O que não existe nem nunca existiu Ao longo da história filósofos têm se digladiado com a questão do nada. Não é para menos, já que grande parte das pessoas não compreende exatamente o cerne do problema: o nada não é um lugar vazio, ou um espaço em branco, ou a escuridão do vácuo no espaço profundo. O nada não existe. O nada nunca pode ter existido. A ciência nos diz que a história do espaço-tempo é um conjunto gigantesco de ações e reações de partículas. No universo nada se perde e nada se cria, as coisas apenas se transformam, como dizia Lavousier. Coisas são formadas por partículas, em todo caso: a maça que Newton viu cair, era afetada pela gravidade, mas também era composta por partículas que formavam o fruto utilizando a energia proveniente do sol. O sol por sua vez também é afetado pela gravidade das outras estrelas da Via Láctea, além de exercer um campo gravitacional sobre os planetas próximos, como a Terra. Mas o sol também é formado por partículas que se aglutinaram, também por conta da gravidade. E todas as estrelas da Via Láctea, e todas as galáxias, se afastam ou se aproximas de acordo com reações gravitacionais. Não existe espaço para o nada neste universo, ao menos desde o Big Bang, tudo obedece a elegantes leis de ação e reação. O vácuo é um espaço não preenchido por qualquer matéria, nem sólida, nem líquida, nem gasosa, nem plasma, nem mesmo a matéria escura. Mesmo assim cada pequeno espaço dele é preenchido por trilhões de neutrinos e outras partículas a vagar pelo cosmos, assim como radiações de luz em diversas freqüências vibratórias, e campos gravitacionais. O vácuo possui energia, e suas flutuações quânticas podem dar origem à produção de pares de partícula e anti-partícula. O vácuo não pode ser o nada. O vazio seria um espaço em que não houvesse nem matéria, nem campo e nem radiação. Mas no vazio haveria ainda o espaço, isto é, a capacidade de caber algo, sem que houvesse. No universo não existe vazio, pois todo o espaço, mesmo que não contenha matéria, é preenchido por campos gravitacionais e pela radiação que o atravessa, de qualquer espécie. Mas ainda que o vazio existisse no universo, não poderia ser o nada. O nada não pode ser um espaço a ser preenchido. Em realidade, não pode nem mesmo ser um lugar ou dimensão onde a noção de tempo seja válida. No nada não pode existir o tempo, nem o tempo curto nem o longo. No nada não existe a noção de seqüência de eventos, e ainda que fosse um lugar a espera de ser preenchido, o evento do preenchimento nunca ocorreria, pois demanda que exista o tempo. Nesse sentido, o nada se assemelha a noção de eternidade dos orientais. Porém, mesmo assim o nada não pode ser a eternidade, pois na eternidade residem as essências das coisas. Ainda que tais essências sejam totalmente imateriais e metafísicas, ainda assim seriam algo, e não nada. O nada não pode ser uma essência, ou idéia, ou conceito, ou pensamento... Nada existe no nada. Nada pode ter algum tempo existido no nada. O nada não existe sequer como representação mental, ou lingüística. Quando se fala do nada, quando se menciona a palavra, obrigatoriamente estamos nos referindo a um conceito inexistente. Ainda que tenhamos diversas interpretações do nada, nenhuma delas será válida. Nunca. Por isso mesmo o nada é um grande problema. Não porque exista, mas exatamente pelo contrário: como o nada não pode existir, nada pode surgir ou ter surgido do nada, nem mesmo este universo. À seguir, porque afinal existe algo, e não nada?