TEMPESTADES SEVERAS MARIA EUGENIA BARUZZI FREDIANI 1. Nuvens de Tempestade Cumulonimbus, ou nuvem de tempestade, é uma nuvem convectiva que produz chuva e relâmpagos. Geralmente produz granizos, fortes frentes de rajada, tornados, e precipitação severa. Muitas regiões da Terra dependem quase totalmente das nuvens cumulonimbus para precipitação. Elas também apresentam um papel importante no ciclo energético e na circulação global da atmosfera pelo seu eficiente transporte de umidade e calor sensível e latente nas porções superiores da troposfera e inferiores da estratosfera. Elas também afetam o saldo radiativo da troposfera. Além disso, influenciam a qualidade do ar e a química de precipitação. Como definido por Byers & Braham (1949) e Browing (1977), a unidade básica de um Cumulonimbus é a ‘célula’ . Normalmente vista no radar como um volume de intensa precipitação ou máximo de refletividade, a célula também pode ser descrita como a região de correntes ascendentes relativamente fortes. Os Cumulonimbus comuns em tempestades se destacam pelo ciclo de vida bem definido que duram de 45 min à 1 hora. Byers & Braham (1949) identificaram três estágios de evolução: a fase Cumulus, a fase madura e a fase de dissipação. Durante a fase Cumulus, ou fase Neste estágio, pode haver formação de inicial, as correntes ascendentes precipitação na parte superior da nuvem. caracterizam o sistema. Composto de uma ou mais nuvens do tipo congestus (towering cumulus), podem vir a se fundir umas com as outras ou se expandir em um sistema maior. São alimentadas por convergência de vapor na camada limite numa região onde ar quente e úmido convergem em superfície. Apesar de prevalecerem as correntes ascendentes, correntes descendentes próximas ao topo e à base frontal da nuvem podem ocorrer. 1 Figura 1: Estágio Cumulus A fusão de vários elementos num sistema convectivo caracteriza a transição para o estágio maduro. O processo de fusão está associado com o encontro de correntes descendentes induzidas por frentes de rajadas da adjacência das nuvens. Além do mais, o começo da precipitação na camada inferior da nuvem também é característica da transição dos estágios. A precipitação ocorre uma vez que a nuvem passa além do nível de congelamento. Após um certo período, a acumulação de precipitação na nuvem é muito grande para a corrente de ar ascendente suportar. Figura 2: Estágio maduro A precipitação caindo causa um arrastamento no ar, iniciando uma corrente de ar descendente. A criação da corrente de ar descendente é ajudada pelo influxo do ar frio e seco rodeando a nuvem, um processo chamado entranhamento. Este processo intensifica a corrente de ar descendente, porque o ar acumulado é frio e seco e sendo assim, mais pesado. Até o encontro com a superfície, as correntes descendentes se espalham horizontalmente onde podem erguer o ar quente e úmido para junto do sistema. Na interface entre a corrente descendente fria e densa, e o ar quente e úmido forma-se a frente de rajada. Os ventos em superfície da frente de rajada são ameaçadores, e mudam rapidamente de direção e velocidade. O ar quente e úmido erguido pela frente de rajada fornece o combustível para a manutenção das correntes ascendentes. Até o encontro com a estabilidade da tropopausa, as correntes ascendentes se espalham lateralmente emitindo cristais de gelo e outras partículas horizontalmente formando a bigorna. Em alguns casos essa corrente é tão forte que penetra a estratosfera criando um domo de nuvem (overshottings). As correntes ascendentes freqüentemente formam uma fina camada de nuvem acima da nuvem, chamada pileus. A presença de pileus é uma evidencia de fortes 2 correntes ascendentes. Precipitação muito intensa e localizada também é característica deste estagio. O abaixamento da pressão nos níveis médios como resultado do aquecimento pela liberação de calor latente e o fluxo de ar divergente resulta numa força de gradiente de pressão direcionada para cima que ajuda