Os metais tiveram papel importante para o desenvolvimento da sociedade humana? Explique. 7) Seria possível, na atual sociedade, viver sem o uso dos metais? Continuando a reflexão sobre as questões que envolvem os metais, propomos que façam os experimentos a seguir. Antes, porém, tentem refletir sobre as questões abaixo: 1) Por que utilizamos panela de alumínio para cozinhar os alimentos? 2) Por que o cabo das panelas de alumínio ou de ferro, não é de metal? 3) Por que panelas de ferro e cobre não são mais utilizadas? Ou, em quais situações são utilizadas? 3 EXPERIMENTO Nº 01 - Os metais são bons condutores de calor? MATERIAL − Uma placa de alumínio − Uma placa de cobre − Uma placa de ferro − Uma placa de zinco − Pedaços de parafina − Uma lamparina − Um relógio PROCEDIMENTO 1. Coloque na extremidade da placa de cobre, pedacinhos de parafina e segure com uma pinça metálica (ou de madeira). 2. Coloque o extremo da placa de cobre com a parafina sob a chama da lamparina e anote no quadro 1, o tempo necessário para começar a fundir (derreter) a parafina. 3. Repita o mesmo procedimento para os outros materiais: alumínio, ferro e zinco, tomando o cuidado para utilizar a mesma quantidade de parafina em todas as placas. Material Tempo necessário para começar a fundir (derreter) a parafina. Alumínio Cobre Zinco Ferro Quadro 1 – Resultados do experimento nº 1. Agora, com base nos seus resultados apresentados no quadro 1, responda: 1. Os materiais testados são bons condutores de calor? 4 2. Porque você utilizou a mesma quantidade de parafina em todas 3. É possível identificar qual foi a placa que melhor conduziu calor? as placas? Que critério(s) você utilizou para responder? 4. Cite exemplos de como o homem utiliza a propriedade que você 5. Que conclusões, a respeito da condução de calor pelos metais, verificou. podem ser tiradas da experiência realizada? PESQUISA 1 Pesquise sobre a utilização de mantas de alumínio, ou algum material alternativo, por exemplo, como as embalagens tetraplack® (caixinhas de leite) na cobertura de casas e construções. Procure identificar qual o objetivo de se utilizar tal material e qual o princípio de seu funcionamento. Discuta se o principio de funcionamento das mesmas pode ser explicado a partir das propriedades dos metais. EXPERIMENTO Nº 02 - Os metais são bons condutores de eletricidade?1 Você já pensou sobre quais são os materiais que utilizamos no diaa-dia que conduz corrente elétrica? Todos os metais podem ser considerados condutores de corrente elétrica? MATERIAL − 1 dispositivo para medir corrente como o ilustrado abaixo. 1 Adaptado de SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Programa de Educação Continuada (PEC) Construindo SempreAperfeiçoamento de professores. Módulo 3. São Paulo: SE/CENP, 2003. p.13-16. 5 − Pedaços de ferro, de cobre, borracha, alumínio, vidro, zinco, ferro, plástico (PVC, fórmica, etc.). − 1 lâmpada (pode ser utilizada de 60W). Recomendações: Não toque nos dois eletrodos (fios desencapados) simultaneamente quando o dispositivo estiver ligado à tomada. Figura 1 - Aparelho para testar condutibilidade elétrica. PROCEDIMENTO 1. Enrosque a lâmpada no dispositivo e ligue-o à tomada. 2. Faça as medidas dos materiais listados, colocando os eletrodos do dispositivo em contato com cada um dos materiais, e observando o resultado. 3. Anote os resultados no quadro abaixo: Material Cobre Borracha Alumínio Vidro Zinco Plástico Ferro Condução de corrente elétrica 6 Quadro 2 – Resultados do experimento nº 2. A partir dos resultados do experimento, responda: 1. Todos os materiais testados são condutores de corrente elétrica? 2. Essa propriedade é importante para o homem? Por quê? 3. Por que os cabos de ferramentas metálicas, por exemplo, alicates e chave de fenda, são encapados com borracha ou plásticos? 4. Faça uma tabela com os materiais testados acima e, classifiqueos como condutores de corrente elétrica ou isolantes. ATIVIDADE 2 Analise os dados apresentados na tabela 1 e responda: 1. É possível afirmar que todos os metais apresentam pontos de fusão e de ebulição altos? 2. Isso é comum a todos os metais, ou há exceções? 3. Considerando a temperatura ambiente como 25 oC, qual deve ser o estado físico do mercúrio? Ele pode ser considerado um metal? 4. Qual(is) dos metais indicados na tabela 1, você não conhece ou não sabia que era um metal? Tabela 1 – Alguns metais e seus pontos de fusão e de ebulição. Metal Ponto de fusão (ºC) Ponto de ebulição (ºC) Ferro 1538 2862 Alumínio 660 2520 Zinco 420 907 Cobre 1084 2563 Chumbo 327,5 1750 Ouro 1064 2857 Sódio 97,8 883 Potássio 63 759 Estanho 232 2603 Mercúrio -39 3575 Gálio 30 2205 7 PROPRIEDADES DOS METAIS E SUAS APLICAÇÕES PARA VOCÊ PENSAR! 1) A partir dos resultados dos experimentos 1 e 2, e das discussões sobre os mesmos, é possível afirmar que os metais podem ser caracterizados somente pelas propriedades de conduzir corrente elétrica e calor? 