revistahugv Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas The Journal of Getulio Vargas University Hospital V.12. N. 1 JAN./JUN. – 2013 UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Rua Apurinã nº 04 – Praça 14 de Janeiro, Cep: 69020-170 Manaus - AM Fones: (092) 3305-4782/4719 E-mail: [email protected] FUNDADORES Ricardo Torres Santana Jorge Alberto Mendonça LISTA DO CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA HUGV EDITOR-CHEFE Kathya Augusta Thomé Lopes Fernando Luiz Westphal LISTA DO CONSELHO CONSULTIVO DA REVISTA HUGV Aristóteles Comte Alencar Armando de Holanda Guerra Júnior Cristina de Melo Rocha Daria Barroso Serrão das Neves Domingos Sávio Nunes de Lima Edson de Oliveira Andrade Eucides Batista da Silva Eurico Manoel Azevedo Fernando César Façanha Fonseca Fernando Luiz Westphal Francisco Mateus João Giuseppe Figliuolo Ione Rodrigues Brum Ivan da Costa Tramujás Jean Jorge Silva de Souza José Correa Lima Netto Julio Mario de Melo e Lima Kathya Augusta Thomé Lopes Leíla Inês de A. R. da Camara Coelho Lourivaldo Rodrigues de Souza Luís Carlos de Lima Luiz Carlos de Lima Ferreira Luiz Fernando Passos Marcus Vinicius Della Coletta Maria Augusta Bessa Rebelo Maria do Socorro Lobato Maria do Socorro L. Cardoso Maria Fulgência Costa L. Bandeira Maria Lizete Guimarães Dabela Márcia Melo Damian Massanobu Takatani Miharu Magnória Matsuura Matos Patrícia Bandeira de Melo Akel Petrus Oliva Souza Ricardo Torres Santana Rodolfo Fagionato Rubem Alves da Silva Júnior Sandra Lúcia Euzébio Wilson Bulbol Zânia Regina Ferreira Pereira revistahugv Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas The Journal of Getulio Vargas University Hospital V.12. N. 1 JAN./JUN. – 2013 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Copyright© 2013 Universidade Federal do Amazonas/HUGV REITORA DA UFAM Prof.ª Dra. Márcia Perales Mendes Silva DIRETOR DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Prof. Dr. Lourivaldo Rodrigues de Souza PRODUÇÃO GRÁFICA-EDITORIAL Fernando de Souza Neto ORGANIZAÇÃO Thaís Borges Viana DIRETORA DA EDUA Suely Oliveira Moraes Marquez DIRETORA DA REVISTA Profª Dayse Enne Botelho REVISÃO (LÍNGUA PORTUGUESA) Sergio Luiz Pereira CAPA Serviço de Ergodesign TIRAGEM 300 EXEMPLARES FICHA CATALOGRÁFICA Ycaro Verçosa dos Santos – CRB-11 287 CDU 61(051) R454 Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas. Revista do Hospital Getúlio Vargas. V. 12, n. 1 (2013) / Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2013 85 p. Semestral Título da revista em português inglês ISSN – 1677-9169 1. Medicina-Periódico I. Hospital Universitário Getúlio Vargas II. Universidade Federal do Amazonas. CDU 61(051) Sumário Editorial 11 Juscimar Carneiro Nunes Artigos Originais Uso de Imagens Radiológicas no Controle do Posicionamento do Cateter Enteral 13 Luiz Carlos de Souza Menezes, Edson da Fonseca Lira, José Nilson Araújo Bezerra, Adria Oliveira, Andrea Ribeiro, Janise Ramos, Patrícia Adriano M. Bareiros Cirurgia Laparoscópica: Experiência do Serviço de Urologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas 22 Cristiano Silveira Paiva, José Eugênio Albert da Rocha Júnior, Adriano Maia Siqueira, Paulo Cézar Vasconcelos, George Lins de Albuquerque, Rebeca A. dos Santos Di Tommaso, Priscilla Ribeiro dos Santos, Cecília Mello Garcez, Luciana de Brito Arce Epidemiologia da Lesão Medular no Programa de Atividades Motoras para Deficientes do Hospital Universitário Getúlio Vargas/AM 30 Suelen Cristine da Silva Nunes, Kathya Augusta Thomé Lopes, Giuliana Arie Revisão de Literatura Manifestações Gastrointestinais do Lúpus Eritematoso Sistêmico Aline Brasil Aranha, Daniel Almeida Schettini, Samir Yoshio Matsumoto Bissi, Vinicius Renan Pinto de Mattos,Armando de Holanda Guerra Júnior 35 Relato de Caso Massa Mediastinal em Adulto Jovem Franciele Maria Sarmento dos Santos, Michelle Masuyo Minami Sato, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Mário Sérgio Monteiro Fonseca, Roque Martins Chaves Neto Cisto Anexial e Gestação: Relato de Caso 43 47 Serena Toniolli Manete, Ione Rodrigues Brum, Jean Carlo Bonan Manete Hérnia de Grynfelt com Herniação da Fáscia de Gerota: Relato de Caso 51 Dênisson Guedes Pontes, Tikara Hagiwara, Luciane Sayuri Neves de Oliveira Hagiwara Endocardite Subaguda Plurivalvular por Cocos Gram-Positivos com Múltiplos Fenômenos Embólicos Periféricos David Luniere Gonçalves, Vinícius Renan Pinto de Mattos, Maria José dos Santos Silva, Samir Yoshio Matsumoto Bissi, Marlúcia do Nascimento Nobre 56 Neoplasia Cutânea Anexial - Desafio Diagnóstico 62 Emily dos Santos Franco, Thalita Gomes Martins, Carla Vellen da Silva Menenzes, Silvana de Albuquerque S. Damasceno, Antônio Schettini, Romildo Camelo Linfanglioleiomiomatose: Análise de um Caso Clínico 66 Daniel Almeida Schettini, Fernanda Almeida Schettini, Aline Brasil Aranha, Mário Sérgio Monteiro Fonseca Endometrioma de Músculo Reto Abdominal: Relato de Caso 70 Maressa de Moura Abrahim, Humberto Pereira de Souza Silva, Meire de Oliveira Silva, Adilson Cunha Ferreira Incisão de Clamshell para a ressecção de Tumor Gigante do Mediastino 76 Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto, Katienne Frota de Lima, Stephany da Cunha Seelig Correção por Stent de Lesão Traumática Aguda de Aorta Torácica: Relato de Caso Fernando Luiz Westphal, Luiz Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto, Silas Fernandes Avelar Júnior, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Luciane Sayuri Neves de Oliveira Hagiwara 81 Contents Editorial Juscimar Carneiro Nunes 11 Original Articles Use of Radiologic Images in Control of the Position of the Enteral Catheter 13 Luiz Carlos de Souza Menezes, Edson da Fonseca Lira, José Nilson Araújo Bezerra, Adria Oliveira, Andrea Ribeiro, Janise Ramos, Patrícia Adriano M. Bareiros Laparoscopic Surgery: Department of Urology of Getúlio Vargas University Hospital’s Experience 22 Cristiano Silveira Paiva, José Eugênio Albert da Rocha Júnior, Adriano Maia Siqueira,Paulo Cézar Vasconcelos, George Lins de Albuquerque, Rebeca A. dos Santos Di Tommaso, Priscilla Ribeiro dos Santos, Cecília Mello Garcez, Luciana de Brito Arce Epidemiology of Spinal Cord Injury in the Program of Activities for Disabled Motors in University Hospital Getúlio Vargas/AM 30 Suelen Cristine da Silva Nunes, Kathya Augusta Thomé Lopes, Giuliana Arie Literature Review Manifestations of Systemic Lupus Erythematosus 35 Aline Brasil Aranha, Daniel Almeida Schettini, Samir Yoshio Matsumoto Bissi, Vinicius Renan Pinto de Mattos, Armando de Holanda Guerra Júnior Case Report Mediastinal Mass in Young Adult 43 Franciele Maria Sarmento dos Santos, Michelle Masuyo Minami Sato, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Mário Sérgio Monteiro Fonseca, Roque Martins Chaves Neto Adnexial Cyst and Pregnancy: Case Report 47 Serena Toniolli Manete, Ione Rodrigues Brum, Jean Carlo Bonan Manete Grynfelt Hernia With Herniation of Gerota’s Fascia: Case Report 51 Dênisson Guedes Pontes, Tikara Hagiwara, Luciane Sayuri Neves de Oliveira Hagiwara Subacute Endocarditis Plurivalvular by Gram-Positive Cocci With Multiple Peripheral Embolic Phenomena David Luniere Gonçalves, Vinícius Renan Pinto de Mattos, Maria José dos Santos Silva, Samir Yoshio Matsumoto Bissi, Marlúcia do Nascimento Nobre 56 Skin Neoplasms adnexal - Diagnostic Challenge 62 Emily dos Santos Franco, Thalita Gomes Martins, Carla Vellen da Silva Menezes, Silvana de Albuquerque S. Damasceno, Antônio Schettini, Romildo Camelo Lymphangioleiomyomatosis: Analysis of a Clinical Case 66 Daniel Almeida Schettini, Fernanda Almeida Schettini, Aline Brasil Aranha, Mário Sérgio Monteiro Fonseca Rectus Abdominis Endometrioma: a Case Report 70 Maressa de Moura Abrahim, Humberto Pereira de Souza Silva, Meire de Oliveira Silva, Adilson Cunha Ferreira* Clamshell Incision for Mediastinal Giant Tumor Resection 76 Fernando Luiz Westphal, Luís Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto, Katienne Frota de Lima, Stephany da Cunha Seelig Correction With Stent of Acute Traumatic Thoracic Aortic Injury: a Case Report Fernando Luiz Westphal, Luiz Carlos de Lima, José Corrêa Lima Netto, Silas Fernandes Avelar Júnior, Ingrid Loureiro de Queiroz Lima, Luciane Sayuri Neves de Oliveira Hagiwara 81 Editorial Ensino médico em nossa universidade – do calouro ao doutor A evolução do ensino médico, a partir da incorporação do Hospital Universitário Getúlio Vargas pela então Universidade do Amazonas, foi um marco histórico não só na formação de recursos humanos em saúde, mas transformou o antigo hospital no maior polo de tratamento de doenças complexas da Amazônia Ocidental. Muitas discussões e embates científicos ocorreram nos corredores e enfermarias do hospital. Quem não lembra o antigo Departamento de Medicina Especializada, que englobava as clínicas médica e cirúrgica? Presenciamos muitas reuniões quando ainda representante discente com discussões acaloradas e fervorosas entre professores de diferentes especialidades médicas, foi um grande aprendizado para uma geração de futuros médicos. O ensino de graduação foi consolidado, partiu-se para a criação dos programas de residência médica com grande sucesso, por quase duas décadas o aparelho formador de medicina na nossa universidade ficou restrito ao ensino de graduação e a pós-graduação lato sensu de residência médica. Precisávamos crescer institucionalmente como aparelho formador de recursos humanos em saúde, diversas foram as investidas, principalmente em convênios com universidades do Sudeste do Brasil; conseguimos formar mestres e poucos doutores. Ainda assim necessitávamos de doutores, o Curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), agora em dificuldades por conta de um regime de supervisão interposto pelo Ministério da Educação, tinha de promover uma série de transformações em seu aparelho formador, uma delas era o de aumentar a quantidade de doutores em seu quadro docente. Pelo pioneirismo empreendedor do professor doutor Nelson Fraiji, criouse o Doutorado Interinstitucional entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu e a Ufam. Conseguimos formar dezenas de doutores, como consequência, hoje, ouvimos termos que até então não existiam em nosso meio como Diretórios de Pesquisa, Grupos de Pesquisa, Fator de Impacto e muitos outros termos das comunidades científicas. Estamos vivendo mais um momento de reforma do ensino médico, desde a publicação das Diretrizes Curriculares de 2001 para os cursos de Medicina, nunca se falou tanto em qualidade de ensino médico, qual médico devemos formar para a sociedade, quais especialistas precisamos e quais as expectativas desses recém-egressos da academia, ainda muitos questionamentos estão por vir, e obrigatoriamente nós temos de ter essas respostas. Todas as iniciativas referentes às mudanças na educação médica devem convergir para o propósito da formação desses novos profissionais, em busca de suas novas características. Evidentemente, um grande entrave nesse processo é a própria formação dos docentes médicos, tutores e preceptores, modelos para nossos alunos e residentes, pois eles estão marcados justamente pelos atributos que dão o caráter formativo aos alunos dos cursos de Medicina de Manaus e aos profissionais recém-egressos das residências. Portanto, uma das questões fundamentais a considerar é como educar nossos educadores médicos, para que correspondam a necessidades e demandas sociais da área da saúde, trazendo para o debate o saber-fazer docente e o saber-fazer profissional. E interrogar- se sobre como transformar a preocupação com o próximo, nossos pacientes, pessoas que vivem na nossa região, pertencentes como nós a uma população amazônica. Existe uma ordem organizacional em relação ao ensino médico nas grandes instituições universitárias, a organização funcional e estrutural das clínicas especializadas, visando à operacionalização das finalidades básicas da estrutura universitária de ensino, pesquisa, extensão e assistência. Sinto inveja de grandes escolas médicas quando deparo com alguns substantivos tipo “Cardiologia USP”, ou “Pediatria Unifesp”, ou mesmo “Anestesiologia USP”, estes não são simples substantivos, são estruturas universitárias hierarquizadas, não de poder por poder, mas de | 11 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 responsabilidades, norteadas na competência dos valores científicos e morais em que as pessoas fazem a instituição, no entanto essas pessoas não são maiores que a instituição a que pertencem, fazemos parte da Ufam, mas não somos maiores que ela. Urge reconstruir a estrutura funcional de medicina em nossa universidade, para termos nossos substantivos maiúsculos do tipo “Cirurgia Ufam”, ou “Cardiologia Ufam”, ou mesmo “Anestesiologia Ufam”, e muitos outros com igual magnitude de importância. Estruturas que uniriam em uma única célula de ensino, pesquisa e assistência nossos alunos de graduação, internato, residência médica, mestrado e doutorado. Essa é a nossa difícil, mas não impossível tarefa. Cabe à nova comunidade acadêmica a ser formada com essa nova estrutura acadêmica/hospitalar ser o principal protagonista desse processo de mudança, afinal a universidade se autoconstrói diariamente. Prof. Dr. Juscimar Carneiro Nunes | 12 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Menezes et al USO DE IMAGENS RADIOLÓGICAS NO CONTROLE DO POSICIONAMENTO DO CATETER ENTERAL USE OF RADIOLOGIC IMAGES IN CONTROL OF THE POSITION OF THE ENTERAL CATHETER Luiz Carlos de Souza Menezes**** Edson da Fonseca Lira*** José Nilson Araújo Bezerra** Adria Oliveira* Andrea Ribeiro* Janise Ramos* Patrícia Adriano M. Bareiros* Resumo Este trabalho de pesquisa teve como objetivo qualificar o conhecimento por parte dos enfermeiros da utilização de cateter enteral e como se processa a utilização dos recursos de imagem no controle do posicionamento desse cateter em pacientes de leito. O método utilizado foi a pesquisa de campo, na modalidade descritiva, exploratória e prospectiva, com dez enfermeiros de um Hospital Universitário da cidade de Manaus no mês de outubro de 2011, onde foi realizada entrevista utilizando-se um questionário com dez perguntas diretas e uma imagem radiológica para análise visual dos entrevistados. Diante dos dados coletados os resultados indicaram que a utilização de imagens radiológicas contribui para a confirmação do posicionamento do cateter, auxiliando na identificação precoce de iatrogenias, e que os enfermeiros envolvidos na pesquisa apresentaram níveis de dificuldade na identificação do local do cateter. Além disso, a maioria apresenta desconhecimento dos requisitos mínimos exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral instituídos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Os resultados indicam a necessidade de ações junto aos profissionais entrevistados para aumentar o nível de atendimento ao paciente que necessite das suas intervenções e que novas pesquisas com amostra maior devam ser realizadas para que se tenha melhor poder estatístico. Palavras-chave: Enfermagem; Radiologia; Cateteres. Abstract Despite of the existence of a uniform technique using a catheter tube, this procedure can result in serious complications. Thus, this research aimed to qualify the nurses’ knowledge of the use of enteral catheter and how it processes the use of image resources to control the positioning of this catheter in patients in bed. The method used was to field research, in the form descriptive, exploratory and prospective, with ten nurses of a university hospital in Manaus in October 2001, where they were interviewed using a questionnaire with ten questions and direct radiographic images for visual analysis of the interviewees. From the data collected the results indicated that the use of radiological imaging helps to confirm the catheter placement, assisting in early **** Fisioterapeuta. Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Professor universitário. Orientador da Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário do Norte – Uninorte Laureate Universities. E-mail: [email protected] Telefone: (92) 8123 9970 *** Estatístico. Especialista em Marketing. Professor universitário do Centro Universitário do Norte – Uninorte Laureate Universities. ** Enfermeiro. Especialista em Saúde da Família, Saúde Pública, Estomaterapia e Acupuntura. Mestrando em Ciências da Saúde. Professor da Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário do Norte – Uninorte Laureate Universities. *Alunas do 8.º semestre do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário do Norte – Uninorte Laureate Universities | 13 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 USO DE IMAGENS RADIOLÓGICAS NO CONTROLE DO POSICIONAMENTO DO CATETER ENTERAL diagnosis of iatrogenic complications, but that the nurses involved in the study had levels of difficulty in identifying the location of the catheter and that most shows lack of minimum requirements for Enteral Nutrition Therapy established by National Agency of Sanitary Surveillance. The results indicate the need for action with the professionals interviewed to increase the level of patient care that requires of its operations and that further research with larger sample should be performed in order to have better statistical power. Keywords: Nursing; Radiology; Catheters. Introdução A terapia de nutrição enteral está baseada, entre outros fatores, na anatomia e na função do trato gastrointestinal, além da duração prevista dessa terapia e do tipo de acesso em que ela está baseada. Deve ser, ainda, observado os riscos potenciais de efeitos colaterais, como a broncoaspiração.1 por meio de imagem radiológica. Os cateteres nasoenterais são bastante maleáveis e possuem um guia metálico e flexível que facilita a sua introdução nasal. Na outra extremidade são encontrados adaptadores simples e duplos, que são utilizados para facilitar a irrigação do cateter ou na administração de medicamentos, sem ter de interromper a infusão da dieta.4 Como o acesso enteral é considerado um proPara o uso e controle do cateter nasoenteral é cedimento invasivo, deve-se explicar de forma importante ter o conhecimento das regiões por clara ao paciente as ações a serem realizadas. onde ela irá transitar até a sua chegada ao local Entre os procedimentos está o posicionamento desejado, sendo o trato gastrointestinal, tam- do paciente em decúbito dorsal elevado a 45 bém denominado canal alimentar, considerado graus ou sentado; medir a extensão do cateter um tubo que inicia na boca e termina no ânus. e posicionar o seu orifício distal do lóbulo da Os órgãos que constituem o trato gastrointes- orelha até a ponta do nariz e depois ao processo tinal incluem a boca, grande parte da faringe, xifoide.4 esôfago, estômago, intestino delgado e intesA nutrição enteral refere-se à provisão de nutino grosso.2 trientes para o trato gastrointestinal por meio Linffman e Randall, além de Dobbie e de uma sonda ou cateter, quando a ingestão Hoffmeister, nos anos setenta, do século 20, oral apresenta-se inadequada.5 construíram cateteres de jejunostomia e cateteres nasais de fino calibre, com uma ogiva Apesar da existência de uma uniformização da distal que possibilitava o posicionamento do técnica do uso de cateter enteral, esse procedicateter além do esfíncter pilórico, que permi- mento pode resultar em graves complicações, até tia a administração de dietas e medicações ao mesmo ao óbito, sendo a perfuração do esôfago paciente, principalmente em idosos, acama- durante o procedimento a mais frequente causa dos, com reflexos diminuídos e não colabora- de iatrogenia, sendo o diagnóstico frequentetivos, que passou a ser conhecido como cateter mente tardio.6 Dobbhoff.4 A principal causa de perfuração esofágica é a preOs cateteres nasoenterais têm de 50 a 150 cm disposição anatômica, dentre elas, pode ocorde comprimento e diâmetro médio interno de rer a presença de divertículo faringo-esofágico, 1,6 mm e externo de 4 mm. Todos têm mar- além de musculatura cricofaríngea proeminente. cas numéricas ao longo de sua extensão. Por Característica física como a idade, obesidade, serem radiopacos, os cateteres atuais possi- presença de cifose, escoliose e proeminências bilitam que sua localização seja confirmada ósseas, compressão benigna, maligna ou após radiação e anormalidade como hérnia hiatal e | 14 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Menezes et al acalasia podem ser citadas. Entre as várias estratégias para prevenção de perfuração do esôfago, pode ser utilizado nas unidades hospitalares somente pessoal experiente para instalar o cateter; usar cateter de material suave para alimentação prolongada e considerar a passagem do cateter por endoscopia como um recurso no caso de insucesso.6 outubro de 2011, estando estes no plantão das escalas de serviço e atendendo nas clínicas. Em relação aos critérios de exclusão, foram excluídos os enfermeiros que não eram funcionários da instituição, como acadêmicos, residentes e voluntários. O método utilizado foi a pesquisa de campo, na modalidade descritiva, exploratória e prospectiva. