Espaços da coesão social na era informacional* Tamara Tania Cohen Egler O espaço deve ser compreendido como uma categoria analítica de natureza totalizadora e de múltiplas determinações. Na conceituação mais simples, que podemos encontrar em dicionários, refere-se a distância entre dois pontos, e também no que existe entre duas superfícies. Podemos ir adiante e perceber que o espaço é uma categoria abstrata, que se refere à processos de natureza visível, como espaço construído e invisível como o espaço social .Mais do que isso, podemos pensar em formas espaciais infinitas, referidas ao universo ou ainda, ao espaço amoroso das trocas mais profundas da afetividade. O espaço construído pode ser observado em suas formas aparentes e materiais, refere-se aos espaços arquitetônicos, resultantes de um processo de produção específico, historicamente determinado pela técnica construtiva e por formas próprias de organização do trabalho. Responde pelas necessidades da produção e da vida social. Esta escrito nos objetos, edificados que compõem o processo de urbanização, e podemos suas identificar diferentes escalas de natureza local, regional, nacional e global. O espaço social é aquele que é percebido entre os indivíduos que participam de um coletivo. É de natureza imaterial, refere-se aos vínculos que traçam as relações entre os indivíduos e a sociedade e que formam o tecido social. Que se representam através de fios invisíveis, de natureza comunicativa que fazem a coesão social, é a cola que reúne os homens em lugar comum. Podemos ler diferentes esferas do tecido social, onde se realizam coletivos específicos que tem por objeto de ação a produção econômica, a organização política e a vida social. Se aliarmos à noção de espaço a consciência do tempo, podemos proceder a sua representação através de um feixe de luz horizontal no qual podemos cortar as partes e abrir os lados para encontrarmos o sentido de atualidade, onde podemos ler, nos planos do tempo, a tradição e a inovação. Isso quer dizer que o tempo é esse transcorrer no feixe de luz que realiza o ininterrupto processo de transformação que mescla, no presente, elementos de passado e do futuro. Nessa arquitetura analítica podemos decompor o nosso objeto espacial em formas construídas e sociais , que se desdobram em escalas de ordem vertical, e esferas de ordem horizontal. Mais do que isso, o processo de transformação resultante do passar do tempo, transforma a totalidade da complexidade espacial Podemos perguntar: Quais são as formas espaciais, que podem ser lidas à nível local e global, nessa transição que conduz a sociedade industrial para a sociedade da comunicação? Para responder à essa indagação, o nosso ponto de partida está inscrito no advento de novas tecnologias de comunicação que possibilita a formação de um espaço que possui uma forma com múltiplas faces e que possibilitam a criação de um espaço imaterial, fluido, sendo sua arquitetura em rede infinita, cujas conexões formam centros onde se sobrepõem redes em diferentes escalas. É a forma espacial da sociedade globalizada. Os objetos, fluxos e ações1, conceitos que iluminam a ordem dos processos espaciais, ao serem aplicados nessa configuração espacial, expressam as ações sociais que resultam na produção de objetos simbólicos, pela realização de fluxos comunicacionais, para alcançar condições necessárias ao desenvolvimento de relações econômicas, políticas e simbólicas. Essa nova base técnica que permite fluxos comunicacionais atemporais e aterritoriais, resulta no espaço que permite o processo de globalização. Entendemos que o mesmo foi utilizado primeiramente pelas possibilidades de articulação de atividades econômicas, que ao vencerem as *Publicado in: In Barrenechea Miguel Angel & Gondar J.- Memória e espaço: trilhas do contemporâneo, Rio de Janeiro, sete letras , 2003 1 - Ver proposta metodológica de SANTOS, Milton - A natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção, São Paulo, Hucitec, 1996. 2 barreiras locacionais, redefinem a decisão do investimento capitalista e do papel do Estado. Nesse processo foi possível observar a fusão entre economia e a política. e a reinvenção de formas de dominação das nações mais ricas sobre as mais pobres O essencial do nosso trabalho é demonstrar como as novas tecnologias constituem um novo espaço que resulta, transforma e se sobrepõem às formas anteriores do espaço construído da sociedade industrial. Ele permite a realização de fluxos nas diferentes esferas econômicas, políticas e culturais. Isso quer dizer que compreendemos ser possível resistir ao processo de dominação que resulta da fusão entre economia e a política , com formas alternativas de coesão social, na escala local e global. A nossa vontade é demonstrar nessa reflexão, como isso pode acontecer. Espaço construído e espaço social As formas aparentes do espaço construído pelo homem sobre a natureza, tem forma material, resulta de um processo de produção específico, de uma técnica própria, ancorada em relações de produção historicamente determinadas. Que pode ser observado em diferentes escalas. Desde a mais singular como o espaço construído de uma casa para as mais complexas de um bairro, de uma cidade, região, pais ou do mundo. O espaço social é de natureza invisível, imaterial, refere-se às diferentes formas da coesão social que podem ser dar sobre diferentes esferas da produção econômica, da organização política, a da representação cultural. São relações que reúnem os homens em um mesmo lugar, que reúne aqueles que estão unificados por um objeto em comum. A sociedade se organiza através de vínculos que traçam as relações entre os coletivos que tem objetos de ação em comum e que fazem o poder de ação humana. Esses grupos são constituídos através de fios invisíveis que são de natureza comunicativa. Nada mais precioso do que o formulação de Milton Santos 2 para entender que a comunicação é a relação social que