Unidade 2 - Cursos Abertos

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UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO
MARANHÃO
UNIDADE 2
UNIDADE 2 - TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DA APRENDIZAGEM ...................................................... 31
1
Introdução ......................................................................................................................................................... 31
2
Critério de Diagnóstico ............................................................................................................................... 32
2.1
.......... 36
2.1.1 Breve apontamento da descrição histórica ..................................................................................... 37
................................................................................................................. 38
2.1.3 Possíveis causas ...................................................................................................................................... 40
2.1.4 Estratégias para intervenção .............................................................................................................. 41
2.2 O Transtorno Específico na Aprendizagem com prejuízos na expressão escrita ou
.................................................................................................................................................... 42
2.2.1 Breve apontamento da descrição histórica ..................................................................................... 44
................................................................................................................. 44
2.2.3 Possíveis causas ...................................................................................................................................... 45
2.2.4 Estratégias para intervenção .............................................................................................................. 45
2.3
..... 47
2.3.1 Breve apontamento da descrição histórica .................................................................................... 48
................................................................................................................. 50
2.3.3 Possíveis causas ...................................................................................................................................... 51
2.3.4 Estratégias para intervenção .............................................................................................................. 53
Resumo ......................................................................................................................................................................... 53
Referências .................................................................................................................................................................. 55
TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DA
APRENDIZAGEM
Objetivos
.
•
•
•
•
•
1
Estabelecer a categorização dos transtornos
específicos da aprendizagem;
Definir o Transtorno Específico da Aprendizagem
com prejuízos na leitura ou Dislexia;
Descrever o Transtorno Específico da Aprendizagem
com prejuízos na expressão escrita ou Disortografia;
Apontar as principais características do Transtorno
Específico da Aprendizagem com prejuízos na
Matemática ou Discalculia;
Reconhecer a função da equipe multidisciplinar
para o diagnóstico e a intervenção dos prejuízos na
aprendizagem.
Introdução
Os Transtornos Específicos da Aprendizagem se caracterizam por
dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades acadêmicas.
É considerado um Transtorno do Neurodesenvolvimento pelo DSM5 (2014) que atinge cerca de 5 a 15% das crianças em idade escolar
Estes transtornos são aparentes principalmente durante os primeiros
anos escolares, que é quando a criança tem acesso ao uso da linguagem
por meio da leitura e da escrita e da concepção do senso numérico e do
uso do cálculo matemático.
Algumas pesquisas sobre a origem desses transtornos os relacionam a
fatores de ordem neurológica, hereditárias e ambientais que acabam
por influenciar a forma que o cérebro processa algumas informações
durante o ato de aprender.



mundialmente.
As dificuldades se mostram persistentes durante o aprendizado das
habilidades acadêmicas fundamentais, em que a criança precisa de
assessoramento para realizar suas atividades e tem prejuízos visíveis,
por exemplo, na precisão e velocidade da leitura, na ortografia e na
precisão e memorização de fatos aritméticos.
A avaliação diagnóstica para identificação e a intervenção dos
Transtornos Específicos da Aprendizagem (TEA) deve ser feito por uma
equipe interdisciplinar que tenham conhecimentos sobre a área e que
vise acima de tudo a superação das dificuldades que a pessoa apresenta,
focando em suas potencialidades e não apenas no déficit.
2
Os Critérios de
Diagnósticos presentes
no Manual Diagnóstico
e Estatístico de
Transtornos Mentais
– DSM-5 são uma
forma de facilitar a
pesquisa em saúde
mental e é organizado
a partir de reuniões e
comitês. Adotando-se
um sistema multiaxial
para apresentar um
quadro completo do
paciente de acordo
com o modelo de
categorização (DUNKER;
KYRILLOS NETO, 2011).
Critério de Diagnóstico
A categorização das dificuldades de aprendizagem tem sido objeto
de estudo e debates na área médica e educação há muitos anos, os
quatro Critérios de Diagnósticos indicados no DSM-5 (2014) sobre os
Transtornos Específicos da Aprendizagem demonstram que a vivência
no ambiente escolar traz à tona as principais características para
diagnosticar crianças com transtornos do neurodesenvolvimento.
O DSM-5 (2014) ressalta que os sintomas indicados pelo Critério de
Diagnóstico A, tenham persistência por mais de seis meses e, que
tenham sido feito intervenções dirigidas de acordo com a dificuldade
apresentada.
Entre os sintomas indicadas no Critério de Diagnóstico A, nos chama
atenção à dificuldade na leitura e a ênfase nas fragilidades que a pessoa
possui em desenvolver as habilidades do mecanismo da leitura, pois
geralmente tem déficit na velocidade da leitura e lê de forma incorreta,
apresenta dificuldades na compreensão do que lê, assim como, no que
escreve, seja na grafia das palavras ou na organização e expressão na
construção do texto.
32
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
O Critério de Diagnóstico A indica transtornos significativos no uso
dos números, ou seja, no domínio em si da concepção de número ou
na realização do cálculo e dificuldades em lidar com a resolução de
problemas matemáticos, visto que apresenta déficit no raciocínio.
O Critério de Diagnóstico B elenca que medidas de desempenho
padronizadas administradas individualmente e avaliação clínica
indicam que pessoas com Transtorno Específico da Aprendizagem têm
habilidades acadêmicas em um significativo nível abaixo do esperado
para a idade cronológica do indivíduo, fator este que lhes causa prejuízos
na vida acadêmica, profissional e em atividades cotidianas (Figura 1).
Dificuldades de
Aprendizagem – O quê
são? Como entendê-la?
Autores: Luís de Miranda
Correia e Ana Paula
Martins
Biblioteca Digital –
Coleção Educação
Acesse:http://
someeducacional.com.
br/apz/dificuldade_
de_aprendizagem/
Dificuldade
Aprendizagem.pdf
Figura 1 - Transtorno Específicos da Aprendizagem
Fonte: http://aescritanasentrelinhas.com.br/wp-content/revista-maringa.jpg
Sabemos que os transtornos significativos trazem as pessoas, com
dificuldade na aprendizagem e no uso das habilidades acadêmicas,
muitos danos à vida pessoal e principalmente nos primeiros anos
da vida escolar da criança, que deverá ser acompanhada e registrada
durante toda a infância e vida adulta. Dessa forma, o DSM-5 (2014, p.66)
recomenda que pessoas com 17 anos (ou mais) que tenham em seu
histórico registros de dificuldades de aprendizagem, quando realizarem
uma avaliação padronizada devemos levar em conta tais registros e os
substituir após o resultado da avaliação.
