FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS URBANOS DE VÁRZEA GRANDE, MATO GROSSO, BRASIL MARGÔ DE DAVID CUIABÁ - MT 2015 MARGÔ DE DAVID OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS URBANOS DE VÁRZEA GRANDE, MATO GROSSO, BRASIL Orientadora: Profᵃ. Dra. Maria Corette Pasa Dissertação apresentada a Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais para obtenção do título de mestre. CUIABÁ – MT 2015 iv À minha família, Luis meu companheiro, meus filhos, Gustavo e Marcela, por todo amor e carinho. Aos meus pais, Elli e Ademir por me terem dado afeto, educação e valores. Às minhas irmãs, Rejane e Marisa, mesmo distantes, sempre presentes em minha vida. À minha orientadora Profª. Dra. Maria Corette Pasa, pela oportunidade, acolhimento e amizade. v AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus pela oportunidade que me foi dada na vida e pela proteção em todos os momentos. Em especial à minha orientadora, por me proporcionar o conhecimento da Etnobotânica. Sua orientação, incentivo e ensinamentos foram fundamentais para a realização deste trabalho. À minha família, especialmente ao meu esposo pelo apoio, compreensão e carinho. Aos meus filhos amados e à querida Natália. Obrigada pela companhia e auxílio recebidos de todos vocês, principalmente na fase de campo. À Universidade Federal de Mato Grosso e ao Programa de PósGraduação em Ciências Florestais e Ambientais (PPGCFA/UFMT) pelo auxílio na realização deste estudo, em especial aos professores do programa. À Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) por permitir o afastamento para qualificação profissional concedida no período de março de 2013 a fevereiro de 2015. À Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT) pela concessão da bolsa de incentivo cedida entre o período de maio de 2014 a fevereiro de 2015. Aos membros da Banca de Qualificação Profᵃ. Dra. Carla Maria Abido Valentini e Prof. Dr. Antonio de Arruda Tsukamoto Filho pelas magníficas sugestões que contribuíram para a melhoria da minha pesquisa. Aos colegas de curso pela amizade, carinho e momentos compartilhados nesta trajetória acadêmica. vi Ao Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso pela valiosa colaboração com a identificação das espécies e confecção das exsicatas. Aos informantes dos bairros Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei e Santa Isabel que, gentilmente, participaram deste trabalho e colaboraram através do seu conhecimento. A todos que direta e indiretamente contribuíram para a realização desta pesquisa. Muito obrigada. vii SUMÁRIO Página RESUMO................................................................................................. xv ABSTRACT............................................................................................ xvi 1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 1 1.1. OBJETIVOS........................................................................................ 4 1.2. OBJETIVO GERAL............................................................................. 4 1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................... 4 2. REVISÃO DE LITRATURA.................................................................. 5 2.1. ETNOBOTÂNICA E COMUNIDADES TRADICIONAIS E SABER LOCAL....................................................................................................... 5 2.2. BIOMA CERRADO E UNIDADES DE PAISAGENS.......................... 6 2.3. ETNOCATEGORIAS DE USOS DAS PLANTAS............................... 9 3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................... 11 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................... 11 3.1.1. Aspectos Físicos..............................................................................11 3.1.2. Aspectos Históricos e Sociais........................................................ 12 3.1.3. Economia........................................................................................ 13 3.2. SELEÇÃO DOS BAIRROS................................................................ 15 3.3. SELEÇÃO DAS RESIDÊNCIAS........................................................ 15 3.4. TÉCNICAS DE PESQUISA............................................................... 16 3.4.1. Pré-Teste........................................................................................ 16 3.4.2. Observação Direta.......................................................................... 16 3.4.3. Entrevista Semiestruturada............................................................ 16 3.4.4. História de Vida.............................................................................. 17 3.4.5. Turnê Guiada….............................................................................. 17 3.5. REGISTRO DAS INFORMAÇÕES.................................................... 17 3.5.1. Diário de Campo............................................................................. 17 3.5.2. Registro Fotográfico....................................................................... 17 3.5.3. Trabalho de Campo........................................................................ 18 viii 3.6. COLETAS ETNOBOTÂNICAS......................................................... 18 3.7. ANÁLISE DOS DADOS.................................................................... 19 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................... 21 4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO........................................................... 21 4.2. PERFIL CULTURAL E AMBIENTAL DOS BAIRROS........................ 32 4.2.1. As Unidades de Paisagens............................................................ 32 4.2.1.1. Cerrado........................................................................................ 32 4.2.1.2. Quintais....................................................................................... 32 4.2.1.3. Roça ........................................................................................... 39 4.2.1.4. Matas ripárias...............................................................................40 4.2.2. Etnobotânica, Manejo e Conservação das Plantas........................ 42 4.2.3. Etnocategorias e Consenso do Uso das Plantas........................... 50 4.2.3.1. Bairro Água Vermelha................................................................ 50 4.2.3.2. Bairro Bonsucesso..................................................................... 64 4.2.3.2. Bairro Cristo Rei......................................................................... 82 4.2.3.4. Bairro Santa Isabel..................................................................... 95 5. CONCLUSÕES.................................................................................. 106 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 108 APÊNDICE ............................................................................................ 116 ANEXO .................................................................................................. 121 ix LISTA DE TABELAS Página 1. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE INFORMANTES POR TEMPO DE MORADIA NOS BAIRROS AV, BS, CR, SI. VÁRZEA GRANDE, MT 2014..................................................................................................... 25 2. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS......................................................................................... 54 3. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS......................................................................................... 72 4. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS......................................................................................... 85 5. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS......................................................................................... 98 x LISTA DE FIGURAS Página 1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................ 12 2. LOCALIZAÇÃO DOS BAIRROS, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 15 3. IDADE DOS INFORMANTES - BAIRRO ÁGUA VERMELHA VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................ 22 4. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................ 22 5. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 23 6. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 7. ORIGEM DOS 23 INFORMANTES - BAIRROS: ÁGUA VERMELHA, BONSUCESSO, CRISTO REI, SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 24 8. ATIVIDADE DOS INFORMANTES - BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 27 9. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................... 27 10. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................... 28 11. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................... 28 12. RENDA MENSAL DOS INFORMANTES DE VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................................... 29 13. NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS INFORMANTES DE VÁRZEA GRANDE, MT. 2014......................................................... 30 14. RELIGIÃO DOS INFORMANTES DE VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 .......................................................................................... 32 15. VISTA PARCIAL DE QUINTAL NO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................... 33 16. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.... xi 36 17. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......... 36 18. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 .............. 37 19. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 ......... 37 20. VISTA PARCIAL DA ROÇA COM CULTIVO DE CANA-DEAÇÚCAR NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.................................................................................................. 40 21. VISTA PARCIAL DA MATA RIPÁRIA ÀS MARGENS DO RIO CUIABÁ NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.................................................................................................. 41 22. ORIGEM DO ETNOCONHECIMENTO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................................................... 43 23. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO NO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................................................... 45 24. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.................................................................................................. 46 25. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO NO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014................................................................................................. 46 26. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO NO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.................................................................................................. 46 27. MANUTENÇÃO DO QUINTAL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.. 48 28. RUA BOA VISTA, BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................................ 52 29. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................... 30. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS CITADAS PELOS INFORMANTES xii ESPÉCIES/HÁBITO DO BAIRRO ÁGUA 60 VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..................................... 61 31. BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..... 63 32. RUA GIL JOÃO DA SILVA, BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................................... 65 33. EXPOSIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS. FESTA DE SÃO PEDRO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014............................................................................................ 67 34. PRODUÇÃO DE RAPADURA NO ENGENHO DONA BUGUELA, BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.................. 68 35. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................................... 78 36. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................... 80 37. BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014................ 81 38. AVENIDA 31 DE MARÇO, BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.......................................................................... 82 39. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014............................................................................ 91 40. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014............................................................ 93 41. BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014................ 94 42. RUA I, BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 95 43. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL VÁRZEA GRADE, MT. 2014............................................................. 103 44. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................................... 104 45. BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 .......... 105 xiii RESUMO DE DAVID, Margô. Os recursos vegetais e a etnobotânica em quintais de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil. 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais e Ambientais) – Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT. Orientadora: Profª. Dra. Maria Corette Pasa. O uso dos recursos naturais é essencial no cotidiano de diferentes comunidades. Neste sentido, as pesquisas etnobotânicas proporcionam inúmeras contribuições para a compreensão da relação entre essas comunidades e as plantas. Portanto, este estudo teve como objetivo catalogar, sistematizar e analisar de forma integrada o conhecimento que os moradores de quatro bairros de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil, possuem a respeito da flora nas unidades de paisagens, bem como da utilização, do manejo e da conservação dos recursos vegetais nos quintais. A área de estudo foi escolhida através de um sorteio dos questionários aplicados aos alunos da Escola Estadual Professor Jercy Jacob, que residem em diferentes bairros. Foram sorteados quatro bairros: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei e Santa Isabel e cinco quadras em cada um, totalizando 20 quadras. Dentro de cada quadra foram sorteadas quatro residências, totalizando 80 residências para aplicação das entrevistas. As técnicas de pesquisa utilizadas foram: préteste, observação direta, entrevista semiestruturada, história de vida e turnê guiada. As coletas etnobotânicas consistiram-se através de visitas nas residências dos moradores, no período de maio de 2013 a abril de 2014, com um total de 127 informantes. No levantamento os informantes citaram 249 espécies vegetais distribuídas em 84 famílias botânicas. As espécies catalogadas foram distribuídas em etnocategorias de uso Alimentar (34%), Medicinal (64%), Ornamental (24%) e Outros usos (29%). Assim identificou-se os principais usos das espécies relatadas pelos informantes, com destaque para a categoria Medicinal. As famílias com maior representatividade foram Asteraceae (16 espécies), Lamiaceae (15 espécies), Fabaceae (14 espécies), Solanaceae (11 espécies), Araceae (nove espécies), Cucurbitaceae (oito espécies) e Anacardiaceae, Myrtaceae, Rutaceae (cada qual com sete espécies). Estas espécies estavam presentes principalmente nos quintais, mas também em outras unidades de paisagens do cerrado, mata de galeria e roça. Dentre as plantas que se destacaram quanto a Frequência Relativa de Concordância Quanto aos Usos Principais estão: Mangifera indica L., Cymbopogon citratus (DC.) Stapf., Plectranthus barbatus Andrews, Saccharum officinarum L., Punica granatum L., Alloe vera (L.) Burm f., Allium fistulosum L. O conhecimento que essa população possui sobre as plantas presentes nos quintais é transmitido preferencialmente por meio do convívio familiar. Quanto ao manejo dos quintais são utilizados, principalmente, insumos agrícolas naturais e as regas são feitas ao amanhecer ou no final da tarde, sendo esta manutenção realizada sobretudo pelas mulheres. Deste modo, o cultivo de diferentes espécies, o manejo, a finalidade e a forma de uso contribuem para a conservação das plantas nesses ambientes. Palavras-chave: Saber local; manejo; plantas; etnocategorias de usos. xiv ABSTRACT DE DAVID, Margô. The plant resources and ethnobotany in homegardens of Várzea Grande, Mato Grosso, Brazil. 2015. Dissertation (Master of Forestry and Environmental Sciences) - Federal University of Mato Grosso, Cuiabá-MT. Advisor: Profª. Dra. Maria Corette Pasa. The use of natural resources is essential in the daily life of different communities. In this sense, the ethnobotanical studies provide numerous contributions to the understanding of the relationship between these communities and plants. Therefore, this study aimed to catalog, organize and analyze in an integrated way the knowledge that the residents of four neighborhoods of Várzea Grande, Mato Grosso, Brazil, have about the flora in the landscape units, as well as the use, management and conservation of plant resources in the yards. The study area was chosen through a random selection of questionnaires given to students of the Escola Estadual Professor Jercy Jacob, living in different neighborhoods. Were drawn four neighborhoods: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei and Santa Isabel and five blocks in each, totaling 20 blocks. Within each block were randomly selected four homes, totaling 80 homes for application of interviews. The research techniques used were pre-test, direct observation, semi-structured interviews, life history and guided tour. The ethnobotanical collections consisted up informally, through visits in the homes of neighborhoods, from May 2013 to April 2014, with 127 informants. In the survey, informants cited 249 plant species in 84 plant families. The cataloged species were distributed in Food ethnocategories of use (34%), Medical (64%), Ornamental (24%) and Other uses (29%). Therefore, we identified the main uses of the species reported by informants, especially the Medical category. Families with greater representation were Asteraceae (16 species), Lamiaceae (15 species), Fabaceae (14 species), Solanaceae (11 species), Araceae (nine species), Cucurbitaceae (eight species) and Anacardiaceae, Myrtaceae, Rutaceae (each seven species). They are found mainly in homegardens, but also in other cerrado landscape units, gallery forest and fields. Among the plants that stood out as the Relative Frequency of Agreement Regarding the Main, uses are Mangifera indica L., Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Plectranthus barbatus Andrews, Saccharum officinarum L., Punica granatum L., Alloe vera (L.) Burm f., Allium fistulosum L. The knowledge that this population has on the plants present in homegardens is transmitted preferably through the family life. For the management are used mainly natural agricultural inputs and irrigation are made at dawn or in the late afternoon, which is maintenance performed mainly by women. Thus, the cultivation of different kinds, the purpose and manner of use contribute to the preservation of plants in these environments. Key words: Local knowledge, management, plants, ethnocategories of uses. xv 1. INTRODUÇÃO Há muito tempo o homem aproveita a natureza e dela retira diversos recursos vegetais como benefício de sua subsistência. Dentre esses recursos estão as plantas, que podem ser usadas para as mais variadas finalidades como, alimentação, construção, remédios, ornamentação entre outros. Além do cultivo de plantas, a criação de animais também é atividade exercida há vários milênios. Em países em desenvolvimento o uso desses recursos é essencial em múltiplos aspectos no cotidiano de grande parte da população. Entretanto, há alguns anos atrás, o cultivo de plantas em áreas urbanas era comum, principalmente em classes menos favorecidas. Hoje em dia, com o avanço nas pesquisas e a tendência pelo consumo de produtos naturais e orgânicos, está ocorrendo uma mudança de comportamento da população. Em quintais ou jardins urbanos e muitas vezes onde esse espaço é reduzido, como é o caso de condomínios verticais, pessoas com melhor poder aquisitivo cultivam plantas de pequeno porte para o próprio consumo. O conhecimento das plantas por uma comunidade faz parte da sua cultura e é transmitido através das gerações ao longo das décadas e séculos, por isso encontra-se relacionado com sua história de vida. Existe, portanto, um grande tesouro do saber local por pesquisar e documentar antes que se perca para sempre (PASA, 2007). Segundo Caballero (1979), Etnobotânica é a ciência que estuda as plantas e a interação destas com as comunidades humanas, assim como investiga novos recursos vegetais. Pode-se dizer que a Etnobotânica é antiga em sua prática, mas jovem em sua teoria. De acordo com estudos, a sua origem coincide com o surgimento das civilizações humanas, através dos primeiros contatos entre o homem e as plantas. Porém, no meio acadêmico a Etnobotânica foi mencionada pela primeira vez no final do século XIX pelo botânico John W. Harshberger (CLÉMENT, 1998). 