coloca em comum, faz a união entre os homens. Essa compreensão é importante porque desloca a possibilidade de compreender o mundo através do ideário estruturalista determinada pela instância econômica onde o ideológico e político respondem de forma subordinada. Para nós, a categoria espaço é fundamental porque ela pode ser desdobrada em esferas que totalizam a nossa compreensão sob o manto do social. Isso quer dizer que a sociedade pode ser lida pela processo que integra diferentes grupos sociais, que podem objetivar a produção econômica, como a indústria e os serviços, a ordem política como os partidos, sindicatos e movimentos populares, ou a vida social como as famílias e tribos. Compreendemos, portanto, que a coesão entre os grupos que compõem uma determinada esfera é de natureza comunicativa. Isso traz para um elevado patamar analítico a importância da comunicação social e seus efeitos nas diferentes escalas e esferas que compõem o processo espacial. É a cola que reúne os homens em lugar comum. Porque ela torna possível, na escritura de Bourdieu, 3 uma concepção homogênea do tempo, do espaço e da causa., que torna possível a concordância entre as inteligências e produz a possibilidade de existir um mundo igualmente compreensível . São esses os fios invisíveis percebidos por da Hanna Arendt, que são de natureza comunicativa, porque elas tornam possível o consenso do mundo social e contribuem para a reprodução da ordem social e da formação de coletivos. O espaço construído e o espaço social, podem ser lidos em diferentes escalas, refere-se à relações verticais que desenham os contornos de sua compreensão. Podemos ler suas diferentes escalas em sua forma mais simples na construção de uma habitação, de um bairro, de uma cidade, de uma região, das fronteiras de uma nação. E podemos observar suas diferentes esferas na produção econômica, organização política e expressão simbólica. 2 SANTOS, Milton – Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional, São Paulo, HUCITEC, 1994. 3 BOURDIEU, Pierre - O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998. 3 Nos espaços , do transcorrer do tempo, vamos encontrar processos que resultam em formas próprias de construção e coesão social. Para cada momento histórico um determinado processo, que pode ser lido, por exemplo, na urbanização ou globalização. O processo de urbanização é bem conhecido refere-se às formas do espaço construído que resultam da uma base técnica industrial, reúne em proximidade locacional os edifícios necessários ao desenvolvimento de suas atividades do mundo industrial O processo de globalização reúne as nações em um espaço e tempo comum, sendo que lhe correspondem formas construídas que resultam da base técnica informática, imaterial e fluida. No lugar dos marcos edificados da urbanização, sinais eletrônicos , de representação imagética, onde se realizam os fluxos necessários ao desenvolvimento das esferas econômicas, política e cultural da sociedade informacional. Os espaços se sobrepõem no tempo, nos seus fluxos vamos encontrar as diferentes representações de cada momento histórico que se plasma em espaços construídos. Se percorremos as cidades, podemos ler os diferentes momentos históricos que lhe deram origem , para cada período uma forma particular e correspondente. Ao processo de urbanização se sobrepõem o processo de globalização e transforma suas escalas e esferas. Objetos, fluxos e ações em escalas e esferas Pensar o espaço como um sistema de objetos e ações que interagem por fluxos comunicacionais, é o rumo metodológico indicado por Milton Santos 4que abre o caminho mais abstrato, para iluminar os elementos essências constitutivos do processo espacial. Onde os fundamentos do espaço se constituem em um processo técnico, que anuncia uma temporalidade e intencionalidade que se materializa em objetos e ações. Essa luz mostra a trilha que conduz o nosso entendimento, das formas particulares do processo espacial na era informacional Assim pensado, o espaço é um meio onde encontramos objetos, que são manipulados por ações sociais, através de fluxos comunicacionais. Vale para qualquer momento histórico, e promove nosso encantamento pela compreensão da natureza dos processos espaciais O advento de novas tecnologias da comunicação produz formas espaciais que são de natureza numérica onde podemos observar objetos, que são produzidos em forma de arquivos numéricos, fluxos pela instantaneidade das trocas, e ações que se representam através de novas estruturas simbólicas e intelectuais. 5 Para nos interessa pensar como as novas tecnologias da informação e comunicação redefinem as escalas e as esferas do processo espacial na era informacional. Isso quer dizer que consideramos que existem transformações importantes na ordem dos espaços construídos e dos espaços sociais. As escalas e esferas se unificam nos objetos, assim podemos reconhecer que para cada objeto no espaço, temos uma determinação em escala e outra em esfera. Por, exemplo, se a referência está em uma casa, ela necessariamente tem uma dimensão de espaço construído, que pode ser reconhecido em sua materialidade e outra de esfera social, referida à coesão da família. Podemos dar outro exemplo, se a referência é uma fábrica, encontramos sua dimensão física na materialidade da escala na qual se encontra sua edificação e outra na esfera da produção econômica de natureza social. E assim podemos desdobrar esses exemplos de forma infinita sobre o real Essa brincadeira teórica, nos ajuda a focar a nossa analise, que busca iluminar na atualidade ,as determinações da complexidade do processo espacial. Isso quer dizer que consideramos que o processo de globalização e sua base técnica, ancorada na rede de computadores mundial incide sobre as escalas e as esferas do processo espacial. Global e local no espaço informacional 4 EGLER Tamara- “A Imagem do Espaço Numérico”, no Anais do IV SIGRADI - Construindo o Espaço Digital, setembro de 2000. 