Clique aqui para realizar o

Propaganda
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Florestais e Ambientais
OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM
QUINTAIS URBANOS DE VÁRZEA GRANDE,
MATO GROSSO, BRASIL
MARGÔ DE DAVID
CUIABÁ - MT
2015
MARGÔ DE DAVID
OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM
QUINTAIS URBANOS DE VÁRZEA GRANDE,
MATO GROSSO, BRASIL
Orientadora: Profᵃ. Dra. Maria Corette Pasa
Dissertação apresentada a Faculdade de
Engenharia Florestal da Universidade Federal
de Mato Grosso, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Florestais e Ambientais para obtenção do título
de mestre.
CUIABÁ – MT
2015
iv
À minha família, Luis meu companheiro, meus filhos,
Gustavo e Marcela, por todo amor e carinho.
Aos meus pais, Elli e Ademir por me terem dado
afeto, educação e valores.
Às minhas irmãs, Rejane e Marisa, mesmo distantes,
sempre presentes em minha vida.
À minha orientadora Profª. Dra. Maria Corette Pasa,
pela oportunidade, acolhimento e amizade.
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus pela oportunidade que me foi dada na vida e pela
proteção em todos os momentos.
Em especial à minha orientadora, por me proporcionar o conhecimento da
Etnobotânica.
Sua
orientação,
incentivo
e
ensinamentos
foram
fundamentais para a realização deste trabalho.
À minha família, especialmente ao meu esposo pelo apoio, compreensão
e carinho. Aos meus filhos amados e à querida Natália. Obrigada pela
companhia e auxílio recebidos de todos vocês, principalmente na fase de
campo.
À Universidade Federal de Mato Grosso e ao Programa de PósGraduação em Ciências Florestais e Ambientais (PPGCFA/UFMT) pelo
auxílio na realização deste estudo, em especial aos professores do
programa.
À Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) por permitir o afastamento
para qualificação profissional concedida no período de março de 2013 a
fevereiro de 2015.
À Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (FAPEMAT) pela
concessão da bolsa de incentivo cedida entre o período de maio de 2014
a fevereiro de 2015.
Aos membros da Banca de Qualificação Profᵃ. Dra. Carla Maria Abido
Valentini e Prof. Dr. Antonio de Arruda Tsukamoto Filho pelas magníficas
sugestões que contribuíram para a melhoria da minha pesquisa.
Aos colegas de curso pela amizade, carinho e momentos compartilhados
nesta trajetória acadêmica.
vi
Ao Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso pela valiosa
colaboração com a identificação das espécies e confecção das exsicatas.
Aos informantes dos bairros Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei e
Santa Isabel que, gentilmente, participaram deste trabalho e colaboraram
através do seu conhecimento.
A todos que direta e indiretamente contribuíram para a realização desta
pesquisa.
Muito obrigada.
vii
SUMÁRIO
Página
RESUMO................................................................................................. xv
ABSTRACT............................................................................................ xvi
1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 1
1.1. OBJETIVOS........................................................................................ 4
1.2. OBJETIVO GERAL............................................................................. 4
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................... 4
2. REVISÃO DE LITRATURA.................................................................. 5
2.1. ETNOBOTÂNICA E COMUNIDADES TRADICIONAIS E SABER
LOCAL....................................................................................................... 5
2.2. BIOMA CERRADO E UNIDADES DE PAISAGENS.......................... 6
2.3. ETNOCATEGORIAS DE USOS DAS PLANTAS............................... 9
3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................... 11
3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO................................... 11
3.1.1. Aspectos Físicos..............................................................................11
3.1.2. Aspectos Históricos e Sociais........................................................ 12
3.1.3. Economia........................................................................................ 13
3.2. SELEÇÃO DOS BAIRROS................................................................ 15
3.3. SELEÇÃO DAS RESIDÊNCIAS........................................................ 15
3.4. TÉCNICAS DE PESQUISA............................................................... 16
3.4.1. Pré-Teste........................................................................................ 16
3.4.2. Observação Direta.......................................................................... 16
3.4.3. Entrevista Semiestruturada............................................................ 16
3.4.4. História de Vida.............................................................................. 17
3.4.5. Turnê Guiada….............................................................................. 17
3.5. REGISTRO DAS INFORMAÇÕES.................................................... 17
3.5.1. Diário de Campo............................................................................. 17
3.5.2. Registro Fotográfico....................................................................... 17
3.5.3. Trabalho de Campo........................................................................ 18
viii
3.6. COLETAS ETNOBOTÂNICAS......................................................... 18
3.7. ANÁLISE DOS DADOS.................................................................... 19
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................... 21
4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO........................................................... 21
4.2. PERFIL CULTURAL E AMBIENTAL DOS BAIRROS........................ 32
4.2.1. As Unidades de Paisagens............................................................ 32
4.2.1.1. Cerrado........................................................................................ 32
4.2.1.2. Quintais....................................................................................... 32
4.2.1.3. Roça ........................................................................................... 39
4.2.1.4. Matas ripárias...............................................................................40
4.2.2. Etnobotânica, Manejo e Conservação das Plantas........................ 42
4.2.3. Etnocategorias e Consenso do Uso das Plantas........................... 50
4.2.3.1. Bairro Água Vermelha................................................................ 50
4.2.3.2. Bairro Bonsucesso..................................................................... 64
4.2.3.2. Bairro Cristo Rei......................................................................... 82
4.2.3.4. Bairro Santa Isabel..................................................................... 95
5. CONCLUSÕES.................................................................................. 106
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 108
APÊNDICE ............................................................................................ 116
ANEXO .................................................................................................. 121
ix
LISTA DE TABELAS
Página
1. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE INFORMANTES POR TEMPO DE
MORADIA NOS BAIRROS AV, BS, CR, SI. VÁRZEA GRANDE, MT
2014..................................................................................................... 25
2. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA
VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE
CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP =
FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM
A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES
QUE CITARAM OS USOS
PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE
FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA
RELATIVA
DE
CONCORDÂNCIA
QUANTO
AOS
USOS
PRINCIPAIS......................................................................................... 54
3. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO
BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO
DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP =
FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM
A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES
QUE CITARAM OS USOS
PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE
FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA
RELATIVA
DE
CONCORDÂNCIA
QUANTO
AOS
USOS
PRINCIPAIS......................................................................................... 72
4. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO
CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE
CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP =
FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM
A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES
QUE CITARAM OS USOS
PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE
FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA
RELATIVA
DE
CONCORDÂNCIA
QUANTO
AOS
USOS
PRINCIPAIS......................................................................................... 85
5. PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA
VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014. VALOR RELATIVO DE
CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP =
FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM
A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS INFORMANTES
QUE CITARAM OS USOS
PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE
FIDELIDADE; FC = FATOR CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA
RELATIVA
DE
CONCORDÂNCIA
QUANTO
AOS
USOS
PRINCIPAIS......................................................................................... 98
x
LISTA DE FIGURAS
Página
1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................
12
2. LOCALIZAÇÃO DOS BAIRROS, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
15
3. IDADE DOS INFORMANTES - BAIRRO ÁGUA VERMELHA
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................
22
4. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO BONSUCESSO,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................
22
5. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO CRISTO REI,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.........................................................
23
6. IDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO SANTA ISABEL,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.........................................................
7. ORIGEM
DOS
23
INFORMANTES - BAIRROS: ÁGUA
VERMELHA, BONSUCESSO, CRISTO REI, SANTA ISABEL,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.........................................................
24
8. ATIVIDADE DOS INFORMANTES - BAIRRO ÁGUA VERMELHA,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.........................................................
27
9. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO BONSUCESSO,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..........................................................
27
10. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO CRISTO REI,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..........................................................
28
11. ATIVIDADE DOS INFORMANTES – BAIRRO SANTA ISABEL,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014........................................................... 28
12. RENDA MENSAL DOS INFORMANTES DE VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014..........................................................................
29
13. NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS INFORMANTES DE
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.........................................................
30
14. RELIGIÃO DOS INFORMANTES DE VÁRZEA GRANDE,
MT. 2014 ..........................................................................................
32
15. VISTA PARCIAL DE QUINTAL NO BAIRRO CRISTO REI,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..........................................................
33
16. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS
DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014....
xi
36
17. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS
DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..........
36
18. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS
DO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 ..............
37
19. QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS
DO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 .........
37
20. VISTA PARCIAL DA ROÇA COM CULTIVO DE CANA-DEAÇÚCAR NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT.
2014..................................................................................................
40
21. VISTA PARCIAL DA MATA RIPÁRIA ÀS MARGENS DO RIO
CUIABÁ NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT.
2014..................................................................................................
41
22. ORIGEM DO ETNOCONHECIMENTO, VÁRZEA GRANDE,
MT. 2014...........................................................................................
43
23. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO
REMÉDIO NO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE,
MT. 2014...........................................................................................
45
24. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO
REMÉDIO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT.
2014..................................................................................................
46
25. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO
REMÉDIO NO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT.
2014.................................................................................................
46
26. FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO
REMÉDIO NO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT.
2014..................................................................................................
46
27. MANUTENÇÃO DO QUINTAL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014..
48
28. RUA BOA VISTA, BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014........................................................................
52
29. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS
PELOS INFORMANTES DO
BAIRRO
ÁGUA VERMELHA,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014...........................................................
30. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS
CITADAS
PELOS
INFORMANTES
xii
ESPÉCIES/HÁBITO
DO
BAIRRO
ÁGUA
60
VERMELHA, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.....................................
61
31. BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.....
63
32. RUA GIL JOÃO DA SILVA, BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014..........................................................................
65
33. EXPOSIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS. FESTA
DE SÃO PEDRO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE,
MT. 2014............................................................................................
67
34. PRODUÇÃO DE RAPADURA NO ENGENHO DONA BUGUELA,
BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.................. 68
35. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS
PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014........................................................................... 78
36. REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO
CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014...........................................................
80
37. BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014................
81
38. AVENIDA 31 DE MARÇO, BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014..........................................................................
82
39. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS
PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014............................................................................ 91
40. REPRESENTAÇÃO
GRÁFICA
DAS
ESPÉCIES/HÁBITO
CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014............................................................ 93
41. BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014................
94
42. RUA I, BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 95
43. REPRESENTAÇÃO
GRÁFICA
DAS
ESPÉCIES/HÁBITO
CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL
VÁRZEA GRADE, MT. 2014.............................................................
103
44. ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS
PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014...........................................................................
104
45. BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014 ..........
105
xiii
RESUMO
DE DAVID, Margô. Os recursos vegetais e a etnobotânica em quintais
de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil. 2015. Dissertação (Mestrado
em Ciências Florestais e Ambientais) – Universidade Federal de Mato
Grosso, Cuiabá-MT. Orientadora: Profª. Dra. Maria Corette Pasa.
O uso dos recursos naturais é essencial no cotidiano de diferentes
comunidades. Neste sentido, as pesquisas etnobotânicas proporcionam
inúmeras contribuições para a compreensão da relação entre essas
comunidades e as plantas. Portanto, este estudo teve como objetivo
catalogar, sistematizar e analisar de forma integrada o conhecimento que
os moradores de quatro bairros de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil,
possuem a respeito da flora nas unidades de paisagens, bem como da
utilização, do manejo e da conservação dos recursos vegetais nos
quintais. A área de estudo foi escolhida através de um sorteio dos
questionários aplicados aos alunos da Escola Estadual Professor Jercy
Jacob, que residem em diferentes bairros. Foram sorteados quatro
bairros: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei e Santa Isabel e cinco
quadras em cada um, totalizando 20 quadras. Dentro de cada quadra
foram sorteadas quatro residências, totalizando 80 residências para
aplicação das entrevistas. As técnicas de pesquisa utilizadas foram: préteste, observação direta, entrevista semiestruturada, história de vida e
turnê guiada. As coletas etnobotânicas consistiram-se através de visitas
nas residências dos moradores, no período de maio de 2013 a abril de
2014, com um total de 127 informantes. No levantamento os informantes
citaram 249 espécies vegetais distribuídas em 84 famílias botânicas. As
espécies catalogadas foram distribuídas em etnocategorias de uso
Alimentar (34%), Medicinal (64%), Ornamental (24%) e Outros usos
(29%). Assim identificou-se os principais usos das espécies relatadas
pelos informantes, com destaque para a categoria Medicinal. As famílias
com maior representatividade foram Asteraceae (16 espécies),
Lamiaceae (15 espécies), Fabaceae (14 espécies), Solanaceae (11
espécies), Araceae (nove espécies), Cucurbitaceae (oito espécies) e
Anacardiaceae, Myrtaceae, Rutaceae (cada qual com sete espécies).
Estas espécies estavam presentes principalmente nos quintais, mas
também em outras unidades de paisagens do cerrado, mata de galeria e
roça. Dentre as plantas que se destacaram quanto a Frequência Relativa
de Concordância Quanto aos Usos Principais estão: Mangifera indica L.,
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf., Plectranthus barbatus Andrews,
Saccharum officinarum L., Punica granatum L., Alloe vera (L.) Burm f.,
Allium fistulosum L. O conhecimento que essa população possui sobre as
plantas presentes nos quintais é transmitido preferencialmente por meio
do convívio familiar. Quanto ao manejo dos quintais são utilizados,
principalmente, insumos agrícolas naturais e as regas são feitas ao
amanhecer ou no final da tarde, sendo esta manutenção realizada
sobretudo pelas mulheres. Deste modo, o cultivo de diferentes espécies,
o manejo, a finalidade e a forma de uso contribuem para a conservação
das plantas nesses ambientes.
Palavras-chave: Saber local; manejo; plantas; etnocategorias de usos.
xiv
ABSTRACT
DE DAVID, Margô. The plant resources and ethnobotany in
homegardens of Várzea Grande, Mato Grosso, Brazil. 2015.
Dissertation (Master of Forestry and Environmental Sciences) - Federal
University of Mato Grosso, Cuiabá-MT. Advisor: Profª. Dra. Maria Corette
Pasa.
The use of natural resources is essential in the daily life of different
communities. In this sense, the ethnobotanical studies provide numerous
contributions to the understanding of the relationship between these
communities and plants. Therefore, this study aimed to catalog, organize
and analyze in an integrated way the knowledge that the residents of four
neighborhoods of Várzea Grande, Mato Grosso, Brazil, have about the
flora in the landscape units, as well as the use, management and
conservation of plant resources in the yards. The study area was chosen
through a random selection of questionnaires given to students of the
Escola Estadual Professor Jercy Jacob, living in different neighborhoods.
Were drawn four neighborhoods: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo Rei
and Santa Isabel and five blocks in each, totaling 20 blocks. Within each
block were randomly selected four homes, totaling 80 homes for
application of interviews. The research techniques used were pre-test,
direct observation, semi-structured interviews, life history and guided tour.
The ethnobotanical collections consisted up informally, through visits in
the homes of neighborhoods, from May 2013 to April 2014, with 127
informants. In the survey, informants cited 249 plant species in 84 plant
families. The cataloged species were distributed in Food ethnocategories
of use (34%), Medical (64%), Ornamental (24%) and Other uses (29%).
Therefore, we identified the main uses of the species reported by
informants, especially the Medical category. Families with greater
representation were Asteraceae (16 species), Lamiaceae (15 species),
Fabaceae (14 species), Solanaceae (11 species), Araceae (nine species),
Cucurbitaceae (eight species) and Anacardiaceae, Myrtaceae, Rutaceae
(each seven species). They are found mainly in homegardens, but also in
other cerrado landscape units, gallery forest and fields. Among the plants
that stood out as the Relative Frequency of Agreement Regarding the
Main, uses are Mangifera indica L., Cymbopogon citratus (DC.) Stapf,
Plectranthus barbatus Andrews, Saccharum officinarum L., Punica
granatum L., Alloe vera (L.) Burm f., Allium fistulosum L. The knowledge
that this population has on the plants present in homegardens is
transmitted preferably through the family life. For the management are
used mainly natural agricultural inputs and irrigation are made at dawn or
in the late afternoon, which is maintenance performed mainly by women.
Thus, the cultivation of different kinds, the purpose and manner of use
contribute to the preservation of plants in these environments.
Key words: Local knowledge, management, plants, ethnocategories of
uses.
xv
1. INTRODUÇÃO
Há muito tempo o homem aproveita a natureza e dela retira
diversos recursos vegetais como benefício de sua subsistência. Dentre
esses recursos estão as plantas, que podem ser usadas para as mais
variadas
finalidades
como,
alimentação,
construção,
remédios,
ornamentação entre outros. Além do cultivo de plantas, a criação de
animais também é atividade exercida há vários milênios.
Em países em desenvolvimento o uso desses recursos é
essencial em múltiplos aspectos no cotidiano de grande parte da
população. Entretanto, há alguns anos atrás, o cultivo de plantas em
áreas urbanas era comum, principalmente em classes menos favorecidas.
Hoje em dia, com o avanço nas pesquisas e a tendência pelo consumo de
produtos naturais e orgânicos, está ocorrendo uma mudança de
comportamento da população. Em quintais ou jardins urbanos e muitas
vezes onde esse espaço é reduzido, como é o caso de condomínios
verticais, pessoas com melhor poder aquisitivo cultivam plantas de
pequeno porte para o próprio consumo.
O conhecimento das plantas por uma comunidade faz parte da
sua cultura e é transmitido através das gerações ao longo das décadas e
séculos, por isso encontra-se relacionado com sua história de vida.
Existe, portanto, um grande tesouro do saber local por pesquisar e
documentar antes que se perca para sempre (PASA, 2007).
Segundo Caballero (1979), Etnobotânica é a ciência que
estuda as plantas e a interação destas com as comunidades humanas,
assim como investiga novos recursos vegetais.
Pode-se dizer que a Etnobotânica é antiga em sua prática, mas
jovem em sua teoria. De acordo com estudos, a sua origem coincide com
o surgimento das civilizações humanas, através dos primeiros contatos
entre o homem e as plantas. Porém, no meio acadêmico a Etnobotânica
foi mencionada pela primeira vez no final do século XIX pelo botânico
John W. Harshberger (CLÉMENT, 1998).
1
Seu caráter interdisciplinar e integrador é evidenciado na
diversidade de tópicos que pode pesquisar, agrupando os fatores culturais
e ambientais, bem como as concepções desenvolvidas por essas culturas
sobre as plantas e a sua utilização (ALBUQUERQUE, 2005).
Investigações que combinam conhecimentos tradicionais e
modernos são de grande importância para a manutenção da cultura.
Dessa maneira, contribui para a conservação da diversidade biológica e
cultural nas mais variadas regiões. Trata-se, de uma área interdisciplinar
que abrange o estudo e a interpretação do saber, a significação cultural, o
manejo e os usos tradicionais da flora (CABALLERO, 1979).
Pesquisar as relações entre comunidades humanas e flora
local sugere em considerar que nas sociedades modernas o quintal, seja
ele urbano ou rural, é o principal local de cultivo, manejo, criação, lazer e
trabalho diário (CARNIELLO e PEDROGA, 2008).
Os “homegardens” tropicais são constituídos de uma reunião
de plantas, incluindo árvores, arbustos, trepadeiras e plantas herbáceas
crescendo adjacentes às casas (NAIR,1993). Estes quintais são formados
e mantidos pelos membros da família e seus produtos são destinados
para
consumo
próprio.
Assim,
os
“homegardens”
podem
ser
estabelecidos em quase todas as ecozonas tropicais e subtropicais, onde
os sistemas de uso da terra, baseado na subsistência, predominam. A
exemplo, no México, “hortos familiares”, na América Central “hortos
caseros”.
Para Saragoussi et al. (1988) no Brasil o termo “quintal” é
usado para determinar o espaço do terreno situado ao redor da casa e
que é utilizado pela família. Complementando a ideia, Ferreira e Dias
(1993) definem os quintais mato-grossenses como a porção de terra perto
da casa, onde se cultivam ou se mantém múltiplas espécies que servem
de fonte às necessidades nutricionais básicas da família, como alimento e
remédio.
Os quintais são espaços de fácil acesso para os moradores
cultivarem uma variedade de espécies com funções entre elas: estética,
lazer, alimentação e medicinal. Importante ressaltar que em todas as
regiões tropicais do mundo ocorre o sistema agroflorestal denominado de
2
quintal, com suas variantes em cada região ou país, sendo muito
semelhantes na sua estrutura e função (SIVIERO et al., 2011).
Deste modo, o resgate etnobotânico, através do saber local
permite compreender o aproveitamento e a interação das pessoas e as
plantas, obtendo informações sobre as espécies vegetais úteis e
possibilitando o registro da estrutura de organização dos quintais, a
composição, o manejo e a função das plantas.
3
1.1 . OBJETIVOS
1.1.1. Objetivo Geral
Catalogar, sistematizar e analisar de forma integrada o
conhecimento que os moradores de quatro bairros de Várzea Grande
possuem a respeito da flora bem como da utilização, do manejo e da
conservação dos recursos vegetais nos quintais das residências.
1.1.2. Objetivos Específicos
 Identificar as plantas e partes das mesmas usadas pelos
moradores de quatro bairros.
 Registrar os meios para a aquisição e procedência das plantas
presentes nos quintais.
 Realizar
um
levantamento
etnobotânico
e
identificar
as
etnocategorias das plantas nos quintais.
 Divulgar as estratégias de conservação dos recursos vegetais
como garantia de utilização de espécies.
 Proporcionar a difusão dos conhecimentos científicos locais como
forma de evitar a erosão cultural desta população mato-grossense,
através de publicações.
 Apresentar à população os resultados da pesquisa, através da
produção científica na forma de um livro.
4
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1.
ETNOBOTÂNICA
E
COMUNIDADES
TRADICIONAIS/SABER
LOCAL
A etnobotânica tem como finalidade a investigação e o resgate
do saber botânico tradicional, principalmente relacionado ao uso dos
recursos da flora. Assim, pesquisas nessa área podem cumprir funções
extremamente importantes, agrupando informações sobre os usos das
plantas e colaborando para o desenvolvimento de novas formas de
exploração dos ecossistemas que se contraponham às formas destrutivas
existentes (PASA, 2011a).
Para Diegues (2000) a etnobotânica possui um dos aspectos
que mais tem colaborado para analisar o conhecimento das populações
tradicionais sobre os métodos naturais, não se podendo aceitar o
desprezo ao conhecimento tradicional acumulado, onde se troca a
etnociência pela ciência moderna.
No passado o conhecimento a respeito do uso das plantas era
limitado aos povos isolados geograficamente, porém, no Brasil, a partir do
século XX, se tornou comum para outras comunidades, tanto nos espaços
rurais quanto urbanos (VENDRUSCULO e MENTZ, 2010).
De acordo com Diegues (2000), o conhecimento tradicional
pode ser definido como o saber e o saber-fazer, a respeito do mundo
natural
e
sobrenatural,
gerados
na
esfera
da
sociedade
não
urbano/industrial. Assim, são transmitidos de forma oral e, através de
procedimentos e rituais que ensinam por observação do aprendiz ao
longo das gerações. O mesmo autor assegura que em diversas
comunidades
tradicionais
o
conhecimento
com relação
ao
uso,
melhoramento e conservação do saber é um bem que pode ser
compartilhado com os membros da própria comunidade ou mesmo com
outras comunidades.
No Brasil, o decreto n.º 6.040, de 7 de fevereiro de 2007,
refere-se ao termo populações tradicionais como povos ou comunidades
tradicionais, os quais são definidos pelo Artigo 3 como:
5
“Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem
formas próprias de organização social, que ocupam e usam
territórios e recursos naturais como condição para sua
reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,
utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e
transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007).
Investigar a maneira pela qual as sociedades humanas
relacionam-se com o ambiente a sua volta tem papel fundamental no
resgate, registro e sistematização do saber popular. Além de refletir a
relação humana com o ambiente, poderá auxiliar planos de manejo que
tendam a conservação da biodiversidade bem como tornar acessíveis
esses saberes às futuras gerações (SANTOS e GUARIM NETO, 2008)
Albuquerque (2002) afirma que o estudo etnobotânico é o
principal aliado na interação entre as populações humanas e o ambiente
natural, na busca do desenvolvimento sustentável junto às populações
tradicionais.
As culturas tradicionais desenvolveram formas particulares de
manejo dos recursos naturais que não visam diretamente o lucro mas a
reprodução cultural e social como também percepções e representações
em relação ao mundo natural marcadas pela ideia de associação com a
natureza e a dependência de seus ciclos (DIEGUES, 2000).
2.2. BIOMA CERRADO E UNIDADES DE PAISAGENS
O cerrado compreende um complexo de formações oreádicas
(cobertura vegetal campestre que não seja propriamente uma floresta),
que vão desde o campo limpo até o cerradão, concebendo suas formas
savânicas (campo sujo, campo cerrado e cerrado sensu stricto)
verdadeiros ecótonos de vegetação entre a forma florestal, representada
pelo cerradão, e a campestre, constituída pelo campo limpo (COUTINHO,
1978).
6
Segundo Batalha (2011) podemos usar a palavra “cerrado” em
três sentidos: i) Cerrado, com a inicial maiúscula, quando estivermos nos
referindo ao domínio fitogeográfico do Cerrado, incluindo não só o cerrado
sensu lato, mas também os outros tipos vegetacionais que ali se
encontram; ii) cerrado sensu lato ou simplesmente cerrado, quando
estivermos nos referindo ao cerrado enquanto tipo vegetacional, isto é, do
campo limpo ao cerradão – aqui há um complexo de biomas, bioma dos
campos tropicais, das savanas e das florestas estacionais; e iii) cerrado
sensu stricto, quando estivermos nos referindo a uma das fisionomias
savânicas do cerrado sensu lato.
No início da década de 1970, através de incentivos
governamentais e a adoção da mecanização, a vegetação natural do
cerrado passou por um processo de intensa derrubada motivada pela
agricultura e pecuária, principalmente. Dessa forma, proporcionou uma
gradativa alteração de paisagem, sobretudo na cobertura vegetal
(ALMEIDA, 1998).
Entretando, combinar conservação e gestão de recursos no
cerrado é um trabalho que envolve a importância dos conhecimentos
tradicionais além da potencialidade de vida e a variedade de ambientes
inseridos no bioma e suas particularidades (GUARIM NETO et al., 2010a).
Os mesmos autores destacam que o cerrado mato-grossense prossegue
com inúmeras possibilidades com relação aos seus recursos vegetais,
sendo as populações humanas possuidoras desses saberes, pois detém
um profundo conhecimento ao utilizarem a flora local, essencial em seu
cotidiano.
Dentre as diferentes unidades de paisagens do cerrado
inseridas neste estudo estão as matas ripárias, as roças e os quintais.
Estes últimos (roças e quintais) são resultantes da alteração da paisagem
pelo homem.
Matas de galeria
As matas de galeria também podem ser designadas florestas
ribeirinhas, matas ciliares ou matas ripárias por alguns pesquisadores.
7
Esta última, não necessariamente precisa estar margeando os cursos
d’água. Para esta forma de vegetação a extensão da mata se encontra
longa e estreita, formando uma galeria. Assim, estão presentes ao longo
dos cursos d’água, a exemplo de riachos, rios e córregos (MANTOVANI,
1989; HARIDASAN, 1998).
As matas de galeria do cerrado destacam-se através da
riqueza, diversidade genética e pela sua função em proteger os recursos
hídricos, edáficos e faunísticos (REZENDE, 1998).
Segundo Ribeiro e Schiavini (1998) essa vegetação fornece
importante material para pesquisas com relação ao uso de espécies
nativas na recuperação de áreas degradadas do Cerrado. Dentre os
fatores que colaboram para isso, estão o valor econômico de algumas
espécies, à conservação da flora, da fauna e dos recursos hídricos e à
sua importância regional.
Roças
Conforme Adams (2000) a agricultura itinerante para o sustento
familiar nas florestas evoluiu, de forma independente, em todas as regiões
tropicais e revelou-se sustentável ao longo dos séculos. Entretando, a
autora afirma que no Brasil, essa prática é uma herança indígena, e pode
receber várias designações, como agricultura de coivara, roça de coivara,
roça de toco, agricultura de subsistência ou de derrubada e queima.