2) Você conhece outras propriedades dos metais? Quais? A partir das discussões realizadas até o momento, podemos perceber que os materiais metálicos são amplamente utilizados em nossa sociedade graças às suas propriedades físicas e químicas. Algumas dessas propriedades, apresentadas no quadro 3, embora em diferentes graus, são comuns a todos eles. Propriedades Observações Brilho característico Se polidos, os metais refletem muito bem a luz Alta condutibilidade térmica e elétrica Prata e ouro são os metais que apresentam os maiores valores de condutibilidade elétrica Altos pontos de fusão e de ebulição Embora haja exceções, como mercúrio, PF = -39 ºC; gálio, PF = 30 º C; e potássio, PF = 63 ºC), como discutido na atividade 2. Devido a essa propriedade e também à boa condutividade térmica, alguns metais são utilizados em panelas e radiadores de automóveis. Maleabilidade Metais são muito maleáveis, ou seja, são fáceis de transformarem-se em lâminas. O metal mais maleável é o ouro Ductibilidade Metais também são muito dúcteis, isto é, são fáceis de transformarem-se em fios. O ouro é também o mais dúctil dos metais Quadro 3 – Propriedades dos metais. 8 Do ponto de vista tecnológico, a dureza e a densidade também são propriedades importantes. O ferro e o alumínio são classificados como metais duros. O magnésio, o alumínio e o titânio são considerados metais com densidades baixas, isto é, com densidade inferior a 5 g/cm3. A escolha do metal mais apropriado para a confecção de um objeto dependerá muito do conjunto de propriedades que ele apresenta, além de outros fatores como o econômico e o ambiental. O quadro 4, apresenta algumas das aplicações e características de determinados metais. Metal Al (alumínio) Pb (chumbo) Cu (cobre) Sn (estanho) Fe (ferro) Hg (mercúrio) Zn (zinco) Aplicações-importância Fabricação de panelas, esquadrias, folhas, tubos, aviação, automóveis, etc. Fogos de artifício Proteção contra radiações. Bateria de automóveis e tubos de canalização. Ligas fusíveis, soldas e munição. Formação do bronze (com estanho), do latão (com o zinco) e cunhagem de moedas (com o níquel). Fabricação de arames, fios, panelas, etc. Formação do bronze (com o cobre), latas (folhas de Flandres) e presente em soldas e moedas. Esquadrias, ferramentas, pregos, etc. Principal constituinte do aço. Fabricação de barômetros e termômetros. Formação de amálgamas, lâmpadas a vapor e sensores elétricos. Formação de latão. Fabricação de pilhas secas, calhas, telhas e peças de automóveis. Refrigeração de reatores atômicos. Iluminação (lâmpada a vapor de sódio) Características Metal mais abundante. Quando pulverizado, de fácil explosão e ignição. Metal com muito brilho, baixa dureza e baixa tenacidade. Condutor de eletricidade. calor e Resistente à corrosão. Elemento atraído pelo ímã Metal líquido a 25ºC. Usado em revestimento de outros metais para proteção da oxidação. Na (sódio) Reação violenta com a água. Não encontrado na forma de minérios, pois a maioria reage com a água. Ag (prata) Talheres, espelhos, jóias, moedas, Bom condutor de calor e medalhas, etc. eletricidade. Au (ouro) Moedas, jóias, circuitos eletrônicos. Metal muito maleável, dúctil e também muito valorizado. Ni (níquel) Fabricação de moedas. Atração pelo ímã, alta dureza, Niquelação (proteção de metais). resistência à oxidação. Mg (magnésio) Formação de ligas:motores, aeronaves Quando aquecido inflama e rodas. com chama intensa. Fogos de artifício e sinalização. Fabricação de flash descartável. Quadro 4 - Propriedades e usos de alguns metais. Fonte: Ferreira (1998, p. 15). 9 LIGAS METÁLICAS Até o momento, já foi possível estudar um pouco sobre os metais por meio de vários exemplos, seus usos e propriedades. No sentido de ampliar os conhecimentos sobre esses materiais, responda as questões a seguir: 1. Vocês conhecem, ou já ouviram falar, de um material chamado bronze? 2. O bronze pode ser considerado um metal? Por quê? 3. Vocês conhecem aço e aço inox? Existem diferenças entre esses materiais? Quais? 4. O que vocês acham que é o latão? E ouro 18 quilates? O que seria o ouro branco? 5. Como vocês poderiam verificar se os materiais indicados são metais? EXPERIMENTO Nº 3 – Pesquisa de ligas metálicas MATERIAL − Uma amostra de bronze (objeto de decoração, chave, etc.) − Uma amostra de latão (objeto de decoração) − Uma amostra de aço inoxidável (por exemplo, talher) − Uma peça de ouro (anel, pulseira, brinco, etc.) − Um pedaço de solda elétrica − Estanho − Chumbo − Tripé − Bico de Bunsen − Tela de Amianto − 03 cadinhos − Proveta de 100 mL 10 Obs.: trabalhar com amostras pequenas, para facilitar a determinação do volume através do deslocamento de água na proveta. PROCEDIMENTO Parte I – Condução de calor e corrente elétrica 1. Repetir o procedimento dos experimentos 1 e 2 para as amostras de bronze, latão, aço inoxidável, ouro e solda elétrica. 2. Organizar os dados obtidos em quadros, da mesma forma sugerida nos experimentos 1 e 2, e depois responder as questões: I. Os materiais testados são condutores de calor? II. Os materiais testados conduzem a corrente elétrica? III. Esses materiais e os metais apresentam o mesmo comportamento com relação à condução de calor e de corrente elétrica? IV. Podemos diferenciar os metais de uma liga metálica, utilizando a condução de calor e eletricidade? Parte II - Ponto de fusão 1. Coloque, separadamente, pequenas quantidades iguais de solda e de seus componentes (estanho e chumbo), em um cadinho. 2. Coloque os cadinhos sobre a tela de amianto que está em cima 3. Em seguida, utilizando o bico de Bunsen, aqueça por igual e de um tripé. simultaneamente as três amostras. Observe a ordem de fusão e responda: I. Os pontos de fusão do metal puro e de sua liga são os mesmos? II. Qual foi a ordem em que os materiais se fundiram? III. Faça uma pesquisa sobre os valores corretos do ponto de fusão para a solda e compare com os valores para os metais que a constituem, para isso consulte a tabela 1. 