4 O debate sobre o processo de globalização, é bem conhecido principalmente em suas vozes críticas, relembramos os textos do, sempre presente, professor Milton Santos, que alertam para os perigos da globalização e da subordinação aos desígnios do capital internacional e de seus efeitos sobre a soberania das nações. 6 Os estudos mais recentes de Hard & Nigri7 fazem uma critica a esse posicionamento e reconhecem como a literatura de esquerda valoriza a dimensão local, fundada na libertação. Pare essa literatura o lugar é concebido como território e identidade, contra o espaço das redes globais. Assim, a estratégia é defender o local e construir barreiras contra os fluxos do capital global. A globalização é considerada como privação e derrota. Para os autores essa perspectiva localista é falsa, porque aponta uma dicotomia entre o local e o global . Onde o global responde por uma homogeneização e uma identidade indiferenciada, sendo que o local permite a heterogeneidade e a diferença . Fazem a crítica a esse posicionamento observando que ele romantiza relações sociais e identitárias. Nessa trilha, o procedimento analítico percebido e criticado refere-se a produção da localidade como máquina social que cria e recria as identidade e as diferenças. O procedimento analítico proposto é que a globalidade não deve ser entendida como homogeneização cultural, política ou econômica. A globalização e a localização devem ser entendida como regime de produção de identidade e diferença, e homogeneização e heterogeneização . Sendo falso, pois, querer estabelecer identidades locais que estão fora e protegidas dos fluxos globais8 Esse avanço analítico é muito importante para nós, porque nos abre uma porta teórica para compreendermos que o processo de globalização tem efeitos sobre as localizações. E podemos demonstrar como existem novas determinações nos processos espaciais, um primeiro na formação do espaço global e outro na transformação do local. Uma contribuição importante desse estudo esta no reconhecimento das formas particulares do espaço global, para eles essa espacialidade pode ser “lida numa esfera infinita com o centro em toda parte”. Onde podemos reconhecer campos de força complexos, em múltiplas relações entre as unidades e o centro. As novas tecnologias da informação, produzem um novo espaço que dilui as barreiras locacionais e permite um fluxo de informação que vence as barreiras locacionais da sociedade industrial, quando podemos observar, a formação de uma rede mundial de comunicação entre as nações. 9 O debate sobre o processo de globalização é bem conhecido, para nós interessa desvendar os efeitos da nova ordem técnica, dada pelo desenvolvimento das microeletrônica e que resulta em novas formas de comunicação, mediadas pela rede mundial de computadores que produz formas espaciais próprias. Esse espaço de tecnologia informática, concretude invisível, materialidade fluida e arquitetura em rede, se forma em torno do mundo, sobreposta às cidades, criando um malha de natureza informacional infinita que articula a cultura, a economia, a política e as pessoas. É a forma espacial da sociedade global. Elas se sobrepõem ao espaço da sociedade industrial e o transformam, isso quer dizer que observamos a formação desse espaço que se forma sobre o mundo e o globaliza, mas também que se forma sobre as localidades e as transformam. São, portanto, duas determinações uma primeira de ordem local e uma segunda global. Essa reflexão se deve a compreensão de que as formas espaciais estão associadas à determinações de natureza técnica. Para cada momento histórico, uma determinada tecnologia e correspondentes formas espaciais. Por exemplo, a sociedade industrial propiciou o processo de urbanização do espaço, mas foi a técnica do concreto armado, que permitiu a verticalização e a conquista do espaço aéreo para atividade humanas. As formas espaciais da sociedade globalizada resultam da tecnologia de comunicação, que podem colocar em comum de forma imaterial processos de troca econômica, política e simbólica. 6 SANTOS, Milton - A natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção, São Paulo, Hucitec, 1996 e– Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional, São Paulo, HUCITEC, 1994. 7 HARDT, Michel &NEGRI, Antonio Império. Rio de Janeiro, Record, 2001, 8 Ibidem 9 Ibidem 5 Esse espaço pode ser lido na rede, permite os fluxos de informação que realizam novas possibilidades de trocas econômicas. Não é a toa que o primeiro processo em termos de globalização, aconteceu no sistema financeiro. Quando a circulação do dinheiro ganha um novo espaço e fluidez. O estabelecimento do mercado mundial financeiro, conduz para novas relações de produção, que são bem conhecidas, porque transformam as possibilidades de articulação das empresas e da divisão internacional do trabalho. A autonomização do investimento capitalista, conduz para novas relações de acumulação que promovem a subordinação dos estados nacionais ao poder do capital, esse debate é bem conhecido. Interessa reter que se transformam as relações de entre as nações, quando se alteram as relações centro periferia e se observam novas estratégias de dominação, quando o processo de globalização econômica , recria e reinventa a servidão. Por outro lado, compreendemos que nesse espaço informacional encontramos também outros fluxos de informação de natureza simbólica. Que permitem outras formas de unificação entre as pessoas e instituições que compõem as nações . Importa observar que nesse mesmo espaço, podemos reconhecer outras trocas multiculturais que invertem a servidão em libertação. Esse é o nosso debate: reconhecer como esse espaço reúne numa mesma totalidade processos que resultam em formas de dominação e outros que resultam em formas de libertação. Trata-se, portanto, de estudar quais são suas formas específicas. Espaço na sociedade da informação A nossa pesquisa: “O espaço na sociedade da informação “10, tem por objeto de investigação o desvendamento dessas formas espaciais, muitas vezes invisíveis a olho nu. A construção desse objeto responde por um caminho analítico que se inicia pelos efeitos das novas tecnologias sobre os espaço urbano. Quando foi possível considerar sua importância dadas as novas possibilidades de representação do espaço e da comunicação sobre o espaço. Com Bourdieu11 entendemos a complexidade do processo de construção do objeto analítico. A partir do conceito de habitus científico como uma forma de operação mental, é que se torna possível desvendar o mundo. O que se trata de entender é que esse modo de operação científica supõe um modo de percepção, e um conjunto de princípios de visão e divisão do mundo. Onde a única maneira de avançar é ver e operar o pensamento no sentido de formular o habitus científico. Uma das coisas mais importantes na pesquisa científica é exatamente a construção do objeto do conhecimento, lamentavelmente muito pouco conhecida. Na luz dessa compreensão a construção do objeto cientifico é o próprio exercício da inteligência e da invenção, que penetra no real e afasta o dogmatismo da teoria em si mesma. Nessa enorme tarefa de compreender o mundo, o autor nos alerta para o fato de que: a construção de um objeto é um processo que não nasce de uma só tacada, é como uma obra de arte ela é feita e refeita, sendo necessária muitas pinceladas num trabalho de grande fôlego., que se realiza pouco à pouco. 12 Ainda com Bourdieu, vamos aprender como essa operação mental supõem retirar do real, através de pensamento relacional e associativo elementos que permitam a construção do objeto. O desafio é aprender os espaços sociais para além de suas forma materiais e econômicas, “para desenhar as grandes linhas de força” que o compõem, no sentido de construir um modelo e tirar dele as “propriedades gerais e invariantes.” Isso só se torna possível, através de da formulação de perguntas e de respostas que procurem objetivar o mundo real. Para construir um objeto científico é preciso romper com o já conhecido, que se encontra nas instituições cientificas e no senso comum, e que esta escrito no pensamento das pessoas. O desafio 10 Em desenvolvimento no IPPUR/UFRJ sob financiamento CNPq e Faperj 11 BOURDIEU, P – O poder simbólico. R.J.: Bertrand, 1998 12 BOURDIEU, Pierre - O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998. 6 é sair do “pré construído”, para retirar do mundo efetivo os elementos que conduzem para a sua compreensão. A construção do objeto supõem a “conversão do olhar “, sendo o desafio o de “dar novos olhos. 13 . Mas é também na leitura do objeto de trabalho de Miltos Santos que percebemos como essa construção responde por uma operação mental que pode ser representada por uma elipse. Quando a decomposição do objeto analítico acontece dentro de um processo que tem um movimento crescente . Mais do que isso. porque na trilha da elipse vamos encontrar as “pedras” de Ana Clara Torres Ribeiro 14que se colocam entre sí, e fazem os elementos que formam e unificam a construção analítica do objeto do conhecimento. São esses instrumentos de trabalho que nos permitiram, compreender a trajetória de construção do nosso objeto. Assim, no início do nosso caminho foi possível observar que o advento de novas tecnologias do conhecimento deveriam resultar em transformações nas formas de representação do espaço. Essa primeira constatação estava associada as novas formas de difusão da informação e a emergência de novas possibilidades de ampliação dos processos de apropriação do conhecimento sobre a cidades. Nesse primeiro “trecho” analítico, a cidade é um objeto que se pode representar através de uma linguagem em suporte digital. Nessa direção era preciso reinventar a linguagem para democratizar o acesso ao conhecimento da cidade e ampliar as condições de realização da existência e da cidadania. Nesse lugar analítico, as relações entre cidade e comunicação foram reconhecidos em diferentes elementos do objeto. Como o planejamento ancorado no marketing, quando a cidade se transforma numa mercadoria a ser vendida, ou nas possibilidades dadas pelo planejamento comunicativo, no sentido de ampliar as possibilidades de participação social .nas formulação e realização de condições favoráveis ao uso social do espaço construído. Essa “pedra “do nosso objeto refere-se à associação entre cidade e comunicação, lidas no uso da comunicação, para a difusão da informação sobre a cidade, pelo Estado e para a sociedade. De fato, Bourdieu tem toda razão, quando escreve que a construção do objeto requer muitas pinceladas. Pintando foi possível desenhar mais uma porta, que abriu para um novo mundo onde descobrimos o espaço numérico, em si mesmo. Essa reflexão nasce da percepção de novas formas de comunicação social. Não me canso de repetir as palavras de Milton Santos, que anunciam que a comunicação é uma relação social que “coloca em comum”. Esse é o ponto que faz uma outra “pedra”, quando foi possível perceber que, as novas tecnologias além de permitirem uma linguagem imagética, possibilitam um suporte técnico para a construção de um novo espaço de arquitetura numérica. Onde se realizam outra possibilidades para a relação social que coloca em comum. Essa foi a chave que possibilitou desvendar a imagem do espaço numérico 15 Nesse eixo, foi possível compreender que o espaço numérico, ou como se queria chamar, virtual, cibernético é o espaço da sociedade global. Que permite a articulação aterritorial e atemporal das nações, cidades, empresas e pessoas. O que resulta de uma associação entre globalização e novas tecnologias de comunicação .Novas possibilidades de trocar objetos e afetos 16. A importância da analise sobre os efeitos das novas tecnologias nasce da compreensão, de que além de da escala global, elas também transformam a escala local. Esse é o ponto de partida que permite o nosso avanço, no sentido de identificar as diferentes escalas do espaço construído resultante de técnicas de comunicação numérica. Tudo isso para explicar que hoje, estamos escrevendo para reconhecer os efeitos das novas tecnologias sobre essas diferentes escalas e esferas do processo espacial. Nesse “trecho” analítico interessa ver que elas se sobrepõem ao espaço urbano da sociedade industrial e o transformam .O espaço em rede de arquitetura numérica nos permite avançar no sentido de perceber que ele pode existir em diferentes escalas: global, nacional, local, institucional ou simplesmente para um coletivo de pessoas. E podemos imaginar como sua representação pode ser lida pela sobreposição de redes em diferentes escalas . 