A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO FORMAÇÃO HISTÓRICA E GOVERNANÇA TERRITORIAL DA AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA GEOGRÁFICA DE TABATINGA - SP LIVIA MARTINEZ BRUMATTI1 ANA CLAUDIA GIANNINI BORGES2 Resumo: O artigo objetiva identificar o processo histórico de formação da aglomeração produtiva geográfica de Tabatinga-SP, especializada na fabricação de bichos de pelúcia e enxoval de bebê, bem como a formação da governança territorial e a atuação do Poder Público local, nesse processo. Para tal, fez-se coleta de dados primários (entrevistas) e secundários (IBGE, SEBRAE, Mistério do Trabalho e Emprego e de órgãos e associações locais). Identificou-se: a importância desta indústria no município; e a existência de cooperação e de governança territorial, num primeiro momento, o que beneficiou as empresas e o município. No entanto, em período posterior, observou-se a inexistência dessa governança, o que tem ampliado as dificuldades das empresas e do município quanto à estruturação e organização de uma indústria competitiva e promotora de trabalho e renda a nível local. Palavras-chave: Aglomeração Produtiva Geográfica; Governança Territorial; Poder Público. Abstract: The article aims to identify the historical process of formation of the geographical productive agglomeration of Tabatinga-SP, specialized in the manufacture of stuffed toys and baby outfits, as well as the formation of territorial governance and the performance of local Government in this process. To this end, it has been done a collection of primary data (interviews) and secondary data (IBGE, SEBRAE, Ministry of Labor and Employment and others organs and local associations). It has been identified: the importance of this industry in the municipality; and the existence of cooperation and territorial governance, in a first moment, which benefited companies and the municipality. However, in subsequent period, it has been observed the absence of this governance, which increased the difficulties of the companies and the municipality regarding the structuring and organization of a competitive industry, promoter of employment and income at local level. Key-words: Geographical Productive Agglomeration; Territorial Governance; Local Government 1 – Introdução O aumento da competitividade no Brasil, na década de 1990, decorrente do processo de abertura comercial (GENNARI, 2011), está inserido em um contexto mais amplo de busca crescente de anulação das barreiras à circulação de mercadorias (HARVEY, 2005). Há, como consequência desse processo, impactos significativos nos setores econômicos, com destaque para a indústria, a qual tem passado por um processo de reestruturação (SELINGARDI-SAMPAIO, 2009). Deste processo, ressaltam-se a flexibilização da produção, dos contratos de trabalho e das relações interempresariais entre empresas de diferentes portes. Estas passam a concentrar 1 Acadêmica do programa de pós-graduação em Geografia da Univ. Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus de Rio Claro. E-mail: [email protected]. 2 Docente do programa de pós-graduação da Univ. Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus de Rio Claro. E-mail: [email protected]. 602 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO geograficamente seus esforços, através de distritos industriais, clusters ou demais formas de aglomerações, com o intuito de ampliar a sua competitividade no mercado (BENKO, 1996). Deve-se ressaltar, no entanto, que o processo de aglomeração das pequenas empresas pode estar vinculado não apenas a busca de maior competitividade, mas também como decorrência: “[…] da ação de grupos sociais emergentes que dispõem de um potencial de habilidades técnicas apreendidas a partir de práticas em outras atividades” (CORREA, 2006, p. 267-268); da busca de alternativas para a minimização da ociosidade de mão de obra em determinado local (MATUSHIMA, 2005); ou da facilidade para obtenção e processamento de recursos naturais nas mais diversas localidades (NEAPL/AM, 2009). Nesse contexto, tem-se também o debate acerca da necessidade do poder público estimular a concentração da força