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Norte – Uninorte. O universo da pesquisa envolveu 60 enfermeiros assistenciais lotados na Coordenação de Enfermagem de um Hospital Universitário da cidade de Manaus e amostra da pesquisa correspondeu a dez enfermeiros. Resultados Como instrumento desta pesquisa, foi utilizado questionário com perguntas fechadas Apesar de ser um procedimento simples, a uti- para entrevista, relacionadas a procedimento lização de cateteres enterais está sujeita a de passagem de sonda, anatomia, imagens racomplicações, determinando sequelas ou mes- diológicas, iatrogenias e Resolução da Anvisa mo óbito e isso é especialmente observado em que regulamenta a alimentação enteral. Dupacientes neurológicos e inconscientes, pois rante a coleta de dados foi apresentado a(o) o risco de mau posicionamento do cateter é enfermeiro(a) a imagem de uma área radiográfimaior.5 ca que apresentava a localização de um cateter gástrico para o qual foi solicitado a identificação A utilização de radiografias é indispensável após da região anatômica onde estava posicionada. introdução de cateteres enterais, pois estes Foram obedecidos os critérios estabelecidos, na são considerados radiopacos, o que possibilita Resolução n.o 196/96, de 10 de outubro, que a confirmação de sua localização, por meio do regulamenta a pesquisa em seres humanos. exame radiológico do abdome, sendo esse método considerado padrão-ouro no controle do Nesta pesquisa não houve presença de riscos procedimento.4 potenciais aos sujeitos envolvidos. Os benefícios deste trabalho de pesquisa envolveram a Assim, para permitir a inserção do enfermeiro geração de conhecimentos que visam à prevenna problemática de suas ações junto aos pa- ção de iatrogenias provenientes do não controle cientes/clientes que necessitam da utilização correto do posicionamento do cateter enteral de cateteres gástricos, este trabalho de pes- em pacientes internados. quisa buscou identificar como os enfermeiros de um hospital público utilizam os exames ra- Nesta pesquisa foi mantido o sigilo absoluto diológicos no controle de posicionamento de de cada participante envolvido no estudo. Os cateter enteral em pacientes de leito para a dados foram submetidos à análise estatística prevenção de iatrogenias que podem estar en- para melhor demonstração dos objetivos deste volvidas no processo de utilização deles. trabalho. Além disso, os resultados serão disponibilizados para as instituições envolvidas na pesquisa. Materiais e Métodos Os critérios de inclusão compreenderam a coleta dos dados realizada com amostra de enfermeiros assistenciais que trabalharam no mês de A partir dos dados coletados, foi observado que os enfermeiros envolvidos nesta pesquisa informaram que iniciaram suas atividades profissionais entre os anos de 1985 a 2004 nas áreas como clínicas cirúrgicas, centro cirúrgico, clínica médica, em centro de terapia intensiva (CTI) e neurocirurgia. | 15 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 USO DE IMAGENS RADIOLÓGICAS NO CONTROLE DO POSICIONAMENTO DO CATETER ENTERAL Ao serem indagados sobre o quantitativo de procedimentos envolvendo o cateter enteral em um período de atividade profissional, houve a indicação de que eles fazem uso desse procedimento pelo menos de uma a duas vezes por semana. Por meio das entrevistas, eles apontaram que utilizam para o controle do posicionamento do cateter enteral os testes de audição (ausculta), da aspiração do conteúdo gástrico (pH gástrico), de borbulhamento e o controle radiológico. Quando questionado se durante a graduação eles tiveram informações sobre o controle de imagem do posicionamento de cateter gástrico, 60% (seis indivíduos) apontaram que sim e 40% (quatro indivíduos) indicaram que não. Dos que responderam negativamente, houve indicação de que correspondiam aos anos de formação em graduação de 1985, 1989, 2002 e 2003. Quando perguntados sobre o que ele indicaria como sendo uma iatrogenia decorrente da passagem de cateter enteral, houve a indicação de pneumotórax, pneumonia aspirativa e perfuração do esôfago cervical e torácico. Também foram citados perfuração do íleo terminal e intubação craniana. Quando solicitados a responder se observou iatrogenias por procedimento incorreto da passagem do cateter, 60% (seis indivíduos) responderam positivamente e 40% (quatro indivíduos) responderam negativamente e quando perguntado se ocasionou uma iatrogenia pelo procedimento de passagem de cateter enteral, todos afirmaram que não. Ao serem questionados sobre a melhor localização do cateter nasoenteral, nas imagens de radiografia, para a sua efetiva utilização, houve um indicativo de que 33,36% apontaram o corpo do estômago como a resposta certa; enquanto que 9,09% indicaram a região do íleo; para a região do fundo do estômago, 18,18% indicaram esta resposta como certa e 33,36% indicaram como resposta certa a área do piloro, levandose em consideração que essa área pertence à região duodenal e que o cateter naso-entérico deve atingir essa região. Um dos participantes apontou duas respostas e, ainda assim, estavam incorretas (Gráficos 1 e 2). Gráfico 1: Localização do cateter nasoenteral (CNE), segundo opinião dos enfermeiros pesquisados | 16 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Menezes et al Gráfico 2: Localização do cateter nasoenteral (CNE) em percentuais, segundo opinião dos enfermeiros pesquisados Quando observado o percentual de acertos em relação ao questionamento sobre a localização do cateter, houve o indicativo de 36,36% de acertos contra 63,63% de respostas erradas (Gráfico 3). Gráfico 3: Indicativo do percentual de erros e acertos em relação à localização do cateter nasoentérico (CNE), segundo opinião dos enfermeiros pesquisados | 17 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 USO DE IMAGENS RADIOLÓGICAS NO CONTROLE DO POSICIONAMENTO DO CATETER ENTERAL Quando confrontados com a imagem de uma área radiográfica que apresentava a localização incorreta de um cateter gástrico houve a indi- cação de que ela estava localizada em uma área ectópica (80%), na região da cárdia (10%) e corpo do estômago (10%), conforme Gráficos 4 e 5. Gráfico 4: Indicativo da localização do cateter nasoentérico (CNE) observada em uma imagem radiográfica, segundo opinião do enfermeiro pesquisado. Gráfico 5: Indicativo da localização do cateter nasoenteral (CNE) observada em uma imagem radiográfica, em percentuais, segundo opinião dos enfermeiros pesquisados Ao se observar os percentuais de acertos e erros em relação ao questionamento sobre a área radiográfica apontada na imagem apre- sentada, 80% indicaram a resposta correta e 20% indicaram a resposta errada, conforme Gráfico 6. | 18 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Menezes et al Gráfico 6: Indicativo do percentual de erros e acertos em relação à posição do cateter nasoentérico (CNE) observada em uma imagem radiográfica, segundo opinião dos enfermeiros pesquisados Quando questionados sobre o que informa a Resolução RDC 63, de 6 de julho de 2000, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que trata do Regulamento Técnico que fixa os requisitos mínimos exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral e incluem o enfermeiro na equipe multiprofissional de terapia nutricional (EMTN) para a prática da terapia de nutrição enteral (TNE), 90% dos participantes (nove indivíduos) responderam que desconheciam o que dizia a Resolução e apenas 10% (um indivíduo) afirmou conhecê-la. E quando perguntados sobre o uso das imagens radiológicas auxiliam no controle do cateter enteral, todos foram unânimes em afirmar que sim. Discussão Durante o procedimento de passagem de cateter enteral a iatrogenia mais comum encontrada nos artigos de estudos relatados foi a perfuração esofágica, sendo esta dividida em três etiologias: a espontânea, decorrente de vômitos prolongados, a perfuração instrumental, em função de iatrogenia e a perfuração secundária à trauma extraluminal (ferimento penetrante) provocado por corpo estranho deglutido.7 Sendo assim, a precisão no procedimento de inserção do cateter nasoenteral é de grande importância para que não ocorram não somente a perfuração esofágica, mas também pneumonias aspirativas, pneumotórax e intubação craniana. No entanto, apesar dos cuidados na realização do procedimento, a confirmação por meio da radiografia do abdome é necessária.8 Durante a pesquisa foi constatado que a radiografia, por sua precisão, faz parte do protocolo institucional e é realizada por 80% dos profissionais enfermeiros. Diante desse fato é importante ressaltar que mesmo com os testes de ausculta, aspiração de suco gástrico e borbulhamento, todos concordam com a importância de se realizar o exame radiológico para confirmação de localização anatômica. Dentro desse contexto, quando perguntados sobre a melhor localização do cateter nasoenteral, nas imagens de radiografia, para sua efetiva utilização, foi observado um indicativo de 36,36% de acertos contra 63,63% de respostas erradas, levando-se em consideração que existe a recomendação de que o posicionamento do cateter esteja localizado na extremidade distal | 19 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 USO DE IMAGENS RADIOLÓGICAS NO CONTROLE DO POSICIONAMENTO DO CATETER ENTERAL do estômago.1 A escolha por áreas mais inferiores do trato digestório – duodeno e jejuno – é preferida para evitar os casos de vômitos e aspirações em pacientes em ventilação mecânica ou em contenção física que apresentam reflexo de deglutição deprimido ou em coma.9 Entre as complicações da utilização da terapia enteral cita-se o deslocamento acidental da sonda para a árvore traqueobrônquica, o que pode levar a ocorrência de asfixia e tosse, além de pneumonia, pela presença de dieta nos pulmões e que o local de inserção da sonda pode ser verificado por meio de exames radiográficos.1 Assim, quando os entrevistados foram apresentados à imagem radiológica de um paciente com cateter gástrico e que ela indicava uma iatrogenia, quando perguntados onde estava localizada a ponta de tungstênio na imagem, os percentuais foram de 80% de acertos e 20% indicaram respostas incorretas. Um dos itens tratados durante a coleta de dados dizia respeito à Resolução RDC 63, referendada pela Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que tem como objetivo fixar os requisitos mínimos exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral e que especifica que os grupos que atuam nessa terapia é obrigatoriamente constituído por pelo menos um profissional de cada categoria, a saber: médico, nutricionista, enfermeiro e farmacêutico, podendo ainda incluir profissional de outras categorias, habilitados e com treinamento específico para a prática da Terapia Nutricional-TN.10 O anexo III, parágrafo 6.1.5, dessa Resolução, afirma que é de responsabilidade do enfermeiro encaminhar o paciente para exame radiológico, visando à confirmação da localização do cateter.10 Quando perguntados, 90% dos participantes responderam que desconheciam o que dizia a Resolução RDC 63 e apenas 10% afirmaram conhecê-la. Esses dados indicam a necessidade da ampliação de tais informações aos enfermeiros participantes desta pesquisa. Quando questionados sobre a importância da imagem radiológica no controle e posicionamento do cateter enteral, todos compreendem que é primordial esse controle e que esse procedimento auxilia no controle de posicionamentos incorretos, podendo-se afirmar que tais cuidados implicam na melhora da certificação da qualidade do serviço que foi prestado ao paciente. Ressalta-se que, até então, não foram encontrados dados na literatura sobre o conhecimento de enfermeiros sobre os itens pesquisados neste artigo. Conclusão Após análise dos resultados verificou-se que existem indicativos de que a utilização de imagens radiológicas contribui para a confirmação do posicionamento do cateter, auxiliando na identificação precoce de iatrogenias, mas que os enfermeiros envolvidos na pesquisa apresentaram níveis de dificuldade na identificação do local do cateter e que a maioria apresenta desconhecimento dos requisitos mínimos exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral instituídos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Os resultados indicam a necessidade de ações junto aos profissionais entrevistados visando o aperfeiçoamento no que se refletirá no aumento do nível de atendimento ao paciente que necessite das suas intervenções e que novas pesquisas com amostra maior devem ser realizadas para que se tenha melhor poder estatístico. Referências 1. Associação Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina, Associação Brasileira de Nutrologia. Projeto Diretrizes. 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Padrão de prescrição, preparo e administração de medicamentos em usuários de sondas de nutrição enteral internados em um Hospital Universitário [Acesso em 30 nov | 21 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Paiva et al CIRURGIA LAPAROSCÓPICA: EXPERIÊNCIA DO SERVIÇO DE UROLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS LAPAROSCOPIC SURGERY: DEPARTMENT OF UROLOGY OF GETÚLIO VARGAS UNIVERSITY HOSPITAL’S EXPERIENCE Cristiano Silveira Paiva,* José Eugênio Albert da Rocha Júnior,** Adriano Maia Siqueira,** Paulo Cézar Vasconcelos,*** George Lins de Albuquerque,*** Rebeca A. dos Santos Di Tommaso,****Priscilla Ribeiro dos Santos,**** Cecília Mello Garcez,***** Luciana de Brito Arce****** Resumo A Laparoscopia certamente trouxe consideráveis benefícios aos pacientes, dentre os quais se destacam significativa redução da morbidade operatória, menor sangramento, menor dor no pósoperatório, alta hospitalar precoce, resultados estéticos mais favoráveis e retorno precoce às atividades habituais.1 Apresentamos a casuística inicial referente à cirurgia laparoscópica realizada no Serviço de Urologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas entre janeiro de 2006 e dezembro de 2010, onde foram realizados 37 acessos laparoscópicos, predominantemente para tratamento de estenose de junção ureteropiélica. Com resultados iniciais favoráveis, hoje expandimos a nossa prática laparoscópica para o tratamento de patologias urológicas mais complexas. Palavras-chave: Cirurgia Laparoscópica; Patologias Urológicas; Resultados. Abstract Laparoscopy has certainly brought considerable benefits to patients, among which a significant reduction in operative morbidity, less bleeding, less postoperative pain, early hospital discharge, more favorable cosmetic results and brief return to daily activities.1 We report our preliminary case series on urological laparoscopic surgery performed in the Department of Urology of Getúlio Vargas University Hospital between January 2006 and December 2010. A total of 37 laparoscopic procedures were carried out, predominantly for the treatment of ureteropelvic junction stenosis. With favorable initial results, we now expanded our practice to other more complex urological disorders. Key words: Laparoscopic Surgery; Urological Disorders; Outcomes. *Doutor em Urologia pela Escola Paulista de Medicina – EPM, Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. ** Urologista assistente do Serviço de Laparoscopia, HUGV. *** Residente em Urologia da Universidade Federal do Amazonas – Ufam. **** Residente em Cirurgia Geral da Universidade Federal do Amazonas – Ufam. ***** Médica graduada pela Universidade Federal do Amazonas – Ufam. ****** Médica graduada na Universidade do Estado do Amazonas – UEA. | 22 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 CIRURGIA LAPAROSCÓPICA: EXPERIÊNCIA DO SERVIÇO DE UROLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS Introdução Um dos grandes objetivos para o tratamento das patologias cirúrgicas é o desenvolvimento de técnicas que alcancem os resultados terapêuticos da cirurgia aberta tradicional com progressiva redução de sua morbidade. A introdução das técnicas de videolaparoscopia tem possibilitado avanços significativos nas diversas especialidades cirúrgicas.1 tos terapêuticos trazia limitações importantes para a sua difusão naquela época. Os termos de origem grega, lapára (abdome) e skopéin (examinar) denotam, desde o início, as características diagnósticas da laparoscopia.1 O conceito de insuflação da cavidade peritoneal foi inicialmente proposto por Goetzeem, em 1918 e, em 1924, Zollikofer recomendou a utilização de dióxido de carbono em vez de oxigênio ou ar natural para a formação do pneumoperiFrom knife, to needle, to nothing, como foi tônio, uma vez que o dióxido de carbono é mais proferido pelo pai da laparoscopia urológica, rapidamente absorvido e apresenta menor risco o professor Clayman; surge assim a cirurgia de combustão ou de explosão intra-abdomiminimamente invasiva. Nenhuma novidade, so- nal. Em 1938 ocorreu um avanço importante, mente mais uma via de acesso à qual o urolo- quando Janos Veress, médico húngaro, desengista teve de se adaptar. E assim como ocorreu volveu uma agulha para criação do pneumotócom o surgimento dos métodos endoscópicos, rax com um mecanismo de ação diferenciado; e o urologista teve de desenvolver mais uma de os laparoscopistas logo se deram conta da aplicabilidade dessa agulha, a qual, desde então, suas facetas: a habilidade laparoscópica.2 permanece como um dos instrumentais lapaCom certo atraso temporal e dificuldades na roscópicos mais importantes na confecção do aquisição de material laparoscópico adequa- pneumoperitônio.1 do, o Serviço de Urologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas introduziu a abordagem Na década de 1960, o ginecologista alemão laparoscópica na cirurgia urológica a partir de Kurt Semm desenvolveu um sistema automáti2006, pelas indiscutíveis vantagens a ela as- co de insuflação com registro da pressão intra-abdominal e do fluxo de gás. O uso da luz sociadas. fria, eliminando-se o risco de lesão térmica de O objetivo do presente artigo é demonstrar vísceras pela luz incandescente, também foi a nossa casuística inicial referente à cirurgia uma inovação trazida à cena pelo Dr. Semm. Na laparoscópica realizada no Serviço de Urologia década de 1980, o sistema de lentes, criado do Hospital Universitário Getúlio Vargas entre por Hopkins, trouxe significativa melhora na janeiro de 2006 e dezembro de 2010, avaliando qualidade de imagem obtida pelo cirurgião dias principais patologias e cirurgias realizadas retamente do endoscópio.3,4 por essa técnica. Em 1982, a primeira apendicectomia laparoscópica foi realizada, trazendo a laparoscopia do âmbiHistórico da Laparoscopia to diagnóstico para o terapêutico, pelo Dr. Semm, A primeira abordagem laparoscópica foi reali- considerado hoje o “pai” da cirurgia laparoscópica zada em 1901, por George Kelling, cirurgião de moderna. Em 1985, a primeira colecistectomia Dresden (Alemanha), o qual utilizou o cistoscó- laparoscópica foi realizada por Erich Muhe, e em pio de Nitze para obter acesso visual à cavidade 1987 a primeira colecistectomia videolaparoscópiperitoneal de cães. Após estudo em cadáveres ca foi realizada por Philippe Mouret, em Lyon. humanos, essa técnica foi adaptada e desen- Desde então, a videolaparoscopia tem assumido volvida por Hans Jacobaeus, em Estocolmo, um papel fundamental em inúmeros procedimen3,4 sendo empregada, em 1910, na investigação de tos cirúrgicos intra-abdominais. ascite em seres humanos. Apesar de as técnicas de laparoscopia diagnóstica terem evoluído nas décadas de 1910 e 1920, a incapacidade de utilizar a via laparoscópica para procedimen- Laparoscopia Urológica A técnica de Laparoscopia foi utilizada em | 23 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Paiva et al Urologia em 1976, por Cortesi, na avaliação de testículos criptorquídicos. Em 1979, Wickham empregou o método para realização de ureterolitotomia por via retroperitoneal.4 Os avanços na área da cirurgia geral e ginecologia serviram de impulso para a retomada de interesse pela laparoscopia; e em 1989, Schuessler e cols. realizaram a primeira linfadenectomia pélvica laparoscópica para estadiamento de neoplasia prostática; introduzindo a videolaparoscopia na urologia moderna. A primeira nefrectomia videolaparoscópica foi realizada em 1990 por Clayman e cols. na Washington University. Em 1992, o desenvolvimento da técnica de criação do espaço retroperitoneal, por Gaul, possibilitou cirurgias por via retroperitoneal com melhor espaço de trabalho, popularizado por Gill, nos Estados Unidos, e Abbou, na França.1 Em 1992, consta o primeiro relato de adrenalectomia laparoscópica, por Gagner.4 Em 1994, buscando alternativas para reduzir a morbidade do procedimento cirúrgico em pacientes hígidos, Gill e cols. desenvolveram o modelo experimental em suínos da técnica laparoscópica de nefrectomia de doador vivo, com resultados favoráveis. No ano seguinte, Ratner e Kavoussi realizaram a primeira nefrectomia para doador vivo em âmbito clínico; constituindo-se hoje em alternativa de escolha em muitos centros mundiais de transplantes.1 Durante a década de 1990, a quase totalidade de cirurgias urológicas foi realizada e demonstrou-se factível por via laparoscópica – varicocelectomia, marsupialização de cistos renais, suspensão de colo vesical, ureterolitotomia, pieloplastia, nefrectomias simples e radicais. Ainda, linfadenectomias retroperitoneais, cistectomias, ampliações vesicais e reconstruções urinárias também já foram reproduzidas pela via laparoscópica.4 A videolaparoscopia é uma via de expansão do arsenal terapêutico no sentido de minimizar o trauma decorrente do processo de tratamento, e o objetivo final deve sempre visar o benefício de nossos pacientes.1 Material e Métodos No período de janeiro de 2006 a dezembro de 2010 foram realizados 37 procedimentos laparoscópicos. Todos os pacientes submetidos a intervenções laparoscópicas nesse período foram incluídos no estudo. As intervenções foram realizadas por via transperitoneal, tanto pela técnica aberta de Hasson como pela técnica por punção com agulha de Veress. As variáveis analisadas foram: tipo de patologia, idade e o gênero, tempo de internação e necessidade de conversão em cirurgia aberta. Resultados Do total de 37 cirurgias laparoscópicas realizadas no nosso serviço, duas (5,40%) foram no ano de 2006, uma (2,70%) em 2007, sete (18,92%) em 2008, treze (35,14%) em 2009 e quatorze (37,84%) em 2010 (Figura 1). Figura 1: Total de cirurgias realizadas de 2006 a 2010. | 24 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 CIRURGIA LAPAROSCÓPICA: EXPERIÊNCIA DO SERVIÇO DE UROLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS As patologias mais incidentes foram: estenose de junção ureteropiélica (onze–29,73%), nefrolitíase (seis–16,22%), ureterolitíase (cinco– 13,51%), cisto renal (cinco–13,51%), tumor de adrenal (duas–5,40%), neoplasia real (duas– 5,40%) e exclusão renal (duas–5,40%) (Figura 2). Figura 2: Patologias urológicas submetidas a tratamento laparoscópico. Referente aos procedimentos cirúrgicos realizados: onze (29,73%) pieloplastias, seis (16,22%) nefrectomias radicais, seis (16,22%) marsupializações de cistos renais, cinco (13,51%) ureterolitotomias, duas (5,40%) adrenalectomias, duas (5,40%) pielolitotomias, uma (2,70%) descorti- cação de cisto renal, uma (2,70%) videolaparoscopia diagnóstica, uma (2,70%) nefrectomia parcial, uma (2,70%) correção laparoscópica de persistência de úraco e uma (2,70%) ureterolitotomia + colecistectomia (Tabela 1). Cirurgias Realizadas Pieloplastia 11 Nefrectomia radical 6 Marsupialização de cisto renal 6 Ureterolitotomia 5 Adrenalectomia 2 Pielolitotomia 2 Decorticação de cisto 1 Videolaparoscopia diagnóstica 1 Nefrectomia parcial 1 Correção laparoscópica de persistência úraco 1 Ureterolitotomia + Colecistectomia 1 Tabela 1: Cirurgias por acesso laparoscópico realizadas de janeiro de 2006 a dezembro de 2010 | 25 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Paiva et al A idade variou de 19 a 70 anos (média – 39,78 anos) (Figura 3). Quanto ao gênero, 23 (62,16%) pacientes foram femininos e 14 (37,84%) masculinos (Figura 4). Figura 3: Distribuição etária dos pacientes à época do tratamento cirúrgico. Figura 4: Distribuição por gênero dos pacientes, sendo 23 femininos e 14 masculinos | 26 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 CIRURGIA LAPAROSCÓPICA: EXPERIÊNCIA DO SERVIÇO DE UROLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS O tempo de internação hospitalar foi inferior mais de 21 dias, por conta da descompensação a cinco dias para 27 pacientes (72,97%), onde de sua doença de base (Figura 5). apenas um paciente permaneceu internado por Figura 5: Tempo de internação hospitalar após tratamento cirúrgico. Apenas em dois casos houve a necessidade de conversão da cirurgia laparoscópica para a técnica convencional por conta de lesão vascular. so a médio prazo semelhante à cirurgia aberta, com menor morbidade, podendo ser utilizada nas etiologias intrínsecas e extrínsecas.6 Discussão Pacientes com cálculos grandes impactados, especialmente os localizados no ureter superior e naqueles em que outros métodos de terapia minimamente invasiva tenham falhado, a remoção cirúrgica dos cálculos pela via laparoscópica é uma alternativa viável perante a cirurgia aberta. A remoção laparoscópica dos cálculos urinários é um procedimento seguro e efetivo, sua eficácia e a baixa morbidade permitem propor seu uso como procedimento primário, quando os métodos clássicos endourológicos não forem efetivos.7 Atualmente o número de procedimentos urológicos efetuados por laparoscopia é cada vez maior e a maioria é complexa, exigindo grande experiência e domínio da técnica pelo urologista. A obstrução da junção ureteropiélica (JUP) pode ocorrer por fatores intrínsecos ou por compressão extrínseca em razão de vaso anômalo nessa região da JUP. Atualmente é detectada ainda na fase pré-natal; contudo, às vezes o diagnóstico é mais tardio, com manifestações sintomáticas e deterioração da função renal.5 Em relação à terapêutica, existem várias séries publicadas que sugerem uma abordagem conservadora, considerando a cirurgia como tratamento de eleição quando a obstrução é funcionalmente significativa. A pieloplastia laparoscópica demonstrou um índice de suces- A nefrectomia simples é o tratamento padrão das afecções benignas destrutivas do rim com perda significativa da função renal. Os benefícios da via laparoscópica estão claramente demonstrados no tratamento das afecções benignas do rim tendo em vista seu caráter minimamente invasivo.6,8 No que se refere a nefrectomias laparoscópicas para o adenocarcinoma renal, os estudos demonstram os mesmos resultados on- | 27 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Paiva et al cológicos da via aberta com menor morbidade pelo acesso laparoscópico, sendo hoje o tratamento de escolha para os tumores T1 e T2.6 A adrenalectomia laparoscópica é o tratamento de eleição para a patologia benigna da glândula adrenal. A cirurgia aberta é a via de escolha para o carcinoma da suprarrenal maior que 5 cm. A adrenalectomia laparoscópica é utilizada e reconhecida universalmente pelas suas vantagens em termos de reduzida morbidade e resultado cosmético, além de ter sido a primeira cirurgia em que se demonstrou que o tempo cirúrgico igualou o da cirurgia aberta.6,8 A maioria dos cistos simples é assintomática, não necessitando de tratamento. Alguns podem causar dor, hematúria, hipertensão, infecção ou obstrução e justificam tratamento cirúrgico. Historicamente a cirurgia aberta, nefrectomia ou decorticação foram o tratamento de eleição, mas com um índice de complicações de 33%, entre os quais: infecção da parede, morbidade associada à imobilização, retenção urinária, pneumonia e trombose venosa. Com a abordagem laparoscópica obtivemos uma série de vantagens: alta eficácia e eficiência; tempo cirúrgico, de internação e de convalescença significativamente reduzidos; morbidade insignificante e melhor resultado estético.6 No presente estudo, houve a necessidade de conversão para cirurgia aberta em dois casos, o que representa uma taxa de conversão de 5,40%, associada à lesão vascular. Conforme a literatura, durante a curva de aprendizado, as complicações que podem resultar em conversão para cirurgia aberta são as lesões vasculares, em primeiro lugar e, em segundo lugar, as lesões viscerais, causadas principalmente por lesões térmicas.9 No âmbito das cirurgias minimamente invasivas, destaca-se ainda a Cirurgia Robótica, aplicada inicialmente para o tratamento de câncer de próstata – prostatectomia; atualmente também utilizada na realização de pieloplastias, nefrectomias parciais, cistectomias. As vantagens associadas a essa técnica são visualização tridimensional, visão amplificada em dez vezes, dissecção mais precisa, maior fa- cilidade na realização de suturas, mobilidade acurada. Entretanto, o alto custo, incluindo o sistema robótico, os instrumentos descartáveis, a formação pessoal e a manutenção limitam o uso desta aos grandes centros.10,11 Em nosso serviço essa opção de abordagem ainda não é uma realidade, tornando-se uma meta a ser conquistada em um futuro próximo. Conclusão O aprendizado e o desenvolvimento da cirurgia minimamente invasiva devem ser uma característica dos Serviços de Residência Médica em Urologia pelos seus reais benefícios quando comparado à cirurgia convencional. Após a curva de aprendizado adequada, o acesso laparoscópico não apresenta limitações para sua execução, desde que o cirurgião domine os princípios técnicos da cirurgia aberta e laparoscópica, tenha conhecimento da fisiologia e da anatomia aplicadas ao procedimento laparoscópico e disponha de instrumental adequado. Referências 1. Carvalhal EF, Barata HS. História da Laparoscopia. In: Mariano MB, editor. Videocirurgia em urologia: técnicas e resultados. São Paulo: Roca; 2007. p. 3-5. 2. Abreu SC, Fonseca GN. Cirurgia Videolaparoscópica em Urologia: passado, presente e futuro. In: Mariano MB, editor. Videocirurgia em Urologia: técnicas e resultados. São Paulo: Roca; 2007. p. 1-2. 3. Sanchez AW, Abed F, Cruz GM. Historia de La cirurgía laparoscópica. In: Cueto J, Webber A, editors. Cirurgía Laparoscópica. Mexico/DF: Nueva Editorial Interamericana S.A. McGrawHill; 1994. 4. Gill IS, Kerbl K, Meraney A, Clayman R. Basics of laparoscopic urologic surgery. 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Metodologia: Foi realizada uma pesquisa documental para identificar os dados demográficos e clínicos nas fichas de cadastro de 335 pacientes internados no Hospital Universitário Getúlio Vargas com diagnóstico de lesão medular durante o período de 2000 a 2008. Resultados: Os dados demonstraram maior incidência no sexo masculino, idade média de 33 anos, lesão medular no nível cervical, provocadas por quedas, maior proveniência da Zona Sul da cidade de Manaus; com relação ao período de internação, 52% permaneceram no hospital menos de um mês. Conclusão: Os dados encontrados identificaram uma amostra de pessoas na maioria do sexo masculino, jovens, com maior causa provenientes de quedas. Tais informações são de grande relevância, pois nos permitem traçar estratégias de ação com o objetivo de tentar evitar e/ou amenizar a ocorrência de novas lesões. Palavras-chave: Traumatismos da Medula Espinhal; Epidemiologia; Internação Hospitalar. Abstract Objectives: Our goal was to evaluate the profile of people with spinal cord injuries assisted by the Program of Motor Activities for Disabled People (Proamde) at the University Hospital Getúlio Vargas (HUGV) of the Federal University of Amazonas (Ufam) during the period 2000 to 2008. Methods: We conducted a desk research to identify demographic and clinical data of registration form of 335 patients admitted to the University Hospital Getúlio Vargas diagnosed with spinal cord injuries during the period from 2000 to 2008. Results: The data showed a higher incidence in males, mean age 33 years, at the cervical level spinal cord injuries caused by falls, greater provenance of the southern city of Manaus, with the period of stay in the hospital remaining at 52% for less than one month. Conclusion: The present study identified a sample of mostly male, young, with greatest occurrence from falls. Such information is of great importance as it allows us to strategize action in order to try to avoid and / or mitigate the occurrence of new lesions. Key words: Spinal Cord Injuries; Epidemiology; Hospitalization. * Fisioterapeuta residente do Hospital Universitário Getúlio Vargas da Universidade Federal do Amazonas – Ufam. ** Professora associada III do quadro permanente da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia da Universidade Federal do Amazonas – Ufam. | 30 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 EPIDEMIOLOGIA DA LESÃO MEDULAR NO PROGRAMA DE ATIVIDADES MOTORAS PARA DEFICIENTES DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS/AM Introdução O traumatismo raquimedular ocorre por danos nas estruturas medulares, que interrompem a transmissão dos impulsos nervosos, alternando negativamente a função motora e sensorial.1 A lesão pode situar-se em qualquer nível da coluna vertebral e a localização e a extensão do defeito determinam a natureza e o grau do problema neurológico e, consequentemente, o grau de comprometimento físico.2 Suas causas dividem-se em dois grupos: as lesões traumáticas e não traumáticas. As traumáticas ocorrem em 80% do total das lesões medulares, sendo causadas, na maioria dos casos, por acidentes de trânsito, perfurações por arma de fogo, armas brancas e acidentes de trabalho ou de prática de esporte. Quanto às lesões não traumáticas (20%), as causas mais frequentes são: tumores, infecções vasculares, degenerativas e malformações.3 O déficit neurológico resultante da lesão surge por conta da junção de dois eventos distintos: a lesão mecânica inicial e a lesão endógena secundária consequente à primeira. A lesão primária é produzida pelo trauma em si, provocando morte celular e liberação de eletrólitos, metabólitos e enzimas, sendo, portanto, um processo mecânico que independe de controle celular. A lesão secundária da medula espinhal envolve complexas mudanças bioquímicas, surgindo consequências como edema, inflamação, isquemia, reperfusão, fatores de crescimento, metabolismo do cálcio e peroxidase lipídica nas quais os esforços científicos se concentram para possibilitar seu controle.4 com a extensão do dano, pode haver comprometimento no tronco e/ou extremidades inferiores; e Tetraplegia – que é a perda da função motora e/ou sensorial nos segmentos cervicais, a função, nas extremidades superiores e inferiores e no tronco, é afetada.6 Em 2000, iniciou no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) o Programa de Atividades Motoras para Deficientes (Proamde), que atende pessoas com sequelas de lesão medular desde o momento de sua internação na fase hospitalar (1.ª etapa) até o período pós-alta, fase ambulatorial (2.ª etapa), visando diminuir o tempo entre a aquisição da deficiência e o conhecimento sobre essa nova condição, ou seja, suas características e suas potencialidades. Esse programa promove atendimento multiprofissional nas duas etapas por meio da atuação de profissionais de educação física, assistência social, enfermagem, fisioterapia, nutrição, psicologia e pedagogia, para o paciente e sua família. Até meados de 2005, o HUGV era o único hospital público em Manaus de alta complexidade em neurocirurgia e ortopedia que atendia pacientes com lesão medular. Atualmente divide essa responsabilidade com outros hospitais públicos. O objetivo deste estudo é traçar o perfil epidemiológico de pacientes com traumatismo da medula espinhal internados no HUGV e atendidos pelo Proamde durante o período de 2000 a 2008. Materiais e Métodos Esse acometimento provoca alterações profundas na vida de uma pessoa, ocasiona manifestações clínicas que são permanentes, como a paralisia de musculaturas voluntárias, comprometimento da mobilidade. Interfere significativamente nas habilidades profissionais, e invariavelmente envolve um aspecto muito importante para a vida de uma pessoa – a independência.5 Foi realizado um estudo observacional, transversal, descritivo e retrospectivo por meio da revisão de prontuários baseado nas fichas de cadastros e nos prontuários do Serviço de Atendimento Médico e Estatística (Same) de 335 pacientes internados no Hospital Universitário Getúlio Vargas com lesão medular, que foram atendidos pela equipe multiprofissional do Programa de Atividades Motoras para DeDependendo da localização do dano da lesão, ficientes (Proamde) entre os anos de 2000 a podemos definir como Paraplegia o que se 2008. Esta pesquisa foi autorizada pelo Comitê refere à perda da função motora e/ou sensorial de Ética em Pesquisa da Universidade Federal na coluna torácica, lombar ou sacral. De acordo do Amazonas pelo Protocolo n.o 061/09. | 31 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Nunes et al A coleta de dados foi realizada no Proamde durante os meses de agosto a novembro de 2009 com base nas fichas de cadastro e nos arquivos do Same. Os dados coletados foram: sexo, nível de lesão, causas da lesão, zona urbana de moradia, idade, período de internação. Após coleta, os dados foram armazenados no programa digital “Windows Excel” para posterior análise e obtenção das frequências das variáveis. Para a análise dos dados, realizaram-se procedimentos de estatística simples onde se verificou a frequência dos dados. Resultados Dos 335 prontuários analisados, verificamos que o gênero mais acometido foi o sexo masculino representando 86% dos casos e 14% eram do sexo feminino. Com referência à idade, os dados demonstraram que se encontram entre três (que é a idade mínima encontrada) e 75 anos. Com maior taxa, equivalente a 39%, foi da faixa etária entre 17 a 31 anos, seguida pela faixa dos 31 aos 45 com 30%, dos 45 aos 59 anos apresentou 16% dos casos, dos três aos 17 anos foram 8% de acometimento, dos 59 a 75 anos apenas 5 % e não informados foram 2%. Referente ao nível de lesão, a maior incidência apresentada foi na região cervical com 39%, seguido por 29% na região torácica, 10% na região lombar, 3% conjugando região torácica e lombar, igualmente 3% conjugando cervical e torácica, 1% na região sacral e 15% não informados. Em síntese, os resultados indicam 42% de paraplégicos e 43% tetraplégicos. As causas para lesão medular foram distribuídas da seguinte forma: maior incidência para quedas com 42%, seguida por 15% em acidente de trânsito, 10% por arma de fogo ou arma branca, 9% por mergulho em águas rasas, 6% por compressão, 5% causadas por tumor medular, 3% por síndromes neurológicas, 2% por atropelamento, 1% por agressão, bem como 1% para acidentes de trabalho, e 6% dos casos não foram identificadas. Ao identificar a zona urbana de moradia na cidade de Manaus, encontrou-se um índice maior de acometidos na Zona Sul com 20%, seguida por 18% na Zona Leste, 15% da Zona Norte, 12% da Zona Oeste, 10% da Zona Centro-Oeste, 4% da Zona Centro-Sul e 21% não foram identificadas. No aspecto tempo de internação, 52% apresentaram menos de um mês de internação, entre um a dois meses foram 27% dos pacientes, 18 % ficaram internado entre dois a cinco meses e apenas 3% permaneceram no hospital por mais de cinco meses. Os resultados deste estudo apontam o seguinte perfil para pessoas com lesão medular na cidade de Manaus no período de 2000 a 2008: homens em idade produtiva, com lesão cervical ou torácico provocadas por quedas, provenientes da Zona Sul da cidade de Manaus, com período de internação menor que um mês. Discussão As lesões da medula espinhal caracterizam-se por uma fatalidade que transforma por completo a vida da pessoa acometida bem como da sua família. O custo de uma campanha de prevenção de acidentes é inferior ao custo do tratamento de um paciente tetraplégico na fase aguda, que não necessite de respirador artificial, não se considerando os custos indiretos e os benefícios à comunidade.7 A incidência desse tipo de lesão é bastante variada nos diferentes países, e ainda não é bem definida no Brasil por não ter uma notificação eficaz dos casos e pela escassez de estudos epidemiológicos significativos.8 Neste estudo foi observado que o gênero mais acometido foi o masculino com 86% dos casos, concordando com outros dados epidemiológicos que apresenta o sexo masculino com maior incidência nas lesões medulares.9 Em relação às causas da lesão, o que apresentou maior incidência foram as quedas com 42% dos casos, condizente com alguns achados na literatura,10 no entanto diferenciando de outros estudos que têm os ferimentos com arma de fogo e acidentes de trânsito como maiores causadores de lesão medular.11,12 | 32 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 EPIDEMIOLOGIA DA LESÃO MEDULAR NO PROGRAMA DE ATIVIDADES MOTORAS PARA DEFICIENTES DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VARGAS/AM Com referência ao nível medular, os achados deste estudo variam a região cervical e a região torácica, o que de certa forma condiz com o que a literatura apresenta o nível cervical com maior incidência9 e outro estudo aponta o nível medular mais acometido como torácico.11 Ao verificarmos as sequelas entre paraplegia e tetraplegia, no presente estudo encontramos que 42% eram paraplégicos e 43% tetraplégicos. Em estudo realizado num centro urbano do Nordeste brasileiro foi encontrado que a maioria dos pacientes internados teve como sequela a paraplegia (66,7% dos casos).13 Considerando ainda a faixa etária em que mais ocorre a lesão medular, este estudo está de acordo com o encontrado na literatura que afirma que a faixa etária corresponde à idade produtiva entre 21 e 40 anos.9 Em relação ao tempo médio de internação, o presente estudo verificou que o tempo médio de internação desses pacientes foi menos de um mês (podendo variar entre zero e 29 dias), tal resultado pode ser comparado com um estudo realizado em hospitais de emergências públicas no Estado do Rio de Janeiro, onde verificamos que o paciente lesado medular permanecia internado por um período médio de um mês.14 tação por meio de políticas públicas eficientes, pois o tempo que as pessoas demoraram a acessar programas de reabilitação pode comprometer sua qualidade de vida tanto no aspecto físico, pelas sequelas secundárias provocadas pela lesão em função da ausência de atividades e de conhecimento sobre sua condição. A lesão medular é um dano irreversível e traz diversos complicadores para a pessoa e também para sua família e amigos; contudo, após a lesão ter sido estabelecida, não há o que fazer quanto a sua cura, o que deve ser priorizado são ações para possibilitar a essa pessoa uma melhor qualidade de vida, e isso é possível com programas de reabilitação com atendimento multiprofissional adequado visando favorecer a essa pessoa e sua família o conhecimento de suas possibilidades de desenvolvimento em todos aos aspectos da vida, saúde, trabalho, educação, relacionamentos, independência e autonomia. Referências 1. Melo ACR. Descrição da aptidão inicial para natação em lesionados medulares. Rev Bras Med Esporte. 2009; nov./dez.;15(6). 2. Elias MP, Monteiro LMC, Chaves CR. AcessibiConclusão lidade a benefícios legais disponíveis no Rio de Janeiro para portadores de deficiência física. Estes achados sugerem algumas proposições Ciência & Saúde Coletiva. 2008; 13(3): 1041-50. para o fenômeno da lesão medular. A primeira está no âmbito da prevenção, onde se sugerem 3. Pereira MEMSM, Araújo TCCF. Enfrentamento ações educativas para divulgação da necessi- e reabilitação de portadores de lesão medular e dade de utilização de equipamentos de segu- seus cuidadores. Psico. 2006; jan./abr.; 37(1): rança de forma ininterrupta tanto nas ativi- 37-45. dades da floresta quanto na construção civil. No mesmo sentido de prevenção com relação aos 4. Sartori J, Neuwald MF, Bastos VH, Silva JG, acidentes automobilísticos – direção, álcool e Mello MP, Freitas MRG et al. Reabilitação física velocidade. É importante considerar e divulgar na lesão traumática da medula espinhal: relato também as consequências que a lesão medular de caso. Rev Neurocienc. 2008; in press. causa na vida de uma pessoa e de sua família, no entanto deve-se ainda informar e enaltecer 5. Fechio MB, Pacheco KMB, Kaihami HN, Alves as possibilidades que uma pessoa, mesmo com a VLR. A repercussão da lesão medular na identilesão medular, tem para conquistar autonomia dade do sujeito. Acta Fisiatr. 2009; 16(1): 38e independência. 42. A segunda delas está relacionada à inserção imediata dessas pessoas em programas de reabili- 6. Umphered Darcy A. Reabilitação Neurológica. 4 ed. Barueri/SP: Manole; 2004. | 33 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Nunes et al 7. Silva CLC, Defino HLA. Estudo epidemiológico das fraturas da coluna cervical por mergulho na cidade de Ribeirão Preto/SP. Med (Ribeirão Preto). 2002; 35: 41-7. 8. Custódio NRO, Carneiro MR, Feres CC, Lima GHS, Jubé MRR, Watanabe LE et al. Lesão medular no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER- GO). Coluna/Columna. 2009; 8(3): 265-68. 9. Gonçalves AMT, Rosa LN, D’Ângelo CT, Savordelli CL, Bonin GL, Squarcino IM et al. 