Revisão de Literatura Técnicas de imobilização de mandíbulas de cães e gatos: Revisão de literatura Jaw immobilization techniques for dogs and cats: Literature review Tales Dias do Prado – Médico Veterinário, Aluno de pós graduação do nível Mestrado na área de patologia, clínica e cirurgia, Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ-UFG), Campus Samambaia. E-mail: [email protected] Luiz Antônio Franco da Silva – Médico Veterinário, Mestre, Doutor, Professor Adjunto da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ-UFG), Campus Samambaia. Kauana Peixoto Mariano – Médica Veterinária, Aluna de pós graduação do nível Mestrado na área de patologia, clínica e cirurgia, Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ-UFG), Campus Samambaia Letícia Furtado Rodrigues – Médica Veterinária, Aluna de pós graduação do nível Mestrado na área de patologia, clínica e cirurgia, Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ-UFG), Campus Samambaia Thaís Domingos Meneses – Médica Veterinária, Aluna de pós graduação do nível Mestrado na área de patologia, clínica e cirurgia, Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ-UFG), Campus Samambaia Marcello Rodrigues da Roza – Médico Veterinário, Mestre, Doutor, Professor Convidado da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás (EVZ-UFG), Odonto Zoo.Brasília DF Prado TD, Silva LAF, Mariano KP, Rodrigues LF, Meneses TD, Roza MR. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação; 2011; 9(31); 600-605. Resumo As fraturas de mandíbula e maxila são comuns em cães e gatos, representando cerca de 3 a 6% de todas as fraturas. Os princípios básicos da reparação das fraturas das mandíbulas devem obedecer aos seguintes fatores para que se estabeleça a consolidação óssea perfeita: alinhamento oclusal, estabilidade adequada, ausência de danos em tecidos moles e duros, preservação da dentição e retorno imediato da função. Para estabilização das fraturas pode-se lançar mão do tratamento conservador ou ainda de métodos de estabilização cirúrgica, dentre os quais se destacam a utilização de fio metálico, fixador esquelético externo, resina acrílica e placa óssea. A escolha do método de fixação vai depender de vários fatores. Em primeiro lugar, é importante prezar pela estabilização vital do paciente, antes de estabelecer qualquer procedimento. Palavras-chave: canina, cirurgia, fratura, maxilofacial Abstract Maxillary and mandibular fractures are common in dogs and cats, representing 3-6% of all bone fractures. The basic principles of the jaw fracture repair must follow some factors in order to establish the bone: occlusal alignment, adequate stability, hard and soft tissue damage absence, teeth preservation and immediate return of the function. To better stabilization of the fracture it’s possible to make use of the conservative treatment or even surgical stabilization methods, which include: use of wires, external fixators, acrylic splints and plates and screws. The election of the best treatment is up to several factors. First of all, it’s important to keep the vital signs stabilizing the patient’s life before any procedure. Keywords: Canine, fracture, maxillofacial, surgery 600 Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 600-605. Técnicas de imobilização de mandíbulas de cães e gatos: Revisão de literatura Introdução As fraturas de mandíbula e maxila são comuns em cães e gatos, representando cerca de 3 a 6% de todas as fraturas. Os traumas mandibulares ocorrem, geralmente, em conseqüência de brigas e por traumatismos veiculares. As causas não traumáticas compreendem doença periodontal, processos neoplásicos, e anormalidades metabólicas (1,2). Em cães e gatos as fraturas mandibulares são mais comuns que as maxilares (3). Na maior parte dos casos, as fraturas apresentam-se abertas e contaminadas (1,2,3). Além das fraturas maxilares e mandibulares, em casos de traumatismos podem ocorrem lesões intercorrentes, incluindo obstrução de via aérea superior, traumatismo do sistema nervoso central, pneumotórax, contusões pulmonares e miocardite traumática. Essas anormalidades podem representar um grave risco à