1 Seu caráter interdisciplinar e integrador é evidenciado na diversidade de tópicos que pode pesquisar, agrupando os fatores culturais e ambientais, bem como as concepções desenvolvidas por essas culturas sobre as plantas e a sua utilização (ALBUQUERQUE, 2005). Investigações que combinam conhecimentos tradicionais e modernos são de grande importância para a manutenção da cultura. Dessa maneira, contribui para a conservação da diversidade biológica e cultural nas mais variadas regiões. Trata-se, de uma área interdisciplinar que abrange o estudo e a interpretação do saber, a significação cultural, o manejo e os usos tradicionais da flora (CABALLERO, 1979). Pesquisar as relações entre comunidades humanas e flora local sugere em considerar que nas sociedades modernas o quintal, seja ele urbano ou rural, é o principal local de cultivo, manejo, criação, lazer e trabalho diário (CARNIELLO e PEDROGA, 2008). Os “homegardens” tropicais são constituídos de uma reunião de plantas, incluindo árvores, arbustos, trepadeiras e plantas herbáceas crescendo adjacentes às casas (NAIR,1993). Estes quintais são formados e mantidos pelos membros da família e seus produtos são destinados para consumo próprio. Assim, os “homegardens” podem ser estabelecidos em quase todas as ecozonas tropicais e subtropicais, onde os sistemas de uso da terra, baseado na subsistência, predominam. A exemplo, no México, “hortos familiares”, na América Central “hortos caseros”. Para Saragoussi et al. (1988) no Brasil o termo “quintal” é usado para determinar o espaço do terreno situado ao redor da casa e que é utilizado pela família. Complementando a ideia, Ferreira e Dias (1993) definem os quintais mato-grossenses como a porção de terra perto da casa, onde se cultivam ou se mantém múltiplas espécies que servem de fonte às necessidades nutricionais básicas da família, como alimento e remédio. Os quintais são espaços de fácil acesso para os moradores cultivarem uma variedade de espécies com funções entre elas: estética, lazer, alimentação e medicinal. Importante ressaltar que em todas as regiões tropicais do mundo ocorre o sistema agroflorestal denominado de 2 quintal, com suas variantes em cada região ou país, sendo muito semelhantes na sua estrutura e função (SIVIERO et al., 2011). Deste modo, o resgate etnobotânico, através do saber local permite compreender o aproveitamento e a interação das pessoas e as plantas, obtendo informações sobre as espécies vegetais úteis e possibilitando o registro da estrutura de organização dos quintais, a composição, o manejo e a função das plantas. 3 1.1 . OBJETIVOS 1.1.1. Objetivo Geral Catalogar, sistematizar e analisar de forma integrada o conhecimento que os moradores de quatro bairros de Várzea Grande possuem a respeito da flora bem como da utilização, do manejo e da conservação dos recursos vegetais nos quintais das residências. 1.1.2. Objetivos Específicos Identificar as plantas e partes das mesmas usadas pelos moradores de quatro bairros. Registrar os meios para a aquisição e procedência das plantas presentes nos quintais. Realizar um levantamento etnobotânico e identificar as etnocategorias das plantas nos quintais. Divulgar as estratégias de conservação dos recursos vegetais como garantia de utilização de espécies. Proporcionar a difusão dos conhecimentos científicos locais como forma de evitar a erosão cultural desta população mato-grossense, através de publicações. Apresentar à população os resultados da pesquisa, através da produção científica na forma de um livro. 4 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. ETNOBOTÂNICA E COMUNIDADES TRADICIONAIS/SABER LOCAL A etnobotânica tem como finalidade a investigação e o resgate do saber botânico tradicional, principalmente relacionado ao uso dos recursos da flora. Assim, pesquisas nessa área podem cumprir funções extremamente importantes, agrupando informações sobre os usos das plantas e colaborando para o desenvolvimento de novas formas de exploração dos ecossistemas que se contraponham às formas destrutivas existentes (PASA, 2011a). Para Diegues (2000) a etnobotânica possui um dos aspectos que mais tem colaborado para analisar o conhecimento das populações tradicionais sobre os métodos naturais, não se podendo aceitar o desprezo ao conhecimento tradicional acumulado, onde se troca a etnociência pela ciência moderna. No passado o conhecimento a respeito do uso das plantas era limitado aos povos isolados geograficamente, porém, no Brasil, a partir do século XX, se tornou comum para outras comunidades, tanto nos espaços rurais quanto urbanos (VENDRUSCULO e MENTZ, 2010). De acordo com Diegues (2000), o conhecimento tradicional pode ser definido como o saber e o saber-fazer, a respeito do mundo natural e sobrenatural, gerados na esfera da sociedade não urbano/industrial. Assim, são transmitidos de forma oral e, através de procedimentos e rituais que ensinam por observação do aprendiz ao longo das gerações. O mesmo autor assegura que em diversas comunidades tradicionais o conhecimento com relação ao uso, melhoramento e conservação do saber é um bem que pode ser compartilhado com os membros da própria comunidade ou mesmo com outras comunidades. No Brasil, o decreto n.º 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, refere-se ao termo populações tradicionais como povos ou comunidades tradicionais, os quais são definidos pelo Artigo 3 como: 5 “Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007). Investigar a maneira pela qual as sociedades humanas relacionam-se com o ambiente a sua volta tem papel fundamental no resgate, registro e sistematização do saber popular. Além de refletir a relação humana com o ambiente, poderá auxiliar planos de manejo que tendam a conservação da biodiversidade bem como tornar acessíveis esses saberes às futuras gerações (SANTOS e GUARIM NETO, 2008) Albuquerque (2002) afirma que o estudo etnobotânico é o principal aliado na interação entre as populações humanas e o ambiente natural, na busca do desenvolvimento sustentável junto às populações tradicionais. As culturas tradicionais desenvolveram formas particulares de manejo dos recursos naturais que não visam diretamente o lucro mas a reprodução cultural e social como também percepções e representações em relação ao mundo natural marcadas pela ideia de associação com a natureza e a dependência de seus ciclos (DIEGUES, 2000). 2.2. BIOMA CERRADO E UNIDADES DE PAISAGENS O cerrado compreende um complexo de formações oreádicas (cobertura vegetal campestre que não seja propriamente uma floresta), que vão desde o campo limpo até o cerradão, concebendo suas formas savânicas (campo sujo, campo cerrado e cerrado sensu stricto) verdadeiros ecótonos de vegetação entre a forma florestal, representada pelo cerradão, e a campestre, constituída pelo campo limpo (COUTINHO, 1978). 6 Segundo Batalha (2011) podemos usar a palavra “cerrado” em três sentidos: i) Cerrado, com a inicial maiúscula, quando estivermos nos referindo ao domínio fitogeográfico do Cerrado, incluindo não só o cerrado sensu lato, mas também os outros tipos vegetacionais que ali se encontram; ii) cerrado sensu lato ou simplesmente cerrado, quando estivermos nos referindo ao cerrado enquanto tipo vegetacional, isto é, do campo limpo ao cerradão – aqui há um complexo de biomas, bioma dos campos tropicais, das savanas e das florestas estacionais; e iii) cerrado sensu stricto, quando estivermos nos referindo a uma das fisionomias savânicas do cerrado sensu lato. No início da década de 1970, através de incentivos governamentais e a adoção da mecanização, a vegetação natural do cerrado passou por um processo de intensa derrubada motivada pela agricultura e pecuária, principalmente. Dessa forma, proporcionou uma gradativa alteração de paisagem, sobretudo na cobertura vegetal (ALMEIDA, 1998). Entretando, combinar conservação e gestão de recursos no cerrado é um trabalho que envolve a importância dos conhecimentos tradicionais além da potencialidade de vida e a variedade de ambientes inseridos no bioma e suas particularidades (GUARIM NETO et al., 2010a). Os mesmos autores destacam que o cerrado mato-grossense prossegue com inúmeras possibilidades com relação aos seus recursos vegetais, sendo as populações humanas possuidoras desses saberes, pois detém um profundo conhecimento ao utilizarem a flora local, essencial em seu cotidiano. Dentre as diferentes unidades de paisagens do cerrado inseridas neste estudo estão as matas ripárias, as roças e os quintais. Estes últimos (roças e quintais) são resultantes da alteração da paisagem pelo homem. Matas de galeria As matas de galeria também podem ser designadas florestas ribeirinhas, matas ciliares ou matas ripárias por alguns pesquisadores. 7 Esta última, não necessariamente precisa estar margeando os cursos d’água. Para esta forma de vegetação a extensão da mata se encontra longa e estreita, formando uma galeria. Assim, estão presentes ao longo dos cursos d’água, a exemplo de riachos, rios e córregos (MANTOVANI, 1989; HARIDASAN, 1998). As matas de galeria do cerrado destacam-se através da riqueza, diversidade genética e pela sua função em proteger os recursos hídricos, edáficos e faunísticos (REZENDE, 1998). Segundo Ribeiro e Schiavini (1998) essa vegetação fornece importante material para pesquisas com relação ao uso de espécies nativas na recuperação de áreas degradadas do Cerrado. Dentre os fatores que colaboram para isso, estão o valor econômico de algumas espécies, à conservação da flora, da fauna e dos recursos hídricos e à sua importância regional. Roças Conforme Adams (2000) a agricultura itinerante para o sustento familiar nas florestas evoluiu, de forma independente, em todas as regiões tropicais e revelou-se sustentável ao longo dos séculos. Entretando, a autora afirma que no Brasil, essa prática é uma herança indígena, e pode receber várias designações, como agricultura de coivara, roça de coivara, roça de toco, agricultura de subsistência ou de derrubada e queima. As roças são espaços ocupados pela produção agrícola, cuja formação incide em áreas abertas no interior da vegetação natural, especialmente com a derrubada da mata ou do cerrado. São representadas pelas unidades familiares e, geralmente constituídas por uma produção diversificada, contrastando com a lógica produtivista que ressalta a racionalidade econômica através de sistemas especializados (PASA, 2007). Quintais Os sistemas de quintais agroflorestais também conhecidos como hortos, “home garden”, quintais caseiros ou pomares, constituem 8 uma forma de uso da terra em domínio particular, onde várias espécies arbóreas são cultivadas juntamente com culturas perenes e anuais, podendo haver também a criação de animais de pequeno porte em volta da moradia (NAIR,1993; NAIR e KUMAR, 2006). Os quintais são designados por diversos grupos humanos o espaço ao redor das residências. Ainda que muitas vezes apresentem extensão territorial reduzida, os quintais acumulam uma diversidade vegetal com complexas manifestações culturais quanto à origem, o manejo e a utilização (CARNIELLO e PEDROGA, 2008). Segundo Amorozo (2008) são múltiplos os papéis desempenhados pelos quintais, sejam eles instituídos pelos moradores ou mesmo desprovidos de planejamento. Entre as funções a autora cita: a) Funções biológicas e ecológicas: - domesticação e aclimatação: através do plantio de espécies que o produtor ainda não está acostumado; - conservação de agrobiodiversidade: podem exercer o papel de viveiros de mudas; diversas espécies não estão mais presentes em seus ambientes naturais, mas podem ser encontradas e conservadas nos quintais; - serviços ambientais: melhoram o microclima, aumentam a umidade, reduzem o calor e absorvem poluente. b) Funções sociais, econômicas e culturais: - produção para consumo familiar e/ou para mercado: contribuindo para a melhoria da alimentação; - a face social e cultural dos quintais: aumentando o espaço da residência, realização de atividades domésticas e de lazer. 2.3. ETNOCATEGORIAS DE USOS DAS PLANTAS A sociedade humana acumula um acervo de informações a respeito do ambiente que a envolve e que vai lhe permitir interagir com ele para fornecer suas necessidades de sobrevivência. Assim, registra-se 9 o conhecimento referente ao mundo das plantas com o qual estas sociedades estão em contato (AMOROZO, 1996). Os usos que as comunidades humanas impõem às espécies vegetais constituem as etnocategorias de uso. A diversidade vegetal além de prover as múltiplas necessidades alimentares, medicinais, de abrigo, de edificações, de embelezamento, de lazer, de artesanato, dentre outras para as populações, encontram-se profundamente relacionadas à conservação do meio natural (CARNIELLO e PEDROGA, 2008). A utilização das plantas na alimentação e na medicina tradicional está presente na vida humana há séculos. No passado diversas civilizações já faziam o uso de determinadas espécies vegetais em rituais religiosos e no método de mumificação (MACIEL e GUARIM NETO, 2008). As plantas representaram a única fonte de tratamento de doenças para o ser humano durante muito tempo. Entretanto, através do desenvolvimento da química farmacêutica, no começo do século XXI, as plantas constituíram a principal matéria-prima para o desenvolvimento de medicamentos (CARVALHO, 2010). No Brasil, o conhecimento específico sobre o uso de plantas é decorrência de uma miscigenação cultural, abrangendo os europeus, os indígenas e os africanos (MARTINS et al., 2003). Atualmente o uso de ervas medicinais, aromáticas e condimentares vem crescendo por diversos motivos, a saber: eficácia dessas plantas, efeitos colaterais de medicamentos sintéticos e também por modismos (CARVALHO, 2010). A exploração da flora nativa, através da extração direta nos ecossistemas tropicais (extrativismo), provoca reduções drásticas da vegetação, tanto pelo processo predatório de exploração, quanto pela falta de conhecimento de perpetuação das espécies. Deste modo, a domesticação e o cultivo são alternativas para obtenção da matéria-prima de interesse farmacêutico e redução do extrativismo nas formações florestais (REIS e MARIOT, 1999). 10 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O presente trabalho foi realizado na cidade de Várzea Grande, Estado de Mato Grosso. 3.1.1. Aspectos Físicos O município é designado pelo Projeto Radambrasil (1982) como uma região da Depressão Cuiabana e delimitado pelas coordenadas geográficas 15° 38′ 49″, de latitude Sul e 56° 07’ 58”, de longitude Oeste (IBGE, 2009). Faz limites ao norte com os municípios de Acorizal e Jangada, a leste com Cuiabá e Santo Antônio de Leverger, ao sul e a oeste com Nossa Senhora do Livramento (Figura 1). Pertence à mesorregião Centro-Sul Mato-Grossense e microrregião de Cuiabá. O clima da região é tropical semiúmido (Aw na classificação de Koppen), com precipitação pluviométrica anual de 1.350 mm (INMET, 1996) e apresenta duas estações bem definidas: a seca, que vai de maio a outubro, e a chuvosa, que vai de novembro a abril. A amplitude térmica varia muito, com temperatura média anual de 26ᵒC, com mínimas de 15ᵒC e máximas de 32ᵒC. A umidade relativa do ar apresenta média anual em torno de 74% (FUNASA, 2007). 11 FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO. VÁRZEA GRANDE, MT. Fonte CITYBRAZIL, 2014. 3.1.2. Aspectos Históricos e Sociais A cidade de Várzea Grande surgiu da doação de uma sesmaria aos índios Guanás, considerados hábeis canoeiros e pescadores, em 1832 por parte do Governo Imperial. A região foi caminho obrigatório das boiadas que vinham de Rosário do Rio Acima (hoje Rosário Oeste) em busca de Cuiabá, capital do Estado (OLIVEIRA, 2008). Porém, conforme a história tradicional, sua fundação está profundamente ligada ao acampamento militar instalado durante a guerra com o Paraguai, supostamente nos arredores do atual centro da cidade o Acampamento Couto Magalhães. Entretanto, este acampamento militar que dava suporte à capital do estado durante a guerra, e que foi estabelecido em 15 de maio de 1867, pelo General José Vieira Couto de Magalhães, se localizava na margem esquerda do rio Cuiabá. Foi elevado à categoria de município com a denominação de Várzea Grande, pela Lei Estadual n.º 126, de 23 de setembro de 1948, desmembrado do município de Cuiabá e Nossa Senhora do Livramento (IBGE, 2009). O território do município fazia parte de Cuiabá, antes de ser desmembrado. Atualmente entre as duas cidades há somente o rio 12 Cuiabá como limite. Segundo estimativa realizada em 2013 pelo IBGE, a população de Várzea Grande é de 262.880 habitantes. É o segundo maior município do estado e 99º lugar do Brasil em população, apresenta Índice de Desenvolvimento Humano Municipal igual a 0,734. 3.1.3. Economia Várzea Grande é predominantemente comercial e industrial. Por meio de incentivos fiscais e doações de terras, várias indústrias se instalaram na região, constituindo, juntamente com a capital, o principal pólo industrial do estado (PREFEITURA MUNICIPAL DE VÁRZEA GRANDE, 2013). Atualmente, Várzea Grande concentra um dos maiores e mais diversificados parque industrial do Estado, alocando indústrias alimentícias, cerâmicas, bebidas, metalúrgicas, agroindústrias, plásticas e indústria de colchões. 3.2. SELEÇÃO DOS BAIRROS Os bairros foram selecionados através de um sorteio dos questionários aplicados aos alunos da Escola Estadual Professor Jercy Jacob. Estes questionários foram pertinentes às aulas de Ciências e, relacionados à Etnobotânica. Assim, evidenciou-se que os alunos residem em diferentes bairros, quais sejam: Água Vermelha – O bairro Água Vermelha está localizado próximo ao centro da cidade de Várzea Grande (Figura 2). Através da história oral de alguns moradores locais obtivemos a informação de que o nome “Água Vermelha” surgiu devido à existência de muitas valetas nas ruas da região. Em épocas passadas elas se formaram pela retirada da terra para fazer tijolos de adobe e quando chovia, formavam enormes poças d’água, que escorriam levando toda a água rua a baixo, deixando as mesmas de cor avermelhada. A produção de tijolos de adobe é batante artesanal, são feitos com barro e água, às vezes também é acrescentado fibras ou palha, no entanto eles são secados somente no sol, não passam por fornalhas. 13 Bonsucesso - Criado em 1823, Bonsucesso (Figura 2), o mais antigo distrito de Várzea Grande, é uma comunidade tradicional ribeirinha que cresceu em torno de um engenho de açúcar. Este é o bairro mais afastado da região central da cidade, atualmente conta com cerca de 1.200 moradores. Porém, o Distrito de Bonsucesso, constituído pelas comunidades de Praia Grande, Pai André, Souza Lima e Capela do Piçarrão, possui aproximadamente 15 mil habitantes (Prefeitura Municinal de Várzea Grande, 2014). A comunidade ribeirinha BS está estabelecida à margem direita do rio Cuiabá, caracterizada basicamente por duas ruas, a da Beira ou Rua Gil João da Silva (paralela ao rio) e a do Alto (paralela à Beira), onde estão dispostos as residências, as igrejas, os engenhos, a escola e um pequeno comércio, constituído principalmente de peixarias. Cristo Rei - O bairro Cristo Rei (Figura 2) juntamente com outros bairros de Várzea Grande fazem parte da Grande Cristo Rei, região mais populosa do município, com aproximadamente 80 mil habitantes. Dispõe de um forte setor industrial e comercial com inúmeras lojas, supermercados, concessionárias, bancos, hospital, igrejas, seminário, escolas, centro universitário, subprefeitura, entre outros. Santa Isabel - O bairro Santa Isabel está localizado na zona oeste de Várzea Grande, região afastada do centro da cidade (Figura 2). Segundo os informantes, o bairro é um conjunto habitacional. No início as residências eram padronizadas, todas iguais e com a mesma metragem de terreno. Com o passar do tempo, cada morador foi modificando sua casa, fazendo varanda, reformando e aumentando o tamanho de acordo com suas necessidades e possibilidades. 14 FIGURA 2 – LOCALIZAÇÃO DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI), VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte Google maps. 3.3. SELEÇÃO DAS RESIDÊNCIAS Os bairros possuem tamanhos diferentes e assim, também um número de quadras diferentes. Em cada bairro foi sorteado cinco quadras, totalizando 20 quadras nos quatro bairros. Dentro de cada quadra foi selecionado quatro residências, totalizando 80 residências para aplicação das entrevistas. Foi determinado previamente que, havendo algum problema que impossibilitasse a entrevista em uma das residências sorteadas, a próxima a sua direita a substituiria, e se ainda assim não fosse possível, a próxima à esquerda da residência selecionada para a amostragem a substituiria e assim sucessivamente. O contato com os informantes iniciou com um esclarecimento sobre a pesquisa, a exposição dos objetivos e a importância da colaboração dos informantes. De acordo com Carvalho (2006), o primeiro contato é de extrema importância para estabelecer um clima harmonioso 15 entre pesquisador e informante, sendo fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. As entrevistas ocorreram nas residências, mais precisamente na varanda ou no quintal de cada uma delas, com o responsável pela família que estava no momento, independente de gênero e sempre posteriormente à entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com a respectiva assinatura de concordância (Anexo). 3.4. TÉCNICAS DE PESQUISA Para auxiliar o desenvolvimento da metodologia proposta para o estudo, foram utilizadas cinco técnicas, a saber: 3.4.1. Pré–Teste O Pré-Teste foi utilizado como instrumento de sondagem da comunidade e também para definir e ajustar a metodologia mais apropriada ao desenvolvimento da pesquisa, bem como as técnicas e ferramentas para a obtenção de dados. 3.4.2. Observação Direta Através da Observação Direta realizou-se o registro das atividades desenvolvidas pelos informantes durante a pesquisa. 3.4.3. Entrevista Semiestruturada A Entrevista Semiestruturada foi organizada e redigida com algumas questões frequentemente fechadas e abertas. Durante as entrevistas, surgem novas questões relacionadas aos dados coletados, que muitas vezes exigem novos eventos. Utilizou-se desta técnica para entrevistar todos os informantes (Apêndice). As entrevistas ocorreram em períodos matutino e vespertino e nos finais de semana, período em que alguns participantes apresentavam maior disponibilidade para emitir as informações. 16 3.4.4. História de Vida A História de Vida é a narrativa do conjunto de experiências vividas por uma pessoa, neste caso o informante é soberano para manifestar ou ocultar os fatos (MEIHY, 1996). Esta técnica foi utilizada no momento em que o informante narra o seu caminho em diferentes fases da sua vida, passando por acontecimentos e circunstâncias que presenciou e vivenciou. 3.4.5. Turnê Guiada A Turnê conduzidas pelos Guiada consiste de moradores nos caminhadas exploratórias quintais das residências dos informantes. Esta técnica é utilizada para se determinar o conhecimento e as etnocategorias de usos das diferentes espécies de plantas citadas durante as entrevistas. 3.5. REGISTRO DAS INFORMAÇÕES 3.5.1. Diário de Campo Foi utilizado um Diário de Campo (caderno de campo) para o registro de fenômenos observados e relacionados ao desenvolvimento da pesquisa nas atividades de campo. Segundo Minayo (2010) é o principal instrumento de trabalho de observação. O diário de campo é um documento pessoal e constitui um meio em que o pesquisador dispõe para organizar seus dados, sejam eles, acontecimentos, percepções ou sentimentos. 