As roças são espaços ocupados pela produção agrícola, cuja
formação incide em áreas abertas no interior da vegetação natural,
especialmente com a derrubada da mata ou do cerrado. São
representadas pelas unidades familiares e, geralmente constituídas por
uma produção diversificada, contrastando com a lógica produtivista que
ressalta a racionalidade econômica através de sistemas especializados
(PASA, 2007).
Quintais
Os sistemas de quintais agroflorestais também conhecidos
como hortos, “home garden”, quintais caseiros ou pomares, constituem
8
uma forma de uso da terra em domínio particular, onde várias espécies
arbóreas são cultivadas juntamente com culturas perenes e anuais,
podendo haver também a criação de animais de pequeno porte em volta
da moradia (NAIR,1993; NAIR e KUMAR, 2006).
Os quintais são designados por diversos grupos humanos o
espaço ao redor das residências. Ainda que muitas vezes apresentem
extensão territorial reduzida, os quintais acumulam uma diversidade
vegetal com complexas manifestações culturais quanto à origem, o
manejo e a utilização (CARNIELLO e PEDROGA, 2008).
Segundo
Amorozo
(2008)
são
múltiplos
os
papéis
desempenhados pelos quintais, sejam eles instituídos pelos moradores ou
mesmo desprovidos de planejamento. Entre as funções a autora cita:
a) Funções biológicas e ecológicas:
- domesticação e aclimatação: através do plantio de espécies que
o produtor ainda não está acostumado;
- conservação de agrobiodiversidade: podem exercer o papel de
viveiros de mudas; diversas espécies não estão mais presentes em
seus
ambientes
naturais,
mas
podem
ser
encontradas
e
conservadas nos quintais;
- serviços ambientais: melhoram o microclima, aumentam a
umidade, reduzem o calor e absorvem poluente.
b) Funções sociais, econômicas e culturais:
- produção para consumo familiar e/ou para mercado: contribuindo
para a melhoria da alimentação;
- a face social e cultural dos quintais: aumentando o espaço da
residência, realização de atividades domésticas e de lazer.
2.3. ETNOCATEGORIAS DE USOS DAS PLANTAS
A sociedade humana acumula um acervo de informações a
respeito do ambiente que a envolve e que vai lhe permitir interagir com
ele para fornecer suas necessidades de sobrevivência. Assim, registra-se
9
o conhecimento referente ao mundo das plantas com o qual estas
sociedades estão em contato (AMOROZO, 1996).
Os usos que as comunidades humanas impõem às espécies
vegetais constituem as etnocategorias de uso. A diversidade vegetal além
de prover as múltiplas necessidades alimentares, medicinais, de abrigo,
de edificações, de embelezamento, de lazer, de artesanato, dentre outras
para as populações, encontram-se profundamente relacionadas à
conservação do meio natural (CARNIELLO e PEDROGA, 2008).
A utilização das plantas na alimentação e na medicina
tradicional está presente na vida humana há séculos. No passado
diversas civilizações já faziam o uso de determinadas espécies vegetais
em rituais religiosos e no método de mumificação (MACIEL e GUARIM
NETO, 2008).
As plantas representaram a única fonte de tratamento de
doenças para o ser humano durante muito tempo. Entretanto, através do
desenvolvimento da química farmacêutica, no começo do século XXI, as
plantas constituíram a principal matéria-prima para o desenvolvimento de
medicamentos (CARVALHO, 2010).
No Brasil, o conhecimento específico sobre o uso de plantas é
decorrência de uma miscigenação cultural, abrangendo os europeus, os
indígenas e os africanos (MARTINS et al., 2003).
Atualmente
o
uso
de
ervas
medicinais,
aromáticas
e
condimentares vem crescendo por diversos motivos, a saber: eficácia
dessas plantas, efeitos colaterais de medicamentos sintéticos e também
por modismos (CARVALHO, 2010). A exploração da flora nativa, através
da extração direta nos ecossistemas tropicais (extrativismo), provoca
reduções drásticas da vegetação, tanto pelo processo predatório de
exploração, quanto pela falta de conhecimento de perpetuação das
espécies. Deste modo, a domesticação e o cultivo são alternativas para
obtenção da matéria-prima de interesse farmacêutico e redução do
extrativismo nas formações florestais (REIS e MARIOT, 1999).
10
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O presente trabalho foi realizado na cidade de Várzea Grande,
Estado de Mato Grosso.
3.1.1. Aspectos Físicos
O município é designado pelo Projeto Radambrasil (1982)
como
uma
região
da
Depressão
Cuiabana
e
delimitado
pelas
coordenadas geográficas 15° 38′ 49″, de latitude Sul e 56° 07’ 58”, de
longitude Oeste (IBGE, 2009). Faz limites ao norte com os municípios de
Acorizal e Jangada, a leste com Cuiabá e Santo Antônio de Leverger, ao
sul e a oeste com Nossa Senhora do Livramento (Figura 1). Pertence à
mesorregião Centro-Sul Mato-Grossense e microrregião de Cuiabá.
O clima da região é tropical semiúmido (Aw na classificação de
Koppen), com precipitação pluviométrica anual de 1.350 mm (INMET,
1996) e apresenta duas estações bem definidas: a seca, que vai de maio
a outubro, e a chuvosa, que vai de novembro a abril. A amplitude térmica
varia muito, com temperatura média anual de 26ᵒC, com mínimas de 15ᵒC
e máximas de 32ᵒC. A umidade relativa do ar apresenta média anual em
torno de 74% (FUNASA, 2007).
11
FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA ÁREA DE ESTUDO.
VÁRZEA GRANDE, MT. Fonte CITYBRAZIL, 2014.
3.1.2. Aspectos Históricos e Sociais
A cidade de Várzea Grande surgiu da doação de uma sesmaria
aos índios Guanás, considerados hábeis canoeiros e pescadores, em
1832 por parte do Governo Imperial. A região foi caminho obrigatório das
boiadas que vinham de Rosário do Rio Acima (hoje Rosário Oeste) em
busca de Cuiabá, capital do Estado (OLIVEIRA, 2008).
Porém, conforme a história tradicional, sua fundação está
profundamente ligada ao acampamento militar instalado durante a guerra
com o Paraguai, supostamente nos arredores do atual centro da cidade o Acampamento Couto Magalhães. Entretanto, este acampamento militar
que dava suporte à capital do estado durante a guerra, e que foi
estabelecido em 15 de maio de 1867, pelo General José Vieira Couto de
Magalhães, se localizava na margem esquerda do rio Cuiabá. Foi elevado
à categoria de município com a denominação de Várzea Grande, pela Lei
Estadual n.º 126, de 23 de setembro de 1948, desmembrado do município
de Cuiabá e Nossa Senhora do Livramento (IBGE, 2009).
O território do município fazia parte de Cuiabá, antes de ser
desmembrado. Atualmente entre as duas cidades há somente o rio
12
Cuiabá como limite. Segundo estimativa realizada em 2013 pelo IBGE, a
população de Várzea Grande é de 262.880 habitantes. É o segundo maior
município do estado e 99º lugar do Brasil em população, apresenta Índice
de Desenvolvimento Humano Municipal igual a 0,734.
3.1.3. Economia
Várzea Grande é predominantemente comercial e industrial.
Por meio de incentivos fiscais e doações de terras, várias indústrias se
instalaram na região, constituindo, juntamente com a capital, o principal
pólo industrial do estado (PREFEITURA MUNICIPAL DE VÁRZEA
GRANDE, 2013). Atualmente, Várzea Grande concentra um dos maiores
e mais diversificados parque industrial do Estado, alocando indústrias
alimentícias, cerâmicas, bebidas, metalúrgicas, agroindústrias, plásticas e
indústria de colchões.
3.2. SELEÇÃO DOS BAIRROS
Os bairros foram selecionados através de um sorteio dos
questionários aplicados aos alunos da Escola Estadual Professor Jercy
Jacob. Estes questionários foram pertinentes às aulas de Ciências e,
relacionados à Etnobotânica. Assim, evidenciou-se que os alunos residem
em diferentes bairros, quais sejam:
Água Vermelha – O bairro Água Vermelha está localizado próximo ao
centro da cidade de Várzea Grande (Figura 2). Através da história oral de
alguns moradores locais obtivemos a informação de que o nome “Água
Vermelha” surgiu devido à existência de muitas valetas nas ruas da
região. Em épocas passadas elas se formaram pela retirada da terra para
fazer tijolos de adobe e quando chovia, formavam enormes poças d’água,
que escorriam levando toda a água rua a baixo, deixando as mesmas de
cor avermelhada. A produção de tijolos de adobe é batante artesanal, são
feitos com barro e água, às vezes também é acrescentado fibras ou
palha, no entanto eles são secados somente no sol, não passam por
fornalhas.
13
Bonsucesso - Criado em 1823, Bonsucesso (Figura 2), o mais antigo
distrito de Várzea Grande, é uma comunidade tradicional ribeirinha que
cresceu em torno de um engenho de açúcar. Este é o bairro mais
afastado da região central da cidade, atualmente conta com cerca de
1.200 moradores. Porém, o Distrito de Bonsucesso, constituído pelas
comunidades de Praia Grande, Pai André, Souza Lima e Capela do
Piçarrão, possui aproximadamente 15 mil habitantes (Prefeitura Municinal
de Várzea Grande, 2014). A comunidade ribeirinha BS está estabelecida
à margem direita do rio Cuiabá, caracterizada basicamente por duas ruas,
a da Beira ou Rua Gil João da Silva (paralela ao rio) e a do Alto (paralela
à Beira), onde estão dispostos as residências, as igrejas, os engenhos, a
escola e um pequeno comércio, constituído principalmente de peixarias.
Cristo Rei - O bairro Cristo Rei (Figura 2) juntamente com outros bairros
de Várzea Grande fazem parte da Grande Cristo Rei, região mais
populosa do município, com aproximadamente 80 mil habitantes. Dispõe
de
um forte
setor
industrial
e
comercial
com inúmeras
lojas,
supermercados, concessionárias, bancos, hospital, igrejas, seminário,
escolas, centro universitário, subprefeitura, entre outros.
Santa Isabel - O bairro Santa Isabel está localizado na zona oeste de
Várzea Grande, região afastada do centro da cidade (Figura 2). Segundo
os informantes, o bairro é um conjunto habitacional. No início as
residências eram padronizadas, todas iguais e com a mesma metragem
de terreno. Com o passar do tempo, cada morador foi modificando sua
casa, fazendo varanda, reformando e aumentando o tamanho de acordo
com suas necessidades e possibilidades.
14
FIGURA 2 – LOCALIZAÇÃO DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI), VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014. Fonte Google maps.
3.3. SELEÇÃO DAS RESIDÊNCIAS
Os bairros possuem tamanhos diferentes e assim, também um
número de quadras diferentes. Em cada bairro foi sorteado cinco quadras,
totalizando 20 quadras nos quatro bairros. Dentro de cada quadra foi
selecionado quatro residências, totalizando 80 residências para aplicação
das entrevistas. Foi determinado previamente que, havendo algum
problema que impossibilitasse a entrevista em uma das residências
sorteadas, a próxima a sua direita a substituiria, e se ainda assim não
fosse possível, a próxima à esquerda da residência selecionada para a
amostragem a substituiria e assim sucessivamente.
O contato com os informantes iniciou com um esclarecimento
sobre a pesquisa, a exposição dos objetivos e a importância da
colaboração dos informantes. De acordo com Carvalho (2006), o primeiro
contato é de extrema importância para estabelecer um clima harmonioso
15
entre
pesquisador
e
informante,
sendo
fundamental
para
o
desenvolvimento da pesquisa.
As entrevistas ocorreram nas residências, mais precisamente
na varanda ou no quintal de cada uma delas, com o responsável pela
família que estava no momento, independente de gênero e sempre
posteriormente à entrega do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, com a respectiva assinatura de concordância (Anexo).
3.4. TÉCNICAS DE PESQUISA
Para auxiliar o desenvolvimento da metodologia proposta para
o estudo, foram utilizadas cinco técnicas, a saber:
3.4.1. Pré–Teste
O Pré-Teste foi utilizado como instrumento de sondagem da
comunidade e também para definir e ajustar a metodologia mais
apropriada ao desenvolvimento da pesquisa, bem como as técnicas e
ferramentas para a obtenção de dados.
3.4.2. Observação Direta
Através da Observação Direta realizou-se o registro das
atividades desenvolvidas pelos informantes durante a pesquisa.
3.4.3. Entrevista Semiestruturada
A Entrevista Semiestruturada foi organizada e redigida com
algumas
questões
frequentemente
fechadas
e
abertas.
Durante
as
entrevistas,
surgem novas questões relacionadas aos dados
coletados, que muitas vezes exigem novos eventos. Utilizou-se desta
técnica para entrevistar todos os informantes (Apêndice).
As entrevistas ocorreram em períodos matutino e vespertino e
nos finais de semana, período em que alguns participantes apresentavam
maior disponibilidade para emitir as informações.
16
3.4.4. História de Vida
A História de Vida é a narrativa do conjunto de experiências
vividas por uma pessoa, neste caso o informante é soberano para
manifestar ou ocultar os fatos (MEIHY, 1996). Esta técnica foi utilizada no
momento em que o informante narra o seu caminho em diferentes fases
da sua vida, passando por acontecimentos e circunstâncias que
presenciou e vivenciou.
3.4.5. Turnê Guiada
A Turnê
conduzidas
pelos
Guiada
consiste de
moradores
nos
caminhadas exploratórias
quintais
das
residências
dos
informantes. Esta técnica é utilizada para se determinar o conhecimento e
as etnocategorias de usos das diferentes espécies de plantas citadas
durante as entrevistas.
3.5. REGISTRO DAS INFORMAÇÕES
3.5.1. Diário de Campo
Foi utilizado um Diário de Campo (caderno de campo) para o
registro de fenômenos observados e relacionados ao desenvolvimento da
pesquisa nas atividades de campo.
Segundo Minayo (2010) é o principal instrumento de trabalho
de observação. O diário de campo é um documento pessoal e constitui
um meio em que o pesquisador dispõe para organizar seus dados, sejam
eles, acontecimentos, percepções ou sentimentos.
3.5.2. Registro Fotográfico
Foi utilizada uma câmera digital para realizar o registro
fotográfico das atividades de campo, como as imagens de plantas,
animais, paisagens, residências, entrevistas, eventos culturais, entre
outros.
17
Segundo
Godolphim
(1995)
a
fotografia
constitui
um
instrumento de pesquisa:
a) “... de produção de conhecimento etnográfico, onde é tomada
como mais uma técnica de documentação, junto com o caderno
de campo e o gravador, que se usa para registrar seus dados”.
b) “... como elemento de interação na devolução do material
fotográfico, estimulando a relação com o grupo estudado e
abrindo um campo de diálogo, de expressão da memória e das
reflexões dos informantes sobre as imagens devolvidas”.
3.6. TRABALHO DE CAMPO
As atividades de campo foram divididas em três etapas:
1ᵃ Etapa – Levantamento bibliográfico sobre o tema da pesquisa e
levantamento sobre o sorteio dos bairros de Várzea Grande. Esta etapa
teve início em abril de 2013 seguindo o período de execução da pesquisa
e redação do trabalho.
2ᵃ Etapa – Aplicação do Pré-teste, que ocorreu nos meses de abril e maio
de 2013.
3ᵃ Etapa – Foi realizada a coleta de dados pertinentes à pesquisa,
através de visitas aos bairros e órgãos públicos. Esta etapa aconteceu
nos meses de maio de 2013 a abril de 2014.
3.7. COLETAS ETNOBOTÂNICAS
As coletas etnobotânicas consistiram-se de maneira informal,
através de visitas nas residências dos bairros, no período de maio de
2013 a abril de 2014.
Perceber de que forma o conhecimento etnobotânico é
estabelecido demanda conhecer as comunidades, e o modo como ocorre
a transmissão deste saber, através dos membros da família e do
ambiente no qual convivem.
18
De acordo com Pasa et al. (2013) o levantamento etnobotânico
acontece por meio de expedições às unidades de paisagem em que se
encontram as plantas usadas, buscando detalhar com maior clareza as
utilidades, a origem, o modo de preparo, as partes usadas, entre outras.
Através do trabalho de campo obteve-se o registro de imagens
relacionadas ao ambiente, nos diferentes quintais urbanos. Também
foram anotadas informações pertinentes e detalhadas às plantas (nome
popular, parte utilizada, finalidade de uso, formas de uso), o manejo e a
conservação local.
A coleta das amostras vegetais, sobretudo na fase reprodutiva
e vegetativa, para montagem das exsicatas ocorreu durante as
caminhadas exploratórias pelos quintais e unidades de paisagens
adjacentes (roças e matas ripárias) junto com o informante. Após, foi
realizada a identificação botânica e catalogação no Herbário Central da
Universidade Federal de Mato Grosso, com a ajuda de técnicos
especialistas deste local, permanecendo ali depositadas. A nomenclatura
foi conferida por meio da base de dados do Missouri Botanical Garden,
Saint Louis (http://www.tropicos.org). Entretanto, não foi possível coletar
material botânico de todas as espécies, principalmente aquelas que
afetariam o cultivo nos quintais dos informantes.
3.8. ANÁLISE DOS DADOS
Os dados foram analisados de forma qualitativa e quantitativa.
Para a análise qualitativa foram utilizadas as informações
obtidas nas entrevistas, nas observações diretas e, na revisão
bibliográfica. Através da estatística descritiva analisou-se os dados
socioeconômicos dos informantes, o que permitiu a discussão dos
principais aspectos pertinentes à comunidade local e às plantas.
As plantas citadas durante as entrevistas foram separadas em
quatro etnocategorias de usos: Medicinal, Alimentar, Ornamental e Outros
usos (lenha, madeira, proteção, sombreamento).
Para o tratamento dos dados referentes aos usos dos recursos
vegetais foi empregada uma abordagem quantitativa. Com relação aos
19
dados quantitativos, os mesmos podem ser utilizados como justificativa
para a conservação das espécies vegetais e do conhecimento popular,
principalmente por fornecerem informações sobre as espécies e/ou
famílias mais utilizadas para diversos fins.
Na abordagem quantitativa foi calculado o Índice de Fidelidade,
criado por Friedman et al. (1986) para as indicações de uso de cada
espécie e modificado por Amorozo e Gely (1988); Vendruscolo e Mentz
2010); Pasa (2011a). Desta forma, determinou-se as plantas mais
importantes quanto à finalidade para os informantes locais.
a) Nível de Fidelidade:
𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼: 𝑵𝑭 =
𝑭𝒊𝒅
𝑿 𝟏𝟎𝟎
𝑭𝒔𝒑
Onde: NF = Nível de fidelidade
Fid = Número de informantes que indicaram o uso de uma espécie para
uma finalidade maior
Fsp = Número total de informantes que citaram a planta para algum uso
b) A utilização do Fator de Correção é necessária pela diferença no
número de informantes que citaram usos para cada espécie:
𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼𝐼: 𝑭𝑪 =
𝑭𝒔𝒑
𝑰𝑪𝑬𝑴𝑪
Onde: FC = Fator de correção
Fsp = Número total de informantes que citaram a planta para algum uso
ICEMC = Número de citações da espécie mais citada
c) Porcentagem de concordância quanto aos usos principais:
𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 𝐼𝐼𝐼: 𝑷𝒄𝒖𝒔𝒑 = 𝑵𝑭 × 𝑭𝑪
Onde: Pcusp = Frequência relativa de concordância quanto aos usos principais
NF = Nível de fidelidade
FC = Fator de correção
20
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO
No total foram entrevistados 128 pessoas nos quatro bairros
que fizeram parte da área de estudo: Água Vermelha, Bonsucesso, Cristo
Rei e Santa Isabel. O número de participantes nas entrevistas variou de
acordo com a disponibilidade dos moradores. Em algumas residências
havia mais de uma pessoa no momento da entrevista, assim estas
também participaram da pesquisa.
Da unidade amostral a maior representação foi do gênero
feminino com 101 informantes (79%) enquanto que o gênero masculino
correspondeu a 27 informantes (21%). Diversos autores (AMOROZO,
1996; VIERTLER, 2002; BORBA e MACEDO, 2006; KFFURI, 2008;
VENDRUSCOLO e MENTZ, 2010; OLIVEIRA e PASA, 2013) observaram
a predominância de mulheres em trabalhos de Etnobotânica. Estes
autores relatam que os cuidados com os recursos vegetais ao redor da
residência são de domínio feminino, pois elas são detentoras do
conhecimento de espécies úteis para o bem estar familiar, já que passam
a maior parte do tempo no lar. No entanto, os homens detêm um
conhecimento maior das plantas mais distantes da residência, no caso
aquelas do mato.
Em alguns testemunhos foi confirmada essa característica:
“Quando eu levanto, gosto muito de cuidá das planta, fico alegre
por cuidá delas. Coloco água, não importa o tempo, acho que é
dom. Aprendi isso com minha mãe e minha vó, lá no sítio onde a
gente morava”. (Sra. A. C., 48 anos – Bairro Cristo Rei)
“Eu tenho as planta aqui em casa porque gosto. A planta é tudo
na minha vida, trouxe lá da cidade da minha mãe umas muda e
plantei aqui nos vaso. Sempre que vou pra lá trago alguma planta.
Quando eu fico sozinha, converso com elas e elas me entende”.
(Sra. M. R., 50 anos – SI)
A idade dos informantes variou entre 26 a 89 anos,
apresentando maior frequência de 46 a 65 anos de idade. Para o sexo
feminino, a mais jovem tinha 26 anos e a mais idosa 89 anos de idade.
Para o sexo masculino, o mais jovem tinha 46 anos e o mais idoso 87
21
anos de idade, conforme Figuras 3, 4, 5 e 6. O motivo por não haver
informantes do sexo masculino entre 26 a 45 anos é que no momento das
entrevistas eles se encontravam no trabalho ou, em algumas residências,
não havia homem com esta faixa etária.
FIGURA 3 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA.
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
FIGURA 4 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO.
VÁRZEA GRANDE, MT. 20
22
FIGURA 5 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI.
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
FIGURA 6 – IDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL.
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Quanto à origem dos moradores entrevistados, a maioria (76%)
é da região ou do próprio estado, porém houve registro de outros estados
do país (Figura 7). Resultado semelhante foi encontrado por Pasa (2011b)
na comunidade de Conceição-Açu e Sánchez (2014) na comunidade de
Água Fria, ambas em Mato Grosso, onde um percentual baixo está
constituído por migrantes de outros estados.
A maior parte da migração se deu devido à necessidade de
conseguir uma estabilidade financeira para a obtenção de uma melhor
qualidade de vida. Nos bairros Água Vermelha e Santa Isabel o índice
migratório equivale a 7,5% (Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná,
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul) e 10% (Bahia, Paraíba, São Paulo),
respectivamente. Já no bairro Cristo Rei a taxa de migração corresponde
23
a 5% (Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco) e, no
bairro Bonsucesso não houve indícios de migração local.
FIGURA 7 – ORIGEM DOS INFORMANTES DOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI).
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
No bairro BS, todos os informantes são oriundos do estado de
Mato Grosso. Esta característica evidencia a identidade tradicional da
comunidade, onde seus moradores, conhecidos popularmente como
ribeirinhos, conservam práticas, saberes e crenças de antigos moradores
das margens do rio Cuiabá. Para Medeiros e Albuquerque (2012) o saber
local não se restringe a grupos tribais ou a habitantes de áreas rurais.
Acrescenta ainda que, todas as comunidades, rurais ou urbanas,
habitantes originais ou migrantes, podem estabelecer esse saber. Oliveira
(2012) ressalta que os ribeirinhos dessa comunidade são pessoas de pele
morena que incorporam elementos evidentes que os enviam à história da
Baixada Cuiabana.
O tempo em que os entrevistados residem no bairro foi
bastante heterogêneo. Os moradores mais recentes residem há menos de
dez anos e, o morador mais antigo ultrapassa oitenta anos de moradia
(Tabela 1). Também foi observado que nas comunidades mais urbanas
24
(AV, CR e SI) o tempo de moradia não ultrapassou os cinquenta anos,
entretanto na comunidade ribeirinha (BS) esse número chegou a 89 anos
TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE INFORMANTES POR TEMPO
DE MORADIA NOS BAIRROS AV, BS, CR, SI. VÁRZEA GRANDE
MT. 2014.
Tempo de moradia
1 - 10 anos
11 - 20 anos
21 - 30 anos
31 - 40 anos
41 - 50 anos
51 - 60 anos
61 - 70 anos
71 - 80 anos
> 80 anos
Total de informantes
AV
15
4
2
4
2
27
BS
3
3
3
4
7
10
7
5
3
45
CR
2
4
8
12
5
32
SI
6
4
14
24
Segundo relato de informantes do bairro BS, muitas pessoas
nasceram e continuam morando no mesmo local. Este fato ocorre porque,
após o casamento dos filhos, alguns constroem suas moradias no mesmo
terreno da casa dos pais e ali permanecem. Os moradores deste bairro
confirmaram gostar de viver no local, uma vez que é raro o acontecimento
de roubos e para quem gosta de uma vida mais sossegada é um lugar
propício para viver com sua família.
Oliveira
(2012)
assegurou
através
de
seu
estudo
na
comunidade de Bonsucesso, que quando os filhos escolhem por residir na
localidade, instalam residências no fundo da casa dos pais. Sánchez
(2014) confirma em seu trabalho e destaca a tendência da passagem de
antigos terrenos dos pais ou avós para as novas famílias. Nos outros três
bairros estudados (AV, CR, SI) isto não é evidenciado, uma vez que os
terrenos geralmente são menores, dificultando a construção de uma nova
moradia e também não é uma tradição familiar morar com os pais após o
casamento.
25
Segundo Amorozo (2010) a continuação dos filhos na área
rural, especialmente com interesse nas atividades agrícolas é de extrema
importância para a conservação de sistemas agrícolas tradicionais.
Quanto ao estado civil dos depoentes 61% são casados, 19%
são viúvos, 11,75% são separados ou divorciados e 8,75% são solteiros.
Em se tratando da característica cultural dos bairros temos AV e SI, onde
o número de viúvos é menor e a quantidade de depoentes mais jovens é
maior. Já nos bairros CR e BS prevalecem a maior quantidade de
depoentes viúvos e também apresentam o maior número de idosos.
Do total de 128 informantes, vários exercem mais de uma
atividade, ou seja, desempenham uma multiplicidade de funções, como
por exemplo, ser diarista e do lar ou ser aposentada e do lar, conforme
Figuras 8, 9, 10 e 11. Ocorreu o registro somente de dois informantes
desempregados, moradores dos bairros CR e SI. Um deles relatou estar
desempregado há quatro anos.
“... por falta de emprego ajudo minha mulher a cuidar das
criança... são filhos dos vizinho que trabalham fora e moram aqui
na região... aqui em casa funciona como uma creche, eles vem
cedo e vão embora só no final da tarde”. (Sr. J. C. S., 50 anos –
SI)
Outra moradora do bairro BS alegou o motivo de não trabalhar
fora:
“... esse bairro é um pouco longe da cidade, então prefiro cuidá da
minha mãe, que já está velhinha, do que trabalhá lá na cidade e aí
não precisamo deixá ela sozinha e nem pagá outra pessoa pra
ficá com ela”. (Sra. M. A. S., 47 anos – BS)
26
Número de Informantes
Bairro Água Vermelha
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
9
5
5
4
2
2
2
2
1
Atividade
FIGURA 8 – ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA.
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Número de Informantes
Bairro Bonsucesso
16
14
12
10
8
6
4
2
0
14
13
6
3
4
3
4
4
2
2
3
3
1
Atividade
FIGURA 9 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO.
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
27
Bairro Cristo Rei
Número de Informantes
14
13
11
12
10
8
6
4
2
2
3
3
4
3
3
1
0
Atividade
FIGURA 10 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI.
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Número de Informantes
Bairro Santa Isabel
12
10
8
6
4
2
0
11
7
2
1
1
2
3
1
2
Atividade
FIGURA 11 - ATIVIDADE DOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL.