11 IV. O ponto de fusão pode ser uma propriedade utilizada para diferenciar os metais puros de uma liga metálica? Por que? Parte III – Densidade 1. Pese a amostra da liga de bronze e anote a sua massa. 2. Em seguida, coloque 70 mL de água na proveta de 100 mL, mergulhe cuidadosamente (para não quebrar o fundo da proveta), a liga na mesma e anote o novo volume observado na proveta. 3. A partir dos resultados obtidos, é possível saber o qual é o volume da amostra da liga de bronze? Explique. 4. Repita o procedimento para as outras amostras de liga metálica. 5. Sabendo que a propriedade densidade pode ser representada matematicamente pela relação massa/volume, então, é possível calcular o valor da densidade pela relação: d = m/V. Com os dados obtidos no experimento, preencha o quadro abaixo: Materiais Massa(g) Volume(mL) d(g/mL) Bronze Latão Aço inoxidável Ouro Solda Quadro 5 – Resultados do experimento nº 3 – Parte III. PESQUISA 2 Faça uma pesquisa sobre as ligas metálicas utilizadas no experimento, e para cada uma delas, procure identificar: a composição; a densidade e a densidade dos metais que as constituem. Após obter os dados, responda: 1) Se os valores obtidos experimentalmente forem diferentes, como explicar o resultado? 2) O valor de densidade da liga é igual a dos metais? Por quê? 3) A densidade pode ser uma propriedade utilizada para diferenciar os metais de uma liga metálica? Por quê? 12 Muitos dos materiais utilizados pelo homem, não são metais, mas sim, misturas de diversos metais, podendo conter também elementos não-metálicos. Assim, a maioria dos materiais metálicos usados em nosso cotidiano são, na realidade, ligas metálicas. Isso acontece porque, quando puros, os metais não apresentam as propriedades físicas adequadas às exigidas pela indústria. Ligas metálicas são misturas sólidas de dois ou mais elementos em que a totalidade, ou pelo menos a maioria, é de elementos metálicos. A liga metálica é preparada misturando-se dois ou mais metais em forma líquida e, depois, deixando-os esfriar e solidificar. As propriedades das ligas dependem dos metais que as constituem e das porcentagens em que cada um entra na sua composição. Pequenas variações nas proporções dos constituintes podem afetar muito as propriedades desejadas. O quadro 6 apresenta a composição, as propriedades e o uso de algumas ligas. 13 Liga Aço Aço Inox Duralumínio Solda elétrica Níquelcrômio Elementos Constituintes Fe (ferro), C (carbono) e traços de Si (silício), S (enxofre) e P (fósforo). Aço comum, Cr (crômio) e Ni (níquel) Al (alumínio); Cu (cobre); Mn (manganês); Mg (magnésio) Propriedades Aplicações Branco acinzentado PF = 1300 ºC Densidade=7,7g/cm3 Fabricação de ligas. Várias aplicações. Inoxidável. aparência. Boa Talheres, utensílios de cozinha, decoração. Baixa densidade Peças de aviões e automóveis. Para hidroaviões, outros elementos fazem parte como Ce e Zr, que impedem o ataque pela água do mar. Solda de contatos elétricos baixa Fios de resistência elétrica. Pb (chumbo) e Sn Baixo PF (estanho) Ni (níquel) e Cr PF elevado, (crômio) condutividade elétrica Ouro 18 Au (ouro); Ag Dureza, inércia Joalheria. quilates (prata); Cu (cobre) química, boa aparência Ouro Au; Ag; Pd Dureza, inércia Joalheria. Branco (paládio) química, boa aparência Bronze Cu e Sn (estanho) Facilmente moldado Engrenagens, decoração. Latão Cu e Zn (zinco) Flexível, boa Tubos, torneiras, aparência decorações. Amálgama Composição Facilmente moldada, Odontologia. variada: Hg( relativa inércia mercúrio), Cd química. (cádmio), Sn, Ag e Cu Amálgama Hg e Zn Oxida-se apenas em Pilhas elétricas. de zinco um circuito elétrico fechado. Quadro 6 - Composição e uso de algumas ligas metálicas. Fonte: Ferreira (1998, p.16). 14 ATIVIDADE 3 O quadro 6 apresenta algumas ligas e suas aplicações. Essas foram desenvolvidas pelo homem ao longo do tempo, conforme os conhecimentos adquiridos sobre os metais foram se ampliando. Nesse sentido, vamos refletir um pouco sobre o desenvolvimento de algumas das descobertas do homem na nossa sociedade atual? Procure entrevistar pessoas mais velhas, da sua família ou conhecidos, e busque informações como: a) De que material eram feitas às bicicletas antigamente? E atualmente? b) Quais são as principais diferenças identificadas? Comparando com as atuais, elas eram mais pesadas? Por quê? c) E com relação aos ferros de passar roupa, como eles eram? d) Do que os ferros de passar roupa são feitos atualmente? e) Na opinião deles, quais as vantagens (ou desvantagens) que as atuais bicicletas e ferros de passar roupa têm em relação aos mais antigos? Toda a análise das propriedades dos metais e das ligas metálicas, explicam a larga utilização desses materiais pelo homem e a importância que eles exercem na sociedade desde a Antigüidade. Assim, o estudo dos metais permite compreendermos aspectos importantes de como nossa sociedade foi evoluindo ao longo do tempo. Para aprofundarmos essas discussões, faça a leitura do texto a seguir. 