ODONTOLOGIA CANINA Introdução O cão começa a troca da

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ODONTOLOGIA CANINA
Juliana Kowalesky
Médica Veterinária
Mestre pela FMVZ -USP
Pós graduada em Odontologia Veterinária - ANCLIVEPA SP
Sócia Fundadora da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária - ABOV
Diretora Científica da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária - SPMV
Secretária geral do 34° Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária -CONBRAVET
Introdução
O cão começa a troca da dentição com aproximadamente quatro meses. A
persistência da dentição decídua (dentes de leite) deve ser resolvida com a
extração dos mesmos, prevenindo e evitando problemas de maloclusão e acúmulo
de placa bacteriana.
A escovação deve ser iniciada logo que possível, ainda na dentição
decídua, facilitando assim o condicionamento do animal. Brinquedos e ossinhos
artificiais ajudam na prevenção da placa bacteriana, porém nada substitui a
escovação, que deverá ser diária. Ossos longos naturais não são recomendados
pelo grande risco de fraturas dentárias.
O exame da cavidade oral deve seguir uma seqüência, examinando toda
cabeça do animal: contorna da cabeça, pele, plano nasal, olhos, lábios, dor à
abertura bucal, palato, língua, orofaringe, gengiva e órgão dental. Deve-se atentar
também, para afecções sistêmicas. Todo exame clínico deve ser registrado em
ficha específica (odontograma).
Anatomia
O dente é composto basicamente de dentina, sendo coberto pelo esmalte
na porção da coroa, e por cemento na porção radicular. O dente está ancorado no
alvéolo dentário da mandíbula ou maxila, rodeado de tecido conjuntivo denso
denominado ligamento periodontal.
Os dentes podem ser uni, bi ou triradiculares, sendo que cada raiz
apresenta um só canal. Dentro do canal, existe um tecido conjuntivo frouxo,
contendo vasos sanguíneos e linfáticos, além de enervação. Este tecido é
denominado polpa dentária. A polpa é responsável pelo envelhecimento do dente;
desta forma, o animal jovem tem um canal amplo em relação à parede de dentina,
e no animal velho, encontramos um canal mais estreito.
A irrigação sanguínea e linfática da polpa adentra o dente através de
foraminas presentes no ápice da raiz, compondo o Delta Apical.
Fórmula dentária
Dentição decídua: (I 3/3; C 1/1; P 2/2; M 1/1) = 28 dentes
Dentição permanente: (I 3/3; C1/1; P 4/4; M 2/3) = 42 dentes
Oclusão
A oclusão (mordida) normal de um cão deve apresentar:
-
incisivos superiores cobrindo parcialmente os incisivos inferiores (mordida
em tesoura).
-
canino inferior ocluindo eqüidistante entre o incisivo lateral superior e
canino superior.
-
Pré-molares superiores e inferiores apresentam intercuspidação: primeiro
pré-molar superior oclui entre primeiro e segundo pré-molares inferiores e
assim por diante.
-
Quarto pré-molar superior cobre por inteiro o primeiro molar inferior, durante
oclusão.
Vista lateral de oclusão canina. Nota-se quarto pré-molar superior cobrindo todo
primeiro molar inferior. Na foto segundo pré-molar inferior encontra-se mesialisado
(cranial) a sua posição ideal. Canino inferior ocluindo eqüidistante ao incisivo
superior lateral e ao canino superior.
Mau Hálito
Em geral o mau hálito ocorre pela presença da placa bacteriana.
O “tártaro”, termo usado popularmente para placa bacteriana e para o
cálculo
dentário,
é
formado
inicialmente
por
um
biofilme
constituído
essencialmente por bactérias. Este biofilme localiza-se sobre a superfície dental e
acumula-se principalmente no sulco gengival, onde a limpeza natural pelo fluxo
salivar e abrasão dos alimentos e da língua é dificultada. Conforme esta placa
bacteriana vai se organizando são formados subprotudos de seu metabolismo que
lesam o tecido gengival causando a GENGIVITE. Com o avançar do processo,
haverá uma resposta imunológica do paciente, que passará a atuar como fator de
destruição acelerada das estruturas de suporte do dente, com reabsorção óssea e
retração gengival. . Por isso observamos mobilidade dental, exposição de furca e
até perda do dente. A partir deste momento, a lesão torna-se irreversível
denominando-se DOENÇA PERIODONTAL. A placa, pela precipitação de sais
minerais e glicoproteínas presentes na saliva, é então mineralizada e forma-se o
CÁLCULO DENTAL, que por ter sua superfície rugosa favorecerá o acúmulo de
mais placa na sua superfície.
Doença periodontal em cão.
A conseqüência mais grave da doença periodontal é que as bactérias e
seus metabólitos que estão na cavidade oral caem na circulação sangüínea e se
alojam em órgão vitais como rins, coração, fígado e outros. Portanto a higidez da
cavidade oral tem estrita relação com a saúde sistêmica.
Quando a queixa for mau hálito deve-se atentar também para lesões em
mucosas, palato, ou presença de tumores.
Fratura Dentária
A polpa, tecido interno do dente, é constituída por tecido conjuntivo,
pequenos vasos sangüíneos, linfáticos, filetes nervosos, células e substancias
intercelulares.
Durante uma FRATURA COM EXPOSIÇÃO DA POLPA, as bactérias
colonizam este tecido interno do dente causando lesões periapicais, abcessos e
fístulas. Todavia, podem ocorrer traumatismos, em que a POLPA NÃO É
EXPOSTA, mas há ruptura dos elementos vasculares internos, é quando vemos
aqueles dentes escuros, arroxeados ou enegrecidos. Nestes casos a polpa está
“morta” e pelo fenômeno da anacorese (migração das bactérias sistêmicas quimiotaxia-, para um local inflamado), haverá contaminação e necrose desde
canal. Deve-se portanto, tratar o canal destes dentes (tratamento endodôntico) ou
extraí-los.
Fratura em canino superior direito.
Fratura em lasca em canino inferior direito.
Dentes de Leite
Os dentes decíduos devem “caír” até os sete meses de idade. A
persistência dessa dentição facilitará o acúmulo de placa bacteriana e trará
problemas de oclusão (mordida) para o animal. Dois dentes não podem ocupar o
mesmo alvéolo, portanto, na presença do dente permanente, o dente decíduo
deve ser extraído.
Persistência de caninos inferior e superior decíduos. Nota-se problemas na
oclusão.
Persistência de canino superior decíduo provando acúmulo de placa bacteriana.
Cárie
A cárie é um processo de desmineralização do esmalte, dentina ou
cemento provocado por bactérias e seus subprotudos ácidos. É muito rara nos
cães. Acredita-se que a baixa incidência deva-se ao pouco contato entre os
dentes vizinhos, poucos dentes apresentarem face oclusal com fóssulas,
sulcos,etc., pH mais alto (básico) que do homem e por dietas não cariogênicas
(poucos carboidratos).
Cárie em primeiro pré-molar superior.
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