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Ao analisar as Figuras 8, 9, 10 e 11 observa-se um destaque
para a atividade ‘Do lar’, evidenciando a importância desta atividade e a
presença feminina neste estudo. Sánchez (2014) também observou uma
porcentagem maior de afazeres domésticos para as mulheres em sua
pesquisa. A atividade ‘Do lar’ está relacionada com o ‘Nível escolar’ dos
participantes, pois constatou-se que a maioria dos informantes que
28
exercem esta atividade não frequentou a escola ou cursou os primeiros
anos do ensino fundamental, dificultando no momento da procura por um
emprego.
Outro item que sobressai é o número de informantes
aposentados, visto que uma considerável parcela de participantes tem
mais de 60 anos de idade. Esta característica é mais evidente nos bairros
Bonsucesso e Cristo Rei, onde a tradicionalidade é percebida através do
manejo exercido nos quintais das residências locais. Neles ainda são
mantidas diversas atividades, como por exemplo a benzeção, a
manutenção de cultivos, a criação de pequenos animais, as rodas de
conversas.
Quanto à renda mensal dos informantes, a mesma apresentou
uma variação de um a mais de dois salários mínimos, conforme Figura 12.
No entanto, a maioria dos depoentes (59%) relatou como renda mensal o
valor de um salário mínimo. Outras ainda se referiram ao salário do
marido como fonte renda para manter a família.
Renda mensal
Número de informantes
33
16
13
13
7
7
Água Vermelha
7
9
5
Bonsucesso
7
Cristo Rei
6
5
Santa Isabel
Bairro
1 salário mínimo
2 salários mínimos
> 2 salários mínimos
FIGURA 12 – RENDA MENSAL DOS INFORMANTES DOS BAIRROS (AV, BS,
CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
29
Quanto à escolaridade (52%) dos informantes possuem o
Ensino Fundamental de completo a incompleto (Figura 13). Já para as
outras categorias de ensino o percentual foi menor. Também para
aqueles que informaram o Ensino Médio, a maioria não o completaram.
Rocha (2013) estudando a Comunidade de Saloba Grande em Porto
Estrela, Mato Grosso, verificou que as categorias de ensino mais citadas
foram a de Não Alfabetizado e Ensino Fundamental (1º ao 4º ano).
Kffuri (2008) observou em seu estudo no município de Senador
Firmino, Minas Gerais, que o conhecimento das plantas medicinais no
tratamento tradicional está relacionado com o grau de escolaridade.
Acrescentou ainda que, quanto mais avançada a escolaridade, maior o
contato com a progresso e com a medicina moderna. Deste modo, as
pessoas
com
menor
contato
escolar
preferem primeiramente
a
terapêutica tradicional, deixando para um segundo plano o uso de
medicamentos
sintéticos.
Também
detectou-se
que
o
nível
de
escolaridade encontra-se diretamente proporcional ao uso das plantas,
como fitoterápicos para tratamentos de saúde, como é o caso do BS e
CR.
Número de informantes
Nível de escolaridade
24
14
9
7
4
15
14
13
3
5
Água Vermelha
7
5
2
2
Bonsucesso
Cristo Rei
2
1
Santa Isabel
Bairro
Não frequentaram a escola
Ensino Fundamental
Ensino Médio
Ensino Superior
FIGURA 13 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS INFORMANTES DOS
BAIRROS (AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
30
Alguns informantes (12,5%) não frequentaram a Escola, o
motivo está em alguns depoimentos:
“Nunca frequentei a Escola, meu pai era daqueles antigo e achava
que não precisava estudá, não era importante. Naquele tempo
tinha roça, sítio, tinha com o que se sustentá ... tinha fartura. Meus
filho, meus neto, nunca vão vê toda aquela fartura que eu tive
quando criança e jovem”. (Sra. F. A. F., 68 anos, SI)
“Nunca estudei, porque morava nos mato, nas fazenda. Meu
sonho era í pra Escola, mas não tinha professor lá, porque eles
iam prás casa dos fazendeiro. Aprendemo a lê, contá e escrevê,
sem professor. A força de vontade ajudô a aprendê. Tem coisa
que não precisa esperá ensiná, tem que procurá”. (Sra. J. M. R.,
84 anos, CR)
“Não estudei porque meu pai não deixava. Pra ele, naquela
época, mulher tinha que sabê cuidá da casa, dos filho e do
marido. Não precisava estuda pra trabalha pros outro, tinha que
sabe cuidá das coisa de casa. Isso que era importante na cabeça
dele”. (Sra. M. M. V., 89 anos, SI)
Para aqueles que concluíram o Ensino Superior, três fizeram
curso para ser professor (Pedagogia e Letras), uma fez Enfermagem e
um concluiu o Curso de Contabilidade. No entanto, as professoras já
estão aposentadas e os outros dois estão na ativa.
Quanto ao aspecto religioso 98,5% dos informantes possuem
uma religião, destacando-se a religião Católica com 95 informantes
(75%), seguida da Evangélica com 30 informantes (Figura 14). Apenas
dois depoentes não têm religião e não frequentam nenhuma igreja.
A análise destes dados permite explicar as manifestações
religiosas e folclóricas no bairro BS, principalmente pelas festividades de
São Pedro, São Benedito, Nossa Senhora de Bonsucesso entre outras,
que acontece todos os anos e que reúne pessoas dos bairros vizinhos e
de várias regiões mato-grossenses. Em diversas residências da
comunidade ribeirinha foi possível observar a presença de imagens de
santos diretamente sobre a mesa ou dentro de oratórios, geralmente na
sala, caracterizando a forte ligação com o catolicismo. Além dos santos
de devoção de cada família, cada comunidade tem uma devoção coletiva,
um santo padroeiro reverenciado nas capelas e levado de casa em casa
(FERREIRA, 2010).
31
Religião
1
Bairro
Santa Isabel
Cristo Rei
Bonsucesso
Água Vermelha
8
0
15
9
0
23
5
1
40
8
18
Número de Informantes
Sem religião
Evangélica
Católica
FIGURA 14 – RELIGIÃO DOS INFORMANTES DOS BAIRROS
(AV, BS, CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
4.2. PERFIL CULTURAL E AMBIENTAL DOS BAIRROS
4.2.1. As Unidades de Paisagens
4.2.1.1. Cerrado
A utilização de plantas do cerrado para alimentação, remédio,
madeira e lenha, entre outras, está presente no cotidiano da população,
sobretudo para as mais antigas desse estudo. Desta forma, diversos
informantes, procedentes principalmente da zona rural, relataram ter
conhecimento a respeito de plantas nativas. Entretanto, mesmo que o
cultivo dessas espécies não se destaque nos quintais, observa-se o seu
uso através da coleta de produtos em outras áreas, próximas ou distantes
das residências.
4.2.1.2. Quintais
Os quintais urbanos dos quatro bairros da área de estudo (AV,
BS, CR, SI), em Várzea Grande, Mato Grosso (Figura 15), representam
uma unidade de paisagem de extrema importância devido às distintas
32
atividades nele realizadas: plantio de várias espécies e produção de
alimentos; criação de pequenos animais, alguns utilizados para o próprio
sustento e para um pequeno comércio; preparação de medicamentos
caseiros; espaço de trabalho, de lazer e de socialização, entre outros.
FIGURA 15 – VISTA PARCIAL DE QUINTAL NO BAIRRO CRISTO REI,
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora.
Para Amaral e Guarim Neto (2008) os quintais representam
além de um local de produção, visto que a multiplicidade dos trabalhos
domésticos ocorre nestes espaços. Assim, para diferentes moradores é
no quintal que se encontra a caixa d’água, a lavanderia, a cozinha, o jirau,
o forno e o pilão. Também é no quintal que se realizam rodas de
conversas, rezas, festas e danças. Deste modo podemos assegurar que
existe uma relação de afetividade entre os informantes e o ambiente que
os cercam, pois muitos se referem ao quintal como um espaço que
transmite conforto, beleza, afeto, liberdade, paz, saúde e bem-estar.
Neste contexto, os quintais mato-grossenses são espaços de
socialização com a presença de familiares, de amigos e de vizinhos. Pasa
33
(2004) afirma que o cultivo nos quintais além de proporcionar uma
alimentação saudável, gera baixa dependência de produtos externos,
reduz os impactos sobre o ambiente, mantém os recursos vegetais e a
riqueza cultural, motivada no saber e nos costumes dos moradores locais.
Nos bairros onde foi realizado o estudo, os quintais apresentam
tamanhos variados, desde áreas pequenas com poucos metros até áreas
grandes com mais de 300 m². Diversos informantes não souberam definir
ao certo a respectiva área do quintal, pois em alguns casos não possuem
uma delimitação com o vizinho. Geralmente a maior parte do quintal está
disposta nos fundos da residência, como foi observado também por Pasa
e Ávila (2010) em comunidade ribeirinha de Rondonópolis, Mato Grosso.
Assim, na comunidade ribeirinha Bonsucesso, local em que os
quintais são maiores que os dos outros bairros, os mesmos não possuem
uma área bem definida, pois em muitas famílias quando os filhos casam,
eles constroem suas moradias no mesmo terreno em que está a casa dos
pais, não havendo portanto, um espaço delimitado nesses quintais. Este
fato evidencia a razão de diversos informantes nascerem e continuarem
residindo na comunidade até mesmo depois de constituírem novas
famílias. Neste local, diversos quintais se prolongam até a beira do rio
Cuiabá, em alguns casos se misturam com a roça ou a mata.
Situação contrária ocorre no bairro Santa Isabel, onde os
quintais são pequenos e a maioria deles ficou menor ainda por motivo de
reformas e aumento no tamanho das residências. Mesmo assim, os
moradores desfrutam das áreas que restam do quintal.
Entretanto, nos bairros Água Vermelha e Cristo Rei, observouse uma diversidade nos tamanhos dos quintais variando em pequenos,
médios e grandes. Os quintais maiores, geralmente são de moradores
com idade mais avançada e com maior tempo de moradia no local.
Quanto ao porte das plantas presentes nos quintais observouse os estratos: herbáceo como plantas ornamentais, ervas medicinais e
hortaliças; porte intermediário, os arbustos, como bananeira, limoeiro,
mamoeiro e pitangueira; arbóreas, entre elas a mangueira, o abacateiro e
o cajueiro. Pasa (2007) considera a estrutura espacial dos elementos
34
vegetais encontrados nos quintais também em três estratos, quais sejam,
herbáceo, subdossel e dossel.
Segundo Nair (1993) ocorre uma similaridade entre os quintais
presentes nos trópicos, mesmo que fatores socioeconômicos, culturais e
ambientais determine a seleção de espécies vegetais. Acrescenta ainda
que a disposição de um subdossel seleciona as espécies tolerantes à
sombra, ou seja, que estão adaptadas a esses ambientes.
Os quintais também refletem a flora com seus valores culturais,
acompanham as pessoas em suas novas moradias, demonstrando o
anseio de se reportar os costumes e tradições do local de origem dessas
pessoas. Essas evidências ficam mais expostas à medida que
transportam consigo propágulos de plantas quando se mudam (SANTOS
e GUARIM NETO, 2008).
Os animais e os quintais
A população de um modo geral está habituada a conviver com
alguma espécie de animal (Figuras 16, 17, 18, 19). Desta forma, eles
estão presentes nos quintais da maioria das residências dos informantes
desempenhando diversas funções, entre elas: estimação, segurança,
consumo,
produção,
comercialização
e
transporte.
Dentre
as
comunidades estudadas, 82,5% dos informantes criam algum tipo de
animal e 17,5% afirmaram não possuir nenhuma espécie.
35
Animal
gato
7
galinha
5
codorna
1
cachorro
14
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Quantidade
FIGURA 16 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO
BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Vaca
6
Animal
Porco
2
Periquito
1
Galinha
12
Cachorro
12
Boi
6
0
2
4
6
8
10
12
14
Quantidade
FIGURA 17 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO
BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
36
Periquito
Animal
2
Gato
8
Galinha
5
Cachorro
14
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Quantidade
FIGURA 18 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO
BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Periquito
Animal
2
Gato
4
Cachorro
11
0
2
4
6
8
10
12
Quantidade
FIGURA 19 – QUANTIDADE DE ANIMAIS PRESENTES NOS QUINTAIS DO
BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
37
Quanto às instalações, a maioria dos animais citados vive solta
nos quintais, geralmente murados ou cercados. Apenas alguns deles
permanecem sem esta proteção, podendo a qualquer momento ir e vir.
Muitos informantes se referiram aos animais de estimação, o
cachorro (Canis familiaris), o gato (Felis catus) e o periquito (Brotogeris
tirica) com sentimento de carinho, ternura, amor e zelo. O cachorro além
de ser amigo e companheiro também foi mencionado muitas vezes como
uma forma de proteção para a casa e a família. Já o gato ajuda a manter
a casa longe dos ratos e os periquitos mesmo estando dentro de gaiolas
apresentam uma certa liberdade, pois elas ficam abertas em determinado
período do dia. Além disso, seus donos relataram que a conversa entre
eles (humano/ave) é como se fosse com outra pessoa.
As galinhas (Gallus gallus) e a codorna (Nothura maculosa)
vivem dentro de galinheiros ou solta no próprio quintal, tem como
finalidade a alimentação humana através da carne ou da produção de
ovos, podendo ser para consumo próprio ou para comercialização. O
porco (Sus domesticus), criado em local separado, também foi
mencionado para alimentação. Os bois (Bos taurus) foram citados na
comunidade BS como animais que ajudam no trabalho, transportando a
cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) da roça até o engenho, o
chamado ‘carro de boi’. As vacas (Bos taurus), no entanto fornecem o
leite que é comercializado na região ou utilizado no feitio de doce de leite
ou na rapadura de leite e cana-de-açúcar (espécie de rapadura feita de
doce de leite e rapadura de cana).
Rabelo Junior (2011) verificou na comunidade Passagem da
Conceição, em Mato Grosso, o uso da tração animal em épocas
passadas para o deslocamento de produtos até a região central de
Cuiabá com o objetivo de comercialização. Naquele período, os
produtores utilizavam cavalos, burros, e charretes, e alguns ainda faziam
esse percurso a pé.
A alimentação dos animais é basicamente ração e comida
(cães e gatos); milho, ração e restos de comida (galinhas); frutas e alpiste
(periquitos); ração (codorna); restos de comida (porco); pasto e bagaço de
cana-de-açúcar (bois e vacas).
38
Outro grupo de animal bastante citado pelos informantes na
comunidade ribeirinha BS é o peixe, muito apreciado na culinária local e
também a principal proteína presente na gastronomia típica da baixada
cuiabana, servida nas peixarias da comunidade.
De acordo com os informantes a pesca é basicamente
artesanal, para consumo familiar e as espécies mais mencionadas são o
pintado (Pseudoplatystoma sp), o pacu (Piaractus mesopotamicus) e o
piau (Leporinus sp). Entretanto, os peixes servidos nas peixarias da
comunidade ribeirinha têm diferentes procedências, podendo ser de
tanques próximos ao bairro ou de rios mais distantes e até de outros
municípios.
Os pescadores da comunidade BS utilizam a canoa de madeira
feita no local e alguns também pescam na barranca do rio Cuiabá. A isca
deve ser de acordo com o pescado que se deseja pegar, entre elas a
minhoca, o muçum e os peixes menores (VALENTINI et al., 2011). Alguns
informantes também relataram que utilizam uma ‘espécie de massa’ feita
com água e farinha de trigo como isca.
Para os membros da comunidade Bonsucesso a arte de pescar
é repassada de pais para filhos, ao longo dos anos, e muitos moradores
demonstram preocupação e a necessidade de manter o repasse desta
cultura para as futuras gerações.
4.2.1.3. Roça
Dentre os bairros estudados, a roça foi encontrada na
comunidade ribeirinha Bonsucesso. Nela são plantadas culturas vegetais
com o objetivo de obter uma maior produção para a subsistência familiar,
como Manihot esculenta Crantz (mandioca), Solanum tuberosum L.
(batata), Ananas comosus L. Merr. (abacaxi), Musa parasidiaca L.
(banana), Zea mays L. (milho), Saccharum officinarum L. (cana-deaçúcar). Estas espécies são geralmente usadas para comercialização ou
como matéria-prima, a exemplo a cana-de-açúcar para a produção da
rapadura (Figura 20).
39
FIGURA 20 – VISTA PARCIAL DA ROÇA COM CULTIVO DE CANA-DEAÇÚCAR NO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT.
2014. Fonte: acervo da autora.
Grande parte do cultivo de mandioca ocorre através de
propagação vegetativa e pode acontecer ao longo do ano. No estudo foi
verificado que a mandioca além de ser comercializada, principalmente em
feiras, é também utilizada na culinária tradicional da comunidade
ribeirinha, tanto nas residências quanto nas peixarias e ainda pode ser
processada utilizando-se um pilão para fazer a ‘puva’, como relata uma
moradora:
“... Eu faço a ‘puva’ prá passá no peixe antes de fritá. Tem que
socá aqui no pilão até ficá bem fina, essa farinha é muito melhor que
as outras, ela deixa o peixe mais saboroso, não puxa o óleo. Aqui a
gente não precisa comprá farinha no mercado. Aprendi a fazê isso
com minha mãe...” (Sra. A. M. M., 63 anos)
4.2.1.4. Matas ripárias
40
Além de seu papel ecológico, a presença das matas ripárias é
de grande importância para as comunidades regionais, tanto para
subsistência
familiar
através
de
alimentos,
remédios
e
outras
potencialidades, quanto para a permanência dos recursos nela existentes
através da conservação.
Assim, podemos confirmar o valor dessa unidade de paisagem
no dia-a-dia dos ribeirinhos de Bonsucesso, único bairro da área de
estudo que contempla esta vegetação, através da agricultura de
subsistência localizada nas bordas das matas e da coleta de produtos
(frutos, folhas, cascas, sementes e raízes) para fins alimentício e
medicinal. Outras atividades referentes ao trabalho dentro da mata
ocorrem através da coleta de lenha para combustão e a extração cultural
da espécie Guazuma ulmifolia Lam. (chico-magro), com a finalidade de
adicioná-la à garapa da cana-de-açúcar para promover a subida das
impurezas no momento da fervura, facilitando assim sua limpeza durante
o feitio da rapadura.
Para a maioria dos moradores da comunidade BS, a mata de
galeria faz parte de sua propriedade e/ou o quintal e a roça adentram esta
unidade de paisagem (Figura 21), por isso diversas espécies vegetais
nela existentes são muito úteis no cotidiano da população. Porém,
verificou-se que a coleta do produto da mata não se estabelece como
atividade principal e sim como complementar, especialmente através do
uso de remédios caseiros. Com relação à coleta de produtos vegetais da
mata, a principal forma de uso é a Medicinal, como exemplo as espécies
Siparuna guianensis Aubl (negramina), Strychnos pseudoquina A. St.-Hil
(quina) e Pterodon polygaliflorus (Benth.) (sucupira). Alguns informantes
confirmam através de relatos:
“... gosto de usá a negramina quando dá gripe... faz banho... ela
tira aquela quentura do corpo e aquele mal estar”. (Sra. G. M. S.,
60 anos, BS)
“... pra anemia a gente usa quina, chá de frade e fedegoso. É só
tomá direitinho que melhora. O chá de frade também é bom pra
acaba com verme, acaba com eles tudo. E a quina do cerrado é
bom pra curá hepatite. Se toma direito é melhor que remédio de
farmácia...” (Sra. L. R. S., 73 anos, BS)
41
FIGURA 21 – VISTA PARCIAL DA MATA RIPÁRIA ÀS MARGENS DO RIO
CUIABÁ NO BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE,
MT, 2014. Fonte: acervo da autora.
4.2.2. Etnobotânica, manejo e conservação das plantas
A origem do conhecimento sobre o uso das plantas,
especialmente as medicinais, foi através do conhecimento tradicional
familiar, principalmente com a mãe e as avós. Para outros informantes o
repasse de informações se deu com vizinhas, geralmente com idade mais
avançada e através de fontes externas, como a leitura de livros, revistas e
de programas de televisão (Figura 22).
A maior parte dos entrevistados afirmou que faz uso das
plantas medicinais sempre que é necessário, e ainda por acreditar que
elas não fazem mal à saúde. Toda vez que um familiar adoece e o
problema é considerado de menor gravidade, a primeira atitude é recorrer
aos chás (por infusão ou decocção), xaropes, compressas e outros. Caso
o tratamento inicial não obtenha bons resultados ou a doença se agrave o
médico é então procurado.
42
No bairro AV 90% dos informantes fazem o uso de plantas
medicinais. Destes, todos afirmaram que esse conhecimento foi
repassado pela família ao longo das gerações. Nas residências visitadas,
75% possuem algum cultivo de planta medicinal no quintal, as quais
utilizam e também repassam para vizinhos ou parentes quando
necessário. Contudo, mais da metade dos participantes afirmaram que
aprenderam a cultivar plantas com a mãe e alguns ainda informaram que
obtiveram esse conhecimento com as avós ou sozinhos.
Na comunidade ribeirinha BS 93% dos depoentes utilizam
plantas para o tratamento de doenças. A origem do etnoconhecimento é
principalmente tradicional familiar, entretanto a convivência com vizinhos,
principalmente idosos e programas na televisão também contribuem para
a transmissão desse saber. As plantas utilizadas como remédio são
encontradas frequentemente nos quintais e matas próximas às moradias.
Porém, quando não possuem, recorrem com vizinhos ou parentes mais
próximos. O saber sobre o cultivo de plantas é procedente sobretudo dos
pais, que nasceram e foram criados nesse meio e passaram o
etnoconhecimento para os filhos.
Percentual de informante
ORIGEM DO ETNOCONHECIMENTO
100%
100%
100%
90%
10%
Água Vermelha
15%
5%
5%
Bonsucesso
Cristo Rei
5% 5%
Santa Isabel
Bairro
Familiar
Vizinhos
Livros e TV
FIGURA 22 – ORGEM DO ETNOCONHECIMENTO DOS BAIRROS (AV, BS,
CR, SI). VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
43
No bairro CR o uso de plantas medicinais envolve 90% dos
informantes, sendo a origem desse conhecimento principalmente através
da família e para alguns moradores os livros e os programas de televisão
também contribuíram. Essas plantas estão presentes em 95% dos
quintais, porém também é comum compartilhar com vizinhos e parentes
próximos ou buscar em outra região. A maioria dos depoentes declararam
que aprenderam a cultivar plantas com os pais e os avós e que diversos
familiares mais idosos são procedentes da zona rural.
Em 90% dos informantes do bairro SI também foi verificado o
uso de plantas medicinais para tratamento de alguma enfermidade. Todos
os participantes que as utilizam afirmaram que esse conhecimento
provém da tradição familiar, principalmente com mães e avós. Entretanto
duas informantes relataram que também aprenderam com fontes externas
(livros, programas de televisão e com vizinhos). Nessas residências, 80%
apresentam espécies medicinais cultivadas nos quintais, porém quando
não possuem, buscam em outros locais (raizeiro, parentes, vizinhos,
terrenos próximos). A maior parte dos participantes também aprenderam
a plantar com os pais e alguns obtiveram esse conhecimento com
pessoas mais antigas, sozinhos ou ainda por fontes externas (televisão e
livros).
A forma de preparo das plantas usadas como remédio foi
diversificada, contudo o chá através da infusão foi o mais citado com
33%, seguido da forma macerada (15%), do chá na forma de decocção
(13%), misturado com água (8%), in natura e banho (7% cada uma),
misturado com álcool (6%), as demais formas de preparo obtiveram
pencentual inferior a 5% (Figura 23, 24, 25, 26). Alguns participantes
informaram que as partes mais rígidas das plantas como raízes, sementes
e cascas podem ser fervidas, enquanto que as mais macias não devem
e/ou necessitam passar por esse método.
Quanto
à
transmissão
desse
conhecimento,
todos
os
informantes afirmaram que os mais jovens não têm interesse em aprender
a respeito de plantas medicinais na terapêutica tradicional. Kffuri (2008)
também verificou em Senador Firmino, Minas Gerais, que os indivíduos
44
mais jovens não demonstram importância em obter esse conhecimento.
Os relatos a seguir confirmam esses dados:
“Aprendi tudo sobre as planta com minha mãe. Os jovem de hoje
não querem sabê de tratá doença com planta... qualquer gripe ou
dor de garganta eles já correm pra farmácia pra comprá remédio”.
(Sra. R.B.R., 68 anos – CR).
“Hoje as pessoas prefere í logo na farmácia compra um tanto de
remédio e pagá caro... muitas vezes ele faz mal e até piora outra
coisa... a juventude não qué sabê de remédio de planta não. Eles
não acredita no poder que as planta tem”. (Sra. M.A.F.B., 70 anos
– SI)
Misturado no
álcool
2%
Banho
2%
Triturado Xarope
11%
5%
Compressa
2%
Decocção
16%
Misturado na água
11%
Macerado
14%
Infusão
37%
Banho
Decocção
Macerado
Misturado no álcool
Compressa
Infusão
Misturado na água
Triturado
FIGURA 23 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO
REMÉDIO NO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014.
45
Misturado no álcool Triturado
4%
4%
Misturado com
água
7%
Banho
11%
Compressa
2%
Decocção
9%
Emplasto
2%
Macerado
18%
In natura
7%
Infusão
36%
Banho
Emplasto
Macerado
Triturado
Compressa
Infusão
Misturado com água
Decocção
In natura
Misturado no álcool
FIGURA 24 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO
REMÉDIO NO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE,
MT. 2014.
Triturado
6%
Mistura com álcool
2%
Banho
7%
Xarope
4%
Compressa
2%
Decocção
17%
Mistura com água
11%
Macerado
17%
Infusão
34%
Banho
Compressa
Decocção
Infusão
Macerado
Mistura com água
Mistura com álcool
Triturado
Xarope
FIGURA 25 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO
REMÉDIO NO BAIRRO CRISTO REI, VÁRZEA GRANDE,
MT. 2014.
46
Triturado
6%
Xarope
4%
Banho
10%
Compressa
8%
Mistura na água
11%
Decocção
11%
Macerado
17%
Emplasto
2%
Infusão
31%
Banho
Compressa
Decocção
Emplasto
Macerado
Mistura na água
Triturado
Xarope
Infusão
FIGURA 26 - FORMAS DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO
REMÉDIO NO BAIRRO SANTA ISABEL, VÁRZEA GRANDE,
MT. 2014.
As plantas medicinais são utilizadas como remédios caseiros,
sendo a folha a parte vegetal com maior número de citações (86). Desta
maneira, ocorre a conservação da planta para usos continuados já que
não compromete o crescimento e reprodução da espécie com a coleta
das folhas. Outras partes vegetais, entre elas a casca (29), o fruto (28), a
raiz (21), a semente (12), a flor e o caule (11 citações cada uma) e o broto
(nove citações) também são utilizados, porém com menor frequência.
Para Maciel e Guarim Neto (2008) o etnoconhecimento não se
limita somente ao uso de plantas medicinais, mas às demais
etnocategorias e, além disso, ao prazer pelo ambiente rural.
Quanto ao manejo, é realizado com práticas de cultivo simples
e de baixo custo. A manutenção do quintal é predominantemente feminina
nos quatro bairros estudados, porém, outros membros da família também
realizam esta tarefa (Figura 27). No bairro Bonsucesso, ocorre destaque
de toda a família para os cuidados com o quintal.
O papel das mulheres é essencial na manutenção e na seleção
das espécies a serem cultivadas, principalmente das medicinais,
ornamentais e aquelas usadas como temperos. Às mulheres cabe varrer,
47
juntar as folhas, irrigar as plantas, plantar, replantar, entre outras, e,
muitas mencionam esses cuidados como uma forma de lazer. Já para os
serviços mais pesados, principalmente nos quintais de maior porte
compete aos homens, o roçar, por exemplo.
Alguns cuidam do quintal diariamente, no entanto outros
dispensam atenção de forma semanal ou mensal, de acordo com a
necessidade de cada um e a época do ano.
