Pensamento Marxista e a Educação na Sociedade

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Pensamento Marxista e a Educação na
Sociedade Capitalista Atual
DINIZ, Rosemeri Birck - Universidade Federal do Tocantins. [email protected]
SOUZA, Raquel Aparecida. Universidade Federal do Tocantins. [email protected]
RESUMO
Esse texto faz parte dos estudos realizados no GEPEGE - Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Políticas e Gestão da Educação do Campus Universitário de Miracema,
Universidade Federal do Tocantins. Dentre as ações do grupo, destacam-se os estudos
de algumas obras de Marx e Engels, visando compreender as bases do seu pensamento,
sobretudo, aquelas que ajudam a entender as rupturas com a forma de pensar idealista
e anunciam as bases filosóficas do materialismo histórico dialético. A partir de um
estudo bibliográfico e da dinâmica de leituras e debates no grupo, apresenta-se nesse
texto, de forma preliminar alguns elementos teóricos sobre nossa compreensão do
pensamento marxista a fim de entendermos a educação que temos na sociedade
capitalista atual. Como resultados destaca-se que esse pensamento ainda está muito
presente e importante por representar a teoria que ainda dá conta de explicar a sociedade
capitalista e em especial para a compreensão das questões educacionais na atual
sociedade, sobretudo porque esta ainda tem sido alvo de uma concepção ideológica
desenvolvida pelas classes dominantes.
Palavras-Chave: Marxismo. Educação. Sociedade Capitalista
Introdução
A elaboração deste texto inicia pela nossa compreensão das leituras das obras de
dois importantes pensadores do século XIX, Marx e Engels, os quais se propõem
analisar o pensamento burguês da sua época. A partir de pensadores idealistas, criticam
a sociedade burguesa e principalmente a forma desta sociedade pensar, apresenta um
novo método de interpretação e encaminhamento da sociedade capitalista, buscando e
propondo, então, a superação desta. A compreensão do pensamento marxista e sua
relação com a educação, enquanto humanização se dá considerando os aspectos
contraditórios próprios da sociedade capitalista.
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Bases do pensamento marxista em oposição às concepções idealistas
Para compreender as bases do pensamento marxista, sobretudo do
materialismo histórico é preciso entender o contexto social e econômico vivido por Karl
Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), os quais estudaram e revelaram o
desenvolvimento, o declínio e as possibilidades de superação da sociedade burguesa,
afirmando que nenhuma sociedade é eterna ou imutável. Criaram os fundamentos e os
elementos que pertencem à teoria do ser social engendrado pelo modo de produção
capitalista.
Marx e Engels, com o objetivo de analisar a sociedade de sua época de forma
histórica e científica, aprofundaram seus estudos criticando a forma existente de
interpretação do contexto social vigente, expressando assim, um rompimento com o
modo de ver e interpretá-lo. Eles reconheceram a realidade de forma diferente da
interpretação até então feita apontando que “a transformação da consciência vem a ser o
mesmo que interpretar diferentemente o existente, isto é, reconhecê-lo mediante outra
interpretação.” (MARX; ENGELS, 1986, p. 26).
A partir de uma nova maneira de pensar e analisar a realidade considerando
todo um contexto histórico confrontou seus pensamentos com teóricos, políticos e
ideólogos, criticaram representantes do pensamento burguês, entre eles os idealistas,
economistas, filósofos e materialistas ingênuos, para então elaborar uma forma diferente
para explicar a sociedade burguesa. Marx e Engels não só criticavam a sociedade
burguesa, mas a forma desta sociedade pensar e agir.
As críticas feitas ao filósofo alemão Hegel (1770-1831), partia do
entendimento de que para esse, o pensamento e as ideias é que determinavam a vida
material, ou seja, que o mundo real era a manifestação das ideias. No mesmo sentido
romperam também com Feuerbach (1804-1872), para quem a essência do homem era o
ponto de partida da história. Ele admitia a existência de um homem ideal, capaz de viver
isoladamente como um indivíduo singular. Críticas também foram direcionadas a
Proudhom (1809-1865), por esse compreender as relações sociais capitalistas como
eternas e imutáveis, além de ser um socialista utópico, e porque tinha a ideia como
ponto de partida da vida social dos homens.