vida, requerendo diagnóstico e tratamento imediatos. Desta forma, em inúmeros casos, o reparo definitivo da fratura deve ser retardado até a estabilização do animal (4,5). Os princípios básicos da reparação das fraturas dos ossos da mandíbula devem obedecer aos seguintes fatores para que se estabeleça a consolidação óssea perfeita: alinhamento oclusal, estabilidade adequada, ausência de danos em tecidos moles e duros, preservação da dentição e retorno imediato da função (6). Por décadas, a modalidade diagnóstica indicada para os traumatismos maxilofaciais tem sido a radiografia convencional. Para evitar os efeitos indesejados da superposição, muitas posições radiográficas devem ser obtidas. Assim, o estudo completo do crânio deve incluir as projeções ventrodorsal ou dorsoventral, laterolateral, oblíqua-lateral direita ou esquerda e até mesmo intra-oral. Em geral ocorre a necessidade de sedação ou ainda anestesia geral para realização das radiografias (4,7). No caso das mandíbulas, radiografias intra-orais são de fácil execução e permitem visibilização adequada, sobretudo na região dos dentes pré-molares e molares (figura 1). Devido às limitações de imagem, a tomografia computadorizada tem sido amplamente realizada em seres humanos. Ela é considerada o procedimento diagnóstico mais útil e acurado nos casos de fraturas maxilofaciais visto que imagens claras e detalhadas são cruciais para o diagnóstico preciso e determinação do tratamento. Gradativamente, a tomografia computadorizada tem se tornado um recurso mais disponível em medicina veterinária e alguns proprietários já admitem sua utilização (7). A tomografia computadorizada de feixe cônico permite avaliações rápidas, precisas, em tamanho real e com doses de radiação extremamente reduzidas quando comparada à tomografia computadorizada convencional, sendo atualmente considerada padrão ouro para esta finalidade (8). Independente da causa, a primeira prioridade é a estabilização do paciente. Todos os cuidados de emergência devem ser mantidos (3,5). O tubo endotraqueal pode prejudicar a manipulação da cavidade oral e dificultar o ajuste oclusal durante o procedimento cirúrgico (5, 9). Como alternativa à intubação oral pode-se realizar a intubação por faringostomia (figura 2). Para tal, a anestesia é induzida e a intubação oral realizada como de costume. Após tricotomia, a pele situada caudolateralmente ao ângulo dos maxilares é preparada de forma asséptica. Por palpação oral, a fossa piriforme da porção lateral da laringe, caudalmente à mandíbula, é elevada. É efetuada incisão com aproximadamente uma vez e meia o diâmetro do tubo, imediatamente caudal ou cranial ao osso hióide. Uma pinça é passada através da incisão, para que o tubo de insuflação do manguito seja pinçado e tracionado ao exterior. O adaptador do tubo é separado, e a extremidade cranial do tubo tracionada através da incisão, utilizando a pinça introduzida pelo lado de fora. O tubo é reacoplado ao adaptador e ao circuito anestésico (9). Figura 2 - Tubo endotraqueal inserido por faringostomia em gato. Figura 1 - Radiografia intra-oral evidenciando fratura do ramo da mandíbula de cão. A mandíbula apresenta algumas peculiaridades em relação aos outros ossos longos e que devem ser levadas em consideração para o adequado tratamento. A presença dos den- Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 600-605. 601 Técnicas de imobilização de mandíbulas de cães e gatos: Revisão de literatura tes e de suas raízes, a necessidade de manutenção da oclusão e a baixa cobertura muscular são itens importantes a serem considerados antes da escolha do melhor método.Porém, o fato de não sustentar peso permite que, em alguns casos, a fixação rígida não seja necessária (3). As fraturas mandibulares podem também levar a alterações anatômicas nas funções básicas, como mastigação, fonação e deglutição (10). Fraturas do ramo da mandíbula são melhor tratadas conservadoramente, por meio de imobilização e alimentação macia. Sua espessura fina dificulta a aposição de implantes (11,12). Entre os métodos de estabilização, se destacam a utilização de fio metálico, pino intramedular, fixador