O Critério de Diagnóstico C que trata sobre o início das dificuldades
de aprendizagem destaca a importância da identificação logo durante
as primeiras situações escolares, pois geralmente é na vida escolar
em que se manifestam, pois a pessoa com Transtorno Específico da
Aprendizagem externa déficits na aquisição das habilidades acadêmicas.
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
33
Os déficits na aquisição das habilidades acadêmicas limitam a pessoa a
desenvolver seu papel como discente, seja na aquisição da linguagem
oral ou escrita, no uso do número ou do raciocínio lógico.
No Critério de Diagnóstico D, o DSM-5 (2014, p.66) deixa claro que
dificuldades de aprendizagem não podem ser confundidas com
deficiências intelectuais, acuidade visual ou auditiva não corrigida,
outros transtornos mentais ou neurológicos, adversidade psicossocial,
falta de proficiência na língua de instrução acadêmica ou instrução
educacional inadequada.
O DSM-5 (2014) faz mais uma recomendação ao indicar que os Critérios
de Diagnósticos A, B, C e D devem ser listados a partir de uma síntese
da história do indivíduo que apresente dados relacionados ao seu
Saiba mais sobre os
critérios diagnósticos
no site Dificuldades
de Aprendizagem
em: <http://www.
dificuldadesemaprendizagem.com.br/>
desenvolvimento, acompanhamento médico, vida familiar, problemas
educacionais somados aos relatórios da sua vida escolar e da avaliação
psicoeducacional.
O National Joint Committeeon Learning Disabilities (2006) ao indicar
alguns aspectos sobre o desenvolvimento das crianças com dificuldade
de aprendizagem, explica que estas geralmente apresentam atrasos em
habilidades cognitivas relacionadas ao desempenho escolar no que se
refere à leitura e escrita.
Significativos atrasos na compreensão e/ou expressão da linguagem
Não confunda
inteligibilidade
reduzida com
deficiência intelectual,
pois inteligibilidade
reduzida é a dificuldade
na capacidade
de percepção e
compreensão, já
deficiência intelectual
é “uma limitação
significativa no
funcionamento
intelectual e no
comportamento
adaptativo, como
expresso nas
habilidades práticas,
sociais e conceituais,
originando-se antes dos
dezoito anos de idade.”
(LUCKASSON et al.,
2002, p. 8).
34
falada é um marco, seu vocabulário receptivo é limitado e tem redução
de vocabulário expressivo; apresenta dificuldade de compreender
instruções simples; sua fala é monótona com características incomuns
prosódicos da fala; tem Inteligibilidade reduzida; sua comunicação
vocal, verbal, ou não-verbal espontânea é pouco frequente ou
inadequada; sintaxe imaturo. Há atraso em habilidades de alfabetização
emergentes; marcha lenta para nomear objetos e cores; consciência
fonológica limitada; interesse mínimo na impressão; consciência
de impressão limitada; atraso em habilidades perceptual-motoras;
problemas na coordenação motora fina ou grossa; dificuldade para
colorir, copiar e desenhar. Quanto à atenção e comportamento: distração
e desatenção; impulsividade; hiperatividade; dificuldade mudança das
atividades ou manusear interrupções às rotinas; repetição constante de
uma ideia (NJCLD, 2006).
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
O DSM-5, além dos quatro Critérios de Diagnósticos, categoriza aspectos
especíicos de prejuízos nas habilidades acadêmicas, como os prejuízos
na leitura, prejuízos na expressão escrita, prejuízos na Matemática
e aponta três formas de gravidade dentro das especiicidades, leve,
moderada e grave.
o prejuízo na leitura indicado pelo código 315.00 no DSM-5 (2014)
e F81.0 no CID-10 (2008), apresenta o que comumente é conhecido
por dislexia, visto que se trata da diiculdade na leitura de palavras, na
velocidade e luência e compreensão da leitura. A dislexia é um termo
alternativo para indicar diiculdades no uso das palavras e de problemas
de decodiicação e de ortograia, pois afeta diretamente capacidade de
compreensão da leitura, o reconhecimento das palavras, a leitura oral e
o desempenho de tarefas que necessitam da leitura.
o prejuízo na expressão escrita, com código 315.2 e CID-10 (2008)
F81.81, indica o transtorno no uso da ortograia, gramática, pontuação
e refere-se a falta de clareza ou organização da expressão escrita.
Seu termo alternativo é disortograia e se caracteriza pela aparente
diiculdade que a pessoa tem em traçar as letras, pois é um conjunto de
erros de graia ou pelo déicit no aprendizado e no desenvolvimento da
linguagem escrita expressiva.
o prejuízo na Matemática, tem código 315.1 e CID-10 (2008) F81.2,
ou comumente discalculia. Segundo o DSM-5 (2014, p.67), este prejuízo
dar-se por um “padrão de diiculdades caracterizado por problemas no
processamento de informações numéricas, na aprendizagem de fatos
numéricos e na realização de cálculos precisos e luentes”. A discalculia é
caracterizada pelos prejuízos no senso numérico, na memorização de fatos
numéricos, na precisão ou luência do cálculo e do raciocínio matemático.
Segundo o DSM-5 (2014, p.67), há três formas de se apresentar a
gravidade destes prejuízos: leve, moderada e grave (Quadro 1– Material
complementar).
Estes prejuízos trazem a criança diiculdades em realizar tarefas simples
da vida acadêmica como soletrar, copiar uma atividade como “retirar do
quadro” ou fazer contas simples, ocasionando muitas vezes vergonha na
criança, que acaba desenvolvendo outros transtornos, como o da fala,
emocionais e do comportamento.
Transtornos Especíicos da Aprendizagem | UnidAdE 2
35
2.1 O Transtorno Específico da Aprendizagem com
prejuízos na leitura ou Dislexia
Rotta e Pedroso (2006, p.152) lembram que antes de se definir dislexia
(Figura 2) é necessário primeiro que se entenda o que é leitura. Os
autores apontam que leitura pode ser entendida “como interpretação
de qualquer sinal que chegando aos órgãos dos sentidos, conduza o
pensamento a outra situação além dele próprio”, ou seja, leitura seria a
interpretar sinais gráficos que substituem sinais sonoros e obedecem
a uma convenção. Se há problemas nesta convenção surge então uma
dificuldade de decodificação ocasionada por um prejuízo na leitura.