3.5.2. Registro Fotográfico Foi utilizada uma câmera digital para realizar o registro fotográfico das atividades de campo, como as imagens de plantas, animais, paisagens, residências, entrevistas, eventos culturais, entre outros. 17 Segundo Godolphim (1995) a fotografia constitui um instrumento de pesquisa: a) “... de produção de conhecimento etnográfico, onde é tomada como mais uma técnica de documentação, junto com o caderno de campo e o gravador, que se usa para registrar seus dados”. b) “... como elemento de interação na devolução do material fotográfico, estimulando a relação com o grupo estudado e abrindo um campo de diálogo, de expressão da memória e das reflexões dos informantes sobre as imagens devolvidas”. 3.6. TRABALHO DE CAMPO As atividades de campo foram divididas em três etapas: 1ᵃ Etapa – Levantamento bibliográfico sobre o tema da pesquisa e levantamento sobre o sorteio dos bairros de Várzea Grande. Esta etapa teve início em abril de 2013 seguindo o período de execução da pesquisa e redação do trabalho. 2ᵃ Etapa – Aplicação do Pré-teste, que ocorreu nos meses de abril e maio de 2013. 3ᵃ Etapa – Foi realizada a coleta de dados pertinentes à pesquisa, através de visitas aos bairros e órgãos públicos. Esta etapa aconteceu nos meses de maio de 2013 a abril de 2014. 3.7. COLETAS ETNOBOTÂNICAS As coletas etnobotânicas consistiram-se de maneira informal, através de visitas nas residências dos bairros, no período de maio de 2013 a abril de 2014. Perceber de que forma o conhecimento etnobotânico é estabelecido demanda conhecer as comunidades, e o modo como ocorre a transmissão deste saber, através dos membros da família e do ambiente no qual convivem. 18 De acordo com Pasa et al. (2013) o levantamento etnobotânico acontece por meio de expedições às unidades de paisagem em que se encontram as plantas usadas, buscando detalhar com maior clareza as utilidades, a origem, o modo de preparo, as partes usadas, entre outras. Através do trabalho de campo obteve-se o registro de imagens relacionadas ao ambiente, nos diferentes quintais urbanos. Também foram anotadas informações pertinentes e detalhadas às plantas (nome popular, parte utilizada, finalidade de uso, formas de uso), o manejo e a conservação local. A coleta das amostras vegetais, sobretudo na fase reprodutiva e vegetativa, para montagem das exsicatas ocorreu durante as caminhadas exploratórias pelos quintais e unidades de paisagens adjacentes (roças e matas ripárias) junto com o informante. Após, foi realizada a identificação botânica e catalogação no Herbário Central da Universidade Federal de Mato Grosso, com a ajuda de técnicos especialistas deste local, permanecendo ali depositadas. A nomenclatura foi conferida por meio da base de dados do Missouri Botanical Garden, Saint Louis (http://www.tropicos.org). Entretanto, não foi possível coletar material botânico de todas as espécies, principalmente aquelas que afetariam o cultivo nos quintais dos informantes. 3.8. ANÁLISE DOS DADOS Os dados foram analisados de forma qualitativa e quantitativa. Para a análise qualitativa foram utilizadas as informações obtidas nas entrevistas, nas observações diretas e, na revisão bibliográfica. Através da estatística descritiva analisou-se os dados socioeconômicos dos informantes, o que permitiu a discussão dos principais aspectos pertinentes à comunidade local e às plantas. As plantas citadas durante as entrevistas foram separadas em quatro etnocategorias de usos: Medicinal, Alimentar, Ornamental e Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombreamento). Para o tratamento dos dados referentes aos usos dos recursos vegetais foi empregada uma abordagem quantitativa. Com relação aos 19 dados quantitativos, os mesmos podem ser utilizados como justificativa para a conservação das espécies vegetais e do conhecimento popular, principalmente por fornecerem informações sobre as espécies e/ou famílias mais utilizadas para diversos fins. Na abordagem quantitativa foi calculado o Índice de Fidelidade, criado por Friedman et al. (1986) para as indicações de uso de cada espécie e modificado por Amorozo e Gely (1988); Vendruscolo e Mentz 2010); Pasa (2011a). Desta forma, determinou-se as plantas mais importantes quanto à finalidade para os informantes locais. a) Nível de Fidelidade: 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼: 𝑵𝑭 = 𝑭𝒊𝒅 𝑿 𝟏𝟎𝟎 𝑭𝒔𝒑 Onde: NF = Nível de fidelidade Fid = Número de informantes que indicaram o uso de uma espécie para uma finalidade maior Fsp = Número total de informantes que citaram a planta para algum uso b) A utilização do Fator de Correção é necessária pela diferença no número de informantes que citaram usos para cada espécie: 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼𝐼: 𝑭𝑪 = 𝑭𝒔𝒑 𝑰𝑪𝑬𝑴𝑪 Onde: FC = Fator de correção Fsp = Número total de informantes que citaram a planta para algum uso ICEMC = Número de citações da espécie mais citada c) Porcentagem de concordância quanto aos usos principais: 𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼𝐼𝐼: 𝑷𝒄𝒖𝒔𝒑 = 𝑵𝑭 × 𝑭𝑪 Onde: Pcusp = Frequência relativa de concordância quanto aos usos principais NF = Nível de fidelidade FC = Fator de correção 20 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO No total foram entrevistados 128 pessoas nos quatro bairros que fizeram parte da área de estudo: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei e Santa Isabel. O número de participantes nas entrevistas variou de acordo com a disponibilidade dos moradores. Em algumas residências havia mais de uma pessoa no momento da entrevista, assim estas também participaram da pesquisa. Da unidade amostral a maior representação foi do gênero feminino com 101 informantes (79%) enquanto que o gênero masculino correspondeu a 27 informantes (21%). Diversos autores (AMOROZO, 1996; VIERTLER, 2002; BORBA e MACEDO, 2006; KFFURI, 2008; VENDRUSCOLO e MENTZ, 2010; OLIVEIRA e PASA, 2013) observaram a predominância de mulheres em trabalhos de Etnobotânica. Estes autores relatam que os cuidados com os recursos vegetais ao redor da residência são de domínio feminino, pois elas são detentoras do conhecimento de espécies úteis para o bem estar familiar, já que passam a maior parte do tempo no lar. No entanto, os homens detêm um conhecimento maior das plantas mais distantes da residência, no caso aquelas do mato. Em alguns testemunhos foi confirmada essa característica: “Quando eu levanto, gosto muito de cuidá das planta, fico alegre por cuidá delas. Coloco água, não importa o tempo, acho que é dom. Aprendi isso com minha mãe e minha vó, lá no sítio onde a gente morava”. (Sra. A. C., 48 anos – Bairro Cristo Rei) “Eu tenho as planta aqui em casa porque gosto. A planta é tudo na minha vida, trouxe lá da cidade da minha mãe umas muda e plantei aqui nos vaso. Sempre que vou pra lá trago alguma planta. Quando eu fico sozinha, converso com elas e elas me entende”. (Sra. M. R., 50 anos – SI) A idade dos informantes variou entre 26 a 89 anos, apresentando maior frequência de 46 a 65 anos de idade. Para o sexo feminino, a mais jovem tinha 26 anos e a mais idosa 89 anos de idade. Para o sexo masculino, o mais jovem tinha 46 anos e o mais idoso 87 21 anos de idade, conforme Figuras 3, 4, 5 e 6. O motivo por não haver informantes do sexo masculino entre 26 a 45 anos é que no momento das entrevistas eles se encontravam no trabalho ou, em algumas residências, não havia homem com esta faixa etária. FIGURA 3 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. FIGURA 4 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 20 22 FIGURA 5 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. FIGURA 6 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Quanto à origem dos moradores entrevistados, a maioria (76%) é da região ou do próprio estado, porém houve registro de outros estados do país (Figura 7). Resultado semelhante foi encontrado por Pasa (2011b) na comunidade de Conceição-Açu e Sánchez (2014) na comunidade de Água Fria, ambas em Mato Grosso, onde um percentual baixo está constituído por migrantes de outros estados. A maior parte da migração se deu devido à necessidade de conseguir uma estabilidade financeira para a obtenção de uma melhor qualidade de vida. Nos bairros Água Vermelha e Santa Isabel o índice migratório equivale a 7,5% (Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul) e 10% (Bahia, Paraíba, São Paulo), respectivamente. Já no bairro Cristo Rei a taxa de migração corresponde 23 a 5% (Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco) e, no bairro Bonsucesso não houve indícios de migração local. FIGURA 7 – ORIGEM DOS INFORMANTES DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. No bairro BS, todos os informantes são oriundos do estado de Mato Grosso. Esta característica evidencia a identidade tradicional da comunidade, onde seus moradores, conhecidos popularmente como ribeirinhos, conservam práticas, saberes e crenças de antigos moradores das margens do rio Cuiabá. Para Medeiros e Albuquerque (2012) o saber local não se restringe a grupos tribais ou a habitantes de áreas rurais. Acrescenta ainda que, todas as comunidades, rurais ou urbanas, habitantes originais ou migrantes, podem estabelecer esse saber. Oliveira (2012) ressalta que os ribeirinhos dessa comunidade são pessoas de pele morena que incorporam elementos evidentes que os enviam à história da Baixada Cuiabana. O tempo em que os entrevistados residem no bairro foi bastante heterogêneo. Os moradores mais recentes residem há menos de dez anos e, o morador mais antigo ultrapassa oitenta anos de moradia (Tabela 1). Também foi observado que nas comunidades mais urbanas 24 (AV, CR e SI) o tempo de moradia não ultrapassou os cinquenta anos, entretanto na comunidade ribeirinha (BS) esse número chegou a 89 anos TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE INFORMANTES POR TEMPO DE MORADIA NOS BAIRROS AV, BS, CR, SI. VÁRZEA GRANDE MT. 2014. Tempo de moradia 1 - 10 anos 11 - 20 anos 21 - 30 anos 31 - 40 anos 41 - 50 anos 51 - 60 anos 61 - 70 anos 71 - 80 anos > 80 anos Total de informantes AV 15 4 2 4 2 27 BS 3 3 3 4 7 10 7 5 3 45 CR 2 4 8 12 5 32 SI 6 4 14 24 Segundo relato de informantes do bairro BS, muitas pessoas nasceram e continuam morando no mesmo local. Este fato ocorre porque, após o casamento dos filhos, alguns constroem suas moradias no mesmo terreno da casa dos pais e ali permanecem. Os moradores deste bairro confirmaram gostar de viver no local, uma vez que é raro o acontecimento de roubos e para quem gosta de uma vida mais sossegada é um lugar propício para viver com sua família. Oliveira (2012) assegurou através de seu estudo na comunidade de Bonsucesso, que quando os filhos escolhem por residir na localidade, instalam residências no fundo da casa dos pais. Sánchez (2014) confirma em seu trabalho e destaca a tendência da passagem de antigos terrenos dos pais ou avós para as novas famílias. Nos outros três bairros estudados (AV, CR, SI) isto não é evidenciado, uma vez que os terrenos geralmente são menores, dificultando a construção de uma nova moradia e também não é uma tradição familiar morar com os pais após o casamento. 25 Segundo Amorozo (2010) a continuação dos filhos na área rural, especialmente com interesse nas atividades agrícolas é de extrema importância para a conservação de sistemas agrícolas tradicionais. Quanto ao estado civil dos depoentes 61% são casados, 19% são viúvos, 11,75% são separados ou divorciados e 8,75% são solteiros. Em se tratando da característica cultural dos bairros temos AV e SI, onde o número de viúvos é menor e a quantidade de depoentes mais jovens é maior. Já nos bairros CR e BS prevalecem a maior quantidade de depoentes viúvos e também apresentam o maior número de idosos. Do total de 128 informantes, vários exercem mais de uma atividade, ou seja, desempenham uma multiplicidade de funções, como por exemplo, ser diarista e do lar ou ser aposentada e do lar, conforme Figuras 8, 9, 10 e 11. Ocorreu o registro somente de dois informantes desempregados, moradores dos bairros CR e SI. Um deles relatou estar desempregado há quatro anos. “... por falta de emprego ajudo minha mulher a cuidar das criança... são filhos dos vizinho que trabalham fora e moram aqui na região... aqui em casa funciona como uma creche, eles vem cedo e vão embora só no final da tarde”. (Sr. J. C. S., 50 anos – SI) Outra moradora do bairro BS alegou o motivo de não trabalhar fora: “... esse bairro é um pouco longe da cidade, então prefiro cuidá da minha mãe, que já está velhinha, do que trabalhá lá na cidade e aí não precisamo deixá ela sozinha e nem pagá outra pessoa pra ficá com ela”. (Sra. M. A. S., 47 anos – BS) 26 Número de Informantes Bairro Água Vermelha 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 9 5 5 4 2 2 2 2 1 Atividade FIGURA 8 – ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Número de Informantes Bairro Bonsucesso 16 14 12 10 8 6 4 2 0 14 13 6 3 4 3 4 4 2 2 3 3 1 Atividade FIGURA 9 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 27 Bairro Cristo Rei Número de Informantes 14 13 11 12 10 8 6 4 2 2 3 3 4 3 3 1 0 Atividade FIGURA 10 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Número de Informantes Bairro Santa Isabel 12 10 8 6 4 2 0 11 7 2 1 1 2 3 1 2 Atividade FIGURA 11 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Ao analisar as Figuras 8, 9, 10 e 11 observa-se um destaque para a atividade ‘Do lar’, evidenciando a importância desta atividade e a presença feminina neste estudo. Sánchez (2014) também observou uma porcentagem maior de afazeres domésticos para as mulheres em sua pesquisa. A atividade ‘Do lar’ está relacionada com o ‘Nível escolar’ dos participantes, pois constatou-se que a maioria dos informantes que 28 exercem esta atividade não frequentou a escola ou cursou os primeiros anos do ensino fundamental, dificultando no momento da procura por um emprego. Outro item que sobressai é o número de informantes aposentados, visto que uma considerável parcela de participantes tem mais de 60 anos de idade. Esta característica é mais evidente nos bairros Bonsucesso e Cristo Rei, onde a tradicionalidade é percebida através do manejo exercido nos quintais das residências locais. Neles ainda são mantidas diversas atividades, como por exemplo a benzeção, a manutenção de cultivos, a criação de pequenos animais, as rodas de conversas. Quanto à renda mensal dos informantes, a mesma apresentou uma variação de um a mais de dois salários mínimos, conforme Figura 12. No entanto, a maioria dos depoentes (59%) relatou como renda mensal o valor de um salário mínimo. Outras ainda se referiram ao salário do marido como fonte renda para manter a família. Renda mensal Número de informantes 33 16 13 13 7 7 Água Vermelha 7 9 5 Bonsucesso 7 Cristo Rei 6 5 Santa Isabel Bairro 1 salário mínimo 2 salários mínimos > 2 salários mínimos FIGURA 12 – RENDA MENSAL DOS INFORMANTES DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 29 Quanto à escolaridade (52%) dos informantes possuem o Ensino Fundamental de completo a incompleto (Figura 13). Já para as outras categorias de ensino o percentual foi menor. Também para aqueles que informaram o Ensino Médio, a maioria não o completaram. Rocha (2013) estudando a Comunidade de Saloba Grande em Porto Estrela, Mato Grosso, verificou que as categorias de ensino mais citadas foram a de Não Alfabetizado e Ensino Fundamental (1º ao 4º ano). Kffuri (2008) observou em seu estudo no município de Senador Firmino, Minas Gerais, que o conhecimento das plantas medicinais no tratamento tradicional está relacionado com o grau de escolaridade. Acrescentou ainda que, quanto mais avançada a escolaridade, maior o contato com a progresso e com a medicina moderna. Deste modo, as pessoas com menor contato escolar preferem primeiramente a terapêutica tradicional, deixando para um segundo plano o uso de medicamentos sintéticos. Também detectou-se que o nível de escolaridade encontra-se diretamente proporcional ao uso das plantas, como fitoterápicos para tratamentos de saúde, como é o caso do BS e CR. Número de informantes Nível de escolaridade 24 14 9 7 4 15 14 13 3 5 Água Vermelha 7 5 2 2 Bonsucesso Cristo Rei 2 1 Santa Isabel Bairro Não frequentaram a escola Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior FIGURA 13 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS INFORMANTES DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 30 Alguns informantes (12,5%) não frequentaram a Escola, o motivo está em alguns depoimentos: “Nunca frequentei a Escola, meu pai era daqueles antigo e achava que não precisava estudá, não era importante. Naquele tempo tinha roça, sítio, tinha com o que se sustentá ... tinha fartura. Meus filho, meus neto, nunca vão vê toda aquela fartura que eu tive quando criança e jovem”. (Sra. F. A. F., 68 anos, SI) “Nunca estudei, porque morava nos mato, nas fazenda. Meu sonho era í pra Escola, mas não tinha professor lá, porque eles iam prás casa dos fazendeiro. Aprendemo a lê, contá e escrevê, sem professor. A força de vontade ajudô a aprendê. Tem coisa que não precisa esperá ensiná, tem que procurá”. (Sra. J. M. R., 84 anos, CR) “Não estudei porque meu pai não deixava. Pra ele, naquela época, mulher tinha que sabê cuidá da casa, dos filho e do marido. Não precisava estuda pra trabalha pros outro, tinha que sabe cuidá das coisa de casa. Isso que era importante na cabeça dele”. (Sra. M. M. V., 89 anos, SI) Para aqueles que concluíram o Ensino Superior, três fizeram curso para ser professor (Pedagogia e Letras), uma fez Enfermagem e um concluiu o Curso de Contabilidade. No entanto, as professoras já estão aposentadas e os outros dois estão na ativa. Quanto ao aspecto religioso 98,5% dos informantes possuem uma religião, destacando-se a religião Católica com 95 informantes (75%), seguida da Evangélica com 30 informantes (Figura 14). Apenas dois depoentes não têm religião e não frequentam nenhuma igreja. A análise destes dados permite explicar as manifestações religiosas e folclóricas no bairro BS, principalmente pelas festividades de São Pedro, São Benedito, Nossa Senhora de Bonsucesso entre outras, que acontece todos os anos e que reúne pessoas dos bairros vizinhos e de várias regiões mato-grossenses. Em diversas residências da comunidade ribeirinha foi possível observar a presença de imagens de santos diretamente sobre a mesa ou dentro de oratórios, geralmente na sala, caracterizando a forte ligação com o catolicismo. Além dos santos de devoção de cada família, cada comunidade tem uma devoção coletiva, um santo padroeiro reverenciado nas capelas e levado de casa em casa (FERREIRA, 2010). 31 Religião 1 Bairro Santa Isabel Cristo Rei Bonsucesso Água Vermelha 8 0 15 9 0 23 5 1 40 8 18 Número de Informantes Sem religião Evangélica Católica FIGURA 14 – RELIGIÃO DOS INFORMANTES DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 4.2. PERFIL CULTURAL E AMBIENTAL DOS BAIRROS 4.2.1. As Unidades de Paisagens 4.2.1.1. Cerrado A utilização de plantas do cerrado para alimentação, remédio, madeira e lenha, entre outras, está presente no cotidiano da população, sobretudo para as mais antigas desse estudo. Desta forma, diversos informantes, procedentes principalmente da zona rural, relataram ter conhecimento a respeito de plantas nativas. Entretanto, mesmo que o cultivo dessas espécies não se destaque nos quintais, observa-se o seu uso através da coleta de produtos em outras áreas, próximas ou distantes das residências. 4.2.1.2. Quintais Os quintais urbanos dos quatro bairros da área de estudo (AV, BS, CR, SI), em Várzea Grande, Mato Grosso (Figura 15), representam uma unidade de paisagem de extrema importância devido às distintas 32 atividades nele realizadas: plantio de várias espécies e produção de alimentos; criação de pequenos animais, alguns utilizados para o próprio sustento e para um pequeno comércio; preparação de medicamentos caseiros; espaço de trabalho, de lazer e de socialização, entre outros. FIGURA 15 – VISTA PARCIAL DE QUINTAL NO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora. Para Amaral e Guarim Neto (2008) os quintais representam além de um local de produção, visto que a multiplicidade dos trabalhos domésticos ocorre nestes espaços. Assim, para diferentes moradores é no quintal que se encontra a caixa d’água, a lavanderia, a cozinha, o jirau, o forno e o pilão. Também é no quintal que se realizam rodas de conversas, rezas, festas e danças. Deste modo podemos assegurar que existe uma relação de afetividade entre os informantes e o ambiente que os cercam, pois muitos se referem ao quintal como um espaço que transmite conforto, beleza, afeto, liberdade, paz, saúde e bem-estar. Neste contexto, os quintais mato-grossenses são espaços de socialização com a presença de familiares, de amigos e de vizinhos. Pasa 33 (2004) afirma que o cultivo nos quintais além de proporcionar uma alimentação saudável, gera baixa dependência de produtos externos, reduz os impactos sobre o ambiente, mantém os recursos vegetais e a riqueza cultural, motivada no saber e nos costumes dos moradores locais. Nos bairros onde foi realizado o estudo, os quintais apresentam tamanhos variados, desde áreas pequenas com poucos metros até áreas grandes com mais de 300 m². Diversos informantes não souberam definir ao certo a respectiva área do quintal, pois em alguns casos não possuem uma delimitação com o vizinho. Geralmente a maior parte do quintal está disposta nos fundos da residência, como foi observado também por Pasa e Ávila (2010) em comunidade ribeirinha de Rondonópolis, Mato Grosso. Assim, na comunidade ribeirinha Bonsucesso, local em que os quintais são maiores que os dos outros bairros, os mesmos não possuem uma área bem definida, pois em muitas famílias quando os filhos casam, eles constroem suas moradias no mesmo terreno em que está a casa dos pais, não havendo portanto, um espaço delimitado nesses quintais. Este fato evidencia a razão de diversos informantes nascerem e continuarem residindo na comunidade até mesmo depois de constituírem novas famílias. Neste local, diversos quintais se prolongam até a beira do rio Cuiabá, em alguns casos se misturam com a roça ou a mata. Situação contrária ocorre no bairro Santa Isabel, onde os quintais são pequenos e a maioria deles ficou menor ainda por motivo de reformas e aumento no tamanho das residências. Mesmo assim, os moradores desfrutam das áreas que restam do quintal. Entretanto, nos bairros Água Vermelha e Cristo Rei, observouse uma diversidade nos tamanhos dos quintais variando em pequenos, médios e grandes. Os quintais maiores, geralmente são de moradores com idade mais avançada e com maior tempo de moradia no local. Quanto ao porte das plantas presentes nos quintais observouse os estratos: herbáceo como plantas ornamentais, ervas medicinais e hortaliças; porte intermediário, os arbustos, como bananeira, limoeiro, mamoeiro e pitangueira; arbóreas, entre elas a mangueira, o abacateiro e o cajueiro. Pasa (2007) considera a estrutura espacial dos elementos 34 vegetais encontrados nos quintais também em três estratos, quais sejam, herbáceo, subdossel e dossel. Segundo Nair (1993) ocorre uma similaridade entre os quintais presentes nos trópicos, mesmo que fatores socioeconômicos, culturais e ambientais determine a seleção de espécies vegetais. Acrescenta ainda que a disposição de um subdossel seleciona as espécies tolerantes à sombra, ou seja, que estão adaptadas a esses ambientes. Os quintais também refletem a flora com seus valores culturais, acompanham as pessoas em suas novas moradias, demonstrando o anseio de se reportar os costumes e tradições do local de origem dessas pessoas. Essas evidências ficam mais expostas à medida que transportam consigo propágulos de plantas quando se mudam (SANTOS e GUARIM NETO, 2008). Os animais e os quintais A população de um modo geral está habituada a conviver com alguma espécie de animal (Figuras 16, 17, 18, 19). Desta forma, eles estão presentes nos quintais da maioria das residências dos informantes desempenhando diversas funções, entre elas: estimação, segurança, consumo, produção, comercialização e transporte. Dentre as comunidades estudadas, 82,5% dos informantes criam algum tipo de animal e 17,5% afirmaram não possuir nenhuma espécie. 