14
Número de informantes
11 11
11
11
9
8
6 6
3
6
2
3
1 1
Bairro Água Vermelha
Bairro Bonsucesso
6
5
2
1
Bairro Cristo Rei
2
3
1
Bairro Santa Isabel
Resposável pela manutenção do quintal
Mulher
Homem
Casal
Família
Filho
Neto
Outro (pago)
FIGURA 27 – MANUTENÇÃO DO QUINTAL NOS BAIRROS (AV, BS, CR, SI).
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Diversos estudos referentes a quintais também apresentam o
gênero feminino com a maior relação entre a manutenção do quintal,
como exemplo na obra de Guarim Neto e Carniello (2008) que estudaram
os quintais mato-grossenses.
Segundo os moradores locais é no período da seca que o
trabalho é maior para a manutenção do quintal, pois as folhas das árvores
caem e é preciso varrer com frequência. Irrigar diariamente as plantas
para evitar que elas sequem e morram também é outro cuidado
indispensável neste período porém, a maioria dos informantes afirmam
ser prazeroso esse zelo com o quintal. As regas são realizadas ao
48
amanhecer ou ao entardecer, quando o sol está mais fraco. Para esta
tarefa são usadas mangueiras, baldes e regadores. Em Bonsucesso,
além desses utensílios, também é utilizado a casca do fruto da cabaça
(Crescentia alata Kunth), tanto para colocar água e molhar as plantas,
quanto para colocar milho e alimentar as galinhas. A atividade de poda
ocorre de acordo com a necessidade e características fenológicas de
cada espécie no quintal.
Para vários informantes do bairro Bonsucesso, as folhas
varridas são amontoadas ou colocadas num buraco e deixadas ao tempo,
para secar com o sol e umedecer com a chuva e, posteriormente, virar
‘adubo natural’, assim chamado pelos ribeirinhos. Outros relataram que
colocam as folhas ao redor do tronco das árvores ou dentro de lata de
alumínio para queimar, pois as cinzas também servem de adubo. Alguns
informantes deste bairro contaram que jogam as folhas perto da barranca
do rio e assim, faz fortalecer o solo ribeirinho.
Entretanto, nos bairros Água Vermelha, Cristo Rei e Santa
Isabel, alguns moradores aproveitam as folhas para fortalecer o solo,
enquanto outros juntam as folhas e restos de capinas em sacolas e
descartam com o lixo da casa.
Pasa (2007) também verificou em sua área de estudo, na
comunidade de Bambá, município de Cuiabá, Mato Grosso, a técnica de
combustão parcial das folhas, e acrescenta que, posteriormente, as
cinzas são misturadas com pedaços de folhas e despejadas no solo
jogando-se terra por cima. Quando vem as chuvas o restante das folhas
entra em decomposição e transforma-se em ‘adubo natural’.
Quando chega o tempo das águas, a manutenção do quintal
fica por conta de outros motivos, conforme relato de informantes:
“Aqui em casa dá mais trabalho cuidá do quintal na época da
chuva porque o ‘mato’ cresce muito rápido... sempre tem que carpi
pra deixá tudo limpinho... e ainda se dá vento as manga caem e é
preciso sempre fica juntando”. (Sra. A.C.S., 56 anos – BS)
“Nesse tempo de chuva cria muito lodo na calçada. É pou causa
da sombra das árvore e da calçada molhada... tem que ficá
lavando de escova e onde tem terra junta muito barro... não é fácil
mantê tudo limpo, mas é preciso”. (Sra. J.A.O., 53 anos – CR)
49
Estes quintais são ambientes com baixa taxa de defensivos,
sua manutenção em geral é realizada com métodos manuais e de baixo
impacto ambiental. Muitos informantes usam insumos naturais nas
plantas, entre eles o esterco de boi, bagaço de cana, cinza, restos
vegetais e terra preta. O uso do bagaço de cana é comum no bairro
Bonsucesso, pois é cultivado nas roças desta região. Da unidade
amostral 75% não utilizam produtos químicos, entretanto aqueles que
fazem o uso de defensivos alegaram que servem para combater as
formigas, os cupins, os carrapatos, o mato ou como adubo químico para
as plantas.
A maioria das plantas presentes nos quintais é adquirida
através de doação ou troca com vizinhos e parentes. Desta forma, o
quintal é um espaço de socialização entre os moradores de uma
comunidade e entre familiares. Assim ocorre com a etnocategoria
ornamental, várias espécies são procedentes de outras localidades,
geralmente trazidas por um parente.
As plantas que nascem espontaneamente ou por meio de
rebrota daquelas já existentes são conservadas, principalmente por
possuírem alguma finalidade etnobotânica.
Os relatos de alguns informantes evidenciam o valor da
conservação dos recursos naturais que mesmo morando na cidade são
para eles fundamentais. O orgulho que estas pessoas demonstram por ter
suas origens no campo, na zona rural e deste lugar ter retirado seu
alimento é ressaltado a seguir:
“Sempre eu gostei de plantá. Desde quando era pequena e
morava na roça meu pai ensinava que se nós cuidava das planta
elas dava o sustento pra nós”. (Sra. A.L.S., 64 anos - CR)
“Criei todos meus filho com o trabalho na roça... com a criação de
animal... com a plantação... Tenho orgulho de ter vindo de lá.
Mudei porque meu marido ficou doente e precisava trata na
cidade. As pessoas tinham que dá mais valor pra isso...” (Sra.
G.R., 70 anos - AV)
4.2.3. Etnocategorias e Consenso do Uso das Plantas
50
Na área de estudo os quintais estão organizados de acordo
com o espaço disponível e o manejo que cada morador propõe. Assim,
eles podem ser utilizados nas mais variadas formas por uma comunidade.
Através do levantamento etnobotânico realizado identificou-se
249 espécies vegetais distribuídas em 84 famílias botânicas. As plantas
citadas pelos informantes foram distribuídas em quatro categorias de uso:
(1) Alimentar – podendo ser in natura ou processado; (2) Medicinal –
subproduto utilizado para diferentes tratamentos, prevenção e cura de
doenças, de acordo com a medicina popular; (3) Ornamental –
relacionada à estética e beleza do ambiente; (4) Outros usos – reúnem
outras categorias, como lenha, madeira, proteção e sombra.
Pasa (2007) ressalta que a etnocategoria de uma planta pode
ter valor acumulativo. Portanto, uma espécie vegetal pode pertencer a
diferentes categorias de uso. Assim ser utilizada como alimentar,
medicinal e ornamental e, o valor de uso de uma planta é diretamente
proporcional ao seu número de usos.
Para este trabalho optou-se por separar as espécies de acordo
com seu uso em cada bairro da área de estudo (Tabelas 2, 3, 4, 5).
4.2.3.1. Bairro Água Vermelha
No bairro Água Vermelha (Figura 28) do total de 27
informantes, poucas pessoas sabem sobre a história de como iniciou a
sua formação demográfica. Talvez isso pode ser explicado pelo fato de
que 55% deles residem no local há menos de dez anos, e outros ainda
não despertaram curiosidade em adquirir este conhecimento.
Os informantes mais antigos disseram que só havia alguns
barracos de tábua quando ali chegaram e que posteriormente novas
moradias foram construídas com adobe. Tudo era muito precário, quando
os pais de alguns moradores chegaram, os mesmos tiveram que abrir
caminho com foice para entrar, pois era só matagal, não havia água
encanada, nem energia elétrica e as poucas ruas, que mais pareciam
caminhos, eram esburacadas. Hoje o bairro possui a maioria das ruas
51
asfaltadas e conta com água tratada, energia elétrica, comércio, escolas,
igrejas entre outras.
De acordo com os informantes a principal festa realizada para
a comunidade de AV é de caráter religioso na Igreja Nossa Senhora das
Graças. Outras comemorações menores ocorrem nas Escolas, entre elas
Festa Junina, comemoração para o Dia das Mães e para o Dia das
Crianças, principalmente para a própria comunidade escolar.
FIGURA 28 – RUA BOA VISTA, BAIRRO ÁGUA VERMELHA. VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora.
A Tabela 1 apresenta as 126 espécies utilizadas pelos
informantes do bairro Água Vermelha distribuídas em 63 famílias
botânicas.
As famílias botânicas de maior representatividade foram:
Asteraceae e Lamiaceae (oito espécies cada), Solanaceae e Fabaceae
(sete espécies cada), Araceae e Myrtaceae (cinco espécies cada). Rocha
(2013) também encontrou as famílias Asteraceae, Fabaceae, Lamiaceae
e Solanaceae como as mais expressivas em seu estudo na comunidade
52
de Saloba Grande em Porto Estrela, Mato Grosso.
Oliveira (2012),
pesquisando os quintais na comunidade de Santo Antonio do Caramujo
em
Cáceres,
Mato
Grosso,
refere-se
às
famílias
com
maior
representatividade Lamiaceae, Asteraceae, Rutaceae, Cucurbitaceae,
Solanaceae e Fabaceae. A família Fabaceae encontra-se distribuída em
todos os biomas brasileiros, sendo a mais representativa, ultrapassando a
19 mil espécies (LEWIS et al., 2005).
A frequência relativa de concordância quanto aos usos
principais (Pcusp) apresentou 13% das espécies com valor igual ou maior
que 50%. Entre essas espécies estão: manga (Mangifera indica L.) com
70%; babosa (Alloe vera (L.) Burm f.), capim-cidreira (Cymbopogon
citratus (DC.) Stapf.), espada-de são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain),
orquídea (Orchis L.) e quebra-pedra (Phyllanthus orbiculatus Rich.), com
60% cada; acerola (Malpighia glabra L.), anador (Justicia pectoralis
Jacq.),
avenca
(Adiantum
aleuticum
(Rupr.)
C.A.
Paris),
boldo
(Plectranthus barbatus Andrews), caju (Anacardium occidentale L.),
hortelã (Mentha villosa Becker), romã (Punica granatum L.) e samambaia
(Nephrolepis biserrata (SW.) Schott), com 50% cada.
53
TABELA 2 – PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA GRANDE – MT,
2014. VALOR RELATIVO DE CONCOR DÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA
ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS
INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE
CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS.
“continua...”
Nome Popular
Manga
Babosa
Capim-cidreira
Espada-de-sãoJorge
Orquídea
Quebra-pedra
Anador
Avenca
Boldo
Caju
Hortelã
Romã
Samambaia
Acerola
Alfavaca
Algodão
Nome Científico
Mangifera indica L.
Alloe vera (L.) Burm f.
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.
Família
Categoria
de Uso
Hábito
Fsp
Fid
NF
FC
Pcusp
(%)
Anacardiaceae
Xanthorrhoaceae
Poaceae
A Ou
M
M
Ar
He
He
9
10
8
7
6
6
77
60
75
0,9
1
0,8
70
60
60
Sansevieria trifasciata Prain
Orchis sp.
Phyllanthus orbiculatus Rich.
Justicia pectoralis Jacq.
Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A.
Paris
Plectranthus barbatus Andrews
Anacardium occidentale L.
Mentha villosa Becker
Punica granatum L.
Nephrolepis biserrata (SW.) Schott
Malpighia glabra L.
Ocimum basilicum L.
Gossypium hirsutum L.
Asparagaceae
Orchidaceae
Phyllanthaceae
Acanthaceae
O Ou
O
M
M
He
He
Ra
He
8
6
6
7
6
6
6
5
75
100
100
71
0,8
0,6
0,6
0,7
60
60
60
50
Pteridaceae
Lamiaceae
Anacardiaceae
Lamiaceae
Pucicaceae
Davalliaceae
Malpighiaceae
Lamiaceae
Malvaceae
O
M
AM
AM
AM
O
AM
M
M
He
He
Ar
He
Ab
He
Ab
He
Ab
5
8
8
7
8
5
6
6
6
5
5
5
5
5
5
4
4
4
100
63
62
71
62
100
66
66
66
0,5
0,8
0,8
0,7
0,8
0,5
0,6
0,6
0,6
50
50
50
50
50
50
40
40
40
54
Ata
Bocaiuva
Cacto
Camomila
Caninha-do-brejo
Cebolinha
Coco-da-baía
Erva-de-santamaria
Goiaba
Hortelãzinha
Jabuticaba
Jatobá
Laranja
Lírio
Mandioca
Pimenta-bodinho
Pimenta-dedo-demoça
Primavera
Quina
Rosa
Terramicina
Tomate
Noni
Abiu
Alecrim
Banana
Annona squamosa L.
Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex
Mart.
Cereus peruvianus (L.) Mill.
Matricaria reticulita L.
Costus spicatus (Jacq.) Sw
Allium fistulosum L.
Cocos nucifera L.
Annonaceae
A
Ab
4
4
100
0,4
40
Arecaceae
Cactaceae
Asteraceae
Costaceae
Amaryllidaceae
Arecaceae
M
O
M
M
A
AMO
Ar
Ab
He
He
He
Pa
6
4
7
6
4
6
4
4
4
4
4
4
66
100
57
66
100
66
0,6
0,4
0,7
0,6
0,4
0,6
40
40
40
40
40
40
Coronopus didymus (L.) Smith.
Psidium guajava L.
Mentha pulegium L.
Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg
Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex
Hayne.
Citrus sinensis L. Osbeck
Spathiphyllum wallisii Regel
Manihot esculenta Crantz
Capsicum chinense Jacq.
Capsicum baccatum
var. pendulum (Willd.) Eshbaugh
Bougainvillea glabra Choisy
Strychnos pseudoquina A. St. -Hil.
Rosa sp.
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
Solanum lycopersicum L.
Morinda citrifolia L.
Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk.
Rosmarinus officinalis L.
Musa parasidiaca L.
Brassicaceae
Myrtaceae
Lamiaceae
Myrtaceae
M
A M Ou
M
A M Ou
He
Ar
He
Ar
6
6
4
6
4
4
4
4
66
66
100
66
0,6
0,6
0,4
0,6
40
40
40
40
Caesalpiniaceae
Rutaceae
Araceae
Euphorbiaceae
Solanaceae
M Ou
A M Ou
O
A
A
Ar
Ar
He
He
He
6
8
4
4
4
4
4
4
4
4
66
50
100
100
100
0,6
0,8
0,4
0,4
0,4
40
40
40
40
40
Solanaceae
Nyctaginaceae
Loganiaceae
Rosaceae
Amaranthaceae
Solanaceae
Rubiaceae
Sapotaceae
Lamiaceae
Musaceae
A
O
M
O
M
A
M Ou
M
M
AM
He
Ab
Ar
He
He
Tr
Ab
Ar
He
He
4
4
5
4
5
4
5
3
5
4
4
4
4
4
4
4
4
3
3
3
100
100
80
100
80
100
80
100
60
75
0,4
0,4
0,5
0,4
0,5
0,4
0,5
0,3
0,5
0,4
40
40
40
40
40
40
40
30
30
30
55
Barbatimão
Buxinho
Cabeluda
Cana-de-açúcar
Cancerosa
Chapéu-de-couro
Colônia
Comigo-ninguémpode
Copo-de-leite
Erva-de-bicho
Ipê amarelo
Ipê roxo
Jaca
Jambo
Losna
Manjericão
Milho
Stryphnodendron adstringens (Mart.)
Coville
Buxus sempervirens L.
Eugenia cabelludo Kiaersk.
Saccharum officinarum L.
Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek
Echinodorus macrophyllus Miq.
Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt &
R. M.
Dieffenbachia amoena Bull.
Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng.
Polygonum hydropiperoides Michx.
Tabebuia ochracea Standl.
Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo
Artocarpus integrifolia L. f.
Eugenia malaccensis L.
Artemisia absinthium L.
Ocimum basilicum L.
Zea mays L.
Dypsis lutescens (H.Wendl.) Beentje
Palmeira
& J.Dransf.
Beaucarnea recurvata Lem.
Pata-de-elefante
Bidens pilosa L.
Picão
Pimenta-malagueta Capsicum frutescens L.
Duranta erecta L.
Pingo-de-ouro
Bougainvillea spectabilis Willd.
Três-marias
Persea americana Mill.
Abacate
Ananas comosus (L.) Merr.
Abacaxi
Cucurbita moschata Dusch.
Abóbora
Fabaceae
Buxaceae
Myrtaceae
Poaceae
Celastraceae
Alismataceae
M Ou
O
O
A
M
M
Ar
Ab
Ab
He
He
He
5
3
3
5
3
5
3
3
3
3
3
3
60
100
100
60
100
60
0,5
0,3
0,3
0,5
0,3
0,5
30
30
30
30
30
30
Zingiberaceae
M
He
3
3
100
0,3
30
Araceae
Araceae
Polygonaceae
Bignoniaceae
Bignoniaceae
Moraceae
Myrtaceae
Asteraceae
Lamiaceae
Poaceae
O Ou
O
M
M O Ou
M O Ou
A Ou
A Ou
M
A
A
He
He
He
Ar
Ar
Ar
Ar
He
He
He
5
3
5
5
6
5
3
4
3
5
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
60
100
60
60
50
60
100
75
100
60
0,5
0,3
0,5
0,5
0,6
0,5
0,3
0,4
0,3
0,5
30
30
30
30
30
30
30
30
30
30
Arecaceae
Asparagaceae
Asteraceae
Solanaceae
Verbenaceae
Nyctaginaceae
Lauraceae
Bromeliaceae
Cucurbitaceae
O
O
M
A
O
O
A M Ou
AM
AM
Pa
He
He
He
Ab
Ab
Ar
He
Ra
3
3
3
3
3
3
4
3
5
3
3
3
3
3
3
2
2
2
100
100
100
100
100
100
50
66
40
0,3
0,3
0,3
0,3
0,3
0,3
0,4
0,3
0,5
30
30
30
30
30
30
20
20
20
56
Alface
Anis-estrelado
Arruda
Batata
Beijo
Brinco-de-princesa
Caiapiá
Cajá-manga
Carambola
Cardo-santo
Douradinha
Erva-cidreira
Espirradeira
Fedegoso
Flor-de-maio
Fruta-pão
Funcho
Gengibre
Girassol
Guiné
Hortênsia
Jamelão
Jasmim
Jucá
Jurema
Lichia
Limão
Malva-branca
Lactuca sativa L.
Illicium verum Hook. f.
Ruta graveolens L.
Solanum tuberosum L.
Impatiens walleriana Hook. f.
Fuchsia hybrida hort. ex Siebert &
Voss
Dorstenia cayapia Vell.
Spondias mombin L.
Averrhoa carambola L.
Argemone mexicana L.
Waltheria douradinha A. St.-Hil.
Melissa officinalis L.
Nerium oleander L.
Senna occidentalis (L.) Link
Zygocactus truncatus (Haw.) K.
Schum.
Artocarpus altilis (Parkinson) Fosberg
Foeniculum vulgare Mill.
Zingiber officinale Roscoe
Helianthus annuus L.
Petiveria alliacea L.
Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser.
Syzygium jambolanum (Lam.) DC.
Jasminum nitidum Skan
Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul.
Pithecellobium tortum Mart.
Litchi chinensis Sonn.
Citrus limon (L.) Osbeck
Malva palviflora L.
Asteraceae
Schisandraceae
Rutaceae
Solanaceae
Balsaminaceae
A
M
M Ou
A
O
He
Ar
He
Ra
He
2
3
3
2
2
2
2
2
2
2
100
66
66
100
100
0,2
0,3
0,3
0,2
0,2
20
20
20
20
20
Onagraceae
Moraceae
Anacardiaceae
Oxalidaceae
Papaveraceae
Malvaceae
Lamiaceae
Apocynaceae
Fabaceae
M
M
A
AM
M
M
M
O
M
Ab
He
Ar
Ab
He
He
He
Ab
Ab
2
3
2
3
2
2
4
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
100
66
100
66
100
100
50
100
100
0,2
0,3
0,2
0,3
0,2
0,2
0,4
0,2
0,2
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Cactaceae
Moraceae
Apiaceae
Zingiberaceae
Asteraceae
Phytolaccaceae
Hydrangeaceae
Myrtaceae
Oleaceae
Fabaceae
Fabaceae
Sapindaceae
Rutaceae
Malvaceae
O
M
AM
AM
AMO
M Ou
O
M Ou
O
M Ou
Ou
AM
AM
M
He
Ab
He
He
He
He
He
Ar
Tr
Ar
Ab
Ar
Ar
He
3
3
3
3
5
3
2
3
2
3
3
3
3
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
66
66
66
66
40
66
100
66
100
66
66
66
66
100
0,3
0,3
0,3
0,3
0,5
0,3
0,2
0,3
0,2
0,3
0,3
0,3
0,3
0,2
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
57
Mamão
Marcela
Neen
Nóz vômica
Paratudo
Pariparoba
Pimenta
Pocã
Poejo
Quiabo
Rosa-do-deserto
Sangra d'água
Sete-sangrias
Unha-de-gato
Urucum
Alho japonês
Antúrio
Berinjela
Caferana
Cavalinha
Couve
Erva doce
Ingá
Inhame
Negramina
Pata-de-vaca
Pau-brasil
Taioba
Carica papaya L.
Achyrocline satureioides (Lam.) DC.
Azadirachta indica A. Juss.
Strychnos nux-vomica L.
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth.
& Hook. f ex S. Moore
Piper peltatum L.
Capsicum albescens Kuntze
Citrus reticulata Blanco
Mentha pulegium L.
Abelmoschus esculentus (L.) Moench
Adenium obesum (Forssk.) Roem.
Croton salutares Muell. Arg. Baill.
Cuphea carthagenensis (Jacq.) J.F.
Macbr.
Uncaria tomentosa (Willd.) DC.
Bixa orellana L.
Allium tuberosum Rottler ex Spreng.
Anthurium andraeanum Linden
Solanum mammosum L.
Vernonia polyanthes (Spreng.) Less
Equisetum arvense L.
Brassica oleracea L.
Foeniculum vulgare Mill.
Inga speciosa M. Martens & Galeotti
Dioscorea cayenensis Lam.
Siparuna guianensis Aubl.
Bauhinia forficata Link
Caesalpinia echinata Lam.
Xanthosoma sagittifolium (L.) Schott
Caricaceae
Asteraceae
Meliaceae
Loganiaceae
AM
M
M Ou
M
Ab
He
Ar
He
3
2
3
2
2
2
2
2
66
100
66
100
0,3
0,2
0,3
0,2
20
20
20
20
Bignoniaceae
Piperaceae
Solanaceae
Rutaceae
Lamiaceae
Malvaceae
Apocynaceae
Euphorbiaceae
M Ou
M
A
A
M
AM
O
M Ou
Ar
Ar
He
Ar
He
He
He
Ar
4
2
2
2
4
3
2
3
2
2
2
2
2
2
2
2
50
100
100
100
50
66
100
66
0,4
0,2
0,2
0,2
0,4
0,3
0,2
0,3
20
20
20
20
20
20
20
20
Lythraceae
Rubiaceae
Bixaceae
Amaryllidaceae
Araceae
Solanaceae
Asteraceae
Equisetaceae
Brassicaceae
Apiaceae
Fabaceae
Dioscoreaceae
Siparunaceae
Fabaceae
Fabaceae
Araceae
M
M
AM
AM
O
AM
M
M
AM
M
A Ou
A
M
M O Ou
O Ou
AM
He
Ab
Ab
He
He
He
Ab
He
He
He
Ar
He
Ar
Ab
Ar
He
3
3
3
2
1
2
2
2
2
1
2
1
1
3
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
66
66
66
50
100
50
50
50
50
100
50
100
100
33
50
50
0,3
0,3
0,3
0,2
0,1
0,2
0,2
0,2
0,2
0,1
0,2
0,1
0,1
0,3
0,2
0,2
20
20
20
10
10
10
10
10
10
10
10
10
10
10
10
10
58
Scoparia dulcis L.
Vassourinha
Plantaginaceae
M
He
2
1
50
0,2
Gerbera sp.
Asteraceae
Gérbera
O
He
2
1
50
0,2
Legenda: Categorias de uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra).
Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador.
59
10
10
Quanto às etnocategorias de uso, a Medicinal destacou-se com
64% das espécies, seguida da Alimentar com 36% e da Ornamental com
24% (Figura 29). Já para a categoria Outros usos, o percentual foi de
20%. O destaque para medicinais evidencia a importância que os
informantes atribuem à flora, principalmente com relação à busca de
tratamento para doenças através da medicina tradicional.
Entretanto, algumas espécies apresentam uma utilização mais
diversificada, como por exemplo, abacate (Persea americana Mill.), cocoda-baía (Cocos nucifera L.), goiaba (Psidium guajava L.), jabuticaba
(Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg), laranja (Citrus sinensis L. Osbeck) e
pata de vaca (Bauhinia forficata Link), com três usos cada.
90
Número de Citações
80
70
60
50
81
40
30
45
20
30
25
10
0
Alimentar
Medicinal
Ornamental
Outros usos
Etnocategorias de Uso
FIGURA 29 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS
INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA VERMELHA, VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014.
Guarim Neto e Amaral (2010) através de um levantamento
realizado no município de Rosário Oeste, Mato Grosso, encontraram 266
espécies vegetais distribuídas em 85 famílias botânicas, destacando a
categoria Medicinal (103 espécies), seguida da Alimentar (97 espécies) e
60
da Ornamental (79 espécies), sendo as mais representativas a
Asteraceae, Euphorbiaceae, Lamiaceae e Araceae.
Rabelo Junior (2011) observou que a maior parte das plantas
utilizadas na Comunidade Passagem da Conceição, Mato Grosso, são
destinadas para fins medicinais. Em Nobres, Mato Grosso, Guarim Neto
et al. (2013) também evidenciaram um número maior de plantas com
finalidades medicinais. Os mesmos autores salientam que a categoria
Medicinal ocupa uma posição em destaque, pois além da flora natural do
cerrado ser diversificada o cultivo de novas espécies por diferentes
comunidades faz aumentar esta categoria.
Pasa et al. (2011) em Bom Jardim, também em Mato Grosso,
estudando plantas medicinais obtiveram 86 espécies distribuídas em 41
famílias botânicas, onde as mais significativas foram Fabaceae,
Mimosaceae e Caesalpiniaceae, sendo o hábito arbóreo como o mais
representativo, seguido do herbáceo e do arbustivo.
No bairro Água Vermelha, o hábito herbáceo destacou-se
perante os demais com 68 espécies e representando mais da metade das
espécies citadas (Figura 30). Número bem superior ao hábito arbóreo
(segundo mais citado) e arbustivo (terceiro mais citado) com 29 e 22
espécies, respectivamente. Aspecto semelhante foi encontrado por
Oliveira (2012) na comunidade Santo Antônio do Caramujo, Mato Grosso.
Palmeira
1%
Rasteiro
1%
Trepador
1%
Arbóreo
24%
Arbustivo
18%
Herbáceo
55%
Arbóreo
Arbustivo
Herbáceo
Palmeira
Rasteiro
Trepador
FIGURA 30 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO
CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO ÁGUA
VERMELHA. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
61
Plantas utilizadas como medicinais e herbáceas na maioria,
frequentemente estão presentes nos quintais urbanos e podem aparecer
intercaladas com hortaliças para o próprio consumo (GUARIM NETO et
al., 2010).
A seguir, são apresentadas diversas fotos (Figura 31)
realizadas em diferentes momentos, durante o estudo no Bairro Água
Vermelha: escola, quintal, entrevista, plantas medicinais cultivadas
diretamente no solo, poço, plantas ornamentais em vasos e no solo,
moradores do bairro, árvores frutíferas.
62
A
B
C
D
E
F
G
H
FIGURA 31 - A - Escola pública do bairro AV; B - Quintal com cultivo de plantas
ornamentais; C - Entrevista com informante; D - Cultivo de planta medicinal; E - Poço
no quintal da residência; F - Quintal com Mangifera indica L.; G - Informante mostrando
cultivo de plantas ornamentais e medicinais; H - Quintal com árvores frutíferas.
63
4.2.3.2. Bairro Bonsucesso
Segundo relatos de moradores antigos locais, as terras onde
se localiza o bairro Bonsucesso (Figura 32) pertenciam, no século XIX, a
Justino Antônio da Silva Claro, fazendeiro que possuía empregados e
escravos. Seus herdeiros repartiram a área e nela fizeram suas criações e
lavoura, sendo a cana-de-açúcar a principal plantação, da qual se
produzia aguardente de alambique, além do “açúcar de barro”, espécie de
açúcar mascavo, muito apreciado nos primórdios da vida no estado de
Mato Grosso (SILVA, 2011).