Figura 2 - Crianças que apresentam dislexia
Fonte: http://www.olharvital.ufrj.br
Segundo a Associação Brasileira de Dislexia - ABD, este é um Transtorno
Específico da Aprendizagem que tem origem neurobiológica e se
caracteriza pela “dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente
da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração” (ABD,
Dislexia é uma palavra
que surge da junção
de dois vocábulos
gregos “dus” – difícil,
mau – e lexis – palavra.
Portanto, poderíamos
definir, de uma
maneira simplista,
dislexia como
dificuldade com as
palavras. No entanto
é muito mais que isso.
(MOURA, 2006, p. 8).
36
2014). Essa afirmação da ABD tem suas raízes na definição adotada pela
International Dyslexia Association - IDA e National Institute of Child Health
and HumanDevelopment– NICHD em 2002.
De acordo com esta definição, as pessoas que apresentam dislexia
têm déficits no componente fonológico da linguagem relacionados
às habilidades cognitivas e que se apresentam de forma diferenciada
dependendo da idade do sujeito (ABD, 2014).
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
As crianças com dislexia revelam muitas dificuldades em adquirir e
desenvolver o mecanismo da leitura e da escrita. Apresentam uma
leitura muito lenta, com diversas incorreções, como: trocas de letras de
sílabas e dificuldades na compreensão da informação lida. A sua escrita
surge com muitos erros ortográficos, as frases e os textos que escreve são
confusos em termos de conteúdo, com pouca riqueza no vocabulário,
podendo a qualidade da sua letra ser igualmente má e irregular.
Moura (2003, p. 9) lembra que por ser considerada uma perturbação
da aprendizagem específica e por estar associada etiologicamente as
alterações neurobiológicas e neuropsicológicas, a dislexia traz para o
sujeito “um conjunto significativo de alterações na leitura e escrita, que
podem conduzir a dificuldade na aprendizagem escolar”.
2.1.1 Breve apontamento da descrição histórica
No século XIX, mais precisamente em 1872, a primeira descrição sobre
dislexia utilizada por Berlin e propagada por Kerr e em 1896 pelo físico
britânico Pringle Morgan que acreditava ser uma “cegueira verbal
congênita”. Em seus estudos Pringle Morgan descreveu um caso de
um menino de 14 anos que apesar de não apresentar déficit na área
intelectual ainda não tinha aquisição da leitura (ROTTA; PEDROSO, 2006;
WAJNSZTEIN; LOPES, 2010).
Assista ao filme: “Como
estrelas na terra
(2007)” e observe
um exemplo sobre as
dificuldades de um
aluno em adquirir os
mecanismos da leitura
e da escrita. SINOPSE: O
filme conta a história de
Ishaan, uma criança de
8 anos que sofre com a
dislexia e, por isso, custa
ser compreendida.Com
enorme dificuldade
de aprendizado, não
consegue se concentrar
nas aulas e as letras
“dançam” na sua frente,
já repetiu de ano e
corre o risco de repetir
outra vez. Seu pai,
acredita que ele é um
menino preguiçoso e
indisciplinado e, por
isso, manda-o para
um colégio interno,
onde Ishaan entra em
profunda depressão.
Apesar de ser um
ambiente totalmente
repressor é lá que um
professor de artes
substituto, percebe que
existe algo de errado
com o menino, mas com
paciência, carinho e
compreensão consegue
resgatá-lo e recuperar a
sua alegria pela vida.
Vale a pena conferir!
Apesar das primeiras descrições britânicas, principalmente do
oftalmologista Hishelwood que afirmou que cabia ao cérebro fazer a
leitura e não aos olhos, os estudos dos oftalmologistas norte-americanos
devem também ser destacados, pois foram os primeiros a dar relevância
a este transtorno.
Com o aprofundamento das pesquisas na área (em 1925), em Iowa
surge uma pesquisa sobre a necessidade de encaminhar este grupo
de alunos para o acompanhamento na área de saúde mental, abrindo
caminhos para os estudos sobre distúrbios de aprendizado do psiquiatra
e neuroanatomista Samuel Orton.
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
37
Orton, que já realizava estudos post-mortem em cérebros humanos,
indicou hipóteses para a incidência dos casos de dislexia e para
possíveis procedimentos para a superação do transtorno. O psiquiatra e
neuroanatomista atribuiu a causa da dislexia a “distúrbios de dominância
lateral” (WAJNSZTEIN; LOPES, 2010).
Com a continuidade dos estudos, pesquisadores da área têm atribuído às
causas da dislexia de forma mais complexa, como é o caso das pesquisas
do neurologista norte-americano Albert Galaburda (2006).
2.1.2 Identificação e diagnóstico
As crianças com dislexia apresentam dificuldades nos processos de
decodificação fonológica e processamento lexical. Por isso, ela se torna
perceptível na idade escolar, pois há representações significativas de
alterações na aquisição e automação leitura e escrita, assim como na
fluência, velocidade da leitura, vocabulário pobre e imaturo em relação
construção de sentenças curtas e longas e no uso de rima e aliteração,
dispersão e dificuldades em “retirar do quadro” para realizar cópia,
confusão em usar listas, mapas, indicar esquerda ou direita e ainda,
dificuldade na coordenação motora fina e/ou grossa.
Como já comentado, podem existir graus diferenciados entre os
Transtornos Específicos da Aprendizagem e, por isso, é importante que
se perceba alguns aspectos gerais logo nos primeiros anos da criança
na escola.
Durante os primeiros anos escolares crianças com dislexia apresentam
algumas características como dispersão, fragilidade no desenvolvimento
da fala e da linguagem, dificuldades na atenção e a coordenação motora,
estorvo na realização de jogos, principalmente de quebra-cabeças e no
aprendizado de rimas e canções (ABD, 2014).