35 Animal gato 7 galinha 5 codorna 1 cachorro 14 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Quantidade FIGURA 16 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Vaca 6 Animal Porco 2 Periquito 1 Galinha 12 Cachorro 12 Boi 6 0 2 4 6 8 10 12 14 Quantidade FIGURA 17 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 36 Periquito Animal 2 Gato 8 Galinha 5 Cachorro 14 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Quantidade FIGURA 18 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Periquito Animal 2 Gato 4 Cachorro 11 0 2 4 6 8 10 12 Quantidade FIGURA 19 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 37 Quanto às instalações, a maioria dos animais citados vive solta nos quintais, geralmente murados ou cercados. Apenas alguns deles permanecem sem esta proteção, podendo a qualquer momento ir e vir. Muitos informantes se referiram aos animais de estimação, o cachorro (Canis familiaris), o gato (Felis catus) e o periquito (Brotogeris tirica) com sentimento de carinho, ternura, amor e zelo. O cachorro além de ser amigo e companheiro também foi mencionado muitas vezes como uma forma de proteção para a casa e a família. Já o gato ajuda a manter a casa longe dos ratos e os periquitos mesmo estando dentro de gaiolas apresentam uma certa liberdade, pois elas ficam abertas em determinado período do dia. Além disso, seus donos relataram que a conversa entre eles (humano/ave) é como se fosse com outra pessoa. As galinhas (Gallus gallus) e a codorna (Nothura maculosa) vivem dentro de galinheiros ou solta no próprio quintal, tem como finalidade a alimentação humana através da carne ou da produção de ovos, podendo ser para consumo próprio ou para comercialização. O porco (Sus domesticus), criado em local separado, também foi mencionado para alimentação. Os bois (Bos taurus) foram citados na comunidade BS como animais que ajudam no trabalho, transportando a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) da roça até o engenho, o chamado ‘carro de boi’. As vacas (Bos taurus), no entanto fornecem o leite que é comercializado na região ou utilizado no feitio de doce de leite ou na rapadura de leite e cana-de-açúcar (espécie de rapadura feita de doce de leite e rapadura de cana). Rabelo Junior (2011) verificou na comunidade Passagem da Conceição, em Mato Grosso, o uso da tração animal em épocas passadas para o deslocamento de produtos até a região central de Cuiabá com o objetivo de comercialização. Naquele período, os produtores utilizavam cavalos, burros, e charretes, e alguns ainda faziam esse percurso a pé. A alimentação dos animais é basicamente ração e comida (cães e gatos); milho, ração e restos de comida (galinhas); frutas e alpiste (periquitos); ração (codorna); restos de comida (porco); pasto e bagaço de cana-de-açúcar (bois e vacas). 38 Outro grupo de animal bastante citado pelos informantes na comunidade ribeirinha BS é o peixe, muito apreciado na culinária local e também a principal proteína presente na gastronomia típica da baixada cuiabana, servida nas peixarias da comunidade. De acordo com os informantes a pesca é basicamente artesanal, para consumo familiar e as espécies mais mencionadas são o pintado (Pseudoplatystoma sp), o pacu (Piaractus mesopotamicus) e o piau (Leporinus sp). Entretanto, os peixes servidos nas peixarias da comunidade ribeirinha têm diferentes procedências, podendo ser de tanques próximos ao bairro ou de rios mais distantes e até de outros municípios. Os pescadores da comunidade BS utilizam a canoa de madeira feita no local e alguns também pescam na barranca do rio Cuiabá. A isca deve ser de acordo com o pescado que se deseja pegar, entre elas a minhoca, o muçum e os peixes menores (VALENTINI et al., 2011). Alguns informantes também relataram que utilizam uma ‘espécie de massa’ feita com água e farinha de trigo como isca. Para os membros da comunidade Bonsucesso a arte de pescar é repassada de pais para filhos, ao longo dos anos, e muitos moradores demonstram preocupação e a necessidade de manter o repasse desta cultura para as futuras gerações. 4.2.1.3. Roça Dentre os bairros estudados, a roça foi encontrada na comunidade ribeirinha Bonsucesso. Nela são plantadas culturas vegetais com o objetivo de obter uma maior produção para a subsistência familiar, como Manihot esculenta Crantz (mandioca), Solanum tuberosum L. (batata), Ananas comosus L. Merr. (abacaxi), Musa parasidiaca L. (banana), Zea mays L. (milho), Saccharum officinarum L. (cana-deaçúcar). Estas espécies são geralmente usadas para comercialização ou como matéria-prima, a exemplo a cana-de-açúcar para a produção da rapadura (Figura 20). 39 FIGURA 20 – VISTA PARCIAL DA ROÇA COM CULTIVO DE CANA-DEAÇÚCAR NO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora. Grande parte do cultivo de mandioca ocorre através de propagação vegetativa e pode acontecer ao longo do ano. No estudo foi verificado que a mandioca além de ser comercializada, principalmente em feiras, é também utilizada na culinária tradicional da comunidade ribeirinha, tanto nas residências quanto nas peixarias e ainda pode ser processada utilizando-se um pilão para fazer a ‘puva’, como relata uma moradora: “... Eu faço a ‘puva’ prá passá no peixe antes de fritá. Tem que socá aqui no pilão até ficá bem fina, essa farinha é muito melhor que as outras, ela deixa o peixe mais saboroso, não puxa o óleo. Aqui a gente não precisa comprá farinha no mercado. Aprendi a fazê isso com minha mãe...” (Sra. A. M. M., 63 anos) 4.2.1.4. Matas ripárias 40 Além de seu papel ecológico, a presença das matas ripárias é de grande importância para as comunidades regionais, tanto para subsistência familiar através de alimentos, remédios e outras potencialidades, quanto para a permanência dos recursos nela existentes através da conservação. Assim, podemos confirmar o valor dessa unidade de paisagem no dia-a-dia dos ribeirinhos de Bonsucesso, único bairro da área de estudo que contempla esta vegetação, através da agricultura de subsistência localizada nas bordas das matas e da coleta de produtos (frutos, folhas, cascas, sementes e raízes) para fins alimentício e medicinal. Outras atividades referentes ao trabalho dentro da mata ocorrem através da coleta de lenha para combustão e a extração cultural da espécie Guazuma ulmifolia Lam. (chico-magro), com a finalidade de adicioná-la à garapa da cana-de-açúcar para promover a subida das impurezas no momento da fervura, facilitando assim sua limpeza durante o feitio da rapadura. Para a maioria dos moradores da comunidade BS, a mata de galeria faz parte de sua propriedade e/ou o quintal e a roça adentram esta unidade de paisagem (Figura 21), por isso diversas espécies vegetais nela existentes são muito úteis no cotidiano da população. Porém, verificou-se que a coleta do produto da mata não se estabelece como atividade principal e sim como complementar, especialmente através do uso de remédios caseiros. Com relação à coleta de produtos vegetais da mata, a principal forma de uso é a Medicinal, como exemplo as espécies Siparuna guianensis Aubl (negramina), Strychnos pseudoquina A. St.-Hil (quina) e Pterodon polygaliflorus (Benth.) (sucupira). Alguns informantes confirmam através de relatos: “... gosto de usá a negramina quando dá gripe... faz banho... ela tira aquela quentura do corpo e aquele mal estar”. (Sra. G. M. S., 60 anos, BS) “... pra anemia a gente usa quina, chá de frade e fedegoso. É só tomá direitinho que melhora. O chá de frade também é bom pra acaba com verme, acaba com eles tudo. E a quina do cerrado é bom pra curá hepatite. Se toma direito é melhor que remédio de farmácia...” (Sra. L. R. S., 73 anos, BS) 41 FIGURA 21 – VISTA PARCIAL DA MATA RIPÁRIA ÀS MARGENS DO RIO CUIABÁ NO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT, 2014. Fonte: acervo da autora. 4.2.2. Etnobotânica, manejo e conservação das plantas A origem do conhecimento sobre o uso das plantas, especialmente as medicinais, foi através do conhecimento tradicional familiar, principalmente com a mãe e as avós. Para outros informantes o repasse de informações se deu com vizinhas, geralmente com idade mais avançada e através de fontes externas, como a leitura de livros, revistas e de programas de televisão (Figura 22). A maior parte dos entrevistados afirmou que faz uso das plantas medicinais sempre que é necessário, e ainda por acreditar que elas não fazem mal à saúde. Toda vez que um familiar adoece e o problema é considerado de menor gravidade, a primeira atitude é recorrer aos chás (por infusão ou decocção), xaropes, compressas e outros. Caso o tratamento inicial não obtenha bons resultados ou a doença se agrave o médico é então procurado. 42 No bairro AV 90% dos informantes fazem o uso de plantas medicinais. Destes, todos afirmaram que esse conhecimento foi repassado pela família ao longo das gerações. Nas residências visitadas, 75% possuem algum cultivo de planta medicinal no quintal, as quais utilizam e também repassam para vizinhos ou parentes quando necessário. Contudo, mais da metade dos participantes afirmaram que aprenderam a cultivar plantas com a mãe e alguns ainda informaram que obtiveram esse conhecimento com as avós ou sozinhos. Na comunidade ribeirinha BS 93% dos depoentes utilizam plantas para o tratamento de doenças. A origem do etnoconhecimento é principalmente tradicional familiar, entretanto a convivência com vizinhos, principalmente idosos e programas na televisão também contribuem para a transmissão desse saber. As plantas utilizadas como remédio são encontradas frequentemente nos quintais e matas próximas às moradias. Porém, quando não possuem, recorrem com vizinhos ou parentes mais próximos. O saber sobre o cultivo de plantas é procedente sobretudo dos pais, que nasceram e foram criados nesse meio e passaram o etnoconhecimento para os filhos. Percentual de informante ORIGEM DO ETNOCONHECIMENTO 100% 100% 100% 90% 10% Água Vermelha 15% 5% 5% Bonsucesso Cristo Rei 5% 5% Santa Isabel Bairro Familiar Vizinhos Livros e TV FIGURA 22 – ORGEM DO ETNOCONHECIMENTO DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 43 No bairro CR o uso de plantas medicinais envolve 90% dos informantes, sendo a origem desse conhecimento principalmente através da família e para alguns moradores os livros e os programas de televisão também contribuíram. Essas plantas estão presentes em 95% dos quintais, porém também é comum compartilhar com vizinhos e parentes próximos ou buscar em outra região. A maioria dos depoentes declararam que aprenderam a cultivar plantas com os pais e os avós e que diversos familiares mais idosos são procedentes da zona rural. Em 90% dos informantes do bairro SI também foi verificado o uso de plantas medicinais para tratamento de alguma enfermidade. Todos os participantes que as utilizam afirmaram que esse conhecimento provém da tradição familiar, principalmente com mães e avós. Entretanto duas informantes relataram que também aprenderam com fontes externas (livros, programas de televisão e com vizinhos). Nessas residências, 80% apresentam espécies medicinais cultivadas nos quintais, porém quando não possuem, buscam em outros locais (raizeiro, parentes, vizinhos, terrenos próximos). A maior parte dos participantes também aprenderam a plantar com os pais e alguns obtiveram esse conhecimento com pessoas mais antigas, sozinhos ou ainda por fontes externas (televisão e livros). A forma de preparo das plantas usadas como remédio foi diversificada, contudo o chá através da infusão foi o mais citado com 33%, seguido da forma macerada (15%), do chá na forma de decocção (13%), misturado com água (8%), in natura e banho (7% cada uma), misturado com álcool (6%), as demais formas de preparo obtiveram pencentual inferior a 5% (Figura 23, 24, 25, 26). Alguns participantes informaram que as partes mais rígidas das plantas como raízes, sementes e cascas podem ser fervidas, enquanto que as mais macias não devem e/ou necessitam passar por esse método. Quanto à transmissão desse conhecimento, todos os informantes afirmaram que os mais jovens não têm interesse em aprender a respeito de plantas medicinais na terapêutica tradicional. Kffuri (2008) também verificou em Senador Firmino, Minas Gerais, que os indivíduos 44 mais jovens não demonstram importância em obter esse conhecimento. Os relatos a seguir confirmam esses dados: “Aprendi tudo sobre as planta com minha mãe. Os jovem de hoje não querem sabê de tratá doença com planta... qualquer gripe ou dor de garganta eles já correm pra farmácia pra comprá remédio”. (Sra. R.B.R., 68 anos – CR). “Hoje as pessoas prefere í logo na farmácia compra um tanto de remédio e pagá caro... muitas vezes ele faz mal e até piora outra coisa... a juventude não qué sabê de remédio de planta não. Eles não acredita no poder que as planta tem”. (Sra. M.A.F.B., 70 anos – SI) Misturado no álcool 2% Banho 2% Triturado Xarope 11% 5% Compressa 2% Decocção 16% Misturado na água 11% Macerado 14% Infusão 37% Banho Decocção Macerado Misturado no álcool Compressa Infusão Misturado na água Triturado FIGURA 23 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO NO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 45 Misturado no álcool Triturado 4% 4% Misturado com água 7% Banho 11% Compressa 2% Decocção 9% Emplasto 2% Macerado 18% In natura 7% Infusão 36% Banho Emplasto Macerado Triturado Compressa Infusão Misturado com água Decocção In natura Misturado no álcool FIGURA 24 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Triturado 6% Mistura com álcool 2% Banho 7% Xarope 4% Compressa 2% Decocção 17% Mistura com água 11% Macerado 17% Infusão 34% Banho Compressa Decocção Infusão Macerado Mistura com água Mistura com álcool Triturado Xarope FIGURA 25 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO NO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 46 Triturado 6% Xarope 4% Banho 10% Compressa 8% Mistura na água 11% Decocção 11% Macerado 17% Emplasto 2% Infusão 31% Banho Compressa Decocção Emplasto Macerado Mistura na água Triturado Xarope Infusão FIGURA 26 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO NO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. As plantas medicinais são utilizadas como remédios caseiros, sendo a folha a parte vegetal com maior número de citações (86). Desta maneira, ocorre a conservação da planta para usos continuados já que não compromete o crescimento e reprodução da espécie com a coleta das folhas. Outras partes vegetais, entre elas a casca (29), o fruto (28), a raiz (21), a semente (12), a flor e o caule (11 citações cada uma) e o broto (nove citações) também são utilizados, porém com menor frequência. Para Maciel e Guarim Neto (2008) o etnoconhecimento não se limita somente ao uso de plantas medicinais, mas às demais etnocategorias e, além disso, ao prazer pelo ambiente rural. Quanto ao manejo, é realizado com práticas de cultivo simples e de baixo custo. A manutenção do quintal é predominantemente feminina nos quatro bairros estudados, porém, outros membros da família também realizam esta tarefa (Figura 27). No bairro Bonsucesso, ocorre destaque de toda a família para os cuidados com o quintal. O papel das mulheres é essencial na manutenção e na seleção das espécies a serem cultivadas, principalmente das medicinais, ornamentais e aquelas usadas como temperos. Às mulheres cabe varrer, 47 juntar as folhas, irrigar as plantas, plantar, replantar, entre outras, e, muitas mencionam esses cuidados como uma forma de lazer. Já para os serviços mais pesados, principalmente nos quintais de maior porte compete aos homens, o roçar, por exemplo. Alguns cuidam do quintal diariamente, no entanto outros dispensam atenção de forma semanal ou mensal, de acordo com a necessidade de cada um e a época do ano. 14 Número de informantes 11 11 11 11 9 8 6 6 3 6 2 3 1 1 Bairro Água Vermelha Bairro Bonsucesso 6 5 2 1 Bairro Cristo Rei 2 3 1 Bairro Santa Isabel Resposável pela manutenção do quintal Mulher Homem Casal Família Filho Neto Outro (pago) FIGURA 27 – MANUTENÇÃO DO QUINTAL NOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Diversos estudos referentes a quintais também apresentam o gênero feminino com a maior relação entre a manutenção do quintal, como exemplo na obra de Guarim Neto e Carniello (2008) que estudaram os quintais mato-grossenses. Segundo os moradores locais é no período da seca que o trabalho é maior para a manutenção do quintal, pois as folhas das árvores caem e é preciso varrer com frequência. Irrigar diariamente as plantas para evitar que elas sequem e morram também é outro cuidado indispensável neste período porém, a maioria dos informantes afirmam ser prazeroso esse zelo com o quintal. As regas são realizadas ao 48 amanhecer ou ao entardecer, quando o sol está mais fraco. Para esta tarefa são usadas mangueiras, baldes e regadores. Em Bonsucesso, além desses utensílios, também é utilizado a casca do fruto da cabaça (Crescentia alata Kunth), tanto para colocar água e molhar as plantas, quanto para colocar milho e alimentar as galinhas. A atividade de poda ocorre de acordo com a necessidade e características fenológicas de cada espécie no quintal. Para vários informantes do bairro Bonsucesso, as folhas varridas são amontoadas ou colocadas num buraco e deixadas ao tempo, para secar com o sol e umedecer com a chuva e, posteriormente, virar ‘adubo natural’, assim chamado pelos ribeirinhos. Outros relataram que colocam as folhas ao redor do tronco das árvores ou dentro de lata de alumínio para queimar, pois as cinzas também servem de adubo. Alguns informantes deste bairro contaram que jogam as folhas perto da barranca do rio e assim, faz fortalecer o solo ribeirinho. Entretanto, nos bairros Água Vermelha, Cristo Rei e Santa Isabel, alguns moradores aproveitam as folhas para fortalecer o solo, enquanto outros juntam as folhas e restos de capinas em sacolas e descartam com o lixo da casa. Pasa (2007) também verificou em sua área de estudo, na comunidade de Bambá, município de Cuiabá, Mato Grosso, a técnica de combustão parcial das folhas, e acrescenta que, posteriormente, as cinzas são misturadas com pedaços de folhas e despejadas no solo jogando-se terra por cima. Quando vem as chuvas o restante das folhas entra em decomposição e transforma-se em ‘adubo natural’. Quando chega o tempo das águas, a manutenção do quintal fica por conta de outros motivos, conforme relato de informantes: “Aqui em casa dá mais trabalho cuidá do quintal na época da chuva porque o ‘mato’ cresce muito rápido... sempre tem que carpi pra deixá tudo limpinho... e ainda se dá vento as manga caem e é preciso sempre fica juntando”. (Sra. A.C.S., 56 anos – BS) “Nesse tempo de chuva cria muito lodo na calçada. É pou causa da sombra das árvore e da calçada molhada... tem que ficá lavando de escova e onde tem terra junta muito barro... não é fácil mantê tudo limpo, mas é preciso”. (Sra. J.A.O., 53 anos – CR) 49 Estes quintais são ambientes com baixa taxa de defensivos, sua manutenção em geral é realizada com métodos manuais e de baixo impacto ambiental. Muitos informantes usam insumos naturais nas plantas, entre eles o esterco de boi, bagaço de cana, cinza, restos vegetais e terra preta. O uso do bagaço de cana é comum no bairro Bonsucesso, pois é cultivado nas roças desta região. Da unidade amostral 75% não utilizam produtos químicos, entretanto aqueles que fazem o uso de defensivos alegaram que servem para combater as formigas, os cupins, os carrapatos, o mato ou como adubo químico para as plantas. A maioria das plantas presentes nos quintais é adquirida através de doação ou troca com vizinhos e parentes. Desta forma, o quintal é um espaço de socialização entre os moradores de uma comunidade e entre familiares. Assim ocorre com a etnocategoria ornamental, várias espécies são procedentes de outras localidades, geralmente trazidas por um parente. As plantas que nascem espontaneamente ou por meio de rebrota daquelas já existentes são conservadas, principalmente por possuírem alguma finalidade etnobotânica. Os relatos de alguns informantes evidenciam o valor da conservação dos recursos naturais que mesmo morando na cidade são para eles fundamentais. O orgulho que estas pessoas demonstram por ter suas origens no campo, na zona rural e deste lugar ter retirado seu alimento é ressaltado a seguir: “Sempre eu gostei de plantá. Desde quando era pequena e morava na roça meu pai ensinava que se nós cuidava das planta elas dava o sustento pra nós”. (Sra. A.L.S., 64 anos - CR) “Criei todos meus filho com o trabalho na roça... com a criação de animal... com a plantação... Tenho orgulho de ter vindo de lá. Mudei porque meu marido ficou doente e precisava trata na cidade. As pessoas tinham que dá mais valor pra isso...” (Sra. G.R., 70 anos - AV) 4.2.3. Etnocategorias e Consenso do Uso das Plantas 50 Na área de estudo os quintais estão organizados de acordo com o espaço disponível e o manejo que cada morador propõe. Assim, eles podem ser utilizados nas mais variadas formas por uma comunidade. Através do levantamento etnobotânico realizado identificou-se 249 espécies vegetais distribuídas em 84 famílias botânicas. As plantas citadas pelos informantes foram distribuídas em quatro categorias de uso: (1) Alimentar – podendo ser in natura ou processado; (2) Medicinal – subproduto utilizado para diferentes tratamentos, prevenção e cura de doenças, de acordo com a medicina popular; (3) Ornamental – relacionada à estética e beleza do ambiente; (4) Outros usos – reúnem outras categorias, como lenha, madeira, proteção e sombra. Pasa (2007) ressalta que a etnocategoria de uma planta pode ter valor acumulativo. Portanto, uma espécie vegetal pode pertencer a diferentes categorias de uso. Assim ser utilizada como alimentar, medicinal e ornamental e, o valor de uso de uma planta é diretamente proporcional ao seu número de usos. Para este trabalho optou-se por separar as espécies de acordo com seu uso em cada bairro da área de estudo (Tabelas 2, 3, 4, 5). 