13 Ibidem, 14 Eixos, trechos e pedras são metáforas cridas por Ana Clara Torres Ribeiro, interlocutora no nosso cotidiano, para representar a metodologia do processo de formulação do objeto do conhecimento 15 Opus cit. 16Ibidem 7 O espaço urbano da sociedade industrial responde por uma ordem, que resulta de um processo histórico que dá concretude às formas da organização econômica, política e social . Não são poucos os estudos que demonstram como o processo de urbanização resulta do processo de industrialização e o concretiza. Desde Marx, 17até Castells 18 e outros autores , vamos os ler como as condições gerais e necessárias ao processo de industrialização sobrevêm formas específicas de urbanização e de espaço construído. É essa equação que da claridade à urbanização de base industrial. Nessa sociedade o espaço construído responde pelas necessidades da produção, circulação, troca e consumo necessárias à produção das mercadorias. Ele se constitui no abrigo das atividades econômicas, políticas e culturais da sociedade organizada sobre tecnologia industrial. As fábricas, as casas, as universidades respondem pela forma de organização social necessária ao seu desenvolvimento. Isso quer dizer que o espaço construído abriga e possibilita o desenvolvimento dessas atividades, que se fundamentam sobre a possibilidade de comunicação presencial. A sociedade responde por uma organização fundamentada sobre a ordem da localização e da proximidade corporal. O coletivo acontece por conta dessa comunicação, que organiza os homens, que abrigam suas atividades em espaços edificados. O espaço construído da sociedade industrial é uma forma especifica do espaço social, historicamente determinado. O fato é que naturalizamos esses edifícios e esquecemos que eles resultam de uma tecnologia específica do concreto armado, que tornou possível a sua verticalização. Quando olhamos para as nossas cidades, é preciso sempre lembrar que esse é o espaço que foi construído pelos homens, para permitir a ordem dos processos inscritos no desenvolvimento da sociedade industrial. Essa releitura é importante porque conduz nosso pensamento no sentido de tornar claro, que a sociedade industrial esta amparada sobre um processo de comunicação presencial e hierarquizada entre as pessoas que participam dos coletivos. Assim é para a fábrica, para escola, para a universidade...As empresas e as instituições se organizam de forma à ocuparem uma localização privilegiada, para ampliar suas possibilidades de comunicação externa e organizar seus espaços internos de forma à permitir formas hierarquizadas de comunicação, que formam os coletivos das diferentes esferas do processo social. A forma de construção do espaço em arquitetura de rede e tecnologia numérica transforma as possibilidades de comunicação entre instituições, empresas e pessoas. A comunicação passa a ser mediada pela rede de computadores, que eliminam as necessidades da localização material e da comunicação presencial e corporal. No lugar do espaço edificado um espaço de lógica numérica, que se representa por outras formas de objetos, fluxos e ações. Para ter lugar na sociedade industrial era preciso dispor de um terreno, uma edificação e um saber fazer. Para ter lugar na sociedade da comunicação é preciso dispor de um computador, uma rede telefônica e um saber fazer alguma coisa, e também um saber fazer informático.19. Para participar desse novo mundo há que dispor de um conhecimento que permita lidar com os códigos técnicos, lógicos e sociais que permitem a produção e apropriação de possibilidades de vida e de trabalho. O desenvolvimento de redes locais transforma a ordem dos processos de articulação entre as diferentes organizações sociais das esferas econômica, política ou cultural. Isso quer dizer que é possível responder por novas formas de organização horizontal e comunicação mediada por computadores que possibilitam nova ordem espacial para a formação de coletivos, nas diferentes esferas do processo social. Sabemos que a sociedade se organiza em estruturas verticais e hierarquizadas, a possibilidade de formar, por exemplo, o trabalhador coletivo, se deve a um comando exercido pelo capitalista, e toda a estrutura que o sustenta. Se pensamos na hierarquia de uma universidade, vamos observar como o comando se realiza, de forma centralmente organizada, tendo na cabeça o reitor e seus sub-reitores, centros, departamentos e professores, funcionários e estudantes que formam esse coletivo de trabalho intelectual. Podemos dar um cem número de exemplos, sobre a ordem hierárquica de nossa 17 MARX, Karl O capital, livro I, México, Fundo de Cultura Econômica 1978 18 CASTELLS, Manuel, La cuestio urbana,México, Siglo veintiunno Editores, 1974 19 EGLER, Tamara“Cidade Virtual”, O Estado de São Paulo, Ensaio no Caderno Especial - Domingo, 20 de outubro 1996. 8 sociedade, onde em todas as esferas vamos encontrar pessoas que comandam e outras que são subordinadas O Bourdieu explica bem, como em cada esfera do processos social podemos observar diferentes classes sociais. 