ENSINO RELIGIOSO: QUAL O SEU LUGAR NO CURRICULO

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ENSINO RELIGIOSO: QUAL O SEU LUGAR NO CURRICULO
ESCOLAR?
Solange Koltermann1 - UNIJUÍ
Grupo de Trabalho – Educação e Religião
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O Ensino Religioso, historicamente foi a base da formação humanista nas escolas brasileiras,
segue, hoje, uma legislação específica, regulamentada por diretrizes e pareceres que norteiam
sua inclusão e permanência no currículo escolar. Diante das inúmeras mudanças que
aconteceram no decorrer da História da Educação Brasileira, este componente posiciona-se no
cenário educacional como obrigatório para a escola e optativo para o aluno. Com o objetivo
de identificar o espaço/lugar e o significado do Ensino Religioso no cotidiano escolar
realizou-se uma pesquisa de caráter quali-quantitativo em uma escola pública estadual, a
partir da análise das LDBs, pareceres específicos, Regimento e o PPP da escola além das
vozes dos sujeitos participantes. Como instrumentos para a produção de dados e posterior
análise foram usados, entrevistas semi-estruturadas, desenhos que contemplam a visão dos
alunos, de Ensino Médio sobre as aulas de Ensino Religioso. O presente artigo 2 constituiu-se
a partir da análise do campo empírico, retratando as vozes dos atores envolvidos na pesquisa,
realizada à luz dos estudos feitos acerca da histórica inserção do Ensino Religioso no
currículo das escolas brasileiras, bem como das políticas adotadas para o seu
redimensionamento no contexto atual. Fundamentada, assim, nos teóricos que foram meus
interlocutores nas reflexões até aqui desenvolvidas. Concluiu-se preliminarmente que o
Ensino Religioso como componente curricular no Ensino Médio é aceito pela comunidade
escolar a qual entende esta disciplina como necessária para a construção de valores e a
formação do ser humano. A prática pedagógica desenvolvida nesse componente curricular
vem aos poucos se desprendendo da pratica confessional, abordando questões culturais, a
história das religiões, tradições, crenças, costumes e assuntos voltados aos jovens.
Palavras-chave: Ensino Religioso. Ensino Médio. Currículo Escolar.
1
Mestre em Educação nas Ciências: UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul – Ijui, RS. Professora na rede pública estadual do RS. E-mail: [email protected].
2
Os gráficos e desenhos que fazem parte da análise dos dados encontram-se na integra da pesquisa na biblioteca
digital da UNIJUI.
ISSN 2176-1396
32091
Introdução
O monopólio político, econômico e religioso instituído pelo governo de Portugal na
chegada ao Brasil, desconsiderou as crenças e tradições dos povos que habitavam o país
instituindo um padrão europeu de educação assentado nos princípios religiosos da Igreja
Católica. A educação e a formação religiosa aplicadas aos índios, aos primeiros colonizadores
e aos escravos, por muitos anos foram os principais instrumentos usados para disciplinar,
catequizar, doutrinar, impondo valores coerentes com a cultura hegemônica introduzida pelo
poder vigente da época.
A população brasileira constituiu-se a partir dos colonizadores e suas famílias que, aos
poucos, foram desbravando as matas e formando novas comunidades, cujas tradições foram se
tramando com a cultura dos nativos e dos africanos que eram trazidos como escravos. Ao
híbrido cultural que se formava, todavia, a força da fé católica era imposta como condição
mesmo de sobrevivência no processo de dominação colonial.
Desse modo, cada região do país caracteriza-se pelas suas tradições culturais, sociais,
religiosas, com significações e sentidos próprios, sem, contudo, perder-se a tradição religiosa
que, em diferentes matizes, compõe o fundamento primordial da formação humana. Dessa
forma, a religião é um artefato cultural presente no cotidiano das pessoas nas diferentes
comunidades e acompanha o ser humano desde a sua formação inicial, seja na família, escola
ou sociedade.
A escola atual faz parte dessa sociedade constituída a partir da congregação de povos;
é multicultural, plural e carrega na cultura, que determina sua prática pedagógica, a tradição
religiosa imposta desde a colonização portuguesa. Mediante o projeto político pedagógico do
currículo formal que agrega os diferentes componentes curriculares, bem como das leis e
pareceres que conduzem o fazer na escola, o conhecimento é produzido e/ou reproduzido. O
Ensino Religioso, como área do conhecimento, faz parte do currículo escolar auxiliando na
formação global do educando.
Apesar de a LDB e de os Parâmetros Curriculares buscarem uma (re)definição para o
Ensino Religioso nas escolas, seu objeto de trabalho e seu objetivo, para muitos educadores,
ainda é bastante confuso, pois por um longo período foi entendido como catequese e agora
deve ser trabalhado visando à formação global do educando, sem a prática proseletista ou a
droutrinação da fé. Percebe-se, no entanto, que carece ainda de desprender-se do seu passado
confessional e recentemente interconfessional, para assumir uma identidade própria que lhe
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assegure a consolidação como área de conhecimento para ser entendido como uma disciplina
autônoma, revendo e renovando seu fazer no processo de construção do conhecimento do
sujeito aprendiz.