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As manifestações descritas ao longo do trabalho incluem acometimento da Cavidade Oral, Peritonite, Doença Ulcerosa Péptica, Vasculite Intestinal, Enteropatia Perdedora de Proteínas, Pancreatite, Doença Inflamatória Intestinal, Tuberculose Intestinal, Estrongiloidíase, Comprometimento Hepático e do Apêndice. Reconhecer precocemente um sintoma gastrointestinal em um paciente com LES é a melhor oportunidade de aliviar os sintomas e melhorar a sobrevida do paciente. Palavras-chave: Lúpus Eritematoso Sistêmico; Trato Gastrointestinal; Vasculite Intestinal. Abstract In this review, we aimed at a brief description of the main effects of Systemic Lupus Erythematosus (SLE) in the gastrointestinal tract, both related to disease activity and treatment. The events described throughout the paper include involvement of the Oral Cavity, Peritonitis, Peptic Ulcer Disease, intestinal Vasculitis, Protein-losing Enteropathy, Pancreatitis, Inflammatory Bowel Disease, Intestinal Tuberculosis, Strongyloidiasis, and Hepatic and Appendix Impairment. Early recognition of a gastrointestinal symptom in a patient with SLE is the best opportunity to relieve symptoms and improve patient survival. Keywords: Systemic Lupus Erythematosus; Gastrointestinal Tract; Intestinal Vasculitis. Introdução O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença crônica que acomete principalmente mulheres entre a terceira e quinta décadas de vida, multissistêmica, frequentemente afetando os rins e o sistema nervoso central.1 As manifestações gastrointestinais em um paciente com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) ocorrem em aproximadamente 25 a 40% dos pacientes2 e podem estar associadas à atividade da doença, podem ser consequência do tratamento ou decorrentes de outra patologia associada ou não ao LES.3 Há evidência de que a terapia apropriada chega a ser postergada em pacientes com abdômen agudo e não se considera o próprio LES como uma causa, apesar da resposta dramática à corticoterapia.4 *Médico(a) residente de clínica médica do HUGV – Ufam. **Médico especialista em gastroenterologia pelo Hospital de Base de São José do Rio Preto, assistente da residência de clínica médica do HUGV – Ufam. | 35 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS DO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO A importância do reconhecimento precoce dos apêndice e do peritônio, na casuística gastroinsintomas gastrointestinais em um paciente com testinal. LES é a melhor oportunidade de aliviar os sintomas e melhorar a sobrevida do paciente.2 Peritonite Cavidade Oral Apesar de a peritonite ser uma hipótese raramente levantada em pacientes com dor abdomiA prevalência de lesões orais varia de 7 a 52% e é nal e diagnóstico de LES, necropsias sugerem que sugerido que pacientes com lesões orais tenham 60 a 70% dos pacientes com essa doença tiveram maior mortalidade que aqueles sem lesões orais. A um episódio de Peritonite ao longo da vida,13 e mucosa bucal, palato duro e a região de transição apenas cerca de 10% deles foram diagnosticada mucosa com a pele do lábio são os locais mais dos clinicamente.14 A peritonite lúpica deve ser frequentemente envolvidos.2 As úlceras orais encarada como diagnóstico de exclusão, e exige em geral são indolores e parece não guardar extensa avaliação na busca de causas mais frerelação com atividade da doença. O tratamento quentes de ascite exsudativa, como carcinomapode ser feito com glicocorticoides tópicos ou tose peritoneal, mesotelioma primário, pseudointralesionais.5 Citamos também outras causas mixoma peritoneal, carcinoma hepatocelular, de lesões da cavidade oral associadas ao lú- peritonite tuberculosa, peritonite fúngica, peripus, mas não causadas primariamente por ele, tonite associada ao HIV, síndrome nefrótica, encomo, por exemplo, a infecção por Cândida e teropatia perdedora de proteína e desnutrição Herpes Vírus Simples, em função do tratamento grave.15 crônico com imunossupressores para atividade da doença.2 Há necessidade de vigilância espe- O prognóstico da peritonite no LES é geralmente cial para paciente com Síndrome de Sjögren as- bom, caso o tratamento específico seja instituísociada, uma vez que a falta de secreção salivar do oportunamente. Embora a serosite lúpica predispõe a cárie e infecção intraoral. normalmente responda aos anti-inflamatórios não hormonais ou ao tratamento com corticosteroides (por tratar-se de doença com substrato etiopaSintomas Abdominais togênico inflamatório), casos refratários que leEntre os sintomas gastrointestinais associados vam ao acúmulo persistente de líquido na caviao LES, os mais frequentes são dor abdominal dade abdominal foram relatados na literatura. (secundária a serosite ou vasculite intestinal), Nesses casos, imunomoduladores ou imunossuvômitos e diarreia.6 Quando o acometimento pressores, bem como procedimentos cirúrgicos gastrointestinal está associado à atividade do como a pleurodese e a fenestração pericárdica 16 LES, as causas a serem consideradas são a vas- podem ser necessários. culite mesentérica e a enteropatia perdedora de proteínas.7 Doença Ulcerosa Péptica Outra manifestação gastrointestinal é a pancreatite secundária à vasculite pancreática. Porém, a pancreatite pode, também, ocorrer como complicação do uso prolongado e em altas doses de prednisona, bem como do uso de diuréticos tiazídicos e de azatioprina.8 Raramente, são relatadas associações entre o LES e as outras condições causadoras de diarreia crônica, como doença celíaca e doença inflamatória intestinal (retocolite ulcerativa e doença de Crohn), além das doenças infecciosas, como a tuberculose e as parasitoses intestinais.9,12 Importante também salientar o comprometimento hepático, do A prevalência de úlcera péptica em lúpicos é estimada em 4 a 21%, sendo mais comum naqueles pacientes tratados com Anti-inflamatório Não Esteroidal (AINEs) e em uso de Glicocorticoides.17 Recomenda-se, dessa forma, profilaxia com inibidor da bomba de prótons, para aqueles pacientes com dispepsia, história de doença ulcerosa péptica ou terapia combinada de AINEs e altas doses de glicocorticoides.18 Vasculite intestinal A incidência de vasculite do trato gastrointes- | 36 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Aranha et al tinal varia entre 0,2 a 53% no lúpus, com íntima correlação com atividade de doença,19 geralmente acomete pequenos vasos da parede intestinal e a histologia demonstra atrofia e degeneração da média, necrose fibrinoide, trombose e infiltrado linfocitário na lâmina própria e a imuno-histoquímica mostra depósito de imunocomplexos, complemento e fibrinogênio.20 O quadro clínico varia desde desconforto abdominal inespecífico, diarreia, distensão abdominal, até abdômen agudo com sangramento maciço. O uso de imunossupressores e corticoide em altas doses pode mascarar a presença de peritonite. Ausência de ruídos hidroaéreos e defesa abdominal são sinais tardios. Quase sempre a vasculite do trato gastrointestinal é acompanhada por atividade em outros órgãos, como pele, rins e sistema nervoso central.21-23 A radiografia simples geralmente é normal inicialmente, mas pode evidenciar sinais de íleo paralítico, edema de alças e pneumoperitônio. Radiografias contrastadas podem demonstrar sinal de thumbprinting (edema ou hemorragia da submucosa, altamente específico de isquemia intestinal) e extravasamento de contraste na perfuração intestinal.20,21,24 O exame “padrão ouro” é a TC. Os achados mais frequentes são edema de alça, espessamento de parede e realce de alças pelo contraste (sinal do alvo ou duplo halo, altamente sugestivo de vasculite) e é sensível para detectar coleções de gás intramurais, como a Pneumatose Intestinal.20, 25,26 A arteriografia não é útil, pois a doença geralmente acomete pequenos vasos. Endoscopia alta e colonoscopia servem para localizar úlceras e realizar biópsias.20 Quando não há evidência de perfuração intestinal, a isquemia é potencialmente reversível, sendo indicado tratamento conservador que inclui corticoide em altas doses (prednisona 1-2 mg/kg/dia) ou pulsoterapia com metilprednisolona 1 g ao dia, por 3 dias. Deve-se associar repouso intestinal (Nutrição Parenteral). Procinéticos podem melhorar o peristaltismo e reduzir a pressão intraluminal. Antibioticoterapia endovenosa é usada como adjuvante na presença de pneumatose intestinal; visa a reduzir supercrescimento bacteriano e produção de gás por bactérias anaeróbias.20,22,27 Na refratariedade, indica-se pulso de ciclofosfamida 0,75-1 g/m2.20,28 Enteropatia Perdedora de Proteínas Caracteriza-se por hipoalbuminemia secundária à perda excessiva de proteínas pelo trato gastrointestinal. Possíveis mecanismos incluem obstrução linfática parcial (linfangiectasia intestinal), defeitos congênitos nos linfáticos intestinais, ulceração mucosa, metabolismo desordenado da célula da mucosa e aumento da pressão venosa central.29 Apesar de já ser reconhecida uma associação entre Lúpus Eritematoso Sistêmico e Enteropatia Perdedora de Proteína, há ainda pouco menos de 150 casos documentados na literatura mundial.30 Existem múltiplas teorias para patofisiologia da associação entre essas duas entidades, tais como vasculite intestinal, erosões da mucosa ou linfangiectasia, mas cada caso parece ter o mecanismo próprio de perda proteica.31 A enteropatia perdedora de proteínas é suposta nos casos de diarreia crônica associada à hipoalbuminemia em paciente com lúpus, sem proteinúria significativa. Outras causas de enteropatia perdedora de proteína devem ser excluídas, como o linfoma e o supercrescimento bacteriano.32 O diagnóstico é feito a partir da exclusão de outras causas de perda proteica e da confirmação da presença de proteína nas fezes. A boa resposta clínica ao tratamento imunossupressor contribui para o diagnóstico.33 Pancreatite Desde o primeiro caso documentado entre lúpus e a pancreatite (REIFENSTEIN et. al., em 1939), poucos casos sobre a prevalência de doenças pancreáticas nessa desordem reumática tem sido relatadas.34 O mecanismo patogênico responsável pela lesão pancreática no lúpus ainda espera por definição, mas a lesão vascular tem sido estudada e inclui síndrome vascular necrotizante,35 oclusão de artérias e arteríolas por trombos resultando em importante hipotensão ou síndrome do anticorpo antifosfolípide,36,37 aumento da espessura/proliferação da camada íntima38 e depósitos de imunocomplexos com ativação do sistema de complemento na parede das artérias pancreáticas.39 É importante lembrar que muitos pacientes com lúpus estão em uso de esteroides, diuréticos ou tera- | 37 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 MANIFESTAÇÕES GASTROINTESTINAIS DO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO pia imunossupressora, que podem ser implicados na etiologia da pancreatite;40 no entanto, quanto à corticoterapia, é difícil dizer se são os responsáveis pela doença por conta da coexistência de pancreatite e atividade da doença (necessitando de dose alta de prednisona).41 Doença Inflamatória Intestinal A associação entre as doenças inflamatórias intestinais e o LES é rara e, geralmente, o lúpus é diagnosticado primeiro. Quando a segunda doença se manifesta, a primeira costuma estar inativa.1 Há relatos de pacientes que desenvolveram o lúpus após tratamento da Doença de Crohn tanto com sulfassalazina42 quanto com mesalazina,43 que são drogas implicadas na ocorrência de Lúpus Fármaco-Induzido (classificadas como drogas provavelmente capazes de induzir lúpus), e o tratamento se baseia na imediata suspensão da droga.44 Tuberculose intestinal No Brasil, onde a tuberculose é infecção frequente, o acometimento intestinal pode ocorrer de maneira isolada ou associada a manifestações sistêmicas, como febre, linfonodomegalia e comprometimento pulmonar. O quadro intestinal envolve diarreia, síndrome disabsortiva, perda de peso, náuseas, vômitos, melena e enterorragia. A região jejuno-ileal e o íleo terminal está acometida em mais de 75% dos casos, exibindo áreas de ulceração, hipertrofia ou estenose, o que dificulta seu diagnóstico diferencial com a Doença de Crohn. Poucas vezes se manifesta como colite tuberculosa, podendo ser confundida com a retocolite ulcerativa. A partir da suspeita clínica, alguns exames auxiliam na confirmação diagnóstica, como PPD positivo, radiografia de tórax com infiltrado em ápice, trânsito de delgado e enema opaco com acometimento do íleo terminal e colonoscopia com biópsia das lesões. A tomografia de abdome pode evidenciar hepatoesplenomegalia, linfonodomegalia e ascite.45 Estrongiloidíase Dentre as parasitoses, cita-se a estrongiloidíase, que pode ser assintomática, manifestar-se como diarreia crônica46 especialmente em sua forma disseminada, uma condição geralmente fatal e que se associa ao uso de imunossupressores, motivo pelo qual se sugere que todos os pacientes que sejam submetidos a tratamento com corticosteroides ou imunossupressores seja identificada, antes do tratamento, a presença de Strongyloides stercoralis.46 Comprometimento hepático Hepatomegalia é descrita em 50% dos pacientes com lúpus, porém refere-se principalmente a um fígado palpável, podendo não representar aumento do fígado. Icterícia é rara e pode significar hemólise ao invés de doença hepática. Bioquímica do fígado (aminotransferases, desidrogenase láctica, fosfatase alcalina, por exemplo) pode ser anormal em pacientes com lúpus ativo ou que receberam AINEs.47 As causas potenciais, tanto de alterações das enzimas hepáticas ou doença hepática evidente, incluem LES em si (“hepatite lupoide”), os AINEs e doenças coincidentes. Um estudo revelou a presença de anticorpos para a proteína P ribossomal em todos os seis pacientes com “hepatite lupoide” em comparação com apenas dois (10%) dos 20 pacientes lúpicos, mas sem doença hepática (controle), o que mostrou forte associação do anticorpo com o acometimento hepático da doença.48 Alterações bioquímicas hepáticas podem resolver com a cessação do uso de AINEs ou o tratamento do LES ativo.49 Hepatite lúpica – O termo hepatite lúpica foi originalmente usado para descrever a hepatite autoimune por suas semelhanças clínicas e sorológicas com o Lúpus Eritematoso Sistêmico. Doença hepática autoimune é relativamente incomum em pacientes com LES. Como exemplo, em um estudo retrospectivo de 377 pacientes adultos com LES, apenas cinco (1,3%) tinham confirmadas histologicamente lesões no fígado com características autoimunes.50 Apêndice Há relato de paciente que abriu o quadro clínico de lúpus, com dor em fossa ilíaca direita e sinais de irritação peritoneal, e à intervenção foi evidenciado apêndice cecal levemente inflamado, | 38 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Aranha et al que ao estudo histopatológico demonstrou tratar-se de apendicite por vasculite com necrose fibrinoide dos vasos medianos. Quando realizados exames laboratoriais, foi comprovada a existência de Lúpus Eritematoso Sistêmico, dessa forma é ressaltada a necessidade de diferenciar uma apendicite aguda habitual, da apresentação gastrointestinal do lúpus.51 Conclusão Diante do que foi apresentado, percebe-se que apesar de sintomas gastrointestinais como diarreia e dor abdominal serem comuns no curso do Lúpus Eritematoso Sistêmico (ocorrem em cerca de 50%),13 ainda trata-se de desafio, pelos possíveis diagnósticos diferenciais de desordens gastrointestinais primárias, e as complicações tanto da atividade da doença quanto do seu tratamento. Referências 1. Cardoso MF, Franco DS, Melo ACS, Paulino E, Narciso-Schiavon JL, Schiavon LL et. al. Diarreia como manifestação inicial de lúpus eritematoso sistêmico. Rev. Bras. Reumatol. [serial on the Internet]. 2008. June [cited 2013 feb 27]; 48(3): 184-187. 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Tais tumores acometem adultos jovens, principalmente na segunda e terceira décadas de vida. Os sintomas mais comuns são: dispneia, dor torácica, tosse, febre, perda de peso e síndrome da veia cava superior. Os autores relatam um caso de massa mediastinal sugestiva de seminoma em paciente masculino de 27 anos, no qual o diagnóstico foi elucidado pelo quadro clínico, exame de imagem, histopatológico e imuno-histoquímica, além de alteração em marcador sérico. Palavras-chave: Tumores de Células Germinativas; Massa Mediastinal; Seminoma; Adulto Jovem. Abstract Germ Cell Tumors (GCT’s) are uncommon diseases. They may be benign or malignant. Malignant tumors are divided classically into seminomas and non-seminomas. These tumors affect young adults, especially in the second and third decades of life. The most common symptoms are dyspnea, chest pain, cough, fever, weight loss and superior vena cava syndrome. The authors report a case of mediastinal mass suggestive of seminoma in a male patient aged 27, in which the diagnosis was elucidated by clinical, imaging, histopathology and immunohistochemistry, and changes in serum marker. Keywords: Cell Tumors; Mediastinal Mass; Seminoma; Young Adult. Introdução 3,5% dos tumores de mediastino.2 Os tumores de células germinativas (TCGs) são neoplasias pouco comuns que acometem mais frequentemente as gônadas, embora possam também ocorrer em outras localizações, como a glândula pineal, o retroperitôneo, o mediastino e a área sacral.1 Podem ser benignos (teratomas) ou malignos. Os tumores malignos são divididos, classicamente, em seminomatosos (seminomas) e não seminomatosos (teratoma imaturo, carcinoma de células embrionárias, tumores de seio endodérmico ou de saco germinativo e coriocarcinomas), compreendendo 1 a Acredita-se que os TCGs primários extragonodais derivam de células germinativas primitivas que migraram ao longo da crista urogenital durante a embriogênese precoce ou distribuíramse fisiologicamente para o fígado, medula espinhal e cérebro, a fim de desempenhar funções regulares ou transportar informações hematológicas ou imunológicas. A anomalia genética característica observada nos TCGs, tanto gonadais como extragonodais, é um isocromossomo i (12p).3 Portanto, acredita-se atualmente que os TCGs extragonodais ocorram pela transfor- * Médica residente de Clínica Médica do Hospital Universitário Getúlio Vargas. ** Professor da Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal do Amazonas. *** Médico colaborador. | 43 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 MASSA MEDIASTINAL EM ADULTO JOVEM mação maligna de elementos germinativos sem a evidência de um foco gonadal.4 Os sintomas mais comuns na apresentação clínica dos TCGs do mediastino incluem: dispneia (25%), dor torácica (23%), tosse (17%), febre (13%), perda de peso (11%), síndrome da veia cava superior (6%) e dor extratorácica (5%). Sintomas menos comuns incluem massa em parede torácica ou cervical, hemoptise, rouquidão, náuseas e disfagia.5 Tais tumores acometem adultos jovens, principalmente na segunda e terceira décadas de vida, sem predileção por sexo; porém, em mulheres, o tumor tem, geralmente, aspecto benigno, enquanto nos homens é geralmente maligno.6 Relato de Caso Masculino, 27 anos, pardo, procurou serviço de saúde relatando havia dois meses início de tosse sem expectoração que evoluiu com dor torácica ventilatório-dependente, acompanhada de dispneia aos pequenos esforços aliviada com posição de decúbito lateral esquerdo. Trouxe consigo radiografia de tórax realizada em pronto-socorro (Figura 1). Foi internado na Enfermaria de Pneumologia do Hospital Universitário Getúlio Vargas para investigação diagnóstica. Figura 1: Radiografia de tórax: massa mediastinal, derrame pleural em HTX E e desvio de traqueia contralateral. Ao exame físico, o paciente se apresentava em REG, LOTE, adotando decúbito lateral esquerdo preferencialmente, taquipneico ao repouso (FR: 24 irpm), normocorado, hidratado, acianótico, anictérico, afebril, com turgência jugular bilateral (++/4+) e presença de linfonodos palpáveis em axilas bilateralmente, de consistência fibro-elástica, móveis e de aproximadamente 2 cm de diâmetro. Tórax atípico, sem abaulamentos ou retrações, ausência de circulação colateral. Presença de submacicez em 1/3 médio e macicez em 1/3 inferior de hemitórax esquerdo (HTX E), frêmito toracovocal diminuído em 1/3 inferior de HTX E. Ausculta respiratória com murmúrio vesicular diminuído em 1/3 médio e abolido em 1/3 infe- rior de HTX E, sem ruídos adventícios. Ausculta cardíaca sem alterações, exceto taquicardia (FC: 110 bpm). Durante a internação foi realizada toracocentese diagnóstica, com drenagem de líquido sero-hemático, e várias toracocenteses para alívio de dispneia, pois o derrame pleural se refazia rapidamente. Pelo quadro de intensa ortopneia, não foi possível realizar outros exames complementares de imagem. O resultado do exame histopatológico de líquido pleural foi sugestivo de malignidade. Também foi realizada biópsia excisional de linfonodo axilar direito. A análise histopatológica evi- | 44 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Santos et al denciou neoplasia maligna pouco diferenciada constituída pela proliferação de células com núcleos vesiculosos e citoplasma vacuolizado. A análise imuno-histoquímica do material estabeleceu o diagnóstico de seminoma clássico metastático (PLALP+, OCT-3/4+, CD3-, CD20-, CD30-). Com relação aos marcadores séricos, a desidrogenase lática se apresentava elevada (DHL 7766 U/L). Após resultado dos exames, o paciente foi transferido para a Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCECON) para realizar a terapêutica adequada. Discussão Dentre os TCGs, o seminoma é o tipo histológico maligno mais comum, correspondendo a 37% dos tumores.7 Os seminomas ocorrem preferencialmente em homens jovens (15 a 35 anos de idade) e raramente em mulheres, quando são conhecidos como disgerminomas.4 Radiologicamente esses tumores apresentam-se como massas grandes, bem circunscritas, que se estendem a ambos os lados da linha média. Na tomografia axial computadorizada de tórax, os seminomas são grandes, coalescentes, lobulados e com atenuação homogênea semelhante à de partes moles.8 O diagnóstico definitivo é realizado por meio de biópsia da massa mediastinal, seja por mediastinoscopia ou toracotomia a céu aberto, sendo posteriormente o material encaminhado para análise histopatológica e imuno-histoquímica. Nesse caso, não houve oportunidade de realizar tomografia de tórax ou mediastinoscopia, pois a dispneia do paciente piorava ao decúbito dorsal, fazendo com que este não tolerasse permanecer deitado por mais de 30 segundos. Pelo fato, foi optado por realizar biópsia de linfonodo axilar para elucidação diagnóstica. O diagnóstico diferencial dos seminomas mediastinais inclui uma variedade de neoplasias primárias e metastáticas incluindo-se timomas, carcinomas tímicos, linfomas e melanomas. Entretanto, a possibilidade de metástase de um tumor primário testicular, embora rara, sempre deve ser considerada.9 Diante da gravidade do quadro respiratório do paciente relatado, não houve tempo hábil para investigar se o tumor de mediastino era primário ou metastático de seminoma testicular, uma vez que o paciente foi transferido para o Centro de Referência, logo após o resultado da imuno-histoquímica. Com relação ao tratamento, aqueles pacientes que se apresentam com seminoma isolado do mediastino a recomendação seria somente radioterapia; enquanto que naqueles que se apresentam com tumor avançado ou doença metastática extramediastinal, teriam melhor benefício com quimioterapia.10 Os tumores mediastinais seminomatosos têm melhor prognóstico que tumores mediastinais não seminomatosos, e pior em relação aos seminomas gonadais. A sobrevida em cinco anos é de 75%.11 Referências 1. Moran CA, Suster S. Primary germ cell tumors of the mediastinum: I. Analysis of 322 cases with special emphasis on teratomatous lesions and a proposal for histopathologic classification and clinical staging. Cancer. 