produtiva, como forma de proteção à intensa competitividade internacional (COCCO et al., 1999). Em meio a este contexto, tem-se o debate sobre a descentralização políticoadministrativa do Estado, com a redistribuição de poderes governamentais, com o aumento da responsabilidade dos municípios e regiões (PIRES et al., 2011). Neste sentido, Martins e Luque (1999, p. 81) afirmam que: O papel dos municípios para a superação dos problemas econômicos e sociais é fundamental. As informações que os municípios possuem sobre as diversas características da população e sobre a natureza dos problemas específicos de cada localidade permitem que se tenham vantagens comparativas consideráveis sobre outras instituições públicas. Assim, em 2004, no Brasil, observa-se a oficialização de uma política pública federal de estímulo à construção de modalidades territoriais de governança, tais como: Arranjos Produtivos Locais (APLs), Câmaras Setoriais, Comitês de Bacias Hidrográficas, Circuitos Turísticos e Conselhos Regionais de Desenvolvimento (COREDEs) (PIRES et al., 2011). Dentre essas modalidades, podem-se destacar duas para a indústria. Uma delas é a APL, que tem como diretrizes de atuação: protagonismo local; promoção de ambiente de inclusão; elevação do capital social; preservação do meio-ambiente; integração com outros atores; colaboração entre entes federados; orientação para o mercado; promoção de sustentabilidade nas organizações; estímulo à inovação; melhoria nas condições de trabalho e redução das desigualdades regionais (GTP 603 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO APL, 2004). E a outra é a Câmara Setorial, que é um dispositivo institucional, com a participação de representantes do governo, dos empresários e dos trabalhadores (PIRES et at., 2011). Estas duas modalidades incentivam o desenvolvimento endógeno, com a participação da população local. Por outro lado, na esfera municipal, têm-se políticas que buscam o desenvolvimento através da promoção de incentivos fiscais ou infraestruturais, objetivando atrair empresas externas (RICCI, 2007), o que contradiz a política federal de privilegiar o protagonismo local. Esta contradição é um indicativo da necessidade de uma atuação conjunta das esferas públicas para a consolidação de um processo de governança territorial3, sem políticas conflitantes (FIESP/MDIC, 2007, p. 23). Além disso, é importante considerar que a consolidação de políticas públicas de governança territorial pode ser lenta e difícil, em razão da singularidade de cada território (FIESP/MDIC, 2007). Frente ao exposto, este trabalho tem como objetivo identificar e analisar o processo de formação da aglomeração produtiva geográfica do município de Tabatinga – SP, especializada na produção de bichos de pelúcia e enxoval de bebê, bem como a participação do Poder Público local nesse processo. Para tal, tem-se como objetivos específicos: 1) Realizar um resgate histórico da formação do município, destacando as principais atividades econômicas; 2) Identificar o processo histórico de governança territorial da aglomeração produtiva geográfica do município; 3) Apontar as principais características da aglomeração produtiva geográfica de Tabatinga; e 4) Identificar a importância do poder público para governança territorial da aglomeração produtiva. 3 O termo Governança territorial emerge, de acordo com Pires et al. (2011), como forma de compartilhamento de poderes entre prefeituras, associações comerciais, sindicatos e outras entidades civis, na execução de uma gestão pública regional eficiente e transparente. Esta gestão deve estar focada, principalmente, nos setores econômicos, os quais envolvem as cadeias produtivas diversas, produtos industriais e agroindustriais. Pires et al. (2011, p. 26) destacam, ainda, que a governança passa a ser territorial “quando se reconhece que o território é o recorte espacial de poder que permite que empresas, Estados e sociedade civil entrem em contato, manifestando diferentes formas de conflito e de cooperação”. 