Diante deste processo de (re)definição, o Ensino Religioso tem se caracterizado pela
busca da compreensão do educando enquanto sujeito inserido em um mundo global,
influenciado constantemente pela mídia e por padrões impostos pela sociedade. Para tanto, o
educador e a escola, por meio de seu Projeto Político Pedagógico, necessitam rever e
reconstruir suas concepções, pois, em muitas instituições educacionais, ainda hoje a disciplina
é entendida como algo sem muito valor, sendo desenvolvida por qualquer profissional que
necessite fechar as suas horas de trabalho ou por professores que foram escolhidos pela sua
prática religiosa pessoal e não pela sua formação acadêmica específica na área. Isto significa
que este campo do conhecimento não pode nem deve ser considerado algo simples, mas um
espaço bastante complexo, pois, para muitos educandos, causa estranheza, uma vez que
entendem o Ensino Religioso como um tema ligado à vida pessoal, fora da instituição
educacional, confundindo, muitas vezes, Ensino Religioso com religiosidade ou vivência
religiosa.
Como educadora e professora de Ensino Religioso no Ensino Médio, etapa final da
formação básica do educando, (durante o período de desenvolvimento da pesquisa) volto meu
olhar para as práticas pedagógicas que conduzem essa disciplina no currículo escolar, tendo
como foco de estudo sua trajetória histórica na Educação Brasileira bem como o
entendimento que os atores envolvidos no fazer pedagógico possuem sobre este componente
na tentativa de responder à questão aqui proposta: Qual o lugar 3 e o significado do Ensino
Religioso no currículo escolar?
Considerando a problematização a que se propõe a presente pesquisa, ela foi
conduzida pelo objetivo geral de “identificar e entender o lugar bem como o significado do
Ensino Religioso no cotidiano escolar”. Para produzir esse entendimento coloquei-me como
sujeito participante da pesquisa e não apenas como observadora externa. Foi necessário tecer
a minha experiência de vida e formação com a busca de informações bibliográficas acerca da
História da Educação Brasileira, a análise documental da legislação pertinente ao Ensino
Religioso e os dados coletados na escola em entrevistas e materiais produzidos pelos alunos
3
Ao questionar acerca do lugar do ER no currículo escolar, pretendo dar ênfase aos processos que atribuem
sentidos a esse componente curricular, ou seja, perceber como educandos e educadores subjetivam e
significam os “espaços” que lhes são atribuídos na carga horária da escola.
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sujeitos da pesquisa. Como aporte metodológico foi usado as abordagens qualitativas e
quantitativas por entender que, na presente pesquisa, uma complementa a outra. Esse
procedimento facilitou a análise, a tabulação e a posterior transformação em porcentuais dos
dados coletados, e oportunizou a compreensão sobre a opinião dos atores envolvidos na
pesquisa referente à questão-problema.
Os sujeitos participantes da pesquisa foram os alunos das turmas de 2º ano do Ensino
Médio no contexto de uma escola pública do município de Ijuí/RS, seus pais e/ou
responsáveis e a pesquisadora. Como instrumentos para a produção de dados e posterior
análise, foram utilizados:
– entrevistas semiestruturadas com alunos do 2º ano do Ensino Médio e com seus pais e/ou
responsáveis;
– desenhos que contemplam a visão dos alunos sobre como eram desenvolvidas as aulas de
Ensino Religioso nas séries anteriores, como estão sendo desenvolvidas atualmente e como
gostariam que fossem desenvolvidas;
– análise dos seguintes documentos: LDB, pareceres específicos do ER, orientação da
Seduc/RS, o Regimento e o PPP da escola palco da pesquisa.
Para auxiliar a produção e análise dos dados, foram usados estudos realizados por
autores como Dermeval Saviani (2007, 2008), Paulo Ghiraldelli Jr.(2006), Paulo Freire (2000,
2001, 2007), Maria Isabel Cunha (1997), Marli Eliza D. A. de André (2011), Pedro Ruedell
(2005), Edile F. Rodrigues e Sergio Azevedo Junqueira (2009), Lilian Blanck de Oliveira
(2007), Milton Santos (2006), entre outros que, no decorrer do trabalho, foram chamados à
interlocução.
Desenvolvimento
Por meio dos instrumentos delineados para observação e captação de subsídios para a
pesquisa (questionários, desenhos, depoimentos, materiais didáticos) busquei conhecer o
entendimento e o posicionamento dos sujeitos escolares acerca desse componente curricular,
bem como identificar o papel e a função que o Ensino Religioso exerceu durante muito tempo
e exerce ainda hoje na formação discente, no currículo e no cotidiano escolar. No processo
investigativo esteve presente sua identidade, (re)definindo o espaço que ocupa atualmente,
(re)conhecendo seu objeto de estudo e os elementos que motivam os educandos a optar, ou
não, pela frequência nas aulas de ER
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Acreditando que a pesquisa/análise/reflexão enriquece quando conseguimos
estabelecer uma ponte entre a teoria, os estudos bibliográficos e documentais, para lançar um
olhar indagador sobre as ações realizadas em sala de aula, encaminhei em 2013, aos alunos
das turmas de 2º s anos – turno manhã e tarde da escola campo de pesquisa – uma atividade na
qual a memória, as práticas executadas ao longo da trajetória escolar e as vivências culturais
auxiliariam na busca das respostas pretendidas. Buscava, desse modo, analisar e entender a
aplicabilidade da referida disciplina no currículo escolar e sua aceitação por parte dos alunos.