a sugar ar quente e úmido erguido pela frente de rajada até a altura do nível de convecção livre. Então a tempestade se torna uma máquina eficiente onde o aquecimento no alto e o resfriamento nos baixos níveis sustentam o vigor do ciclo convectivo. A velocidade de propagação da frente de rajada aumenta à medida que a profundidade do fluxo de ar de saída aumenta e a temperatura do mesmo diminui. O sistema ótimo é aquele em que a velocidade da frente de rajada é próxima à velocidade da tempestade em si. Uma vez que a frente de rajada se distancia do sistema, o ar erguido não entra mais na corrente ascendente, deixando de alimentar o sistema, formando apenas Cumulus de tempo bom adiante. Este é o começo do estágio de dissipação, que é caracterizado por correntes descendentes nas porções inferiores. As correntes ascendentes enfraquecem mas podem continuar existindo principalmente na metade superior da nuvem. Há entranhamento lateral e turbulência, a intensidade da chuva diminui, remanescendo chuva leve Figura 3: Estágio de dissipação de caráter estratiforme. 2. Tempestades segundo suas classificações Segundo McNulty (1995), o National Weather Service (NWS) dos Estados Unidos define tempestade severa como aquelas que têm ocorrência de tornados, ventos acima de 26 m/s (50kt) ou mais, danos associados à rajadas e/ou granizos de 1,9 cm de diâmetro ou mais. Existem muitas tentativas de classificar tempestades, Browning (1977) usa o termo ordinárias (simples) para se referir à tempestades que não completam o ciclo de três estágios no período de 45-60 min e que o estágio maduro dura apenas 15-30 min. Fazendo assim, distinção deste tipo com um tipo mais vigoroso de convecção normalmente chamado ‘Supercélula’. 2.1 Supercélulas 3 Tempestades em forma de Supercélulas, segundo Weisman & Klemp (1986) são o tipo de tempestade potencialmente mais destruidor dentre todos. Supercélulas podem produzir fortíssimos ventos, “downbursts”, “microbursts”, e tornados de longa duração. As correntes ascendentes e descendentes coexistem em um estado quase estável por períodos de 30 min ou mais. Figura 4: Esquema de uma Supercélula Este tipo de tempestade está associada com um forte giro do vetor cisalhamento do vento com a altura nos primeiros 4km acima da superfície e pode originar-se com o redesenvolvimento de células ordinárias (simples) iniciais. Ao observar uma Supercélula pelo radar pode-se perceber uma região vazia, chamada ‘bounded weak-echo region’ ou (BWER), onde as correntes ascendentes são tão fortes que não há tempo suficiente de formar precipitação detectável no radar. A maioria das tempestades severas são supercélulas. Destacam-se pela sua persistência, 2 à 6 horas, em um sistema de uma única célula. As correntes ascendentes podem exceder 40m/s, capazes de sustentar pedras de gelo do tamanho de um grapefruit. 4 Figura 5: Corte vertical de uma Supercélula 2.2 Multicélulas Um outro tipo de tempestade severa é a chamada Multicélula, tipicamente composta de duas à quatro células que podem encontrar-se em diferentes estágios de evolução. Alguns estudos se referem aos cumulus congestus periféricos como nuvem-alimento, pois se deslocam em direção ao sistema de tempestade e se fundem com a célula mãe. Outros, como Browning (1977), se referem à esta linha de cumulus como ‘células filhas’, sendo que essas novas células não se fundem com as células mães, mas crescem rapidamente para serem o novo centro da tempestade. As células novas se formam tipicamente em intervalos de 5-10 min e apresentam tempo de vida característicos de 20-30 min. Também apresentam regiões fraco sinal detectável pelo radar (weak-echo region WER), porém não são tão bem delimitadas como as BWERs das Supercélulas. A maioria das precipitações de granizo são geradas em tempestades de várias células, cada uma com um ciclo de vida de 45 à 60 min. O sistema de tempestade, pode ter tempo de vida de várias horas. Sistemas multicélulas, onde as correntes ascendentes