As comunidades ribeirinhas da
Baixada Cuiabana
são
apontadas por instalar um conglomerado de moradias alinhadas
paralelamente ao curso do rio (FERREIRA, 2010). Oliveira (2012) destaca
que, em determinados pontos da rua da Beira é possível ver o rio Cuiabá,
os portos de canoa e os pescadores em atividade. Segundo os depoentes
da comunidade, 60% conhecem a história da origem do bairro,
principalmente aqueles com maior idade, conforme relato:
“... Havia um senhor de engenho que cultivava arroz, cana-deaçúcar e outras culturas... tudo o que ele plantava dava numa
excelente colheita. Era um sucesso. Isso foi passando de um para
outro e, por fim deram o nome do bairro de ‘Bonsucesso’ ou ‘Bom
Sucesso...” (Sr. A. C. S., 58 anos)
Outra depoente narrou que essa região era do seu bisavô e
naquela época os índios andavam por lá e também os ciganos. E foi
assim que iniciou o bairro.
Quanto ao aspecto cultural, várias festas são realizadas pela
comunidade, principalmente as religiosas, entre elas destacam-se: Festa
de São Benedito, Festa do Divino Espírito Santo (padroeiro da
comunidade), Festa de São Pedro (também chamada de Festa do
Pescador ou do Peixe), Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, Festa de
Nossa Senhora do Bom Sucesso. Estas festas são realizadas no Centro
Comunitário, com exceção da Festa de São Pedro que ocorre num
espaço bem próximo ao rio, geralmente com missa e procissão por terra e
por água, baile popular, apresentações culturais de dança e música (siriri
e cururu).
64
FIGURA 32 – RUA JOÃO GIL DA SILVA, BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora.
As Festas de Santo Antônio e São João acontecem nos
quintais das residências, são festas menores, comumente é servido pela
dona da casa com elementos gastronômicos como o bolo, o chá, e o
refrigerante. Contudo, outros membros da comunidade que participam
destas festas também levam algum alimento para compartilhar.
A comunidade BS expressa intensa presença religiosa,
principalmente a Católica, onde os espaços domiciliares frequentemente
estão providos de imagens de santos, os quais são referendados com
festas e rituais que conservam antigos costumes. Segundo Ferreira
(2010)
as
festas
religiosas
nessas
comunidades
encontram-se
relacionadas aos ciclos da natureza local (estações da chuva ou da seca).
Dessa forma o autor relata:
“Ao findar o período das cheias, estabelecendo a fartura de peixes
no rio, nas baías ou nos corixos, é tempo de festejar este
momento. É tempo de colheita de peixe e de produtos da roça, de
praia e de baixada. É tempo em que a cana já madura, dá bom
caldo para rapadura. É então, o tempo de agradecer a vida e a
natureza” (FERREIRA, 2010).
65
Outra festa bastante tradicional na comunidade é o Carnaval,
com participação expressiva de moradores de outros bairros da cidade,
além de bandas, desfiles de blocos na rua e concurso. A comunidade
como um todo se prepara para esta data, enfeitando as ruas, as
residências e através da confecção de fantasias ou abadás. Alguns dos
blocos com destaque na comunidade BS é o Bloco da Rapadura e o
Cordão do Meu Coração, que foram citados por alguns informantes que
são integrantes dos mesmos.
Festa de São Pedro (Festa do Peixe)
Uma das mais tradicionais festas da Rota do Peixe da Baixada
Cuiabana é a Festa do Peixe, realizada em Bonsucesso há 34 anos. O
evento é organizado pela Associação de Pescadores e pela Associação
de Bairro em parceria com o município e o Estado. Esta festa congrega
ribeirinhos e visitantes numa homenagem a São Pedro, que é o padroeiro
dos pescadores e já faz parte do calendário de eventos do Estado. De
acordo com os organizadores, são preparadas para esta data toneladas
de peixe para serem servidos durante o almoço a milhares de
participantes e turistas.
No ano de 2014 a Festa de São Pedro teve início no sábado
(28 de junho) com o baile popular à noite. No domingo, dia 29 foi
celebrada a missa pela manhã, seguida da procissão na rua e após a
comunidade se reuniu para um chá com bolo. Este ano não foi realizada a
procissão no rio devido às condições climáticas, pois além do frio estava
ventando muito. Dando continuidade às comemorações é servido o
almoço com pratos típicos à base de peixe frito e peixe ensopado.
Posteriormente, a festa prossegue com o baile popular, animado por
banda e com a presença marcante de muitas pessoas, tanto da
comunidade local quanto de outros bairros e até de outras cidades.
Além das barracas com comidas e bebidas instaladas no
gramado próximo ao rio, são montadas diversas tendas ao longo da rua
principal e nas próprias varandas na frente das residências (Figura 33).
Nesses locais são comercializados diferentes produtos. Muitos são feitos
66
pelos moradores da comunidade, entre eles os doces de fruta (mamão,
caju, goiaba), doce de leite, rapaduras de cana-de-açúcar e de leite,
cocada, e o artesanato local, como redes, caminhos de mesa, xales, e
outros produtos.
FIGURA 33 – EXPOSIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS
DURANTE A FESTA DE SÃO PEDRO NO BAIRRO
BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Fonte: acervo da autora.
Segundo Sra. G., uma das artesãs da comunidade, as redes
que confecciona são comercializadas entre os valores de 1.200 a 1.800
reais, dependendo da arte aplicada na confecção de cada uma. Durante a
Festa de São Pedro há um ponto onde esse artesanato é exposto e
comercializado, mas em qualquer época do ano pode ser encomendado
e/ou comprado.
Existe um espaço próprio para as crianças brincarem, com
pupa-pula, escorregador e roda-roda. Em diversos quintais também é
possível ver as crianças jogando bola e soltando pipa, num momento de
alegria, descontração e confraternização.
67
A Festa de São Pedro é bastante familiar, com participantes de
diferentes faixas etárias, desde crianças até pessoas bem idosas. Muitas
famílias reunidas, casais de namorados, rodas de amigos e pessoas
solteiras. Para a segurança há também uma ajuda da polícia, caso ocorra
alguma eventualidade. Entretanto o que predomina é a alegria e a
diversão.
A produção da rapadura
O processo do feitio da rapadura (Figura 34) inicia ao
amanhecer. Entretanto, o corte da cana-de-açúcar e o seu transporte, da
roça até o engenho utilizando o carro de boi, normalmente é realizado ao
no dia anterior. A cana-de-açúcar é moída no engenho movido por um
motor elétrico, porém, há décadas passadas esse trabalho era realizado
somente por bois. Atualmente ainda há um engenho no local que não usa
motor elétrico, o engenho do Sr. Neco.
FIGURA 34 – PRODUÇÃO DE RAPADURA NO ENGENHO DONA BUGUELA,
BAIRRO BONSUCESSO. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Fonte: acervo da autora.
Conforme os baldes se enchem de garapa, os mesmos são
despejados no tacho para ser fervido. Nesse período dezenas de abelhas
são atraídas pelo cheiro e muitas delas pousam ou caem no tacho.
Através do superaquecimento da garapa as abelhas morrem e em
seguida são retiradas juntamente com outras impurezas com o auxílio de
uma “peneira” feita com a cabaça (Crescentia alata Kunth). Outras
68
abelhas que estavam voando por perto vão embora. Nesse momento,
acrescenta-se cascas do tronco de chico-magro (Guazuma ulmifolia
Lam.), que ajudam as impurezas a subirem no tacho durante a fervura.
Enquanto a garapa ferve é necessário mexer constantemente.
De um modo geral, o tempo de fervura varia de duas horas e meia a três
horas, com o tacho cheio. Isso corresponde em média a oito latas de
garapa (150 litros).
Não há um tipo específico de madeira para fazer o fogo. De
acordo com o Sr. F., proprietário de um dos engenhos, qualquer madeira,
estando seca é boa para queimar. Geralmente na segunda-feira é o dia
em que se recolhe a lenha que será utilizada durante a semana no feitio
da rapadura. Pode ser desde galhos secos até restos de madeira de
móveis demolidos.
O feitio da rapadura é realizado durante o ano todo, com
intervalo somente entre Natal e Ano Novo. A comercialização é na própria
comunidade, onde geralmente toda a produção é vendida.
Os restos do bagaço da cana-de-açúcar e a parte com as
impurezas que são retiradas da garapa fervente servem de alimento para
os bois e as vacas leiteiras.
Sobre o feitio e a comercialização da rapadura o Sr. F. F., 49
anos, expõe:
... Aprendi a fazê rapadura com meus pais, que já faleceram...
desde que aprendi a falá, já via e ajudava eles a fazê... hoje eu
sigo essa tradição... mas ninguém qué mais... depois que entrô a
internet não querem sabê disso... a tendência é pará.
... Vendo aqui mesmo no engenho ou na minha casa, do outro
lado da rua ... a clientela vem procurá, nunca sobra. A rapadura é
afrodisíaca, melado e caldo de cana também. Na época da chuva
a produção mingua muito, porque a cana é mais aguada, faço
umas 20 rapadura por dia. Na época da seca é mais doce, aí
rende mais, dá mais ou menos o dobro de rapadura, umas 40...
Diversas vezes durante o feitio da rapadura, o produtor é
abordado por pessoas que passam pela comunidade e param para
observar o processo, no entanto, acabam sempre adquirindo o produto.
Até mesmo as escolas levam os alunos para conhecer os engenhos,
contribuindo para a preservação cultural da comunidade.
69
Outros informantes também afirmaram que fazem rapadura.
Entretanto, em alguns períodos do ano é necessário suspender esta
atividade por alguns dias e esperar o desenvolvimento da cana-de-açúcar
para que fique “no ponto” de colheita.
De acordo com relato da Sra. R., da cana não há nenhum
desperdício:
“A ponta da cana e o bagaço serve pras vaca e os boi comê...
com a cana nós fazemo a rapadura... o bagaço da cana quando tá
seco, é muito bom pra acendê o fogo do fogão à lenha e da
fornalha pra fervê a garapa. E ainda quando os boi come a cana,
aqueles farelo que sobra se mistura na terra e vira adubo... é bom
pras planta. A rapadura é muito bom pra não dá anemia, deixa a
pessoa forte.” (Sra. R. M. S., 79 anos)
Para Silva (2010) os moradores de Bonsucesso costumam
tratar as atividades artesanais, transmitidas pelos seus antepassados,
como meio de subsistência, muitas vezes, sem perceber que estão de
alguma forma preservando uma cultura centenária. Assim, os produtos
desenvolvidos pela comunidade destacam a tradição, não se atentando
ao processo de modernização tecnológica.
A Tabela 2 apresenta as 148 espécies vegetais e 62 famílias
alistadas no bairro Bonsucesso, bem como seus nomes populares e a
forma pela qual cada espécie compõe uma fonte de recurso vegetal na
região.
As famílias botânicas com maior representatividade são
Lamiaceae com 11 espécies; Asteraceae com nove espécies, Fabaceae,
com oito espécies; Anacardiaceae, Cucurbitaceae e Rutaceae com seis
espécies cada; Myrtaceae, Rubiaceae e Solanaceae cada qual com cinco
espécies. Essas famílias completam 39% do total de espécies
amostradas na área. As demais famílias possuem número de espécies
inferior a cinco.
Guarim Neto e Pasa (2009) em seu estudo etnobotânico em
Acorizal, Mato Grosso, catalogaram 71 espécies e 40 famílias, sendo a
Fabaceae, Rubiaceae, Annonaceae, Caesalpiniaceae e Volchysiaceae
com maior representatividade específica.
70
Quanto à frequência de concordância de usos principais
(Pcusp) 14% exibem valor igual ou superior a 50% dentre as 148
espécies citadas. Das espécies mencionadas a erva-de-santa-maria
(Coronopus didymus (L.) Smith.) obteve nível de fidelidade (NF) igual a
100%, seguido do boldo (Plectranthus barbatus Andrews) com 83%, da
romã (Punica granatum L.) e do anador (Justicia pectoralis Jacq.) cada
qual com 75%, entre outras plantas com ampla utilização pela
comunidade. Pasa (2011) em seu estudo na comunidade Bom Jardim,
Mato
Grosso,
verificou
percentual
maior
para
a
frequência
de
concordância quanto aos usos principais, 35%. Assim, a mesma autora
sugere haver uma possibilidade de que essas espécies sejam comuns e
presentes na região, sendo utilizadas frequentemente pela população.
Para as espécies que obtiveram concordância superior a 50%,
todas pertencem a etnocategoria medicinal, com exceção da pimenta
(Capsicum albescens Kuntze), pertencente à categoria alimentar e
cultivada nos quintais. As principais indicações para as espécies
medicinais são: problemas digestivos (boldo, Plectranthus barbatus
Andrews), ansiedade e insônia (capim cidreira, Cymbopogon citratus
(DC.) Stapf.), gripe e ansiedade (erva cidreira, Melissa officinalis L.),
cicatrizante e fortificante do cabelo (babosa, Alloe vera (L.) Burm f.),
inflamação da garganta (romã, Punica granatum L.).
71
TABELA 3 – PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO BONSUCESSO, VÁRZEA GRANDE – MT, 2014.
VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA
ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS
INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE
CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS.
“continua...”
Nome Popular
Romã
Babosa
Boldo
Cana-de-açúcar
Laranja
Manga
Capim-cidreira
Alecrim
Algodão
Amora
Anador
Camomila
Erva-de-santamaria
Mamão
Pimenta
Urucum
Abacate
Nome Científico
Punica granatum L.
Alloe vera (L.) Burm f.
Plectranthus barbatus Andrews
Saccharum officinarum L.
Citrus sinensis L. Osbeck
Mangifera indica L.
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.
Rosmarinus officinalis L.
Gossypium hirsutum L.
Morus nigra L.
Justicia pectoralis Jacq.
Matricaria reticulita L.
Família
Categoria
de Uso
Punicaceae
Xanthorrhoaceae
Lamiaceae
Poaceae
Rutaceae
Anacardiaceae
Poaceae
Lamiaceae
Malvaceae
Moraceae
Acanthaceae
Asteraceae
Coronopus didymus (L.) Smith.
Carica papaya L.
Capsicum albescens Kuntze
Bixa orellana L.
Persea americana Mill.
Brassicaceae
Caricaceae
Solanaceae
Bixaceae
Lauraceae
72
Hábito
Fsp
Fid
NF
FC
Pcusp
(%)
AM
M
M
A M Ou
A M Ou
A M Ou
M
M
M
AM
M
M
Ab
He
He
He
Ar
Ar
He
He
Ab
Ar
He
He
12
12
12
12
8
12
11
11
10
10
8
12
9
8
8
8
4
8
7
6
6
6
6
6
75
66
66
66
50
66
63
54
60
60
75
50
1,00
1,00
1,00
1,00
0,66
1,00
0,91
0,91
0,83
0,83
0,66
1,00
75
66
66
66
66
66
57
50
50
50
50
50
M
AM
A
AM
A M Ou
He
Ab
He
Ab
Ar
6
9
8
10
8
6
6
6
6
5
100
66
75
60
62
0,50
0,75
0,66
0,83
0,66
50
50
50
50
41
Acerola
Banana
Caju
Erva cidreira
Pimentão
Poncã
Tamarindo
Terramicina
Vique
Abóbora
Alface
Alho
Arnica
Aroeira
Arruda
Ata
Berinjela
Cabaça
Cebolinha
Cordão-de-frade
Embaúba
Eucalipto
Fruta-do-conde
Goiaba
Hortelã
Limão
Louro
Mandioca
Milho
Malpighia glabra L.
Musa parasidiaca L.
Anacardium occidentale L.
Melissa officinalis L.
Capsicum annuum L.
Citrus reticulata Blanco
Tamarindus indica L.
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
Mentha arvensis L.
Cucurbita moschata Dusch.
Lactuca sativa L.
Allium sativum L.
Solidago chilensis Meyen
Myracrodruon urundeuva Allemão
Ruta graveolens L.
Annona squamosa L.
Solanum mammosum L.
Crescentia alata Kunth
Allium fistulosum L.
Leonotis nepetifolia (L.) R. Br.
Cecropia hololeuca Miq.
Eucalyptus globulus Labill.
Annona squamosa L.
Psidium guajava L.
Mentha villosa Becker
Citrus limon (L.) Osbeck
Cordia glabrata (Mart.) A.DC
Manihot esculenta Crantz
Zea mays L.
Malpighiaceae
Musaceae
Anacardiaceae
Lamiaceae
Solanaceae
Rutaceae
Fabaceae
Amaranthaceae
Lamiaceae
Cucurbitaceae
Asteraceae
Amaryllidaceae
Asteraceae
Anacardiaceae
Rutaceae
Annonaceae
Solanaceae
Bignoniaceae
Amaryllidaceae
Lamiaceae
Urticaceae
Myrtaceae
Annonaceae
Myrtaceae
Lamiaceae
Rutaceae
Lauraceae
Euphorbiaceae
Poaceae
73
AM
AM
AM
M
A
A Ou
A M Ou
M
M
AM
A
AM
M
M Ou
M Ou
A
AM
M Ou
A
M O Ou
M Ou
M Ou
A Ou
AM
M
A M Ou
A M Ou
A
A
Ab
He
Ar
He
He
Ab
Ar
He
He
Ra
He
He
Ab
Ar
He
Ab
He
Ab
He
Ar
Ar
Ar
Ab
Ar
He
Ar
Ar
He
He
7
8
8
7
7
7
8
8
6
8
4
7
6
7
8
6
8
6
6
6
6
6
6
8
4
8
6
6
6
5
5
5
5
5
5
5
5
5
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
71
62
62
71
71
71
62
62
83
50
100
57
66
57
50
66
50
66
66
66
66
66
66
50
100
50
66
66
66
0,58
0,66
0,66
0,66
0,58
0,58
0,66
0,66
0,50
0,66
0,33
0,58
0,50
0,58
0,66
0,50
0,66
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,50
0,66
0,33
0,66
0,50
0,50
0,50
41
41
41
41
41
41
41
41
41
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
33
Negramina
Pata-de-vaca
Picão
Pingo-de-ouro
Poejo
Quebra-pedra
Rosa
Samambaia
Sucupira
Unha-de-gato
Vassourinha
Batata doce
Bocaiuva
Caferana
Caninha-do-brejo
Chico-magro
Coco-da-baía
Confrei
Couve
Dipirona
Espada-de-sãojorge
Espirradeira
Fedegoso
Jambo
Lima da pérsia
Malva
Melão-de-São-
Siparuna guianensis Aubl.
Bauhinia forficata Link
Bidens pilosa L.
Duranta erecta L.
Mentha pulegium L.
Phyllanthus orbiculatus Rich.
Rosa sp.
Nephrolepis biserrata (SW.) Schott
Pterodon polygaliflorus (Benth.)
Benth.
Uncaria tomentosa (Willd.) DC.
Scoparia dulcis L.
Ipomoea batatas (L.) Lam.
Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex
Mart.
Vernonia polyanthes (Spreng.) Less.
Costus spicatus (Jacq.) Sw
Guazuma ulmifolia Lam.
Siparunaceae
Fabaceae
Asteraceae
Verbenaceae
Lamiaceae
Phyllanthaceae
Rosaceae
Davalliaceae
M
M O Ou
M
O
M
M
O
O
Ar
Ab
He
Ab
He
Ra
He
He
8
6
4
4
6
4
4
8
4
4
4
4
4
4
4
4
50
66
100
100
66
100
100
50
0,66
0,50
0,33
0,33
0,50
0,33
0,33
0,66
33
33
33
33
33
33
33
33
Fabaceae
Rubiaceae
Plantaginaceae
Convolvulaceae
M Ou
M
M
A
Ar
Ar
He
Ra
5
5
6
3
4
4
4
3
80
80
66
100
0,41
0,41
0,50
0,25
33
33
33
25
Arecaceae
Asteraceae
Costaceae
Malvaceae
M
M
M
M Ou
Ar
Ab
He
Ar
6
5
4
4
3
3
3
3
50
60
75
75
0,50
0,41
0,33
0,33
25
25
25
25
Cocos nucifera L.
Symphytum officinale L.
Brassica oleracea L.
Althernantera Forssk.
Arecaceae
Boraginaceae
Brassicaceae
Amaranthaceae
AM
M
AM
M
Pa
He
He
He
6
4
6
6
3
3
3
3
50
75
50
50
0,50
0,33
0,50
0,50
25
25
25
25
Sansevieria trifasciata Prain
Nerium oleander L.
Senna occidentalis (L.) Link
Eugenia malaccensis L.
Citrus limittioides Tanaka
Malva palviflora L.
Momordia charantia L.
Asparagaceae
Apocynaceae
Fabaceae
Myrtaceae
Rutaceae
Malvaceae
Cucurbitaceae
O Ou
O
M
A Ou
M
M
M
He
Ab
Ab
Ar
Ar
He
Tr
5
3
3
6
3
4
5
3
3
3
3
3
3
3
60
100
100
50
100
75
60
0,41
0,25
0,25
0,50
0,25
0,33
0,41
25
25
25
25
25
25
25
74
Caetano
Neen
Orquídea
Picão-branco
Pronto-alívio
Raiz-de-bugre
Tansagem
Tapera-velha
Tarumã
Erva-de-bicho
Erva-doce
Abacaxi
Alho poró
Antúrio
Banana-da-terra
Batata
Bucha
Caiapiá
Cancerosa
Canela
Carambola
Cenoura
Chuchu
Colônia
Comigo-ninguémpode
Crista-de-galo
Espinheira santa
Azadirachta indica A. Juss.
Orchis sp.
Porophylum ruderale (Jacq.) Cass.
Achillea millefolium L.
Bytteneria melastomifolia St. Hil.
Platango major L.
Hyptis suaveolens (L.) Poit.
Vitex cymosa Bertero ex Spreng
Polygonum hydropiperoides Michx.
Foeniculum vulgare Mill.
Ananas comosus (L.) Merr.
Allium porrum L.
Anthurium andraeanum Linden
Musa sp.
Solanum tuberosum L.
Luffa aegyptiaca Mill.
Dorstenia cayapia Vell.
Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek
Cinnamomum zeylanicum Blume.
Averrhoa carambola L.
Daucus carota L.
Sechium edule (Jacq.) Sw.
Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt &
R. M.
Meliaceae
Orchidaceae
Asteraceae
Asteraceae
Sterculiaceae
Plantaginaceae
Lamiaceae
Lamiaceae
Polygonaceae
Apiaceae
Bromeliaceae
Amaryllidaceae
Araceae
Musaceae
Solanaceae
Cucurbitaceae
Moraceae
Celastraceae
Lauraceae
Oxalidaceae
Apiaceae
Cucurbitaceae
M Ou
O
M
M
M
M
M
M O Ou
M
AM
AM
AM
O
A
AM
M Ou
M
M
M Ou
AM
A
A
Ar
He
He
He
Tr
He
He
Ar
He
He
He
He
He
He
Ra
Tr
He
He
Ar
Ar
He
Ter
4
3
6
6
6
3
3
5
5
4
4
4
2
2
4
4
2
4
4
4
2
2
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
75
100
50
50
50
100
100
60
60
75
50
50
100
100
50
50
100
50
50
50
100
100
0,33
0,25
0,50
0,50
0,50
0,25
0,25
0,41
0,41
0,33
0,33
0,33
0,16
0,16
0,33
0,33
0,16
0,33
0,33
0,33
0,16
0,16
25
25
25
25
25
25
25
25
25
21
16
16
16
16
16
16
16
16
16
16
16
16
Zingiberaceae
M
He
4
2
50
0,33
16
Dieffenbachia amoena Bull.
Celosia cristata L.
Maytenus aquifolium Mart.
Araceae
Amaranthaceae
Celastraceae
O Ou
M
M
He
He
He
4
2
2
2
2
2
50
100
100
0,33
0,16
0,16
16
16
16
75
Feijão chicote
Hortelã-do-campo
Ingá
Ipê roxo
Jabuticaba
Jatobá
Losna
Maracujá
Maravilha
Noni
Noz-vômica
Pariparoba
Pequi
Pimenta-do-reino
Pitanga
Pitomba
Quiabo
Quina-do-cerrado
Sabugueiro
Salsa
Timbó
Tomate
Violeta
Acuri
Azaleia
Vigna sinensis (L.) Savi ex. Hassk.
Hyptidendron canum (Pohl ex.
Benth.)
Inga speciosa M. Martens & Galeotti
Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo
Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg
Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex
Hayne
Fabaceae
A
Ter
2
2
100
0,16
16
Lamiaceae
Fabaceae
Bignoniaceae
Myrtaceae
M
A Ou
M O Ou
A Ou
He
Ar
Ar
Ab
2
3
5
4
2
2
2
2
100
66
40
50
0,16
0,25
0,41
0,33
16
16
16
16
Caesalpiniaceae
A M Ou
Ar
4
2
50
0,33
16
Artemisia absinthium L.
Passiflora edulis Sims.
Mirabilis jalapa L.
Morinda citrifolia L.
Strychnos nux-vomica L.
Piper peltatum L.
Caryocar brasiliense Cambess.
Piper nigrum L.
Eugenia uniflora L.
Talisia esculenta (A. St.-Hil.) Radlk.
Abelmoschus esculentus (L.)
Moench
Strychnos pseudoquina A. St.-Hil.
Sambucus australis Cham. & Schltdl
Petroselinum crispum (Mill.) Fuss
Enterolobium contortisiliquum (Vell)
Morong
Solanum lycopersicum L.
Viola sp.
Scheelea phalerata (Mart. Ex.
Spreng.) Burret
Rhododendron simsii Planch.
Asteraceae
Passifloraceae
Nyctaginaceae
Rubiaceae
Loganiaceae
Piperaceae
Caryocaraceae
Piperaceae
Myrtaceae
Sapindaceae
M
AM
O
M Ou
M
M
AM
A
AM
A Ou
He
Tr
He
Ab
He
Ar
Ar
He
Ab
Ar
4
4
2
4
2
4
5
2
3
3
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
50
50
100
50
100
50
40
100
66
66
0,33
0,33
0,16
0,33
0,16
0,33
0,41
0,16
0,25
0,25
16
16
16
16
16
16
16
16
16
16
Malvaceae
Loganiaceae
Adoxaceae
Apiaceae
AM
M
M
A
He
Ar
Ab
He
4
4
3
3
2
2
2
2
50
50
66
66
0,33
0,33
0,25
0,25
16
16
16
16
Fabaceae
Solanaceae
Violaceae
M
A
O
Ar
Tr
He
4
4
2
2
2
2
50
50
100
0,33
0,33
0,16
16
16
16
Arecaceae
Erecaceae
A
O
Pa
Ab
1
1
1
1
100
100
0,08
0,08
8
8
76
Beterraba
Brilhantina
Cajá-manga
Cajazinho
Dinheiro-em-penca
Elixir
Figatil
Figo
Fortuna
Fruta-pão
Genciana
Jenipapo
Jequitibá
Lima
Mangaba
Maria-semvergonha
Maxixe
Melão
Mulateira
Rafia
Rosa branca
Sangra d'água
Seriguela
Beta vulgaris L.
Pilea microphylla (L.) Liebm.
Spondias mombin L.
Spondias lutea L.
Callisia repens (Jacq.) L.
Ocimum selloi Benth
Vernonia condensata Baker
Ficus carica L.
Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken
Artocarpus altilis (Parkinson)
Fosberg
Acosmium subelegans (Mohlenbr.)
Yakovlev
Genipa americana L.
Cariniana sp.
Citrus sp.
Hancornia speciosa Gomes
Amaranthaceae
Urticaceae
Anacardiaceae
Anacardiaceae
Commelinaceae
Lamiaceae
Asteraceae
Moraceae
Crassulaceae
AM
M
A Ou
A Ou
O Ou
M
M
A
O Ou
He
Ra
Ar
Ab
He
He
Ar
Ab
He
3
2
2
2
3
3
4
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
33
50
50
50
33
33
25
50
50
0,25
0,16
0,16
0,16
0,25
0,25
0,33
0,16
0,16
8
8
8
8
8
8
8
8
8
Moraceae
M
Ab
2
1
50
0,16
8
Fabaceae
Rubiaceae
Lecythidaceae
Rutaceae
Apocynaceae
M
AM
M O Ou
A M Ou
AMO
Ar
Ar
Ar
Ar
Ar
2
2
3
4
3
1
1
1
1
1
50
50
33
25
33
0,16
0,16
0,25
0,33
0,25
8
8
8
8
8
Impatiens walleriana Hook. F.