604 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2 - MÉTODOS DE ANÁLISE Para a realização do resgate histórico de formação do município, fez-se, primeiramente, revisão bibliográfica em estudos realizados no município, tais como: Braz (2005) e Paula (2005). Além disso, foram utilizados dados secundários do sítio eletrônico do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (CEPAM). Esta contextualização se fez importante para identificar os fatores geradores da aglomeração produtiva geográfica, principalmente, a partir dos anos 1990. Os dados para a caracterização da aglomeração produtiva geográfica de Tabatinga, a partir da década de 1990, puderam ser coletados em sites de institutos de pesquisa e órgãos do governo e do município, como: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Banco de Dados SIDRA; Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) - RAIS/CAGED; e Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Tabatinga (ACIAT). Para a complementação dessas informações, foram realizadas entrevistas com empresários do município (6) e com a ACIAT. Nas entrevistas objetivou-se obter o relato sobre: a) o surgimento de cada empresa; b) a participação de cada membro na governança territorial, com as respectivas ações e resultados mais relevantes; e c) a situação da governança territorial no município. Além disso, foi possível participar de algumas reuniões realizadas na ACIAT. Foram utilizadas, ainda, informações de documentos e reportagens disponibilizadas pelo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). 3 - RESULTADOS 3.1 - O processo histórico de formação da aglomeração produtiva geográfica de Tabatinga - SP O município de Tabatinga apresentou, desde a sua emancipação políticoadministrativa (em 1925) até os dias atuais, considerável dependência do setor agrícola (CEPAM, 2015). Porém, a partir da década de 1990, observa-se a crescente relevância da indústria de confecções de bicho de pelúcia e enxoval de bebê, principalmente como alternativa de emprego e renda, no período da 605 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO entressafra agrícola e da crise citrícola (CEPAM, 2015), cultura relevante para o município no período. No Gráfico 1 é possível observar que, apesar da tendência de crescimento no número de vínculos ativos em todos os setores econômicos, a partir de 2001, a indústria se destaca pelo crescimento expressivo e contínuo de absorção de mão de obra, no município. Gráfico 01 - Evolução da quantidade de vínculos ativos por setor no município de Tabatinga. Fonte: RAIS/CAGED (2015). O surgimento da indústria de confecções de bicho de pelúcia e enxoval de bebê, no município, está atrelado à proximidade geográfica ao município de Ibitinga (PESQUISA DE CAMPO, 2014), o qual apresenta produção especializada na confecção de artigos de cama, mesa e banho (MATUSHIMA, 2005). É importante destacar, que em Ibitinga tem-se como prática a subcontratação de serviços terceirizados, para reduzir os custos e aumentar a produtividade da indústria, desde a década de 1990. Neste período, Ibitinga passa a ser reconhecida, em âmbito nacional, como Capital do Bordado (MATUSHIMA, 2005). Assim, essa proximidade contribuiu para a formação da indústria em Tabatinga, pois: a primeira empresa a atuar na confecção de bicho de pelúcia, nesse município, surge direcionando suas vendas exclusivamente para Ibitinga; e o subsetor de enxoval de bebê surge atrelado, principalmente, às relações de terceirização e subcontratação exercidas pelo município vizinho (PAULA, 2005). Essas relações propiciaram maior conhecimento, para as empresas de Tabatinga, quanto ao processo produtivo e aos diferentes tipos de matéria-prima, além de possibilitar contatos com os fornecedores (BRAZ, 2005). 