atingem 25 à 35 m/s, produzem pedras de gelo do tamanho de uma bola de golfe. Elas ocorrem onde há instabilidade atmosférica e onde há intenso cisalhamento vertical. Figura 6: Esquema de uma Multicélula Há divergências quanto ao critério de distinção entre Supercélulas e Multicélulas. Pode-se levar em consideração a aparência visual das células filhas, ou alegar que a Supercélula é nada mais que uma Multicélula onde as células filhas estão agregadas à nuvem, ou mesmo que Multicélulas podem se desenvolver em Supercélulas. Além do mais, existe uma continua faixa de tipos de tempestades, que vai desde às multicélulas menos 5 organizadas, ás mais organizadas, e às Supercélulas mais firmes. Vasiloff et al. (1986) propõe uma relação onde a distancia L entre células com corrente ascendente deve ser muito menor que o diâmetro da corrente D para ser classificada como Supercélula. Já Weisman & Klemp (1984) propõem uma classificação baseada na pressão de baixos níveis, nos gradientes verticais de pressão que intensificam as correntes ascendentes, grau de correlação entre a corrente ascendente e a vorticidade vertical, e características de propagação. Eles também afirmam que forte cisalhamento nos primeiros 6 km ou uma certa faixa do numero de Richardson, que relaciona o empuxo com a diferença entre o vento dos baixos e médios níveis, é uma condição necessária para a formação de uma supercélula. 3. Física da Tempestade A Tempestade é primeiramente sustentada pelo empuxo proveniente das correntes ascendentes. À medida que calor latente é liberado com a condensação do vapor, há formação gotículas, que congelam quando super-resfriadas ocorrendo deposição de vapor nos cristais de gelo. O empuxo é determinado pela diferença de temperatura da corrente ascendente e do ambiente multiplicado pela aceleração da gravidade, é uma medida local da aceleração da corrente ascendente, e é regulado pela estabilidade do ambiente e da turbulência entre a corrente ascendente e o meio seco. A magnitude real da força da corrente ascendente é determinada pela integral do empuxo que a corrente sofre à medida que sobe da base da nuvem até uma determinada altura na atmosfera. O empuxo integrado na atmosfera é chamado Energia Potencial Convectiva Disponível (Convective available potencial energy) ou CAPE. No geral, quanto maior é o CAPE, maior é a força das correntes ascendentes da tempestade. T TA dz g P NCC T A CAPE NEN Onde, NEN: Nível de Empuxo Neutro (próximo à tropopausa) NCC: Nível de Condensação Convectiva Tp: Temperatura da parcela Ta: Temperatura do ambiente g: aceleração da gravidade O índice CAPE fornece uma medida da máxima energia cinética possível que uma parcela estaticamente instável pode adquirir, assumindo que a parcela ascende sem mistura com o ambiente e se ajusta instantaneamente à pressão do ambiente. Apesar de tempestades de granizo se desenvolvem em ambientes com alto CAPE, a probabilidade de formação de granizo, ou tamanho dos granizos, não é somente determinada pelo CAPE da atmosfera. Outros fatores ambientais também são importantes na formação de uma tempestade e na característica da estrutura do fluxo do sistema. Por exemplo, conforme uma corrente ascendente atravessa a atmosfera, ela carrega consigo o momentum horizontal que é caracterizado pelos ventos no nível de origem da corrente. À medida que a corrente ascende, ela encontra ar com diferentes momentos horizontais (i.e. diferentes velocidades e direção do vento). A variação vertical na velocidade e direção do 6 vento horizontal é chamada cisalhamento. A interação da corrente ascendente com os diferentes níveis de momentum horizontal provoca uma inclinação na vertical da corrente e cria anomalias de pressão que podem acelerar o ar. As complicadas interações das correntes ascendentes e descendentes com o cisalhamento do vento horizontal podem mudar radicalmente a estrutura de uma tempestade. Por exemplo, tempestades comuns se desenvolvem numa atmosfera contendo