4.2.3.1. Bairro Água Vermelha No bairro Água Vermelha (Figura 28) do total de 27 informantes, poucas pessoas sabem sobre a história de como iniciou a sua formação demográfica. Talvez isso pode ser explicado pelo fato de que 55% deles residem no local há menos de dez anos, e outros ainda não despertaram curiosidade em adquirir este conhecimento. Os informantes mais antigos disseram que só havia alguns barracos de tábua quando ali chegaram e que posteriormente novas moradias foram construídas com adobe. Tudo era muito precário, quando os pais de alguns moradores chegaram, os mesmos tiveram que abrir caminho com foice para entrar, pois era só matagal, não havia água encanada, nem energia elétrica e as poucas ruas, que mais pareciam caminhos, eram esburacadas. Hoje o bairro possui a maioria das ruas 51 asfaltadas e conta com água tratada, energia elétrica, comércio, escolas, igrejas entre outras. De acordo com os informantes a principal festa realizada para a comunidade de AV é de caráter religioso na Igreja Nossa Senhora das Graças. Outras comemorações menores ocorrem nas Escolas, entre elas Festa Junina, comemoração para o Dia das Mães e para o Dia das Crianças, principalmente para a própria comunidade escolar. FIGURA 28 – RUA BOA VISTA, BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora. A Tabela 1 apresenta as 126 espécies utilizadas pelos informantes do bairro Água Vermelha distribuídas em 63 famílias botânicas. As famílias botânicas de maior representatividade foram: Asteraceae e Lamiaceae (oito espécies cada), Solanaceae e Fabaceae (sete espécies cada), Araceae e Myrtaceae (cinco espécies cada). Rocha (2013) também encontrou as famílias Asteraceae, Fabaceae, Lamiaceae e Solanaceae como as mais expressivas em seu estudo na comunidade 52 de Saloba Grande em Porto Estrela, Mato Grosso. Oliveira (2012), pesquisando os quintais na comunidade de Santo Antonio do Caramujo em Cáceres, Mato Grosso, refere-se às famílias com maior representatividade Lamiaceae, Asteraceae, Rutaceae, Cucurbitaceae, Solanaceae e Fabaceae. A família Fabaceae encontra-se distribuída em todos os biomas brasileiros, sendo a mais representativa, ultrapassando a 19 mil espécies (LEWIS et al., 2005). A frequência relativa de concordância quanto aos usos principais (Pcusp) apresentou 13% das espécies com valor igual ou maior que 50%. Entre essas espécies estão: manga (Mangifera indica L.) com 70%; babosa (Alloe vera (L.) Burm f.), capim-cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), espada-de são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain), orquídea (Orchis L.) e quebra-pedra (Phyllanthus orbiculatus Rich.), com 60% cada; acerola (Malpighia glabra L.), anador (Justicia pectoralis Jacq.), avenca (Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris), boldo (Plectranthus barbatus Andrews), caju (Anacardium occidentale L.), hortelã (Mentha villosa Becker), romã (Punica granatum L.) e samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott), com 50% cada. 53 TABELA 2 – PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCOR DÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. “continua...” Nome Popular Manga Babosa Capim-cidreira Espada-de-sãoJorge Orquídea Quebra-pedra Anador Avenca Boldo Caju Hortelã Romã Samambaia Acerola Alfavaca Algodão Nome Científico Mangifera indica L. Alloe vera (L.) Burm f. Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Família Categoria de Uso Hábito Fsp Fid NF FC Pcusp (%) Anacardiaceae Xanthorrhoaceae Poaceae A Ou M M Ar He He 9 10 8 7 6 6 77 60 75 0,9 1 0,8 70 60 60 Sansevieria trifasciata Prain Orchis sp. Phyllanthus orbiculatus Rich. Justicia pectoralis Jacq. Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris Plectranthus barbatus Andrews Anacardium occidentale L. Mentha villosa Becker Punica granatum L. Nephrolepis biserrata (SW.) Schott Malpighia glabra L. Ocimum basilicum L. Gossypium hirsutum L. Asparagaceae Orchidaceae Phyllanthaceae Acanthaceae O Ou O M M He He Ra He 8 6 6 7 6 6 6 5 75 100 100 71 0,8 0,6 0,6 0,7 60 60 60 50 Pteridaceae Lamiaceae Anacardiaceae Lamiaceae Pucicaceae Davalliaceae Malpighiaceae Lamiaceae Malvaceae O M AM AM AM O AM M M He He Ar He Ab He Ab He Ab 5 8 8 7 8 5 6 6 6 5 5 5 5 5 5 4 4 4 100 63 62 71 62 100 66 66 66 0,5 0,8 0,8 0,7 0,8 0,5 0,6 0,6 0,6 50 50 50 50 50 50 40 40 40 54 Ata Bocaiuva Cacto Camomila Caninha-do-brejo Cebolinha Coco-da-baía Erva-de-santamaria Goiaba Hortelãzinha Jabuticaba Jatobá Laranja Lírio Mandioca Pimenta-bodinho Pimenta-dedo-demoça Primavera Quina Rosa Terramicina Tomate Noni Abiu Alecrim Banana Annona squamosa L. Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. Cereus peruvianus (L.) Mill. Matricaria reticulita L. Costus spicatus (Jacq.) Sw Allium fistulosum L. Cocos nucifera L. Annonaceae A Ab 4 4 100 0,4 40 Arecaceae Cactaceae Asteraceae Costaceae Amaryllidaceae Arecaceae M O M M A AMO Ar Ab He He He Pa 6 4 7 6 4 6 4 4 4 4 4 4 66 100 57 66 100 66 0,6 0,4 0,7 0,6 0,4 0,6 40 40 40 40 40 40 Coronopus didymus (L.) Smith. Psidium guajava L. Mentha pulegium L. Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne. Citrus sinensis L. Osbeck Spathiphyllum wallisii Regel Manihot esculenta Crantz Capsicum chinense Jacq. Capsicum baccatum var. pendulum (Willd.) Eshbaugh Bougainvillea glabra Choisy Strychnos pseudoquina A. St. -Hil. Rosa sp. Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Solanum lycopersicum L. Morinda citrifolia L. Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. Rosmarinus officinalis L. Musa parasidiaca L. Brassicaceae Myrtaceae Lamiaceae Myrtaceae M A M Ou M A M Ou He Ar He Ar 6 6 4 6 4 4 4 4 66 66 100 66 0,6 0,6 0,4 0,6 40 40 40 40 Caesalpiniaceae Rutaceae Araceae Euphorbiaceae Solanaceae M Ou A M Ou O A A Ar Ar He He He 6 8 4 4 4 4 4 4 4 4 66 50 100 100 100 0,6 0,8 0,4 0,4 0,4 40 40 40 40 40 Solanaceae Nyctaginaceae Loganiaceae Rosaceae Amaranthaceae Solanaceae Rubiaceae Sapotaceae Lamiaceae Musaceae A O M O M A M Ou M M AM He Ab Ar He He Tr Ab Ar He He 4 4 5 4 5 4 5 3 5 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 100 100 80 100 80 100 80 100 60 75 0,4 0,4 0,5 0,4 0,5 0,4 0,5 0,3 0,5 0,4 40 40 40 40 40 40 40 30 30 30 55 Barbatimão Buxinho Cabeluda Cana-de-açúcar Cancerosa Chapéu-de-couro Colônia Comigo-ninguémpode Copo-de-leite Erva-de-bicho Ipê amarelo Ipê roxo Jaca Jambo Losna Manjericão Milho Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Buxus sempervirens L. Eugenia cabelludo Kiaersk. Saccharum officinarum L. Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Echinodorus macrophyllus Miq. Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt & R. M. Dieffenbachia amoena Bull. Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng. Polygonum hydropiperoides Michx. Tabebuia ochracea Standl. Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo Artocarpus integrifolia L. f. Eugenia malaccensis L. Artemisia absinthium L. Ocimum basilicum L. Zea mays L. Dypsis lutescens (H.Wendl.) Beentje Palmeira & J.Dransf. Beaucarnea recurvata Lem. Pata-de-elefante Bidens pilosa L. Picão Pimenta-malagueta Capsicum frutescens L. Duranta erecta L. Pingo-de-ouro Bougainvillea spectabilis Willd. Três-marias Persea americana Mill. Abacate Ananas comosus (L.) Merr. Abacaxi Cucurbita moschata Dusch. Abóbora Fabaceae Buxaceae Myrtaceae Poaceae Celastraceae Alismataceae M Ou O O A M M Ar Ab Ab He He He 5 3 3 5 3 5 3 3 3 3 3 3 60 100 100 60 100 60 0,5 0,3 0,3 0,5 0,3 0,5 30 30 30 30 30 30 Zingiberaceae M He 3 3 100 0,3 30 Araceae Araceae Polygonaceae Bignoniaceae Bignoniaceae Moraceae Myrtaceae Asteraceae Lamiaceae Poaceae O Ou O M M O Ou M O Ou A Ou A Ou M A A He He He Ar Ar Ar Ar He He He 5 3 5 5 6 5 3 4 3 5 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 60 100 60 60 50 60 100 75 100 60 0,5 0,3 0,5 0,5 0,6 0,5 0,3 0,4 0,3 0,5 30 30 30 30 30 30 30 30 30 30 Arecaceae Asparagaceae Asteraceae Solanaceae Verbenaceae Nyctaginaceae Lauraceae Bromeliaceae Cucurbitaceae O O M A O O A M Ou AM AM Pa He He He Ab Ab Ar He Ra 3 3 3 3 3 3 4 3 5 3 3 3 3 3 3 2 2 2 100 100 100 100 100 100 50 66 40 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 0,4 0,3 0,5 30 30 30 30 30 30 20 20 20 56 Alface Anis-estrelado Arruda Batata Beijo Brinco-de-princesa Caiapiá Cajá-manga Carambola Cardo-santo Douradinha Erva-cidreira Espirradeira Fedegoso Flor-de-maio Fruta-pão Funcho Gengibre Girassol Guiné Hortênsia Jamelão Jasmim Jucá Jurema Lichia Limão Malva-branca Lactuca sativa L. Illicium verum Hook. f. Ruta graveolens L. Solanum tuberosum L. Impatiens walleriana Hook. f. Fuchsia hybrida hort. ex Siebert & Voss Dorstenia cayapia Vell. Spondias mombin L. Averrhoa carambola L. Argemone mexicana L. Waltheria douradinha A. St.-Hil. Melissa officinalis L. Nerium oleander L. Senna occidentalis (L.) Link Zygocactus truncatus (Haw.) K. Schum. Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Foeniculum vulgare Mill. Zingiber officinale Roscoe Helianthus annuus L. Petiveria alliacea L. Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. Syzygium jambolanum (Lam.) DC. Jasminum nitidum Skan Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul. Pithecellobium tortum Mart. Litchi chinensis Sonn. Citrus limon (L.) Osbeck Malva palviflora L. Asteraceae Schisandraceae Rutaceae Solanaceae Balsaminaceae A M M Ou A O He Ar He Ra He 2 3 3 2 2 2 2 2 2 2 100 66 66 100 100 0,2 0,3 0,3 0,2 0,2 20 20 20 20 20 Onagraceae Moraceae Anacardiaceae Oxalidaceae Papaveraceae Malvaceae Lamiaceae Apocynaceae Fabaceae M M A AM M M M O M Ab He Ar Ab He He He Ab Ab 2 3 2 3 2 2 4 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 100 66 100 66 100 100 50 100 100 0,2 0,3 0,2 0,3 0,2 0,2 0,4 0,2 0,2 20 20 20 20 20 20 20 20 20 Cactaceae Moraceae Apiaceae Zingiberaceae Asteraceae Phytolaccaceae Hydrangeaceae Myrtaceae Oleaceae Fabaceae Fabaceae Sapindaceae Rutaceae Malvaceae O M AM AM AMO M Ou O M Ou O M Ou Ou AM AM M He Ab He He He He He Ar Tr Ar Ab Ar Ar He 3 3 3 3 5 3 2 3 2 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 66 66 66 66 40 66 100 66 100 66 66 66 66 100 0,3 0,3 0,3 0,3 0,5 0,3 0,2 0,3 0,2 0,3 0,3 0,3 0,3 0,2 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 57 Mamão Marcela Neen Nóz vômica Paratudo Pariparoba Pimenta Pocã Poejo Quiabo Rosa-do-deserto Sangra d'água Sete-sangrias Unha-de-gato Urucum Alho japonês Antúrio Berinjela Caferana Cavalinha Couve Erva doce Ingá Inhame Negramina Pata-de-vaca Pau-brasil Taioba Carica papaya L. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. Azadirachta indica A. Juss. Strychnos nux-vomica L. Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f ex S. Moore Piper peltatum L. Capsicum albescens Kuntze Citrus reticulata Blanco Mentha pulegium L. Abelmoschus esculentus (L.) Moench Adenium obesum (Forssk.) Roem. Croton salutares Muell. Arg. Baill. Cuphea carthagenensis (Jacq.) J.F. Macbr. Uncaria tomentosa (Willd.) DC. Bixa orellana L. Allium tuberosum Rottler ex Spreng. Anthurium andraeanum Linden Solanum mammosum L. Vernonia polyanthes (Spreng.) Less Equisetum arvense L. Brassica oleracea L. Foeniculum vulgare Mill. Inga speciosa M. Martens & Galeotti Dioscorea cayenensis Lam. Siparuna guianensis Aubl. Bauhinia forficata Link Caesalpinia echinata Lam. Xanthosoma sagittifolium (L.) Schott Caricaceae Asteraceae Meliaceae Loganiaceae AM M M Ou M Ab He Ar He 3 2 3 2 2 2 2 2 66 100 66 100 0,3 0,2 0,3 0,2 20 20 20 20 Bignoniaceae Piperaceae Solanaceae Rutaceae Lamiaceae Malvaceae Apocynaceae Euphorbiaceae M Ou M A A M AM O M Ou Ar Ar He Ar He He He Ar 4 2 2 2 4 3 2 3 2 2 2 2 2 2 2 2 50 100 100 100 50 66 100 66 0,4 0,2 0,2 0,2 0,4 0,3 0,2 0,3 20 20 20 20 20 20 20 20 Lythraceae Rubiaceae Bixaceae Amaryllidaceae Araceae Solanaceae Asteraceae Equisetaceae Brassicaceae Apiaceae Fabaceae Dioscoreaceae Siparunaceae Fabaceae Fabaceae Araceae M M AM AM O AM M M AM M A Ou A M M O Ou O Ou AM He Ab Ab He He He Ab He He He Ar He Ar Ab Ar He 3 3 3 2 1 2 2 2 2 1 2 1 1 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 66 66 66 50 100 50 50 50 50 100 50 100 100 33 50 50 0,3 0,3 0,3 0,2 0,1 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,2 0,1 0,1 0,3 0,2 0,2 20 20 20 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10 58 Scoparia dulcis L. Vassourinha Plantaginaceae M He 2 1 50 0,2 Gerbera sp. Asteraceae Gérbera O He 2 1 50 0,2 Legenda: Categorias de uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra). Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador. 59 10 10 Quanto às etnocategorias de uso, a Medicinal destacou-se com 64% das espécies, seguida da Alimentar com 36% e da Ornamental com 24% (Figura 29). Já para a categoria Outros usos, o percentual foi de 20%. O destaque para medicinais evidencia a importância que os informantes atribuem à flora, principalmente com relação à busca de tratamento para doenças através da medicina tradicional. Entretanto, algumas espécies apresentam uma utilização mais diversificada, como por exemplo, abacate (Persea americana Mill.), cocoda-baía (Cocos nucifera L.), goiaba (Psidium guajava L.), jabuticaba (Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg), laranja (Citrus sinensis L. Osbeck) e pata de vaca (Bauhinia forficata Link), com três usos cada. 90 Número de Citações 80 70 60 50 81 40 30 45 20 30 25 10 0 Alimentar Medicinal Ornamental Outros usos Etnocategorias de Uso FIGURA 29 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Guarim Neto e Amaral (2010) através de um levantamento realizado no município de Rosário Oeste, Mato Grosso, encontraram 266 espécies vegetais distribuídas em 85 famílias botânicas, destacando a categoria Medicinal (103 espécies), seguida da Alimentar (97 espécies) e 60 da Ornamental (79 espécies), sendo as mais representativas a Asteraceae, Euphorbiaceae, Lamiaceae e Araceae. Rabelo Junior (2011) observou que a maior parte das plantas utilizadas na Comunidade Passagem da Conceição, Mato Grosso, são destinadas para fins medicinais. Em Nobres, Mato Grosso, Guarim Neto et al. (2013) também evidenciaram um número maior de plantas com finalidades medicinais. Os mesmos autores salientam que a categoria Medicinal ocupa uma posição em destaque, pois além da flora natural do cerrado ser diversificada o cultivo de novas espécies por diferentes comunidades faz aumentar esta categoria. Pasa et al. (2011) em Bom Jardim, também em Mato Grosso, estudando plantas medicinais obtiveram 86 espécies distribuídas em 41 famílias botânicas, onde as mais significativas foram Fabaceae, Mimosaceae e Caesalpiniaceae, sendo o hábito arbóreo como o mais representativo, seguido do herbáceo e do arbustivo. No bairro Água Vermelha, o hábito herbáceo destacou-se perante os demais com 68 espécies e representando mais da metade das espécies citadas (Figura 30). Número bem superior ao hábito arbóreo (segundo mais citado) e arbustivo (terceiro mais citado) com 29 e 22 espécies, respectivamente. Aspecto semelhante foi encontrado por Oliveira (2012) na comunidade Santo Antônio do Caramujo, Mato Grosso. Palmeira 1% Rasteiro 1% Trepador 1% Arbóreo 24% Arbustivo 18% Herbáceo 55% Arbóreo Arbustivo Herbáceo Palmeira Rasteiro Trepador FIGURA 30 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 61 Plantas utilizadas como medicinais e herbáceas na maioria, frequentemente estão presentes nos quintais urbanos e podem aparecer intercaladas com hortaliças para o próprio consumo (GUARIM NETO et al., 2010). A seguir, são apresentadas diversas fotos (Figura 31) realizadas em diferentes momentos, durante o estudo no Bairro Água Vermelha: escola, quintal, entrevista, plantas medicinais cultivadas diretamente no solo, poço, plantas ornamentais em vasos e no solo, moradores do bairro, árvores frutíferas. 62 A B C D E F G H FIGURA 31 - A - Escola pública do bairro AV; B - Quintal com cultivo de plantas ornamentais; C - Entrevista com informante; D - Cultivo de planta medicinal; E - Poço no quintal da residência; F - Quintal com Mangifera indica L.; G - Informante mostrando cultivo de plantas ornamentais e medicinais; H - Quintal com árvores frutíferas. 63 4.2.3.2. Bairro Bonsucesso Segundo relatos de moradores antigos locais, as terras onde se localiza o bairro Bonsucesso (Figura 32) pertenciam, no século XIX, a Justino Antônio da Silva Claro, fazendeiro que possuía empregados e escravos. Seus herdeiros repartiram a área e nela fizeram suas criações e lavoura, sendo a cana-de-açúcar a principal plantação, da qual se produzia aguardente de alambique, além do “açúcar de barro”, espécie de açúcar mascavo, muito apreciado nos primórdios da vida no estado de Mato Grosso (SILVA, 2011). As comunidades ribeirinhas da Baixada Cuiabana são apontadas por instalar um conglomerado de moradias alinhadas paralelamente ao curso do rio (FERREIRA, 2010). Oliveira (2012) destaca que, em determinados pontos da rua da Beira é possível ver o rio Cuiabá, os portos de canoa e os pescadores em atividade. Segundo os depoentes da comunidade, 60% conhecem a história da origem do bairro, principalmente aqueles com maior idade, conforme relato: “... Havia um senhor de engenho que cultivava arroz, cana-deaçúcar e outras culturas... tudo o que ele plantava dava numa excelente colheita. Era um sucesso. Isso foi passando de um para outro e, por fim deram o nome do bairro de ‘Bonsucesso’ ou ‘Bom Sucesso...” (Sr. A. C. S., 58 anos) Outra depoente narrou que essa região era do seu bisavô e naquela época os índios andavam por lá e também os ciganos. E foi assim que iniciou o bairro. Quanto ao aspecto cultural, várias festas são realizadas pela comunidade, principalmente as religiosas, entre elas destacam-se: Festa de São Benedito, Festa do Divino Espírito Santo (padroeiro da comunidade), Festa de São Pedro (também chamada de Festa do Pescador ou do Peixe), Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, Festa de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Estas festas são realizadas no Centro Comunitário, com exceção da Festa de São Pedro que ocorre num espaço bem próximo ao rio, geralmente com missa e procissão por terra e por água, baile popular, apresentações culturais de dança e música (siriri e cururu). 64 FIGURA 32 – RUA JOÃO GIL DA SILVA, BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora. As Festas de Santo Antônio e São João acontecem nos quintais das residências, são festas menores, comumente é servido pela dona da casa com elementos gastronômicos como o bolo, o chá, e o refrigerante. Contudo, outros membros da comunidade que participam destas festas também levam algum alimento para compartilhar. A comunidade BS expressa intensa presença religiosa, principalmente a Católica, onde os espaços domiciliares frequentemente estão providos de imagens de santos, os quais são referendados com festas e rituais que conservam antigos costumes. Segundo Ferreira (2010) as festas religiosas nessas comunidades encontram-se relacionadas aos ciclos da natureza local (estações da chuva ou da seca). Dessa forma o autor relata: “Ao findar o período das cheias, estabelecendo a fartura de peixes no rio, nas baías ou nos corixos, é tempo de festejar este momento. É tempo de colheita de peixe e de produtos da roça, de praia e de baixada. É tempo em que a cana já madura, dá bom caldo para rapadura. É então, o tempo de agradecer a vida e a natureza” (FERREIRA, 2010). 65 Outra festa bastante tradicional na comunidade é o Carnaval, com participação expressiva de moradores de outros bairros da cidade, além de bandas, desfiles de blocos na rua e concurso. A comunidade como um todo se prepara para esta data, enfeitando as ruas, as residências e através da confecção de fantasias ou abadás. Alguns dos blocos com destaque na comunidade BS é o Bloco da Rapadura e o Cordão do Meu Coração, que foram citados por alguns informantes que são integrantes dos mesmos. Festa de São Pedro (Festa do Peixe) Uma das mais tradicionais festas da Rota do Peixe da Baixada Cuiabana é a Festa do Peixe, realizada em Bonsucesso há 34 anos. O evento é organizado pela Associação de Pescadores e pela Associação de Bairro em parceria com o município e o Estado. Esta festa congrega ribeirinhos e visitantes numa homenagem a São Pedro, que é o padroeiro dos pescadores e já faz parte do calendário de eventos do Estado. De acordo com os organizadores, são preparadas para esta data toneladas de peixe para serem servidos durante o almoço a milhares de participantes e turistas. No ano de 2014 a Festa de São Pedro teve início no sábado (28 de junho) com o baile popular à noite. No domingo, dia 29 foi celebrada a missa pela manhã, seguida da procissão na rua e após a comunidade se reuniu para um chá com bolo. Este ano não foi realizada a procissão no rio devido às condições climáticas, pois além do frio estava ventando muito. Dando continuidade às comemorações é servido o almoço com pratos típicos à base de peixe frito e peixe ensopado. Posteriormente, a festa prossegue com o baile popular, animado por banda e com a presença marcante de muitas pessoas, tanto da comunidade local quanto de outros bairros e até de outras cidades. Além das barracas com comidas e bebidas instaladas no gramado próximo ao rio, são montadas diversas tendas ao longo da rua principal e nas próprias varandas na frente das residências (Figura 33). Nesses locais são comercializados diferentes produtos. Muitos são feitos 66 pelos moradores da comunidade, entre eles os doces de fruta (mamão, caju, goiaba), doce de leite, rapaduras de cana-de-açúcar e de leite, cocada, e o artesanato local, como redes, caminhos de mesa, xales, e outros produtos. FIGURA 33 – EXPOSIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS DURANTE A FESTA DE SÃO PEDRO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora. Segundo Sra. G., uma das artesãs da comunidade, as redes que confecciona são comercializadas entre os valores de 1.200 a 1.800 reais, dependendo da arte aplicada na confecção de cada uma. Durante a Festa de São Pedro há um ponto onde esse artesanato é exposto e comercializado, mas em qualquer época do ano pode ser encomendado e/ou comprado. Existe um espaço próprio para as crianças brincarem, com pupa-pula, escorregador e roda-roda. Em diversos quintais também é possível ver as crianças jogando bola e soltando pipa, num momento de alegria, descontração e confraternização. 