15 Texto 1 HISTÓRIA DOS METAIS Por volta de 6000 anos antes de Cristo, o homem já conhecia os metais. Na realidade, os povos da Idade da Pedra Polida (Neolítico), (que não conheciam técnicas de metalurgia), usaram acidentalmente os metais nativos, especialmente o cobre, e posteriormente outros metais, como o ouro e a prata, pois ao procurar pedras para fazer armas e utensílios, eles encontravam, às vezes, pedaços desses metais. Desde o Período Neolítico, as civilizações desenvolvem-se por meio de diferentes culturas, caracterizadas por um conjunto de técnicas fundamentais. O uso do cobre, depois do bronze, em seguida do ferro e do aço vão se definindo pouco a pouco na evolução destas culturas. Provavelmente, o cobre tenha sido descoberto por acaso, em meio a alguma fogueira feita sobre pedras que continham o minério. É possível que algum observador neolítico tenha notado o metal, obtido a partir do calor do fogo, reproduzindo o processo, mais tarde, propositalmente. No início, o cobre era utilizado na forma pura, que era dúctil demais para a fabricação de instrumentos e armas úteis. A seguir, provavelmente por acaso, segue-se a descoberta de que, ao adicionar ao cobre pequena proporção de estanho, forma-se uma liga mais dura do que o cobre puro. Era a descoberta do bronze, que possibilitou ao homem modelar novos e melhores utensílios. Inicia-se a chamada Idade do Bronze, período compreendido entre 3500 a.C. a 1200 a.C..Essa época é contemporânea dos sumérios, egípcios, cretenses e os habitantes de um conjunto de ilhas localizadas na Grécia. Cerca de 2.000 anos após a descoberta do cobre e do bronze, o ferro também passou a ser usado, provavelmente com os hititas, mas só teve grande difusão no primeiro milênio antes de Cristo, devido ao seu largo emprego na fabricação de armas. O homem passa a viver a denominada Idade do Ferro, quando as ferramentas e armas passaram a ser feitas principalmente de ferro ou aço. Tanto o ferro quanto o aço foram obtidos em 1.000 a.C., através da queima do carvão vegetal com o minério de ferro. Assim, é possível percebemos que os metais ocupam um papel fundamental na história da humanidade. A análise dos variados tipos de objetos fabricados com metais e ligas metálicas é um dos meios de se identificar o grau de desenvolvimento de uma civilização. 16 ATIVIDADE 4 1. Por que o desenvolvimento da civilização humana esteve tão relacionado ao uso de metais? 2. Converse com seu professor de história e faça uma pesquisa sobre o uso dos metais nas civilizações antigas. Pelo que foi discutido, percebemos que os metais são muito importantes para o homem e para o desenvolvimento da civilização. Assim, consideramos relevante refletir sobre algumas questões: 1. Onde os metais são encontrados? 2. Quando encontrados, eles já estão prontos para o uso? 3. Todos os países têm os metais de que necessitam? 4. As reservas minerais de metais são fontes renováveis? 5. A extração desses metais provoca impactos ambientais? FONTE DE EXTRAÇÃO DOS METAIS Minerais - Minérios – Metais Em geral os metais não são encontrados no subsolo “prontos para o uso”, mas sim fazendo parte da composição de minerais denominados “minérios”. Normalmente se faz confusão entre as palavras mineral, minério e metal. Saber a diferença entre elas é fundamental para o entendimento deste estudo. Recursos Minerais Os recursos minerais incluem as substâncias inorgânicas encontradas na crosta terrestre. Os agregados naturais de minerais são chamados de rochas. Todavia, é comum chamar uma rocha de mineral. Muitas rochas 17 apresentam interesse econômico, pois a partir delas podem-se obter substâncias que servirão de matéria-prima para as indústrias. Essas rochas são denominadas minérios. Minérios: fonte de metais Minérios são minerais dos quais são extraídos, com vantagem econômica, uma ou mais substâncias de interesse industrial. Todos os metais que utilizamos são retirados de minérios presentes nas rochas que contêm minerais em quantidades economicamente viáveis de extração. Do ponto de vista químico, os minerais são compostos formados por pelo menos um metal e um outro elemento, como por exemplo, a cassiterita, que é um óxido de estanho, de fórmula SnO2. Do ponto de vista econômico, três são os fatores que influem no valor de um metal e na sua importância econômica: as suas propriedades físicas e químicas, o custo de sua produção e a sua quantidade na natureza. No entanto, não é somente a quantidade um dos fatores preponderantes, ou seja, uma grande quantidade de metal existente na natureza não determina sozinha, um baixo preço. O alumínio, apesar de ser o metal mais abundante da crosta terrestre, não é o mais barato, pois o custo da sua produção é bem elevado. Os minérios não estão homogeneamente distribuídos na crosta terrestre. Encontram-se concentrados em determinadas regiões do planeta, conforme indicam os estudos geológicos sobre a Terra. Como conseqüência, alguns países são ricos em determinados minérios, e outros totalmente dependentes da importação. Por exemplo, a África do Sul e o Brasil são grandes produtores de ouro e de ferro, já o Japão precisa comprar muitos metais para o seu consumo. Devido à importância que os metais apresentam para a sociedade, muitos pesquisadores defendem que uma análise sobre o consumo dos mesmos pode ser uma forma de avaliar o grau de desenvolvimento de um país. Os países desenvolvidos consomem muito mais metal do que os países emergentes, mesmo que não possuam as maiores reservas minerais. Assim, por