A atividade solicitada aos alunos teve como objetivo inicial a busca de subsídios para
abrir o debate sobre as questões: Quais os significados produzidos no cotidiano escolar por
meio do Ensino Religioso? Como os sujeitos/atores escolares se posicionam acerca desse
componente curricular? Qual a contribuição do Ensino Religioso na formação do cidadão?
Qual a identidade, o espaço e a (re)definição do papel do Ensino Religioso na escola?
Paulo Freire (2007) afirma que "sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que
me insere na busca, não aprendo nem ensino" (p. 85). Inserir-se na busca por intermédio da
curiosidade inquietante inerente ao ser humano, foi um dos desafios que me moveu, para,
então, lançar questões, instigar, sair da mesmice, do “sempre foi assim”, fazer pensar,
conhecer, repensar. a pergunta, a problematização do conhecido e do que já foi vivenciado até
o momento, mostra-se como o caminho mais adequado para instigar a dúvida e a curiosidade,
oportunizando o renovar, a transformação constante dos conhecimentos preexistentes e o
repensar sobre o que está posto como prática única sobre o fazer pedagógico e a disciplina de
Ensino Religioso.
A atividade foi proposta como tarefa extraclasse, quando os alunos respondiam às
questões, entrevistavam os pais e representavam, com desenhos, como vivenciaram o
desenvolvimento da disciplina em sala de aula e como gostariam que a mesma fosse
trabalhada. Após, em sala de aula, aconteceu o debate em que todos tiveram a oportunidade
de se expressar. As questões encaminhadas foram:
Em sua opinião:
1 – O que é Ensino Religioso?
2 – O Ensino Religioso é necessário no currículo escolar?
3 – Como a disciplina Ensino Religioso deveria ser desenvolvida nas escolas?
4 – Qual a contribuição da disciplina Ensino Religioso na formação do Ser Humano?
Rememorando sua vida escolar:
1 – O que você guarda na memória sobre as aulas de Ensino Religioso?
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2 – Como foi sua experiência escolar em relação à disciplina Ensino Religioso?
3 – De que maneira eram desenvolvidas as aulas de Ensino Religioso que você presenciou?
Usando o tema “O ENSINO RELIGIOSO NA MINHA VIDA ESCOLAR”, represente
através de desenhos em três etapas:
– Como era desenvolvido nas séries anteriores;
– Como está sendo desenvolvido atualmente;
– Como gostaria que fosse desenvolvido.
A atividade foi repassada para as oito turmas de 2º s anos, somando 230 alunos. Desse
número, aproximadamente 79% realizaram a atividade total ou parcialmente e 21% não
devolveram o questionário, totalizando 182 alunos participantes e 48 alunos que não
devolveram. A investigação considera, na análise dos dados, todos os questionários
devolvidos e as reflexões provocadas durante os debates. Na impossibilidade de trazer
presente todas as narrativas escritas e em virtude do grande número de informações coletadas,
estarão presentes no desenvolvimento deste artigo, apontamentos das falas e dos desenhos que
ilustram as vozes e o pensar dos diversos sujeitos envolvidos, permeando os estudos
teóricos/conceituais sobre currículo, escola e Ensino Médio. Nos registros ao longo do artigo
não serão mencionados os nomes reais dos participantes. Os sujeitos da pesquisa serão citados
com letras (exemplo: Aluno A, B), para que seja preservada e respeitada sua privacidade, de
acordo com os princípios da ética em pesquisa.
O que Pensam: Ensino Religioso e currículo escolar
Com o intento de chegar ao objetivo proposto, o material empírico foi analisado e
organizado em três subtítulos contemplando as concepções dos participantes da pesquisa
sobre o Ensino Religioso como componente curricular, sua necessidade, identidade e
permanência no currículo escolar, e a contribuição na sua vida e na sua formação. Mediante
os desenhos e as falas, procurei entender como foi, como está sendo e como gostariam que
fosse a prática desta disciplina em sala de aula, ilustrando o entendimento dos alunos com
seus próprios desenhos. A análise do material foi dividida em categorias definidas como:
Questões que se referem à fé em Deus, ao conhecimento histórico das religiões, aos valores e
questões éticas e à catequese e estudos da Bíblia. Nas questões aplicadas, 230 alunos
participantes, 123 realizaram a atividade completa, responderam às questões individuais,
entrevistaram os pais e/ou responsáveis e representaram as aulas por meio de desenho; 37
realizaram parcialmente a atividade, responderam às questões e entrevistaram pais e/ou
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responsáveis; 22 realizaram somente as questões individuais e o desenho. No total foram
contabilizados 182 alunos que responderam às questões individuais, 160 entrevistas foram
realizadas com pais e/ou responsáveis, 145 desenhos representando a opinião dos atores
envolvidos sobre a prática pedagógica e o objeto de estudo desenvolvido na disciplina Ensino
Religioso. Para tabular os dados, e tentar ser fiel às opiniões dos participantes, as respostas
foram classificadas em itens e depois agrupadas em categorias maiores. Por serem descritivas
e subjetivas, algumas respostas contemplam um ou mais itens ampliando a quantidade de
opiniões e reforçando as ideias apresentadas nas respostas. Os dados coletados foram
quantificados e depois transformados em porcentuais conforme as categorias estabelecidas.