20 As inovações tecnológicas permitem estruturas de organização, que nessa arquitetura em rede horizontal , possibilita a realização de fluxos que permitem a comunicação concomitante de muitas pessoas que participam dos coletivos. Essa questão é importante porque a comunicação concomitante e horizontal, permite a participação dessas pessoas ao mesmo tempo. Isso torna possível o sonho de um mundo liberto de estruturas de dominação. Certamente existe uma grade distância entre o sonho e a realidade, entretanto estamos seguros que para transformar o sonho em realidade, o espaço horizontal e infinito, de comunicação concomitante e fluxos horizontais, está mais próximo da libertação do que da servidão. O uso das tecnologias nas diferentes esferas A percepção do social é muito difícil, e pouco conhecida. Os estudos marxistas que dominaram a interpretação do mundo no último quartel do século, percebiam sua existência, lida em sua determinação econômica. Nessa equação a dimensão social está dentro da fábrica. Tanto é, que em sua obra máxima O Capital, 21toda referência às pessoas está escrita na força de trabalho. Com o desenvolvimento das ciências sociais, podemos observar uma evolução que indicou, do outro lado da força de trabalho os consumidores. Aos poucos a percepção do social se torna mais clara e a ciência política, vai reconhecer as condições de realização da cidadania, na reflexão que toma conta do importante debate sobre a democracia. As pessoas e suas condições de vida, foram relegadas a um plano invisível, quando a econômica e a política comandavam a compreensão e o desvendamento do mundo. Devemos a Léfèbrve22 a enorme contribuição, quando ele se refere a formas multifacetadas do processo social que podem ser representadas por um caleidoscópio. Com Certeau 23e Milton Santos,24 vamos conhecer a importância do acontecer, e dos eventos na vida dos homens em seus espaços e nos seus tempos. Quando a economia e depois a política, comandavam a compreensão do mundo, o homem se viu diminuído às formas de sua inserção no processo de produção de mercadorias e depois nas suas possibilidades de realizar seus direitos de cidadão, onde as possibilidades de participar do mundo das representações políticas, o habilitavam ao exercício dos direitos sociais . Nessa compreensão econômica e política, o mundo social ocupa um lugar secundário, sendo sempre resultante das esferas econômicas e políticas que o precedem . O nosso começo ; mostra que o mundo social precede, sendo que ele tem a possibilidade de criar os outros coletivos que o sucedem. Por essa razão compreendemos que a cultura, a economia e a política São formas de pensar, de fazer e de poder das sociedade. Assim pensado, o social vem antes e contêm as outras instancias. O espaço é mais do que a distância entre dois pontos, ou o conteúdo entre duas superfícies, mas é uma categoria analítica que se refere ao conteúdo social das esferas econômica, política e simbólica, mais do que isso se plasma em formas específicas de construção, que podem ser construções da sociedade industrial que tem forma material, ou construções imateriais da sociedade informacional. Então, interessa agora observar como cada esfera utiliza em suas atividades esse espaço. A percepção desse espaço vem se realizando de forma paulatina, aos poucos os agente percebem suas potencialidades e trabalham no sentido de reconhecer as múltiplas formas de apropriação, que podem resultar em ganhos efetivos, para as empresas, as instituições e as pessoas. 20 BOURDIEU, Pierre - O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998. 21 Opus cit 22 LÉFÈBRVRE, Henri- A vida cotidiana no mundo moderno, Trad. Alberto Escudero, Madrid, Alianza Editorial, 1984. 23 CERTEAU, Michel 1998 A invenção do cotidiano: artes do fazer, Petrópolis, Editora Vozes, 3a edição. 24 Opus cit, 9 As formas de sua utilização nas diferentes esferas, vem sendo objeto de um cem número de estudos . Não é esse o objetivo do nosso trabalho, para nós interessa perceber as formas de construção , representação e utilização dos espaços. Nessa direção vamos colher na vida real exemplos, que podem nos ajudar a entender esse processo. Já podemos perceber que na esfera econômica encontram-se em desenvolvimento, no nosso país, um conjunto de experiências amparadas em novas possibilidades de redes produtivas que promovem a associação de pequenas empresas e possibilitam a formação de coletivos em rede.25,como é o caso dos arranjos produtivos para a produção de sapatos em Franca .Durante o governo Fernando Henrique Cardoso o MCT teve uma ampla política de financiamento de arranjos produtivos, que responderam exatamente por essa lógica de articulação de pequenas unidades produtivas, para a produção de mercadorias em determinados setores da esfera econômica.26 Podemos também ler esse procedimento em outras esferas, como por exemplo a cultural, onde podemos ler o desenvolvimento de universidades em rede, que podem ampliar seu processo de articulação interna e externa através da formação de novas conexões que possibilitem novas possibilidades de ação, no sentido de ampliar a voz da universidade e sua responsabilidade social na produção e difusão do conhecimento 27Como é o caso da cidade do conhecimento da USP, que pode ser vista no site www.cidade.usp.br, sendo uma experiência precursora, que vislumbra as novas possibilidades de articulação do conhecimento e de suas possibilidade de difusão. Na esfera política, podemos perceber que as redes permitem a formação de um novo espaço público, que pode reunir internamente, e de forma diferenciada as instituições governamentais e também externamente podem promover um nova interlocução com a sociedade Isso quer dizer que é possível ampliar o espaço de comunicação entre Estado e sociedade. Já podemos observar no Brasil um conjunto de iniciativas nessa direção, que estão associados às experiências em curso de governo eletrônico que podem ser lidas tanto no Rio de Janeiro, como na Bahia 28 Certamente a Internet é um bem que vem sendo amplamente utilizado para a mediação de novas