uma quantidade moderada de CAPE e fraca a moderada de cisalhamento vertical. A presença de instabilidade condicional/convectiva é essencial para formação de um Cumulonimbus. No entanto a instabilidade da parcela não é suficiente para definir uma tempestade. Segundo Silva Dias, M.A.F. (1987) as tempestades mais severas em termos de produção de ventanias e granizo ocorrem em condições de grande cisalhamento vertical do vento. Quando o cisalhamento do vento é forte, a tempestade é mais intensa, organizada e persistente. O cisalhamento vertical do vento provoca uma inclinação da corrente ascendente, e a precipitação pode então ocorrer no ar claro debaixo da corrente ascendente, especialmente na média troposfera dando origem às correntes descendentes. Se o Cumulonimbus se mover com uma velocidade que está entre a velocidade do vento nos níveis baixos, médios e altos, as correntes verticais serão então alimentadas por correntes de ar potencialmente quente nos baixos níveis, e potencialmente frio nos níveis médios e altos. Z Vt Figura 7: Inclinação da corrente ascendente provocado pelo cisalhamento Uma característica observacional é que o vetor velocidade da tempestade tende a estar orientado para a esquerda do vetor cisalhamento do vento no Hemisfério Sul Quanto maior é a umidade em baixos níveis, mais rápido e intenso é o desenvolvimento de tempestades. Segundo Menezes (1997) simulações numéricas de tempestades mostram que em situações em que há cisalhamento unidirecional (o vetor cisalhamento não gira com a altura) a tendência é de desenvolvimento de Multicélulas sem região preferencial em relação à célula convectiva inicial. Quando existe giro considerável do vetor cisalhamento com a altura (~90º) existe uma tendência ao favorecimento de redesenvolver convecção preferencialmente em um determinado flanco da tempestade inicial. O flanco favorecido depende do sentido do giro do vetor cisalhamento do vento (não confundir com giro do vetor vento). Para giro horário o flanco favorecido é o direito, e para giro anti-horário, o flanco favorecido é o esquerdo. Em situação de cisalhamento unidirecional as tempestades devem, em teoria, se desenvolver em caráter multicelular, podendo se organizar em forma de linhas de 7 instabilidade, por exemplo, já em situação de cisalhamento girando com a altura, as tempestades devem ter, em teoria, um caráter mais isolado e com Supercélulas vigorosas. 4. Raios e Relâmpagos Como em qualquer descarga elétrica, os Raios são resultado do desenvolvimento de intensos centros de cargas na nuvem, que eventualmente alcançam excedem a capacidade de isolamento elétrico do ar, resultando na dissipação dos centros de carga. Até o presente momento existem duas correntes que tentam explicar a distribuição de cargas em tempestades: Hipótese de carregamento por convecção e Carregamento por processos de precipitação.Ambas hipóteses baseiam-se em um modelo simples de dipolo, aonde existem regiões distintas de carga positiva e negativa em uma nuvem. 4.1 Teoria de carregamento por convecção De acordo com a Teoria de carregamento por convecção, a eletrificação de tempo bom estabelece uma concentração de íons positivos próximo à superfície da Terra. As correntes ascendentes da nuvem convectiva varrem esses íons carregando a nuvem positivamente. Conforme a nuvem penetra em altos níveis, ela encontra ar onde as condições de mobilidade dos íons livres aumentam com a altura. Acima de 6km, a radiação cósmica produz alta concentração de íons livres. A nuvem carregada positivamente atrai íons negativos que penetram na nuvem e aderem às gotículas e cristais de gelo, formando um envoltório de cargas negativas nas regiões limites da nuvem. As correntes descendentes na fronteira da nuvem transportam as partículas carregadas negativamente para baixo, resultando numa estrutura de dipolo. As partículas negativas aumentam o campo elétrico próximo ao solo causando pontos de descarga e produzindo um feedback positivo para a eletrificação da nuvem. 