exemplo, o consumo per capita por ano de cobre nos Estados Unidos é de aproximadamente 8 kg, enquanto 18 que na Índia é de 0,1 kg. A população em 2002, dos EUA era de aproximadamente 281 milhões de pessoas, e a da Índia é de aproximadamente 1 bilhão. Atualmente, muitas jazidas de minérios estão se esgotando. É o que vem acontecendo com as reservas de ferro, chumbo, crômio, manganês, níquel, zinco, ouro, platina e prata. Tem sido cada vez mais difícil encontrar novas jazidas, e, geralmente, elas apresentam pequena porcentagem de minério na rocha. Os países que mais consomem metais necessitam importar a maior parte deles. Os Estados Unidos importam manganês, estanho, cobalto, crômio e mercúrio, entre outros. A Alemanha importa cobre, manganês, chumbo, zinco e mercúrio. O Japão depende totalmente da importação de minério de ferro, crômio, níquel, cobalto, molibdênio, estanho e muitos outros. O homem, no futuro, vai enfrentar a escassez de minérios e, portanto, de metais, ou seja, nós não teremos, para sempre, a possibilidade de retirar da natureza esse precioso material. Portanto, torna-se cada vez mais necessário evitar perdas por corrosão e praticar intensamente a reciclagem dos metais, ao lado da substituição por outros materiais. PARA PENSAR E DEBATER 1. É possível substituir o uso dos metais por outros materiais? 2. Identifique materiais metálicos do seu dia-a-dia que estão sendo substituídos por outros materiais e relacione as vantagens e desvantagens dessa substituição. 3. As reservas minerais de metais são fontes não renováveis. Proponha medidas para evitar o desperdício dos materiais e evitar a exaustão das reservas. ATIVIDADE 5 Essa pesquisa tem por finalidade ampliar o estudo dos metais e as possibilidades de obtenção dos mesmos. Ao final, cada grupo deverá compor um mural e fazer uma apresentação oral sobre a pesquisa. 19 Orientações: Parte I 1. Pesquisar sobre as fontes de obtenção dos metais (nome do minério, ocorrência) apresentando as informações em um quadro, como o exemplo a seguir: Metal Alumínio (Al) Principal Principal composto Ocorrências importantes minério do minério (reservas de minério) bauxita Óxido de alumínio Guiné, Austrália, Brasil hidratado, Al2O3.H2O Chumbo (Pb) Cobre (Cu) Estanho (Sn) Ferro (Fe) Manganês (Mn) Titânio (Ti) Zinco (Zn) Mercúrio (Hg) Cromo (Cr) Ouro (Au) Prata (Ag) Platina (Pt) Fonte: Beltran; Ciscato (1991, p.214). 2. Identificar quais são as principais jazidas de minérios do Brasil e localizá-las no mapa. Procure identificar também, os grandes projetos minerais implantados no Brasil a partir da década de 1970. 3. A partir da discussão e análise do mapa, formar um grupo de estudos sobre a exploração mineral no Brasil. 4. Cada grupo deverá escolher um minério e realizar a parte II da pesquisa. O grupo escolhe o(s) minério(s) a abordar. 20 Parte II O trabalho escrito deve abordar (ou responder) pelo menos quatro questões relativas ao(s) minério(s) e a(s) área(s) escolhida(s). Por exemplo: a. Qual o principal minério explorado na(s) área(s) abordada(s) e quais as características geológicas que explicam sua ocorrência? b. Quais os agentes econômicos (empresas nacionais ou estrangeiras) envolvidos no processo de exploração e comercialização do(s) minério(s) abordado(s) e, se for o caso, como se realiza o escoamento do produto para as regiões consumidoras (nacionais ou internacionais)? c. O processamento do minério é feito no Brasil, ou o mesmo é exportado na forma bruta? Qual seriam as principais etapas do processamento químico para obtenção do metal a partir do minério extraído? d. Há ocorrência de algum impacto social ou ambiental na área de estudo? No mural devem constar fotografias, ilustrações diversas, mapas e gráficos selecionados em revistas, jornais e outras publicações, além de notas explicativas das ilustrações. Os mesmos serão afixados na sala de aula com uma pequena apresentação de cada grupo a respeito dos resultados obtidos (ADAS, 2000). A EXTRAÇÃO DOS METAIS Existem várias técnicas para extrair os metais que ocorrem combinados, agrupadas sob o nome de metalurgia. O processo metalúrgico de extração de metais consiste em reduzir minérios a metais, que são substâncias simples. Particularmente, as técnicas de obtenção do ferro constituem a siderurgia. Metalurgia e Siderurgia: transformando minérios em metais Na superfície da Terra encontramos os minerais, que são substâncias que foram formadas ao longo de milhares de anos pela natureza. 21 Conforme já vimos, grande parte dos minerais contém metais em sua composição e, dependendo da composição química e da abundância do mineral, é possível extrair esses metais. A composição da crosta terrestre é aproximadamente a que apresentamos na tabela 2: Tabela 2 - Composição da crosta terrestre. Elemento % em massa O 46,6 Si 27,7 Al 8,1 Fe 5,0 Ca 3,6 Na 2,8 K 2,6 Mg 2,1 Todos os demais 1,5 Fonte: Romeiro (1997, p.5) Por meio de uma análise da tabela 2, é possível observar que o alumínio é o metal mais abundante na crosta terrestre. Já o ferro, por sua vez, apesar de ser o metal mais utilizado pelo homem representa 5% da constituição da crosta terrestre. Siderurgia – Metalurgia do Ferro A siderurgia é o ramo da metalurgia que trata especificamente do beneficiamento do ferro, sendo a produção de aço sua principal atividade. O ferro é extraído de minérios encontrados em jazidas minerais, sob a forma de óxidos, carbonatos e sulfetos, conforme exemplos apresentados no quadro 7. 