Para entender o significado, a importância e a necessidade do ER para os alunos, pais
e responsáveis que optam pela participação neste componente curricular foram analisados nas
respostas das questões: O que é Ensino Religioso? O Ensino religioso é necessário no
currículo escolar? As respostas, representadas em porcentuais retratam o conhecimento e/ou
entendimento que os participantes possuem sobre o significado da disciplina, qual seria seu
objeto de estudo e se esse componente curricular se faz necessário no âmbito escolar.
Os alunos que percebem o ER como uma disciplina importante para conhecer Deus
seus ensinamentos e o fortalecimento da fé correspondem a 28,50%. Para os pais essa mesma
concepção corresponde a 42,80%. Essa visão fica clara nos desenhos do aluno “A” na Figura
1 traz como atividade “Ler trechos da Bíblia Sagrada e depois comentá-los”, que
complementa com o desenho de um livro aberto, representando a Bíblia, e com a citação do Sl
23.1: “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará”. Na Figura 2, representa como o ER está
sendo trabalho atualmente, traz como atividade “Vamos ler o texto – A vida nos dias de hoje”,
mas, no seu entendimento, o ER deveria ser desenvolvido usando a Bíblia como subsídio nas
aulas, como demonstra na Figura 3 ao sugerir como atividades “Falar mais sobre a Bíblia
Sagrada – Estudar trechos da Bíblia Sagrada e falar sobre Jesus Cristo e também sobre Deus”;
conclui com o desenho do livro aberto representando a Bíblia com duas citações: “Quem
perdoa uma ofensa mostra que tem amor, mas quem fica lembrando estraga a amizade” (Pv
17.3) e “Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência” (1Co
13.7), referendando a visão da aula como continuidade da catequese. Essa forma de pensar o
ER mostra o quanto está presente no cotidiano escolar a formação familiar e religiosa dos
educandos, levando-o a querer que a sala de aula seja uma extensão da sua Igreja.
A ideia de que o ER fornece informações sobre a história das religiões corresponde a
33% para os alunos. Para os pais e/ou responsáveis essa concepção significa somente 15,60%.
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Neste item percebe-se claramente o quanto já modificou a forma como é trabalhado o ER no
Ensino Fundamental e inicio do Médio, levando o aluno a distinguir e entender a disciplina
como um caminho que o leva a conhecer a formação histórica e cultural dos diferentes povos
e religiões. Essa nova visão sobre o ER é representada na sequência dos desenhos, quando o
aluno “B”, na Figura 1, retrata os alunos sentados ordenadamente observando o cartaz com a
frase “... E que haja luz e a luz apareceu...” fazendo referência à criação do mundo por Deus.
As Figura 2 e 3 reforçam a ideia de um ER voltado para o conhecimento das diferentes
culturas, tradições religiosas, valores e comportamentos sociais.
O ER visto como uma disciplina que ajuda no desenvolvimento de valores, para os
alunos corresponde a 35% e para os pais a 28,9%. Os alunos e pais que participam das aulas
de ER veem nesta disciplina um espaço privilegiado para a formação de valores morais que
poderão se expressar na convivência social. O aluno “C”, na sequência de desenhos,
demonstra que, nas séries anteriores, quem possuía vez e voz era o professor, trazendo para a
sala de aula seus conhecimentos ou crenças. Já na Figura 2 demonstra a participação dos
alunos na busca e construção de novos conceitos e saberes, e na Figura 3 representa o diálogo
entre os atores envolvidos no fazer em sala de aula, entendendo a troca de informações no
coletivo como um caminho no qual aluno e professor expõem suas opiniões, sendo ambos
protagonistas na construção de saberes e na formação do sujeito
A concepção do ER como catequese na opinião dos alunos, refere-se a 3,5% e para os
pais essa ideia corresponde a 12,7%. O aluno “D” expressa com o desenho, na Figura 1, como
era desenvolvido o ER nas séries anteriores, demonstrando o professor como mediador sobre
os ensinamentos de Deus, comparando-o como um pastor ou padre, entendendo a sala de aula
como uma continuidade da Igreja, da catequese, espaço em que se possa conhecer e/ou
ampliar os conhecimentos sobre Deus. Na Figura 2 o aluno demonstra a mudança que vem
acontecendo, sendo o ER desenvolvido em forma de trabalhos, e na Figura 3 demonstra que
gostaria que assistissem mais filmes em sala de aula para desenvolver as atividades a partir do
enredo, sugerindo uma aula menos catequética, voltada para o debate e/ou diálogo.