formas de sociabilidade. Muitos estudos foram realizados sobre o tema, e os mais otimistas reconhecem as múltiplas possibilidades de se participar dos diferentes coletivos que existem da rede. Sendo que os mais pessimistas apontam para os perigos de suas relações virtuais. Por enquanto, a utilização de novos espaços de comunicação resultam na transformação das articulações sociais nas esferas: econômicas, políticas e culturais sendo que ampliam as possibilidades da produção, de mercadorias, de bens culturais e de mediações políticas. O que ainda não esta claro, é como podem se constituir em um espaço, que possa ser socialmente apropriado pelas pessoas para autonomizar a vida social ? Apropriação social da tecnologia de lógica numérica. A invenção das tecnologias de comunicação, tem sua origem no esforço cientista, durante a segunda guerra mundial, em busca da decodificação das mensagens da força alemã. 29. Foram necessários muitos anos para que esse avanço cientifico resultasse na tecnologia de computadores individuais. O fato é que já na década de 70 nos EUA se desenvolve a tecnologia de computadores individuais, e o seu florescimento faz a história de Silycon Valley e da Microsoft . No Brasil, a lei da informática que tinha por objetivo o desenvolvimento dessa tecnologia no nosso pais, acabou sendo um tiro que saiu pela culatra, porque não alcançou mover a industria de base como se desejava, e ao invés de encontrar caminhos para seu desenvolvimento acabou atrasando seu processo de apropriação pelo tempo de uma década. 25 LASTRES, Helena ( org)– Informação e Globalização na era do conhecimento Rio de Janeiro, Campos, 1999 26 MCT, Livro verde, Brasília, MCT, 2000 27 Egler Tamara, UFRJ em rede, projeto apresentado ao Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, mimeo, 2002 28 Suazana Hamilton, – “Projeto de pesquisa para tese de doutoramento, em desenvolvimento no IPPUR/UFRJ, 2002 29 Puighonet, Raul Vargas – “Espaço Virtual e Redes Tecnológicas – Ciberespaço e Cidade”, IPPUR/UFRJ – tese de mestrado, janeiro de 2001. 10 Mas de qualquer forma a tecnologia foi sendo apropriada paulatinamente e essa apropriação se deu primeiramente pelo sistema financeiro, e depois pelo setor de serviços como é caso das empresas áreas. Mais tardiamente, foi sendo apropriada pela produção capitalista e pelos governos. Hoje dispomos de uma ampla rede de computadores, manejada por mais de 20 milhões de pessoas. Todos os dias são realizadas milhares de conexões na Internet, quando sua importância cresce em todas as esferas que compõem a nossa sociedade. A ação social de apropriação e utilização responde por um tempo lento quanto, a sociedade vai se dando conta ao poucos, e também não acontece “de uma só tacada”. A ação de apropriação da rede Internet aconteceu, no Brasil, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, quando no início da década de 90, os pesquisadores do NCE, tiveram o mérito de fazer a sua primeira conexão. Em pouco mais de 10 anos, se observou um vertiginoso processo de apropriação e a rede conta hoje com .milhões de conexões, documentos e internautas. Na literatura sobre a importância dessas tecnologias, vamos encontrar diferentes abordagens sobre os seus efeitos . Há uma grande controvérsia, podemos identificar dois posicionamentos, um a favor e o outro contra. Os argumentos dos primeiros referem-se a ampliação das possibilidades de troca social e de difusão do conhecimento, e dos segundos de vozes criticas, que alertam sobre os perigos de se aprofundarem as divisões sócio-econômicas e os perigos referidos às relações sociais mediadas por computadores. Mais recentemente, a crise que assolou as empresas globalizadas de informática e de comunicação, como foi a vertiginosa queda da Microsoft e outras líderes, colocou em cheque a importância dessa invenção. Para nós, essa crise responde por dificuldades de natureza conjuntural referidas à voracidade da acumulação capitalista, e não as potencialidades de uma efetiva transformação do espaço e de reais possibilidades de uso socialmente produtivo e justo. No processo de apropriação social das novas tecnologias aparecem todas as formas e “I- commerce”, “E- learning”,” I-governement”, ...o que é possível propor é que podemos e sublinhamos, devemos apropriar as novas tecnologias para inventar o I-social. Ao lado das redes do capital e do estado, é preciso avançar no sentido de reconhecer quais são as possibilidades de formar redes, que tenham por sujeito e por objeto a sociedade. Compreendemos que é possível avançar nos processos de cooperação social, no abrigo dessas formas espaciais. Formar redes sociais para atividades econômicas . políticas e culturais, transformar as relações que se estabelecem entre Estado, capital e sociedade, no sentido de constituir novas articulações, mais flexíveis e fluidas. A rede social, localmente construída, pode se constituir em importante espaço para a prosperidade das pessoas, em seus lugares. Podemos pensar em ser comunidades autônomas que se comunicam entre sí, através de um processo de auto-organização. 