Tomando a obra “Ideologia Alemã”, destaca-se que Marx e Engels partem de
pressupostos reais, de homens reais, da vida material dos homens, tanto a vida material
produzida anteriormente por outros homens como a que eles produziram. Por isso, não
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concordam com Feuerbach que defende o princípio de que é o pensamento que
direciona e determina a vida dos homens. Foram além do modo abstrato e a-histórico
com que Hegel entendia o homem, ao afirmar que “não é a consciência que determina a
vida, mas a vida que determina a consciência” (MARX; ENGELS, 1986, p. 37), eles
partem do processo da vida material dos homens e não daquilo que os próprios homens
pensam. O desenvolvimento e a produção material da vida dos homens é que irá
desencadear na mudança da sua forma de pensar.
Os autores vão desenvolvendo e amadurecendo o pensamento sobre o objeto
de estudo que possuíam sobre a sociedade burguesa que se consolidara na Europa, em
especial na Alemanha, e ao mesmo tempo vão desenvolvendo um método de
compreender esse objeto. Com isso vai surgindo algumas categorias de análise, dentre
elas destaca-se a práxis, que toma como ponto de partida da produção da vida material
dos homens e que segundo Paulo Neto (1998), é a partir dela que Marx vai elaborar sua
teoria da história, “é sobre a concepção de homem como ser prático e social que repousa
na idéia capital do trabalho como forma modelar de práxis, vale dizer, o único modo de
criação [...]” (PAULO NETO, 1998b, p. 54).
A teoria social construída por Marx e Engels considera o trabalho como
elemento fundamental no processo de desenvolvimento da vida humana, concebendo o
homem como ser prático e social, que se faz a si mesmo por meio de suas pretensões e
que organiza suas relações com a natureza e com os outros homens de acordo com o
nível de desenvolvimento dos meios de produção pelos quais os mantém vivos, pelo
“modo com o que produzem” e “como produzem”. “Tal como os indivíduos manifestam
sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, portanto, com a sua produção, tanto
com o que produzem, como com o modo como produzem. O que os indivíduos são,
portanto, depende das condições materiais de sua produção.” (MARX e ENGELS, 1986,
p. 27-8).
O significado dessa abordagem leva a compreensão que o homem é assim como
ele se faz e a sua consciência é fruto do seu trabalho. Este homem é como um ser socialprático que não provém das idéias, mas dos fatos reais. O homem é esse ser real como
destaca Marx, o homem que se realiza e que é capaz, por meio da consciência, de se
transformar em um ser consciente no percurso de seu processo histórico, mas não se
trata de qualquer consciência.
Mesmo considerando que o homem possui desde sua existência uma consciência,
é necessário compreender a diferença que existe de uma consciência de si e de uma
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consciência para si de acordo com Marx. A primeira refere-se a uma consciência
individual, de si para si próprio. Já a segunda trata da consciência que considera a
totalidade das classes sociais e históricas, quando há a passagem da consciência
individual para consciência de classe, em que os indivíduos saem da condição egoísta
para uma posição altruísta em que buscam sua emancipação de forma consciente.
(MARX, ENGELS, 2009).
A teoria marxista, diferentemente do idealismo, da metafísica e do
materialismo ingênuo, colocou a produção material como objeto de estudo. Teve como
pontos de partida indivíduos produzidos em sociedade, o que significa uma produção de
indivíduos socialmente determinados, num dado estágio de desenvolvimento social.
Podemos constatar isto claramente explicitado na principal obra de Marx “O Capital” na
qual ele destaca: “Nesta obra, o que tenho de pesquisar é o modo de produção capitalista
e as correspondentes relações de produção e de circulação.” (MARX, 1982, p. 05).
As concepções idealistas da economia clássica não viam o indivíduo como um
sujeito da história, mas um homem idealizado como ser natural, como se evidencia na
passagem em que Marx destaca que os idealistas
Vêem nele não um resultado histórico, mas o ponto de partida da
história, porque consideram este indivíduo como qualquer coisa de
natural, conforme com a sua concepção de natureza humana, não
como um produto da história, mas como um dado da natureza.
(MARX, 1983, p. 201).
A mesma crítica ocorre novamente com relação a ideia do indivíduo viver
isolado, ou de produzir desvinculado da sociedade, considerando-a uma “robinsonada” e
“uma coisa tão absurda como o seria o desenvolvimento da linguagem sem a presença
de indivíduos vivendo e falando em conjunto.” (Ibid, p. 202) para Marx, o homem não
existe para viver isolado. Ele se faz e se transforma em sociedade e assim se faz humano,
não vive isolado da sociedade porque sua forma de ser não é eterna. Neste sentido ainda,
Marx desmistifica o caráter ideológico de eternização das relações capitalistas de
produção, como algo natural, universal e eterno. Porém, é oportuno destacar que
algumas características são comuns a todas as épocas, outras não, logo, não podemos
eternizar as relações sociais existentes presentes no pensamento burguês.