606 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO É importante destacar que os produtos, da empresa pioneira na produção de bicho de pelúcia de Tabatinga, passaram a ser reconhecidos em mercados mais amplos, o que despertou o interesse de outros empreendedores do município (PESQUISA DE CAMPO, 2014). Apesar da existência de bordados de enxovais de bebê, desde um período anterior à produção de bicho de pelúcia, a expressividade deste último fez com que a maioria dos empresários do município destinasse seus esforços e recursos à produção do mesmo (PESQUISA DE CAMPO, 2014). Além disso, pôde-se perceber que o aglomerado produtivo vem abrangendo a produção de mais tipos de produtos ligados ao público infantil, não se restringindo ao bicho de pelúcia e enxovais de bebês (PESQUISA DE CAMPO, 2015). O aumento do número de empresas, formais e informais, na indústria de confecção de bicho de pelúcia e enxoval de bebê foi muito expressivo, principalmente, em fins da década de 1990 e início dos anos 2000 (BRAZ, 2005). Na Tabela 1 é possível observar que, apesar de surgirem algumas empresas de transformação na década de 1980 e início de 1990, foi no período de 1996 a 2000 que elas apresentaram o maior número de abertura no município. Ano de Fundação Abertura de novas unidades Ano de Fundação Abertura de novas unidades Até 1966 0 2005 4 1967 a 1970 0 2006 5 1971 a 1980 1 2007 7 1981 a 1990 9 2008 9 1991 a 1995 6 2009 5 1996 a 2000 17 2010 3 2001 a 2003 8 2011 7 2004 2012 2 2 Tabela 1 - Número de abertura de empresas de transformação Fonte: IBGE (2015). De um total de 85 empresas fundadas até o ano de 2012, 20% (17) surgiram no período de 1996 a 2000. Outro dado importante é que, destas 85 empresas, 64,7% (55) são de empresas de fabricação de produtos têxteis (IBGE, 2015). Fato que demonstra a existência de uma aglomeração geográfica produtiva nas indústrias destacadas. 607 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Braz (2005) destaca que, no início, as empresas apresentavam pouca preocupação com a qualidade do produto fabricado, produzindo também em condições informais. Em pesquisa de campo (2015), também, foi possível observar esta característica de informalidade da indústria em Tabatinga, visto que a produção, em muitos empreendimentos, era de “fundo do quintal” e para complementar a renda familiar. Além disso, identificou-se que muitos dos empreendimentos que surgiram no município eram de trabalhadores da indústria de confecções de bicho de pelúcia e enxoval de bebê. Isto era possível, pois esses trabalhadores detinham o conhecimento do processo produtivo e o investimento inicial era reduzido (aquisição de uma máquina de costura). O crescimento dessa indústria foi tão significativo que o município ficou conhecido como a Capital do Bicho de Pelúcia (PESQUISA DE CAMPO, 2014). É importante destacar que a produção de bicho de pelúcia sofreu forte impacto com o fim do Acordo de Têxteis e Vestuários4 (ATV), a partir do ano de 2005, quando há a entrada maciça de produtos chineses. Em razão do aumento desta concorrência, muitas das empresas, que atuavam produzindo bichos de pelúcia e enxovais de bebês, passam a focar a produção deste último (PESQUISA DE CAMPO, 2014). Apesar dessas mudanças, alguns empresários produtores de bicho de pelúcia afirmam que essa produção ainda é vantajosa, desde que haja investimento em inovação (PESQUISA DE CAMPO, 2014). 3.2 - Governança territorial e relações com o poder público Em fins da década de 1990 e início do século XXI, empresários de Tabatinga identificam a necessidade de aprimorar a sua gestão, bem como de capacitar e treinar seus empregados (BRAZ, 2005), tendo em vista que o crescimento desordenado poderia causar maiores riscos às suas empresas. Além disso, também, havia o interesse da sociedade local em consolidar uma atividade que fosse capaz 4 Acordo de Têxteis e Vestuários (derivado do Acordo Multifibras) tratava de um acordo bilateral entre importadores e exportadores de produtos têxteis e de confecções, estabelecendo quotas de importação, cláusulas de flexibilidade e taxas de crescimento preestabelecidas (ABRAFAS, 2015). 