esquelético externo, resina acrílica e placa óssea (3,9,13). A escolha do método de fixação vai depender de vários fatores, entre eles, localização e tipo de fratura, presença ou ausência de dentes, quantidade de destruição dos tecidos moles, grau de habilidade do cirurgião e material disponível (14,15). Com o advento da odontologia moderna, observa-se que o maior problema depois da fratura maxilofacial é a perda de oclusão (9). Portanto, a princípio, quando ocorre fratura de um ou ambos os maxilares é necessário um esforço para o restabelecimento normal da oclusão. Para isto, é necessário concentração sobre a posição dos dentes. Por serem fixados ao osso, o realinhamento dos dentes, ajuda no realinhamento ósseo. Se a oclusão for mantida, os ossos cicatrizarão corretamente. Outra preocupação é minimizar o trauma dos dentes durante o reparo. Isto pode ser conseguido através do uso das coroas dos dentes para realinhá-los. A manipulação das coroas dos dentes é menos invasiva que a manipulação do próprio osso (16). Os dentes ocupam grande porção da mandíbula e são componentes integrais da estrutura mandibular normal. Quando envolvidos por fratura, não devem ser removidos, a menos que estejam frouxos ou na linha de fratura. Isto é especialmente importante no caso de fraturas que envolvem o corpo mandibular caudal, pois os dentes molares e pré-molares grandes ocupam uma porção substancial desse osso e contribuem de essencial para a estabilidade da fratura. Avaliação periódica desses dentes é necessária no pós-operatório, para detecção de infecção ou frouxidão e determinar se um possível dano irreversível requer terapia endodôntica ou extração. Danos às raízes dentárias decorrentes de pinos, fios de aço, pontas de broca e parafusos podem causar lesões suficientes para levar à extração dentária (5, 9). Revisão de Literatura Tratamento conservador A fixação rígida não constitui um requerimento obrigatório para cicatrização. À medida que a vascularização é preservada e a infecção controlada o osso fraturado consegue cica- 602 trizar, mesmo que certo grau de mobilidade permaneça (17). É possível aplicar um funil esparadrapado para apoiar a mandíbula se ocorrer deslocamento mínimo dos fragmentos da fratura (em geral, fraturas de ramo). Esta forma de imobilização também pode ser utilizada para imobilizações temporárias para encaminhamentos de pacientes ou enquanto se aguarda a estabilização do paciente até que se possa operá-lo (4). O funil pode ser feito com dois pedaços de esparadrapo, com os lados aderentes reunidos e dispostos em um círculo, que se encaixe sobre o focinho do cão. Outro pedaço de esparadrapo preparado de forma semelhante se estende a partir do círculo, ao redor da cabeça e atrás das orelhas. A focinheira deve permitir ao cão abrir a boca suficiente para beber água e ingerir alimentos pastosos (3,4). Focinheiras tradicionais são uma boa opção para o reparo de algumas fraturas unilaterais mandibulares, onde não existam dentes em oclusão. Suas vantagens sobre o funil esparadrapado são a possibilidade de remoção para lavagem quando necessário e a possibilidade de melhor irrigação e limpeza da cavidade ora (11,14). A focinheira mantém a redução da fratura, ao manter intertravados os dentes caninos superiores e inferiores. O propósito primário é manter os dentes em oclusão e reduzir o movimento mandibular (18). Raças braquicefálicas e gatos são mais difíceis para se colocar funis e focinheiras (14). O travamento dos caninos superiores e inferiores em alinhamento anatômico é uma alternativa à focinheira. Para tal, os dentes caninos devem ser limpos, polidos, submetidos a ação do ácido ortofosfórico a 37% por 15 segundos e alinhados com resina. A boca deve permanecer aberta um centímetro e o tempo da cicatrização é o mesmo previsto em caso de aplicação do esparadrapo, aproximadamente semanas (19,20,21). Outra alternativa para redução de fraturas mandibulares é a esplintagem com acrílico autopolimerizável ou resina (Figura 3). Deve-se ter critério na escolha da fratura a ser assim tratada. É necessário que se tenha pelo menos um (o ideal seria dois) dente ancorado de cada lado