Um dos aspectos que distingue a teoria de Marx da teoria de seus
contemporâneos está no fato de que ele percebe a sociedade burguesa em sua totalidade
concreta, não como um amontoado de partes que se completam,
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[...] mas como um sistema dinâmico e contraditório de relações
articuladas que se implicam e se explicam estruturalmente. Seu
objetivo [da teoria] é reproduzir idealmente o movimento constitutivo
da realidade social, que se expressa sob formas econômicas, políticas
e culturais. (PAULO NETTO, 1998a, p. XXIX)
Hobsbawn (1998), também destaca que na concepção materialista da história
de Marx e Engels, os autores baseiam-se no processo real de produção pela produção
material da vida em si mesma, bem como, leva em consideração a natureza, o trabalho
social e a organização social, numa relação recíproca desses vários aspectos entre si.
Além disso, os seres humanos fazem uso tanto das mãos como da cabeça para se
produzirem como tal.
Marx ao estudar o modo de produção capitalista, em todos os estágios,
analisou a sociedade de classes objetivando chegar a uma sociedade sem classes,
destacando a questão da contradição.
As relações de produção burguesas são a última forma contraditória do
processo de produção social, contraditória não no sentido de uma
contradição individual, mas de uma contradição que nasce das
condições de existência social dos indivíduos. No entanto, as forças
produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam
ao mesmo tempo as condições materiais para resolver esta contradição.
Com esta organização social termina, assim, a Pré-história da sociedade
humana. (MARX, 1983, p. 25).
As relações burguesas de produção correspondem a uma forma histórica de
desenvolvimento da vida material dos homens. Nesse sentido a teoria marxista vai além
da concepção da sociedade burguesa como natural e eterna. Ela revela que, na relação
capitalista de produção, o desenvolvimento das forças produtivas entra em contradição
com as relações sociais de produção, quando no seio da sociedade se desenvolve todas
as forças produtivas que ela era capaz de conter.
Quando Marx afirma que as relações burguesas de produção referem-se a
última forma contraditória do processo de produção social, isto significa que, se a
divisão da sociedade em classes sociais foi uma necessidade histórica para o
desenvolvimento das forças produtivas, ela trouxe também a possibilidade de extinguir
esta forma antagônica de ordenação social, apontando a possibilidade de uma sociedade
sem classes. “Em lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e seus
antagonismos de classes, surge uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada
um é a condição para o livre desenvolvimento de todos.” (MARX; ENGELS, 1988, p.
87).
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Educação Capitalista e a teorização marxista: uma relação possível
Marx e Engels, em seus escritos não teorizam especificamente sobre a
educação, mas uma relação direta com esse tema aparece constantemente em suas obras,
como destaca Saviani (2005), para o qual o nexo da educação esta relacionado com a
sociedade em classes quando se compreende a sociedade capitalista, o surgimento das
classes por meio do surgimento da propriedade privada, nesse caso trata-se da educação
escolar.
Considerando que a existência do homem não é garantida pela natureza, mas que
ele tem que produzi-la e para isso age, transforma e adequa a natureza adaptando-a a
partir de suas necessidades, chegando a sua essência por meio do trabalho. Nesse
sentido, o homem precisa aprender esse processo de produção, ou seja, precisa ser
educado.
Assim, as bases teóricas e o método de análise da sociedade capitalista permite
entender as relações com a educação dessa sociedade. Pra que se possa compreender o
fenômeno da educação como uma atividade essencialmente humana no contexto da
sociedade capitalista é preciso remetê-la a totalidade social. Dito de outra forma, para
desnudá-la é preciso compreender e considerar que na sociedade tudo se relaciona, a
realidade é concebida como um sistema interligado, onde tudo o que existe está
relacionado com o todo.
Historicamente o processo de educação dos homens ocorreu de diferentes modos
e com conteúdos variados, de acordo com o modo de produção e reprodução da vida de
cada época. No modo de produção capitalista a forma mais avançada de educação se dá
no interior da escola, e neste sentido, a defesa pela educação de todos empreendeu-se no
terreno da luta de classes: entre burguesia e proletariado. Segundo Frigotto (2003) a
classe hegemônica, dentre outras articulações, faz uso do fenômeno educativo para
perpetuar-se no poder.