30Isso transforma as relações entre espaço público e espaço privado, redefine o papel do Estado e de suas relações com a sociedade. Porque através dessa articulação social em rede, poderá ser possível procede a novas formas de lidar com o bem estar coletivo. A esfera pública nasce na civilização grega, na Pólis de Aritoteles como lugar do encontro entre os cidadões. Na modernidade, a ação do Estado se associa à noção de espaço público, quando o Estado faz então o sentido da agregação social. O poder de integração social faz a história dos homens e de suas formas de sociedade. Na sociedade industrial, o espaço público penetra na mediação do espaço econômico, na sua aparência capitalista e no coletivo de trabalhadores, como representação do social. Isso porque a integração tem sua origem no exercício da vontade individual que forma a vontade coletiva, quando a auto-organização amplia capacidade coletiva da ação .31 Consideramos que dadas as tecnologias de comunicação instantânea podemos pensar em novas formas de integração, que resultam em possibilidade alternativas de formar coletivos sociais, para abrigar mais atividades econômicas, mais trocas sociais, mais participação política, mais vida para as pessoas e mais prosperidade para a sociedade. Certamente esse posicionamento analítico é de natureza teórica e essa condição dependerá de como as nações farão uso dessas novas 30 HABERMAS, J. Teoría de la acción comunicativa. Madrid: Taurus Humanidades, 1999, 31 Ibidem, 11 potencialidades de integração social. A técnica em si não é transformadora, o que transforma são as formas como a tecnologia será apropriada e socialmente utilizada. Por essa razão, o uso socialmente justo das potencialidades técnicas está associado às possibilidades de constituir políticas que permitam a acessibilidade à infra-estrutura tecnológica, aos procedimentos informáticos, e às potencialidades de formação de redes de cooperação social. Na sociedade da informação, a Polis se realiza no espaço da rede, é por essa razão que os espaços de exclusão tomam outra concretude, representados pela acessibilidade ao novo mundo. Trata-se, portanto, de repensar os espaços de exclusão social e de compreender que eles estão associados à apropriação do conhecimento informático. Para participar do novo mundo, é preciso deter as condições dessa participação, o que exige uma nova ordem para a política social no Brasil. 32 Para pensar a política de inclusão social, torna-se necessário pensar a acessibilidade às formas de utilizar as tecnologias inscritas no desenvolvimento social. Mesmo porque a modernidade escreveu o desenvolvimento da ciência e tecnologia nas instituições científicas. E o objeto no desenvolvimento de ciência e tecnologia para a produção econômica . O desafio é pensar políticas publicas tecnológicas, que tenham por objeto o desenvolvimento social, no sentido de autonomizar o pensar, o fazer e o integrar social nas diferentes esferas e escalas do espaço local e global. Tecnologias do conhecimento para a coesão social. O nosso objetivo era mostrar como nesse novo espaço, podemos constituir novas formas de integração social à nível local e a nível global. Tudo depende de como são utilizadas as novas tecnologias? para que? e para quem? Na escala local, o que podemos imaginar é que a formação da rede, pode conter as múltiplas esferas do processo social. Assim ela pode ser utilizada para a invenção de atividades econômicas, como já esta acontecendo no uso da Internet para a comercialização no mercado internacional de produtos indígenas, ou a comercialização da produção têxtil realizada pelas mulheres da Rocinha no Rio de Janeiro. São inúmeros os exemplos e as potencialidades . O que importa reter é que elas criam um novo espaço, que pode produzir novas formas de integração de trabalhadores, tendo em vista uma potencialização de atividades econômicas autonomizadas. E também, poderá ser utilizada para ampliar a possibilidade de formar coletivos integrados que tenham por objeto de ação a política. Podemos imaginar um sistema político mais autonomizado, que responda pelo exercício da vontade coletiva de forma mais direta, com menor nível de intermediação, onde o exercício do consenso pode ser alcançado com um maior número de participação dos membros que formam as sociedades. Não menos importante é o uso das redes para a transmissão e apropriação do conhecimento. Para tanto é preciso investigar novos caminhos de difusão da informação e de transmissão do conhecimento. Criar novos canais que unam os produtores da cultura com a sociedade, sem intermediações. É preciso constituir redes que tenham a responsabilidade em produzir o benefício social do conhecimento. . As nossa universidades públicas desenvolveram ao longo dos últimos vinte e cinco anos, uma cultura de produção do conhecimento. O desafio agora é abrir as portas das universidades públicas e iniciar um processo para montar uma cultura de difusão e apropriação do conhecimento. O desenvolvimento de tecnologias do conhecimento, como possibilidade para enfrentar as necessidades de formar a inteligência, que possa colocar o nosso pais no caminho do futuro, no sentido de superar as desigualdades sociais na apropriação de bens simbólicos. Construindo novas totalidade que permitam reduzir a fragmentação do conhecimento bem como ampliar a interlocução cultural e definir novas funções sociais. Criando uma ecologia do conhecimento que tenha por processo de concepção, formulação e realização, valores associados à condição humana, que possa se realizar através de uma nova base ética, dada por mais confiabilidade, identidade e interculturalidade de linguagens. 32 Egler, Tamara- Exclusão e inclusão na sociedade do conhecimento, Cadernos IPPUR/UFRJ, 2001/2 e 2002/1 (vol. XV, n.2, ago.dez. 2001 e vol. XVI n.1, jan.jul. 2002). 12 O uso social dos espaços em rede na escala local autonomiza a ação social. Sua importância esta no fato de o conceito de autonomia , coincide com o sentido de liberdade, como a eterna busca dos homens de encontrar o livre exercício da sua vontade. As redes sociais eletrônicas , podem ser a origem de um sistema de autogestão que tenha por sujeito e objeto as pessoas que compõem a sociedade. Para criar um espaço de resistência aos processos de dominação que fazem a ordem das relações globalizadas originárias da fusão entre a economia e a política, podemos e devemos contrapor um processo de globalização fundado na multiculturalidade, que amplia a interlocução entre as nações, permite uma concepção mais homogênea da condição humana, uma interpretação mais consensual do lugar dos homens na natureza, reconhece a importância da ação humana na conquista da liberdade e torna possível a concordância entre as pessoas e a convivência na diferença das nações.