Tanto alunos quanto pais e/ou responsáveis acreditam que o ER é necessário no
currículo escolar também para o Ensino Médio, 7, 88% dos alunos e 90,60% dos pais e/ou
responsáveis, acreditam na necessidade da disciplina contra apenas 12% por parte dos alunos
e 9,40% por parte dos pais que acreditam não ser necessária a disciplina na grade curricular.
Quanto aos motivos relatados para a permanência e necessidade do ER no currículo
escolar, as opiniões prevalecem na concepção de desenvolvimento de valores na formação
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integral do ser humano. Essa opção é justificada por 42,50% dos alunos e 44,80% dos pais
e/ou responsáveis. Essa visão é justificada na sequência de desenhos do Aluno “E”, quando
retrata o que pensa ser “O Conceito” de ER, a função do ER demonstrada no desenho
mediante “Reflexão” e o que fica como “Real Aprendizado – A nossa Atitude”. A Figura 1
mostra que a professora solicita aos alunos a atividade: “Faça um texto explicando o que você
entende por Ensino Religioso”, e um aluno responde: “Pra mim, o Ensino Religioso nos abre
portas para entendermos nós mesmos e o mundo”. A Figura 2 demonstra o quadro com a
atividade: “Façam cartazes, abordando um dos temas trabalhados em ER”, e os alunos com os
cartazes prontos sobre: “A Liberdade vem sendo buscada...”, “Respeito: Onde há respeito
mútuo há melhor convivência...”, “O Bullying é uma forma de violência tanto moral....” e “A
violência hoje está crescendo em todo o mundo...” A Figura 3 expressa o que fica da
aprendizagem por meio das aulas de ER, quais as mudanças que os saberes construídos em
sala de aula, no coletivo, podem e devem proporcionar ao outro e, principalmente, a
perspectiva de sair da teoria e perceber a aplicabilidade do conteúdo. Essa ideia fica explícita
na fala da professora: “Turma nós, hoje, vamos visitar diversos lugares de nosso Estado, que
está em situação de emergência. Vamos praticar tudo aquilo que foi nos ensinado em aula;
plantaremos árvores, daremos palestras para crianças... Enfim, passaremos adiante nosso
aprendizado, levaremos valores onde a ajuda é necessária, faremos o bem em prol de um
mundo melhor”. Percebe-se, pela fala e pelos desenhos, que o ER, no entendimento dos
participantes da pesquisa, é muito importante e necessário no currículo escolar para auxiliar
na formação integral do ser humano, pois possibilita ver o mundo com um novo olhar.
A concepção de que o ER é necessário, pois é importante para conhecer Deus, seus
ensinamentos e fortalecer a fé, foi definida por 24,40% dos alunos e 32,50% dos pais e/ou
responsáveis. Essa visão está referendada no desenho do Aluno “A” nas Figuras 1 e 3,
transmitindo a ideia de que as aulas de ER devem ser com enfoque na transmissão dos
ensinamentos de Deus.
Os sujeitos da pesquisa justificaram ser necessário o ER como forma de conhecer a
história das religiões, com 33,10% dos alunos para somente 11,70% dos pais e/ou
responsáveis, reforçada no desenho do aluno “B” (Figuras 2 e 3). A concepção de que a
disciplina é necessária como forma de catequese foi citada somente por 11% dos pais e/ou
responsáveis, sendo este item desconsiderado pelos alunos, confirmando novamente a
mudança de pensamento sobre o que deve ser trabalhado na disciplina.
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Ao analisar os dados, percebe-se o quanto vem modificando o pensar dos sujeitos
escolares sobre a necessidade do ER no currículo escolar. Os dados mostram que a maioria
dos alunos, assim como pais e/ou responsáveis, acreditam que o ER é necessário no currículo
escolar e que seu objeto de estudo deva ser, para os alunos, a história das religiões, e seu
objetivo maior é a formação integral do ser humano. Justifica-se a diferença de opinião dos
pais e/ou responsáveis em relação à opinião dos alunos, pois a formação, educação recebida
por eles, tanto na escola quanto na família, era baseada em rígidos conceitos morais e
religiosos, amparados na herança cultural e social da comunidade a que pertenciam.
Os motivos pelos quais os participantes acreditam que o ER não é necessário no
currículo escolar, posto que 54,60% dos alunos e 53,40% dos pais e/ou responsáveis
acreditam não ser necessário, sendo essa função da família e/ou igreja, pois entendem a
disciplina como um espaço de pregação e evangelização; 22,70% dos alunos e 13,30% dos
pais e/ou responsáveis opinaram que, sendo uma disciplina opcional, não precisa constar da
grade curricular; 22,70% dos alunos pensam que não é necessária, pois não é requisito para o
mercado de trabalho. Este item não foi citado pelos pais e/ou responsáveis; 33,30% deste
mesmo segmento possuem a concepção de que é desnecessária, pois percebem a disciplina
como prática do catolicismo e/ou evangelização, e este item não foi citado claramente pelos
alunos, ficando implícito no item em que definem sendo essa função da família e/ou igreja e
não da escola.