WAJNSZTEIN e LOPES (2010) lembram que durante o avanço do período
escolar, a pessoa com dislexia pode apresentar dificuldade para ler
orações e palavras simples, inverte a escrita de letras ou números:
“p”/”b”, “m”/”n”, “f”/”v”,“n/z”ou “9”/”6”, “3”/”5” ou inverte de forma total
38
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
ou parcial palavras a leitura de palavras e tem dificuldade de pronúncia
e soletração, apesar do seu conhecimento sobre a escrita e leitura
apresenta erros involuntários, altera a ortografia e sequência de letras
na estruturação das sílabas e das palavras, apresenta dificuldades ao
copiar palavras do quadro e de outros livros, possui dificuldades na
percepção entre direita e esquerda, tem dificuldades ao se deparar
com palavras semelhantes ou homônimas, prejuízos na velocidade da
leitura, na compreensão de algumas palavras, na construção gramatical
e elaboração de frases, acentuado déficit na grafia de letras e números,
falta de habilidades ao realizar cálculos e compreender enunciado de
situações-problemas (Figura 3).
Figura 3 - Na dislexia a criança inverte letras mesmo com intervenção educacional
Fonte: http://4.bp..com/dislexia.png
Pessoas adultas com dislexia permanecem com as mesmas dificuldades
na leitura, escrita e compreensão de texto caso não haja intervenção,
atendimento clínico e educacional especializado. A Associação Brasileira
de Dislexia (ABD, 2014) ressalta que o adulto disléxico tem prejuízos na
memória imediata e operacional, disnomia (disfunção da linguagem,
refletida na incapacidade em nomear pessoas ou objetos.), dificuldade
de organização e de orientação quanto à lateralidade e são frequentes
casos de baixa autoestima, depressão, ansiedade e outros prejuízos
afetivos e emocionais.
É importante lembrar que apesar dos notáveis prejuízos em sua vivência
escolar apresentados por uma pessoa com dislexia, o diagnóstico só
será possível a partir da avaliação multidisciplinar, realizada por meio
Vale a pena assistir
ao filme: “O Sino de
Anya (1999)” que
nos apresenta Scott,
um adolescente com
dislexia. SINOPSE: A
verdadeira amizade
é aquela em que os
amigos se impulsionam
mutuamente a serem
cada vez melhores.
Anya’s Bell (O sino
de Anya) é um filme
lançado para televisão
pela CBS em 1999,
estrelado por Della
Reese no papel de
AnyaHerpick. Em 1949,
Anya é uma mulher
cega que sempre foi
cuidada pela sua mãe
e não saia de casa, uma
situação que se agrava
quando sua mãe morre.
Anya lida com sua
solidão colecionando
sinos. Agora, mais
velha e sozinha, Anya
faz amizade com um
menino, com dislexia,
que tem 12 anos, Scott
Rhymes, e encontra nele
a amizade e a ajuda que
precisava para enfrentar
a vida.
Fonte: http://www.
filmesdetv.com/anya-sbell.html Acesso 05 JAN
2015.
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
39
de exames específicos realizados por neuropsicólogos e de testes
realizados por psicopedagogos e fonoaudiólogos e, acompanhamento
da vida acadêmica.
A avaliação multidisciplinar faz-se relevante para que sejam observados
situações de enfermidades distintas ou da possível associação a outros
transtornos do neurodesenvolvimento (WAJNSZTEIN; LOPES, 2010).
Após o diagnóstico inicial, a pessoa com dislexia deverá continuar
com os apoios da equipe multidisciplinar que proporá atividades de
estimulação cognitiva. No caso do aluno com dislexia, se proporcionará
em parceria com a escola adequação das atividades, principalmente por
ser neste lugar que seus prejuízos se mostram mais evidentes.
2.1.3 Possíveis causas
Rotta e Pedroso (2006) lembram que há várias formas de classificação
da dislexia, pois há cada uma obedece ao modelo de teste utilizado,
seja ele com bases fonoaudiológica, pedagógica ou psicológica. Porém,
Para saber mais sobre
a Classificação da
dislexia acesse: Portal
da dislexia (http://
dislexia.pt/)
dentro das possíveis etiologias, os autores destacam as causas genéticas,
adquiridas e multifatoriais.
Há evidências de causa genética e hereditária, pois geralmente filhos
e filhas de pessoas com dislexia tem histórico de dificuldades no
desenvolvimento, em áreas como da percepção, aquisição da linguagem
e produção da fala, este grupo é chamado pela ABD (2014) de crianças
de risco (Figura 4).
Figura 4 - Diferenças nas áreas afetadas de um cérebro com e sem dislexia
Fonte: http://www.dislexia.maisbarcelos.pt/Image/Cerebros%20Dislexicos.JPG
40
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
As causas adquiridas são provenientes de malformações ou mau
desenvolvimento do sistema nervoso central, problemas perinatais,
lesões ou danos ao sistema nervoso central pós-natais, privação,
problemas educacionais (ROTTA; PEDROSO, 2006).
As multifatoriais são identificadas por problemas ocasionados por causas
genéticas e adquiridas correlacionadas. Considerando estas causas
gerais Rotta e Pedroso (2006) apontam que outros autores e estudiosos
buscam a classificação da dislexia e sua explicação fisiopatológicas
(Quadros 2 e 3 – Anexo B - Material complementar)
2.1.4 Estratégias para intervenção
Quanto às formas de intervenção, é necessários o acompanhamento
e a intervenção de uma equipe multidisciplinar que possibilite apoio
necessário para o aluno com prejuízos na leitura, principalmente na
escola.
Devemos proporcionar um ambiente facilitador para a aprendizagem,
com recursos acessíveis e adaptados para possibilitar a superação do
déficit em relação à leitura e aos mecanismos que a envolvem.
A equipe multidisciplinar conta com profissionais especializados como
fonoaudiólogos, psicopedagogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais,
psicólogos etc., que buscam em conjunto potencializar aquilo que a
pessoa com transtorno no neurodesenvolvimento já possui de positivo
A Cartilha da Inclusão
Escolar traz dicas
muito interessantes
de como oferecer um
ambiente facilitador
para a aprendizagem
de alunos com dislexia
Acesse: http://media.
wix.com/ugd/9592a0
_4402f1ae772944f290
8e577eb903fced.pdf e
pesquise.
e superar o déficit.
Esta equipe é responsável por terapias, apoio à pessoa com dislexia,
apoio a família, orientação à escola, fornecendo subsídios com base
no tratamento clínico, que apoiará as medidas que serão tomadas na
escola ou no ambiente familiar por exemplo.
