Teatro do Absurdo A palavra "absurdo" remete à o que é contrário à

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TEATRO DO ABSURDO
A palavra "absurdo" remete à o que é contrário à razão, contraditório, disparatado. O gênero absurdo decende, por
assim dizer, do Surrealismo, o Anti-Teatro com influências do Expressionismo. É uma forma de teatro moderno que
utiliza para a criação do enredo, das personagens e do diálogo elementos chocantes do ilógico, com o objetivo de
reproduzir diretamente o desatino e a falta de soluções em que estão imersos o homem e sociedade. Inspirava-se na
burguesia ocidental, que, segundo os teóricos, se distanciava cada vez mais do mundo real, por causa de suas fantasias
e ceticismo em relação às conseqüências desastrosas que causava ao resto da sociedade. Assim como o Dadaísmo, o
gênero promoveu a revolução na linguagem e na ideologia da sociedade, sendo criticado por um público que, apesar de
proletário, consumia o idealismo burguês da época.
"Teatro do Absurdo" foi um termo criado segunda metade do século XX, pós-Segunda Guerra Mundial, pelo crítico
norte-americano Martin Esslin, ao colocar sob um mesmo conceito obras de dramaturgos completamente diferentes,
mas que tratavam suas obras de forma inusitada da realidade.
Foi criado por Eugéne Ionesco, com um livro-texto para o ensino de inglês, que apresentava diálogos entre um casal em
que, a pretexto de ensinar o vocabulário de uma estrutura familiar, reproduzia conversas absurdas entre marido e
mulher como, por exemplo, esta informando ao marido que eles têm três filhos e que o sobrenome deles é Smith.
Ionesco estudava, copiando, sentenças inteiras, desde o primeiro capítulo, com o intuito de decorá-las. Relendo essas
frases com atenção, ele não apenas aprendeu inglês, mas descobriu algumas verdades surpreendentes como, por
exemplo, que: há sete dias na semana, o que ele já sabia; que o chão fica embaixo e o teto emcima; coisas que ele
também já sabia, mas sobre as quais, talvez, não tivesse pensado seriamente ou houvesse esquecido, e que, de repente,
lhe pareceram estupendas por serem verdades incontestáveis.
A consciência do absurdo desses diálogos inspirou Ionesco a escrever sua primeira peça, "La Cantatrice Chauve" (A
Cantora Careca), em cuja cena mais famosa dois estranhos dialogam sobre banalidades como o tempo, o lugar onde
vivem, quantos filhos têm para, surpreendentemente, descobrirem que são marido e mulher.
Com essa peça Ionesco inspirou uma revolução importante nas técnicas dramáticas e inaugurou o "teatro do absurdo"
ou o "anti-teatro". Esse teatro era realmente um teatro "puro", despojado de convenções, cruelmente poético,
arbitrário e imaginativo.
Em resumo, Ionesco rejeitava a estrutura lógica, o desenvolvimento dos personagens e o pensamento do teatro
tradicional, tendo criado sua forma própria de comédia anárquica para expressar a existência sem sentido do homem
moderno num universo governado pelo acaso. Em seus textos quase não existe história, nem enredo; não há começo,
nem fim; existe, sim, o reflexo de seus sonhos e pesadelos; os personagens não são reconhecíveis, assemelham-se a
bonecos mecânicos colocados diante do público; toda caracterização é agressiva e balbucios incoerentes tomam o lugar
do diálogo.
A estrutura de suas peças pode ser comparada ao orgasmo já que segue o esquema da acumulação, da intensificação,
da progressão, da aceleração, da proliferação atingindo o paroxismo, quando as tensões psicológicas, os estados de
consciência ou situações são intensificados, tornando-se mais ou menos densos, e emaranhados, atingindo o
insuportável. Há de haver a liberação capaz de trazer a sensação de serenidade. E é o riso que faz o papel dessa
liberação. Por isso suas peças são dramas cômicos, dramas perpassados de humor.
Os representantes mais importantes desse gênero são Ionesco, Samuel Beckett, Harold Pinter, Jean Genet, Arthur
Adamov, G. Schahadé, Antonin Artaud, J. Audiberti e J. Tardieu, na França, Fernando Arrabal, na Espanha, Günther Grass
e Hildersheimer, na Alemanha. No Brasil, destaca-se José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Qorpo Santo. E o
polonês Slawomir Mrózek.
Samuel Beckett era extremamente pessimista e se caracterizou pela falta de sentido geral de seu diálogo. O criador da
farsa metafísica com o texto "Esperando Godot", e seus personagens, dois velhos amigos que se entregam a abundantes
diálogos, aliás, quase literalmente retomados na peça.
Alfred Jarry é considerado por muitos o precursor do Teatro do Absurdo com o texto "Ubu Rei" de 1896. Usava a
comédia grotesca, adotando um gênero farsesco e sem compromisso com a realidade.