608 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de gerar emprego e renda à população que se deslocava da zona rural, em razão da crise do setor citrícola (BRAZ, 2005). Nesse período, em 1999, o SEBRAE fez um diagnóstico do município, o qual identificou que a indústria de confecções era a base de emprego no município, gerando mais de 2.000 empregos diretos, em um município com população de 13.000 habitantes, na época. Fato este que despertou o interesse do Poder Público municipal (BRAZ, 2005). Neste sentido, no ano de 2001, o SEBRAE, em parceria com a Prefeitura Municipal de Tabatinga e a ACIAT, elaborou um projeto que previa: a) capacitação empresarial; b) adequação de processos produtivos; c) requalificação de mão de obra desempregada; d) capacitação de mão de obra empregada nas empresas de confecção; e e) apoio nas ações de marketing institucional para consolidar a cidade de Tabatinga, como referência da produção de bichos de pelúcia e enxovais de bebê (SEBRAE, 2001). Os resultados desse projeto foram: a criação da Câmara Setorial de Produtos Infantis (CASEPI) (PESQUISA DE CAMPO, 2015); o aumento do valor adicionado do município; o aumento do nível de formação dos profissionais do município; e o crescimento do número de pessoas ingressando no mercado de trabalho através dessa indústria (BRAZ, 2005). Além disso, o Poder Público municipal viabilizou uma oficina permanente de formação de mão de obra, com máquinas e galpão fornecidos por ele (BRAZ, 2005). A CASEPI envolvia a participação não apenas de fabricantes de bicho de pelúcia ou enxoval para bebê, mas também as indústrias de roupas infantis, móveis planejados, acessórios, entre outros ramos, os quais viam a governança como uma alternativa de acesso a novos clientes. O principal resultado dessa governança foi o estabelecimento e oficialização da Tabatinga Baby Show – Feira de bichos de plush, pelúcia, acessórios infantis e enxovais para bebês. Ela foi estimulada pelo Poder Público local, que disponibilizou recursos financeiros e criou o Conselho Municipal de Turismo (CONTUR), para coordenar e organizar a Feira (CAMARA MUNICIPAL DE TABATINGA, 2015). Uma ação projetada pelo CONTUR, na época, foi a reelaboração dos telefones públicos em formato de bicho de pelúcia, bem como o desenho de patas 609 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de urso nas entradas da cidade, como forma de desenvolver um clima atrativo ao turismo no município (PESQUISA DE CAMPO, 2015). Braz (2015) destaca que o aumento da força desse coletivo de empresas pôde ser observado: com a aprovação de um repasse de R$ 5 mil da Câmara Municipal à CASEPI; e com a viabilização do certificado da INMETRO, a todas as empresas da indústria voltadas à produção de produtos infantis, no município. Os presidentes da ACIAT e da CASEPI, do período, afirmam que a mudança na governança territorial do município apresentou impactos positivos, a partir do momento em que os empresários passaram a atuar com cooperação (BRAZ, 2005). Neste sentido, o autor destaca que a construção da cooperação dependia, principalmente, do empenho dos empresários. Havia, portanto, uma ideia aparente de que o município construiria um modelo bem sucedido de governança territorial. No entanto, em pesquisa de campo (2014), pôde-se observar a inexistência deste ambiente de cooperação apresentado por Braz (2005). Isto se evidencia quando há o rompimento na relação das empresas entre si e com o SEBRAE e o Poder Público Municipal, o que as distanciam das condições iniciais de formação da governança territorial. Este distanciamento deve-se, segundo alguns empresários, aos maiores benefícios concedidos às grandes empresas consolidadas no município, principalmente no período da Feira. Além disso, destacam que muitas das ideias elaboradas pela CONTUR não foram desenvolvidas e aquelas que foram implementadas (como o desenho de patas de urso nas entradas da cidade, por exemplo), não tiveram muito efeito por serem, por si só, insuficientes na criação de um clima atrativo ao turista (PESQUISA DE CAMPO, 2015). Frente a este contexto, verificou-se um processo de retração na postura dos empresários locais, que passaram a atuar de maneira individual no mercado (PESQUISA DE CAMPO, 2014). E, com isso, a maioria dos benefícios conquistados, em época anterior (quando havia cooperação), foi perdida ou se tornou uma dificuldade para os empresários locais mantê-las. Essa dificuldade pôde ser constatada no relato de um dos empresários (PESQUISA DE CAMPO, 2014), quando afirma que, em 2014, houve a necessidade de revalidação da certificação do INMETRO no setor e muitos empresários não 610 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO sabiam como