da região da fratura que sejam grandes o suficiente para adesão firme do material a ser esplintado (14). O calor liberado pela polimerização do acrílico deve ser controlado por compressas de água fria e irrigação, a fim de evitar danos ao dente e à gengiva (3,13,21). O splint deve ser removido em algumas semanas, de acordo com a evolução do quadro e durante esse período é necessária adequada higienização oral. Ele deve ser removido com brocas apropriadas e o dente deve ser adequadamente polido após sua remoção (13). O método da resina acrílica pode ser utilizado nas fraturas rostrais às raízes distais do primeiro molar inferior e do quarto pré-molar superior, bem como na separação da sínfise mentoniana (22). Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 600-605. Técnicas de imobilização de mandíbulas de cães e gatos: Revisão de literatura Fios interfragmentares Fios de aço interfragmentares são ideais para estabilizar fraturas mandibulares e maxilares não reconstrutíveis relativamente simples (Figura 4). Fios de grande calibre (calibres 1.8 a 2.2), aplicados de maneira correta, proporcionam adequado suporte à fratura (9, 17). Figura 3 - Aplicação de acrílico autopolimerizável para estabilização de fratura de corpo de mandíbula em cão. Tratamento cirúrgico As técnicas de estabilização oral, que incorporam a utilização de fios de aço ou mesmo materiais acrílicos presos aos dentes, permitem a redução fechada de fraturas mandibulares e maxilares e preservam as ligações periostais e o suprimento sanguíneo. Essas técnicas são especialmente úteis para fraturas rostrais aos primeiros molares mandibulares e fraturas cominutivas às quais a redução anatômica não é possível. As luxações temporomandibulares também podem ser estabilizadas por fixação maxilomandibular (4). Fios de aço interdentários O fio de aço interdental pode ser empregado como único método de fixação em fraturas simples, não deslocadas ou como técnica auxiliar, que funciona melhor quando há um dente firme em cada lado da linha de fratura. Pode ser usado para estabilizar fraturas transversas simples ou oblíquas curtas, mas se há fragmentação ou perda óssea, a redução adequada é difícil e leva à má oclusão (4, 23). Consiste na colocação de fios de aço trançados entre os dentes com aposição ou não de resina ou acrílico sobre eles – técnica combinada. Os fios devem ficar abaixo do colo dentário e deve-se ter muito cuidado ao utilizá-los em dentes afetados por doença periodontal. Algumas vezes é necessário o uso de agulhas para passar os fios (14). Constitui uma técnica indicada quando ocorre separação da sínfise mandibular, que é o trauma oral mais comum dos gatos (73%). A estabilização é facilmente alcançada pela utilização de um fio que entra e sai pelo queixo. Para aumentar a estabilidade, um segundo fio de aço pode ser posicionado em forma de oito na base dos caninos e pequena quantidade de resina acrílica é incorporada à superfície bucal dos caninos para cobrir as pontas retorcidas do fio. O fio deve ser mantido por seis semanas e retirado sob sedação (3, 9). Figura 4 - Utilização de fio de cerclagem para estabilização de fratura de mandíbula em cão. Deve-se optar por um fio de maior calibre possível. O pino de Kirschner é usado para perfurar os orifícios no tecido ósseo, de 5 a 10 mm da linha de fratura (3). Os orifícios devem ser inclinados em direção à fratura, pois isso resulta em ângulos obtusos no lado ósseo oposto, onde os nós dos fios de aço devem ser amarrados. Os fios de aço são apertados começando da linha de fratura caudal e prosseguindo em direção à sínfise. Podem ser colocados quantos fios forem necessários, desde que a mandíbula fique corretamente estabilizada (3,4). Fixadores Externos O sistema de fixadores externos é composto por pinos de aço colocados pela via percutânea e ligados a grampos externos. As porções expostas dos pinos de fixação são interligadas através de grampos de conexão que ligam os pinos a barras de conexão.Grampos únicos são utilizados para fixar os pinos de fixação às barras de conexão e grampos duplos são usados para prender as barras uma à outra (4, 24). A moldura externa