Wajnsztein e Lopes, (2010) indicam que na escola deverão ser propostas
atividades direcionadas, que ajudem o aluno com dislexia a superar suas
dificuldades a partir de materiais que auxiliem a leitura, orientação no
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
41
uso de corretores ortográficos, aprendizagem estruturada e cumulativa,
aprendizagem com foco multissensorial, ensino com base diretiva,
sintética e analítica, automação das competências até sua realização,
uso de gráficos, ilustrações e figuras, não optar por textos longos para
cópias do quadro ou de livros, utilização de projetos culturais, avaliações
orais e/ou adaptadas, uso de atividades que estimulem a atenção
e concentração, foco na fusão fonêmica, silábica, na segmentação
simbólica e na segmentação fonêmica.
2.2
O Transtorno Específico na Aprendizagem
com prejuízos na expressão escrita ou
Disortografia
O Transtorno Específico da Aprendizagem com prejuízos na expressão
escrita ou Disortografia é caracterizado pelos problemas ortográficos
quanto à precisão da ortografia, do uso da gramática e da pontuação e
falta de clareza ou de organização da expressão escrita. A criança com
prejuízos ortográficos (Figura 5) apresenta dificuldades na ortografia e
não necessariamente na grafia.
Figura 5 - Criança com prejuízos ortográficos
Fonte: http://www.centrodefonoaudiologia.com/images/disortografia-caso1.jpg
Este transtorno da expressão escrita é considerado uma dificuldade
no uso da ortografia. Pode se apresentar de maneira combinada e que
apresenta frequência na realização da composição de textos, no uso da
gramática e da pontuação (OHLWEILER, 2006).
42
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
A Disortografia pode se apresentar de maneira isolada ou
associada a outros Transtornos Específicos da Aprendizagem como
a dislexia ou a discalculia ou em outros transtornos relacionados ao
neurodesenvolvimento.
Este transtorno é categorizado pelo DSM-5(2014) pelo código 315.2 e
pelo CID-10 (2008) tem código F81.8, indicado como um dos transtornos
do desenvolvimento das habilidades escolares denominado, Transtorno
Para saber mais sobre
a Disortografia acesse
ao site do Centro Psicopedagógico Apoio
http://www.centropsicopedagogicoapoio.
com.br/o-que-e-disortografia/
de desenvolvimento da expressão escrita.
É importante lembrar que a disortografia é um déficit que afeta a
ortografia das palavras e não a grafia, como no caso da disgrafia, apesar
de muitas vezes se apresentarem associadas.
De acordo com Coelho (2014), a pessoa com disortografia tem
dificuldade na organização, estruturação e composição de textos
escritos, geralmente, sua construção frásica é empobrecida e curta, seus
erros ortográficos são aparentes e múltiplos em atividades simples e há
problemas na qualidade da ortografia.
Segundo Fernández (et al., 2010, p. 500), este transtorno é uma “alteração
Assista ao Documentário: Documentário
do MEC aborda a construção dos sistemas de
escrita
Acesse: http://plataformadoletramento.
org.br/acervo-para-aprofundar/348/a-construcao-da-escrita.
html
na planificação da linguagem escrita, que causa transtornos na
aprendizagem da ortografia, gramática e redação, apesar do potencial
intelectual e a escolaridade do indivíduo estarem adequados para a
idade”.
Entende-se por disortografia, dificuldades que se contrapõem as regras
da escrita já formalmente estabelecidas na sociedade e que obedecem
a convenções entre símbolo e som.
A importância da identificação da disortografia está principalmente
na busca contra o fracasso escolar que ela acaba levando o aluno, pois
este como não obedece às regras gramaticais por conta do déficit tem
prejuízos evidentes em todas as disciplinas escolares.
Apesar do processo de alfabetização não estar centrado apenas no ato da
escrita e da leitura, ocorrem prejuízos em seu aprendizado, como afirmam
Fernández (et al., 2010, p.501), aspectos negativos a vida acadêmica,
pois durante a escrita e a leitura é que se adquirem os “processos de
decodificação ou grafofonêmico e de codificação ou fonografêmico”,
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
43
estes autores também afirmam que é no “reconhecimento das letras
e os valores atribuídos aos grafemas no reconhecimento das palavras
e a possibilidade de codificá-los, não são os únicos, nem os objetivos
centrais da alfabetização”.
2.2.1 Breve apontamento da descrição histórica
Fernández (et al., 2010) para descrever as diferentes formas de
classificação da disortografia consoante a leitura especializada
(Quadro 4 – Anexo B - Material complementar), pois a disortografia
foi primeiramente observada em conjunto com a dislexia quando
Morgan descreveu a “cegueira verbal congênita”. Desde então estes dois
transtornos vem sendo descritos de forma semelhante ao que o DSM-IV
(1994) descreveu como Transtorno da Expressão Escrita caracterizado
como prejuízos na ortografia, com isso a disortografia vem ganhando
cada vez mais pesquisadores e sendo de fato identificada como um
Transtorno Específico da Aprendizagem segundo o DSM-5 (2014).
2.2.2 Identificação e diagnóstico
As dificuldades nas representações ortográficas manifestadas pelos
alunos com disortografia são aparentes logo desde o início da
idade escolar, principalmente durante os primeiros anos do ensino
fundamental, em que trocas a escrita de palavras impressas e seus sons,
porém se faz necessária a atenção em seu diagnóstico, pois durante os
primeiros anos escolares é muito comum as trocas acontecerem.
Apenas depois da avaliação diagnóstica, acompanhamento por meio
de atividades e relatórios e da intervenção educacional e terapêutica
é possível diagnosticar um quadro de disortografia (Quadro 5 – Anexo
B - Material Complementar).
44
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
De maneira geral, a avaliação para identificação deverá buscar saber
o nível ortográfico da criança, indicando a frequência dos erros
ortográficos na escrita e observar a realização das tarefas escolares seja
na realização de ditados, cópias ou nas atividades que tenham que
completar grafemas (FERNÁNDEZ, 2010).
2.2.3 Possíveis causas
Coelho comenta que as possíveis causas podem estar relacionadas
aos problemas na automação da escrita, nas falhas das estratégias de
ensino, que por vezes se mostram imaturas ou ineficazes, na dificuldade
de reconhecer os processos relativos à escrita (COELHO, 2014).