Os textos de maior destaque são: "Esperando Godot" de Beckett, "Ping-Pong" de Adamov, "A Cantora Careca", "A
Lição" e "O Rinoceronte" de Ionesco e "Piquenique no Front" de Fernando Arrabal.
Embora o termo seja aplicado a uma vasta gama de peças de teatro, algumas características coincidem em muitas das
peças: uma ampla comédia, muitas vezes semelhante ao Vaudeville, misturada com imagens horríveis ou trágicas;
personagens presas em situações sem solução, forçados a executar ações repetitivas ou sem sentido; diálogos cheios
de clichês, jogo de palavras, e nonsense; enredos que são cíclicos ou absurdamente expansivos; paródia ou
desligamento da realidade e o conceito de well-made play ('peça bem-feita).
A CANTORA CARECA
Comédia em um único ato, A Cantora Careca, é considerada a primeira das obras da corrente estética teatral surgida
após a Segunda Grande Guerra, batizada Teatro do Absurdo. Escrito em 1949 foi o também o primeiro texto do
dramaturgo francês Eugène Ionesco (1909 – 1994). Considerada pelo autor como uma “anticomédia”, a peça lança mão
da palavra enquanto objeto, tornando palpável algo que é ao mesmo tempo é abstrato, pois é a principal característica
do texto o surrealismo verbal. De forma interessante, A Cantora Careca, foi criada a partir de um livro-texto para o
ensino da língua inglesa, onde mostrava um casal conversando diálogos absurdos, informando um ao outro que eram
ingleses, que tinham três filhos, que viviam em Londres, que tinham uma empregada chamada Mary, inglesa como eles,
que o teto ficava em cima e o chão embaixo, que a semana tinha sete dias, e que se chamavam Smith. Ionesco manteve
o casal Smith na peça assim como sua empregada, e acrescentou outros três personagens: o casal Martin e o Capitão
dos Bombeiros. Altamente irônico, o texto conservou também o absurdo nos diálogos, marcados por clichês e
futilidades. Os absurdos nas conversas levam os seis personagens, à completa incomunicabilidade, através do diálogo
ininteligível. O foco central da peça é a linguagem, fazendo uma referência a um tenebroso futuro para as relações
humanas, e conseqüentemente da comunicação: a impossibilidade de diálogo entre as pessoas.
O próprio título é aleatório, não estabelecendo nenhuma relação com o conteúdo da peça.
ESPERANDO GODOT
Esperando Godot é uma peça de teatro do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906 - 1989), escrita originalmente
em francês e publicada em 1952.
Pela sua temática e redação é classificada como teatro do absurdo por alguns críticos teatrais.
A expressão "Esperando Godot" era bastante utilizada em tempos passados para indicar algo impossível, ou uma espera
infrutífera.
Em um lugar indefinido - Estrada (caminho) do campo, com árvore, á noite (Route à la campagne, avec arbre. Soir) - dois
amigos se encontram: Estragon e Vladimir. A primeira frase dita na peça, por Estragon, já indica a inutilidade da
presença deles naquele lugar:"nada a fazer" (rien à faire). Eles lá se encontram para esperar um sujeito de nome Godot.
Nada é esclarecido a respeito de quem é Godot ou o que eles desejam dele. Os dois iniciam um diálogo trivial que só
será interrompido quando da entrada de Pozzo e Lucky. O aparecimento destes assusta os amigos, ainda mais pelo
modo como os dois vêm: Pozzo puxa uma corda que na outra ponta está amarrada ao pescoço de Lucky. Lucky por sua
vez carrega uma pesada mala que não larga um só instante. Entende-se pela situação que Pozzo é o patrão e Lucky seu
criado. Os quatro trocam palavras, cada um com seu drama pessoal, até que Pozzo e Lucky saem. Em seguida, entra um
garoto para anunciar que quem eles estão esperando - Godot - não viria hoje, talvez amanhã. Fim do primeiro ato.
O segundo ato é a cópia fiel do primeiro. O cenário é o mesmo, a menos da árvore que está um pouco diferente, com
algumas folhas. Estragon e Vladimir voltam para esperar Godot, que talvez apareça nesse dia. Iniciam outro diálogo
trivial, interrompido outra vez pela chegada de Pozzo e Lucky. Só que, inexplicavelmente, Pozzo está cego e Lucky está
surdo. Dialogam. Após a partida destes, aparece um garoto (diferente do garoto do primeiro ato) anunciando que Godot
não viria hoje, talvez amanhã. Pensam em se enforcar na árvore, mas desistem, ante a impossibilidade do ato ser
simultâneo. O diálogo final, que encerra o ato e a peça é o seguinte:
Vladimir: Então, devemos partir?
Estragon: Sim, vamos.
Eles não se movem.
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