Curso de Pós-Graduação em Bioquímica e Imunologia Instituto de Ciências Biológicas Universidade Federal de Minas Gerais Projeto de dissertação de Mestrado Modelo Murino de Imunização com Células Dendríticas Transformadas ex vivo com cDNA de Antígenos Recombinantes de Verme Adulto de Schistosoma mansoni Aluno: Vinícius de Souza Góes Orientador: Alfredo Miranda de Góes Co-orientador: Maria de Fátima Leite Maio de 2002 Justificativa Células dendríticas (DC, do inglês Dendritic Cell) são células derivadas da medula óssea que possuem função de células apresentadoras de antígenos (1). Estas são encontradas na maioria dos tecidos como células imaturas caracterizadas pela eficiência na captação de partículas e microrganismos por fagocitose, macropinocitose e pinocitose mediada por receptores. Após ativação por agentes pró-inflamatórios, produtos bacterianos (LPS) ou infecção intracelular por vírus ou bactérias, as DCs sofrem maturação (2). Nesse estágio, as DCs migram para os tecidos linfóides secundários e sofrem grandes mudanças em suas propriedades: perdem a capacidade de captar antígenos, expressam altos níveis de MHC e moléculas acessórias (CD80, CD86, CD40), adquirindo a função de ativar linfócitos T antígeno-específicos (3). Frente a várias evidências que apontam as DCs como iniciadoras da resposta imune primária, tem-se criado um grande interesse na investigação de seu uso terapêutico como indutores específicos da resposta imune contra patógenos, incluindo viroses, bactérias, fungos e parasitas (2-5). Recentemente demonstrou-se a participação de DC como mediador celular crítico na produção de resposta imune protetora contra tumores em vacina de DNA (6, 7). Modelos murinos experimentais têm convincentemente demonstrado que DC carregada com antígenos tumor-associado é capaz de produzir imunidade protetora e curativa anti-tumor (8). Na esquistossomose, parasitose endêmica de ocorrência bastante ampla causada pelo trematódeo Schistosoma mansoni (9, 10), o desenvolvimento de uma vacina anti-schistosômica tem sido uma área de pesquisa particularmente ativa. A demonstração da habilidade de humanos na aquisição de resistência à infecção por S. mansoni (11) junto com o avanço em pesquisas com infecções experimentais utilizando cercarias atenuadas ou antígenos definidos, sugerem que é possível o desenvolvimento de uma vacina (12, 13). A tecnologia de vacina de DNA vêm sendo empregado com sucesso em modelos experimentais de infecção, resultados como proteção efetiva em camundongos imunizados (14) e efeitos anti-fecundidade com redução da patologia da doença (15) foram recentemente descritos. Apesar disso, pouco se sabe sobre o mecanismo preciso associado com a aquisição de resistência, particularmente, sobre as variáveis que governam a participação de DCs no desencadeamento de uma resposta imune primária que levaria a suscetibilidade ou resistência à infecção por S. mansoni (16-18). A elucidação desses processos seria de grande valor no desenvolvimento de uma vacina antischistosômica. Sato & Kamiya (1995) relataram a necessidade da presença de DCs, como células imuno-estimulatórias, no desencadear de uma resposta eficiente de célula T, em linfonodos periféricos, frente à exposição percutânea de larvas normais ou atenuadas de S. mansoni em cobaias. Tendo em vista a importância destas células na produção de uma resposta imune primária, resolvemos investigar se células dendríticas transformadas com cDNA de antígenos recombinantes de S. mansoni são capazes de desenvolver uma resposta imune contra uma infecção experimental. 1 Objetivo Geral Avaliação in vivo da resposta imune de camundongos BALB/c imunizados com células dendríticas transformadas com cDNA de antígenos de verme adulto de Schistosoma mansoni. Objetivos Específicos 1. Seleção de clones que expressam antígenos recombinantes através da triagem de biblioteca de cDNA de verme adulto de S. mansoni por ELISA de captura. 2. Estabelecimento e fenotipagem de cultura primária de células dendríticas derivadas de medula óssea de camundongos BALB/c. 3. Transformação e ativação de células dendríticas com vetor de expressão para células de mamíferos contendo cDNA codificando antígenos previamente selecionados. 4. Avaliação da resposta imune de camundongos BALB/c imunizados com células dendríticas transformadas frente a infecção desafio com S. mansoni. 