Já para Torres e Fernandes (2001 apud COELHO, 2014, p.10) as
possíveis causas da disortografia se relacionam a aspectos perceptivos,
intelectuais, linguísticos, afetivo-emocionais e pedagógicos (Quadro 6 –
Anexo B - Material Complementar).
2.2.4 Estratégias para intervenção
A intervenção para os prejuízos na escrita deverão ser direcionados a
partir de modelos concretos, priorizando o sistema de escrita de cada
cultura. A equipe para a intervenção deve ter conhecimento sobre
o padrão da escrita e suas convenções ser formada por professores e
terapeutas.
A intervenção deverá não apenas buscar a superação do erro
ortográfico, o trabalho deverá ser focado em atividades que visem o
apoio e exercício do uso das letras aos seus respectivos sons, visando
trabalhar com os aspectos referentes a causas de origem perceptiva,
intelectual, linguística, afetivo-emocionais e pedagógicas.
Para obter informações
sobre intervenção da
Disortografia acesse:
Clínica educação - A
Disortografia na
infância disponível
em: http://www.
clinicadaeducacao.
com/wp-content/
uploads/2012/05/
disortografia_saraLouro.
pdf
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
45
Para a reeducação da pessoa com disortografia, segundo Torres e
Fernandes (2001 apud COELHO, 2014, p.12), é necessário um trabalho
de intervenção sobre os fatores associados ao fracasso ortográfico e a
correção dos erros ortográficos específicos.
Para a intervenção acerca dos fatores associados ao fracasso ortográfico
é importante que se trabalhe aspectos relativos à percepção,
discriminação e memória auditiva ou visual a partir de exercícios que
trabalhem a discriminação de ruídos, o reconhecimento e a memorização
de ritmos, tons e melodias, uso de exercícios de reconhecimento de
formas gráficas, de identificação de erros e de percepção figura-fundo.
Quanto aos problemas de organização e estruturação espacial Torres e
Fernandes (2001 apud COELHO, 2014, p.12) apontam o uso de exercícios
de distinção de noções espaciais básicas como: direita/esquerda, cima/
baixo, frente/trás e para os problemas relativos à percepção linguísticoauditiva deverão ser realizados exercícios de consciencialização do
fonema isolado, sílaba, soletração, formação de famílias de palavras,
análise de frases e de exercícios que enriqueçam o léxico e vocabulário
da criança (Figura 6).
Figura 6 - Erros evidentes no uso dos fonemas com dupla grafia, na diferenciação
de sílabas, no reforço da aprendizagem e no uso do “h”, do “m” antes de “p” e ‘’b”,
uso do “r”/“rr”.
Fonte: http://www.centrodefonoaudiologia.com
Para a intervenção específica sobre os erros ortográficos Torres e
Fernandes (2001 apud COELHO, 2014, p.12) deverão ser realizadas
atividades que visem trabalhar com a ortografia natural, a ortografia
visual e que se diferenciem os erros de ortografia das falhas na
compreensão.
46
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Coelho (2014, p.13) lembra que atividades de ortografia natural são
aquelas que apresentam a substituição de um fonema por outro, por
letras semelhantes e que se dá “omissões/adições, inversões/rotações,
uniões/separações” e ortografia visual são situações que se trabalhem
“fonemas com dupla grafia, diferenciação de sílabas, reforço da
aprendizagem e ainda, situações que envolvam o uso do “h”, do “m”
antes de “p” e ‘’b”, uso do “r”/“rr”.
Na realização da avaliação de aprendizagem devemos possibilitar um
ambiente acolhedor, com uso de apoio se necessário, buscando que o
aluno tenha compreensão do que esta sendo cobrado em cada questão,
considerando as potencialidades do aluno antes dos déficits.
2.3
O Transtorno Específico na Aprendizagem
com prejuízos na Matemática ou Discalculia
Os Transtornos Específicos de Aprendizagem também podem estar
relacionados a prejuízos na área da Matemática como destaca o DSM5 (2014). Este prejuízo envolve desde dificuldades na realização de um
cálculo simples a aspectos relacionados à discriminação viso-espacial.
Tais prejuízos são apontados no meio acadêmico como um fator que
propicia o fracasso escolar.
O uso do termo discalculia é uma forma alternativa para o termo
Transtorno Específico na Aprendizagem com prejuízos na Matemática
por conta da nítida dificuldade para calcular que apresenta o aluno
acometido por este déficit (Figura 7).
Figura 7 - Demonstrativo de criança com discalculia
Fonte: http://www.appai.org.br/Jornal_Educar/jornal49/psicopedagogia/ilustra1.jpg
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
47
Conforme o DSM-5 (2014), este problema afeta o processamento das
informações numéricas, da aprendizagem de fatos aritméticos e de
realização de cálculos precisos ou fluentes e podemos utilizar o termo
alternativo discalculia desde que este se relacione a um padrão particular
de dificuldades matemáticas em geral, no raciocínio matemático ou na
precisão na leitura de palavras.
2.3.1 Breve apontamento da descrição histórica
A primeira descrição segundo as causas neurológicos deste transtorno
data de 1908 por Lewandowsky e Stadelmanque ao descreverem o caso
de um paciente que tinha um hematoma na região occipital esquerda e
apresentava déficit na adição e subtração. Influenciados pelos estudos
do médico autríasco Franz Joseoh Gall realizados em 1796 ao criar a
teoria localizacionistaou teoria frenológica (Figura 8), o qual afirmava
ser possível perceber as funções especificas de cada área a partir das
observações do formato do cérebro, pois segundo ele o cérebro possuía
quatro órgãos que iam crescendo ou reduzindo a partir de seu uso
(BASTOS, 2006).
Figura 8 - A Frenologia de Gall: localização cerebral das faculdades mentais e sociais
Fonte: http://s3.amazonaws.com
Apesar da grande contribuição de Gall e de sua teoria localizacionista, o
advento dos estudos da neurociência trouxe novos avanços e apresentou
novas formas para tentar entender o cérebro da pessoa com transtorno
específico de aprendizagem com prejuízos na Matemática.