Cucumis anguria L.
Cucumis melo L.
Calycophyllum spruceanum (Benth.)
Hook. F. ex K. Schum.
Rhapis excelsa (Thunb.) A. Henry
Rosa alba
Croton urucurana Baill.
Spondias purpurea L.
Balsaminaceae
Cucurbitaceae
Cucurbitaceae
M
A
A
He
Tr
Ra
1
2
2
1
1
1
100
50
50
0,08
0,16
0,16
8
8
8
Rubiaceae
Arecaceae
Rosaceae
Euphorbiaceae
Anacardiaceae
M
O
MO
M Ou
A Ou
Ar
He
He
Ar
Ar
1
1
2
1
2
1
1
1
1
1
100
100
50
100
50
0,08
0,08
0,16
0,08
0,16
8
8
8
8
8
0,16
8
Coriandrum sativum L.
Coentro
Apiaceae
A
He
2
1
50
Legenda: Categoria de Uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra).
Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador.
77
No bairro Bonsucesso foram identificadas espécies que se
enquadram nas etnocategorias de planta Alimentar (44%), Medicinal
(70%), Ornamental (15%) e Outros usos (lenha, madeira, proteção,
sombra) com 26% (Figura 35). Com base nesses dados fica evidente a
importância que os informantes atribuem à flora, principalmente com as
plantas medicinais e alimentares.
Número de espécies
120
100
80
60
40
103
64
20
21
38
0
Alimentar
Medicinal
Ornamental
Outros Usos
Etnocategorias de Uso
FIGURA 35 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS
INFORMANTES
DO
BAIRRO
BONSUCESSO.
VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014.
Entre as plantas medicinais, algumas são cultivadas nos
quintais e outras são coletadas na mata, próxima às residências, é o caso
do jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex. Hayne.), raiz-de-bugre
(Bytteneria melastomifolia St. Hil.) e sucupira (Pterodon polygaliflorus
(Benth.) Benth.). Entretanto, a negramina (Siparuna guianensis Aubl.) é
encontrada em locais mais distantes da comunidade, do outro lado do rio.
Valentini et al. (2008) verificaram diversos usos da negramina, entre eles,
no combate a gripe, dengue, malina e dor de cabeça.
Para a categoria alimentar, a maioria é cultivada nos quintais
ou nas roças da comunidade, a exemplo da abóbora (Cucurbita moschata
Dusch.), batata (Solanum tuberosum L.) e mandioca (Manihot esculenta
Crantz).
78
De acordo com essas etnocategorias, existem espécies com
uma multiplicidade de usos, incidindo uma maximização do recurso
disponível, como por exemplo, abacate (Persea americana Mill.), cordãode-frade (Leonotis nepetifolia (L.) R. Br.), ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla
(Vell.) Toledo), jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mart. Ex. Hayne), pata de
vaca (Bauhinia forficata Link) e tamarindo (Tamarindus indica L.), todas
com três usos cada.
Quanto ao hábito as herbáceas também se destacaram com 67
espécies, seguido do arbóreo com 41 espécies e do arbustivo com 24
espécies citadas. Palmeiras, trepadoras e rasteiras somaram 16 citações
(Figura 36). Apesar de ser um bairro ribeirinho, rodeado pela mata ripária
e distante do centro da cidade, seus moradores utilizam no cotidiano um
número expressivo de plantas de pequeno porte, por exemplo hortaliças,
ervas medicinais e ornamentais.
As plantas ornamentais são em sua maioria herbáceas e
cultivadas nos quintais, entre elas o antúrio (Anthurium andraeanum
Linden), a azaleia (Rhododendron simsii Planch.), a rosa (Rosa sp.), a
violeta (Viola sp.), a samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott), o
dinheiro-em-penca (Callisia repens (Jacq.) L.) e o comigo-ningém-pode
(Dieffenbachia amoena Bull.). Outras espécies apresentam hábito
arbóreo, como o ipê-roxo (Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo), jequitibá
(Cariniana sp.) e tarumã (Vitex cymosa Bertero ex Spreng).
79
Palmeira
3%
Rasteiro
3%
Trepador
5%
Arbustivo
16%
Arbóreo
28%
Herbáceo
45%
Arbustivo
Arbóreo
Herbáceo
FIGURA 36 – REPRESENTAÇÃO
Palmeira
GRÁFICA
Rasteiro
DAS
Trepador
ESPÉCIES/HÁBITO
CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO BONSUCESSO
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Na Figura 37 estão registradas imagens durante momentos
distintos da coleta de dados no Bairro Bonsucesso: entrevistas,
residência, escola, rio, igreja, coleta de frutos, quintal e roça. Em alguns
desses registros, também é possível evidenciar a relação dos moradores
locais com as plantas, que constitui e expressa a etnobotânica local.
80
A
B
C
C
D
EE
F
G
G
H
FIGURA 37 - A - Entrevista com moradores; B - Residência típica do bairro Bonsucesso;
C - Escola pública do bairro; D - Informante usando o pilão para o feitio da “puva”; E - Rio
Cuiabá, às margens da comunidade; F - Igreja com faixa da Festa de São Pedro; G Moradora coletando fruto no quintal; H - Cultivo de banana na roça.
81
4.2.3.3 BAIRRO CRISTO REI
A maioria dos informantes do bairro Cristo Rei (Figura 38)
conhece um pouco da história de como originou o bairro, conforme relatos
de alguns moradores:
“No início era chamado de roção, era um matão sem fim. Com o
tempo derrubaram as plantas, fizeram as ruas. Naquela época a
administração do estado era o governador Fragelli... depois foi
chamado de Vila Governador Fragelli. Onde tinha o seminário era
chamado de Cristo Rei. Hoje o bairro é chamado de Cristo Rei, se
fosse mais longe do centro da cidade era para ser emancipado”.
(Sr. B. L. S., 70 anos)
“Onde hoje é a UNIVAG era tudo seminário dos padre. Não tinha
asfalto... aqui era tudo roça dos padre... meu pai trabalhava no
seminário e na roça aqui”. (Sra. G. P. S. S., 58 anos).
“Aqui era conhecido como Capão de Negro. Tinha poucas casas,
a casa maior era o seminário. Não tinha rua, era só estradinha.
Também era conhecido como roção. Era uma mata. Cresceu
mesmo com o governo do Fragelli e do Campos”. (Sr. G. L. C., 68
anos)
FIGURA 38 - AVENIDA 31 DE MARÇO, BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA
GRANDE, MT. 2014. Fonte: acervo da autora.
82
A devoção é forte no bairro, com 71% dos informantes
praticantes da religião católica. As principais festas realizadas para a
comunidade são as festas religiosas, que ocorrem na igreja. No entanto,
alguns moradores também comemoram as festas de São João e de Santo
Antônio em suas residências. Além dessas, as escolas promovem festas
para a comunidade, principalmente as Juninas e datas comemorativas,
Dia das Mães, Dia das Crianças.
Foram citadas pelos moradores do bairro Cristo Rei o universo
de 143 espécies pertencentes a 67 famílias botânicas (Tabela 3). As
famílias botânicas que apresentaram maior riqueza de espécies foram
Asteraceae (11 espécies), Lamiaceae (dez espécies), Fabaceae (sete
espécies), Araceae (seis espécies), Malvaceae e Solanaceae, cada qual
com cinco espécies e, Cucurbitaceae, Poaceae e Rutaceae (quatro
espécies cada).
Carniello et al. (2008) estudando os quintais urbanos em
Mirassol D’Oeste, Mato Grosso, identificaram 275 espécies pertencentes
a 77 famílias botânicas, cujas mais representativas foram Solanaceae,
Asteraceae, Rosaceae, Verbenaceae, Euphorbiaceae, Malvaceae e
Rutaceae.
Maciel
e
Guarim
Neto
(2008)
encontraram
números
semelhantes na área rural de Juruena, Mato Grosso, 267 espécies e 75
famílias botânicas, sendo as mais representativas: Euphorbiaceae (11
espécies),
Lamiaceae
(13),
Fabaceae
(14),
Mimosaceae
(19)
e
Asteraceae (27 espécies).
Dentre as plantas remanescentes da vegetação encontra-se
abacate (Persea americana Mill.), canela (Cinnamomum zeylanicum
Blume), goiaba (Psidium guajava L.), mamão (Carica papaya L.), manga
(Mangifera indica L.) e sete-copas (Lecythis pisonis Cambess.).
Espécies arbóreas como abacateiros e mangueiras são típicas
de quintais mato-grossenses, os quais são espaços de conservação de
recursos e de costumes que permeiam a maneira de ser da população
dessa região (GUARIM NETO, 2008).
Segundo Amorozo (2008) o cultivo de árvores e outras plantas
nos quintais urbanos, praças e parques contribui na melhoria da
83
qualidade de vida. Essas áreas verdes aumentam a umidade e reduzem o
calor da irradiação através da conversão da água do solo em umidade
atmosférica.
Com relação à frequência relativa de concordância quanto aos
usos principais, destacaram-se com valores superiores a 45% as
espécies: manga (Mangifera indica L.) e samambaia (Pleopeltis
pleopeltifolia (Raddi) Alston) com 58%; boldo (Plectranthus barbatus
Andrews) com 53%, capim cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf)
com 52%, acerola (Malpighia glabra L.) com 47% e babosa (Alloe vera
(L.) Burm f.) com 46%. Dentre essas espécies todas pertencem à
etnocategoria medicinal, com exceção da samambaia, ornamental
cultivada em diversas residências, tanto em vasos no chão, quanto
suspensos.
84
TABELA 4 - PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE – MT, 2014.
VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA
ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS
INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR
DE CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS
PRINCIPAIS.
“continua.. “
Nome Popular
Manga
Samambaia
Boldo
Capim-cidreira
Acerola
Babosa
Erva-cidreira
Rosa
Caninha-do-brejo
Limão
Abacate
Banana
Comigo-ninguémpode
Espada-de-são-jorge
Goiaba
Orquídea
Pimenta
Avenca
Nome Científico
Mangifera indica L.
Pleopeltis pleopeltifolia (Raddi) Alston
Plectranthus barbatus Andrews
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf
Malpighia glabra L.
Alloe vera (L.) Burm f.
Melissa officinalis L.
Rosa sp.
Costus spicatus (Jacq.) Sw
Citrus limon (L.) Osbeck
Persea americana Mill.
Musa parasidiaca L.
Família
Categoria
de Uso
Anacardiaceae
Polypodiaceae
Lamiaceae
Poaceae
Malpighiaceae
Xanthorrhoaceae
Lamiaceae
Rosaceae
Costaceae
Rutaceae
Lauraceae
Musaceae
Dieffenbachia amoena Bull.
Sansevieria trifasciata Prain
Psidium guajava L.
Orchis sp.
Capsicum albescens Kuntze
Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris
Araceae
Asparagaceae
Myrtaceae
Orchidaceae
Solanaceae
Pteridaceae
85
Hábito
Fsp
Fid
NF
FC
Pcusp
(%)
A M Ou
O
M
M
AM
M
M
O
M
AM
A M Ou
AM
Ar
He
He
He
Ab
He
He
He
He
Ar
Ar
He
17
10
12
14
12
11
12
7
13
11
9
13
10
10
9
9
8
8
7
7
7
7
6
6
58
100
75
64
66
72
58
100
53
63
66
46
1
0,58
0,71
0,82
0,71
0,64
0,71
0,41
0,76
0,64
0,53
0,76
58
58
53
52
47
46
41
41
40
40
35
35
O Ou
O Ou
AM
O
A Ou
O
He
He
Ar
He
He
He
8
9
10
6
7
5
6
6
6
6
5
5
75
66
60
100
71
100
0,47
0,53
0,58
0,35
0,41
0,29
35
35
35
35
30
29
Espirradeira
Lírio
Mamão
Mandioca
Romã
Arruda
Ata
Alecrim
Algodão
Amora
Caferana
Camomila
Cebolinha
Copo-de-leite
Erva-de-santa-maria
Hortelã
Laranja
Noni
Quebra-pedra
Alfavaca
Carambola
Fedegoso
Abacaxi
Abóbora
Antúrio
Beijo
Beladona
Caju
Coco-da-baía
Nerium oleander L.
Spathiphyllum wallisii Regel
Carica papaya L.
Manihot esculenta Crantz
Punica granatum L.
Ruta graveolens L.
Annona squamosa L.
Rosmarinus officinalis L.
Gossypium hirsutum L.
Morus nigra L.
Vernonia polyanthes (Spreng.) Less.
Matricaria recutita L.
Allium fistulosum L.
Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng.
Coronopus didymus (L.) Sm.
Mentha villosa Becker
Citrus sinensis L. Osbeck
Morinda citrifolia L.
Phyllanthus orbiculatus Rich.
Ocimum basilicum L.
Averrhoa carambola L.
Senna occidentalis (L.) Link
Ananas comosus (L.) Merr
Cucurbita moschata Dusch.
Anthurium andraeanum Linden
Impatiens walleriana Hook. f.
Atropa belladonna L.
Anacardium occidentale L.
Cocos nucifera L.
Apocynaceae
Araceae
Caricaceae
Euphorbiaceae
Punicaceae
Rutaceae
Annonaceae
Lamiaceae
Malvaceae
Moraceae
Asteraceae
Asteraceae
Amaryllidaceae
Araceae
Brassicaceae
Lamiaceae
Rutaceae
Rubiaceae
Phyllanthaceae
Lamiaceae
Oxalidaceae
Fabaceae
Bromeliaceae
Cucurbitaceae
Araceae
Balsaminaceae
Solanaceae
Anacardiaceae
Arecaceae
86
O
O
AM
A
AM
M Ou
A Ou
M
M
A Ou
M
M
A
O
M
AM
AM
M
M
M
A M Ou
M Ou
AM
AM
O
O
O
AM
AMO
Ab
He
Ab
He
Ab
He
Ab
He
Ab
Ar
Ab
He
He
He
He
He
Ar
Ab
Ab
He
Ar
Ab
He
Ra
He
He
Ab
Ar
Pa
5
5
9
5
10
8
8
6
7
6
6
10
7
4
6
10
7
7
4
6
6
6
5
5
3
3
3
7
7
5
5
5
5
5
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
4
3
3
3
3
3
3
3
3
3
3
100
100
55
100
50
50
50
66
57
66
66
40
57
100
66
40
57
57
100
50
50
50
60
60
100
100
100
42
42
0,29
0,29
0,52
0,29
0,58
0,47
0,47
0,35
0,41
0,35
0,35
0,58
0,41
0,23
0,35
0,58
0,41
0,41
0,23
0,35
0,35
0,35
0,29
0,29
0,17
0,17
0,17
0,41
0,41
29
29
29
29
29
24
24
23
23
23
23
23
23
23
23
23
23
23
23
18
18
18
17
17
17
17
17
17
17
Dama-da-noite
Fortuna
Hortênsia
Malva
Manjericão
Oiti
Primavera
Quina
Alho poró
Assa-peixe
Cana-de-açúcar
Couve
Erva-de-bicho
Figatil
Hortelãzinha
Malva branca
Maracujá
Poejo
Rosa branca
Terramicina
Urucum
Anador
Arnica
Begônia
Bucha
Carqueja
Embaúba
Gérbera
Girassol
Cestrum nocturnum L.
Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken
Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser.
Malva palviflora L.
Ocimum basilicum L.
Licania tomentosa (Benth.) Fritsch
Bougainvillea glabra Choisy
Strychnos pseudoquina A. St. -Hil.
Allium porrum L.
Vernonia ferruginea Less.
Saccharum officinarum L.
Brassica oleracea L.
Polygonum hydropiperoides Michx.
Vernonia condensata Baker
Mentha pulegium L.
Malva sylvestris L.
Passiflora edulis Sims.
Mentha pulegium L.
Rosa alba L.
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
Bixa orellana L.
Justicia pectoralis Jacq.
Solidago chilensis Meyen
Begonia elatior hort. ex Steud.
Luffa aegyptiaca Mill.
Baccharis trimera Less. DC.
Cecropia hololeuca Miq.
Gerbera sp.
Helianthus annuus L.
Solanaceae
Crassulaceae
Hydrangeaceae
Malvaceae
Lamiaceae
Chrysobalanaceae
Nyctaginaceae
Loganiaceae
Amaryllidaceae
Asteraceae
Poaceae
Brassicaceae
Polygonaceae
Asteraceae
Lamiaceae
Malvaceae
Passifloraceae
Lamiaceae
Rosaceae
Amaranthaceae
Bixaceae
Acanthaceae
Asteraceae
Begoniaceae
Cucurbitaceae
Asteraceae
Urticaceae
Asteraceae
Asteraceae
87
O
O Ou
O
M
A
O Ou
O
M
AM
M Ou
A
AM
M
M
M
M
AM
M
MO
M
AM
M
M
O
M Ou
M
M
O
MO
Ab
He
He
He
He
Ar
Ab
Ar
He
Ab
He
He
He
Ar
He
He
Tr
He
He
He
Ab
He
Ab
He
Tr
He
Ar
He
He
3
5
3
5
5
2
3
5
4
4
4
4
4
3
5
4
4
6
4
5
5
3
2
2
3
2
3
2
3
3
3
3
3
3
1
3
3
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
100
60
100
60
60
50
100
60
50
50
50
50
50
66
40
50
50
33
50
40
40
66
100
100
66
100
66
100
66
0,17
0,29
0,17
0,29
0,29
0,11
0,17
0,29
0,23
0,23
0,23
0,23
0,23
0,17
0,29
0,23
0,23
0,35
0,23
0,29
0,29
0,17
0,11
0,11
0,17
0,11
0,17
0,11
0,17
17
17
17
17
17
17
17
17
12
12
12
12
12
12
12
12
12
12
12
12
12
11
11
11
11
11
11
11
11
Guaco
Icsória
Jabuticaba
Mamona
Marcela
Melancia
Melão-de-sãocaetano
Pingo-de-ouro
Pitanga
Rosa-do-deserto
Sucupira preta
Tomate
Vique
Açafrão
Araticum
Azedinha
Bacuri
Barbatimão
Berinjela
Beterraba
Biribá
Boa noite
Bocaiuva
Brinco-de-princesa
Bromélia
Cabaça
Cabriteiro
Mikania glomerata Spreng.
Ixora chinensis Lam.
Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg
Ricinus communis L.
Achyrocline satureioides (Lam.) DC.
Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai
Asteraceae
Rubiaceae
Myrtaceae
Euphorbiaceae
Asteraceae
Cucurbitaceae
M
O
AM
M
M
A
Ab
He
Ar
Ab
He
He
2
2
3
3
3
2
2
2
2
2
2
2
100
100
66
66
66
100
0,11
0,11
0,17
0,17
0,17
0,11
11
11
11
11
11
11
Momordia charantia L.
Duranta erecta L.
Eugenia uniflora L.
Adenium obesum (Forssk.) Roem. &
Schult.
Bowdichia virgilioides Kunth
Solanum lycopersicum L.
Mentha arvensis L.
Crocus sativus L.
Annona coriacea Mart.
Oxalis acetosella L.
Platonia insignis Mart.
Stryphnodendron adstringens (Mart.)
Coville
Solanum mammosum L.
Beta vulgaris L.
Annona mucosa Jacq.
Catharanthus roseus (L.) G. Don
Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart.
Fuchsia hybrida hort. ex Siebert & Voss
Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. f.
Crescentia alata Kunth
Rhamnidium elaeocarpum Reissek
Cucurbitaceae
Verbenaceae
Myrtaceae
M
O
AO
Tr
He
Ar
3
2
3
2
2
2
66
100
66
0,17
0,11
0,17
11
11
11
Apocynaceae
Fabaceae
Solanaceae
Lamiaceae
Iridaceae
Annonaceae
Oxalidaceae
Clusiaceae
O
M Ou
A
M
AM
A Ou
M Ou
M Ou
He
Ar
Tr
He
He
Ab
He
Ar
2
3
2
2
3
2
2
2
2
2
2
2
1
1
1
1
100
66
100
100
33
50
50
50
0,11
0,17
0,11
0,11
0,17
0,11
0,11
0,11
11
11
11
11
6
6
6
6
Fabaceae
Solanaceae
Amaranthaceae
Annonaceae
Apocynaceae
Arecaceae
Onagraceae
Bromeliaceae
Bignoniaceae
Rhamnaceae
M Ou
AM
AM
M Ou
M Ou
M Ou
M Ou
M Ou
M Ou
M Ou
Ar
He
He
Ar
Ab
Ar
Ab
He
Ab
Ar
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
50
50
50
50
50
50
50
50
50
50
0,11
0,11
0,11
0,11
0,11
0,11
0,11
0,11
0,11
0,11
6
6
6
6
6
6
6
6
6
6
88
Canela
Confrei
Coroa-de-frade
Figueira
Gengibre
Guiné
Jaborandi
Jenipapo
Jucá
Losna
Louro
Quiabo
Sete-copas
Tamarindo
Bandeirinha
Cardo-santo
Cavalinha
Citronela
Coentro
Colônia
Douradinha
Gloxínia
Imbé
Insulina-vegetal
Jaca
Jasmim
Jurema
Lágrima-de-cristo
Cinnamomum zaylanicum Blume
Symphytum officinale L.
Melocactus zehntneri (Britton & Rose)
Luetzelb.
Ficus sp.
Zingiber officinale Roscoe
Petiveria alliacea L.
Pilocarpus pennatifolius Lem.
Genipa americana L.
Caesalpinia ferrea Mart. Ex Tul.
Artemisia absinthium L.
Cordia glabrata (Mart.) A. DC
Hibiscus esculentus L.
Lecythis pisonis Cambess.
Tamarindus indica L.
Spathiphyllum wallisii Regel
Argemone mexicana L.
Equisetum arvense L.
Cymbopogon winterianus Jowitt ex Bor
Cichorium sativum L.
Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt & R. M.
Waltheria douradinha A. St.-Hil.
Sinningia speciosa (Lodd.) Hiern
Philodendron imbe Schott ex Endl.
Cissus sicyoides L.
Artocarpus integrifolia L. f.
Jasminum nitidum Skan
Pithecellobium tortum Mart.
Clerodendrum thomsoniae Balf.
Lauraceae
Boraginaceae
AM
M
Ar
He
2
3
1
1
50
33
0,12
0,17
6
6
Cactaceae
Moraceae
Zingiberaceae
Phytolaccaceae
Rutaceae
Rubiaceae
Fabaceae
Asteraceae
Lauraceae
Malvaceae
Lecythidaceae
Fabaceae
Araceae
Papaveraceae
Equisetaceae
Poaceae
Apiaceae
Zingiberaceae
Malvaceae
Gesneriaceae
Araceae
Vitaceae
Moraceae
Oleaceae
Fabaceae
Lamiaceae
M Ou
M
AM
M Ou
M Ou
A M Ou
M Ou
M
AM
AM
O Ou
AM
M
M
M
Ou
A
M
M
O
Ou
M
A
O
Ou
O
Ab
Ar
He
He
Ab
Ar
Ar
He
Ar
He
Ar
Ar
He
He
He
He
He
He
He
He
Tr
Tr
Ar
Tr
Ar
Tr
2
2
3
2
2
3
3
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
50
50
33
50
50
33
33
50
50
50
50
50
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
0,11
0,11
0,17
0,11
0,11
0,17
0,17
0,11
0,11
0,11
0,11
0,11
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
6
6
6
6
6
6
6
6
6
6
6
6
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
89
Zea mays L.
Poaceae
A
He
1
1
100
Portulaca grandiflora Hook.
Portulacaceae
O
He
1
1
100
Opuntia cochenillifera (L.) Mill.
Cactaceae
A
Ab
1
1
100
Dypsis lutescens (H.Wendl.) Beentje &
Palmeira
J.Dransf.
Arecaceae
O
Pa
1
1
100
Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.)
Piúva
Mattos
Bignoniaceae
M
Ar
1
1
100
Davalia fejeensis
Renda portuguesa
Davalliaceae
O
He
1
1
100
Rosa centifolia L.
Rosa amélia
Rosaceae
O
He
1
1
100
Petroselinum crispum (Mill.) Fuss
Salsa
Apiaceae
A
He
1
1
100
Sapatinho-de-nossa- Paphiopedilum spicerianum (Rchb. f.)
senhora
Pfitzer
Orchidaceae
O
He
1
1
100
Spondias purpurea L.
Seriguela
Anacardiaceae
A
Ar
1
1
100
Plantago major L.
Tansagem
Plantaginaceae
M
He
1
1
100
Stylosanthes guyanensis (Aubl.) SW.
Vassourinha
Fabaceae
M
He
1
1
100
Legenda: Categorias de uso: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra).
Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeira; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador.
Milho
Onze-horas
Palma
90
0,05
0,05
0,05
5
5
5
0,05
5
0,05
0,05
0,05
0,05
5
5
5
5
0,05
0,05
0,05
0,05
5
5
5
5
As espécies foram agrupadas de acordo com a categoria de
uso mencionada pelo informante. A categoria de uso Medicinal exibiu um
total de 92 espécies, representando a categoria com maior número de
espécies, aproximadamente 64% do total, dado este que confirma a
importância da flora usada na medicina tradicional. Para a categoria
Alimentar foram citadas 45 espécies, seguido das categorias Outros usos
com 35 espécies e Ornamental com 34 espécies (Figura 39).
Dentre as plantas utilizadas na etnomedicina local e a
respectiva indicação terapêutica, encontram-se a babosa (Alloe vera (L.)
Burm f.), utilizada para cicatrização, queimadura e queda de cabelo com
16 citações; o capim-cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf), para
insônia e indigestão, com 14 citações; a caminha-do-brejo (Costus
spicatus (Jacq.) Sw), utilizado como anti-inflamatório e diurético, com 13;
o boldo (Plectranthus barbatus Andrews), para indigestão e problemas do
fígado e a erva-cidreira (Melissa officinalis L.), para gripe, pressão alta e
insônia, cada uma com 12 citações e, a camomila (Matricaria recutita L.),
para constipação intestinal, insônia e diarreia, com dez citações.
100
90
Número de espécies
80
70
60
50
92
40
30
45
34
20
35
10
0
Alimentar
Medicinal
Ornamental
Outros Usos
Etnocategorias de uso
FIGURA 39 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS PELOS
INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO REI. VÁRZEA GRANDE,
MT. 2014.
91
A espécie Senna occidentalis (L.) Link, também conhecida por
fedegoso foi citada como uma planta utilizada para fins medicinais e para
benzimento. No bairro Cristo Rei duas informantes relataram sobre o
“poder” de benzer:
“Sou benzedera desde os 12 anos... foi ensinado por Deus, foi ele
que me ensinô a benzê... vem criança, adulto, tudo. Vem gente
até de Livramento aqui pra benzê... dizem que minha mão é
abençoada. Benzo com três folha, faço a prece com a mão na
cabeça da pessoa. Tem doença que remédio não cura... arca
caída e quando a mulher tem filho e não faz dieta aí o sangue
sobe pra cabeça... daí o que cura é só benzeção”. (Sra. A. F. S.,
84 anos).
“Eu benzia... benzia criança e gente grande. Deus me deu isso
desde pequena. Benzia de irisipele, de cobreiro, de impinge,
benzia tudo. Usava planta pra benzê, o fedegoso... fazia a oração,
entregava a nossa parte pra Deus e eles recebiam a bênção”.
(Sra. A. C. 76 anos).
Maciel e Guarim Neto (2006) em seu estudo em Juruena, Mato
Grosso, referiram as espécies vegetais Ruta graveolens L., Petiveria
alliacea L. e Rosmarinum officinale L., além de outras, utilizadas por
benzedeiras da região.