67 A Festa de São Pedro é bastante familiar, com participantes de diferentes faixas etárias, desde crianças até pessoas bem idosas. Muitas famílias reunidas, casais de namorados, rodas de amigos e pessoas solteiras. Para a segurança há também uma ajuda da polícia, caso ocorra alguma eventualidade. Entretanto o que predomina é a alegria e a diversão. A produção da rapadura O processo do feitio da rapadura (Figura 34) inicia ao amanhecer. Entretanto, o corte da cana-de-açúcar e o seu transporte, da roça até o engenho utilizando o carro de boi, normalmente é realizado ao no dia anterior. A cana-de-açúcar é moída no engenho movido por um motor elétrico, porém, há décadas passadas esse trabalho era realizado somente por bois. Atualmente ainda há um engenho no local que não usa motor elétrico, o engenho do Sr. Neco. FIGURA 34 – PRODUÇÃO DE RAPADURA NO ENGENHO DONA BUGUELA, BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora. Conforme os baldes se enchem de garapa, os mesmos são despejados no tacho para ser fervido. Nesse período dezenas de abelhas são atraídas pelo cheiro e muitas delas pousam ou caem no tacho. Através do superaquecimento da garapa as abelhas morrem e em seguida são retiradas juntamente com outras impurezas com o auxílio de uma “peneira” feita com a cabaça (Crescentia alata Kunth). Outras 68 abelhas que estavam voando por perto vão embora. Nesse momento, acrescenta-se cascas do tronco de chico-magro (Guazuma ulmifolia Lam.), que ajudam as impurezas a subirem no tacho durante a fervura. Enquanto a garapa ferve é necessário mexer constantemente. De um modo geral, o tempo de fervura varia de duas horas e meia a três horas, com o tacho cheio. Isso corresponde em média a oito latas de garapa (150 litros). Não há um tipo específico de madeira para fazer o fogo. De acordo com o Sr. F., proprietário de um dos engenhos, qualquer madeira, estando seca é boa para queimar. Geralmente na segunda-feira é o dia em que se recolhe a lenha que será utilizada durante a semana no feitio da rapadura. Pode ser desde galhos secos até restos de madeira de móveis demolidos. O feitio da rapadura é realizado durante o ano todo, com intervalo somente entre Natal e Ano Novo. A comercialização é na própria comunidade, onde geralmente toda a produção é vendida. Os restos do bagaço da cana-de-açúcar e a parte com as impurezas que são retiradas da garapa fervente servem de alimento para os bois e as vacas leiteiras. Sobre o feitio e a comercialização da rapadura o Sr. F. F., 49 anos, expõe: ... Aprendi a fazê rapadura com meus pais, que já faleceram... desde que aprendi a falá, já via e ajudava eles a fazê... hoje eu sigo essa tradição... mas ninguém qué mais... depois que entrô a internet não querem sabê disso... a tendência é pará. ... Vendo aqui mesmo no engenho ou na minha casa, do outro lado da rua ... a clientela vem procurá, nunca sobra. A rapadura é afrodisíaca, melado e caldo de cana também. Na época da chuva a produção mingua muito, porque a cana é mais aguada, faço umas 20 rapadura por dia. Na época da seca é mais doce, aí rende mais, dá mais ou menos o dobro de rapadura, umas 40... Diversas vezes durante o feitio da rapadura, o produtor é abordado por pessoas que passam pela comunidade e param para observar o processo, no entanto, acabam sempre adquirindo o produto. Até mesmo as escolas levam os alunos para conhecer os engenhos, contribuindo para a preservação cultural da comunidade. 69 Outros informantes também afirmaram que fazem rapadura. Entretanto, em alguns períodos do ano é necessário suspender esta atividade por alguns dias e esperar o desenvolvimento da cana-de-açúcar para que fique “no ponto” de colheita. De acordo com relato da Sra. R., da cana não há nenhum desperdício: “A ponta da cana e o bagaço serve pras vaca e os boi comê... com a cana nós fazemo a rapadura... o bagaço da cana quando tá seco, é muito bom pra acendê o fogo do fogão à lenha e da fornalha pra fervê a garapa. E ainda quando os boi come a cana, aqueles farelo que sobra se mistura na terra e vira adubo... é bom pras planta. A rapadura é muito bom pra não dá anemia, deixa a pessoa forte.” (Sra. R. M. S., 79 anos) Para Silva (2010) os moradores de Bonsucesso costumam tratar as atividades artesanais, transmitidas pelos seus antepassados, como meio de subsistência, muitas vezes, sem perceber que estão de alguma forma preservando uma cultura centenária. Assim, os produtos desenvolvidos pela comunidade destacam a tradição, não se atentando ao processo de modernização tecnológica. A Tabela 2 apresenta as 148 espécies vegetais e 62 famílias alistadas no bairro Bonsucesso, bem como seus nomes populares e a forma pela qual cada espécie compõe uma fonte de recurso vegetal na região. As famílias botânicas com maior representatividade são Lamiaceae com 11 espécies; Asteraceae com nove espécies, Fabaceae, com oito espécies; Anacardiaceae, Cucurbitaceae e Rutaceae com seis espécies cada; Myrtaceae, Rubiaceae e Solanaceae cada qual com cinco espécies. Essas famílias completam 39% do total de espécies amostradas na área. As demais famílias possuem número de espécies inferior a cinco. Guarim Neto e Pasa (2009) em seu estudo etnobotânico em Acorizal, Mato Grosso, catalogaram 71 espécies e 40 famílias, sendo a Fabaceae, Rubiaceae, Annonaceae, Caesalpiniaceae e Volchysiaceae com maior representatividade específica. 70 Quanto à frequência de concordância de usos principais (Pcusp) 14% exibem valor igual ou superior a 50% dentre as 148 espécies citadas. Das espécies mencionadas a erva-de-santa-maria (Coronopus didymus (L.) Smith.) obteve nível de fidelidade (NF) igual a 100%, seguido do boldo (Plectranthus barbatus Andrews) com 83%, da romã (Punica granatum L.) e do anador (Justicia pectoralis Jacq.) cada qual com 75%, entre outras plantas com ampla utilização pela comunidade. Pasa (2011) em seu estudo na comunidade Bom Jardim, Mato Grosso, verificou percentual maior para a frequência de concordância quanto aos usos principais, 35%. Assim, a mesma autora sugere haver uma possibilidade de que essas espécies sejam comuns e presentes na região, sendo utilizadas frequentemente pela população. Para as espécies que obtiveram concordância superior a 50%, todas pertencem a etnocategoria medicinal, com exceção da pimenta (Capsicum albescens Kuntze), pertencente à categoria alimentar e cultivada nos quintais. As principais indicações para as espécies medicinais são: problemas digestivos (boldo, Plectranthus barbatus Andrews), ansiedade e insônia (capim cidreira, Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), gripe e ansiedade (erva cidreira, Melissa officinalis L.), cicatrizante e fortificante do cabelo (babosa, Alloe vera (L.) Burm f.), inflamação da garganta (romã, Punica granatum L.). 71 TABELA 3 – PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. “continua...” Nome Popular Romã Babosa Boldo Cana-de-açúcar Laranja Manga Capim-cidreira Alecrim Algodão Amora Anador Camomila Erva-de-santamaria Mamão Pimenta Urucum Abacate Nome Científico Punica granatum L. Alloe vera (L.) Burm f. Plectranthus barbatus Andrews Saccharum officinarum L. Citrus sinensis L. Osbeck Mangifera indica L. Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Rosmarinus officinalis L. Gossypium hirsutum L. Morus nigra L. Justicia pectoralis Jacq. Matricaria reticulita L. Família Categoria de Uso Punicaceae Xanthorrhoaceae Lamiaceae Poaceae Rutaceae Anacardiaceae Poaceae Lamiaceae Malvaceae Moraceae Acanthaceae Asteraceae Coronopus didymus (L.) Smith. Carica papaya L. Capsicum albescens Kuntze Bixa orellana L. Persea americana Mill. Brassicaceae Caricaceae Solanaceae Bixaceae Lauraceae 72 Hábito Fsp Fid NF FC Pcusp (%) AM M M A M Ou A M Ou A M Ou M M M AM M M Ab He He He Ar Ar He He Ab Ar He He 12 12 12 12 8 12 11 11 10 10 8 12 9 8 8 8 4 8 7 6 6 6 6 6 75 66 66 66 50 66 63 54 60 60 75 50 1,00 1,00 1,00 1,00 0,66 1,00 0,91 0,91 0,83 0,83 0,66 1,00 75 66 66 66 66 66 57 50 50 50 50 50 M AM A AM A M Ou He Ab He Ab Ar 6 9 8 10 8 6 6 6 6 5 100 66 75 60 62 0,50 0,75 0,66 0,83 0,66 50 50 50 50 41 Acerola Banana Caju Erva cidreira Pimentão Poncã Tamarindo Terramicina Vique Abóbora Alface Alho Arnica Aroeira Arruda Ata Berinjela Cabaça Cebolinha Cordão-de-frade Embaúba Eucalipto Fruta-do-conde Goiaba Hortelã Limão Louro Mandioca Milho Malpighia glabra L. Musa parasidiaca L. Anacardium occidentale L. Melissa officinalis L. Capsicum annuum L. Citrus reticulata Blanco Tamarindus indica L. Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Mentha arvensis L. Cucurbita moschata Dusch. Lactuca sativa L. Allium sativum L. Solidago chilensis Meyen Myracrodruon urundeuva Allemão Ruta graveolens L. Annona squamosa L. Solanum mammosum L. Crescentia alata Kunth Allium fistulosum L. Leonotis nepetifolia (L.) R. Br. Cecropia hololeuca Miq. Eucalyptus globulus Labill. Annona squamosa L. Psidium guajava L. Mentha villosa Becker Citrus limon (L.) Osbeck Cordia glabrata (Mart.) A.DC Manihot esculenta Crantz Zea mays L. Malpighiaceae Musaceae Anacardiaceae Lamiaceae Solanaceae Rutaceae Fabaceae Amaranthaceae Lamiaceae Cucurbitaceae Asteraceae Amaryllidaceae Asteraceae Anacardiaceae Rutaceae Annonaceae Solanaceae Bignoniaceae Amaryllidaceae Lamiaceae Urticaceae Myrtaceae Annonaceae Myrtaceae Lamiaceae Rutaceae Lauraceae Euphorbiaceae Poaceae 73 AM AM AM M A A Ou A M Ou M M AM A AM M M Ou M Ou A AM M Ou A M O Ou M Ou M Ou A Ou AM M A M Ou A M Ou A A Ab He Ar He He Ab Ar He He Ra He He Ab Ar He Ab He Ab He Ar Ar Ar Ab Ar He Ar Ar He He 7 8 8 7 7 7 8 8 6 8 4 7 6 7 8 6 8 6 6 6 6 6 6 8 4 8 6 6 6 5 5 5 5 5 5 5 5 5 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 71 62 62 71 71 71 62 62 83 50 100 57 66 57 50 66 50 66 66 66 66 66 66 50 100 50 66 66 66 0,58 0,66 0,66 0,66 0,58 0,58 0,66 0,66 0,50 0,66 0,33 0,58 0,50 0,58 0,66 0,50 0,66 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,66 0,33 0,66 0,50 0,50 0,50 41 41 41 41 41 41 41 41 41 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 33 Negramina Pata-de-vaca Picão Pingo-de-ouro Poejo Quebra-pedra Rosa Samambaia Sucupira Unha-de-gato Vassourinha Batata doce Bocaiuva Caferana Caninha-do-brejo Chico-magro Coco-da-baía Confrei Couve Dipirona Espada-de-sãojorge Espirradeira Fedegoso Jambo Lima da pérsia Malva Melão-de-São- Siparuna guianensis Aubl. Bauhinia forficata Link Bidens pilosa L. Duranta erecta L. Mentha pulegium L. Phyllanthus orbiculatus Rich. Rosa sp. Nephrolepis biserrata (SW.) Schott Pterodon polygaliflorus (Benth.) Benth. Uncaria tomentosa (Willd.) DC. Scoparia dulcis L. Ipomoea batatas (L.) Lam. Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. Vernonia polyanthes (Spreng.) Less. Costus spicatus (Jacq.) Sw Guazuma ulmifolia Lam. Siparunaceae Fabaceae Asteraceae Verbenaceae Lamiaceae Phyllanthaceae Rosaceae Davalliaceae M M O Ou M O M M O O Ar Ab He Ab He Ra He He 8 6 4 4 6 4 4 8 4 4 4 4 4 4 4 4 50 66 100 100 66 100 100 50 0,66 0,50 0,33 0,33 0,50 0,33 0,33 0,66 33 33 33 33 33 33 33 33 Fabaceae Rubiaceae Plantaginaceae Convolvulaceae M Ou M M A Ar Ar He Ra 5 5 6 3 4 4 4 3 80 80 66 100 0,41 0,41 0,50 0,25 33 33 33 25 Arecaceae Asteraceae Costaceae Malvaceae M M M M Ou Ar Ab He Ar 6 5 4 4 3 3 3 3 50 60 75 75 0,50 0,41 0,33 0,33 25 25 25 25 Cocos nucifera L. Symphytum officinale L. Brassica oleracea L. Althernantera Forssk. Arecaceae Boraginaceae Brassicaceae Amaranthaceae AM M AM M Pa He He He 6 4 6 6 3 3 3 3 50 75 50 50 0,50 0,33 0,50 0,50 25 25 25 25 Sansevieria trifasciata Prain Nerium oleander L. Senna occidentalis (L.) Link Eugenia malaccensis L. Citrus limittioides Tanaka Malva palviflora L. Momordia charantia L. Asparagaceae Apocynaceae Fabaceae Myrtaceae Rutaceae Malvaceae Cucurbitaceae O Ou O M A Ou M M M He Ab Ab Ar Ar He Tr 5 3 3 6 3 4 5 3 3 3 3 3 3 3 60 100 100 50 100 75 60 0,41 0,25 0,25 0,50 0,25 0,33 0,41 25 25 25 25 25 25 25 74 Caetano Neen Orquídea Picão-branco Pronto-alívio Raiz-de-bugre Tansagem Tapera-velha Tarumã Erva-de-bicho Erva-doce Abacaxi Alho poró Antúrio Banana-da-terra Batata Bucha Caiapiá Cancerosa Canela Carambola Cenoura Chuchu Colônia Comigo-ninguémpode Crista-de-galo Espinheira santa Azadirachta indica A. Juss. Orchis sp. Porophylum ruderale (Jacq.) Cass. Achillea millefolium L. Bytteneria melastomifolia St. Hil. Platango major L. Hyptis suaveolens (L.) Poit. Vitex cymosa Bertero ex Spreng Polygonum hydropiperoides Michx. Foeniculum vulgare Mill. Ananas comosus (L.) Merr. Allium porrum L. Anthurium andraeanum Linden Musa sp. Solanum tuberosum L. Luffa aegyptiaca Mill. Dorstenia cayapia Vell. Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Cinnamomum zeylanicum Blume. Averrhoa carambola L. Daucus carota L. Sechium edule (Jacq.) Sw. Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt & R. M. Meliaceae Orchidaceae Asteraceae Asteraceae Sterculiaceae Plantaginaceae Lamiaceae Lamiaceae Polygonaceae Apiaceae Bromeliaceae Amaryllidaceae Araceae Musaceae Solanaceae Cucurbitaceae Moraceae Celastraceae Lauraceae Oxalidaceae Apiaceae Cucurbitaceae M Ou O M M M M M M O Ou M AM AM AM O A AM M Ou M M M Ou AM A A Ar He He He Tr He He Ar He He He He He He Ra Tr He He Ar Ar He Ter 4 3 6 6 6 3 3 5 5 4 4 4 2 2 4 4 2 4 4 4 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 75 100 50 50 50 100 100 60 60 75 50 50 100 100 50 50 100 50 50 50 100 100 0,33 0,25 0,50 0,50 0,50 0,25 0,25 0,41 0,41 0,33 0,33 0,33 0,16 0,16 0,33 0,33 0,16 0,33 0,33 0,33 0,16 0,16 25 25 25 25 25 25 25 25 25 21 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 Zingiberaceae M He 4 2 50 0,33 16 Dieffenbachia amoena Bull. Celosia cristata L. Maytenus aquifolium Mart. Araceae Amaranthaceae Celastraceae O Ou M M He He He 4 2 2 2 2 2 50 100 100 0,33 0,16 0,16 16 16 16 75 Feijão chicote Hortelã-do-campo Ingá Ipê roxo Jabuticaba Jatobá Losna Maracujá Maravilha Noni Noz-vômica Pariparoba Pequi Pimenta-do-reino Pitanga Pitomba Quiabo Quina-do-cerrado Sabugueiro Salsa Timbó Tomate Violeta Acuri Azaleia Vigna sinensis (L.) Savi ex. Hassk. Hyptidendron canum (Pohl ex. Benth.) Inga speciosa M. Martens & Galeotti Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex Hayne Fabaceae A Ter 2 2 100 0,16 16 Lamiaceae Fabaceae Bignoniaceae Myrtaceae M A Ou M O Ou A Ou He Ar Ar Ab 2 3 5 4 2 2 2 2 100 66 40 50 0,16 0,25 0,41 0,33 16 16 16 16 Caesalpiniaceae A M Ou Ar 4 2 50 0,33 16 Artemisia absinthium L. Passiflora edulis Sims. Mirabilis jalapa L. Morinda citrifolia L. Strychnos nux-vomica L. Piper peltatum L. Caryocar brasiliense Cambess. Piper nigrum L. Eugenia uniflora L. Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk. Abelmoschus esculentus (L.) Moench Strychnos pseudoquina A. St.-Hil. Sambucus australis Cham. & Schltdl Petroselinum crispum (Mill.) Fuss Enterolobium contortisiliquum (Vell) Morong Solanum lycopersicum L. Viola sp. Scheelea phalerata (Mart. Ex. Spreng.) Burret Rhododendron simsii Planch. Asteraceae Passifloraceae Nyctaginaceae Rubiaceae Loganiaceae Piperaceae Caryocaraceae Piperaceae Myrtaceae Sapindaceae M AM O M Ou M M AM A AM A Ou He Tr He Ab He Ar Ar He Ab Ar 4 4 2 4 2 4 5 2 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 50 50 100 50 100 50 40 100 66 66 0,33 0,33 0,16 0,33 0,16 0,33 0,41 0,16 0,25 0,25 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 Malvaceae Loganiaceae Adoxaceae Apiaceae AM M M A He Ar Ab He 4 4 3 3 2 2 2 2 50 50 66 66 0,33 0,33 0,25 0,25 16 16 16 16 Fabaceae Solanaceae Violaceae M A O Ar Tr He 4 4 2 2 2 2 50 50 100 0,33 0,33 0,16 16 16 16 Arecaceae Erecaceae A O Pa Ab 1 1 1 1 100 100 0,08 0,08 8 8 76 Beterraba Brilhantina Cajá-manga Cajazinho Dinheiro-em-penca Elixir Figatil Figo Fortuna Fruta-pão Genciana Jenipapo Jequitibá Lima Mangaba Maria-semvergonha Maxixe Melão Mulateira Rafia Rosa branca Sangra d'água Seriguela Beta vulgaris L. Pilea microphylla (L.) Liebm. Spondias mombin L. Spondias lutea L. Callisia repens (Jacq.) L. Ocimum selloi Benth Vernonia condensata Baker Ficus carica L. Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg Acosmium subelegans (Mohlenbr.) Yakovlev Genipa americana L. Cariniana sp. Citrus sp. Hancornia speciosa Gomes Amaranthaceae Urticaceae Anacardiaceae Anacardiaceae Commelinaceae Lamiaceae Asteraceae Moraceae Crassulaceae AM M A Ou A Ou O Ou M M A O Ou He Ra Ar Ab He He Ar Ab He 3 2 2 2 3 3 4 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 33 50 50 50 33 33 25 50 50 0,25 0,16 0,16 0,16 0,25 0,25 0,33 0,16 0,16 8 8 8 8 8 8 8 8 8 Moraceae M Ab 2 1 50 0,16 8 Fabaceae Rubiaceae Lecythidaceae Rutaceae Apocynaceae M AM M O Ou A M Ou AMO Ar Ar Ar Ar Ar 2 2 3 4 3 1 1 1 1 1 50 50 33 25 33 0,16 0,16 0,25 0,33 0,25 8 8 8 8 8 Impatiens walleriana Hook. F. Cucumis anguria L. Cucumis melo L. Calycophyllum spruceanum (Benth.) Hook. F. ex K. Schum. Rhapis excelsa (Thunb.) A. Henry Rosa alba Croton urucurana Baill. Spondias purpurea L. Balsaminaceae Cucurbitaceae Cucurbitaceae M A A He Tr Ra 1 2 2 1 1 1 100 50 50 0,08 0,16 0,16 8 8 8 Rubiaceae Arecaceae Rosaceae Euphorbiaceae Anacardiaceae M O MO M Ou A Ou Ar He He Ar Ar 1 1 2 1 2 1 1 1 1 1 100 100 50 100 50 0,08 0,08 0,16 0,08 0,16 8 8 8 8 8 0,16 8 Coriandrum sativum L. Coentro Apiaceae A He 2 1 50 Legenda: Categoria de Uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra). Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador. 77 No bairro Bonsucesso foram identificadas espécies que se enquadram nas etnocategorias de planta Alimentar (44%), Medicinal (70%), Ornamental (15%) e Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra) com 26% (Figura 35). Com base nesses dados fica evidente a importância que os informantes atribuem à flora, principalmente com as plantas medicinais e alimentares. Número de espécies 120 100 80 60 40 103 64 20 21 38 0 Alimentar Medicinal Ornamental Outros Usos Etnocategorias de Uso FIGURA 35 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Entre as plantas medicinais, algumas são cultivadas nos quintais e outras são coletadas na mata, próxima às residências, é o caso do jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex. Hayne.), raiz-de-bugre (Bytteneria melastomifolia St. Hil.) e sucupira (Pterodon polygaliflorus (Benth.) Benth.). Entretanto, a negramina (Siparuna guianensis Aubl.) é encontrada em locais mais distantes da comunidade, do outro lado do rio. Valentini et al. (2008) verificaram diversos usos da negramina, entre eles, no combate a gripe, dengue, malina e dor de cabeça. Para a categoria alimentar, a maioria é cultivada nos quintais ou nas roças da comunidade, a exemplo da abóbora (Cucurbita moschata Dusch.), batata (Solanum tuberosum L.) e mandioca (Manihot esculenta Crantz). 78 De acordo com essas etnocategorias, existem espécies com uma multiplicidade de usos, incidindo uma maximização do recurso disponível, como por exemplo, abacate (Persea americana Mill.), cordãode-frade (Leonotis nepetifolia (L.) R. Br.), ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo), jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex. Hayne), pata de vaca (Bauhinia forficata Link) e tamarindo (Tamarindus indica L.), todas com três usos cada. Quanto ao hábito as herbáceas também se destacaram com 67 espécies, seguido do arbóreo com 41 espécies e do arbustivo com 24 espécies citadas. Palmeiras, trepadoras e rasteiras somaram 16 citações (Figura 36). Apesar de ser um bairro ribeirinho, rodeado pela mata ripária e distante do centro da cidade, seus moradores utilizam no cotidiano um número expressivo de plantas de pequeno porte, por exemplo hortaliças, ervas medicinais e ornamentais. As plantas ornamentais são em sua maioria herbáceas e cultivadas nos quintais, entre elas o antúrio (Anthurium andraeanum Linden), a azaleia (Rhododendron simsii Planch.), a rosa (Rosa sp.), a violeta (Viola sp.), a samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott), o dinheiro-em-penca (Callisia repens (Jacq.) L.) e o comigo-ningém-pode (Dieffenbachia amoena Bull.). Outras espécies apresentam hábito arbóreo, como o ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo), jequitibá (Cariniana sp.) e tarumã (Vitex cymosa Bertero ex Spreng). 79 Palmeira 3% Rasteiro 3% Trepador 5% Arbustivo 16% Arbóreo 28% Herbáceo 45% Arbustivo Arbóreo Herbáceo FIGURA 36 – REPRESENTAÇÃO Palmeira GRÁFICA Rasteiro DAS Trepador ESPÉCIES/HÁBITO CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Na Figura 37 estão registradas imagens durante momentos distintos da coleta de dados no Bairro Bonsucesso: entrevistas, residência, escola, rio, igreja, coleta de frutos, quintal e roça. Em alguns desses registros, também é possível evidenciar a relação dos moradores locais com as plantas, que constitui e expressa a etnobotânica local. 