do sistema pode ser construída por barras de conexão de metal ou acrílico (geralmente polimetilmetacrilato). O uso de colunas de acrílico permite maiores latitudes na colocação dos pinos de fixação, pois os mesmos não precisam ser todos ligados no mesmo plano longitudinal (24). Os fixadores externos podem ser classificados como uniplanares ou biplanares. Os uniplanares são aqueles onde pinos e barras de conexão ocupam o mesmo plano no membro, passando pela pele em apenas um dos lados e atingindo as duas corticais. Os biplanares são tipicamente utilizados para ossos longos e atravessam a pele em ambos os lados do mem- Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 600-605. 603 Técnicas de imobilização de mandíbulas de cães e gatos: Revisão de literatura bro (24). Podem ser utilizados para estabilizar fraturas de corpo mandibular, se houver tecido ósseo suficiente para reter os pinos de fixação (4). Constituem excelentes métodos de estabilização de fraturas mandibulares, pois proporcionam rápida estabilidade pela neutralização das forças de tensão, compressão e rotação do ramo horizontal (25). Quando a cicatrização estiver completa, a remoção dos fixadores deve ser realizada mediante anestesia geral (24). Placas e parafusos ósseos As placas ósseas usadas em cirurgias veterinárias estão disponíveis em grande variedade de tamanhos, formatos e designes. A escolha da placa correta está vinculada a inúmeros fatores quem incluem força mecânica necessária para o tamanho do osso e atividade do animal, tamanho e tipo dos segmentos fraturado e o método de aplicação instituído (26). Placas ósseas podem ser utilizadas para estabilizar fraturas mandibulares simples ou cominutivas. Para tal, devem ser aplicadas na superfície mandibular ventrolateral (Figura 5). É importante o cuidado quanto à conformação da placa, pois a mandíbula se alinha com ela à medida que os parafusos são apertados e, em caso de deslizamento da placa, pode ocorre má oclusão. Os parafusos devem ser posicionados de forma que as raízes dentárias sejam poupadas, para evitar traumatismo (4, 12). Figura 5 - Aplicação de placa e parafusos ósseos em fratura de mandíbula de cão. As placas resistem bem a tensão, compressão e forças rotacionais e, dependendo do seu posicionamento, resistem a forças de flexão. Quando a redução anatômica é completamente obtida, as placas alcançam sua maior força de resistência por compartilharem a carga com o osso. A aplicação óssea é, entretanto, a mais traumática de todos os sistemas de fixação de implantes devido à abordagem cirúrgica requerida (26). 604 O desenvolvimento de miniplacas de diferentes formatos e comprimentos possibilitou a adaptação dos princípios da fixação interna a ossos pequenos e finos da face, o que revolucionou o tratamento das fraturas maxilofaciais em humanos (1). As mini placas promovem fixação interna rígida, sendo de fácil manipulação e moldagem ao osso. Entretanto,complicações em razão da sua aplicação podem ocorrer. As principais são a quebra dos implantes, especialmente no sistema de 1,5mm, assim como afrouxamento dos parafusos,ressaltando a necessidade de manejo delicado das placas e dos parafusos para minimizar tais complicações (27,28). Pós-operatório As radiografias pós-operatórias devem ser avaliadas quanto à posição do implante. Entretanto, a oclusão dentária tem precedência sobre a redução de fragmentos. A oclusão dentária é determinada mais facilmente com exame físico que com radiografias. Algumas vezes, uma focinheira de esparadrapo ou focinheira pode ser utilizada para sustentar afixação. No primeiro caso, a pele da superfície ventral da mandíbula pode ficar irritada. Deve-se limpar cuidadosamente a pele e aplicar pomada suavizante (4). Quanto aos dentes, deve-se realizar avaliação e acompanhamento radiográfico a fim de observar eventuais perfurações de raiz, que devem ser evitadas (14). Um problema particular associado às fraturas maxilofaciais é certificar-se que o animal conseguirá se alimentar. Caso isso não ocorra, é necessário estabelecer formas de proporcionar adequada nutrição ao paciente. É possível posicionar um tubo de alimentação