Na análise dos dados percebe-se um número pouco expressivo de respostas que
associam o ER à catequese e ao estudo da Bíblia, o que nos permite entender que a cultura,
por tantos anos predominante, de impor às escolas um currículo com caráter de catequese, a
serviço da fé cristã, está sendo superada, mas que também deve ser considerada em sala de
aula no momento de propor as atividades para que esses alunos não sejam discriminados, pois
trazem em sua formação pessoal conceitos religiosos estruturados a partir de sua vivência
familiar.
Ao analisar as respostas dos participantes acerca da concepção que possuem do Ensino
Religioso no currículo escolar, percebe-se a diferença entre a visão dos alunos e a visão dos
pais e/ou responsáveis demonstrando que a bagagem cultural familiar e os princípios morais e
religiosos recebidos na infância e adolescência, influenciaram fortemente na formação
individual e no entendimento que possuem sobre o componente curricular Ensino Religioso.
É também possível afirmar que os objetivos propostos pela Lei 9475/97 e pelo trabalho árduo
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de grupos de pesquisas voltados para a inclusão e permanência do ER no currículo escolar,
estão sendo alcançados, como mostram os dados relatados.
No Que Acreditam: Prática Pedagógica e Formação Humana
As questões 3 e 4, aplicadas no questionário da presente pesquisa, indagam os
participantes sobre: Como a disciplina de Ensino Religioso deveria ser desenvolvida nas
escolas e qual seria a contribuição da referida disciplina na formação do ser humano? A ideia
de que a disciplina deveria ser trabalhada de forma criativa, com técnicas e assuntos diversos
para envolver os educandos, na visão dos alunos, ficou em 35,20%, e para os pais e/ou
responsáveis este item alcançou 21,20% dos entrevistados. A ilustração do Aluno “F”
demonstra, na Figura 1, como era desenvolvida a disciplina nos anos anteriores, reportando-se
a uma aula de 2009, quando a atividade posta aos alunos era: “1 – Leitura da Bíblia; 2 –
Formar grupos e falar sobre a leitura; 3 – dinâmica; 4 – apresentação das ideias”. Nesta aula
fica explícita a maneira tradicional de “dar aula”, quando a professora é a transmissora do
conhecimento e o aluno, na sua mesa, recebe as informações. Mesmo oportunizando espaço
para que o aluno exponha as ideias, estas ficam restritas à leitura realizada, focando
exclusivamente uma visão sobre Religião. Na Figura 2 o aluno demonstra como está sendo a
prática da aula atualmente. A partir dos trabalhos pesquisados percebe-se que os educandos
são os protagonistas, ficam em primeiro plano, e a professora, um pouco mais afastada,
observa para, após, fazer as intermediações, se necessário. Na Figura 3, assim como na 2, o
aluno demonstra que se pode trabalhar a questão da Fé e de Deus sob vários enfoques, como
indicam as setas em diferentes posições. No momento em que propõe como alternativa de
atividade “passeios e visitas de estudos”, sugere que as aulas de ER possibilitem ao aluno um
novo olhar para outras culturas, outros conceitos e escolhas de vida, oportunizando a reflexão
sobre uma única visão de mundo considerada verdadeira, posta aos alunos, como demonstra a
Figura 1. Mediante as mensagens implícitas nas Figuras, percebemos que o jovem atual é
observador, reflexivo, não quer ser somente um sujeito passivo à espera que lhe ofereçam o
conhecimento; ele é atuante, ativo, perspicaz, sabe expor sua opinião e buscar ferramentas que
auxiliem na construção do conhecimento, “na medida em que não é transferência de saber,
mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”
(FREIRE, 2001, p. 65).
A concepção de que o ER deveria ser trabalhado como catequese é baixa. Somente
9,30% dos alunos e 16,20% do segmento pais e/ou responsáveis opinaram. Na Figura 1 o
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Aluno “G” expressa o desânimo do estudante em aula ao perceber, como afirma no desenho,
que “Os ensinamentos da profe não são os que aprendi na igreja” e, na definição exposta no
quadro sobre a disciplina, “Aula de Religião”. O desenho ainda sugere que a atividade será
sobre a Bíblia, mas que estes ensinamentos não estão de acordo com a sua crença religiosa.
Na Figura 2 o aluno expõe novamente o seu desânimo dizendo: “Agora nem Religião
ensinam, são valores, então por que não trocam o nome?”, ao se deparar com uma aula
voltada à ética, moral, valores e à Bíblia. Na visão do aluno a aula de ER primeiramente era
praticada como catequese, ao retratar a aula como sendo “de Religião”, mas mesmo assim não
contemplava a sua visão de Religião, sua crença, e sim a visão cristã vista como única e
verdadeira, desprezando a formação familiar do aluno. Mesmo a aula deixando de ser
catequética e passando a trabalhar voltada aos valores, a formação do sujeito também não
contempla o querer do aluno, uma vez que este gostaria de ter em sala a continuidade dos
ensinamentos recebidos na sua igreja. Na sequência de desenhos do Aluno “A” percebe-se
também a vontade e a aceitação da aula como catequese, mas este aceita por ser a aula voltada
aos ensinamentos da sua crença religiosa.