80 A B C C D EE F G G H FIGURA 37 - A - Entrevista com moradores; B - Residência típica do bairro Bonsucesso; C - Escola pública do bairro; D - Informante usando o pilão para o feitio da “puva”; E - Rio Cuiabá, às margens da comunidade; F - Igreja com faixa da Festa de São Pedro; G Moradora coletando fruto no quintal; H - Cultivo de banana na roça. 81 4.2.3.3 BAIRRO CRISTO REI A maioria dos informantes do bairro Cristo Rei (Figura 38) conhece um pouco da história de como originou o bairro, conforme relatos de alguns moradores: “No início era chamado de roção, era um matão sem fim. Com o tempo derrubaram as plantas, fizeram as ruas. Naquela época a administração do estado era o governador Fragelli... depois foi chamado de Vila Governador Fragelli. Onde tinha o seminário era chamado de Cristo Rei. Hoje o bairro é chamado de Cristo Rei, se fosse mais longe do centro da cidade era para ser emancipado”. (Sr. B. L. S., 70 anos) “Onde hoje é a UNIVAG era tudo seminário dos padre. Não tinha asfalto... aqui era tudo roça dos padre... meu pai trabalhava no seminário e na roça aqui”. (Sra. G. P. S. S., 58 anos). “Aqui era conhecido como Capão de Negro. Tinha poucas casas, a casa maior era o seminário. Não tinha rua, era só estradinha. Também era conhecido como roção. Era uma mata. Cresceu mesmo com o governo do Fragelli e do Campos”. (Sr. G. L. C., 68 anos) FIGURA 38 - AVENIDA 31 DE MARÇO, BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora. 82 A devoção é forte no bairro, com 71% dos informantes praticantes da religião católica. As principais festas realizadas para a comunidade são as festas religiosas, que ocorrem na igreja. No entanto, alguns moradores também comemoram as festas de São João e de Santo Antônio em suas residências. Além dessas, as escolas promovem festas para a comunidade, principalmente as Juninas e datas comemorativas, Dia das Mães, Dia das Crianças. Foram citadas pelos moradores do bairro Cristo Rei o universo de 143 espécies pertencentes a 67 famílias botânicas (Tabela 3). As famílias botânicas que apresentaram maior riqueza de espécies foram Asteraceae (11 espécies), Lamiaceae (dez espécies), Fabaceae (sete espécies), Araceae (seis espécies), Malvaceae e Solanaceae, cada qual com cinco espécies e, Cucurbitaceae, Poaceae e Rutaceae (quatro espécies cada). Carniello et al. (2008) estudando os quintais urbanos em Mirassol D’Oeste, Mato Grosso, identificaram 275 espécies pertencentes a 77 famílias botânicas, cujas mais representativas foram Solanaceae, Asteraceae, Rosaceae, Verbenaceae, Euphorbiaceae, Malvaceae e Rutaceae. Maciel e Guarim Neto (2008) encontraram números semelhantes na área rural de Juruena, Mato Grosso, 267 espécies e 75 famílias botânicas, sendo as mais representativas: Euphorbiaceae (11 espécies), Lamiaceae (13), Fabaceae (14), Mimosaceae (19) e Asteraceae (27 espécies). Dentre as plantas remanescentes da vegetação encontra-se abacate (Persea americana Mill.), canela (Cinnamomum zeylanicum Blume), goiaba (Psidium guajava L.), mamão (Carica papaya L.), manga (Mangifera indica L.) e sete-copas (Lecythis pisonis Cambess.). Espécies arbóreas como abacateiros e mangueiras são típicas de quintais mato-grossenses, os quais são espaços de conservação de recursos e de costumes que permeiam a maneira de ser da população dessa região (GUARIM NETO, 2008). Segundo Amorozo (2008) o cultivo de árvores e outras plantas nos quintais urbanos, praças e parques contribui na melhoria da 83 qualidade de vida. Essas áreas verdes aumentam a umidade e reduzem o calor da irradiação através da conversão da água do solo em umidade atmosférica. Com relação à frequência relativa de concordância quanto aos usos principais, destacaram-se com valores superiores a 45% as espécies: manga (Mangifera indica L.) e samambaia (Pleopeltis pleopeltifolia (Raddi) Alston) com 58%; boldo (Plectranthus barbatus Andrews) com 53%, capim cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf) com 52%, acerola (Malpighia glabra L.) com 47% e babosa (Alloe vera (L.) Burm f.) com 46%. Dentre essas espécies todas pertencem à etnocategoria medicinal, com exceção da samambaia, ornamental cultivada em diversas residências, tanto em vasos no chão, quanto suspensos. 84 TABELA 4 - PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. “continua.. “ Nome Popular Manga Samambaia Boldo Capim-cidreira Acerola Babosa Erva-cidreira Rosa Caninha-do-brejo Limão Abacate Banana Comigo-ninguémpode Espada-de-são-jorge Goiaba Orquídea Pimenta Avenca Nome Científico Mangifera indica L. Pleopeltis pleopeltifolia (Raddi) Alston Plectranthus barbatus Andrews Cymbopogon citratus (DC.) Stapf Malpighia glabra L. Alloe vera (L.) Burm f. Melissa officinalis L. Rosa sp. Costus spicatus (Jacq.) Sw Citrus limon (L.) Osbeck Persea americana Mill. Musa parasidiaca L. Família Categoria de Uso Anacardiaceae Polypodiaceae Lamiaceae Poaceae Malpighiaceae Xanthorrhoaceae Lamiaceae Rosaceae Costaceae Rutaceae Lauraceae Musaceae Dieffenbachia amoena Bull. Sansevieria trifasciata Prain Psidium guajava L. Orchis sp. Capsicum albescens Kuntze Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris Araceae Asparagaceae Myrtaceae Orchidaceae Solanaceae Pteridaceae 85 Hábito Fsp Fid NF FC Pcusp (%) A M Ou O M M AM M M O M AM A M Ou AM Ar He He He Ab He He He He Ar Ar He 17 10 12 14 12 11 12 7 13 11 9 13 10 10 9 9 8 8 7 7 7 7 6 6 58 100 75 64 66 72 58 100 53 63 66 46 1 0,58 0,71 0,82 0,71 0,64 0,71 0,41 0,76 0,64 0,53 0,76 58 58 53 52 47 46 41 41 40 40 35 35 O Ou O Ou AM O A Ou O He He Ar He He He 8 9 10 6 7 5 6 6 6 6 5 5 75 66 60 100 71 100 0,47 0,53 0,58 0,35 0,41 0,29 35 35 35 35 30 29 Espirradeira Lírio Mamão Mandioca Romã Arruda Ata Alecrim Algodão Amora Caferana Camomila Cebolinha Copo-de-leite Erva-de-santa-maria Hortelã Laranja Noni Quebra-pedra Alfavaca Carambola Fedegoso Abacaxi Abóbora Antúrio Beijo Beladona Caju Coco-da-baía Nerium oleander L. Spathiphyllum wallisii Regel Carica papaya L. Manihot esculenta Crantz Punica granatum L. Ruta graveolens L. Annona squamosa L. Rosmarinus officinalis L. Gossypium hirsutum L. Morus nigra L. Vernonia polyanthes (Spreng.) Less. Matricaria recutita L. Allium fistulosum L. Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng. Coronopus didymus (L.) Sm. Mentha villosa Becker Citrus sinensis L. Osbeck Morinda citrifolia L. Phyllanthus orbiculatus Rich. Ocimum basilicum L. Averrhoa carambola L. Senna occidentalis (L.) Link Ananas comosus (L.) Merr Cucurbita moschata Dusch. Anthurium andraeanum Linden Impatiens walleriana Hook. f. Atropa belladonna L. Anacardium occidentale L. Cocos nucifera L. Apocynaceae Araceae Caricaceae Euphorbiaceae Punicaceae Rutaceae Annonaceae Lamiaceae Malvaceae Moraceae Asteraceae Asteraceae Amaryllidaceae Araceae Brassicaceae Lamiaceae Rutaceae Rubiaceae Phyllanthaceae Lamiaceae Oxalidaceae Fabaceae Bromeliaceae Cucurbitaceae Araceae Balsaminaceae Solanaceae Anacardiaceae Arecaceae 86 O O AM A AM M Ou A Ou M M A Ou M M A O M AM AM M M M A M Ou M Ou AM AM O O O AM AMO Ab He Ab He Ab He Ab He Ab Ar Ab He He He He He Ar Ab Ab He Ar Ab He Ra He He Ab Ar Pa 5 5 9 5 10 8 8 6 7 6 6 10 7 4 6 10 7 7 4 6 6 6 5 5 3 3 3 7 7 5 5 5 5 5 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 100 100 55 100 50 50 50 66 57 66 66 40 57 100 66 40 57 57 100 50 50 50 60 60 100 100 100 42 42 0,29 0,29 0,52 0,29 0,58 0,47 0,47 0,35 0,41 0,35 0,35 0,58 0,41 0,23 0,35 0,58 0,41 0,41 0,23 0,35 0,35 0,35 0,29 0,29 0,17 0,17 0,17 0,41 0,41 29 29 29 29 29 24 24 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 18 18 17 17 17 17 17 17 17 Dama-da-noite Fortuna Hortênsia Malva Manjericão Oiti Primavera Quina Alho poró Assa-peixe Cana-de-açúcar Couve Erva-de-bicho Figatil Hortelãzinha Malva branca Maracujá Poejo Rosa branca Terramicina Urucum Anador Arnica Begônia Bucha Carqueja Embaúba Gérbera Girassol Cestrum nocturnum L. Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. Malva palviflora L. Ocimum basilicum L. Licania tomentosa (Benth.) Fritsch Bougainvillea glabra Choisy Strychnos pseudoquina A. St. -Hil. Allium porrum L. Vernonia ferruginea Less. Saccharum officinarum L. Brassica oleracea L. Polygonum hydropiperoides Michx. Vernonia condensata Baker Mentha pulegium L. Malva sylvestris L. Passiflora edulis Sims. Mentha pulegium L. Rosa alba L. Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Bixa orellana L. Justicia pectoralis Jacq. Solidago chilensis Meyen Begonia elatior hort. ex Steud. Luffa aegyptiaca Mill. Baccharis trimera Less. DC. Cecropia hololeuca Miq. Gerbera sp. Helianthus annuus L. Solanaceae Crassulaceae Hydrangeaceae Malvaceae Lamiaceae Chrysobalanaceae Nyctaginaceae Loganiaceae Amaryllidaceae Asteraceae Poaceae Brassicaceae Polygonaceae Asteraceae Lamiaceae Malvaceae Passifloraceae Lamiaceae Rosaceae Amaranthaceae Bixaceae Acanthaceae Asteraceae Begoniaceae Cucurbitaceae Asteraceae Urticaceae Asteraceae Asteraceae 87 O O Ou O M A O Ou O M AM M Ou A AM M M M M AM M MO M AM M M O M Ou M M O MO Ab He He He He Ar Ab Ar He Ab He He He Ar He He Tr He He He Ab He Ab He Tr He Ar He He 3 5 3 5 5 2 3 5 4 4 4 4 4 3 5 4 4 6 4 5 5 3 2 2 3 2 3 2 3 3 3 3 3 3 1 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 100 60 100 60 60 50 100 60 50 50 50 50 50 66 40 50 50 33 50 40 40 66 100 100 66 100 66 100 66 0,17 0,29 0,17 0,29 0,29 0,11 0,17 0,29 0,23 0,23 0,23 0,23 0,23 0,17 0,29 0,23 0,23 0,35 0,23 0,29 0,29 0,17 0,11 0,11 0,17 0,11 0,17 0,11 0,17 17 17 17 17 17 17 17 17 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 11 11 11 11 11 11 11 11 Guaco Icsória Jabuticaba Mamona Marcela Melancia Melão-de-sãocaetano Pingo-de-ouro Pitanga Rosa-do-deserto Sucupira preta Tomate Vique Açafrão Araticum Azedinha Bacuri Barbatimão Berinjela Beterraba Biribá Boa noite Bocaiuva Brinco-de-princesa Bromélia Cabaça Cabriteiro Mikania glomerata Spreng. Ixora chinensis Lam. Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg Ricinus communis L. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai Asteraceae Rubiaceae Myrtaceae Euphorbiaceae Asteraceae Cucurbitaceae M O AM M M A Ab He Ar Ab He He 2 2 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 100 100 66 66 66 100 0,11 0,11 0,17 0,17 0,17 0,11 11 11 11 11 11 11 Momordia charantia L. Duranta erecta L. Eugenia uniflora L. Adenium obesum (Forssk.) Roem. & Schult. Bowdichia virgilioides Kunth Solanum lycopersicum L. Mentha arvensis L. Crocus sativus L. Annona coriacea Mart. Oxalis acetosella L. Platonia insignis Mart. Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Solanum mammosum L. Beta vulgaris L. Annona mucosa Jacq. Catharanthus roseus (L.) G. Don Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. Fuchsia hybrida hort. ex Siebert & Voss Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. f. Crescentia alata Kunth Rhamnidium elaeocarpum Reissek Cucurbitaceae Verbenaceae Myrtaceae M O AO Tr He Ar 3 2 3 2 2 2 66 100 66 0,17 0,11 0,17 11 11 11 Apocynaceae Fabaceae Solanaceae Lamiaceae Iridaceae Annonaceae Oxalidaceae Clusiaceae O M Ou A M AM A Ou M Ou M Ou He Ar Tr He He Ab He Ar 2 3 2 2 3 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 100 66 100 100 33 50 50 50 0,11 0,17 0,11 0,11 0,17 0,11 0,11 0,11 11 11 11 11 6 6 6 6 Fabaceae Solanaceae Amaranthaceae Annonaceae Apocynaceae Arecaceae Onagraceae Bromeliaceae Bignoniaceae Rhamnaceae M Ou AM AM M Ou M Ou M Ou M Ou M Ou M Ou M Ou Ar He He Ar Ab Ar Ab He Ab Ar 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 50 50 50 50 50 50 50 50 50 50 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 88 Canela Confrei Coroa-de-frade Figueira Gengibre Guiné Jaborandi Jenipapo Jucá Losna Louro Quiabo Sete-copas Tamarindo Bandeirinha Cardo-santo Cavalinha Citronela Coentro Colônia Douradinha Gloxínia Imbé Insulina-vegetal Jaca Jasmim Jurema Lágrima-de-cristo Cinnamomum zaylanicum Blume Symphytum officinale L. Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb. Ficus sp. Zingiber officinale Roscoe Petiveria alliacea L. Pilocarpus pennatifolius Lem. Genipa americana L. Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul. Artemisia absinthium L. Cordia glabrata (Mart.) A. DC Hibiscus esculentus L. Lecythis pisonis Cambess. Tamarindus indica L. Spathiphyllum wallisii Regel Argemone mexicana L. Equisetum arvense L. Cymbopogon winterianus Jowitt ex Bor Cichorium sativum L. Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt & R. M. Waltheria douradinha A. St.-Hil. Sinningia speciosa (Lodd.) Hiern Philodendron imbe Schott ex Endl. Cissus sicyoides L. Artocarpus integrifolia L. f. Jasminum nitidum Skan Pithecellobium tortum Mart. Clerodendrum thomsoniae Balf. Lauraceae Boraginaceae AM M Ar He 2 3 1 1 50 33 0,12 0,17 6 6 Cactaceae Moraceae Zingiberaceae Phytolaccaceae Rutaceae Rubiaceae Fabaceae Asteraceae Lauraceae Malvaceae Lecythidaceae Fabaceae Araceae Papaveraceae Equisetaceae Poaceae Apiaceae Zingiberaceae Malvaceae Gesneriaceae Araceae Vitaceae Moraceae Oleaceae Fabaceae Lamiaceae M Ou M AM M Ou M Ou A M Ou M Ou M AM AM O Ou AM M M M Ou A M M O Ou M A O Ou O Ab Ar He He Ab Ar Ar He Ar He Ar Ar He He He He He He He He Tr Tr Ar Tr Ar Tr 2 2 3 2 2 3 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 50 50 33 50 50 33 33 50 50 50 50 50 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 0,11 0,11 0,17 0,11 0,11 0,17 0,17 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 89 Zea mays L. Poaceae A He 1 1 100 Portulaca grandiflora Hook. Portulacaceae O He 1 1 100 Opuntia cochenillifera (L.) Mill. Cactaceae A Ab 1 1 100 Dypsis lutescens (H.Wendl.) Beentje & Palmeira J.Dransf. Arecaceae O Pa 1 1 100 Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Piúva Mattos Bignoniaceae M Ar 1 1 100 Davalia fejeensis Renda portuguesa Davalliaceae O He 1 1 100 Rosa centifolia L. Rosa amélia Rosaceae O He 1 1 100 Petroselinum crispum (Mill.) Fuss Salsa Apiaceae A He 1 1 100 Sapatinho-de-nossa- Paphiopedilum spicerianum (Rchb. f.) senhora Pfitzer Orchidaceae O He 1 1 100 Spondias purpurea L. Seriguela Anacardiaceae A Ar 1 1 100 Plantago major L. Tansagem Plantaginaceae M He 1 1 100 Stylosanthes guyanensis (Aubl.) SW. Vassourinha Fabaceae M He 1 1 100 Legenda: Categorias de uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra). Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador. Milho Onze-horas Palma 90 0,05 0,05 0,05 5 5 5 0,05 5 0,05 0,05 0,05 0,05 5 5 5 5 0,05 0,05 0,05 0,05 5 5 5 5 As espécies foram agrupadas de acordo com a categoria de uso mencionada pelo informante. A categoria de uso Medicinal exibiu um total de 92 espécies, representando a categoria com maior número de espécies, aproximadamente 64% do total, dado este que confirma a importância da flora usada na medicina tradicional. Para a categoria Alimentar foram citadas 45 espécies, seguido das categorias Outros usos com 35 espécies e Ornamental com 34 espécies (Figura 39). Dentre as plantas utilizadas na etnomedicina local e a respectiva indicação terapêutica, encontram-se a babosa (Alloe vera (L.) Burm f.), utilizada para cicatrização, queimadura e queda de cabelo com 16 citações; o capim-cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf), para insônia e indigestão, com 14 citações; a caminha-do-brejo (Costus spicatus (Jacq.) Sw), utilizado como anti-inflamatório e diurético, com 13; o boldo (Plectranthus barbatus Andrews), para indigestão e problemas do fígado e a erva-cidreira (Melissa officinalis L.), para gripe, pressão alta e insônia, cada uma com 12 citações e, a camomila (Matricaria recutita L.), para constipação intestinal, insônia e diarreia, com dez citações. 100 90 Número de espécies 80 70 60 50 92 40 30 45 34 20 35 10 0 Alimentar Medicinal Ornamental Outros Usos Etnocategorias de uso FIGURA 39 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. 91 A espécie Senna occidentalis (L.) Link, também conhecida por fedegoso foi citada como uma planta utilizada para fins medicinais e para benzimento. No bairro Cristo Rei duas informantes relataram sobre o “poder” de benzer: “Sou benzedera desde os 12 anos... foi ensinado por Deus, foi ele que me ensinô a benzê... vem criança, adulto, tudo. Vem gente até de Livramento aqui pra benzê... dizem que minha mão é abençoada. Benzo com três folha, faço a prece com a mão na cabeça da pessoa. Tem doença que remédio não cura... arca caída e quando a mulher tem filho e não faz dieta aí o sangue sobe pra cabeça... daí o que cura é só benzeção”. (Sra. A. F. S., 84 anos). “Eu benzia... benzia criança e gente grande. Deus me deu isso desde pequena. Benzia de irisipele, de cobreiro, de impinge, benzia tudo. Usava planta pra benzê, o fedegoso... fazia a oração, entregava a nossa parte pra Deus e eles recebiam a bênção”. (Sra. A. C. 76 anos). Maciel e Guarim Neto (2006) em seu estudo em Juruena, Mato Grosso, referiram as espécies vegetais Ruta graveolens L., Petiveria alliacea L. e Rosmarinum officinale L., além de outras, utilizadas por benzedeiras da região. Algumas plantas foram encontradas com frequência nos quintais, geralmente na parte da frente das residências, tanto em vasos, quanto em canteiros no chão. Dentre elas a arruda (Ruta graveolens L.) e a espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain), ambas com função protetora além da função medicinal da primeira e ornamental da segunda espécie. Quanto ao hábito, 53% das espécies citadas apresenta hábito Herbáceo (76 espécies), seguido do hábito Arbóreo (31 espécies) e Arbustivo (25 espécies). Os demais hábitos Palmeira, Rasteiro e Trepador totalizam 11 espécies (Figura 40). Para o hábito arbóreo entre as mais citadas estão: manga (Mangifera indica L.), limão (Citrus limon (L.) Osbeck), goiaba (Psidium guajava L.), abacate (Persea americana Mill.) e caju (Anacardium occidentale L.). Todas elas são cultivadas diretamente no solo, sobretudo 92 pelo seu porte e, também apresentam uma multiplicidade de uso: alimentar, medicinal e sombreamento. Rasteiro 1% Palmeira 1% Trepador 6% Arbustivo 17% Arbóreo 22% Herbáceo 53% Arbustivo Arbóreo Herbáceo Palmeira Rasteiro Trepador FIGURA 40 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. As plantas herbáceas são cultivadas diretamente no solo, nos quintais maiores, entretanto nos quintais de porte menor são plantadas em pequenos canteiros, vasos ou latas. Algumas vezes quando o espaço é muito pequeno, também é possível encontrar cultivos suspensos em muretas, jiraus e até mesmo pendurados em muros ou paredes. Contudo as plantas de maior porte, como a pata de vaca são plantadas em covas diretamente no solo. A Figura 41 apresenta diversas imagens registradas durante o estudo realizado no bairro Cristo Rei: escola, benzedeira, residência, remédio caseiro, cultivo de diferentes espécies em latas, sacos, vasos e diretamente no solo, quintal e aproveitamento de cascas de frutas. 93 A A B C D E F G H FIGURA 41 - A - Escola pública no bairro CR; B – Informante e benzedeira; C – Residência de informante; D – Remédio caseiro; E – Cultivo de plantas; F – Turnê guiada pelo quintal; G – Cultivo de plantas no quintal e na varanda; H – Casca de frutas para compostagem. 94 4.2.3.4 BAIRRO SANTA ISABEL No bairro Santa Isabel (Figura 42) os terrenos possuem, em média, uma área de 200 m². Porém a maior parte é ocupada pela residência, de modo que os moradores locais ainda cultivam uma variedade de espécies vegetais, principalmente de porte menor. A bioarquitetura é executada através da verticalização das plantas em muros, pilares e paredes, para um melhor aproveitamento do espaço, bem como em canteiros, floreiras ou vasos e outras plantas maiores diretamente no solo. FIGURA 42 – RUA I, BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora. Durante as entrevistas, quando perguntou-se sobre a origem do bairro, uma informante relatou: “Moro aqui há quase trinta anos... o que sei é que este bairro recebeu o nome de Santa Isabel, em homenagem à esposa do governador que era naquela época. Ela se chama Isabel Campos e o bairro é Santa Isabel”. (Sra. B. R., 71 anos). 95 O bairro possui ruas asfaltadas, uma escola estadual e uma igreja com o mesmo nome do bairro. No seu entorno há um pequeno comércio, com mercado, posto de combustível, loja de material de construção, entre outros. Com relação às festas realizadas no bairro, as mais citadas foram as festas de caráter religioso na Igreja Santa Isabel e as festas realizadas na Escola, entre elas Festa Junina e outras de porte menor. Na Tabela 4 estão registradas as 98 espécies vegetais utilizadas pelos informantes do bairro Santa Isabel, dispostas em 52 famílias botânicas. Dessas famílias, as mais representativas foram Lamiaceae (10% das espécies), Asteraceae (9%), Araceae, Brassicaceae e Fabaceae (4% das espécies cada uma). Verificou-se que as espécies mais ocorrentes são aquelas que têm maior potencial de uso para os moradores e facilidades para obtenção e manejo, a exemplo do capim cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), a babosa (Alloe vera (L.) Burm f.) e o boldo (Plectranthus barbatus Andrews), todas com indicações medicinais. Entre as plantas presentes nos quintais do bairro, a frequência relativa de concordância quanto aos usos principais (Pcusp) ressaltou a cebolinha (Allium fistulosum L.) com 66% na categoria Alimentar. Na categoria Medicinal, o boldo (Plectranthus barbatus Andrews) e o capimcidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.) utilizados para problemas do sistema digestório e nervoso, respectivamente e, a samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott) como Ornamental, frequentemente penduradas nas paredes, vigas e muros, com 55% cada uma. As espécies caninha-do-brejo (Costus spicatus (Jacq.) Sw), fortuna (Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken) e quebra-pedra (Phyllanthus orbiculatus Rich.) são usadas para problemas nos rins conforme relatos dos informantes: “... Se eu estou viva, agradeço a Deus em primeiro lugar e as plantas de remédio em segundo... Meu filho fez transplante de rim e eu também tenho problema... e ainda tenho pressão alta... não posso ficá sem essas planta...” (Sra. M. A. S., 76 anos). 96 “... Tinha pedra nos rim... fui no médico e ele queria fazê cirurgia... mas consegui por as pedra pra fora tomando chá de quebra-pedra e suco da folha da fortuna...” (Sr. A. C. S., 50 anos). A etnocategoria de uso medicinal é cultivada em canteiros, vasos ou diretamente no solo, variando de acordo com o hábito da planta. As espécies de menor porte geralmente são cultivadas em canteiros e vasos, porém, em várias residências foi possível observar esse cultivo em pequenos corredores entre a casa e o muro. Contudo, as espécies de maior porte, como a pata de vaca (Bauhinia forficata Link), jabuticaba (Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg), limão (Citrus limon (L.) Osbeck) e caju (Anacardium occidentale L.) são plantadas em covas. A maior parte das espécies medicinais cultivadas é exótica. Pode-se citar nesse grupo o alecrim (Rosmarinus officinalis L.) e a ervacidreira (Melissa officinalis L.), originários do Mediterrâneo; a arruda (Ruta graveolens L.) e a camomila (Matricaria recutita L.), originária da Europa; o capim-cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), originário da Índia (CORRÊA JUNIOR et al., 1994; REIS e MARIOT, 1999). Com relação à frequência relativa de concordância quanto aos usos principais destacaram-se: cebolinha (Allium fistulosum L.) com 66%; boldo (Plectranthus barbatus Andrews), capim-cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott), com 55%; alecrim (Rosmarinus officinalis L.), babosa (Alloe vera (L.) Burm f.), cacto (Cereus peruvianus (L.) Mill.), caninha-do-brejo (Costus spicatus (Jacq.) Sw, hortelã (Mentha villosa Becker), manga (Mangifera indica L.), quebra-pedra (Phyllanthus orbiculatus Rich.), rosa (Rosa sp.) e sucupira (Boudichia virgilioides Kunth), com 44%. 