22 Substância Óxidos Fe3O4 Fe2O3 Fe2O3.H2O Carbonatos FeCO3 Sulfetos FeS Nome Mineralógico Percentual de Ferro Magnetita Hematita Limonita 45 a 70 % 50 a 70 % 20 a 60 % Siderita 30 a 45 % Pirita Extração para obtenção de aço não é viável devido à presença de enxofre, prejudicial ao aço. Quadro 7 - Ocorrência do ferro na natureza. Fonte: Romeiro (1997, p.8) Pelo quadro acima, verificamos que o principal minério de ferro encontrado no Brasil é a hematita com 50 a 70% de ferro, o que corresponde a 8% das reservas mundiais. No Brasil, as maiores jazidas de ferro encontram-se em Minas Gerais (Quadrilátero Ferrífero), Mato Grosso do Sul (Maciço de Urucum) e Pará (Serra do Carajás). ATIVIDADE 6: Leia a poesia: A Montanha Pulverizada de Carlos Drummond de Andrade e procure responder as questões a seguir: 1) Em que época ela foi escrita? 2) De que lugar de Minas Gerais o autor está falando? A qual montanha o autor se refere? 3) Esse local ainda fornece minério de ferro? 4) É possível perceber na poesia uma preocupação do autor com a problemática ambiental? Sabemos que os metais são encontrados na natureza na forma de substâncias compostas, os chamados minérios. Mas, os materiais metálicos são, em geral, substâncias simples, isto é, eles são constituídos por átomos de um único elemento químico. Dessa forma, ainda temos uma questão importante para responder: Como se podem obter os materiais metálicos a partir de substâncias compostas? Para compreendermos esses processos, será necessário estudar as reações de oxidação e redução. 23 OXIDAÇÃO E REDUÇÃO EXPERIMENTO Nº 4 – Queima da palha de aço MATERIAL − Vidro de relógio − Balança − Palha de aço (tipo bombril) PROCEDIMENTO 1. Colocar a palha de aço sobre o vidro de relógio e anotar a massa do conjunto. 2. Queimar toda a palha de aço encostando a chama de um palito de fósforo. Se ainda restarem pedaços não queimados, atear fogo novamente. 3. Espere esfriar e pese novamente o conjunto. Análise dos resultados I. A massa do conjunto pesado permaneceu a mesma antes e depois do experimento? II. O que representa a diferença de massa observada? III. Sabendo que a palha de aço é composta do metal ferro (Fe), como você representaria a equação química que representa a queima? Texto 2 A teoria do flogístico Explicar o fenômeno da combustão é uma preocupação antiga dos homens. A teoria do flogístico, criada pelo cientista alemão Georg Ernest Stahl (1660-1734) em 1697, se preocupou com a explicação desse fenômeno. De acordo com essa teoria, algumas espécies de matéria, tais como o enxofre, o carvão, os óleos vegetais, a madeira, 24 os metais, continham flogístico – um “espírito” que lhes dava a propriedade de serem combustíveis. O flogístico seria, portanto, um princípio comum inflamável presente apenas nos materiais combustíveis. Utilizando essa idéia, Stahl explicou o fenômeno da combustão, a transformação dos metais em óxidos (oxidação) e a transformação dos óxidos em metais (redução), processos que interessavam muito aos químicos, por causa do progresso crescente da metalurgia durante o século XVII, que viria a culminar, no século XVIII, com a Revolução Industrial. Como a teoria do flogístico explicava a combustão dos metais? Para compreendermos a explicação dada por essa teoria para a combustão, precisamos entender que hoje, a combustão de um metal é explicada pela sua reação com o oxigênio, formando o seu óxido. Metal + oxigênio à óxido do metal Obs.: o óxido é um composto formado pelo metal e o oxigênio. Portanto, o óxido é um composto e o metal se combina com o oxigênio para formá-lo. Já, pela teoria do flogístico, seria o contrário, ou seja, o metal seria o composto e não o óxido. O óxido se combinaria com o flogístico para formar o metal. óxido do metal + flogístico à metal e, ao ser queimado, o metal liberaria o flogístico: Metal à óxido do metal + flogístico É freqüente a afirmação de que a teoria do flogístico desapareceu rapidamente porque teria sido incapaz de explicar aspectos quantitativos das reações. Como explicar o aumento de peso dos metais após a combustão? Como o metal poderia desprender o flogístico para o ar dando origem a um produto de peso superior? Alguns adeptos desta teoria chegaram a admitir que o flogístico tivesse peso negativo. Essa dificuldade em explicar o aumento de massa na combustão dos metais, abriu espaço para os trabalhos de Lavoisier que, primeiro criou uma nova teoria da combustão, contrária àquela de Stahl e depois colocou a massa como uma informação 25 pertinente nas transformações químicas, inaugurando definitivamente a era da química como uma ciência quantitativa. Entendendo que o oxigênio é um participante importante nas reações de combustão, as mesmas podem ser interpretadas como um processo que envolve ganho de oxigênio. Para compreender melhor, vamos analisar a reação de combustão do ferro, a partir da queima da palhinha de aço. a) combustão do ferro: 2 Fe(s) + (ferro) O2(g) ?á (oxigênio do ar) 2 FeO(s) óxido de ferro II O ferro (Fe) ganhou oxigênio. b) combustão completa do carvão: C(s) + (carvão) O2(g) ?á (oxigênio) CO2(g) (gás carbônico) O carbono (C) ganhou oxigênio. c) a queima do enxofre, processo responsável pela formação da chuva ácida: S(s) (enxofre) + O2(g) ?