Na ideia de que o Ensino Religioso deve ser trabalhado informando a história e a
cultura das diferentes religiões, 19,80% dos alunos e 10% dos pais e/ou responsáveis pensam
dessa forma. Essa visão está ampliando, como podemos observar na sequência de Figuras do
aluno “H”. Na Figura 1 o educando expõe que o ER era trabalhado a partir de “Fatos
Bíblicos”, e atualmente está sendo trabalhado com a questão da “Religião e Sociedade” como
mostra a Figura 2, e na Figura 3 demonstra como gostaria que fosse trabalhado –
“Comparando fatos religiosos com fatos sociais, no ponto de vista das religiões”. O jovem
atual quer fazer parte do mundo global, quer se sentir sujeito participante, integrado, entender
as diferentes culturas, a visão de cada uma delas ante os acontecimentos sociais, políticos e
religiosos; não aceita mais a rigidez, o formalismo e a passividade da aula tradicional.
A concepção de que a disciplina deva trabalhar a partir dos ensinamentos de Deus para
os alunos é de 14,30%, e para os pais e/ou responsáveis é de 28,20%. O Aluno “A”, nos
desenhos 1 e 3, demonstra que a aula de ER pode ou deve ser voltada aos ensinamentos de
Deus e ao estudo da Bíblia, sugerindo até mesmo uma aula em forma de catequese, mesmo
salientando, na Figura 2, que atualmente a aula seja voltada aos valores.
Sobre a concepção de que a disciplina deva ser trabalhada como forma de desenvolver
valores, a pesquisa mostra um maior equilíbrio entre a opinião dos participantes; 21,40% dos
alunos e 24,40% dos pais e/ou responsáveis pensam dessa forma, como mostra a sequência
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dos desenhos do Aluno “I”, representando a aula de ER como uma construção de valores com
a intervenção direta do próprio aluno e do coletivo da turma, a partir de temas da atualidade
e/ou definidos pela turma. A Figura 1 demonstra o uso da Bíblia, mas também o trabalho
sobre “Valores Humanos”, fazendo uma relação entre ambos. Na Figura 2 a atividade em aula
solicita: “Trabalho coletivo ou em grupo visando a união entre as pessoas”. Na Figura 3, o
aluno sugere a aula com “aprofundamento da pesquisa” usando a tecnologia como aliada do
trabalho em aula, possibilitando o acesso às informações do mundo, tornando os conteúdos
mais atrativos, atualizados, ressaltando novamente a busca e a construção pelo próprio aluno
do conhecimento. Em relação ao ER, o uso da tecnologia oportuniza aos alunos buscar novos
elementos para entender as Tradições Religiosas, suas festas, ritos, espaços sagrados e os
princípios e tradições das diferentes culturas.
A concepção de que a disciplina auxilia o fortalecimento da fé para os alunos é de
18,80% e para os pais e/ou responsáveis é de 28,60%. A visão de que a disciplina favorece o
entendimento sobre a história das religiões ainda é pequeno, posto que 12,90% dos alunos e
somente 5,90% dos pais e/ou responsáveis entendem dessa forma.
A concepção de que o ER favorece a formação de valores foi citada por 66,80% dos
alunos e 57,20% dos pais e/ou responsáveis. Os alunos confirmam essa opção conforme
percebemos nos desenhos dos alunos: “B” por meio da Figura 3, demonstrando que o ER
poderia ser trabalhado também sob a ótica dos valores, e na sequência de desenhos do aluno
“E”, quando demonstra o ER como uma construção de valores para a formação humana.
A visão de que o ER favorece na formação como catequese é menor, e somente 1,50%
dos alunos e 8,30% dos pais e/ou responsáveis opinaram dessa forma. Nessa visão também
existe uma divisão de ideias, pois alguns (poucos) alunos concordam com a aula em forma de
catequese, mas quando esta está voltada aos ensinamentos da sua crença religiosa,
desconsiderando o outro aluno que possui crença diferente à pregada em sala de aula, como
confirmam os desenhos dos alunos “A” e “G”.
Rememorando: movimento de reflexão
Rememorando sua vida escolar:
1 – O que você guarda na memória sobre as aulas de Ensino Religioso?
2 – Como foi sua experiência escolar em relação à disciplina Ensino Religioso?
3 – De que maneira eram desenvolvidas as aulas de Ensino Religioso que você presenciou?
32103
Nesta questão os participantes usaram mais de um item para demonstrar o que ainda
preservam na memória sobre as aulas de ER. A tabulação dos dados segue as concepções
preestabelecidas nas questões anteriores. A concepção de que o ER é uma disciplina
importante para conhecer Deus, seus ensinamentos e fortalecer a fé, corresponde a 24,90%
dos alunos e 34,80% dos pais e/ou responsáveis. A visão do ER como uma disciplina que
fornece informações sobre a história das religiões permanece na memória de 7,60% dos
alunos e somente 2,30% dos pais e/ou responsáveis. A ideia do ER como uma disciplina que
ajuda na formação de valores é representada por 44,70% dos alunos e 22,20% dos pais e/ou
responsáveis. A concepção do ER como catequese é lembrada por 22,80% dos alunos e
40,70% dos pais e/ou responsáveis.