1997; 80: 681-90. 2. Juhl JH, Crummy AB, Kuhlman JE: Interpretação Radiológica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2000. 1187 p. 3. Weidner N. Germ-cell tumors of the mediastinum. Semin Diagn Pathol. 1999; 16:4250. 4. Macchiarini P, Ostertag H. Uncommon primary mediastinal tumours. 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Os marcadores estavam normais, um cistoadenoma seroso de ovário direito foi diagnosticado em histopatológico. Após a cirurgia, a gestação evoluiu satisfatoriamente. Palavras-chave: Gestação; Tumor Anexial; Cistoadenoma Seroso. Abstract Adnexal masses are often identified in pregnant patients. With progress in technology, there is an increased number of adnexal tumors found incidentally on screening tests in prenatal care.1 The majority of cases are benign and disappear spontaneously by the end of the first trimester of pregnancy.2 We present a case of pregnancy and adnexal mass, led by laparotomy at 25 weeks of pregnancy due to its large volume. The markers levels were normal, a serous cystadenoma of right ovary was diagnosed on histopathology. After surgery, the pregnancy evolved satisfactorily. Keywords: Pregnancy: Adnexal Tumor; Serous Cystadenoma. Introdução ses tumores são, na sua maioria, benignos.4 Existem lesões específicas adicionais para o Com a introdução de rotina da ultrassono- estado gravídico que devem ser consideradas grafia (US) no pré-natal, a identificação das no diagnóstico diferencial como ovários himassas ovarianas torna-se mais frequente.2,3 perestimulados, cistos tecaluteínicos e luteoA chance de malignidade desses tumores é mas.1 Em um estudo com 106 pacientes que rara, variando de 1 em 12.000 a 1 em 47.000 necessitaram de cirurgia para avalição ovariana durante a gestação, 29,2% apresentaram gestações.3 cistos fisiológicos, 66% eram benignos e 4,7% O tumor ovariano pode ser classificado como eram malignos.5 benigno ou maligno. Durante a gestação, es* Médica residente de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Universitário Dona Francisca Mendes. ** Chefe do Serviço de Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Universitário Dona Francisca Mendes. *** Médico residente de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Universitário Dona Francisca Mendes. Autor principal: Serena Toniolli Manete | 47 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 CISTO ANEXIAL E GESTAÇÃO: RELATO DE CASO Na maior parte dos casos a paciente encontrase assintomática,3 por isso, para se obter um diagnóstico adequado, devem-se aproveitar determinadas oportunidades, como o exame pélvico no primeiro trimestre, ecografia inicial e cautelosa avalição no momento da cesariana.6 A conduta perante uma massa ovariana durante a gestação ainda gera grande discussão entre especialistas, tornando-se uma decisão clínica difícil.2,3 O manejo expectante no primeiro trimestre deve ser empregado, porém não há estudos randomizados para determinar o manejo ideal dessas massas na gestação.7 O procedimento cirúrgico eletivo, nesse caso, é mais seguro do que aguardar por sintomatologia e intervenção de emergência.6 Os autores descrevem o caso de uma paciente com cisto ovariano durante a gestação, que foi cirurgicamente removido durante a gravidez. Relato de Caso Paciente de 29 anos, parda, solteira, do lar, natural de Alenquer/PA, procedente de Manaus/AM. Gestante (G2P1A0) em atendimento em consulta de pré-natal no Hospital Universitário Dona Francisca Mendes, Manaus/AM. Em primeira consulta, paciente encontrava-se com 14 semanas e quatro dias de gestação, queixava-se de aumento do volume abdominal em aproximadamente um mês. Ao exame obstétrico observou-se altura uterina de 13 cm (excluindo-se o volume da massa abdominal) e 148 batimentos cárdio-fetais identificados ao sonar. Em Ressonância Nuclear Magnética observou-se lesão abdomino-pélvica que media 28 x 23 x 13 cm, com volume total de 4.353 cm³ (Figuras 1A e 1B), a coleção rechaçava intestino e cava, fazia contato com fígado, pâncreas, aorta e veia cava inferior, não envolvia ureter. As dosagens séricas de antígeno cárcino-embrionário (1,1), α-fetoproteína (60,35) e CA 125 (32) encontravam-se dentro dos parâmetros de normalidades. Os exames bioquímicos de rotina de pré-natal encontravam-se sem alterações. Com 22 semanas de gestação optou-se pela laparotomia exploradora, dando início aos exames pré-operatórios. Na 23.ª semana de gestação foi realizada ultrassonografia morfológica a qual mostrava um feto sem alterações. Com 25 semanas de gestação, a paciente foi submetida à laparotomia exploradora com exérese de lesão cística em ovário direito e de trompa direita (Figura 2). O laudo histopatológico do material cirúrgico resultou em Cistoadenoma Seroso de ovário. A gestação transcorreu sem alterações, chegando a 40 semanas, quando a paciente entrou em trabalho de parto e evoluiu para parto vaginal, com episiotomia sem intercorrências. O feto, do sexo feminino, apresentou 3.510 g, 51 cm, apgar 09 e 10. Figura 1A e 1B: Ressonância Nuclear Magnética - lesão abdomino-pélvica que media 28 x 23 x 13 cm, com volume total de 4.353 cm³ | 48 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Manete et al Figura 2: Peça operatória – lesão cística em ovário direito e de trompa direita Discussão As massas anexiais detectadas no primeiro trimestre de gestação possuem incidência de 0,2 a 2,9%; após 16 semanas de gravidez, a prevalência do cisto ovariano diminui, estando entre 0,5 e 3%. Dessa forma, observa-se que 71,9% dos cistos ovarianos detectados à ultrassonografia (US), de primeiro trimestre, resolveram-se espontaneamente.7 E aqueles que não se resolveram espontaneamente e que necessitaram de conduta cirúrgica variaram de 0,0004 a 0,36%.4 O tumor benigno mais comum na gestação é o teratoma cístico benigno, seguido pelos cistoadenomas. Observam-se ainda na gestação: endometriomas, cistos simples, cistos de corpo lúteo, cistos tubários e miomas.6 O corpo lúteo apresenta-se como cisto ovariano e pode persistir por 5-9 semanas de gestação, uma vez que possui a função da produção de progesterona antes da placenta desempenhar esse papel.1 Comumente esses cistos medem até 5 cm e regridem naturalmente até 16 semanas de gravidez, devendo os primeiros a ser considerados como diagnóstico diferencial.3 Os sintomas são imprecisos (dor, distensão abdominal, sintomas gastrointestinais vagos) e podem ser confundidos com os sintomas comuns da própria gestação; apenas 50% dos casos causam sintomatologia.6 O diagnóstico de grande parte das afecções ovarianas pode ser feito somente por meio de ultrassonografia, que é o exame de imagem de primeira escolha para avaliação dessas lesões durante a gestação. Ambas as técnicas, abdominal ou transvaginal, são utilizadas.8,1 Durante a avaliação ecográfica da tumoração ovariana, é importante determinar sua morfologia e correlação com as estruturas próximas, se sua superfície é lisa ou irregular, se a massa é sólida ou cística ou se contêm septações ou papilas em seu interior, facilitando assim a determinação de benignidade ou malignidade.3,9 O US com Doppler tem sua utilidade em uma melhor definição das características desse tumor como identificar a presença de fluxo no interior de um septo ou de componente sólido.1 E observou-se que parece ser altamente preditivo para uma lesão benigna se o índice de pulsatilidade médio (IP) for maior que 1.6 A Ressonância Nuclear Magnética (RNM) é um valioso complemento à ultrassonografia quando há necessidade de informações adicionais para realizar decisões no tratamento | 49 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 CISTO ANEXIAL E GESTAÇÃO: RELATO DE CASO durante a gestação.10 Para até 20% das lesões anexiais indeterminadas pela ultrassonografia, a RNM é utilizada como modalidade de segunda escolha.11 ovarian tumor during pregnancy. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 03, Art. n CD005459. DOI: 10.1002/14651858.CD005459.pub4. Dosar os marcadores tumorais é pouco útil na gestação, podendo ser até controverso, já que podem estar elevados pelo estado gravídico. Então, quando realizados, seus resultados devem ser considerados associados aos exames de imagem e a anamnese da gestante.3,6 5. Ueda M, Ueki M. Ovarian tumors associated with pregnancy. Int J Gynaecol Obstet. 1996; oct.; 55(1): 59-65. Cistos menores que 6 cm sem sinais de malignidade ao US podem ser tratados de forma conservadora; aqueles maiores que 10 cm devem ser ressecados, por conta do risco de torção, rotura ou malignidade. O manejo de cistos de 5 a 10 cm ainda é controverso.12 O momento ideal para a conduta cirúrgica é de 16 a 18 semanas; geralmente o primeiro trimestre deve ser evitado por grandes taxas de aborto,6 podendo realizá-la até 28 semanas, após isso pode desencadear trabalho de parto prematuro.12 Embora a maior parte das afecções ovarianas na gravidez seja benigna, sua presença é angustiante ao médico e a paciente. Dessa forma, devem-se utilizar os métodos diagnósticos adequados e, quando necessário, deve-se intervir, de forma ativa, diminuindo os riscos de malignidade, torção ou rotura desse tumor. Referências 1. Yacobozzi M, Nguyen D, Rakita D. Adnexal Masses in Pregnancy. Semin Ultrasound CT MRI 33:55-64 © 2012; Published by Elsevier Inc. 2. Silva CS, Paschoini MC, Ângelo AG, Paschoini GC, Murta EFC. Massa Anexial e Gravidez: Relato de Caso e Revisão da Literatura. Revista Brasileira de Cancerologia. 2001; 47(4): 40306. 6. Graves CR, Parker L. Tumores Ovarianos Complicando a Gravidez. 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Este trabalho visa relatar um caso de Hérnia de Grynfelt à esquerda, com herniação e encarceramento da Fáscia de Gerota em um paciente de 60 anos e cuja resolução deu-se por meio de hernioplastia com colocação de tela de polipropileno. Palavras-chave: Hérnia; Lombar; Triângulo; Grynfelt; Gerota Abstract Lumbar hernias are the results of rare posterior abdominal wall defects which can be congenital or acquired. If they involve the superior lumbar triangle are called Grynfelt Hernia and, if the inferior lumbar triangle is affected, it is called Petit Hernia. The surgical approach is preferred, with inorganic mesh placement in order to avoid its relapse. This paper aims to report one case of Grynfelt Hernia in the left side with herniation and incarceration of Gerota’s fascia in a 60-year old patient and whose resolution was made by hernioplasty with polypropylene mesh fixation. Keywords: Hernia; Lumbar; Triangle; Grynfelt; Gerota. Introdução Hérnias são protrusões comuns que podem acometer qualquer porção da parede abdominal. Já as hérnias lombares, resultantes de defeitos na parede posterolateral abdominal, mais especificamente na região compreendida entre o décimo segundo arco costal e a crista ilíaca, são raras.¹ Essa região é dividida em trígono lombar superior de Grynfelt e trígono lombar inferior de Petit,2,3 denominando os respectivos tipos de hérnias. A etiologia dá- se pela fraqueza lombodorsal congênita ou adquirida.4 O objetivo deste trabalho é relatar um caso de Hérnia de Grynfelt à esquerda com herniação da Fáscia de Gerota ipsilateral com história pregressa de trauma contuso em região lombar. Relato de Caso Paciente do sexo masculino, 60 anos, tabagista (52 maços/ano), procurou atendimento médico com história de que havia aproximadamente 15 * médico residente de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas, Manaus/AM. ** médico cirurgião-geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas, Manaus/AM. *** médica residente de Cirurgia Geral da Fundação Hospital Adriano Jorge, Manaus/AM. | 51 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 HÉRNIA DE GRYNFELT COM HERNIAÇÃO DA FÁSCIA DE GEROTA: RELATO DE CASO anos sofreu trauma contuso em região lombar esquerda após queda de altura sobre material metálico cilíndrico rombo. Após um ano, referiu surgimento de abaulamento local, indolor e de crescimento lento e progressivo. Havia cinco meses iniciou quadro de dor contínua na topografia do abaulamento, com piora ao esforço físico, motivando-o a procurar o hospital em sua cidade de origem. O diagnóstico inicial foi lipoma lombar esquerdo e realizou-se procedimento cirúrgico ambulatorial para exérese de lipoma. No intraoperatório, suspeitou-se de se tratar de hérnia lombar e o procedimento foi interrompido. Encaminhado então, no dia seguinte, ao Ambulatório de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). Ao exame físico, evidenciava-se abaulamento em região lombar superior imediatamente abaixo do 12.º arco costal à esquerda sem aumento à manobra de Valsalva (Figura 1). O restante do exame físico não denotava nenhuma outra alteração e o paciente negava sintomas urinários, alteração de hábito intestinal ou demais queixas. Figura 1: Ectoscopia da região lombar esquerda com tumefação local e cicatriz cirúrgica. Procedeu-se a realização de tomografia computadorizada de abdômen que evidenciou formação lobulada apresentando imagens lineares densas de permeio localizada na região toracolombar esquerda, medindo 8,8 x 7,2 x 3,8 cm e comunicação dessa formação com o espaço pararrenal posterior, associado a algumas estruturas vasculares de permeio que se insinuavam também para o interior da lesão (Figura 2). Figura 2: Tomografia computadorizada de abdômen evidenciando herniação lombar à esquerda com comunicação desta para o espaço pararrenal. | 52 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Pontes et al No intraoperatório, o conteúdo herniário compatível com Fáscia de Gerota encontravase encarcerado, comunicando-se a cavidade retroperitoneal por um pedículo vascular. Realizou-se, então, ligadura do pedículo com posterior ressecção do conteúdo herniário. A abordagem terapêutica escolhida foi a hernio- plastia com rafia primária e posterior colocação de tela de polipropileno (Figura 3), não havendo intercorrências durante o ato cirúrgico. O paciente evoluiu satisfatoriamente e com condições de alta hospitalar no terceiro dia pós-operatório para ser acompanhado em nível ambulatorial. Figura 3: 3.1. Incisão e exposição do conteúdo herniário; 3.2. Rafia primária; 3.3. Colocação de tela inorgânica de polipropileno. Discussão tários como síndrome da deficiência vertebral lombar, meningocele e neurofibromatose.8 Hérnias lombares são apresentações raras, perfazendo menos de 2% de todas as hérnias de parede abdominal.5,6 Em recente revisão constava-se cerca de 300 casos relatados.1 Anatomicamente a região lombar é delimitada superiormente pelo décimo segundo arco costal, inferiormente pela crista ilíaca, medialmente pelos músculos eretores da espinha e lateralmente pelo músculo oblíquo externo.2,3,7 A região pode ser dividida em trígono lombar superior ou inferior. Tais descrições foram detalhadas respectivamente, em 1783, por Petit2 e, em 1866, por Grynfelt3 e, por isso, a adoção dos nomes ao se referir a esses tipos de hérnias. As hérnias lombares podem ser classificadas em congênitas ou adquiridas. As congênitas geralmente manifestam-se na infância, podendo estar associadas a distúrbios heredi- As formas adquiridas correspondem a cerca de 80% dos casos4 e podem ser primárias ou secundárias. A causa mais comum de hérnia lombar adquirida primária consiste no aumento da pressão intra-abdominal, como no caso de doenças tais como bronquite crônica,¹ ascite ou condições de atividade física extenuante. Pode, também, ser decorrente de atrofias musculares ou fraqueza da região. Existem três áreas de fraqueza que podem ser encontradas nesse espaço: imediatamente abaixo da 12.ª costela, onde a fáscia transversal não é coberta pelo músculo oblíquo externo, na zona de penetração fascial do 12.º pedículo neurovascular dorsal intercostal e entre a borda inferior da 12.ª costela e o ligamento de Henle,9 as quais podem ser exacerbadas por idade avançada ou magreza extrema.¹ | 53 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 HÉRNIA DE GRYNFELT COM HERNIAÇÃO DA FÁSCIA DE GEROTA: RELATO DE CASO Em relação às formas adquiridas secundárias,10 a grande maioria das hérnias lombares é secundária a traumas, conforme o caso relatado neste artigo, ou, em menor escala, resultante de intervenções cirúrgicas.9 O quadro clínico varia desde assintomático até dor intensa com abaulamento e crescimento progressivo. A obstrução intestinal e/ ou estrangulamento de alça é incomum.9,11 O diagnóstico pode dar-se em sua grande maioria por meio de anamnese e exames físicos minuciosos. No entanto, em alguns casos, faz-se necessário a adoção de exames de imagem, em especial a tomografia computadorizada12 no intuito de diagnosticar hérnias de pequenas dimensões6 e/ou avaliar se há acometimento das demais estruturas.13 No caso relatado havia hérnia à esquerda com grandes dimensões e herniação da Fáscia de Gerota ipsilateral. Em relação ao diagnóstico diferencial, restringese a lipomas, que são os mais comuns,14 abscessos, espasmos musculares, hematomas ou neoplasias.1,9 A escolha da abordagem terapêutica é determinada pelo tamanho da hérnia.5,14 O tratamento é sempre cirúrgico para correção do defeito gerado pela patologia.15 Apesar de existirem várias técnicas descritas, não há no momento um consenso a respeito de qual seria a melhor, por inúmeros fatores, incluindo a raridade da patologia e a dificuldade de se definir padrões de limites anatômicos.1,16 A abordagem para reparo pode ser anterior17 ou posterior. No caso de hérnias lombares de pequenas dimensões, pode-se proceder ao fechamento direto das estruturas. Para grandes dimensões ou recidivas, podem-se optar por próteses, retalhos ou ambos. Caso haja comprometimento de alças, sua ressecção faz-se imprescindível.10,16 A opção de utilização de tela de polipropileno16 obtém melhores resultados ao diminuir as taxas de recidiva e consequentemente o risco de complicações, tais como encarcera- mento e/ou estrangulamento.18 A técnica laparoscópica vem ganhando destaque recentemente, porém ainda carece de mais estudos.16 Concluímos que, apesar de consistir em patologia de apresentação rara, o conhecimento adequado dessa doença se faz imprescindível para obter-se o correto diagnóstico e, consequentemente, instituir-se a abordagem cirúrgica para resolução definitiva do quadro clínico. Referências 1. Moreno Egea A, Baena EG. Contorversies in the current management of lumbar hérnias. Arch Surg. 2007; 142: 82-88. 2. Petit L. Trait des maladies chirurgicales. 1783; vol 2. Masson, Paris. 3. Grynfeltt J. Quelque mots sur la hernie lombaire. 1866; Montpellier Med. 16: 329. 4. 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Stamatiou D, Skandalakis JE, Skandalakis LJ, Mirilas P. Lumbar hernia: surgical anatomy, embryology, and technique of repair. Am Surg. 2009; mar.; 75(3): 202-7. 11. Astracioglu H, Sokmen S, Atila K, Karademir S. Incarcerated inferior lumbar (Petit’s) hernia. Hernia. 2003; 7: 158-160. 12. Killen KL, Girard S, DeMeo JH. Using CT to diagnose traumatic lumbar hernia. AJR. 2000; 174: 1413-1415. 13. Alves JR A, Maximiano L, Fujimura I, Pires P W, Birolini D. Grynfelt hernia. Arquivos de Gastroenterologia. 1996; 33(1): 32-35. 14. Mingolla GP, Amelio G. Lumbar hernia misdiagnosed as a subcutaneous lipoma: a case report. Journal of Medical Case Reports. 2009; 3: 9322. 15. Barden BE, Maull KI. Traumatic lumbar hernia. South Med J. 2000; 93: 1067-1069. 16. Solaini L, Di Francesco F, Gourgiotis S, Solaini L. A very simple technique to repair Grynfeltt-Lesshaft hernia. Hernia. 2010; 14: 439-441. 17. Di Carlo I, Toro A, Sparatore F, Corsale G. Lumbar hernia repair using a new technique. 