8 Figura 8: Modelo dipolo de distribuição de cargas em tempestades pela hipótese de convecção 4.2 Teoria de carregamento por precipitação A hipótese de precipitação assume que em tempestades as gotas de chuva, granizo e graupel, com tamanhos da ordem de milímetros a centímetros, precipitam devido à gravidade e caem sobre o ar com gotículas de água e cristais de gelo em suspensão. Desta forma, a colisão e coalescência entre partículas precipitantes grandes e pequenas promovem a transferência de cargas negativas para as partículas precipitantes, e por conservação de cargas, cargas positivas são transferidas para as gotículas de água e cristais de gelo suspensos no ar. Logo, se as partículas que precipitam tornam-se carregadas negativamente, a parte de baixo da nuvem acumulará cargas negativas e a parte superior ficará carregada positivamente. Sendo que esta configuração é conhecida como “dipolo positivo”, ou seja, a parte superior da nuvem é carregada positivamente e a base negativamente. Figura 9: Modelo dipolo de distribuição de cargas em tempestades pela hipótese de precipitação O modelo atual de tempestades consiste de uma configuração Tripolo, a qual pode ser entendida pela figura 10. Durante o estágio de maturação de uma tempestade, a região principal de cargas negativas está a uma altura de 6 kilometros e temperaturas ~ -15oC. Sua espessura é de 9 somente de algumas centenas de metros. A parte superior está carregada positivamente e geralmente excede a tropopausa, ~ 13 km. Sob o topo desta nuvem existe uma camada fina de cargas negativas, que pode ter origem de raios cósmicos os quais ionizaram as moléculas de ar. Na parte inferior da nuvem, existe uma segunda região de cargas positivas, menor que a primeira. No estágio de amadurecimento das tempestades, as correntes ascendentes dominam, enquanto que no estágio de dissipação as correntes descendentes dominam. No estágio de dissipação (Fig. 16 - direita), a parte mais baixa da nuvem, que está carregada positivamente, precipita para fora as cargas positivas dentro das correntes descendentes fortes. Figura 10: Modelo de carga tripolo para uma tempestade durante estágio de maturação (esquerdo) e dissipação (direito). 4.3 Características Típicas da estrutura de cargas em tempestades: 1. As cargas negativas usualmente se concentram na parte inferior das tempestades. Tipicamente em temperaturas maiores que -25oC e às vezes maiores que -10oC; 2. As cargas positivas estão situadas tipicamente acima da região de cargas negativas. Evidências experimentais suportam que se concentram na região superior das tempestades e na bigorna; 3. Diferentes polaridades de carga podem existir ao longo de uma região; 4. Perfis verticais do campo elétrico vertical (Ez) indicam mais de 3 regiões de cargas (modelo tripolo); 5. Camadas de blindagem geralmente existem nas bordas da nuvem, em especial no topo das nuvens; 6. A maioria dos íons pequenos que são inseridos na parte baixa das tempestades é produzida por pontos de descarga, ex: arvores, grama, antenas e etc; 7. Em geral, as gotas de chuva transportam cargas positivas para baixo da nuvem. As cargas de chuva próximas da superfície são afetadas significativamente pelos íons produzidos pelos pontos de descarga. 10 Depois que as cargas são separadas (~1 milhão de volts por metro), uma descarga elétrica é iniciada, visando neutralizar as cargas que foram separadas. Quando o Raio ocorre entre nuvens, ele apresenta duas terminações, uma que atinge regiões negativas e outra que atinge regiões positivas da nuvem. No caso do Raio ocorrer entre nuvem e solo, o ramo negativo se torna o Raio Líder, que leva corrente negativa em direção ao solo em intervalos intermitentes. Conforme o Raio Líder se aproxima do solo (~100m), uma descarga de retorno é iniciada, levando uma corrente positiva (~10kA) para cima, produzindo o clarão que pode ser visto a olho nu. A descarga elétrica é composta, na verdade, de vários Raios viajando nas duas direções. A região aquecida pode atingir temperaturas de 30 000 K, associada à expansão explosiva de gases cria uma onda de choque que após um certo período produz um som conhecido como trovão. 