O que permanece na memória dos participantes sobre sua experiência em relação à
disciplina ER ficou demonstrado que 89,50% dos alunos e 76,80% dos pais e/ou responsáveis
afirmam que gostavam das aulas ou achavam interessantes, 10,50% dos alunos e 6,80% dos
pais e/ou responsáveis lembram que não gostavam das aulas ou não achavam interessantes,
16,40% dos pais e/ou responsáveis informam que não havia aulas específicas de ER quando
frequentaram a escola.
Considerações Finais
A escola palco da presente pesquisa fundamenta seu trabalho na legislação vigente e
em seu PPP; oferece as condições necessárias para que o jovem/aluno/sujeito aprendente
desenvolva o seu potencial buscando, a partir da autonomia e do protagonismo, construir a
sua própria aprendizagem. Assim, o Ensino Religioso, oferecido como disciplina optativa no
currículo escolar, configura-se como uma possibilidade de pôr em pauta as questões da vida,
da ética e da formação moral que, longe de ser rejeitada pela juventude contemporânea é, ao
contrário, reivindicada, como pode ser observado nos resultados da pesquisa. Mesmo com
algumas visões ainda conservadoras, os pais e responsáveis consideram que a disciplina
contribui na formação de valores éticos e morais, necessários à educação de seus filhos.
No processo investigativo percebeu-se que, apesar da polêmica em seu entorno, o
Ensino Religioso fez/faz parte da grade curricular da escola. Movimentos organizados por
pessoas e entidades que defendem a permanência do ER no currículo escolar avançaram
muito nas concepções acerca de seus objetivos, conteúdos e metodologias, contribuindo para
a reflexão e construção do seu objeto de estudo, baseado na compreensão da história das
religiões, do fenômeno religioso e do entendimento do lugar do ER no cotidiano escolar.
32104
Conhecer a trajetória histórica da disciplina, as leis e pareceres que norteiam o seu fazer em
sala de aula bem como as pesquisas referentes ao componente, foi fundamental para embasar
minha prática pedagógica, mas não o suficiente para responder a questão principal pertinente
à pesquisa. O material empírico oportunizou diferentes enfoques de análise.
Por meio deste material produzido pelos alunos, pais e/ou responsáveis, tabulado,
analisado e quantificado, percebeu-se a diferença de opiniões entre os atores participantes
quanto às concepções sobre o desenvolvimento das aulas, atividades e materiais didáticos do
componente, mas convergem para um consenso quanto ao entendimento do lugar e do
significado do Ensino Religioso bem como no sentido da sua permanência e necessidade no
currículo escolar. Nessa direção, a volta ao passado, por meio da rememoração, permitiu
percebeu o quanto a formação cultural, familiar e religiosa está entrelaçada com a concepção
que possuem sobre o Ensino Religioso no currículo escolar, pois as diferentes gerações
(alunos, pais e/ou responsáveis) foram formadas/constituídas por diferentes conceitos e/ou
valores.
Os estudos/análises mostram que o Ensino Religioso é aceito pela comunidade escolar
incluído na grade curricular por entenderem ser necessário na construção de valores e na
formação integral do ser humano. Sua prática deve ser voltada aos estudos da história das
religiões, do fenômeno religioso bem como de assuntos da atualidade envolvendo os jovens,
distanciando-se da prática confessional e proseletista. Nesse sentido, os avanços na
construção e entendimento do objeto de estudo do Ensino Religioso por parte dos educadores
a partir dos objetivos propostos pela Lei 9.475/97 e pelo trabalho árduo de grupos de
pesquisas, tem colaborado para a modificação dos conceitos instituídos na prática escolar já a
partir do Ensino Fundamental. Desta forma, posso afirmar que a caminhada para o
entendimento do lugar e do significado do Ensino Religioso como componente curricular,
assim como seu reconhecimento, aceitação, visibilidade, parte da postura do educador, do seu
fazer em sala de aula nas diferentes etapas da educação básica, entendendo a docência como
uma obra autoral incompleta que se faz/constitui a todo instante no cotidiano escolar,
respeitando os conhecimentos anteriormente construídos bem com a bagagem cultural do
educando.
Foi possível concluir que os atores participantes da pesquisa entendem qual é o lugar e
a significação depositada ao Ensino Religioso no contexto escolar, e acreditam que ele seja
necessário principalmente por auxiliar na formação integral do educando. Percebe-se,
também, que o grande entrave atualmente para o Ensino Religioso como componente
32105
curricular não são as concepções dos alunos, pais e/ou responsáveis, mesmo muitas vezes
apresentando pontos de vista conservadores, tradicionais, enraizados nas crenças religiosas,
ou nas práticas proseletistas pontuais de alguns educadores, mas sim, a vontade política e o
entendimento da mantenedora sobre seu objeto de estudo. Apesar do entendimento sobre seu
objeto de estudo ter avançado, novamente a polêmica sobre a sua permanência no currículo se
faz presente. Esperamos que o debate a cerca da sua inclusão traga soluções definitivas com o
intuito de que novos estudos sigam na direção de transformar o ER em disciplina respeitada
no currículo escolar.
REFERÊNCIAS
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