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Endereço para correspondência: Dênisson Guedes Pontes E-mail: [email protected] | 55 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Gonçalves et al ENDOCARDITE SUBAGUDA PLURIVALVULAR POR COCOS GRAM-POSITIVOS COM MÚLTIPLOS FENÔMENOS EMBÓLICOS PERIFÉRICOS SUBACUTE ENDOCARDITIS PLURIVALVULAR BY GRAM-POSITIVE COCCI WITH MULTIPLE PERIPHERAL EMBOLIC PHENOMENA David Luniere Gonçalves,* Vinícius Renan Pinto de Mattos,*Maria José dos Santos Silva,* Samir Yoshio Matsumoto Bissi,* Marlúcia do Nascimento Nobre** Resumo A apresentação habitual da endocardite é de uma doença aguda e severa, acompanhada usualmente de meningite purulenta, rápida destruição da válvula cardíaca, insuficiência cardíaca, ocasionando altas taxas de mortalidade, mesmo em vigência do tratamento. A manifestação subaguda da endocardite pneumocócica tem sido poucas vezes descrita na literatura e seus sintomas podem iniciar meses antes que a lesão valvular apareça. O quadro clínico engloba febre, esplenomegalia, além de manchas causadas pelo processo de embolia. Êmbolos maiores podem causar complicações sistêmicas (cardíacas, renais ou neurológicas). O presente caso descreve uma forma incomum de apresentação, poucas vezes citada na literatura, no qual o paciente evolui com um quadro clínico arrastado associado a complicações. Palavras-chave: Endocardite; Insuficiência Cardíaca; Streptococcus pneumoniae. Abstract The common presentation of endocarditis is an acute and severe, usually accompanied with purulent meningitis, rapid destruction of the heart valve, heart failure, resulting in high mortality rates, even during treatment. The manifestation of subacute pneumococcal endocarditis has been infrequently reported in the literature and its symptoms may begin months before the valvular lesion appears. The clinical picture includes fever, splenomegaly, and stains caused by emboli that detach valves. Emboli can cause major systemic complications (cardiac, renal or neurological). This case describes an unusual presentation, rarely mentioned in the literature, in which the patient developed a clinical dragged associated with complications. Keywords: Endocarditis; Heart Failure; Streptococcus pneumonia. Introdução da antibioticoterapia e da cirurgia cardíaca e, mais recentemente, o ecocardiograma.1 Antes da descoberta do antibiótico, a endocardite infecciosa (EI) determinava a morte de praticamente todos os pacientes acometidos. Ao longo do tempo, alguns fatores mudaram a evolução da doença: o progresso de técnicas microbiológicas, o desenvolvimento A EI é ainda uma doença com elevada morbilidade e mortalidade2,4 e cujo quadro clínico arrastado pode, em especial nos idosos,5,6 levar a um atraso no diagnóstico etiológico, muitas vezes dificultado por terapêuticas an- *Médico residente de Clínica Médica do HUGV - UFAM **Médica cardiologista / preceptora da residência de Clínica médica e supervisora da residência de Cardiologia do HUGV | 56 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 ENDOCARDITE SUBAGUDA PLURIVALVULAR POR COCOS GRAM-POSITIVOS COM MÚLTIPLOS FENÔMENOS EMBÓLICOS PERIFÉRICOS tibióticas empíricas, que contribuem para o aparecimento de hemoculturas negativas.4,7 A incidência da endocardite pneumocócica não é inteiramente conhecida, uma vez que a literatura disponível consta apenas de relatos de casos e séries com pouco número de pacientes. Nos últimos anos, no entanto, um número maior de casos tem sido descrito, por conta do surgimento de cepas de Streptococcus pneumoniae resistentes à penicilina.8 com irradiação para região cervical. Ictus visível, propulsivo e palpável em três polpas digitais no 6.º espaço intercostal na linha axilar anterior. A ausculta respiratória estava sem alterações. O exame da região abdominal apresentava fígado palpável a 2 cm do rebordo costal direito e baço palpável a 1 cm do rebordo costal esquerdo. Homem de 50 anos de idade, previamente hígido, após um mês apresentando febre alta recorrente associada à diarreia, no interior do Pará, foi encaminhado para Manaus para investigação. Diagnosticado com febre tifoide e anemia, foi então tratado da infecção e encaminhado para acompanhamento ambulatorial da anemia. Laboratório: Hemoglobina (Hb): 6,7g/dL, Hematócrito: 23,6%, Leucócitos: 13.530 µL, Segmentados: 91,9%, Plaquetas: 154.000 µL, Ureia: 30 mg/dL, Creatinina: 0,86 mg/dL, Proteína C Reativa: 189 µL/dl, Velocidade de hemossedimentação: 82 mm/s, Desidrogenase lática: 1.046, Fator Reumatoide: 256, ASLO: positivo. Exame de urina: Hb (+++), Proteínas (+), Células epiteliais: numerosas, Nitrito: negativo, Piócitos: 30 p/c, Incontáveis Hemáceas. Urinocultura e Hemocultura negativas. Sorologias para sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus, rubéola, HIV, mononucleose e hepatites negativas. Durante os dois meses seguintes, evoluiu com perda ponderal expressiva, edema de membros, associada à intensa astenia e persistência da febre. Após quatro semanas com piora progressiva desses sintomas, ele apresentou evento neurológico súbito, com desvio de comissura labial, alalia, parestesia de membros predominando no dimidio esquerdo. Foi levado a um pronto-socorro, sendo diagnosticado com acidente vascular encefálico do tipo isquêmico. Após estabilização clínica, foi então encaminhado para o Hospital Universitário Getúlio Vargas. O Ecodopplercardiograma mostrou presença de grande “massa” aderida a válvula mitral (Figura 1C) medindo 3,5 x 0,9 cm, prolapsando para átrio esquerdo (AE) na sístole e ventrículo esquerdo (VE) na diástole, com grande mobilidade e alto poder emboligênico, com a presença de cordoalhas soltas (rompidas) no VE. Folhetos de valva aórtica (Figura 1D) espessados com imagem nodular (aspecto algodonoso) aderida a face ventricular do folheto “não coronariano”, medindo 1,8 x 0,45 cm. Regurgitação mitral de grau importante e pressão sistólica da artéria pulmonar estimada em 68 mmHg. Ao exame físico apresentava-se emagrecido, em mal estado geral, hipocorado (+++/+4). Na pele havia petéquias em flanco esquerdo, fossa ilíaca esquerda e hipogástrio, sem circulação colateral, além de presença de petéquias e máculas em membros inferiores (Figuras 1A e 1B) com edema (+/+4), Glasgow 15 e cavidade oral precária. Pelo quadro clínico arrastado, foi iniciada antibioticoterapia (penicilina cristalina e gentamicina) e decidido abordar cirurgicamente a vegetação com a colocação de duas próteses biológicas, uma em valva mitral e outra na aórtica. O material foi enviado para a microbiologia, apresentando cultura negativa, e na bacterioscopia, a presença de cocos grampositivos isolados. Após o procedimento cirúrgico, iniciou-se vancomicina e meropenem por conta da deterioração do estado geral do paciente, com piora da leucocitose e febre. Evoluiu ele para óbito duas semanas depois. Relato de Caso O exame apresentava ritmo cardíaco regular, P2>A2, com sopro sistólico em foco mitral (+5/+6) com irradiação para linha axilar média e sopro sistólico em foco aórtico (+3/+6) | 57 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Gonçalves et al 1B 1A Figura 1A: Fotografia de coxa direita: múltiplas áreas com máculas e petéquias. 1B: Fotografia de pés: inúmeras petéquias em dorso e planta de pés, associado a edema 1C 1D 1C: Ecocardiograma com Doppler Transtorácico: presença de grande “massa” aderida a válvula mitral medindo cerca de 3,5 x 0,9 cm, prolapsando para átrio esquerdo na sístole e ventrículo esquerdo (VE) na diástole, com a presença de cordoalhas soltas (rompidas) no VE. 1D: Ecocardiograma com Doppler Transtorácico: folhetos de valva aórtica espessados com imagem nodular (aspecto algodonoso) aderida a face ventricular do folheto “não coronariano”, medindo cerca de 1,8 x 0,45 cm, além da presença da massa em válvula mitral. Discussão na. Sendo assim, pela evolução da história da doença, nesse caso descrito, e o alto valor O Streptococcus pneumoniae foi responsável preditivo da positividade para o pneumococo, por 15% dos casos de endocardite infeccio- fez esse patógeno ser reconsiderado e aceito sa.9 Com o advento da penicilina, houve uma como a causa etiológica. redução e a incidência, hoje, é de 1 a 3%.10 Esse declínio resulta de um melhor controle A apresentação clínica predominante é a e prevenção da bacteremia.8,11,12 Alguns au- aguda, com uma evolução rápida, agressiva tores8 descrevem 197 casos de endocardite e associada a uma alta taxa de morbimorpneumocócica após a introdução da penicili- talidade. Os sinais e sintomas periféricos da | 58 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 ENDOCARDITE SUBAGUDA PLURIVALVULAR POR COCOS GRAM-POSITIVOS COM MÚLTIPLOS FENÔMENOS EMBÓLICOS PERIFÉRICOS endocardite não costumam estar presentes na etiologia pneumocócica, retardando o diagnóstico e tratamento. Além disso, complicações cardíacas e não cardíacas são comuns, em particular, instabilidade hemodinâmica, formação de abscessos e embolização sistêmica.8-12 Nesse caso relatado, o paciente evoluiu de uma forma arrastada e progressiva, evoluindo com embolização sistêmica, acometendo sistema nervoso central e fenômenos cutâneos disseminados, além de desenvolver alterações cardíacas estruturais, levando a uma piora da performance hemodinâmica. O S. pneumoniae acomete a válvula aórtica, preferencialmente, em comparação a outras válvulas, está relacionada a uma maior frequência de complicações locais. Não se sabe, no entanto, se a rápida destruição tecidual, levando à ruptura dos folhetos e insuficiência cardíaca, seria decorrente apenas da ação direta do pneumococo, ou estaria associada a fatores inerentes ao próprio organismo. A presença de grandes vegetações é também um achado frequente na infecção pneumocócica e aumenta os riscos de embolização,8,9,12 semelhante ao caso apresentado. Formas incomuns têm sido descritas, como a subaguda, com apenas quatro casos descritos na literatura.11 A embolia sistémica ocorre em 22 a 50% dos casos de endocardite infecciosa.7 Endocardites com vegetações grandes (dimensões superiores a 10 mm) acompanham-se habitualmente de fenômenos embólicos,13 mais frequentemente quando estão atingindo as válvulas à esquerda. significativa entre o tamanho das vegetações e a embolização subsequente, pois, em parte, esse fenômeno pode ser o resultado da diminuição do tamanho das vegetações, por conta da embolização prévia.5,7,19,20 A endocardite com hemoculturas negativas encontra-se em 5 a 27% dos doentes com diagnóstico de endocardite2,7,21 e está associada a organismos de crescimento lento como a Brucella, organismos não cultiváveis ou dificilmente cultiváveis nos meios usuais (organismos do grupo Hacek, Bartonella, Legionella, Coxiella burnetii, fungos) ou, mais frequentemente, deve-se ao uso de antibioterapia prévia à colheita das hemoculturas,7,22,23 como parece provável no caso apresentado. A terapêutica na endocardite infecciosa envolve decisões muitas vezes difíceis, dentre as quais estão a indicação cirúrgica e a escolha do momento adequado para a realização da intervenção. A indicação cirúrgica deve ser feita em pacientes que se beneficiem da intervenção. Dados na literatura demonstram que a mortalidade é extremamente alta quando os pacientes com complicações intracardíacas, evoluindo com instabilidade hemodinâmica, são tratados apenas com antibióticos, enquanto a mortalidade é reduzida quando o tratamento combina antibiótico e intervenção cirúrgica.12 Ainda que a incidência de endocardite pneumocócica tenha diminuído com o advento da penicilina, a morbimortalidade permanece elevada, atribuída a fatores tanto do hospedeiro (idade avançada, alcoolismo, diaAs endocardites multivalvulares associam-se betes mellitus e outras doenças associadas) com maior frequência ao aparecimento de in- quanto a microrganismo (propensão a infectar suficiência cardíaca e resultam habitualmente e rapidamente destruir as válvulas do lado esde Staphylococcus aureus ou Streptococcus querdo do coração). Portanto, o diagnóstico e viridans.14 o tratamento precoces são cruciais. Só assim poder-se-á alterar, de maneira significativa, a Estudo baseado na ETE, vegetações mitrais evolução desfavorável da endocardite pneude dimensões superiores a 1 cm foram as- mocócica. sociadas à maior risco de embolia,15,16 especialmente quando se localizavam no folheto O relato de caso acima mostra a importância anterior.17,18 Contudo, nem todos os autores da etiologia para o tratamento adequado de são unânimes em encontrar uma associação cada paciente, e da investigação sistemática | 59 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Gonçalves et al para se evitar as complicações que, por muitas vezes, são fatais. between 1974 and 1984. Am Heart J. 1986; 112: 813-819. Referências 10. Scheld WM, Sande MA. Endocarditis and Intravascular Infections. In: Mandell GL, Bennet JE, Dolin R. Principles and Practice of Infections Diseases. 4 ed. Churchill Livingstone. 1995. p. 740-773. 1. 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Clinical relevance of vegetation localization by transoesophageal echocardiography in infective endocarditis. Eur Heart J. 1992; 13: 446-452. | 60 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 ENDOCARDITE SUBAGUDA PLURIVALVULAR POR COCOS GRAM-POSITIVOS COM MÚLTIPLOS FENÔMENOS EMBÓLICOS PERIFÉRICOS 19. Steckelberg JM, Murphy JG, Ballard D et al. Emboli in infective endocarditis: the prognostic value of echocardiography. Ann Intern Med. 1991; 114: 635-640. 20. Manolis AS, Melita H. Echocardiographic and clinical correlates in drug addicts with infective endocarditis. Implication of vegetation size. Arch Intern Med. 1988; 148: 2461-2465. 21. Werner N, Andersson R, Olaison L, Hogevik H. A clinical study of culture-negative endocarditis. Medicine (Baltimore). 2003; 82(4): 263-273. 22. Hoen B, Selton-Suty C, Lacassin F et al. Infective endocarditis in patients with negative blood cultures: analysis of 88 cases from a one-year nationwide survey in France. Clin Infect Dis. 1995; 20: 501-506. 23. Tunkel AR, Kaye D. Endocarditis with negative blood cultures. N Engl J Med. 1992; 326: 12151217. | 61 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Franco et al NEOPLASIA CUTÂNEA ANEXIAL – DESAFIO DIAGNÓSTICO SKIN NEOPLASMS ADNEXAL- DIAGNOSTIC CHALLENGE Emily dos Santos Franco*, Thalita Gomes Martins*, Carla Vellen da Silva Menezes*, Silvana de Albuquerque S. Damasceno**, Antônio Schettini***, Romildo Camelo**** Resumo As neoplasias cutâneas anexiais apresentam variados aspectos morfológicos e por isso motivam diferentes designações e classificações. Neste relato de caso ressaltamos a dificuldade no diagnóstico desse tumor, pois como é raro, dificilmente é citado em livros ou textos e a divulgação de casos clínicos é importante para que os patologistas tenham seus sentidos aguçados para esse diagnóstico. Palavras-chave: Neoplasia Anexial Cutânea; Variação Morfológica; Diagnóstico Abstract The cutaneous adnexal neoplasms exhibit varied morphological and motivate why different designations and classifications. In this case report we emphasize the difficulty in diagnosis of this tumor as being rare, as it is hardly mentioned in textbooks and dissemination of clinical cases is important for pathologists to have their senses heightened to the diagnosis. Keywords: Cutaneous Adnexal Neoplasms; Varied Morphological; Diagnosis. Introdução As neoplasias cutâneas anexiais apresentam variados aspectos morfológicos e por isso motivam diferentes designações e classificações. Isso dificulta o diagnóstico desses tumores e torna necessário que o patologista esteja atento para os diferentes aspectos morfológicos de cada um deles. Apresentamos um caso de tumor anexial cutâneo glandular situado na derme e hipoderme com diferentes aspectos morfológicos, o qual teve como diagnóstico final adenoma tubular cutâneo. O Adenoma Tubular Apócrino (adenoma apócrino, hidradenoma tubulopapilar, adenoma tu- bular papilar) é um tumor benigno raro, que mostra uma predominância do sexo feminino (2:1) e uma distribuição ampla de idade (18-78 anos).1 O couro cabeludo é mais comumente afetado, embora as lesões têm sido descritas em uma variedade de outros sítios, incluindo a face, pálpebras, axila, membros inferiores e genitália. O último, no entanto, pode representar um adenoma anogenital de glândulas mamária-like. Aqueles que se apresentam no couro cabeludo, frequentemente são provenientes de um nevo sebáceo e são muitas vezes associados com siringocistadenoma papilífero. O tumor geralmente se apresenta como um nódulo dérmico de 1-2 cm de diâmetro ou como lesão pedunculada, com * Residentes de Patologia ** Patologista do DPML-Ufam ***Dermatologista da FAM ****Patologista da FCECON | 62 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 NEOPLASIA CUTÂNEA ANEXIAL - DESAFIO DIAGNÓSTICO frequência de duração de muitos anos, particularmente aqueles em desenvolvimento dentro de alguns nevos sebáceos. A lesão é benigna e sua recorrência é rara. Pode ser difícil distinguir Adenoma Tubular Apócrino de Adenocarcinoma Metastático e Carcinoma Apócrino,3,4 contudo a ausência de atipia nuclear e alto índice mitótico, juntamente com a idade do paciente, favorecem a natureza benigna desse tumor. Metástase não tem sido relatada, mas o tumor pode ser localmente agressivo se evidenciado invasão perineural.3,5 O tratamento do Adenoma Tubular Apócrino é a excisão cirúrgica. A cirurgia de Mohs tem sido utilizada com sucesso para remoção de uma variedade de neoplasias malignas da glândula sudorípara.6 Relato de Caso Paciente do sexo masculino, apresentando lesão tumoral no couro cabeludo, não doloroso, que foi totalmente excisada para fins de diagnóstico. No exame microscópico observase uma neoplasia bem delimitada constituída de lóbulos sólidos basofílicos formados por células com núcleo cromático escuro e outras de núcleos mais claros. (Figura 1) Um outro componente é cístico, contendo material eosinofílico em seu interior. Um terceiro componente é a presença de formações papilíferas arredondadas revestidas por dupla camada de células que exibem secreção apócrina (Figura 2). A neoplasia não mostra ligação epidérmica ou folicular. O diagnóstico final foi de adenoma tubular. Figura 1: Figura 1: Microscopia - neoplasia bem delimitada constituída de lóbulos sólidos basofílicos formados por células com núcleo cromático escuro e outras de núcleos mais claros | 63 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Franco et al Figura 2: Microscopia - presença de formações papilíferas arredondadas revestidas por dupla camada de células que exibem secreção apócrina Discussão Os tumores apócrinos incluem também nevo apócrino, glândulas apócrinas, cistoadenoma hidroadenoma papilífero, siringoadenoma papilífero. O adenoma tubular, também denominado adenoma tubular apócrino, adenoma túbulo-papilar apócrino e siringoadenoma tubular, é um tumor raro descrito inicialmente em 1972, por Landry and Winkelmann,7 em um caso em que estava associado com nevo sebáceo.2,8 Muitos autores enfatizam que na prática existe um espectro morfológico que varia do adenoma tubular ao siringocistoadenoma papilífero.9 Foi aventada a possibilidade do crescimento desse tumor ser estimulado por infecções por papiloma vírus10 e para alguns autores, na verdade, esse tumor seria melhor classificado como carcinoma.11 No caso aqui apresentado, o principal diagnóstico diferencial foi realizado com o siringocistoadenoma papilífero, que foi afastado, pois não se observava ligação das massas tumorais com a epiderme ou infundíbulo do pelo. Os tumores do grupo poroma foram descartados pela ausência de células poroides. A hipótese do hidroadenoma papilífero foi afastada pela morfologia dos lóbulos e localização clínica do tumor. Adenoma tubular apócrino difere do carcinoma apócrino papilar pela ausência de um padrão de crescimento infiltrativo e atipia citológica. Mitoses geralmente são escassas e formas anormais estão ausentes. No presente caso, assim como nos casos relatados por Mitsuishi e Ross, os aspectos morfológicos foram suficientes para o diagnóstico definitivo desse tumor; no entanto, em alguns casos, o estudo de imuno-histoquímica é necessário para confirmação diagnóstica, onde a superfície luminal das células de revestimento epiteliais tubulares mostra forte expressão de EMA e CEA. HMFG-1 e GCDFP podem estar presentes. As células mioepiteliais podem ser destacadas com proteína imuno-histoquímica SMA ou S-100. Finalmente, ressaltamos que o grande número de tumores anexiais cutâneos e suas diferentes linhagens celulares são obstáculos para o diagnóstico e classificação. O patolo- | 64 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 NEOPLASIA CUTÂNEA ANEXIAL - DESAFIO DIAGNÓSTICO gista deve estar atento às características de- 11. Requena L, Kiryu H, Ackerman AB. mográficas, topografia, aspectos morfológicos, Neoplasms with Apocrine Differentiation. achados imuno-histoquímicos e até ultraes- Philadelphia, Pa: Lippincott-Raven; 1998. truturais desses tumores para um diagnóstico mais qualificado. Referências 1. Calonje E, Brenner T, Lazar A. McKee’s Pathology of the Skin. 4 ed. Vol. 2. Elsevier Ltd. 2012. 2. Requena L. Neoplasias Anexiales Cutaneas. Madrid, Spain: Aulo Medico Ediciones. 2004. 3. Ross I, Shwayder T. Tubular Apocrine Adenoma: presentation in the vaginal introitus of an eight-year-old. Pediatric Dermatology, vol. 27, n 2, march/april; 2010. 4. Umbert P, Winkelmann RK. An unusual tubular apocrine adenoma. J. Cutan Pathol. 1976; 3: 75-87. 5. Burket JM, Zelickson AS. 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Am J Dermatopathol. 2007; 29: 256-263. | 65 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Schettini et al LINFANGIOLEIOMIOMATOSE: ANÁLISE DE UM CASO CLÍNICO LYMPHANGIOLEIOMYOMATOSIS: ANALYSIS OF A CLINICAL CASE Daniel Almeida Schettini,* Fernanda Almeida Schettini,* Aline Brasil Aranha,* Mário Sérgio Monteiro Fonseca** Resumo A linfangioleiomiomatose (LAM) é uma doença pulmonar rara, prevalecendo em mulheres jovens, provavelmente subdiagnosticada pelo desconhecimento dessa doença e sintomatologia inespecífica. Dada sua gravidade, faz-se adequado pensá-la como diagnóstico diferencial naquelas mulheres jovens com sintomas respiratórios não explicados por outras etiologias mais comuns. Relata-se o caso clínico de um paciente, sexo feminino, 38 anos, com quadro de tosse e dispneia aos esforços, tendo sido estabelecido diagnóstico histopatológico de linfangioleiomiomatose. Palavras-chave: Linfangioleiomiomatose; Dispneia; Mulheres Jovens. Abstract Lymphangioleiomyomatosis (LAM) is a rare lung disease, prevalent in young women, probably underdiagnosed due to the lack of knowledge about the disease and nonspecific symptoms presented. Because of its severity, it is appropriate to think of it as a differential diagnosis in those young women with respiratory symptoms unexplained by other more common etiologies. We report a case of a patient, female, 38 years old, with coughing and dyspnea, having received a histopathologic diagnosis of lymphangioleiomyomatosis. Keywords: Lymphangioleiomyomatosis; Dyspnea; Young Women. Introdução cas, retardando seu diagnóstico.1,3 A linfangioleiomiomatose (LAM) é uma doença rara que afeta principalmente mulheres na idade reprodutiva.1 Sua prevalência é de cerca de 1/1.000.000 na Europa e Estados Unidos. No Brasil, um estudo em São Paulo evidenciou 37 casos diagnosticados de pacientes com LAM, de 1982 a 2003.2 A LAM caracteriza-se do ponto de vista histopatológico pela proliferação de células com fenótipo de músculo liso em áreas peribrônquicas, perivasculares e perilinfáticas. Essa proliferação pode levar a obstrução aérea, formação de bolhas, lesões císticas, pneumotórax, quilotórax, ascite quilosa, hemoptise, hemossiderose1 e hipertensão arterial pulmonar retrógrada.2 Há também um remodelamento pulmonar impulsionado por enzimas degradadoras de matriz que clivam o colágeno, a elastina e os proteoglicanos. Entre elas destacam- Pela raridade da doença e sua inespecificidade clínica, a LAM pulmonar pode ser confundida com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica ou doenças intersticiais crônicas inespecífi- *Médico Residente de Clínica Médica do HUGV-Manaus/AM ** Médico Pneumologista, professor auxiliar da Disciplina de Propedêutica Médica da Universidade Federal do Amazonas | 66 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 LINFANGIOLEIOMIOMATOSE: ANÁLISE DE UM CASO CLÍNICO se as metaloproteinases (MMPs), uma grande família multigênica de endopeptidases dependentes de zinco que são coletivamente capazes de degradar todos os componentes de matriz conhecidos.4 Relato de Caso Paciente, sexo feminino, 38 anos, raça parda, procurou atendimento médico especializado por conta de tosse, dispneia progressiva, ocorrendo incialmente após grandes esforços e proA LAM se apresenta em duas formas: a es- gredindo até pequenos em período de um ano. porádica, que é mais comum, e a associada ao Recebeu diagnóstico prévio de asma, referindo complexo esclerose tuberosa. Nos doentes com melhora com introdução de broncodilatadoassociação de esclerose tuberosa identificam- res. Quanto a antecedentes pessoais, relatava se com frequência angiomiolipomas renais.1 A etilismo social. Negava tabagismo, doenças incidência dessa concomitância é em torno de pregressas e sintomas pulmonares prévios. 