Imagine você morrendo de fome. Então, resolve dar uma espiada na cozinha e vê o que está saindo para o almoço: um maravilhoso frango assado com batatas e farofa. Para a sobremesa: pudim de coco. Hummm!!! O que você pensa então? Apenas em encher a pança, não é mesmo? Mas se você pensar um pouco, vai ver que a comida não é só importante para a saúde e para o paladar. Numa combinação de alimentos, como essa que fizemos acima, tem muito da nossa história. Afinal, a comida contribuiu para que o Brasil fosse descoberto. Já pensou nisso? Cabral não veio para cá exatamente porque planejou (apesar de existirem dúvidas a respeito), mas porque se dirigia às Índias em busca de especiarias, lembra? Então, foi por causa da comida que os portugueses chegaram até aqui. Tudo bem que eles erraram um pouquinho a rota, mas isso é só um detalhe. Frango, batatas assadas, farofa e pudim de coco formam um verdadeiro almoço cultural. Nesses pratos temos uma mistura de hábitos de três povos diferentes, que está presente em quase todos os campos da nossa cultura: dos índios, dos negros e dos europeus. Vamos ver como esse almoço se formou? QUEM NÃO TEM TRIGO COZINHA COM MANDIOCA Quando os primeiros colonizadores portugueses chegaram aqui, tiveram de se habituar aos alimentos que os índios comiam, pois nem tudo que se plantava na Europa podia ser cultivado no Brasil. Uma das plantas europeias que não se adaptou ao solo brasileiro foi o trigo. Então, os portugueses passaram a usar a mandioca em sua culinária para substituí-lo. A mandioca era o alimento mais usado pelos índios. Dela, eles faziam a farinha, a tapioca, o beiju e bebidas alcóolicas. Também consumiam a mandioca misturada com frutas (como o caju), legumes e carne. Pronto! Já descobrimos a origem de um dos pratos do nosso almoço: a farofa, que em algumas regiões também é chamada de paçoca. Além disso, os índios cultivavam o amendoim e a batata (também usada no nosso almoço). Mas esses alimentos não eram, para eles, tão importantes quanto a mandioca. Existe até uma lenda que explica sua origem! A mandioca então passou a fazer parte dos bolos, caldos e cozidos dos portugueses que aqui viviam. E até hoje está sempre presente na mesa dos brasileiros, e tem vários nomes, dependendo da região: aipim, macaxeira, maniva, pão-de-pobre, entre outros. Com a vinda dos portugueses, começou o vai-e-vem de comidas. Foi um verdadeiro toma lá, dá cá! Não foram só os índios que contribuíram para a cozinha dos portugueses, não. Foi uma verdadeira troca de receitas. Os portugueses trouxeram para cá um tempero muito importante: o sal, que era muito pouco consumido pelos índios. Os "caras-pálidas" ensinaram os índios a temperar a carne com sal para conservá-la, assim ela poderia ser armazenada e consumida mais tarde. Outros temperos também fizeram a cabeça, ou melhor, o paladar dos "peles-vermelhas": a canela, o alecrim, a erva-doce e o cravo-da-índia. Se bem que, no primeiro contato com a frota de Cabral, os índios odiaram a comida europeia e até cuspiram o que foi oferecido! Vários tipos de carne, que não tínhamos aqui, também vieram com os navegadores: gado bovino, patos, porcos, carneiros, gansos e... o outro item do nosso "cardápio cultural": a galinha. Os índios não gostaram muito da galinha logo de cara. Eles as criavam, mas só para vender os bichos e os ovos aos engenhos. Nas tantas idas e vindas dos colonizadores, eles levavam e traziam todos os tipos de alimentos. Assim, por exemplo, levaram para a África a mandioca e o amendoim, que fizeram o maior sucesso entre os africanos, e trouxeram de lá vários produtos. Um deles é o ingrediente principal da receita da nossa sobremesa... A CONTRIBUIÇÃO AFRICANA Em todas as áreas de nossa cultura, a contribuição dos negros é sempre responsável por um tempero especial e pela capacidade de improvisação – o jogo de cintura. Na culinária não podia ser diferente. A escravidão arrancou o negro violentamente de seu território e de seus hábitos. Como os escravos eram capturados e transformados em prisioneiros, não traziam nem roupas, quanto mais produtos para cozinhar. Eles tiveram de improvisar e adaptar sua cozinha usando os alimentos que encontraram por aqui. Trazidos de seu continente pelos comerciantes, os negros já tinham aqui: a banana, o café, o azeite-de-dendê, a pimenta-malagueta e o coco _ que deu origem ao nosso pudim do almoço cultural. E quando as escravas começaram a cozinhar para a casa grande, a cozinha brasileira ficou ainda melhor! JOGO DE CINTURA NA CASA GRANDE Quando os escravos vieram para cá, muitos colonizadores estavam sem suas famílias, pois tinham vindo sozinhos. Então as negras foram para a cozinha do sinhô na casa grande, o nome dado à casa dos senhores de escravos. As escravas tiveram de adaptar suas receitas, pois não tínhamos aqui muitos dos produtos de sua terra natal. Acabaram misturando um pouquinho de tudo: ingredientes que já conheciam com outros trazidos pelos portugueses e alguns usados pelos índios. Assim, os negros acabaram não só enriquecendo a nossa culinária como também modificando a sua própria. Até hoje lambemos os beiços com essas comidas maravilhosas _ que não ficaram só por aqui, foram também para o continente africano, modificadas pelos novos ingredientes brasileiros. Hummm!!!!