48
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Outra importante contribuição sobre a descrição deste transtorno
devemos ao médico Gerstmann, que em 1927 escreveu um artigo
tratando sobre um complexo sintomático que apontava alterações no
cérebro de crianças com problemas na aprendizagem da Matemática.
Em 1940, Gerstmann descreveu um distúrbio neurológico raro que se
caracterizava por lesões no giro angular da área dominante do cérebro.
Chamada de Síndrome de Gerstmann de desenvolvimento ou Síndrome
Angular, este giro angular se localiza no lobo parietal, próximo ao lobo
temporal (WAJNSZTEIN; LOPES, 2010).
As principais causas para a Síndrome de Gerstmann de desenvolvimento
seriam advindas de lesões no giro angular (Figura 9) da área causadas
por isquemia cerebral, traumatismo ou Acidente Vascular Cerebral.
Figura 9 - Giro angular da área dominante do cérebro descrito por Gerstmann
Fonte: http://www.lookfordiagnosis.com
Gerstmann descreveu que estas lesões causavam sérios prejuízos
à vida acadêmica e profissionais, pois a pessoa apresentava os
sintomas de dificuldade na leitura e na expressão escrita (disgrafia)
ou a incapacidade (agrafia), desorientação entre direita e esquerda,
dificuldade na compreensão das habilidades matemáticas (discalculia)
ou a incapacidade desta compreensão (acalculia) e agnosia digital
(WAJNSZTEIN; LOPES, 2010; DEUS, NAVARRO, 1996).
Agnosia digital: é
a incapacidade de
distinguir os dedos na
mão.
DEUS, Joan; ESPERT,
Raúl; NAVARRO, José
Francisco. Síndrome de
Gerstmann: perspectiva
actual. Psicología
conductual, v. 4, n. 3, p.
417-36, 1996.
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
49
O tratamento para a Síndrome de Gerstmann do desenvolvimento
ocorre apenas por meio de terapia ocupacional, acompanhamento
psicológico e psicoeducativo, que devem buscar a superação no déficit
Núcleo de estudos
da Discalculia acesse
o site: http://www.
nucleodadiscalculia.
com/WPress/ e
obtenha mais
informações sobre o
tema.
na capacidade de ler, escrever e calcular e se pode utilizar de recursos
como calculadores, processadores de texto e jogos educativos.
Um dos sintomas da Síndrome de Gerstmann do desenvolvimento,
a Acalculia, foi introduzida no meio acadêmico a partir do estudo
de Hernschen no ano de 1925 ao tratar da “perda da capacidade de
executar cálculos e desenvolver o raciocínio aritmético” (BASTOS, 2006,
p.202), mas tarde em 1961, em um estudo desenvolvido por Hecan e
colaboradores identificaram-se três possíveis subtipos de acalculias
depois de um levantamento com 183 pacientes com lesões cerebrais:
1) alexia e agrafia para números, em que existe
dificuldade para ler e escrever quantidades, com
comprometimento no hemisfério cerebral esquerdo;
2) acalculia espacial, em que existe dificuldade na
orientação espacial, impossibilitando a colocação dos
números em posições adequadas para se executar
cálculos, com comprometimento do hemisfério
direito; 3) anaritmetia, que corresponde à acalculia
primária e implica a inabilidade em conduzir operações
aritméticas, em consequência de lesões em ambos os
hemisférios (BASTOS, 2006, p. 202).
2.3.2 Identificação e diagnóstico
Assista ao vídeo “Não
sei fazer isso, mas
sei fazer aquilo” que
trata dos Distúrbios
e Dificuldades de
Aprendizagem e fala
sobre a Dislexia e a
Discalculia: URL: https://
www.youtube.com/
watch?v=WurheIyza0s
Fonte: Compartilhado
na página do facebook:
“Psicopedagogia online
para todos”. Disponível
em: <http://www.facebook.com/PsicopedagogiaOnLineParaTodosBlog>. Acesso em: 10
jan. 2015.
50
Ao se identificar o transtorno específico de aprendizagem com prejuízos
na Matemática o DSM-5 (2014) lembra que se deve especificar se a
dificuldade apresentada se relaciona ao senso numérico, a memorização
de fatos numéricos, na precisão ou fluência de cálculo e/ou na precisão
no raciocínio matemático.
Para um diagnóstico de transtorno específico de aprendizagem com
prejuízos na Matemática é importante que se observe as práticas
educativas que estão sendo oferecidas para aquela pessoa que
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
apresenta tal dificuldade, pois fatores como o ensino inadequado ou
incorreto podem também ocasionar problemas na aprendizagem da
Matemática, assim como problemas sensoriais, doenças neurológicas
e psiquiatras confundindo-se em muitos casos aos transtornos do
neurodesenvolvimento.
O CID-10 (2008) o classifica como um transtorno específico da habilidade
Matemática (F81.2), considerando-o uma alteração no uso dos
conhecimentos básicos da Matemática, pois o aluno apresenta déficit
em domínios básicos relativos as quatro operações já que apresenta
um déficit que concerne ao domínio de habilidades computacionais
básicas.
Wajnsztein e Lopes (2010) apontam que segundo Johnson e Myklebust,
uma criança com discalculia não é capaz de compreender a noção de
conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior; não tem noção de
conservação de quantidade, tem dificuldade ao sequenciar e classificar
números, em armar as quatro operações e entender seu significado,
relacionar os princípios de medida, fazer correspondência entre pares,
Para saber mais
sobre o diagnóstico
da Discalculia.
Acesse: http://
discalculicos.blogspot.
com.br/2007/10/odiagnstico-dadiscalculia-cid-10-e.html
ler mapas, gráficos e relacionar legendas e dificuldades em ações
relacionadas ao processo cognitivo como: a memória de trabalho em
situações que envolvam contagem e memória, em tarefas não verbais,
soletração de palavras, habilidades viso espaciais, psicomotoras,
perceptivo-táteis e alguns casos de ausência de problemas fonológicos.
2.3.3 Possíveis causas
Bastos (2006) descreve as duas principais diferenças entre as causas
da dificuldade de Matemática. O primeiro fator ocorre por causas
neurológicas que podem ser divididas entre causas primárias e causas
secundárias. Entre as primárias apresentam-se a acalculia e a discalculia
do desenvolvimento, nas causas secundárias está à associação com
outros distúrbios neurológicos, transtornos, síndromes, deficiências, ou
fatores socioeconômicos.