esofágica que, após devidamente suturado à pele, permite a manutenção de uma ingestão calórica sem que o animal use sua boca. Outra forma de manutenção da alimentação do paciente, sem que ele use usa boca, é através do posicionamento de um tubo de gastrotomia, entretanto constitui um procedimento mais invasivo que o anterior (3). Se o animal conseguir se alimentar, a alimentação pode ser servida algumas horas após o retorno anestésico. Alimentos macios devem ser oferecidos até a cicatrização da fratura. Os proprietários devem ser instruídos a limparem diariamente a pele sob a focinheira e ao redor dos pinos de fixação externa. O animal deve ser reavaliado duas semanas após a cirurgia, para retirada das suturas e radiografias devem ser realizadas após seis semanas para avaliar a cicatrização. Se necessário, acompanhar e repetir após cada duas semanas (4, 14). Possíveis complicações incluem má-oclusão e osteomielite (4). Algumas complicações são atribuídas mais ao paciente que à própria fratura, por exemplo, pacientes jovens são mais complicados de serem tratados, pois possuem dentes que ainda não nasceram, frequentemente situados na linha de fratura. Os pacientes geriátricos, por sua vez, apresentam uma série de complicações como cicatrização lenta, ossos mais frágeis, muitas vezes já perderam alguns dentes e os que Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 600-605. Técnicas de imobilização de mandíbulas de cães e gatos: Revisão de literatura restaram podem sofrer de doença periodontal avançada (29). Pode haver necessidade de aplicação de um colar elizabetano, para que o paciente não atrapalhe a fixação, entretanto, comumente esse tipo de dispositivo poderá ser removido após o desaparecimento da inflamação. É apropriada a instauração de antibioticoterapia, que reduzirá a incidência de infecções (9). Outro fator muito importante no período pós-operatório é o adequado controle da dor. Tal analgesia é obtida através da administração de antiinflamatórios não esteroidais e narcóticos. Esse procedimento é essencial para manutenção do bem estar do paciente (5). Conclusão As fraturas mandibulares devem ser cuidadosamente avaliadas tanto clinicamente quanto por exames de imagem, a fim de que o método de fixação mais adequado a cada caso possa ser executado. O tratamento deve prover ajuste oclusal correto e o pós-operatório deve ser realizado de maneira cautelosa, provendo-se uma alternativa para a ingestão adequada de alimentos pelo paciente e controlando-se a dor e a infecção pela utilização de fármacos adequados. O paciente deve ser acompanhado radiograficamente até a remoção dos dispositivos de fixação. Referências 11. HOWARD, P. E.; Fraturas e deslocamentos mandibulares. In__ BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Clínica de Pequenos Animais, São Paulo, Roca, 1998, p 1061-1067. 12. PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L. Fraturas e luxações da mandíbula e maxila superior. In:__. Ortopedia e tratamento das fraturas dos pequenos animais. São Paulo: Manole, 1999, p. 443-458. 13. MARRETA, S. M. Maxillofacial surgery. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v.28, n.5, p.1285-1295, 1998. 14. ROZA, M. D. Cirurgia dentária e da cavidade oral. In:__ Odontologia em Pequenos Animais, Rio de Janeiro:LL livros de Veterinária, 2004, p. 167-190. 15. BILGILI, H.; HORUM, S. Comparative study on the effects of wire, polydioxanone, and mini titanium plate osteosynthesis materials on the healing of mandibular fractures: an experimental study in rabbits. Turkish Journal of Veterinary Animal Science, v.26, p. 1109-1116, 2002. 16. LEGENDRE, L. F. J. Intraoral acrylic splints for maxillofacial fracture repair. Journal of Veterinary Dentistry, v. 20, n. 2, p. 70-78, 2003. 17. SMITH, M. M. Interdental wire and acrylic for oral fracture repair. In__: Proceedings of the 13th Annual Veterinary Dental Forum. Nashville (TN): Annual Veterinary Dental Forum; 1999. p. 187–90. 18. BUBENIK, L. Minimally invasive mandibular fracture repair. In:__ The North American Veterinary Conference, 2005, Orlando. 