32 a 60%.3 Ao exame, paciente apresentava-se em bom estado geral, orientada, afebril, acianótica, O surgimento de dispneia e tosse seca de in- taquipneica, eucárdica. À ausculta pulmonar, tensidades progressivas, em mulheres no pe- apresentava murmúrio vesicular universalríodo fértil, sem história de doença cardior- mente reduzido sem ruídos adventícios. Ausrespiratória ou fator desencadeante, deve culta cardíaca e restante do exame físico sem levantar a suspeita de LAM, principalmente se alterações. associada a pneumotórax espontâneo.2 Possuía exames complementares que evidenRadiologicamente, caracteriza-se pela pre- ciavam: Hb de 13,8; leucócitos de 9.420 com sença de infiltrado intersticial reticulonodu- diferencial normal, função renal, hepática e lar e sinais de hiperinsuflação a radiografia eletrólitos normais. Autoanticorpos negativos, de tórax. Na tomografia computadorizada de imunoglobulinas e imunocomplexos com vaalta resolução, cistos de paredes finas, lo- lores normais. Prova de função pulmonar: discalizados centralmente, são visibilizados por túrbio obstrutivo moderado com CVF reduzida todo o parênquima do pulmão. O ultrassom CVF – 76%, VEF1 – 42%, VEF1/CVF – 55%. e a tomografia de abdome podem revelar angiomiolipomas renais e linfonodomegalias re- A tomografia computadorizada de tórax mostroperitoneais. Funcionalmente, a doença trou difusas formações císticas de parede fina caracteriza-se por um distúrbio ventilatório em ambos os pulmões associadas a opacidades obstrutivo, de caráter progressivo, com hiper- confluentes em vidro fosco comprometendo insuflação pulmonar e diminuição da difusão porções posteriores dos segmentos apicais e de monóxido de carbono.5,6 Apesar da ausência segmentos basais dos lobos inferiores. Aspecde comprovação quanto à eficácia, o principal tos compatíveis com linfangioleiomiomatose, tratamento utilizado ainda é o antiestrogênico cabendo como diagnóstico diferencial histiocie constitui-se de oofarectomia, progesterona tose de Langerhans (Figura 1). contínua, tamoxifeno e análogos de GnRH. Além desses, a realização de transplantes pulmonares tem elevado para além de dez anos a sobrevida média das pacientes. Algumas terapêuticas têm sido introduzidas recentemente baseadas nas novas descobertas fisiopatológicas, como doxiciclina pelo efeito inibidor de MMPs,7 e agentes imunomoduladores como sirolimus que demonstrou resultados positivos em estudos realizados. | 67 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Schettini et al Figura 1: Tomografia de tórax da paciente evidenciando múltiplos cistos de paredes finas, tamanhos variados, alguns confluentes e que substituem a cortical e medular pulmonares difusamente. Paciente iniciou acompanhamento e após dois meses foi internada para realização de biópsia pulmonar a céu aberto objetivando esclarecimento diagnóstico e para compensação clínica dos sintomas da doença se haviam se intensificado nas últimas semanas. O procedimento cirúrgico foi realizado sem intercorrências e o laudo histopatológico obtido, os critérios morfológicos não foram suficientes ao diagnóstico, sendo indicado estudo imuno-histoquímico. Este foi realizado duas semanas após e evidenciou os seguintes achados: parênquima pulmonar com áreas de aspecto cístico, cujas paredes eram revestidas por células alongadas, sem atipias, com coexpressão de desmina, do antígeno gp100 e de receptor de estrógeno, consistentes com diagnóstico de linfangioleiomiomatose. Após confirmação diagnóstica, foi mantido tratamento com drogas inalatórias para broncoespasmo: budesonida associada a formoterol duas vezes ao dia, nebulizações com fenoterol associado a ipratrópio em intervalos de 4 horas e oxigênio inalatório. Foi introduzida também doxiciclina 100 mg/dia para inibição de metaloproteinases de matriz. Observou-se, no dia subsequente, piora do quadro clínico, diagnosticando-se pneumotórax associado à fístula broncopleural no local da biópsia, além de infiltrado pneumônico, havendo necessidade de internação em unidade de terapia intensiva. A progressão das complicações não pôde ser evitada, mesmo com uso de múltiplos antimicrobianos de largo espectro (antibacterianos, antifúngicos, antivirais), drenagem pleural, correção cirúrgica da fístula e a paciente evoluiu com necessidade de suporte ventilatório com pressão positiva e subsequentemente para o óbito por insuficiência respiratória aguda. Discussão A correlação entre a ação hormonal e o surgimento da LAM sempre foi aventada, com a observação de acometimento quase que exclusivo de mulheres e pelo fato de que, naqueles casos de relatos masculinos, geralmente são pacientes com perfil hormonal não androgênico. Há, contudo, relatos de casos também em crianças e mulheres no período pós-menopausa.2 A gravidez pode exacerbar a doença, sendo, então, desaconselhada.1 A história natural é de restrição progressiva ao fluxo aéreo podendo evoluir com falência respiratória e cor pulmonale. Entretanto, as taxas de progressão variam muito entre pacientes.5 O caso clínico relatado demonstra o acometimento de uma mulher, corroborando as evidências epidemiológicas que mostram a | 68 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 LINFANGIOLEIOMIOMATOSE: ANÁLISE DE UM CASO CLÍNICO prevalência nesse gênero. A progressão para estágios finais foi de aproximadamente dois anos após o diagnóstico, associado a múltiplas complicações. As principais manifestações pulmonares incluem dispneia progressiva, pneumotórax recorrente, derrame pleural quiloso, hemoptise e eventual insuficiência respiratória.3 O exame físico geralmente não chama a atenção para essa doença especificamente. Crepitações e roncos podem ser detectados à ausculta pulmonar. O hipocratismo digital é raro e o derrame pleural ou ascite podem ser encontrados.1 Nas provas de função ventilatória, a LAM se apresenta como um quadro obstrutivo progressivo.2 Observou-se no caso relatado tal padrão, associado à resposta broncodilatadora, o qual induziu o diagnóstico inicial de asma, que subsequentemente foi descartado. O exame de imagem ideal é a tomografia computadorizada de alta resolução. No presente caso, foi demonstrado o padrão característico de cistos distribuídos pelo parênquima pulmonar sem nenhuma forma de distribuição específica, possibilitando a hipótese diagnóstica da LAM, confirmada posteriormente com a realização do padrão-ouro diagnóstico, biópsia com estudo imuno-histoquímico.5,8 O tratamento é o principal desafio, pela pouca quantidade de estudos realizados. O transplante pulmonar parece ser a alternativa mais eficaz atualmente, porém com disponibilidade insuficiente no Brasil, além de induzir complicações inerentes à imunossupressão. A recidiva da doença tem sido relatada em pacientes com mais de dez anos do transplante. Apesar da ausência de comprovação quanto à eficácia, terapêuticas antiestrogênio têm sido tentadas, como a medroxiprogesterona, o tamoxifeno e análogos do hormônio luteinizante, bem como a ooforectomia. Outra estratégia possível, com maior acessibilidade, é o uso de doxiciclina que, apesar de não ter sido utilizada em grandes estudos, já demonstrou melhora da oxigenação e redução significativa das MPPs em relatos e séries de caso.1,9 No caso relatado, não foi possível observar o efeito desses medicamentos, pois a paciente evoluiu desfavoravelmente após apresentar complicações pós-operatória e infecciosa, agravadas pela fragilidade do parênquima pulmonar, conduzindo ao óbito em curto período de tempo. Referências 1. Valente C et al. Linfangioleiomiomatose – A propósito de três casos clínicos. Rev. Port. Pneumol. Lisboa. 2010; 16(1). 2. Medeiros Júnior P, Carvalho CRR. Linfangioleiomiomatose pulmonar. J. Bras. Pneumol. São Paulo. 2004; 30(1). 3. Ueng SH et al. Pulmonary lymphangioleiomyomatosis: a clinicalpathological analysis of ten cases. Chang gung med. Taiwan. 2004; 27(3). 4. Mccormack FX. O caminho à frente da linfangioleiomiomatose: um ensaio para cada paciente, cada paciente em um ensaio. J. Bras. Pneumol. São Paulo. 2011; 37(4). 5. Zhang X, Travis WD. Pulmonary lymphangioleiomyomatosis. Arch patol lab med. Nova York. 2010; 134. 6. Glassberg MK. Lymphangioleiomyomatosis. Clin chest med. Miami. 2004; 25: 573-582. 7. Pimenta SP et al. Doxiciclina em pacientes com linfangioleiomiomatose: segurança e eficácia no bloqueio de metaloproteinases. J. Bras. Pneumol. 2011; 37(4). 8. Castro Netto EC et al. Linfangioleiomiomatose pulmonar: aspectos na tomografia computadorizada de alta resolução. Radiol bras. 2003; 36(4): 193-198. 9. Silva OR et al. Linfangioleiomiomatosis pulmonar: caso clínico. Rev. Méd. Chile. 2009; 137(11): 1474-1477. | 69 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Abrahim et al ENDOMETRIOMA DE MÚSCULO RETO ABDOMINAL: RELATO DE CASO RECTUS ABDOMINIS ENDOMETRIOMA: A CASE REPORT Maressa de Moura Abrahim,*Humberto Pereira de Souza Silva**Meire de Oliveira Silva** Adilson Cunha Ferreira*** Resumo O endometrioma extrapélvico é mais comumente encontrado em cicatriz cirúrgica abdominal, principalmente após cesariana ou procedimento cirúrgico ginecológico. A manifestação mais comum é a presença de massa palpável em parede abdominal, dolorosa, com aumento de volume e sensibilidade de acordo com a fase do ciclo menstrual,10 porém cerca de 30% dos casos são assintomáticos. Métodos de imagem, dentre os quais a ultrassonografia, são importante para delimitar o tamanho da lesão, grau de comprometimento da parede abdominal e auxiliarem no diagnóstico definitivo se associados com a punção aspirativa com agulha fina (PAAF). Relatamos o caso de uma paciente de 33 anos, submetida à cesariana havia um ano e onze meses, queixando dor em hipogastro, diária, tipo ardência, sem relação com ciclos menstruais havia um mês. A ecografia de parede abdominal com PAAF evidenciou lesão complexa, expansiva, em topografia do músculo reto abdominal direito com saída de secreção espessa achocolatada, típica de endometriose. Palavras-chave: Endometriose Extrapélvica; Endometriose de Reto Abdominal; Nódulo em Parede Abdominal; Ultrassonografia. Abstract The Extrapelvic endometrioma is most commonly found in abdominal surgical scars, especially after cesarean or gynecologic procedures. The most common manifestation is the presence of a palpable mass in the abdominal wall with swelling and sensitivity according to the phase of the menstrual cycle, though about 30% of cases are asymptomatic. Imaging tests, among which is ultrasonography, are important to define the size of the lesion, degree of involvement of the abdominal wall and to assist in the definitive diagnosis when associated with fine needle aspiration (FNA). We report the case of a patient of 33 years of age, who underwent a cesarean about a year and eleven months ago, complaining about daily, burning, hypogastric pain, unrelated to menstrual cycles a month ago. The abdominal ultrasound with performing FNA showed a expansive complex lesion, in topography of the right rectus muscle and emitting a chocolaty thick secretion, typical of endometriosis. Keywords: Extrapelvic Endometrioma; Endometrioma of Rectus Abdominis; Nodule in the Abdominal Wall; Ultrasonography. Trabalho realizado na Escola de Ultrassonografia e Reciclagem Médica de Ribeirão Preto (EURP) *Médica residente de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Universitário Dona Francisca Mendes – Universidade Federal do Amazonas – Ufam **Alunos da EURP. *** Professor da EURP. | 70 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 ENDOMETRIOMA DE MÚSCULO RETO ABDOMINAL: RELATO DE CASO Introdução O sítio de implante mais comum do endometrioma fora da cavidade pélvica é a cicatriz cirúrgica, com incidência de 0,03 a 1,08%,6 principalmente após cesariana7,8 ou procedimento cirúrgico ginecológico.9,10 tro, tipo ardência, diária, com piora aos esforços físicos, sem relação com ciclos menstruais, provavelmente pelo uso regular de anticoncepcional oral no último ano. Paciente relata ter notado massa palpável dolorosa na região mencionada, o que a motivou a procurar assistência médica. História ginecológico-obstétrica: duas gestações, sendo ambas cesarianas; nega abortamentos. Último parto havia um ano e onze meses, lactante até o presente momento. Ao exame físico, observou-se massa palpável, dolorosa, de consistência endurecida, com aproximadamente 3 centímetros de diâmetro, em hipogastro. Realizou-se ecografia de parede abdominal, com aparelho da marca Esaote, modelo MyLab50, evidenciando lesão complexa, expansiva, em topografia do músculo reto abdominal direito, medindo 3,3 x 1,3 x 3,1 cm. O modo Doppler colorido não evidenciou neovascularização da lesão. Realizouse PAAF, agulha g21, 40 x 38 mm, com saída de secreção espessa achocolatada com coleta de cinco lâminas para análise citológica. Estima-se que cerca de 30% dos casos sejam assintomáticos. A manifestação mais comum é a presença de massa palpável na parede abdominal, dolorosa, com aumento de volume e sensibilidade de acordo com a fase do ciclo menstrual.10 Apesar de a paciente não apresentar história clínica típica para endometriose, o aspecto da lesão à ecografia e do material à punção dela contribuiu consideravelmente para a hipótese de endometrioma, a qual foi confirmada pela análise citológica. A endometriose é uma condição benigna e progressiva, caracterizada pela presença de implantes de tecido endometrial funcionante, glândulas endometriais e estroma, fora da cavidade e da musculatura uterina,1 geralmente responsivos à estimulação hormonal. É denominada endometrioma quando se apresenta como massa circunscrita, com presença de coleção de líquido espesso de coloração achocolatada. Inicialmente descrita em detalhes por Von Rokitansky em 1860, sua visão moderna apenas se iniciou em 1927, com Sampson.2 Acomete cerca de 10 a 15% das mulheres em fase reprodutiva,3,4,5 podendo chegar até a 60% em mulheres com infertilidade.5 A suspeição diagnóstica, embora difícil apenas com o exame físico, deve ser sempre aventada quando a sintomatologia coincide com o período menstrual. Este relato de caso tem como objetivo demonstrar a importância de exames complementares, dentre os quais a ultrassonografia, no provável diagnóstico, pois o auxiliam, delimitam o tamanho da lesão, o grau de comprometimento da parede abdominal e se associado à punção aspirativa com agulha fina (PAAF), evidenciando líquido achocolatado, fecha o diagnóstico. Relato de Caso Paciente do sexo feminino, 33 anos de idade. Compareceu à EURP para realização de ecografia de parede abdominal em outubro de 2011, pois havia cerca de um mês iniciou quadro de dor abdominal intensa em hipogas| 71 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Abrahim et al Figura 1: Ecografia da parede abdominal com transdutor linear de 12 MHz. Figura 2: Ecografia da lesão em nível de músculo reto abdominal com transdutor linear de 18 MHz. | 72 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 ENDOMETRIOMA DE MÚSCULO RETO ABDOMINAL: RELATO DE CASO Discussão As manifestações clínicas da endometriose são implantes endometrióticos peritoniais, endometriomas (cistos endometrioides), infiltração endometriótica profunda e aderências pélvicas.12 A endometriose extraperitoneal manifesta-se nos pulmões, pleura, pele, músculo esquelético e sistema nervoso central, sendo descrita virtualmente em todos os órgãos.12 Quando na parede abdominal, localiza-se preferencialmente próximo de ou em uma cicatriz cirúrgica. Embora ocorra na maioria dos casos em pacientes com passado de cesariana,7 o endometrioma tem sido também observado em incisão operatória pós-histerectomia convencional ou laparoscópica,9,10 apendicectomia e hérnia inguinal, assim como já foi descrito em pacientes sem nenhuma intervenção prévia.8 Para a profilaxia da endometriose pós-cesariana, Wasfie7 recomenda a irrigação vigorosa da ferida operatória com solução salina antes do fechamento da parede abdominal. Figura 3: Sítios mais comuns de endometriose. O tempo decorrido entre a operação prévia e o aparecimento dos sintomas decorrentes da instalação do processo pode variar de seis meses até 20 anos.8 Os sintomas mais comuns do endometrioma de parede abdominal incluem dor abdominal crônica ou cíclica, usualmente piorada por tosse ou contrações da musculatura abdominal, irregularidade menstrual e infertilidade; os sinais mais comuns são massa palpável em área de cicatriz incisional, geralmente dolorosa e que varia de tamanho sincronicamente aos períodos menstruais. Também pode ocorrer sangramento cíclico da massa dolorosa.15 A pele sobrejacente pode ser hiperpigmentada pelo depósito de hemossiderina.16 O achado ultrassonográfico de massa sólida na parede abdominal não é patognomônico de endometriose, mas sua localização perto de uma cicatriz de cesariana deve ser a primeira consideração no diagnóstico diferencial. O aspecto ecográfico dessas massas é de lesões sólidas e hipoecoicas na parede abdominal com vascularização interna à avaliação com power Doppler.16 A aparência da imagem do endometrioma pode ser mais heterogênea, com alterações císticas frequentes por conta do sangramento intralesional associado à menstruação.16 As lesões são geralmente bem delimitadas e a musculatura da parede abdominal é usualmente envolvida, com a massa localizada parcial ou totalmente dentro do músculo. A Ressonância Nuclear Magnética (RMN) pode demonstrar a presença de hemossiderina no interior da lesão e auxiliar na confirmação diagnóstica. No entanto, os achados característicos do endometrioma de parede abdominal não são específicos tanto no ultrassom como na Tomografia Computadorizada (TC) e na RMN.16 Em estudo de séries de casos, nenhum método mostrou-se superior à ultrassonografia, afirmando-se importante na avaliação diagnóstica e pré-operatória das massas de parede abdominal, uma vez que é o exame de menor custo e, associado à PAAF, permite melhor avaliação do diagnóstico definitivo; além de auxiliar na determinação do envolvimento subcutâneo e fascial, importantes para o planejamento | 73 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Abrahim et al cirúrgico.5 Outras possibilidades diagnósticas para massas dentro da bainha do reto incluem neoplasias, tais como tumor desmoide, sarcoma, carcinoma de ovário, melanoma, linfoma e lesões não neoplásicas, como hematoma e abscesso.11 4. Passos EP, Freitas F, Cunha Filho JS, Facin AC. Endometriose. In: Freitas F, Menke KH, Rivoire W, Passos EP. Rotinas em Ginecologia. 4 ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. p. 102-9. 5. Ferreira AC, Mauad Filho F, Nicolau LGC, Leston AR, Mendonça JV, Serrano VAM et al. Contribuição da ultrassonografia de alta O tratamento do endometrioma de parede ab- frequência no diagnóstico de endometrioma dominal é essencialmente cirúrgico e tem como de parede abdominal: relato de caso. Rev. objetivo principal a completa ressecção do Imagem. 2006; 28(3): 193-6. processo, uma vez que não deve permanecer nenhum resto de tecido endometrial na área 6. Chatterjee SK. Scar endometriosis: a comprometida. Por isso, a excisão deve ser clinicopathologic study of 17 cases. Obstet ampla18,19,20 para retirar todos os segmentos de Gynecol. 1980; 56: 81-4. pele, tecido subcutâneo, músculos, aponeuroses e peritônio potencialmente envolvidos. Se 7. Wasfie T, Gomez E, Seon S, Zado B. Abdominal possível, o defeito criado pela excisão alarga- wall endometrioma after cesarian section: da deve ser corrigido com os próprios músculos A preventable complication. Int. Surg. 2002; 87: e aponeuroses abdominais. Porém, quando isso 175-77. implicar em alguma tensão nas linhas de suturas, a opção mais utilizada é o uso de prótese de poli- 8. Koger KE, Shatney CH, Hodge K, propileno. Mcclenathan JH. Surgical scar endometrioma. Surg. Gynecol & Obstet. 1993; 177: 242-6. Concluindo, embora o diagnóstico definitivo ainda requeira biópsia para análise histopa- 9. Wilson H, Shaxted E. Implatation endometrioma at tológica, a sintomalogia cíclica do paciente a port site after laparoscopic abdominal supracervical e história de cirurgia uterina anterior, junta- hysterectomy. Gynaecological endoscopy. 1999; 8: 245. mente com os achados ecográficos e o aspecto do conteúdo da lesão à PAAF, devem sugerir 10. Nirula R, Greaney GC. Incisional endometriosis: fortemente o diagnóstico correto. Deve-se dar an underappreciated diagnosis in general surgery. preferência à ecografia como método comple- J. Am. Coll. Surg. 2000; 190: 404-7. mentar em primeiro momento pelo fácil acesso e baixo custo, além de possibilitar a biópsia da 11. Woodward PJ, Sohaey R, Mezzetti Jr TP. lesão durante a realização do exame. Endometriosis: Radiologic-Pathologic. Radiographics. 