A educação, enquanto empreendida no plano das determinações e
relações sociais e, portanto, ela mesma constituída e constituinte
destas relações, apresenta-se historicamente como um campo de
disputa hegemônica. Essa disputa dá-se na perspectiva de articular as
concepções, a organização dos processos e dos conteúdos educativos
na escola e, mais amplamente, nas diferentes esferas da vida social,
aos interesses de classe. (FRIGOTTO, 2003, p. 25)
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Esse contexto de luta se efetiva, em virtude, dentre outras questões, de que os
interesses entre as classes são outros, como são outras as concepções entre sociedade,
homem e educação. A educação caminha no sentido da busca de um homem na
perspectiva de como ele deveria ser. E ao contrário, deveria tomar o homem tal como
ele é, e não como deveria ser.
Isso quer dizer que a educação desenvolvida na
sociedade capitalista apresenta contradições que precisam ser superadas urgentemente.
Enquanto o trabalho deveria significar uma atividade especificamente humana
que produziria a essência do ser, se revela na sociedade capitalista como uma negação
dessa humanidade, um elemento de degradação e escravização do trabalhador, com isso,
a educação passa a representar a divisão e separação das profissões manuais das
intelectuais, promovendo assim, grande contradição entre o homem e a cultura.
Saviani (2005) ao analisar os desafios da educação na sociedade de classes e ao
questionar-se se a educação escolar pode estar a serviço dos interesses da classe
dominada, afirma que sim, e que só a essa classe interessa a transformação histórica da
escola, por isso se faz necessário uma teoria crítica, não ideológica e não reprodutivista.
Considerando a escola da perspectiva dos interesses dos trabalhadores,
percebemos que os antagonismos da sociedade de classes colocam
diversos tipos de desafios à educação que poderiam ser nomeados e
analisados em suas particularidades, tais como: impossibilidade da
universalização efetiva da escola, a impossibilidade de acesso de todos
aos saber a impossibilidade de uma escola unificada, o que se leva a
propor um tipo de educação para uma classe e outro tipo para outra
classe ou então uma mesma educação para todos, porém internamente,
de fato diferenciada para cada classe social [...] (SAVIANI, 2005, p.
255).
A universidade, como propulsora da educação escolarizada tem papel
fundamental de contribuir para superação das contradições existentes. Ela deve garantir
uma formação teórica e prática sólida que lhe auxilie na formação de indivíduos
emancipados.
Saviani (2005) também apontou em sua análise que a educação superior pode
contribuir para superação ou aprofundamento da contradição entre homem e a cultura.
Para superar, ela deve “organizar a cultura de forma a possibilitar que participem
plenamente da vida cultural, sem sua manifestação mais elaborada, todos os membros
da sociedade” (p. 236, grifo nosso). “Todos”, aqui se apresenta no sentido de pensar os
trabalhadores em suas mais diversas atividades, como é o caso dos professores, para que
todos tenham o direito de pensar criticamente dentro e fora das universidades.
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Quando pensamos na formação dos alunos dos cursos de pedagogia nas
universidades públicas do Brasil, deseja-se que princípios como esses pudessem ser
garantidos e consolidados, pois, trabalhadores, professores e pedagogos, uma vez se
reconhecendo como seres emancipados, também podem auxiliar no processo de
emancipação de outros, enquanto indivíduos pensantes e críticos do que fazem para não
aceitar uma condição de seres humanos que apenas executem normas e currículos
prescritos por legislações educacionais ou outras imposições dos sistemas de educação.
Acreditamos na emancipação humana conforme explicitada por Marx (2002),
como uma questão que vai além de uma emancipação política e que poderá ser
conseguida quando os indivíduos se reconhecerem e reorganizarem suas forças próprias
como forças sociais, “[...] já não separa de si a força social sob a forma de força política,
somente então se processa a emancipação humana”. (p.42)
Do que está sendo exposto poderíamos nos questionar sobre o que os sujeitos da
educação, sobretudo os professores formados e em formação, estão apreendendo no
campo da educação. Para arriscar alguma resposta, poderíamos dizer que as fontes, as
referências, as obras que alicerçam a formação, a forma de pensar e consequentemente
as práticas do trabalho do professor, representam os instrumentos que visam contribuir
para uma formação integral do sujeito enquanto ser da história. Este é um caminho
árduo a ser empreendido visto que a classe hegemônica, com seus métodos e
instrumentos, oferece uma educação que pretende concertar e adaptar o sujeito às
demandas e necessidades próprias da sociedade capitalista.