19. KERN, D. A.; SMITH, M. M.; STEVENSON, S. l. Evaluation of three fixation techniques for repair of mandibular fractures in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 206, n. 12, p.1883–1890, 1995. 20. LYON, K. F. Treatment of a complicated mandibular fracture in a dog. In__: Proceedings of the 14th Annual Veterinary Dental Forum. Nashville (TN): Annual Veterinary Dental Forum; 2000. p. 204. 21. O’MORROW, C. Maxillary fracture fixation using interdental wire, and condylar neck fracture fixation using dental acrylic splinting. In:__ Proceedings of the 15th Annual Veterinary Dental Forum. Nashville (TN): Annual Veterinary Dental Forum; 2001. p. 140–1. 22. GIOSO, M. A.; VIANNA, R. S.; FRANÇOISE, M. A.; VENTURINI, H. L.; CORREA, H. L.; VENCESLAU, A.; ARAÚJO, V. C. Análise clínica e histológica da utilização da resina acrílica autopolimerizável nas fraturas de mandíbula e maxila e separação da sínfise mentoniana em cães e gatos. Ciência Rural, Santa Maria, v.31, n.2, p.291-298, 2001. 23. RAHAL; S. C.; FRANCISCONE; P. A.; IWABE, S.; SOARES, F. P. Métodos de fixação de fraturas mandibulares em cães: resistência mecânica à compressão. Ciência Rural Santa Maria, V.28, n. 3, p. 431-434, 1998. 24. CANAPP, S. O. External fracture fixation. Clinical tecniques in Small Animal Practice, v. 32, p. 114-119, 2004. 25. RIJO, R. C.; FALCÃO, M. V. C.; SANTOS JUNIOR, J. C. B.; SILVA; S. A.; SOIBELMAN, D.; RAMOS, C. V. R. Osteossíntese do ramo horizontal da mandíbula com aparelho de fixação esquelética externa de resina acrílica em um acabra (Capra Hircus). Acta Scientiae Veterinariae, v. 35, p. 1395-1396, 2007. 1. BOUDRIEAU, R.J. Miniplate reconstruction of severely comminuted maxillary fratures in two dogs. Veterinary Surgery, v.33, p.154-163, 2004. 2. LOPES, F.; GIOSO, M.A.; FERRO, D.G.; LEONROMAN, M.A.; VENTURINI, M.A.F.A. Oral fractures in dogs of Brazil - a retrospective study. Journal of Veterinary Dentistry, v. 22, n. 2, p. 86-90, 2005. 3. LEGENDRE, L. Maxillofacial Fracture Repairs. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 35, p. 985-1008, 2005. 4. JOHNSON, A. L. Tratamento de fraturas específicas. In__: FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Elsevier, 2008. p.1015-1142. 26. 5. ROUSH, J. K. Management of fractures in small animals. Veterinary Clinics Small Animal Practice, v. 35, p. 1137-1154, 2005. STIFFLER, K. S. Internal fracture fixation. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 19, p. 105-113, 2004. 27. 6. MARRETTA, S. M. Diagnosis and treatment of oral trauma. In: The North American Veterinary Conference, 2005, Orlando. Proceeding of the NAVC. BILGILI, H.; KURUM, B. Treatment of fractures of the mandible and maxilla by mini titanium plate fixation systems in dogs and cats. Australian Veterinary Journal, v. 81, p. 671-673, 2003. 7. BAR-AM, Y.; POLLARD, R. E.; KASS, P. H.VERSTARETE, F. J. M. The diagnostic yield of conventional radiographs and computed tomography in dogs and cats with maxillofacial trauma. Veterinary Surgery, v. 37, p. 294-299, 2008. 28. GOMES, C.; GOUVÊA, A. S.; ALIEVIN, M. A.; CONTESINI, E. A.; PIPPI, N. L. Miniplacas de titânio na redução de fraturas mandibulares em cães e gatos: estudo de seis casos. Ciência Rural. Santa Maria, v. 40, n. 5, p. 1128-1133, mai, 2010. 8. ROZA, M. R.; SILVA LAF, JANUARIO AL, BARRIVIERA M et al. Tomografia computadorizada de feixe cônico na odontologia veterinária: descrição e padronização da técnica. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 29, p. 617-624, 2009. 29. MARETTA S. M. Maxillofacial fracture complications. In:__ Proceedings of the 17th Annual Veterinary Dental Forum. Nashville (TN): Annual Veterinary Dental Forum; 2003. p. 85–7. 9. VERSTRAETE, F. J. M. Fraturas maxilofaciais. In__: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Manole, 2007, p. 2190-2207. 10. RAIMUNDO, R. C. Fraturas de mandíbula: análise retrospective de 27 casos. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco- Maxilo-Facial, v.8, n.1, p.57-62, 2008. Recebido para publicação em: 28/11/2011. Enviado para análise em: 29/11/2011. Aceito para publicação em: 06/12/2011. Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação 2011;9(31); 600-605. 605