2001; 121: 193-216. Referências 1. Jubanyik KJ, Comite F. Extrapelvic endometriosis. Obstet Gynecol Clin N Am, New York. 1997; june; 24(2): 411-40. 2. Sampson JA. Peritoneal endometriosis due to menstrual dissemination of endometrial tissue into the pelvic cavity. AM J Obstet Gynecol. 1927; 14: 422-69. 3. Podgaec S, Abrão MS. Endometriose: aspectos atuais do diagnóstico e tratamento. RBM Rev Bras Med. 2004; 61: 41-6. 12. Park SB, Kim JK, Cho KS. Sonography of endometriosis in infrequent sites. J Clin Ultrasound. 2008; 36(2): 91-97. 13. Coley BD, Casola G. 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Villa Verde II – Santo Agostinho – CEP: 69036-800 Fone: (92) 9995 8645, 9603 8800, Fax: (92) 3655 0129 E-mail: [email protected] | 75 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Westphal et al INCISÃO DE CLAMSHELL PARA A RESSECÇÃO DE TUMOR GIGANTE DO MEDIASTINO CLAMSHELL INCISION FOR MEDIASTINAL GIANT TUMOR RESECTION Fernando Luiz Westphal,*Luís Carlos de Lima,**José Corrêa Lima Netto,***Katienne Frota de Lima,****Stephany da Cunha Seelig**** Resumo Os teratomas são neoplasias de células germinativas mais comuns do mediastino, com preferencia pelo mediastino antero-medial. Tais tumores tendem a apresentar sintomas apenas quando atingem grandes dimensões, tendo como principal conduta a ressecção cirúrgica. Relatamos o caso de uma paciente de 38 anos com quadro de dispneia intensa. Após a realização de exames complementares, foi evidenciado massa tumoral em hemitórax esquerdo, comprometendo a qualidade de vida desta paciente, optando-se pelo tratamento cirúrgico. Para a retirada dessa massa foi realizada uma bitoracotomia anterior transesternal, incisão que permite melhor visualização do campo operatório, expondo ambas cavidades pleurais e o hilo pulmonar, facilitando assim a excisão de grandes tumores como o desta paciente. Apesar de esta técnica ser a ideal para este caso e condições semelhantes, possuem algumas desvantagens como abertura e fechamento mais demorado da caixa torácica, osteomielite e ligadura das duas artérias torácicas. Entretanto já existem métodos capazes de minimizar tais ocorrências. A videotoracoscopia é uma alternativa para ressecção de tumores de mediastino, contraindicada neste caso por se tratar de um tumor volumoso e que provoca desvio mediastinal. Palavras-chave: Teratoma; Neoplasias de mediastino; Toracotomia Abstract Teratomas are the most common mediastinal neoplasm germ cell, with preference along the anteromedial mediastinum. These tumors tend to present symptoms only when they have already reached large scale, and surgical resection is the main conduit. We report the case of a 38 year old female with severe dyspnea. After conducting additional tests, a tumor mass in the left hemithorax was evident, compromising this patient’s quality of life , opting for surgical treatment. For the removal of this mass a trans-sternal double thoracotomy incision was chosen, because it allows better visualization of the operative field , exposing both pleural cavities and the pulmonary hilum , thus facilitating the excision of large tumors, like those in this patient’s case. Although this technique is ideal for this case and similar conditions, there are some disadvantages, such as longer time in opening and closing the ribcage, osteomyelitis and ligation of both thoracic arteries. However there are already methods to minimize such occurrences. Thoracoscopy is an alternative to resection of mediastinal tumor and contraindicated in this case because it is a bulky tumor that causes mediastinal shift. Keywords: Teratoma; Mediastinal Neoplasms; Thoracotomy *Diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão do HUGV **Cirurgião Chefe, Serviço de Cirurgia Torácica do HUGV ***Médico Assistente, Serviço de Cirurgia Torácica do HUGV ****Acadêmica de Medicina da UFAM | 76 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 INCISÃO DE CLAMSHELL PARA A RESSECÇÃO DE TUMOR GIGANTE DO MEDIASTINO Introdução Relato de Caso Os teratomas são tumores benignos derivados dos três tecidos embrionários primitivos. Correspondem às neoplasias de células germinativas mais comuns do mediastino, com incidência mais acentuada no mediastino anteromedial. Possuem um pico de incidência entre a segunda e a terceira décadas de vida, não havendo preferência por gênero. O tumor geralmente é constituído de tecidos bem diferenciados, como osso, cartilagem, músculo, nervo, glândulas e fios de cabelo.1 Paciente do sexo feminino, 38 anos, foi admitida no Serviço de Urgência com queixa de dispneia intensa, evoluindo havia três meses. Ao exame clínico, foi constatado Índice de Dispneia Modificado do MRC (Medical Research Council) de grau 3.3 Esses tumores geralmente são diagnosticados quando atingem grandes dimensões e causam sintomas como dispneia, dor torácica, tosse, síndrome da veia cava superior e disfagia pela compressão das estruturas adjacentes, além de febre e perda de peso. A localização e o tamanho do tumor são os principais fatores que definem a técnica cirúrgica a ser empregada. O objetivo deste relato de caso é demonstrar a utilização da incisão de Clamshell na exérese desse Teratoma Gigante do Mediastino, salientando suas vantagens em relação aos outros tipos de incisão.1,2 Ao exame físico, observou-se ausência de murmúrio vesicular nos 2/3 inferiores do hemitórax esquerdo, além de som maciço à percussão da mesma região. Outros achados foram desvio do ictus cordis para direita e ausculta cardíaca mais audível no hemitórax direito. A Tomografia Axial Computadorizada de tórax evidenciou massa tumoral em hemitórax esquerdo, causando compressão de pulmão esquerdo e determinando o desvio do mediastino para direita, com 16 x 14 cm. A tumoração apresentava áreas com diferentes densidades, assim como presença de tecido calcificado (Figura 1). Figura 1: Tomografia Computadorizada mostrando a extensão do Teratoma. A seta indica presença de calcificação tumoral. A paciente foi submetida à bitoracotomia anterior trans-esternal – incisão de Clamshell (Figura 2). A massa mediastinal foi excisada e enviada para análise histopatológica (Figu- ra 3). A evolução pós-operatória ocorreu sem complicações, com alta no sétimo dia de pósoperatório. | 77 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Westphal et al Figura 2: Exérese do Teratoma Gigante de Mediastino. Figura 3: Macroscopia do Teratoma Gigante de Mediastino. Discussão A primeira linha de tratamento para os teratomas de mediastino é a cirurgia, pois a ressecção completa do tumor representa um bom prognóstico e é considerado o único tratamento curativo. A cirurgia é necessária visto que o tumor pode comprimir tecidos adjacentes e causar sintomas, além da possibilidade de sofrer degeneração maligna.4 A ressecção do teratoma pode ser feita por toracotomia lateral ou esternotomia mediana. A escolha da incisão depende da localização e da extensão do tumor.4 A toracotomia anterior bilateral com secção esternal transversa, também conhecida como incisão de Clamshell, é realizada por meio da secção transversa do esterno e dos músculos peitorais e serráteis de ambos os lados do tórax.5 A incisão de Clamshell acessa ambos os | 78 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 INCISÃO DE CLAMSHELL PARA A RESSECÇÃO DE TUMOR GIGANTE DO MEDIASTINO hemitóraces, possibilitando uma visualização excelente do campo operatório, permitindo a realização de intervenções operatórias na maioria dos órgãos intratorácicos. Ao possibilitar tal acesso, mesmo estruturas localizadas mais posteriormente e profundamente ao parênquima pulmonar, podem ser manipuladas caso haja necessidade.3 Oferece exposição de ambas as cavidades pleurais e do hilo pulmonar, além de excelente visualização de coração e grandes vasos torácicos.6 É considerado um excelente acesso para as cirurgias de urgência quando há necessidade de exploração do mediastino, principalmente para controle de sangramento. É de extrema importância para abordagem de massas volumosas que venham acometer ambos os lados do tórax, e também possui utilização significativa em cirurgias de transplante pulmonar bilateral.5 Além disso, em mulheres, apresenta um bom resultado estético. As principais desvantagens incluem tempo mais demorado da abertura da cavidade, assim como seu fechamento, incisão mais extensa, osteomielite, acavalgamento do esterno, ligadura das duas artérias torácicas e dor torácica crônica.5 Para evitar tais desvantagens, uma alternativa é a realização da técnica de incisão bilateral sequencial por meio de duas toracotomias anterolaterais, sem divisão do esterno (chamada Clamshell esterno-poupadora). Tal técnica evita o ligamento das artérias torácicas internas, que permanecem disponíveis para procedimentos futuros, como revascularização miocárdica, caso seja necessário. Também não faz uso da esternotomia, evitando risco de osteomielite, e diminui o estiramento do nervo frênico e do plexo braquial, diminuindo a dor crônica.6 Caso seja imprescindível a realização da esternotomia, a literatura descreve a utilização de fios de Kirschner de grande calibre ou pinos de Steinmann para o fechamento do esterno, sem que seja necessário realizar sua substituição, e com menor risco de morbidade.6,7 A Videotoracoscopia pode ser usada tanto para diagnóstico quanto para ressecção de tumores mediastinais. No mediastino anterior é geralmente usada para ressecção de massas císticas, sendo que a visibilização pela toracoscopia das massas mediastinais anteriores é superior à visibilização da mediastinoscopia. É um procedimento seguro e efetivo que provoca menor agressão à parede torácica, possui baixa morbidade, menor tempo de internação hospitalar e consequentemente redução de custos hospitalares.8 As contraindicações desse método restringemse a presença de tumores malignos e invasivos, pois nesses casos somente a toracotomia, a esternotomia ou a toracotomia com esternotomia são oncologicamente mais propensas. Tumores benignos volumosos que apresentam comportamento compressivo e provocam desvio do mediastino, assim como tumores localizados na carina, que possuem difícil dissecção, são as únicas contraindicações para realização de videotoracoscopia em pacientes com tumores benignos do mediastino.9 Logo, como os teratomas geralmente apresentam-se com grandes dimensões e quando situados no mediastino apresentam sintomas compressivos que limitam as atividades cotidianas dos pacientes, é de suma importância a realização de procedimento cirúrgico para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. A retirada de tumores da cavidade torácica, especificamente no mediastino, requer técnica que permita uma boa visualização da cavidade e um bom acesso a esses grandes tumores, retirados em sua totalidade, evitando a lesão de estruturas adjacentes. Dentre as técnicas de toracotomia disponíveis, a incisão de Clamshell tem sido descrita como a melhor em termos de acesso e visualização da cavidade torácica. Além dessa característica primordial, levando em consideração a paciente do sexo feminino, a cicatriz tem localização inframamária, com ótima apresentação estética no pós-cirúrgico. Referências 1. Joe B. Putnam. Lung, Chest Wall, Pleura, and Mediastinum. In: Townsend CM, Beauchamp | 79 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Westphal et al RD, Mattox KL, editors. Sabiston Textbook of Surgery: The Biological Basis of Modern Surgical Practice. Elsevier. 2012; Chapter 58: 1564-1610. 2. Moraes RM, Tavares MRF, Vita AG, Bernardi Júnior C, Sellera CAC, Ribeiro AT. Massa torácica sintomática em adulto jovem: teratoma gigante do mediastino. Relato de caso. Rev. Soc. Bras. Clín. Méd. 2011; 9(2): 154-6. 3. Laizo A. Doença pulmonar obstrutiva crónica: Uma revisão. Rev Port Pneumol [periódico na Internet]. 2009; nov [citado em 2013 Out 25]; 15(6): 1157-1166. 4. Santos PC, Maia CP, Pereira JCP, Oliveira TCA. 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No entanto, com o advento da tecnologia, a utilização de próteses autoexpansíveis (stents) por via endoluminal vem ganhando destaque pelas vantagens de menor tempo cirúrgico, recuperação pós-cirúrgica mais rápida e menores índices de complicações. Este é o primeiro relato de caso da literatura do Estado do Amazonas sobre a correção imediata, por meio de colocação de stent via endovascular, de lesão de aorta torácica descendente ocasionada por trauma torácico fechado. Paciente evoluiu satisfatoriamente, sem sinais de vazamento e com cobertura total da lesão, recebendo alta sem complicações no 28.º dia de internação hospitalar. Palavras-chave: Trauma Torácico; Aorta; Stent. Abstract Thoracic trauma has the potential to injure the thoracic aorta, which should be approached as an emergency requiring standard open surgery (thoracotomy and direct repair of the lesion). However, with the advent of technology, the use of self expandable prostheses (stents) by endoluminal via is gaining prominence due to the advantages of shorter operative time, quicker postoperative recovery and lower complication rates. This is the first case report in the literature in the State of Amazonas of immediate correction using endovascular stenting in a descending thoracic aortic injury caused by blunt chest trauma. The patient had satisfactory recovery, with no signs of leakage and total coverage of the injury, and was discharged with no complications on the 28th day of hospitalization. Keywords: Chest Injury; Aorta; Stent. Introdução O trauma de aorta torácica é uma situação de extrema gravidade, em geral consequência de acidente automobilístico ou traumas penetrantes diretos, com 80 a 90% de mortes no local da ocorrência do trauma1 e, quando conseguem chegar ao pronto-socorro vivos, a mortalidade situa-se em torno de 32%, sendo que aproximadamente um terço destes evolui para óbito após a abordagem cirúrgica.2 * Cirurgião Torácico e Diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão do HUGV ** Cirurgião Torácico do HUGV *** Cirurgião Cardiovascular ****Médica ***** Médica Residente de Cirurgia Geral da Fundação Hospital Adriano Jorge, Manaus – AM | 81 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 CORREÇÃO POR STENT DE LESÃO TRAUMÁTICA AGUDA DE AORTA TORÁCICA: RELATO DE CASO O tratamento convencional consiste em cirurgia aberta: a realização de toracotomia com interposição de enxerto por técnicas de simples pinçamento ou pelo estabelecimento de desvios temporários do fluxo sanguíneo com ou sem o auxílio de bombas centrífugas. A mortalidade é de aproximadamente 15% por gerar grande resposta endócrina, metabólica e imunológica por ser de grande porte, podendo não ser bem tolerada por um paciente mais crítico.4 Nesse contexto, a utilização de endoprótese autoexpansível (stent) no tratamento das doenças da aorta torácica descendente vem ganhando destaque nos últimos 20 anos e tornando-se opção de tratamento aceitável ao se comparar com a cirurgia aberta, apesar de carecer de mais estudos. O menor risco do procedimento endoarterial demonstrado em alguns estudos, associado à vantagem teórica de um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, convenceu pesquisadores a relatarem séries de casos utilizando preferencialmente o tratamento endovascular para pacientes apresentando ruptura traumática de aorta.5 Neste trabalho descrevemos o tratamento com evolução favorável de ruptura parcial de aorta torácica utilizando-se prótese endovascular autoexpansível (stent), sendo esse o primeiro caso relatado na literatura deste Estado. Relato de Caso Paciente de sexo feminino, 55 anos, diabética, foi admitida em Serviço de ProntoSocorro vítima de acidente automobilístico com história de traumatismo torácico fechado de forte intensidade em tórax e abdômen superior, com mecanismo de desaceleração súbita. Evoluiu com dor torácica anterior intensa e dispneia progressiva. Apresentava-se hemodinamicamente estável. Após medidas iniciais de atendimento, foi submetida a estudo radiológico do tórax que evidenciou áreas de hipotransparência em lobo superior direito com alargamento mediastinal (Figura 1). Realizada ultrassonografia abdominal a qual mostrou áreas de hematoma hepático. A angiotomografia (angioTC) de tórax revelou área de hematoma periaórtico logo abaixo da artéria subclávia esquerda (Figura 1). Havia também sinais sugestivos de lesão da íntima. Figura 1: À esquerda: radiografia de tórax evidenciando alargamento de mediastino. À direita: angiotomografia de tórax evidenciando dissecção de aorta descendente. | 82 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Westphal et al Transferida para o Serviço de Cirurgia Cardiovascular de um hospital de apoio no mesmo dia, foi submetida à aortografia e colocação de prótese autoexpansível (stent) em aorta descendente por via endovascular (Figura 2), mantendo seus sinais vitais estáveis, assim como parâmetros hemodinâmicos. Figura 2: Radiografia de tórax de pós-operatório evidenciando o stent em aorta descendente. Evoluiu no pós-operatório sem intercorrências e sendo programada a realização de nova angiotomografia de controle antes da alta hospitalar. O exame, demonstrou stent corrigindo a lesão traumática, refazendo artificialmente a anatomia local e resultando satisfatoriamente em cobertura total da lesão e sem sinais de vazamento (Figura 3), reforçando-se assim a importância da abordagem cirúrgica imediata para o tratamento de trauma torácico que cor- robora para o desfecho favorável ao paciente, em especial ao se utilizar técnicas modernas como no caso do stent, o qual vem demonstrando ser uma escolha segura e eficaz. Paciente recebeu alta hospitalar no 28.º dia de internação, em bom estado geral, sendo então encaminhada para seguimento ambulatorial no Serviço de Cirurgia Cárdio-Torácica do Hospital Universitário Getúlio Vargas. Figura 3: Angiotomografia evidenciando stent em aorta descendente. | 83 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 CORREÇÃO POR STENT DE LESÃO TRAUMÁTICA AGUDA DE AORTA TORÁCICA: RELATO DE CASO Discussão A utilização de próteses intraluminais para o tratamento de aneurismas de aorta foi iniciada com o conceito introduzido por Dotter em 1969.1 Antes disso, a única opção de abordagem terapêutica consistia em cirurgia aberta ou convencional. Há cerca de 20 anos, resultados com sucesso começaram a ser obtidos e divulgados, abrindo portas para a nova técnica de tratamento endovascular com próteses autoexpansíveis.3,5 A mortalidade imediata após ruptura traumática de aorta descendente pode alcançar até 90% dos casos e, apesar dos avanços no tratamento operatório convencional, a mortalidade pode atingir até 50% dos casos diagnosticados,6 mesmo em grandes centros que possuam suporte adequado e principalmente quando há demais lesões associadas, como no caso descrito neste trabalho, no qual a paciente apresentava traumatismo hepático (hematoma evidenciado por ultrassonografia) complicando a já instalada lesão aórtica. A abordagem cirúrgica convencional de lesões aórticas consiste na realização de toracotomia e sua substituição por uma prótese. Para tal, é necessário o pinçamento aórtico, derivação cardiopulmonar para realizar-se a reparação da lesão com uso de enxerto ou prótese sob visualização direta, sendo descritas várias técnicas para realizá-la,7 sendo todas cirurgias de grande porte. Dentre as vantagens do tratamento endovascular, pode-se citar o fato de ser menos invasivo que a técnica cirúrgica convencional, evitando a realização de toracotomia e a necessidade de heparinização sistêmica, diminuindo dessa forma sangramento excessivo,8,9 evitando também a ventilação seletiva, o pinçamento aórtico, a derivação cardiopulmonar e a isquemia. Demais vantagens são acerca da diminuição de riscos pós-operatórios tais como tempo de ventilação mecânica, sepse, infarto agudo do miocárdio e síndrome do desconforto respiratório.10,11,13 Evidenciou-se também menor tempo de internação hospitalar e recuperação pós-operatória, além da diminuição de gastos hospitalares.14 Apresentam-se como alternativa viável, realizada de maneira menos invasiva e em menor tempo cirúrgico.11,12 Como principais complicações em curto prazo, incluem-se as do próprio stent, como migração ou fechamento e vazamento (endoleak) por ele.15 Este último é definido como um vazamento, um fluxo sanguíneo fora da luz da prótese, mas no interior do saco aneurismático. Outras complicações passíveis de ocorrer são a obstrução da prótese ou angulação dela, ambas em escala menor que a endoleak.16 Tais complicações podem ser observadas em tomografia. A paciente em questão foi submetida a essa técnica minimamente invasiva, com colocação de stent em aorta descendente, sendo o tempo total de cirurgia e resolução da lesão muito menor que a duração do mesmo procedimento por via aberta realizado na mesma instituição. Em exames de imagem para acompanhamento pós-operatório, não se detectou nenhum sinal sugestivo de obstrução, angulação ou vazamento, podendo, portanto, receber alta para acompanhamento em nível ambulatorial. Concluímos que o tratamento endovascular com colocação de stent tem-se demonstrado uma opção plausível para o tratamento de lesões traumáticas de aorta torácica, evidenciando ser uma escolha segura e eficaz. No entanto, por se tratar de técnica recente, com cerca de 20 anos, dependente do avanço tecnológico e única opção diferente da técnica padrão, necessita de acompanhamento para sabermos sua evolução em longo prazo e de trabalhos adicionais que melhorem a técnica cirúrgica, e aprimorem as habilidades dos cirurgiões que a executam, visando à obtenção de resultados positivos que contribuam para a melhor abordagem aos pacientes vítimas de tais lesões. Referências 1. Dotter CT. Transluminally-placed coilspring endarterial tube grafts. Long-term patency in canine popliteal artery. Invest Radiol. 1969; 4: 329-32. | 84 | revistahugv - Revista do Hospital Universitário Getúlio Vargas v.12. n.1 jan./jun. - 2013 Westphal et al 2. Von Oppell UO, Dunne TT, DeGroot MK, Zilla P. Traumatic aortic rupture: twenty-year metaanalysis of mortality and risk of paraplegia. Ann Thorac Surg. 1994; 58: 585-93. 3. Parodi JC, Palmaz JC, Barone HD. 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