proceder. Nesse sentido, alguns propuseram a contratação de uma pessoa para revalidar a certificação de todos, mas apenas duas empresas apareceram na reunião que iria definir a contratação desta pessoa, o que inviabilizou esta tentativa. Deve-se destacar também que já não existe a oficina permanente de formação de mão de obra, que era de responsabilidade do Poder Público local. Além disso, em 2014 não foi realizada a Feira de Exposição, e não há expectativas para elaboração da mesma para o ano de 2015, o que foi apontado como negativo por algumas empresas. Vale considerar, ainda, que as ações individualistas se intensificaram, tendo em vista a existência de uma espécie de “leilão” de empregados com “alta qualificação”. Deve-se destacar, ainda, que daquelas 55 empresas destinadas à fabricação de produtos têxteis, surgidas até 2012, muitas fecharam ou passaram a atuar por encomenda dentro da própria residência. O quadro atual das fábricas de confecções é de 27 empresas atuantes na indústria de confecção de bichos de pelúcia e enxovais de bebê e 3 na confecção de roupas infantis, o que denota o encerramento de 25 empresas, desde 2012. Apesar disto, em 2014, reiniciaram as reuniões entre os empresários e o Poder Público local, com o objetivo de reativação da CASEPI e de promoção do setor industrial no município, porém não houve sucesso nessas tentativas, principalmente, em razão da pouca confiança existente, entre os empresários, quanto ao Poder Público e SEBRAE (PESQUISA DE CAMPO, 2014). Por fim, vale mencionar que nas entrevistas realizadas com os seis empresários, observou-se discurso comum quanto à importância de cooperação entre os mesmos, para geração de benefícios, como com a compra coletiva. E que, apesar da pouca confiança em relação ao Poder Público, eles identificam a importância da atuação deste para estimular a indústria, visto que é um agente externo e, portanto, desprovido de interesses individuais. 4 – CONCLUSÃO O processo de aglomeração de pequenas empresas do setor de confecções no município de Tabatinga teve um surgimento endógeno, promovido, 611 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO principalmente, por pessoas do município, que já atuavam no setor, como trabalhadores, para empresas que prestavam serviço para a indústria de confecção de artigos de cama, mesa e banho de Ibitinga. Assim, ressalta-se a importância da proximidade desta indústria com as empresas de Tabatinga, tanto em termos de demanda de prestadores de serviço como pela distância geográfica. A governança territorial, estabelecida em formato de Câmara Setorial, foi possível em razão da existência de cooperação entre as empresas, mas também com participação do Poder Público local, da Associação Comercial do município e do SEBRAE. Com a instituição da governança territorial foi possível alcançar resultados positivos, dentre os quais se ressalta a feira de eventos Tabatinga Baby Show. No entanto, a partir do rompimento das relações de confiança e cooperação, tanto entre empresários quanto entre estes e o Poder Público municipal, a atuação dos primeiros passa a ser mais individualista. Atualmente, a aglomeração produtiva geográfica não apresenta uma governança territorial consolidada, fato que gerou consequências negativas, principalmente, às empresas, tais como: a desconstituição da CASEPI e da feira de eventos; a ação individualista frente a regulamentações governamentais e em relação à contratação de empregados. Pode-se perceber, por fim, que a participação do Poder Público na governança territorial foi importante, pois facilitava as ações conjuntas. Além disso, tem-se, a partir de uma perspectiva do empresariado local, o argumento da necessidade de investimento do Poder Público no setor, para estimular a geração de empregos, além de ampliar as vantagens competitivas do município. 5 - REFERÊNCIAS ABRAFAS. Associação Brasileira de Produtores de Fibras Artificiais e Sintéticas. Atuação. Disponível em: http://www.abrafas.org.br/abrafas/atuacao/atv/historico.html. Acesso em: 2015. BENKO, Georges. Economia, espaço e globalização na aurora do século XXI. 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