Algumas considerações
As questões tratadas nesse texto refletem nosso entendimento, ainda em fase de
amadurecimento, de leituras e discussões de obras marxistas no GEPEGE - Grupo de
Estudo e Pesquisas sobre Políticas e Gestão da Educação, do Campus Universitário de
Miracema, da Universidade Federal do Tocantins - UFT. As reflexões nos leva a
afirmar que o pensamento marxista mostra-se muito presente e significativo para a
compreensão das questões educacionais na atual sociedade capitalista. Concordamos,
portanto, com Saviani (2005) quando ressalta que “[...] Marx continua sendo não apenas
uma referência válida, mas a principal referência para compreendermos a situação
atual” (p. 240).
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Nesse sentido, a abordagem marxista se apresenta como uma possibilidade de
reflexão teórica e prática para repensarmos nossa posição e atuação como professores
ou alunos em formação para a docência. Considerando os cursos de formação
universitária como parte de uma materialidade histórica da vida dos homens em uma
determinada sociedade educacional, o que se observa pode estar representando uma
dada realidade apenas aparente, mas para ser compreendida amplamente precisa ser
observada e analisada a partir de seus mais diversos aspectos contraditórios.
De acordo com Hobsbawn (1998), o que faz com que a teoria marxista
continue forte ainda hoje, reside no fato de que, diferentemente das outras teorias, ela se
mostra como uma possibilidade de análise dos fenômenos sociais pelas relações de
causa e efeito que o revelam em sua totalidade.
Hobsbawn (1998), em seu ensaio “Sobre História”, com muita convicção
destaca que “a abordagem de Marx ainda é a única que nos habilita a explicar toda a
amplitude da história humana e constitui o mais frutífero ponto de partida para a
discussão moderna”. (1998, p. 168-9). Assim, percebe-se que a teoria marxista continua
sendo uma base essencial para a análise social da história, pois analisa os fenômenos na
sua totalidade. Porém, Marx não pretendeu responder a todos os questionamentos que
pudessem surgir em relação à vida social dos homens, ele abriu o caminho para as
análises e discussões deixando para a posteridade a necessidade de se continuar o
discurso que ele inaugurou.
Acredita-se que um importante papel a ser exercido por professores e
pesquisadores na educação, como sujeitos da história, reside em, ao conhecer a história
dos homens, ser capaz de ler, analisar e compreender os fatos, os fenômenos sociais,
políticos, econômicos, educacionais etc., da sociedade, para então conhecer e apontar
possíveis caminhos que possam levar os homens a melhores condições de vida humana.
Porém, qualquer mudança na sociedade depende não somente das condições
materiais produzidas pelos homens, é preciso ter consciência desta necessidade para
então fazer uso da produção material existente como valor de uso para toda a sociedade.
É necessário evidenciarmos posições contraideológicas, por meio de uma
consciência que aponte condições de superar a postura alienante vivida nas sociedades
em classe, ou seja, na sociedade capitalista atual. Sobre isso Severino (1986) chamou de
de alienação da consciência, em que o homem, por ter uma consciência frágil e
enganosa, acaba sendo passível de alienação, se deixa dominar por aqueles que
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seguramente dominam o poder nas formas de crenças, conceitos, valores,
representações ilusórias da realidade social, histórica e política.
Considerando as exigências impostas à educação no século XX e XXI pela
classe hegemônica, percebe-se uma adesão ou mesmo a cooptação de profissionais da
educação no fortalecimento da formação de indivíduos mais flexíveis, com
características polivalentes, com saberes integrados para fazer qualquer tipo de trabalho
e em equipes multidisciplinares o que nem sempre quer dizer que sejam conscientes e
críticos dessas práticas, porém atendem as necessidades do capitalismo vigente.
A permanência neste caminho que se expressa em medidas paliativas para
solucionar os problemas brasileiros e a formação de indivíduos a partir dessa concepção,
contribuem somente para a permanência deste na condição da consciência de si. Por
outro lado, o despertar da consciência para si trata da consciência que considera a
totalidade das classes sociais e históricas, quando os indivíduos vão além da consciência
individual para uma consciência de classe, em que buscam sua emancipação de forma
consciente.
Nesse sentido, a lição que Marx e Engels deixaram para a posteridade diz
respeito à necessidade da crítica radical, da crítica que vai à raiz das coisas para revelálas em sua inteireza e superá-las, portanto continua na ordem do dia a necessidade da
reflexão rigorosa para a compreensão das contradições próprias da sociedade capitalista
atual, e por consequência, da educação para assim ter condições de superá-la.
Referências
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Cortez, 2003.
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