Algumas plantas foram encontradas com frequência nos
quintais, geralmente na parte da frente das residências, tanto em vasos,
quanto em canteiros no chão. Dentre elas a arruda (Ruta graveolens L.) e
a espada-de-são-jorge (Sansevieria trifasciata Prain), ambas com função
protetora além da função medicinal da primeira e ornamental da segunda
espécie.
Quanto ao hábito, 53% das espécies citadas apresenta hábito
Herbáceo (76 espécies), seguido do hábito Arbóreo (31 espécies) e
Arbustivo (25 espécies). Os demais hábitos Palmeira, Rasteiro e Trepador
totalizam 11 espécies (Figura 40).
Para o hábito arbóreo entre as mais citadas estão: manga
(Mangifera indica L.), limão (Citrus limon (L.) Osbeck), goiaba (Psidium
guajava L.), abacate (Persea americana Mill.) e caju (Anacardium
occidentale L.). Todas elas são cultivadas diretamente no solo, sobretudo
92
pelo seu porte e, também apresentam uma multiplicidade de uso:
alimentar, medicinal e sombreamento.
Rasteiro
1%
Palmeira
1%
Trepador
6%
Arbustivo
17%
Arbóreo
22%
Herbáceo
53%
Arbustivo
Arbóreo
Herbáceo
Palmeira
Rasteiro
Trepador
FIGURA 40 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO
CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO CRISTO
REI. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
As plantas herbáceas são cultivadas diretamente no solo, nos
quintais maiores, entretanto nos quintais de porte menor são plantadas
em pequenos canteiros, vasos ou latas. Algumas vezes quando o espaço
é muito pequeno, também é possível encontrar cultivos suspensos em
muretas, jiraus e até mesmo pendurados em muros ou paredes. Contudo
as plantas de maior porte, como a pata de vaca são plantadas em covas
diretamente no solo.
A Figura 41 apresenta diversas imagens registradas durante o
estudo realizado no bairro Cristo Rei: escola, benzedeira, residência,
remédio caseiro, cultivo de diferentes espécies em latas, sacos, vasos e
diretamente no solo, quintal e aproveitamento de cascas de frutas.
93
A
A
B
C
D
E
F
G
H
FIGURA 41 - A - Escola pública no bairro CR; B – Informante e benzedeira; C –
Residência de informante; D – Remédio caseiro; E – Cultivo de plantas; F – Turnê
guiada pelo quintal; G – Cultivo de plantas no quintal e na varanda; H – Casca de frutas
para compostagem.
94
4.2.3.4 BAIRRO SANTA ISABEL
No bairro Santa Isabel (Figura 42) os terrenos possuem, em
média, uma área de 200 m². Porém a maior parte é ocupada pela
residência, de modo que os moradores locais ainda cultivam uma
variedade de espécies vegetais, principalmente de porte menor. A
bioarquitetura é executada através da verticalização das plantas em
muros, pilares e paredes, para um melhor aproveitamento do espaço,
bem como em canteiros, floreiras ou vasos e outras plantas maiores
diretamente no solo.
FIGURA 42 – RUA I, BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
Fonte: acervo da autora.
Durante as entrevistas, quando perguntou-se sobre a origem
do bairro, uma informante relatou:
“Moro aqui há quase trinta anos... o que sei é que este bairro
recebeu o nome de Santa Isabel, em homenagem à esposa do
governador que era naquela época. Ela se chama Isabel Campos
e o bairro é Santa Isabel”. (Sra. B. R., 71 anos).
95
O bairro possui ruas asfaltadas, uma escola estadual e uma
igreja com o mesmo nome do bairro. No seu entorno há um pequeno
comércio, com mercado, posto de combustível, loja de material de
construção, entre outros.
Com relação às festas realizadas no bairro, as mais citadas
foram as festas de caráter religioso na Igreja Santa Isabel e as festas
realizadas na Escola, entre elas Festa Junina e outras de porte menor.
Na Tabela 4 estão registradas as 98 espécies vegetais
utilizadas pelos informantes do bairro Santa Isabel, dispostas em 52
famílias botânicas. Dessas famílias, as mais representativas foram
Lamiaceae (10% das espécies), Asteraceae (9%), Araceae, Brassicaceae
e Fabaceae (4% das espécies cada uma).
Verificou-se que as espécies mais ocorrentes são aquelas que
têm maior potencial de uso para os moradores e facilidades para
obtenção e manejo, a exemplo do capim cidreira (Cymbopogon citratus
(DC.) Stapf.), a babosa (Alloe vera (L.) Burm f.) e o boldo (Plectranthus
barbatus Andrews), todas com indicações medicinais.
Entre as plantas presentes nos quintais do bairro, a frequência
relativa de concordância quanto aos usos principais (Pcusp) ressaltou a
cebolinha (Allium fistulosum L.) com 66% na categoria Alimentar. Na
categoria Medicinal, o boldo (Plectranthus barbatus Andrews) e o capimcidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.) utilizados para problemas do
sistema
digestório
e
nervoso, respectivamente
e,
a
samambaia
(Nephrolepis biserrata (SW.) Schott) como Ornamental, frequentemente
penduradas nas paredes, vigas e muros, com 55% cada uma.
As espécies caninha-do-brejo (Costus spicatus (Jacq.) Sw),
fortuna (Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken) e quebra-pedra (Phyllanthus
orbiculatus Rich.) são usadas para problemas nos rins conforme relatos
dos informantes:
“... Se eu estou viva, agradeço a Deus em primeiro lugar e as
plantas de remédio em segundo... Meu filho fez transplante de rim
e eu também tenho problema... e ainda tenho pressão alta... não
posso ficá sem essas planta...” (Sra. M. A. S., 76 anos).
96
“... Tinha pedra nos rim... fui no médico e ele queria fazê cirurgia...
mas consegui por as pedra pra fora tomando chá de quebra-pedra
e suco da folha da fortuna...” (Sr. A. C. S., 50 anos).
A etnocategoria de uso medicinal é cultivada em canteiros,
vasos ou diretamente no solo, variando de acordo com o hábito da planta.
As espécies de menor porte geralmente são cultivadas em canteiros e
vasos, porém, em várias residências foi possível observar esse cultivo em
pequenos corredores entre a casa e o muro. Contudo, as espécies de
maior porte, como a pata de vaca (Bauhinia forficata Link), jabuticaba
(Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg), limão (Citrus limon (L.) Osbeck) e caju
(Anacardium occidentale L.) são plantadas em covas.
A maior parte das espécies medicinais cultivadas é exótica.
Pode-se citar nesse grupo o alecrim (Rosmarinus officinalis L.) e a ervacidreira (Melissa officinalis L.), originários do Mediterrâneo; a arruda (Ruta
graveolens L.) e a camomila (Matricaria recutita L.), originária da Europa;
o capim-cidreira (Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.), originário da Índia
(CORRÊA JUNIOR et al., 1994; REIS e MARIOT, 1999).
Com relação à frequência relativa de concordância quanto aos
usos principais destacaram-se: cebolinha (Allium fistulosum L.) com 66%;
boldo (Plectranthus barbatus Andrews), capim-cidreira (Cymbopogon
citratus (DC.) Stapf.), samambaia (Nephrolepis biserrata (SW.) Schott),
com 55%; alecrim (Rosmarinus officinalis L.), babosa (Alloe vera (L.) Burm
f.), cacto (Cereus peruvianus (L.) Mill.), caninha-do-brejo (Costus spicatus
(Jacq.) Sw, hortelã (Mentha villosa Becker), manga (Mangifera indica L.),
quebra-pedra (Phyllanthus orbiculatus Rich.), rosa (Rosa sp.) e sucupira
(Boudichia virgilioides Kunth), com 44%.
97
TABELA 5 - PLANTAS UTILIZADAS PELOS MORADORES DO BAIRRO SANTA ISABEL. VÁRZEA GRANDE – MT, 2014.
VALOR RELATIVO DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS. FSP = FREQUÊNCIA
ABSOLUTA DOS INFORMANTES QUE CITARAM A ESPÉCIE; FID = FREQUÊNCIA ABSOLUTA DOS
INFORMANTES QUE CITARAM OS USOS PRINCIPAIS; NF = NÍVEL DE FIDELIDADE; FC = FATOR DE
CORREÇÃO; PCUSP = FREQUÊNCIA RELATIVA DE CONCORDÂNCIA QUANTO AOS USOS PRINCIPAIS.
“continua...”
Nome Popular
Cebolinha
Boldo
Capim-cidreira
Samambaia
Alecrim
Babosa
Cacto
Caninha-do-brejo
Hortelã
Manga
Quebra-pedra
Rosa
Sucupira
Antúrio
Arruda
Ata
Avenca
Comigo-ninguém
Nome Científico
Allium fistulosum L.
Plectranthus barbatus Andrews
Cymbopogon citratus (DC.) Stapf.
Nephrolepis biserrata (SW.) Schott
Rosmarinus officinalis L.
Alloe vera (L.) Burm f.
Cereus peruvianus (L.) Mill.
Costus spicatus (Jacq.) Sw
Mentha villosa Becker
Mangifera indica L.
Phyllanthus orbiculatus Rich.
Rosa sp.
Boudichia virgilioides Kunth
Anthurium andraeanum Linden
Ruta graveolens L.
Annona squamosa L.
Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris
Dieffenbachia amoena Bull.
Família
Categoria
de Uso
Hábito
Amaryllidaceae
Lamiaceae
Poaceae
Davalliaceae
Lamiaceae
Xanthorrhoaceae
Cactaceae
Costaceae
Lamiaceae
Anacardiaceae
Phyllanthaceae
Rosaceae
Fabaceae
Araceae
Rutaceae
Annonaceae
Pteridaceae
Araceae
A
M
M
O
M
M
O
M
AM
A M Ou
M
O
M
O
M Ou
A
O
O Ou
98
He
He
He
He
He
He
Ab
He
He
Ar
Ra
He
Ar
He
He
Ab
He
He
Fsp
Fid
NF
FC
Pcusp
(%)
6
8
9
5
6
7
4
6
7
6
5
6
5
3
5
3
3
7
6
5
5
5
4
4
4
4
4
4
4
4
4
3
3
3
3
3
100
62
55
100
66
57
100
66
57
66
80
66
80
100
60
100
100
42
0,66
0,88
0,99
0,55
0,66
0,77
0,44
0,66
0,77
0,66
0,55
0,66
0,55
0,33
0,55
0,33
0,33
0,77
66
55
55
55
44
44
44
44
44
44
44
44
44
33
33
33
33
33
pode
Erva-cidreira
Espada-de-são jorge
Losna
Mamão
Orquídea
Poejo
Acerola
Alface
Alfavaca
Algodãozinho-docampo
Assa-peixe
Begonia
Caju
Camomila
Carambola
Coco-da-baía
Melissa officinalis L.
Lamiaceae
M
He
5
3
60
0,55
33
Sansevieria trifasciata Prain
Artemisia absinthium L.
Carica papaya L.
Orchis sp.
Mentha pulegium L.
Malpighia glabra L.
Lactuca sativa L.
Ocimum basilicum L.
Asparagaceae
Asteraceae
Caricaceae
Orchidaceae
Lamiaceae
Malpighiaceae
Asteraceae
Lamiaceae
O Ou
M
AM
O
M
AM
AM
M
He
He
Ab
He
He
Ab
He
He
5
4
4
5
5
4
3
4
3
3
3
3
3
2
2
2
60
75
75
60
60
50
66
50
0,55
0,44
0,44
0,55
0,55
0,44
0,33
0,44
33
33
33
33
33
22
22
22
Bixaceae
Asteraceae
Begoniaceae
Anacardiaceae
Asteraceae
Oxalidaceae
Arecaceae
M
M
O
AM
M
AM
AMO
Ab
Ab
He
Ar
He
Ar
Pa
2
2
2
4
3
2
4
2
2
2
2
2
1
2
100
100
100
50
66
50
50
0,22
0,22
0,22
0,44
0,33
0,22
0,44
22
22
22
22
22
22
22
Zingiberaceae
Brassicaceae
Brassicaceae
Polygonaceae
Apocynaceae
Fabaceae
Crassulaceae
Zingiberaceae
Phytolaccaceae
Rubiaceae
M
AM
M
M
O
M
M O Ou
AM
M Ou
O
He
He
He
He
Ab
Ab
He
He
He
He
3
5
3
2
2
3
4
3
4
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
66
40
66
100
100
66
50
66
50
100
0,33
0,55
0,33
0,22
0,22
0,33
0,44
0,33
0,44
0,22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
Cochlospermum regium (Schrank) Pilg.
Vernonia ferruginea Less.
Begonia elatior hort. ex Steud.
Anacardium occidentale L.
Matricaria reticulita L.
Averrhoa carambola L.
Cocos nucifera L.
Alpinia zerumbet (Pers.) B. L. Burtt & R.
Colônia
M.
Brassica oleracea L.
Couve
Erva-de-santa-maria Coronopus didymus (L.) Smith.
Polygonum hydropiperoides Michx.
Erva-de-bicho
Nerium oleander L.
Espirradeira
Senna occidentalis (L.) Link
Fedegoso
Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken
Fortuna
Zingiber officinale Roscoe
Gengibre
Petiveria alliacea L.
Guiné
Ixora chinensis Lam.
Icsória
99
Jiló
Limão
Lírio-da-paz
Manjericão
Mussaenda-rosa
Noni
Noz-vômica
Pimenta
Renda-portuguesa
Romã
Rosa-do-deserto
Terramicina
Tomate
Vassourinha
Abacate
Abacaxi-de-jardim
Abóbora
Açafrão
Agarra-pinto
Agrião
Arnica
Babaçu
Banana
Bananeira-de-jardim
Bucha
Cacto japonês
Cajuzinho
Solanum gilo Raddi
Citrus limon (L.) Osbeck
Spathiphyllum wallisii Regel
Ocimum basilicum L.
Mussaenda Erythophylla L.
Morinda citrifolia L.
Strychnos nux-vomica L.
Capsicum albescens Kuntze
Davalia fejeensis
Punica granatum L.
Adenium obesum (Forssk.) Roem. &
Schult.
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
Solanum lycopersicum L.
Stylosanthes guyanensis (Aubl.) SW.
Persea americana Mill.
Ananas bracteatus (Lindl.) Schult. &
Schult. f.
Cucurbita moschata Dusch.
Crocus sativus L.
Boerhavia diffusa L.
Nasturtium officinale W.T. Aiton
Solidago chilensis Meyen
Orbignya phalerata Mart.
Musa parasidiaca L.
Heliconia rostrata Ruiz & Pav
Luffa aegyptiaca Mill.
Kalanchoe tubiflora Raym.-Hamet
Anacardium humile A. St.-Hil.
Solanaceae
Rutaceae
Araceae
Lamiaceae
Rubiaceae
Rubiaceae
Loganiaceae
Solanaceae
Davalliaceae
Punicaceae
A
AM
O
A
O
M Ou
M
A
O
AM
He
Ar
He
He
Ab
Ab
He
He
He
Ab
2
3
2
4
2
3
4
4
2
3
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
100
66
100
50
100
66
50
50
100
66
0,22
0,33
0,22
0,44
0,22
0,33
0,44
0,44
0,22
0,33
22
22
22
22
22
22
22
22
22
22
Apocynaceae
Amaranthaceae
Solanaceae
Fabaceae
Lauraceae
O
M
A
M
AM
He
He
He
He
Ar
2
4
3
3
2
2
2
2
2
1
100
50
66
66
50
0,22
0,44
0,33
0,33
0,22
22
22
22
22
11
Bromeliaceae
Cucurbitaceae
Iridaceae
Nyctaginaceae
Brassicaceae
Asteraceae
Arecaceae
Musaceae
Heliconiaceae
Cucurbitaceae
Crassulaceae
Anacardiaceae
O
AM
AM
M
AM
M
M Ou
AM
O
M Ou
MO
AM
He
Ra
He
He
He
He
Pa
He
He
He
He
Ar
1
2
2
1
2
2
2
2
1
2
2
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
100
50
50
100
50
50
50
50
100
50
50
50
0,11
0,22
0,22
0,11
0,22
0,22
0,22
0,22
0,11
0,22
0,22
0,22
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
100
Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek
Cancerosa
Celastraceae
M
He
1
1
100
Baccharis trimera Less. DC.
Carqueja
Asteraceae
M
He
1
1
100
Cichorium sativum L.
Coentro
Apiaceae
A
He
3
1
33
Leonotis nepetifolia (L.) R. Br.
Cordão-de-frade
Lamiaceae
M
Ar
1
1
100
Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez
Coroá
Bromeliaceae
M
He
1
1
100
Monstera deliciosa Liebm.
Costela-de-adão
Araceae
O
He
1
1
100
Callisia repens (Jacq.) L.
Dinheiro-em-penca
Commelinaceae O Ou
He
2
1
50
Foeniculum vulgare Mill.
Erva-doce
Apiaceae
AM
He
3
1
33
Ficus carica L.
Figo
Moraceae
A
Ab
1
1
100
Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl Verbenaceae
Gervão
M
He
1
1
100
Helianthus annuus L.
Girassol
Asteraceae
O
He
2
1
50
Psidium guajava L.
Goiaba
Myrtaceae
A M Ou
Ar
3
1
33
Mentha pulegium L.
Hortelãzinho
Lamiaceae
M
He
2
1
50
Hydrangea macrophylla (Thunb.) Ser.
Hortensia
Hydrangeaceae O
He
1
1
100
Myrciario culiflora (Mart.) O. Berg
Jabuticaba
Myrtaceae
A M Ou
Ar
3
1
33
Artocarpus integrifolia L. f.
Jaca
Moraceae
A Ou
Ar
2
1
50
Clerodendrum thomsoniae Balf.
Lágrima-de-cristo
Lamiaceae
O Ou
Tr
2
1
50
Manihot esculenta Crantz
Mandioca
Euphorbiaceae
A
He
1
1
100
Passiflora edulis Sims.
Maracujá
Passifloraceae
AM
Tr
2
1
50
Ageratum
conyzoides
L.
Mentrasto
Asteraceae
M
He
1
1
100
Zea mays L.
Milho
Poaceae
AM
He
3
1
33
Bauhinia forficata Link
Pata-de-vaca
Fabaceae
M O Ou
Ab
3
1
33
Achillea millefolium L.
Pronto-alívio
Asteraceae
M
He
1
1
100
Hibiscus esculentus L.
Quiabo
Malvaceae
AM
He
2
1
50
Rosa alba
Rosa branca
Rosaceae
MO
He
2
1
50
Eruca sativa Mill.
Rúcula
Brassicaceae
A
He
1
1
100
Aristolochia esperanzae Kuntze
Aristolochiaceae M
Calunga
Ar
1
1
100
Legenda: Categorias de usos: A = Alimentar; M = Medicinal; O = Ornamental; Ou = Outros usos (lenha, madeira, proteção, sombra).
Hábito: Ab = Arbustivo; Ar = Arbóreo; He = Herbáceo; Pa = Palmeita; Ra = Rasteiro; Tr = Trepador.
101
0,11
0,11
0,33
0,11
0,11
0,11
0,22
0,33
0,11
0,11
0,22
0,33
0,22
0,11
0,33
0,22
0,22
0,11
0,22
0,11
0,33
0,33
0,11
0,22
0,22
0,11
0,11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
11
102
Das espécies citadas 69% (67 espécies) apresentam o hábito
Herbáceo, seguido do Arbustivo (13 espécies) e do Arbóreo (12
espécies). Para os demais hábitos a totalidade é representada por seis
espécies (Figura 43).
Essa característica pode ser explicada pelo fato desses
quintais serem pequenos, comparados aos outros da área de estudo,
dificultando assim um cultivo maior de plantas de grande porte.
Entretanto, estão presentes em alguns desses quintais espécies frutíferas
com multiplicidade de usos alimentar, medicinal e sombreamento, como
abacateiro (Persea americana Mill.), cajueiro (Anacardium occidentale L.),
goiabeira (Psidium guajava L.), limoeiro (Citrus limon (L.) Osbeck) e
mangueira (Mangifera indica L.).
Palmeira
2%
Trepador
2%
Rasteiro
2%
Arbustivo
13%
Arbóreo
12%
Herbáceo
69%
Arbustivo
Arbóreo
Herbáceo
Palmeira
Rasteiro
Trepador
FIGURA 43 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DAS ESPÉCIES/HÁBITO
CITADAS PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA
ISABEL. VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
As espécies encontradas foram agrupadas de acordo com a
categoria de uso, sendo a Medicinal mais expressiva com 64 espécies
(Figura 44).
Segundo Amorozo (2008) a produção de espécies para fins
alimentar e medicinal em quintais urbanos é mais comum entre os grupos
mais carentes da população.
103
70
Número de espécies
60
50
40
65
30
35
20
33
10
11
0
Alimentar
Medicinal
Ornamental
Outros Usos
Etnocategorias de Uso
FIGURA 44 – ETNOCATEGORIAS DE USO DAS PLANTAS CITADAS
PELOS INFORMANTES DO BAIRRO SANTA ISABEL.
VÁRZEA GRANDE, MT. 2014.
As
plantas
representatividade
alimentares
semelhante
nesses
e
ornamentais
quintais,
36%
tiveram
e
34%,
respectivamente. Na categoria alimentar, encontram-se principalmente
árvores frutíferas e hortaliças. Percebe-se o empenho dos informantes em
manter os quintais com uma boa aparência, mesmo aqueles com espaço
reduzido. Dentre as espécies ornamentais as mais frequentes estão: rosa
(Rosa sp.), orquídea (Orchis sp.), samambaia (Nephrolepis biserrata
(SW.) Schott), o cacto (Cereus peruvianus (L.) Mill.), antúrio (Anthurium
andraeanum Linden), avenca (Adiantum aleuticum (Rupr.) C.A. Paris),
comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amoena Bull.) e espada-de-sãojorge (Sansevieria trifasciata Prain). Essas duas últimas ainda foram
relatadas como protetoras, para afastar mau olhado, são plantadas
geralmente na frente da casa.
A Figura 45 mostra a variedade de plantas utilizadas em
diferentes etnocategorias pelos moradores do bairro Santa Isabel, bem
como o reaproveitamento de partes vegetais e outros momentos durante
a coleta de dados.
104
A
B
C
D
E
F
G
H
FIGURA 45 - A – Diversidade de plantas no quintal; B – Cultivo de plantas em
pequeno espaço do quintal; C – Semente de planta, Boudichia virgilioides Kunth; D –
Informante mostrando as plantas no quintal da residência; E – Moradora na frente da
residência; F – Restos de cascas e folhas para produção de compostagem; G – Igreja
do bairro Santa Isabel; H – Visita à residência para coleta de dados.
105
5. CONCLUSÕES
Quintais
São importantes para a manutenção da agrobiodiversidade,
sendo a flora ainda mantida, principalmente por herbáceas e arbóreas.
Os quintais são utilizados para trabalho, cultivo, criação de
pequenos animais, realização de festas, lazer, rezas e benzeção.
A aquisição das plantas nos quintais é feita por doação ou
troca com vizinhos e familiares. Verificou-se que algumas espécies vêm
de localidades distantes, trazidos por moradores quando mudam de local
ou por parentes quando vem visitar os familiares.
Para a manutenção dos quintais observou-se principalmente o
uso de insumos agrícolas naturais, a exemplo de restos de folhas, cascas,
esterco e bagaço de cana-de-açúcar misturado com terra preta.
O manejo é realizado preferencialmente pelas mulheres, as
quais têm uma posição de destaque nos quintais. Desta forma, a
preocupação em manter o cultivo de diferentes espécies, bem como a
finalidade, a forma de uso e as partes vegetais utilizadas no cotidiano
desta população contribuem para a conservação das plantas nesses
ambientes.
Plantas
O número de espécies utilizadas pelos moradores totalizou 249
e, variou de 98 no bairro Santa Isabel a 148 no bairro Bonsucesso,
completando 515 citações pelos informantes locais.
Identificou-se os principais usos das espécies relatadas pelos
informantes. Dentre essas plantas destacou-se a etnocategoria Medicinal,
seguidas da Alimentar, Ornamental e Outros usos. A folha foi evidenciada
notavelmente para a etnocategoria Medicinal, sendo o chá, por infusão, a
principal maneira de preparo.
Nível de Fidelidade (NF)
Pode-se concluir que, quanto ao Nível de Fidelidade (NF), o
bairro Bonsucesso obteve o maior percentual (11%) para as plantas com
106
PCup igual ou maior que 50%, ou seja, das 148 espécies utilizadas, 16
apresentaram um uso comum para a maioria dos informantes.
O bairro Água Vermelha obteve um percentil de 9%, o que
significa matematicamente analisando, que das 126 espécies vegetais
usadas pela população local 12 espécies apresentam um uso comum.
Nos demais bairros, apesar do uso de uma variedade de
plantas no cotidiano, apresentaram percentil menor. O bairro Cristo Rei
obteve 3%, ou seja, das 143 espécies utilizadas pelos moradores cinco
apresentaram uso comum para a maioria dos informantes, enquanto no
bairro Santa Isabel (2%), das 98 espécies utilizadas, duas são de uso
comum entre os informantes locais.
Etnobotanicamente é possível afirmar que os bairros Água
Vermelha e Bonsucesso apresentam um certo grau de tradicionalidade
pelo tempo que residem no local (BS) ou pelo etnoconhecimento
expresso (AV e BS). Desta forma, confere o termo tradicional, e assim um
status cultural para esta população várzea-grandense.
107
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADAMS, C. As roças e o manejo da mata atlântica pelos caiçaras: uma
revisão. Interciência, v. 25, n. 3, p. 143-150, 2000.
ALBERTI, V. Manual de História Oral. 3 ed. Rio de Janeiro. Editora FGV,
2007. 235 p.
ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à Etnobotânica. Recife. Bagaço.
2002. 87 p.
ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à Etnobotânica. 2ª ed. Rio de
Janeiro, Interciência. 2005.
ALBUQUERQUE, U. P.; LUCENA, R. F. P.; CUNHA, L. V. F. C. Métodos
e técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife, NUPEEA, 2008.
ALMEIDA, S. P.; PROENÇA, C. E. B.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: espécies
vegetais úteis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998.
AMARAL, C. N.; GUARIM NETO, G. Os quintais como espaços de
conservação e cultivo de alimentos: um estudo na cidade de Rosário
Oeste (Mato Grosso, Brasil). Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências
Humanas, Belém, v. 3, n. 3, p. 329-341, set.- dez. 2008.
AMOROZO, M.C.M. Diversidade agrícola em um cenário de
transformação: será que vai ficar alguém para cuidar da roça? In: MING,
L. C.; AMOROZO, M. C. M; KFFURI, C. W. Agrobiodiversidade no
Brasil: experiências e caminhos da pesquisa. NUPEEA, Recife, 308 p.,
2010.
AMOROZO, M. C. M. Os quintais – funções, importância e futuro. In:
GUARIM NETO, G.; CARNIELLO, M. A. (Org.). Quintais matogrossenses: espaço de conservação e reprodução de saberes.
Cáceres, MT, UNEMAT, 2008. p. 15-26.
AMOROZO, M. C. M. Management and Conservation of Manihot
Esculenta Crantz. Germ. Plasm by tradicional farmers in Santo Antônio do
Leverger. Mato Grosso State, Brazil. Etnoecologia, v. IV, n. 6, p. 69-83,
2000.
AMOROZO, M. C. M.; GELY, A. Uso de plantas medicinais por caboclos
do Baixo Amazonas. Barcarena, PA, Brasil. Boletim Museu Paraense
Emílio Goeldi. Sér.Bot. 4, p. 47-131, 1988.
AMOROZO, M. C. M. A abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas
medicinais. In: DI STASI, L. C. (Org.) Plantas medicinais: arte e ciência
– um guia de estudo interdisciplinar. São Paulo: Universidade Estadual
Paulista, 1996. p. 47-68.
108
BATALHA, M. A. O cerrado não é um bioma. Biota Neotrópica., v. 11, n.
1, p. 21-24, 2011.
BORBA, A. M.; MACEDO, M. Plantas medicinais usadas para a saúde
bucal pela comunidade do bairro Santa Cruz, Chapada dos Guimarães,
MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 20(4): 771-782. 2006.