á (oxigênio) SO2(g) (dióxido de enxofre) O Enxofre (S) ganhou oxigênio. Analise agora, o que acontece neste outro experimento, quando a palhinha de aço é exposta ao ar e á água. 26 EXPERIMENTO Nº 5 – Formação de ferrugem.2 MATERIAL − 3 tubos de ensaio iguais − 1 bastão de vidro − 3 placas de Petri − Esponja de aço PROCEDIMENTO Ensaio I 1. Umedeça um tubo de ensaio com água e coloque dentro, uma pequena mecha de esponja de aço (na forma de bolinha). 2. Com o auxílio do bastão de vidro, distribua-a até que ocupe cerca de 1/3 do comprimento do tubo. 3. Coloque água em uma placa de Petri de maneira a preenchê-la. 4. Inverta o tubo de ensaio, mantendo-o nessa posição e coloque-o na placa de Petri. Ensaio II 1. Coloque um tubo, vazio e invertido, numa placa de Petri contendo água. Ensaio III 1. Repita (sem umedecer a palhinha de aço) o procedimento indicado para o ensaio I, agora com uma placa de Petri vazia. 2 Adaptado de GEPEQ. Interações e Transformações I: Elaborando Conceitos sobre Transformações Químicas. São Paulo: Edusp, 2005. p. 157-161. 27 2. Utilize o quadro 8 para registrar as características (início e fim) dos sistemas. 3. Deixe os tubos de ensaio, sem tocar, até a próxima aula, quando serão registradas as observações referentes ao estado final dos sistemas. Figura 2 - Ensaios I, II e III, respectivamente. Ensaio Estado inicial Estado final I II III Quadro 8 – Características dos sistemas analisados. Analisando os dados registrados no experimento, responda às seguintes questões: I. Foi observada alteração na esponja de aço utilizada no ensaio I? E no ensaio III? 28 II. O que ocorreu com o nível da água no ensaio I e no ensaio II? Tente explicar o que observou. III. Levando em conta suas respostas às questões 1 e 2, que materiais terão interagido dando origem à ferrugem? IV. Levando em conta que a ferrugem é constituída, em grande parte, por óxido de ferro (III) hidratado (Fe2O3. n H2O – n significa que o número de partículas de água é variável), e lembrando que, no experimento, o tubo foi inicialmente umedecido, escreva a equação que representa a formação da ferrugem. Dessa forma, o processo de enferrujamento do ferro exposto ao ar úmido, pode ser representado pela equação química: 4 Fe(s) (ferro) + 3 O2(g) (oxigênio) + x H2O (água) ?á 2 Fe2O3. xH2O(s) (óxido de ferro) Nesse processo, também podemos dizer que o ferro (Fe) ganhou oxigênio. No enferrujamento, bem como em todos os exemplos aqui analisados, observamos que houve ganho de oxigênio na formação dos produtos das transformações químicas. O processo de ganho de oxigênio em uma transformação química é denominado oxidação. Assim, ao observamos os produtos dessas transformações, verificamos que a oxidação está relacionada à oxigenação, ou seja, ao ganho de oxigênio. Historicamente, as reações de oxidação receberam esse nome porque designavam as reações que envolviam a combinação entre o oxigênio e outro elemento. Da mesma forma que ocorre o processo de oxidação, ou seja, ganho de oxigênio, pode ocorrer a perda de oxigênio nas transformações químicas. A esse processo é dado o nome de redução. No século XVIII, por exemplo, era muito comum obter o óxido de mercúrio a partir do aquecimento do mercúrio e regenerá-lo a partir da sua decomposição térmica (hoje entendida dessa forma). É importante lembrar que, 29 naquela época, os modelos explicativos para esse processo ainda estavam em construção e não eram os mesmos que utilizamos atualmente. d) 2 HgO(s) 2 Hg(l) ?á (óxido de mercúrio) + O2(g) (mercúrio) (oxigênio) Nesse processo, podemos dizer que o óxido de mercúrio perde oxigênio – processo de redução. Nos exemplos discutidos até o momento, oxidação e redução parecem processos independentes. No entanto, os mesmos ocorrem simultaneamente, como é possível analisar por meio do processo de produção do ferro a partir do óxido de ferro, exemplificado a seguir: e) 2 Fe2O3(s) (óxido de ferro) + 3C(s) (carvão) ?á 4 Fe(s) (ferro) + 3CO2(g) (dióxido de carbono) 2Fe2O3(s) à 4 Fe(s): processo de redução, ou seja, perda de oxigênio. 3C(s) à 3CO2(g): processo de oxidação, ou seja, ganho de oxigênio. Dessa forma, os processos de oxidação e redução ocorrem ao mesmo tempo e, enquanto uma espécie perde oxigênio, a outra espécie, necessariamente, ganha oxigênio. Oxidação e redução são, portanto, fenômenos simultâneos. A espécie que sofre redução está provocando a oxidação da outra espécie e, por esse motivo, é chamada de agente oxidante ou, simplesmente, oxidante. 30 A espécie que sofre oxidação está provocando a redução de outra espécie, e por esse motivo, é chamada de agente redutor ou, simplesmente, redutor. ATIVIDADE 7 Discuta se é possível visualizar a ocorrência conjunta de oxidação (ganho de oxigênio) e redução (perda de oxigênio), em cada uma das transformações químicas representadas por meio das equações químicas 1 e 2: 1) K2Cr2O7(s) + dicromato de potássio 2) FeCl2(s) cloreto de ferro II KOH(s) ?á hidróxido de potássio + Cl2(g) ?á gás cloro K2CrO4(s) cromato de potássio + H2O(l) água FeCl3(s) cloreto de ferro III No exemplo 1 da atividade acima, é possível verificar que, nem sempre, conseguimos visualizar, por meio de uma equação química a ocorrência simultânea do ganho e perda de oxigênio. Também, existem casos em que está envolvida a perda e o ganho de outros elementos, como é o caso do exemplo 2, que não apresenta oxigênio na equação. Nesse sentido, é preciso buscar idéias (modelos explicativos) mais amplas sobre os conceitos de oxidação e redução, de forma a ampliar a capacidade de explicar os diferentes fenômenos. No entanto, cabe salientar que isso será feito em outros momentos dos seus estudos em química. 