Confira a leitura
do artigo Sentido
de número e
desempenho
em Matemática:
diagnóstico e
acompanhamento em
alunos do 1º ciclo de
Marcelino, De Sousa,
Cruz e Lopes (2012),
apresentado no II
Seminário Internacional
“Contributos da
Psicologia em Contextos
Educativos”, 1427-1437.
Braga: Universidade do
Minho. Disponível em:
<http://webs.ie.uminho.
pt/iisicpce/atas.pdf>.
Acesso em: 10 jan. 2015.
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
51
Quanto às causas não neurológicas, Bastos (2006) aponta os fatores
escolares, sociais e até a ansiedade para Matemática (Quadro 7 – Material
Complementar).
Assista ao Documentário: “Dividedbynumbers: studyingwithdyscalculia” para saber mais sobre a Discalculia do desenvolvimento. É um
Documentário feito na Bélgica com a colaboração da Profª Annemie
Desoete da Universidade de Gent. A Profa. Desoete é uma investigadora internacional na pesquisa sobre discalculia do desenvolvimento,
sendo co-autora da famosa bateria neuropsicológica para o diagnóstico de discalculia, a TEDI-Math. URL: http://www.arteveldehogeschool.
be/dyscalculie/documentary
e
http://www.ekgp.ugent.be/index.
php?position=5x1x0&page=ADES#.URN9s6U722U
Fonte:
Núcleo
da
Discalculia,
2013.
Disponível
em:
<http://www.
nucleodadiscalculia.com/WPress/2013/02/08/belissimo-documentario-sobrediscalculia-do-desenvolvimento/>. Acesso em: 10 jan. 2015.
Kocs em 1998 classificou a discalculia do desenvolvimento em
subtipos (Quadro 8 – Anexo B - Material Complementar)e indicou que
poderia haver combinações diferentes, pois por conta do déficit o
processo cognitivo pode ser alterado em áreas como a velocidade de
processamento de informações, as memórias relacionadas ao trabalho,
às tarefas não-verbais, de curto e longo prazo, sequencial auditiva e
ainda as habilidades de visão espacial, psicomotora e perceptiva tátil e a
linguagem matemática (WAJNSZTEIN; LOPES, 2010).
Como afirmam Wajnsztein e Lopes (2010), a pessoa que tem esses
comprometimentos, possivelmente apresenta algumas áreas específicas
do cérebro afetadas (Ver Quadro 9 – Anexo B - Material Complementar).
52
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
2.3.4 Estratégias para intervenção
Assim como na dislexia, a intervenção na discalculia deve ser baseada
a partir do apoio de uma equipe multidisciplinar. Isto é de grande valia,
visto que somente uma equipe especializada pode ter a noção geral dos
problemas enfrentados por uma pessoa com prejuízos na Matemática.
A escola, em seu papel de instituição educadora, deverá ser capacitada
a buscar mecanismos que proponham novas abordagens no ensino da
Matemática, reorganizando seus planejamentos, estruturas curriculares
e formas de avaliação, visando atender aquele aluno com déficit.
Wajnsztein e Lopes (2010) demonstram que são necessários que se
revejam alguns pontos durante as aulas de Matemática, por exemplo:
a possibilidade do uso de calculadora, a organização de uma prova
Confira as dicas sobre
intervenção da
Discalculia na Cartilha
Apoiando a criança na
escola:KONKIEWITZ,
Elisabete Castelon.
Apoiando a criança
na escola: cartilha
informativa para pais e
professores. Dourados,
MS: Editora da UFGD,
2010. Disponível em:
<http://www.ufgd.edu.
br/editora/cadernos...acrianca...cartilha.../
pdflivro>. Acesso em: 10
jan. 2015.
com questões mais diretas e de fácil entendimento, em virtude de sua
visível dificuldade de compreensão, de preferência que as questões
sejam claras e diretas, deve ser dado ao aluno autonomia para que tente
responder às questões sem ter a dependência constante do professor
ou de um tutor, realizar jogos, que se utilizem materiais concretos para
o entendimento de situações-problema e evitar ressaltar os déficits do
aluno, pois se deve centrar na pessoa e não nas dificuldades que ela
possui.
Resumo
Nesta aula, estudamos que os Critérios de Diagnósticos do DSM-5
buscam categorizar os aspectos específicos de prejuízos nas habilidades
acadêmicas, tentando não mais centralizar nos déficits e sim, na
pessoa, discutindo como ocorrem os prejuízos na leitura, na expressão
escrita e na Matemática. Observamos que o Transtorno Específico de
Aprendizagem com prejuízos na leitura ou dislexia apresenta-se como
um déficit na aquisição da leitura, que é específico e permanente, por ser
Transtornos Específicos da Aprendizagem | UNIDADE 2
53
um transtorno que se origina no neurodesenvolvimento tem suas raízes
em causas genéticas e/ou hereditárias, adquiridas e multifatorias. Outro
tema estudado foi o Transtorno Específico da Aprendizagem, analisando
prejuízos na expressão escrita ou conforme o termo alternativo
Disortografia que é um Transtorno do Neurodesenvolvimento que tem
sua origem nos primeiros anos da criança e torna-se evidente durante
a vida escolar. Este transtorno se caracteriza como uma dificuldade
na organização da expressão escrita, isto é, no uso da ortografia,
da gramática e dos sinais de pontuação. Por último, estudamos o
Transtorno Específico de Aprendizagem com prejuízos na área da
Matemática ou discalculia está relacionado aos déficits na área do senso
do numérico, na realização de cálculos simples, na atenção, raciocínio
lógico, discriminação viso-espacial etc. Este transtorno tem causas
neurológicas e não neurológicas e, muitas vezes, se apresenta associado
a outros Transtornos do Neurodesenvolvimento.
Atividades de aprendizagem
1. Construa um Mapa Conceitual sobre os Critérios de Diagnósticos do
O DSM-5 do Transtorno Específico da Aprendizagem.
2. Indique qual a função da equipe multidisciplinar para o diagnóstico
e a intervenção dos prejuízos na leitura?
3. Comente sobre como o professor pode identificar um aluno que
apresenta Disortografia.
4. Qual a importância do diagnóstico cedo para a intervenção dos
prejuízos na área da Matemática?
54
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
referências
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ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
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