5. Gelo Tempestades de granizo geralmente ocorrem em ambientes com instabilidade convectiva. Nestes ambientes as tempestades desenvolvem significante empuxo positivo, as correntes ascendentes são capazes de suspender pedras de gelo caindo à velocidades de 15 – 25m/s. As tempestades de granizo se desenvolvem na presença de forte cisalhamento, favorecendo a formação de Supercélulas. A altura do nível de derretimento é importante para determinar o tamanho dos granizos que chegarão à superfície. Observações indicam que a freqüência de granizo é maior em latitudes mais altas. O crescimento de gelo se dá inicialmente pela coleção de gotículas super-resfriadas e gotas de chuva. Em temperaturas mais frias que 0ºC muitas gotículas não congelam e podem permanecer liquidas a temperaturas mais frias que -40ºC. Dessas gotículas algumas congelam, possivelmente pela aglutinação com um aerossol que serve de núcleo de congelamento. Se as gotículas congeladas são pequenas, ela crescerá primeiro por deposição de vapor, formando flocos de neve. Após algum tempo (5-10 min), os cristais de gelo se tornam grandes o suficiente para fixar pequenas gotículas, que congelam imediatamente após o impacto com a partícula de gelo. Se existirem gotículas suficientes ou o conteúdo de água liquida da nuvem for alto, as partículas de gelo podem coletar gotículas suficientes tal que a forma original do cristal crescido por deposição de vapor se perde, gerando uma partícula de graupel de vários milímetros de diâmetro. A densidade inicial do graupel é baixa, pois as gotículas congeladas na superfície do cristal de gelo são fracamente compactadas. À medida que o graupel cresce, ele cai mais rápido, varrendo uma 11 secção maior, aumentando o crescimento por coleção de gotículas super-resfriadas, que podem não mais congelar com o impacto, preenchendo os vão entre as gotículas que congelaram. O tamanho final da pedra de gelo é determinado pela quantidade de água super-resfriada na nuvem e pelo tempo em que a pedra de gelo pode permanecer na região de alto conteúdo de água liquida da nuvem, que depende da corrente ascendente e da velocidade e queda da pedra de gelo. Se a corrente ascendente é forte (35-40 m/s) e a velocidade de queda da partícula é baixa (1-2 m/s), a partícula é rapidamente transportada para a bigorna da nuvem antes de aproveitar do conteúdo de água liquida da região. A circunstancia ideal para o crescimento de gelo é aquela em que a partícula atinge um certo tamanho de forma que a sua velocidade de queda é suficiente para equilibrar com a corrente ascendente, podendo então coletar gotículas de nuvem numa taxa alta. As maiores pedras de gelo que atingem a superfície são aquelas que penetram em uma forte corrente descendente, permanecendo pouco tempo abaixo do nível de 0ºC, causando menor derretimento. 6. Referências Cotton, William R.; Pielke, Roger A. Human impacts on weather and climate. Cambrige University Press; 1995; 33-38. Cotton, William R.; Anthes, Richard A. Storm and cloud dynamics. Academic press; 1989. Holton, J. R. An introduction to Dynamic Meteorology. Academic Press; 1992. Menezes, Wallace F. Tempestades Severas? Um modelo para latitudes subtropicais; Tese de doutorado; 1997 McNulty, Richard P. Severe and convective weather: A central region forecasting challenge; Weather and Forecasting;1995; vol 10, 187-202. Pereira Filho, A. J.; Haas, R.; Ambrizzi, T.Caracterização de eventos de enchente na bacia do alto Tiête por meio do Radar Meteorológico e da modelagem numérica de mesoescala. Congresso Brasileiro de Meteorologia; 2002. Silva Dias, M.A.F. Sistemas de mesoescala e previsão de tempo a curto prazo. Revista Brasileira de Meteorologia; 1987;Vol. 2, 133-150. http://www.brasgreco.com/weather/ 12