31 REVENDO O PROCESSO SIDERÚRGICO: UMA NOVA EXPLICAÇÃO. Já vimos que o ferro não se encontra livre na natureza. Assim, é necessário utilizar um agente redutor para obtê-lo a partir de seus minérios. O monóxido de carbono (CO) é o agente redutor geralmente empregado. Nesse sentido, é necessário utilizar o carvão (C) como matéria prima para a produção do monóxido de carbono. A seguir, são apresentadas as principais reações químicas que ocorrem no interior do alto-forno: 1) Produção de energia e formação de monóxido de carbono (CO): 2C(s) + Carvão O2(g) Oxigênio do ar 2 CO(g) ?á + energia (calor) monóxido de carbono Analisando a reação 1, podemos afirmar que o carbono (C) está ganhando oxigênio e, portanto, sofrendo oxidação. Nesse caso, a combustão do carvão tem dupla finalidade: fornecer o calor necessário e, ao mesmo tempo, produzir o monóxido de carbono que vai provocar a redução do minério. 2) Entendendo o processo de redução do ferro (que faz parte da constituição do minério): O ferro, que se encontra nos minérios, deve ser reduzido a ferro metálico. O monóxido de carbono vai atuar como agente redutor. Trata-se de um processo complexo e, do ponto de vista de nosso estudo, a reação mais importante é a representada pela equação global abaixo. Essa equação representa o que é observado no início do processo e na saída do alto forno. No entanto, como já foi discutido anteriormente, nesse trajeto, ocorrem várias etapas: 32 2 Fe2O3(s) + minério de ferro 6 C(s) + 3 O2(g) carvão 4 Fe(s) ?á gás oxigênio + ferro (metal) 6 CO2(g) + dióxido de carbono energia luz e calor Na reação acima, o minério de ferro está perdendo oxigênio e, portanto, sofrendo redução, ou seja, sendo reduzido a ferro metálico. Por sua vez, o carvão está ganhando oxigênio e sendo oxidado a gás carbônico. Como a temperatura na região inferior do alto-forno é muito superior ao ponto de fusão do metal impuro, este funde, escorrendo para a parte inferior, onde é recolhido. Esse ferro, que sai do alto-forno, chama-se ferro-gusa ou ferro- fundido (mesmo depois de solidificado mantém esse nome). Contém cerca de 5 % de carbono, sendo, por esse motivo, muito quebradiço. O ferro gusa passa então por um processo de purificação, onde pode conter em sua composição até cerca de 0,2 % de carbono, recebendo o nome de ferro doce. O ferro com até cerca de 1,5 % de carbono é chamado de aço e trata-se da liga metálica mais usada pela nossa civilização. O resíduo dessa produção, rico em calcário, sílica e outras impurezas, chamado escória, serve de matéria-prima para a fabricação de cimento. 3) Reação da escória: I- CaCO3(s) ?á Carbonato de cálcio II - CaO(s) CaO(s) + óxido de cálcio + óxido de cálcio SiO2(s) óxido de silício (ganga) CO2(g) dióxido de carbono ?á CaSiO3(s) silicato de cálcio (escória) Algumas reflexões sobre a exploração dos recursos minerais Sabemos que é inevitável a exploração de recursos minerais, pois a sociedade industrial depende deles. Por outro lado, sabemos também que não se pode permitir que a exploração mineral devaste o meio-ambiente. É preciso refletir sobre esse problema, pois não podemos encarar a exploração dos recursos minerais, como uma atividade desprovida de conseqüências ambientais, sociais, políticas e econômicas. 33 PARA VOCÊ PENSAR! 1. Você conhece o Projeto Carajás? 2. A Companhia Vale do Rio Doce, que mudou recentemente seu nome para Vale, é uma das empresas responsáveis pela extração e comercialização de minérios no Brasil. Essa companhia, que era estatal, foi privatizada no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Essa privatização foi uma boa opção para o governo brasileiro? 3. Você acompanhou a discussão do plebiscito sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce? 4. O que o poeta Carlos Drummond de Andrade, quis dizer com o seguinte pensamento: “Carajás é a saída ou o fundo do poço? Quem me explica isso em língua fácil e troco miúdo?” 34 REFERÊNCIAS ADAS, Melhen. Panorama Geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo: Editora Moderna, 2000. BELTRAN, N.O.; CISCATO, C.A.M. Química: Coleção Magistério 2º Grau – Série Formação Geral. São Paulo: Cortez Editora, 1991. CANTO, Eduardo Leite do. Minerais, minérios, metais: de onde vêm? para onde vão? São Paulo: Moderna, 1996. FERREIRA, M. Ligações Químicas: uma abordagem centrada no cotidiano. Disponível em: < http://www.iq.ufrgs.br/aeq/html/publicacoes/matdid/livros/pdf/ligacoes.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2007. GEPEQ. Interações e Transformações I: Elaborando Conceitos sobre Transformações Químicas. São Paulo: Edusp, 2005. ROMEIRO, S. B. B. Química na Siderurgia. Disponível em: http://www.iq.ufrgs.br/aeq/html/publicacoes/matdid/livros/pdf/siderurgia.pdf. Acesso em: 25 nov. 2007. SANTOS, W.L.P., MÓL, G.S. e outros. Química & Sociedade. São Paulo: Nova Geração, 2005. SÃO PAULO. Secretaria de Estado da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Proposta Curricular para o ensino de química: 2º grau. 2 ed. São Paulo: SE/CENP, 1988.