97 TABELA 5 - PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. “continua...” Nome Popular Cebolinha Boldo Capim-cidreira Samambaia Alecrim Babosa Cacto Caninha-do-brejo Hortelã Manga Quebra-pedra Rosa Sucupira Antúrio Arruda Ata Avenca Comigo-ninguém Nome Científico Allium fistulosum L. Plectranthus barbatus Andrews Cymbopogon citratus (DC.) Stapf. Nephrolepis biserrata (SW.) Schott Rosmarinus officinalis L. Alloe vera (L.) Burm f. Cereus peruvianus (L.) Mill. Costus spicatus (Jacq.) Sw Mentha villosa Becker Mangifera indica L. Phyllanthus orbiculatus Rich. Rosa sp. Boudichia virgilioides Kunth Anthurium andraeanum Linden Ruta graveolens L. Annona squamosa L. Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris Dieffenbachia amoena Bull. Família Categoria de Uso Hábito Amaryllidaceae Lamiaceae Poaceae Davalliaceae Lamiaceae Xanthorrhoaceae Cactaceae Costaceae Lamiaceae Anacardiaceae Phyllanthaceae Rosaceae Fabaceae Araceae Rutaceae Annonaceae Pteridaceae Araceae A M M O M M O M AM A M Ou M O M O M Ou A O O Ou 98 He He He He He He Ab He He Ar Ra He Ar He He Ab He He Fsp Fid NF FC Pcusp (%) 6 8 9 5 6 7 4 6 7 6 5 6 5 3 5 3 3 7 6 5 5 5 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 3 100 62 55 100 66 57 100 66 57 66 80 66 80 100 60 100 100 42 0,66 0,88 0,99 0,55 0,66 0,77 0,44 0,66 0,77 0,66 0,55 0,66 0,55 0,33 0,55 0,33 0,33 0,77 66 55 55 55 44 44 44 44 44 44 44 44 44 33 33 33 33 33 pode Erva-cidreira Espada-de-são jorge Losna Mamão Orquídea Poejo Acerola Alface Alfavaca Algodãozinho-docampo Assa-peixe Begonia Caju Camomila Carambola Coco-da-baía Melissa officinalis L. Lamiaceae M He 5 3 60 0,55 33 Sansevieria trifasciata Prain Artemisia absinthium L. Carica papaya L. Orchis sp. Mentha pulegium L. Malpighia glabra L. Lactuca sativa L. Ocimum basilicum L. Asparagaceae Asteraceae Caricaceae Orchidaceae Lamiaceae Malpighiaceae Asteraceae Lamiaceae O Ou M AM O M AM AM M He He Ab He He Ab He He 5 4 4 5 5 4 3 4 3 3 3 3 3 2 2 2 60 75 75 60 60 50 66 50 0,55 0,44 0,44 0,55 0,55 0,44 0,33 0,44 33 33 33 33 33 22 22 22 Bixaceae Asteraceae Begoniaceae Anacardiaceae Asteraceae Oxalidaceae Arecaceae M M O AM M AM AMO Ab Ab He Ar He Ar Pa 2 2 2 4 3 2 4 2 2 2 2 2 1 2 100 100 100 50 66 50 50 0,22 0,22 0,22 0,44 0,33 0,22 0,44 22 22 22 22 22 22 22 Zingiberaceae Brassicaceae Brassicaceae Polygonaceae Apocynaceae Fabaceae Crassulaceae Zingiberaceae Phytolaccaceae Rubiaceae M AM M M O M M O Ou AM M Ou O He He He He Ab Ab He He He He 3 5 3 2 2 3 4 3 4 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 66 40 66 100 100 66 50 66 50 100 0,33 0,55 0,33 0,22 0,22 0,33 0,44 0,33 0,44 0,22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 Cochlospermum regium (Schrank) Pilg. Vernonia ferruginea Less. Begonia elatior hort. ex Steud. Anacardium occidentale L. Matricaria reticulita L. Averrhoa carambola L. Cocos nucifera L. Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt & R. Colônia M. Brassica oleracea L. Couve Erva-de-santa-maria Coronopus didymus (L.) Smith. Polygonum hydropiperoides Michx. Erva-de-bicho Nerium oleander L. Espirradeira Senna occidentalis (L.) Link Fedegoso Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken Fortuna Zingiber officinale Roscoe Gengibre Petiveria alliacea L. Guiné Ixora chinensis Lam. Icsória 99 Jiló Limão Lírio-da-paz Manjericão Mussaenda-rosa Noni Noz-vômica Pimenta Renda-portuguesa Romã Rosa-do-deserto Terramicina Tomate Vassourinha Abacate Abacaxi-de-jardim Abóbora Açafrão Agarra-pinto Agrião Arnica Babaçu Banana Bananeira-de-jardim Bucha Cacto japonês Cajuzinho Solanum gilo Raddi Citrus limon (L.) Osbeck Spathiphyllum wallisii Regel Ocimum basilicum L. Mussaenda Erythophylla L. Morinda citrifolia L. Strychnos nux-vomica L. Capsicum albescens Kuntze Davalia fejeensis Punica granatum L. Adenium obesum (Forssk.) Roem. & Schult. Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Solanum lycopersicum L. Stylosanthes guyanensis (Aubl.) SW. Persea americana Mill. Ananas bracteatus (Lindl.) Schult. & Schult. f. Cucurbita moschata Dusch. Crocus sativus L. Boerhavia diffusa L. Nasturtium officinale W.T. Aiton Solidago chilensis Meyen Orbignya phalerata Mart. Musa parasidiaca L. Heliconia rostrata Ruiz & Pav Luffa aegyptiaca Mill. Kalanchoe tubiflora Raym.-Hamet Anacardium humile A. St.-Hil. Solanaceae Rutaceae Araceae Lamiaceae Rubiaceae Rubiaceae Loganiaceae Solanaceae Davalliaceae Punicaceae A AM O A O M Ou M A O AM He Ar He He Ab Ab He He He Ab 2 3 2 4 2 3 4 4 2 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 100 66 100 50 100 66 50 50 100 66 0,22 0,33 0,22 0,44 0,22 0,33 0,44 0,44 0,22 0,33 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 Apocynaceae Amaranthaceae Solanaceae Fabaceae Lauraceae O M A M AM He He He He Ar 2 4 3 3 2 2 2 2 2 1 100 50 66 66 50 0,22 0,44 0,33 0,33 0,22 22 22 22 22 11 Bromeliaceae Cucurbitaceae Iridaceae Nyctaginaceae Brassicaceae Asteraceae Arecaceae Musaceae Heliconiaceae Cucurbitaceae Crassulaceae Anacardiaceae O AM AM M AM M M Ou AM O M Ou MO AM He Ra He He He He Pa He He He He Ar 1 2 2 1 2 2 2 2 1 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 100 50 50 100 50 50 50 50 100 50 50 50 0,11 0,22 0,22 0,11 0,22 0,22 0,22 0,22 0,11 0,22 0,22 0,22 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 100 Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek Cancerosa Celastraceae M He 1 1 100 Baccharis trimera Less. DC. Carqueja Asteraceae M He 1 1 100 Cichorium sativum L. Coentro Apiaceae A He 3 1 33 Leonotis nepetifolia (L.) R. Br. Cordão-de-frade Lamiaceae M Ar 1 1 100 Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez Coroá Bromeliaceae M He 1 1 100 Monstera deliciosa Liebm. Costela-de-adão Araceae O He 1 1 100 Callisia repens (Jacq.) L. Dinheiro-em-penca Commelinaceae O Ou He 2 1 50 Foeniculum vulgare Mill. Erva-doce Apiaceae AM He 3 1 33 Ficus carica L. Figo Moraceae A Ab 1 1 100 Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl Verbenaceae Gervão M He 1 1 100 Helianthus annuus L. Girassol Asteraceae O He 2 1 50 Psidium guajava L. Goiaba Myrtaceae A M Ou Ar 3 1 33 Mentha pulegium L. Hortelãzinho Lamiaceae M He 2 1 50 Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser. Hortensia Hydrangeaceae O He 1 1 100 Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg Jabuticaba Myrtaceae A M Ou Ar 3 1 33 Artocarpus integrifolia L. f. Jaca Moraceae A Ou Ar 2 1 50 Clerodendrum thomsoniae Balf. Lágrima-de-cristo Lamiaceae O Ou Tr 2 1 50 Manihot esculenta Crantz Mandioca Euphorbiaceae A He 1 1 100 Passiflora edulis Sims. Maracujá Passifloraceae AM Tr 2 1 50 Ageratum conyzoides L. Mentrasto Asteraceae M He 1 1 100 Zea mays L. Milho Poaceae AM He 3 1 33 Bauhinia forficata Link Pata-de-vaca Fabaceae M O Ou Ab 3 1 33 Achillea millefolium L. Pronto-alívio Asteraceae M He 1 1 100 Hibiscus esculentus L. Quiabo Malvaceae AM He 2 1 50 Rosa alba Rosa branca Rosaceae MO He 2 1 50 Eruca sativa Mill. Rúcula Brassicaceae A He 1 1 100 Aristolochia esperanzae Kuntze Aristolochiaceae M Calunga Ar 1 1 100 Legenda: Categorias de usos: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra). Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeita; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador. 101 0,11 0,11 0,33 0,11 0,11 0,11 0,22 0,33 0,11 0,11 0,22 0,33 0,22 0,11 0,33 0,22 0,22 0,11 0,22 0,11 0,33 0,33 0,11 0,22 0,22 0,11 0,11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 11 102 Das espécies citadas 69% (67 espécies) apresentam o hábito Herbáceo, seguido do Arbustivo (13 espécies) e do Arbóreo (12 espécies). Para os demais hábitos a totalidade é representada por seis espécies (Figura 43). Essa característica pode ser explicada pelo fato desses quintais serem pequenos, comparados aos outros da área de estudo, dificultando assim um cultivo maior de plantas de grande porte. Entretanto, estão presentes em alguns desses quintais espécies frutíferas com multiplicidade de usos alimentar, medicinal e sombreamento, como abacateiro (Persea americana Mill.), cajueiro (Anacardium occidentale L.), goiabeira (Psidium guajava L.), limoeiro (Citrus limon (L.) Osbeck) e mangueira (Mangifera indica L.). Palmeira 2% Trepador 2% Rasteiro 2% Arbustivo 13% Arbóreo 12% Herbáceo 69% Arbustivo Arbóreo Herbáceo Palmeira Rasteiro Trepador FIGURA 43 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. As espécies encontradas foram agrupadas de acordo com a categoria de uso, sendo a Medicinal mais expressiva com 64 espécies (Figura 44). Segundo Amorozo (2008) a produção de espécies para fins alimentar e medicinal em quintais urbanos é mais comum entre os grupos mais carentes da população. 103 70 Número de espécies 60 50 40 65 30 35 20 33 10 11 0 Alimentar Medicinal Ornamental Outros Usos Etnocategorias de Uso FIGURA 44 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. As plantas representatividade alimentares semelhante nesses e ornamentais quintais, 36% tiveram e 34%, respectivamente. Na categoria alimentar, encontram-se principalmente árvores frutíferas e hortaliças. Percebe-se o empenho dos informantes em manter os quintais com uma boa aparência, mesmo aqueles com espaço reduzido. Dentre as espécies ornamentais as mais frequentes estão: rosa (Rosa sp.), orquídea (Orchis sp.), samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott), o cacto (Cereus peruvianus (L.) Mill.), antúrio (Anthurium andraeanum Linden), avenca (Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris), comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amoena Bull.) e espada-de-sãojorge (Sansevieria trifasciata Prain). Essas duas últimas ainda foram relatadas como protetoras, para afastar mau olhado, são plantadas geralmente na frente da casa. A Figura 45 mostra a variedade de plantas utilizadas em diferentes etnocategorias pelos moradores do bairro Santa Isabel, bem como o reaproveitamento de partes vegetais e outros momentos durante a coleta de dados. 104 A B C D E F G H FIGURA 45 - A – Diversidade de plantas no quintal; B – Cultivo de plantas em pequeno espaço do quintal; C – Semente de planta, Boudichia virgilioides Kunth; D – Informante mostrando as plantas no quintal da residência; E – Moradora na frente da residência; F – Restos de cascas e folhas para produção de compostagem; G – Igreja do bairro Santa Isabel; H – Visita à residência para coleta de dados. 105 5. CONCLUSÕES Quintais São importantes para a manutenção da agrobiodiversidade, sendo a flora ainda mantida, principalmente por herbáceas e arbóreas. Os quintais são utilizados para trabalho, cultivo, criação de pequenos animais, realização de festas, lazer, rezas e benzeção. A aquisição das plantas nos quintais é feita por doação ou troca com vizinhos e familiares. Verificou-se que algumas espécies vêm de localidades distantes, trazidos por moradores quando mudam de local ou por parentes quando vem visitar os familiares. Para a manutenção dos quintais observou-se principalmente o uso de insumos agrícolas naturais, a exemplo de restos de folhas, cascas, esterco e bagaço de cana-de-açúcar misturado com terra preta. O manejo é realizado preferencialmente pelas mulheres, as quais têm uma posição de destaque nos quintais. Desta forma, a preocupação em manter o cultivo de diferentes espécies, bem como a finalidade, a forma de uso e as partes vegetais utilizadas no cotidiano desta população contribuem para a conservação das plantas nesses ambientes. Plantas O número de espécies utilizadas pelos moradores totalizou 249 e, variou de 98 no bairro Santa Isabel a 148 no bairro Bonsucesso, completando 515 citações pelos informantes locais. Identificou-se os principais usos das espécies relatadas pelos informantes. Dentre essas plantas destacou-se a etnocategoria Medicinal, seguidas da Alimentar, Ornamental e Outros usos. A folha foi evidenciada notavelmente para a etnocategoria Medicinal, sendo o chá, por infusão, a principal maneira de preparo. Nível de Fidelidade (NF) Pode-se concluir que, quanto ao Nível de Fidelidade (NF), o bairro Bonsucesso obteve o maior percentual (11%) para as plantas com 106 PCup igual ou maior que 50%, ou seja, das 148 espécies utilizadas, 16 apresentaram um uso comum para a maioria dos informantes. O bairro Água Vermelha obteve um percentil de 9%, o que significa matematicamente analisando, que das 126 espécies vegetais usadas pela população local 12 espécies apresentam um uso comum. Nos demais bairros, apesar do uso de uma variedade de plantas no cotidiano, apresentaram percentil menor. O bairro Cristo Rei obteve 3%, ou seja, das 143 espécies utilizadas pelos moradores cinco apresentaram uso comum para a maioria dos informantes, enquanto no bairro Santa Isabel (2%), das 98 espécies utilizadas, duas são de uso comum entre os informantes locais. Etnobotanicamente é possível afirmar que os bairros Água Vermelha e Bonsucesso apresentam um certo grau de tradicionalidade pelo tempo que residem no local (BS) ou pelo etnoconhecimento expresso (AV e BS). Desta forma, confere o termo tradicional, e assim um status cultural para esta população várzea-grandense. 107 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, C. As roças e o manejo da mata atlântica pelos caiçaras: uma revisão. Interciência, v. 25, n. 3, p. 143-150, 2000. ALBERTI, V. Manual de História Oral. 3 ed. Rio de Janeiro. Editora FGV, 2007. 235 p. ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à Etnobotânica. Recife. Bagaço. 2002. 87 p. ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à Etnobotânica. 2ª ed. Rio de Janeiro, Interciência. 2005. ALBUQUERQUE, U. 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Métodos de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio Claro, UNESP/CNPq. 2002. p. 11-29. 115 APÊNDICE: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS URBANOS DE VÁRZEA GRANDE, MATO GROSSO, BRASIL 1. NOME:_______________________________________________________________ 2. ENDEREÇO:__________________________________________________________ 3. SEXO: ( ) FEMININO 4. IDADE: ______ ( ) MASCULINO 5. POSSUI FILHOS? ( ) SIM ( ) NÃO 6. QUANTOS? _________ 7. ESTADO DE ORIGEM: _______________________________________________________________________ 8. RELIGIÃO: _______________________________________________________________________ 9. ESTADO CIVIL: ( ) SOLTEIRO ( ) CASADO ( ) SEPARADO ( ) VIÚVO ( ) OUTRO 10. GRAU DE INSTRUÇÃO: ( ) ENSINO FUNDAMENTAL ( ) ENSINO MÉDIO ( ) SUPERIOR ( ) PÓS-GRADUAÇÃO ( ) ______________INCOMPLETO 11. RENDA MENSAL: ( ) UM SALÁRIO MÍNIMO ( ) DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS ( ) MAIS DE DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS 12. HÁ QUANTO TEMPO RESIDE NO LOCAL? _______________________________________________________________________ 13. VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA DE ORIGEM DO BAIRRO? ( ) SIM ( ) NÃO 14. QUAIS SÃO AS FESTAS IMPORTANTES NO BAIRRO? _______________________________________________________________________ 15. NÚMERO DE PESSOAS NA FAMÍLIA: ____________________________________ QUE MORAM NA CASA ( ) QUE NÃO MORAM NA CASA ( ) 16. QUE ATIVIDADE EXERCE ATUALMENTE? ________________________________ 17. QUAIS AS PLANTAS QUE VOCÊ CONHECE? _______________________________________________________________________ 18. TEM PLANTAS QUE CURAM? ( ) SIM ( ) NÃO QUAIS SÃO? _______________________________________________________________________ 19. CRIA ANIMAIS? ( ) SIM ( ) NÃO QUAIS? ____________________________ 20. QUE TIPOS DE CULTIVOS POSSUE NA PROPRIEDADE? _______________________________________________________________________ 21. EM CASO DE DOENÇA NA FAMÍLIA, ONDE RECEBE TRATAMENTO? 116 ( ) NO POSTO MÉDICO OU HOSPITAL ( ) VAI PARA OUTRA CIDADE (QUAL)? _____________________________________ ( ) FAZ TRATAMENTO COM REMÉDIOS NATURAIS ( ) NÃO FAZ NADA 22. QUAIS AS DOENÇAS MAIS COMUNS NA FAMÍLIA? ( ) MALÁRIA ( ) FEBRE AMARELA ( ) HANSENÍASE ( ) TUBERCULOSE ( ) LEISHMANIOSE ( ) SARAMPO ( ) VERMINOSE ( ) DIARRÉIA ( ) CATAPORA ( ) GRIPE ( ) DIABETES ( ) GASTRITE ( ) ANEMIA ( ) PROBLEMAS CARDÍACOS ( ) DENGUE ( ) OUTRAS: _______________________________________________________________________ PLANTAS MEDICINAIS 24. FAZ USO DE PLANTAS MEDICINAIS? ( ) SIM ( ) NÃO 25. DE ONDE VEM O CONHECIMENTO DE USO DE PLANTAS MEDICINAIS? ( ) CONHECIMENTO TRADICIONAL FAMILIAR. ( ) CONHECIMENTO ORIUNDO DE CONTATOS COM FONTES EXTERNAS (MIGRANTES OU VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO). ( ) CONTATOS COM TÉCNICOS (MÉDICOS, ENFERMEIROS, BIÓLOGOS, PROFESSORES ( ) OUTROS: _______________________________________________________________________ 26. QUAIS PLANTAS MEDICINAIS SÃO USADAS PELA FAMÍLIA? _______________________________________________________________________ 27. QUAL A ORIGEM DAS PLANTAS (QUINTAL, COMÉRCIO ETC) UTILIZADAS COMO REMÉDIO? _______________________________________________________________________ 28. QUAL A PARTE DA PLANTA É UTILIZADA (RAIZ, CAULE, FOLHA, FLOR, FRUTO, SEMENTE)? _______________________________________________________________________ 117 29. POSSUI ALGUMA PLANTA MEDICINAL NO QUINTAL DA SUA RESIDÊNCIA? QUAL? _______________________________________________________________________ 30. QUAL É A FORMA DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO? _______________________________________________________________________ DADOS DO IMÓVEL 31. FORMA DE APROPRIAÇÃO DO IMÓVEL: ( ) PROPRIETÁRIO ( ) ALUGUEL ( ) MORA DE FAVOR ( ) OUTRO 32. DOCUMENTO QUE POSSUI: _______________________________________________________________________ 33. DIMENSÃO DO IMÓVEL: _______________________________________________ 34. ÁREA CONSTRUÍDA: __________________________________________________ 35. POSSUI QUINTAL? ( ) SIM ( ) NÃO 36. ÁREA DE QUINTAL: ___________________________________________________ 37. LOCALIZAÇÃO DO QUINTAL: ( ) FUNDOS ( ) AO LADO ( ) NA FRENTE ( ) OUTRO LOCAL DADOS DO QUINTAL 38. PLANTA NO QUINTAL? ( ) SIM ( ) NÃO 39. HÁ QUANTO TEMPO? _______________________________________________________________________ 40. POR QUE? _______________________________________________________________________ 41. QUAIS AS PLANTAS QUE POSSUI NO QUINTAL? _______________________________________________________________________ 42. QUAIS AS PLANTAS REMANESCENTES DA VEGETAÇÃO NATURAL? _______________________________________________________________________ 43.COMO SÃO USADAS AS PLANTAS DO QUINTAL? _______________________________________________________________________ 44. QUEM CUIDA DO QUINTAL? 118 _______________________________________________________________________ 45. QUANTO TEMPO GASTA DIARIAMENTE CUIDANDO DO QUINTAL? _______________________________________________________________________ 46. QUAL ÉPOCA DO ANO TEM MAIS TRABALHO COM O QUINTAL? _______________________________________________________________________ 47. ALGUMA PLANTA NASCEU ESPONTANEAMENTE? 48. PELA EXPERIÊNCIA QUE POSSUI QUAIS AS PLANTAS QUE PODEM SER PLANTADAS JUNTAS? _______________________________________________________________________ 49. COMO PLANTA? (CONHECIMENTO EMPREGADO): _______________________________________________________________________ 50. COM QUEM APRENDEU A PLANTAR? _______________________________________________________________________ 51. O QUE FAZ COM AS FOLHAS E RESTOS DE CAPINAS DO QUINTAL? ( ) QUEIMA ( ) JOGA NO LIXO ( ) FAZ ADUBO (COMPOSTO) ( ) OUTRO 52. CASO FAÇA COMPOSTO, EXPLICAR COMO. _______________________________________________________________________ 53. COMPRA ALGUM INSUMO PARA USAR NO QUINTAL? ( ) NÃO ( ) SIM QUAL? ______________________________________________________________________ 54. CULTIVA PLANTAS EM OUTRAS ÁREAS DA RESIDÊNCIA? ( ) SIM ( ) NÃO 55. ONDE? QUAIS? PARA QUE? _______________________________________________________________________ 56. CRIA ANIMAIS NA RESIDÊNCIA? ( ) SIM ( ) NÃO 57. QUAIS AS ESPÉCIES? _______________________________________________________________________ 58. QUANTIDADE: (UNIDADE):_____________________________________________________________ 119 59. INSTALAÇÕES: ( ) CERCADO ( ) SOLTO 60. ALIMENTAÇÃO: _______________________________________________________________________ 61. QUAL É A IMPORTÂNCIA DOS ANIMAIS NA VIDA DO SR (A)? _______________________________________________________________________ 62. USA OS RESÍDUOS: ( ) NA HORTA ( ) NAS FRUTEIRAS ( ) NAS ORNAMENTAIS ( ) VENDE 63. OUTRAS UTILIDADES DAS PLANTAS NO QUINTAL: _______________________________________________________________________ DADOS SOBRE ATIVIDADES REALIZADAS NO QUINTAL 64. É COSTUME REUNIR NO QUINTAL? ( ) SIM ( ) NÃO 65. PARA QUE? _______________________________________________________________________ 66. OUTRAS ATIVIDADES NO QUINTAL (POR QUE): _______________________________________________________________________ 67. QUAL A IMPORTÂNCIA DO QUINTAL PARA O SR (A)? _______________________________________________________________________ RESIDÊNCIA POSSUI MATAS? ( ) SIM ( ) NÃO 69. VOCÊ JÁ TIROU/TIRA PRODUTOS DA MATA? _______________________________________________________________________ 70. QUAIS AS PLANTAS, POR QUE E PARA QUE? _______________________________________________________________________ 120 ANEXO: TERMO DE ACEITE DE PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA. TERMO DE ANUÊNCIA PRÉVIA Eu ........................................................................................ portador(a) da Carteira de Identidade nº ........................................................................................ e do CPF .............................................................................venho através do presente documento oficializar o termo de aceitação para participar de livre e espontânea vontade como integrante da Pesquisa: Os recursos vegetais e a etnobotânica em quintas urbanos de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil, coordenada pela Profª. Dra. Maria Corette Pasa do Departamento de Botânica e Ecologia/IB da Universidade Federal de Mato Grosso e pela Mestranda Margô De David do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais da UFMT. ............................................................................................ Assinatura da(o) participante Várzea Grande, ........ de ................................ de 2013. 121