BRASIL. Decreto nº 6.040, 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais. Diário Oficial da União. Brasília, DF. 7 Fev. 2007.
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. Diretrizes de educação em saúde
visando à promoção da saúde: documento base - documento I/Fundação
Nacional de Saúde - Brasília: Funasa, 2007. 70 p.
BRASIL. Departamento Nacional da Produção Mineral. Projeto
Radambrasil. Folha SD.21 Cuiabá. Rio de Janeiro: Projeto Radambrasil,
1982 26 554p.
CABALLERO, J. La Etnobotânica. In: BARRERA, A.
(Ed.). La
Etnobotânica: três puntos de vista y uma perspectiva. INIREB,
Xalapa. 1979. p. 27-30.
CARNIELLO, M. A.; PEDROGA, J. A. Quintais na fronteira Brasil-Bolívia,
Comunidade de Clarinópolis. In: GUARIM NETO, G.; CARNIELLO, M. A.
(Org.). Quintais mato-grossenses: espaço de conservação e
reprodução de saberes. Cáceres, MT, UNEMAT, 2008. p. 45-62.
CARNIELLO, M. A.; CRUZ, M. A. B.; SILVA, R. S. Composição florística e
sua utilização em quintais urbanos de Mirassol D’Oeste. In: GUARIM
NETO, G.; CARNIELLO, M. A. (Org.). Quintais mato-grossenses:
espaço de conservação e reprodução de saberes. Cáceres, MT,
UNEMAT, 2008. p. 109-128.
CARVALHO, L. M. Qualidade em plantas medicinais. Aracaju: Embrapa
Tabuleiros
Costeiros,
2010.
54
p.
Disponível
em
http://www.cpatc.embrapa.br/publicacoes_2010/doc_162.pdf
CARVALHO, L. M. M. de. Estudos de Etnobotânica e Botânica
Económica no Alentejo. 2006. 566 f. Tese (Doutoramento em Biologia Sistemática e Morfologia) - Universidade de Coimbra, Coimbra-Portugal.
CHITSONDZO, C. C. E. Quintais caseiros em Machipanda – Distrito
de Manica, Moçambique. 2011. 94 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Florestal/Silvicultura) – Universidade Federal do Paraná,
Curitiba-PR.
CITYBRAZIL – disponível e>http://www.citybrazil.com.br/mt/microregiao<
Acesso 25/03/2014.
109
CLÉMENT, D. The historical foundations of ethnobiology (1860-1899).
Journal of Ethnobiology. 18: 161-187, 1998.
CORRÊA JÚNIOR, C.; MING, L. C.; SCHEFFER, M. C. Cultivo de
plantas medicinais, condimentares e aromáticas. 2. ed. Jaboticabal:
FUNEP, 1994. 162 p.
COUTINHO, L. M. O conceito de bioma. Acta Botanica Brasilica, v. 20,
n. 1, p. 13-23, 2006.
COUTINHO, L. M. O conceito de cerrado. Revista Brasileira de
Botânica, n. 1, p. 17-23, 1978.
DIEGUES, A. C. S. Etnoconservação: novos rumos para a proteção
da natureza dos trópicos. São Paulo: HUCITEC/NAPAUB-USP, 2000.
DIEGUES, A. C. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar.
São Paulo, Ática, 1983.
FERREIRA, M. S. F. D. Lugar, recursos e saberes dos ribeirinhos do
médio rio Cuiabá, Mato Grosso. 2010. 182 f. Tese (Doutorado em
Ciências Biológicas/Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade
Federal de São Carlos, São Carlos-SP.
FERREIRA, M. S. F. D.; DIAS, F. M. S. Comparação da forma de uso do
espaço destinado aos quintais em dois bairros da cidade de Cuiabá- MT.
In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE MEIO AMBIENTE, 4,
1993, Cuiabá. Anais…. Cuiabá: 1993.
FRIEDMAN, J.; YANIV, Z.; DAFNI, A. & PALEWITCH, D. A. A preliminary
classification or the healing potential of medicinal plants based on a
rational analysis of an etnopharmacological field survey among Beduins in
the Negev desert, Israel. Journal of Ethnopharmacology, 16, 275-287,
1986.
GOGOLPHIM, N. A fotografia como recurso narrativo: Problemas sobre a
apropriação da imagem enquanto mensagem antropológica. Horizontes
Antropológicos, Porto Alegre, ano 1, 2:161-185. 1995.
GUARIM NETO, G.; GUARIM, V. L. M. S.; FERREIRA, H. Recursos
vegetais e conhecimento botânico tradicional: uma sinopse etnobotânica
no cerrado de Nobres, Mato Grosso, Brasil. In: PASA, M. C. (Org.).
Múltiplos Olhares sobre a Biodiversidade II. Jundiaí, Paco Editorial,
2013. p. 139-152.
GUARIM NETO, G. e AMARAL, C. N. Aspectos etnobotânicos de quintais
tradicionais dos moradores de Rosário Oeste, Mato Grosso, Brasil.
Polibotánica. n. 29. p. 191-212, México, 2010.
110
GUARIM NETO, G.; GUARIM, V. L. M. S.; CARNIELLO, M. A.; MACEDO,
M. Quintais urbanos e rurais em Mato Grosso: socializando espaços,
conservando a diversidade de plantas. In: SILVA, V. A.; ALMEIDA, A. L.
S.; ALBUQUERQUE, U. P. Etnobiologia e etnoecologia – pessoas &
natureza na América Latina. Recife: NUPEEA, 2010a. p. 323-328.
GUARIM NETO, G; GUARIM, V. L. M. S.; CARNIELLO, M. A.; SILVA, C
J.; PASA, M. C. Etnobiologia, etnoecologia e etnobotânica: as conexões
entre o conhecimento humano e os ambientes em Mato Grosso, Brasil. In:
SILVA, V. A.; ALMEIDA, A. L. S.; ALBUQUERQUE, U. P. Etnobiologia e
etnoecologia – pessoas & natureza na América Latina. Recife:
NUPEEA, 2010b. p. 145-172.
GUARIM NETO, G.; PASA, M. C. Estudo etnobotânico em uma área de
cerrado no município de Acorizal, Mato Grosso. Flovet. N. 1, p. 5-13,
2009.
GUARIM NETO, G.; CARNIELLO, M. A. Quintais Mato-grossenses:
espaço de conservação e reprodução de saberes. Cáceres: UNEMAT,
2008. 203 p.
GUARIM NETO, G. Arbustos e árvores dos quintais tradicionais de
Rosário Oeste: observando a representação popular. In: GUARIM NETO,
G.; CARNIELLO, M. A. (Orgs). Quintais Mato-grossenses: espaço de
conservação e reprodução de saberes. Cáceres: UNEMAT, 2008. p.
196-201.
HARIDASAN, M. Solos de matas de galeria e nutrição mineral de
espécies arbóreas em condições naturais. In: RIBEIRO, J. F. (Ed.)
Importância das matas de galeria: manutenção e recuperação.
Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. p. 19-28.
IBGE. 2006. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo
demográfico ano 2006. Brasília: IBGE.
IBGE. 2009. Instituto Brasileiro
Coordenadas geográficas. 2009.
de
Geografia
e
Estatística.
IBGE. 2014. Instituto Brasileiro de Geografia e estatística, Estimativa
Censo demográfico ano 2014. Brasília: IBGE.
INMET. Instituto Nacional de Meteorologia do Ministério da Agricultura.
Boletim Agroclimatológico. Brasília, v. 30, n. 1-12, 1996.
KFFURI, C. W. Etnobotânica de plantas medicinais no município de
Senador Firmino (Minas Gerais). 2008. 88 f. Dissertação (Mestrado em
Fitotecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG.
LEWIS, G. P.; SCHIRIRE, B.; MACKINDER, B.; LOCK, M. Legumes of
the World. Royal Botanic Gardens, Kew, v. 28, 2005.
111
MACIEL, M. R. A.; GUARIM NETO, G. Uso dos recursos vegetais na área
rural do município de Juruena. In: GUARIM NETO, G.; CARNIELLO, M. A.
(Org.). Quintais mato-grossenses: espaço de conservação e
reprodução de saberes. Cáceres, MT, UNEMAT, 2008. p. 129-154.
MACIEL, M.; GUARIM NETO, G. Um olhar sobre as benzedeiras de
Juruena (Mato Grosso, Brasil) e as plantas usadas para curar. Boletim
Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, Belém, v. 2, n. 3, p.
61-77, set-dez. 2006.
MANTOVANI, W. Conceituação e fatores condicionantes. In: Simpósio
sobre mata ciliar, 1989, Campinas. Anais. Fundação Cargill, 1989. p. 1119.
MARTINS, E. R.; CASTRO, D. M.; CASTELLANI, D. C. et al. Plantas
medicinais. Viçosa, MG: UFV, 2003. 220 p.
MEDEIROS, M. F. T. & ALBUQUERQUE, U. P. Dicionário Brasileiro de
Etnobiologia e Etnoecologia. In: MEDEIROS, M.F. T.; ALBUQUERQUE,
U. P. (Orgs.). Recife: Nupeea, 2012.
MEIHY, J. C. S. B. Manual de História Oral. São Paulo, Loyola, 1996.
MINAYO, M. C. S. Trabalho de campo: contexto de observação,
interação e descoberta. In: MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria,
método e criatividade. 29. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. (Coleção
temas sociais)
NAIR, P. K. R. An Introduction to Agroforestry. ICRAF: Kluwer
Academic Publishers. 1993. 401 p.
NAIR, P. K. R.; KUMAR, B. M. Introduction. In: Kumar B.M. and Nair
P.K.R. (eds), Tropical homegardens: A time-tested example of sustainable
agroforestry, p. 1 – 10. Springer Science, 2006, Dordrecht.
OLIVEIRA, A. G. Avaliação das temperaturas superficiais do solo em
relação à conformação urbana existente na praça do aeroporto
Marechal Rondon em Várzea Grande/MT. 2008. 80 f. Dissertação
(Mestrado em Física e Meio Ambiente) - Universidade Federal de Mato
Grosso, Cuiabá-MT.
OLIVEIRA, L. A. A festa do pescador em Bonsucesso: a produção
social da festa. 2012. 88 f. Dissertação (Mestrado em Estudos de Cultura
Contemporânea) – Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT.
OLIVEIRA, W. A.; PASA, M. C. Os quintais na comunidade de Santo
Antônio do Caramujo: etnobotânica e saber local. In: PASA, M. C.
Múltiplos olhares sobre a biodiversidade II. Jundiaí, Paco Editorial,
2013. p.47-74.
112
PASA, M. C.; DE DAVID, M.; MAMEDE, J. S. S.; SANCHEZ, D. C. M.;
BATISTA, B. M. F.; DIAS, G. S. Abordagem Qualiquantitativa em
Etnobotânica. In: PASA, M. C. (Org.). Múltiplos Olhares sobre a
Biodiversidade II. Jundiaí, Paco Editorial, 2013. p. 215-224.
PASA, M. C.; DE DAVID, M.; SÁNCHEZ, D. C. M. Copaifera langsdorffii
Desf: Aspectos Ecológicos e Silviculturais na Comunidade Santa Teresa.
Cuiabá, MT, Brasil. Biodiversidade, v. 11, n. 1, p. 13-22, 2012.
PASA, M. C. Saber local e medicina popular: a etnobotânica em Cuiabá,
Mato Grosso, Brasil. Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi Ciencias
Humanas. Belém, v.6, n.1, p.179-196, jan-abr. 2011a.
PASA, M. C. Abordagem etnobotânica na comunidade de Conceição-Açu,
Mato Grosso, Brasil. Polibotánica, n.31, p.169-197, México, 2011b.
PASA, M. C.; GUARIM NETO, G.; OLIVEIRA, W. A. A etnobotânica e as
plantas usadas como remédio na comunidade Bom Jardim, MT, Brasil.
Flovet, n. 3, dez. 2011.
PASA, M. C.; ÁVILA, G. Ribeirinhos e recursos vegetais: a etnobotânica
em Rondonópolis, Mato Grosso, Brasil. Interações. Campo Grande, v.11,
n.2, p.195-204, jul-dez. 2010.
PASA, M. C. Um olhar etnobotânico sobre as comunidades do
Bambá, Cuiabá, MT. Ed. Entrelinhas, Cuiabá, MT. 176 p. 2007.
PASA, M. C.; SOARES, J. J.; GUARIM NETO, G. Estudo etnobotânico na
comunidade de Conceição-Açu (alto da bacia do rio Aricá Açu, MT,
Brasil). Acta Botânica Brasílica. v.19, n.2, p. 195-207, 2005.
PASA, M. C. Etnobiologia de uma comunidade ribeirinha no Alto da
Bacia do Rio Aricá Açu, Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. 2004. 174 f.
Tese (Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade
Federal de São Carlos, São Carlos-SP.
PHILLIPS, O.; GENTRY, A. H. The useful plants of Tambopata, Peru: I.
Statistical hypotheses tests with a new quantitative technique. Economic
Botany, v. 47, n. 1, p. 15-32, 1993a.
PHILLIPS, O.; GENTRY, A. H. The useful plants of Tambopata, Peru: II.
Additional hypothesis testing in quantitative ethnobotany. Economic
Botany, v. 47, n. 1, p. 33-43, 1993b.
PREFEITURA MUNICIPAL DE VÁRZEA GRANDE – Secretaria de
Comunicação
Social.
2014.
Disponível
em
http://www.varzeagrande.mt.gov.br/conteudo/6471. Acesso em 30/07/14.
RABELO JUNIOR, F. A. Gestão dos recursos naturais na comunidade
ribeirinha de Passagem da Conceição (Médio rio Cuiabá, município
de Várzea Grande, Mato Grosso-Brasil), uma retrospectiva histórica.
113
2011. 149 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais) –
Universidade Federal de São carlos, São Carlos – SP.
REIS, M. S.; MARIOT, A. Diversidade natural e aspectos agronômicos de
plantas medicinais. In: SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN,
G. (Org.). Farmacognosia: da planta ao medicamento. Porto alegre:
UFRGS: UFSC, 1999. p. 39 -60.
REZENDE, A. V. Cerrado: matas de galeria. In: RIBEIRO, J. F. (Ed.)
Importância das matas de galeria: manutenção e recuperação.
Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. p. 3-16.
RIBEIRO, J. F.; SCHIAVINI, I. Recuperação de matas de galeria:
integração entre a oferta ambiental e a biologia das espécies. In:
RIBEIRO, J. F. (Ed.) Importância das matas de galeria: manutenção e
recuperação. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. p. 137-153.
ROCHA, D. B. Comunidade de Saloba Grande, Porto Estrela-MT:
Quintais, plantas e pessoas. In: PASA, M. C. (Org.). Múltiplos Olhares
sobre a Biodiversidade II. Jundiaí, Paco Editorial, 2013. p. 165-190.
SÁNCHEZ, D. C. M. A etnobotânica e as unidades de paisagem na
comunidade Água Fria, Chapada dos Guimarães, MT-Brasil. 2014.
122 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais e Ambientais) –
Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT.
SANCHEZ, R. O. Zoneamento Agroecológico do Estado de Mato
Grosso: Ordenamento Ecológico Paisagístico do Meio Natural e Rural.
Cuiabá: Fundação de Pesquisa Cândido Rondon, 1992.
SANTOS, S.; GUARIM NETO, G. Etnoecologia de quintais: estrutura e
diversidade de usos de recursos vegetais em Alta Floresta. In: GUARIM
NETO, G; CARNIELLO, M. C. (Org.). Quintais mato-grossenses:
espaço de conservação e reprodução de saberes. Cáceres, MT,
UNEMAT, 2008. p. 79-108.
SARAGOUSSI, M.; MARTEL, J. H. I.; RIBEIRO, G. A. Comparação na
composição de quintais de três localidades de terra firme do Estado do
Amazonas. Ethnobiology: Implications and Applications, v.1, p.295303, 1988.
SILVA, C. M. A produção artesanal e agricultura familiar de Várzea
Grande/MT. 2010, 134 f. Dissertação (Mestrado em Agronegócios e
Desenvolvimento Regional) - Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá-MT.
SILVA, M. R. A toponímia em Bonsucesso e Pai André no rio CuiabáMT. 2011, 113 f. Dissertação (Mestrado em Estudos de Linguagens) Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT.
114
SIVIERO, A.; DELUNARDO, T. A.; HAVERROTH, M.; OLIVEIRA, L. C.;
MENDONÇA, A. M. S. Cultivo de espécies alimentares em quintais
urbanos de Rio Branco, Acre, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 25(3): 549556. 2011.
TROPICOS. Missouri Botanical Garden. electronic databases. 2013.
Disponível em: <http://www.tropicos.org/>. Acesso em: 19 maio 2014.
VALENTINI, C. M. A.; PINHEIRO, A. C. M.; SALES, F. N.; GUILHER, M.
C.; SILVA, T. C. A.; MISSA JR, S. Impactos socioambientais gerados aos
pescadores da comunidade ribeirinha de Bonsucesso-MT pela construção
da Barragem de Manso. Holos, ano 27, v. 4, p. 6-22, 2011.
VALENTINI, C. M. A.; ALMEIDA, J. D.; COELHO, M. F. B.; ORTÍZ, C. E.
R. Uso de Siparuna guianensis Aublet (negramina) em Bom Sucesso,
município de Várzea Grande, Mato Grosso. Revista de Biologia
Neotropical, v. 5, n. 2, p. 11-22, 2008.
VENDRUSCOLO, G. S.; MENTZ, L. A. Estudo da concordância das
citações de uso e importância das espécies e famílias utilizadas como
medicinais pela comunidade do bairro Ponta Grossa, Porto Alegre, RS,
Brasil. Acta Botanica Brasilica. 2006, v 20, n 2, p 367-382.
VENDRUSCOLO, G. S.; MENTZ, L. A. Uso de plantas medicinais por uma
comunidade rural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. In: SILVA,
V.A.; ALMEIDA, A.L.S.; ALBUQUERQUE, U.P. (Org.). Etnobiologia e
Etnoecologia: pessoas & natureza na América Latina. 1ª Ed. Recife:
NUPEEA, 2010. (Série Atualidades em Etnobiologia e Etnoecologia). p.
211-227.
VIERTLER, R. B. Métodos Antropológicos como ferramentas para estudo
em Etnobiologia e Etnoecologia. In: AMOROZO, M. C. M.; MING, L. C.;
SILVA, S. M. P. (Orgs). Métodos de coleta e análise de dados em
etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. Rio Claro,
UNESP/CNPq. 2002. p. 11-29.
115
APÊNDICE: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA
OS RECURSOS VEGETAIS E A ETNOBOTÂNICA EM QUINTAIS URBANOS DE
VÁRZEA GRANDE, MATO GROSSO, BRASIL
1. NOME:_______________________________________________________________
2. ENDEREÇO:__________________________________________________________
3. SEXO: ( ) FEMININO
4. IDADE: ______
( ) MASCULINO
5. POSSUI FILHOS? ( ) SIM ( ) NÃO 6. QUANTOS? _________
7. ESTADO DE ORIGEM:
_______________________________________________________________________
8. RELIGIÃO:
_______________________________________________________________________
9. ESTADO CIVIL: ( ) SOLTEIRO
( ) CASADO
( ) SEPARADO
( ) VIÚVO
( ) OUTRO
10. GRAU DE INSTRUÇÃO: ( ) ENSINO FUNDAMENTAL ( ) ENSINO MÉDIO
( ) SUPERIOR
( ) PÓS-GRADUAÇÃO
( ) ______________INCOMPLETO
11. RENDA MENSAL: ( ) UM SALÁRIO MÍNIMO ( ) DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS
( ) MAIS DE DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS
12. HÁ QUANTO TEMPO RESIDE NO LOCAL?
_______________________________________________________________________
13. VOCÊ CONHECE A HISTÓRIA DE ORIGEM DO BAIRRO? ( ) SIM
( ) NÃO
14. QUAIS SÃO AS FESTAS IMPORTANTES NO BAIRRO?
_______________________________________________________________________
15. NÚMERO DE PESSOAS NA FAMÍLIA: ____________________________________
QUE MORAM NA CASA ( )
QUE NÃO MORAM NA CASA ( )
16. QUE ATIVIDADE EXERCE ATUALMENTE? ________________________________
17. QUAIS AS PLANTAS QUE VOCÊ CONHECE?
_______________________________________________________________________
18. TEM PLANTAS QUE CURAM? (
) SIM
(
) NÃO
QUAIS SÃO?
_______________________________________________________________________
19. CRIA ANIMAIS? ( ) SIM
( ) NÃO
QUAIS? ____________________________
20. QUE TIPOS DE CULTIVOS POSSUE NA PROPRIEDADE?
_______________________________________________________________________
21. EM CASO DE DOENÇA NA FAMÍLIA, ONDE RECEBE TRATAMENTO?
116
( ) NO POSTO MÉDICO OU HOSPITAL
( ) VAI PARA OUTRA CIDADE (QUAL)? _____________________________________
( ) FAZ TRATAMENTO COM REMÉDIOS NATURAIS
( ) NÃO FAZ NADA
22. QUAIS AS DOENÇAS MAIS COMUNS NA FAMÍLIA?
( ) MALÁRIA
( ) FEBRE AMARELA
( ) HANSENÍASE
( ) TUBERCULOSE
( ) LEISHMANIOSE
( ) SARAMPO
( ) VERMINOSE
( ) DIARRÉIA
( ) CATAPORA
( ) GRIPE
( ) DIABETES
( ) GASTRITE
( ) ANEMIA
( ) PROBLEMAS CARDÍACOS
( ) DENGUE
( ) OUTRAS:
_______________________________________________________________________
PLANTAS MEDICINAIS
24. FAZ USO DE PLANTAS MEDICINAIS?
( ) SIM
( ) NÃO
25. DE ONDE VEM O CONHECIMENTO DE USO DE PLANTAS MEDICINAIS?
( ) CONHECIMENTO TRADICIONAL FAMILIAR.
( ) CONHECIMENTO ORIUNDO DE CONTATOS COM FONTES EXTERNAS
(MIGRANTES OU VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO).
( ) CONTATOS COM TÉCNICOS (MÉDICOS, ENFERMEIROS, BIÓLOGOS,
PROFESSORES
( ) OUTROS:
_______________________________________________________________________
26. QUAIS PLANTAS MEDICINAIS SÃO USADAS PELA FAMÍLIA?
_______________________________________________________________________
27. QUAL A ORIGEM DAS PLANTAS (QUINTAL, COMÉRCIO ETC) UTILIZADAS
COMO REMÉDIO?
_______________________________________________________________________
28. QUAL A PARTE DA PLANTA É UTILIZADA (RAIZ, CAULE, FOLHA, FLOR, FRUTO,
SEMENTE)?
_______________________________________________________________________
117
29. POSSUI ALGUMA PLANTA MEDICINAL NO QUINTAL DA SUA RESIDÊNCIA?
QUAL?
_______________________________________________________________________
30. QUAL É A FORMA DE PREPARO DAS PLANTAS USADAS COMO REMÉDIO?
_______________________________________________________________________
DADOS DO IMÓVEL
31. FORMA DE APROPRIAÇÃO DO IMÓVEL:
( ) PROPRIETÁRIO
( ) ALUGUEL
( ) MORA DE FAVOR
( ) OUTRO
32. DOCUMENTO QUE POSSUI:
_______________________________________________________________________
33. DIMENSÃO DO IMÓVEL: _______________________________________________
34. ÁREA CONSTRUÍDA: __________________________________________________
35. POSSUI QUINTAL? ( ) SIM (
) NÃO
36. ÁREA DE QUINTAL: ___________________________________________________
37. LOCALIZAÇÃO DO QUINTAL:
( ) FUNDOS
( ) AO LADO
( ) NA FRENTE
( ) OUTRO LOCAL
DADOS DO QUINTAL
38. PLANTA NO QUINTAL?
( ) SIM
( ) NÃO
39. HÁ QUANTO TEMPO?
_______________________________________________________________________
40. POR QUE?
_______________________________________________________________________
41. QUAIS AS PLANTAS QUE POSSUI NO QUINTAL?
_______________________________________________________________________
42. QUAIS AS PLANTAS REMANESCENTES DA VEGETAÇÃO NATURAL?
_______________________________________________________________________
43.COMO SÃO USADAS AS PLANTAS DO QUINTAL?
_______________________________________________________________________
44. QUEM CUIDA DO QUINTAL?
118
_______________________________________________________________________
45. QUANTO TEMPO GASTA DIARIAMENTE CUIDANDO DO QUINTAL?
_______________________________________________________________________
46. QUAL ÉPOCA DO ANO TEM MAIS TRABALHO COM O QUINTAL?
_______________________________________________________________________
47. ALGUMA PLANTA NASCEU ESPONTANEAMENTE?
48. PELA EXPERIÊNCIA QUE POSSUI QUAIS AS PLANTAS QUE PODEM SER
PLANTADAS JUNTAS?
_______________________________________________________________________
49. COMO PLANTA? (CONHECIMENTO EMPREGADO):
_______________________________________________________________________
50. COM QUEM APRENDEU A PLANTAR?
_______________________________________________________________________
51. O QUE FAZ COM AS FOLHAS E RESTOS DE CAPINAS DO QUINTAL?
( ) QUEIMA
( ) JOGA NO LIXO
( ) FAZ ADUBO (COMPOSTO)
( ) OUTRO
52. CASO FAÇA COMPOSTO, EXPLICAR COMO.
_______________________________________________________________________
53. COMPRA ALGUM INSUMO PARA USAR NO QUINTAL?
( ) NÃO
( ) SIM
QUAL?
______________________________________________________________________
54. CULTIVA PLANTAS EM OUTRAS ÁREAS DA RESIDÊNCIA? ( ) SIM
( ) NÃO
55. ONDE? QUAIS? PARA QUE?
_______________________________________________________________________
56. CRIA ANIMAIS NA RESIDÊNCIA?
(
) SIM
(
) NÃO
57. QUAIS AS ESPÉCIES?
_______________________________________________________________________
58. QUANTIDADE:
(UNIDADE):_____________________________________________________________
119
59. INSTALAÇÕES: ( ) CERCADO
( ) SOLTO
60. ALIMENTAÇÃO:
_______________________________________________________________________
61. QUAL É A IMPORTÂNCIA DOS ANIMAIS NA VIDA DO SR (A)?
_______________________________________________________________________
62. USA OS RESÍDUOS: ( ) NA HORTA
( ) NAS FRUTEIRAS
( ) NAS ORNAMENTAIS
( ) VENDE
63. OUTRAS UTILIDADES DAS PLANTAS NO QUINTAL:
_______________________________________________________________________
DADOS SOBRE ATIVIDADES REALIZADAS NO QUINTAL
64. É COSTUME REUNIR NO QUINTAL?
( ) SIM
( ) NÃO
65. PARA QUE?
_______________________________________________________________________
66. OUTRAS ATIVIDADES NO QUINTAL (POR QUE):
_______________________________________________________________________
67. QUAL A IMPORTÂNCIA DO QUINTAL PARA O SR (A)?
_______________________________________________________________________
RESIDÊNCIA POSSUI MATAS? (
) SIM
(
) NÃO
69. VOCÊ JÁ TIROU/TIRA PRODUTOS DA MATA?
_______________________________________________________________________
70. QUAIS AS PLANTAS, POR QUE E PARA QUE?
_______________________________________________________________________
120
ANEXO: TERMO DE ACEITE DE PARTICIPAÇÃO NA PESQUISA.
TERMO DE ANUÊNCIA PRÉVIA
Eu ........................................................................................ portador(a) da
Carteira de Identidade nº ........................................................................................
e do CPF .............................................................................venho através do
presente documento oficializar o termo de aceitação para participar de livre e
espontânea vontade como integrante da Pesquisa: Os recursos vegetais e a
etnobotânica em quintas urbanos de Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil,
coordenada pela Profª. Dra. Maria Corette Pasa do Departamento de Botânica e
Ecologia/IB da Universidade Federal de Mato Grosso e pela Mestranda Margô
De David do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais
da UFMT.
............................................................................................
Assinatura da(o) participante
Várzea Grande, ........ de ................................ de 2013.
121
Download