2 Estratégia experimental 1. Seleção de antígenos recombinantes. Para a seleção de antígenos recombinantes, clones positivos para fagemídio pBluescript contendo inserto serão selecionados de uma biblioteca de cDNA de verme adulto de S. mansoni clonado no vetor lambda ZapII (Stratagene). Esses clones serão cultivados com IPTG, para expressão da proteína recombinante, e células rompidas por sonicação. Após centrifugação, sobrenadantes serão recolhidos e testados por ELISA de captura utilizando anticorpos contra antígenos de verme adulto de S. mansoni. Clones que apresentaram reatividade expressiva no teste de ELISA, terão DNA plasmidial purificado e sequenciado. As sequências de DNA obtidas serão editadas e comparadas com outras sequências de DNA e de aminoácidos, depositadas em bancos de dados não redundantes, utilizando os programas Blastn e Blastx (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/Blast). Dessas sequências, quatro serão selecionadas e terão incerto amplificados e subclonados em vetor de expressão em mamíferos. 2. Obtenção de célula dendrítica. DCs serão preparados segundo protocolo de Inaba et al. Brevemente, suspensão de medula óssea será extraída de fêmurs e tíbias de camundongos BALB/c, tratados com tampão 0.17 M Tris-NH4Cl para lise de eritrócitos e 5 x 106 células serão semeados em frascos de teflon em 10 ml meio RPMI 1640 contendo 5% de FCS, gentamicina (50 g/ml) e 10% de meio condicionado contendo GM-CSF. A cada dois dias, 50% do meio de cultura é trocado. 3. Transformação ativação de célula dendrítica Transfecção de células dendríticas será realizado com EffectineTM Transfection Reagent (Quiagen) segundo protocolo recomendado pelo fabricante. Após transfecção, as células serão ativadas pela adição de 0,1g/ml de LPS no meio de cultura. 4. Imunização de camundongos Imunização intradérmica com 1-5 x 105 células dendríticas transformadas ou não será realizado em grupo de oito camundongos BALB/c. Após 28 dias, seguidos a imunização, será realizado um reforço e, após 56 dias, uma infecção desafio com S. mansoni. A cada manipulação dos camundongos será realizado coleta de sangue e soro recolhido para testes em ELISA e Western Blot. 5. Citometria de fluxo Os ensaios de imunofluorescência para avaliar a expressão e modulação de marcadores de superfície de células dendríticas serão realizados, em placas de microtitulação de 96 poços, segundo Falcão (2000). Assim, analisaremos os seguintes marcadores de superfície celular: MHC II (I-A), CD 11c, DEC 205, CD80, CD86, CD40. 3 Viabilidade do Projeto O laboratório de Imunologia Celular e Molecular, sob a orientação do Prof. Alfredo Miranda de Góes, possui os reagentes e os equipamentos necessários para o desenvolvimento deste projeto. As técnicas empregadas na metodologia (técnicas de biologia molecular, cultivo celular, ELISA, transformação celular e outras técnicas imunológicas e bioquímicas) são amplamente utilizadas nesse laboratório. Os experimentos de transformação celular serão realizados com a colaboração da professora Maria de Fátima Leite. Cronograma 1o Semestre a. Seleção de clones codificadores de antígenos recombinantes de S. mansoni. b. Subclonagem, em vetor de expressão em mamíferos, do cDNA de antígenos selecionados. 2o Semestre a. b. c. d. Estabelecimento e fenotipagem de cultura primária de células dendríticas. Transformação e ativação das células dendríticas cultivadas. Imunização de camundongos BALB/c e posterior desafio com S. mansoni. Avaliação da ação imunogênica de células dendríticas transformadas. 3o Semestre a. Análise dos resultados e redação final da dissertação do mestrado. 4 Bibliografia 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Steinman, R.M. (1991). The dendritic cell system and its role in immunogenicity. Annual Review of Immunology 9: 271-296. Lopez, C.B., Fernandez-Sesma, A., Czelusniak, S. M., Schulman, J.L., and Moran, T.M. (2000). A mouse model for imunization with ex vivo virus-infected dendritic cells. Cellular Immunology 206: 107-115. Banchereau, J., Steinman, R.M. (1998). Dendritic cells and the control of immunity. Nature 392: 245-252. Cella, M., Sallusto, F., and Lanzavecchia, A. (1997). Origin, maturation and antigen presenting function of dendritic cells. Current Opinion in Immunology 9: 10-16. Reyes-Sandoval, A. and Ertl, H.C. (2001). DNA vaccines. Current Molecular Medicine 1(2): 217-243. 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