09 a 11 de dezembro de 2015 Auditório da Universidade UNIT Aracaju - SE INVASÃO POR LOBEIRA – Solanum lycocarpum EM ÁREA DE Brachiaria brisantha EM FUNÇÃO DO MANEJO INADEQUADO DE PASTAGEM ID 124 Antônio Francisco Monteiro. Biólogo, especialista em Ecologia Vegetal com ênfase em estudos da flora. Email: [email protected] Luiz Carlos da Cruz. Prof. Orientador. Centro Universitário Una. Email: [email protected] RESUMO Este estudo teve por objetivo analisar o processo de invasão pela espécie popularmente denominada de “lobeira” (Solanum lycocarpum) e identificar o agente dispersor em pastagem de ‘braquiarão’ (Brachiaria brisantha) no município de Matipó, MG. Nesta região a lobeira é uma espécie invasora e esta culminando na redução da capacidade de sustentação do rebanho, pois o fruto esta promovendo ferimentos nos animais em função da alimentação e aumento do tempo de recuperação da pastagem, isto em função da competição com a forrageira pois o processo esta em fase de reinfestação e elevando os custos de manutenção da terra. Mediante análises elaboradas neste estudo verificou-se que o processo teve origem na aquisição de mix de sementes de forrageira para composição de pastagens e o gado, esta atuando como principal elemento dispersor de sementes, o que esta acarretando diretamente em impacto ambiental de ordem biológica na região em questão. Palavras-chave: Lobeira (Solanum lycocarpum); pastagem; dispersão; INTRODUÇÃO A interferência causada de modo geral pelas plantas daninhas em culturas agrícolas refletem as condições ambientais que direta ou indiretamente afetam seu desenvolvimento e produtividade. Fatores genéticos, climáticos, edáficos, manejos e controle (adubação, irrigação erradicação, etc.), concorrem simultaneamente ou não, de forma positiva ou negativa, para a seleção adaptativa às condições naturais, das espécies dominantes. Acrescido a esses fatores, a interação positiva com algum dispersor possibilita o predomínio das espécies com características mais eletivas na reprodução, apresentando ciclo curto e com mais rápido crescimento populacional, levando à rápida degradação da pastagem (DIAS-FILHO, 2006). As plantas daninhas de folhas largas podem ocorrer inicialmente, desde o período da formação quando as condições de implantação das forrageiras não forem adequadas, resultando em atraso na ocupação da pastagem pelos animais. Posteriormente, a falta de manutenção da fertilidade do solo e o manejo inadequado das pastagens, favorecem a disseminação das plantas daninhas e reduzem a produtividade ao longo dos anos de utilização (NUNES, 2001). Westbrooks 1 (apud Espíndola, 2005) menciona que os contaminantes biológicos tendem a se multiplicar e a se disseminarem gradativamente, dificultando a auto-regeneração dos ecossistemas. Por este motivo, a contaminação biológica é também denominada de poluição biológica e esta torna-se um fator complicador, visto que se agrava ao longo do tempo, diferentemente de poluições químicas que geralmente se diluem com o passar dos anos em função da capacidade de resiliência ambiental. Sendo assim, torna-se imprescindível o conhecimento das características biológicas, botânicas e sociais dessas plantas invasoras, fundamentais para a adoção de estratégias para seu manejo, controle ou erradicação da pastagem, principalmente em regiões com vocação a pecuária e agricultura familiar, como é o caso do município de Matipó, MG, o qual é foco deste estudo. 1 Westbrooks, R. 1998. Invasive plants: changing the landscape of America: fact book. Federal Interagency Committee for the Management of Noxious and Exotics Weeds, Washington D. C., USA, 107 pp 1 JUSTIFICATIVA Matipó está localizado Zona da Mata do estado de Minas Gerais e pertence à microrregião homogênea Vertente Ocidental do Caparaó. O tema se reveste da importância associada à subsistência e implicitamente à manutenção das famílias no meio rural, visto que a principal fonte de renda do município é pautada na agropecuária e com maior destaque para a cafeicultura. Estas bases econômicas acabam por aferir no o aspecto ecológico pois a região em questão acaba se sujeitando a grande pressão de desmatamentos para implantação de lavouras cafeeiras e pastagens, tornando as reservas existentes sujeitas também a impactos causados por poluição biológica. Por outro lado, a manutenção da pastagem é necessária para garantir a sustentação do rebanho com baixo custo e qualidade, desta que é a principal fonte de renda da propriedade o qual o estudo foi desenvolvido, no sítio São Geraldo. A grande questão esta centrada na busca pelo equilíbrio sustentável da região, isto porque, se o controle das plantas daninhas é feito de forma inadequada, acaba por gerar o insucesso devido a cortes ou aplicações de herbicidas fora de época durante a estação de seca, próxima a florada e frutificação, ou sob altas temperaturas, resultando em perda de investimentos. PROBLEMATIZAÇÃO Em que pese a avançada tecnologia de produção da pecuária brasileira e sua invejável posição mundial pelo volume exportado, o presente trabalho resultou de observação em pequena propriedade, com atividades de subsistência, situação muito comum em Matipó, MG. As pastagens representam fontes de alimento de menor custo, das quais depende a alimentação do rebanho bovino durante todo o ano, que é muitas vezes comprometida pela ocorrência de ervas daninhas, competindo com a forrageira por espaço, luz, água e nutrientes. A problemática tornou-se perceptível através de relato do proprietário da área ao solicitar orientação para erradicação da invasora, denominada de lobeira (Solanum lycocarpum), espécie típica de cerrado, e que até o ano de 2011 não era encontrada na região, isto conforme relatos preliminares de moradores da região. OBJETIVOS Averiguar, analisar e compreender qual o princípio da invasão da espécie na área de estudo no município de Matipó, assim como propor uma alternativa de controle de dispersão da Solanum lycocarpum, de alto poder invasivo, considerada exótica na região. REFERENCIAL TEÓRICO Como a maioria das forrageiras das regiões tropicais e subtropicais - espécies de Brachiaria, por exemplo – são plantas de fisiologia C4 2 , para as quais as condições de luminosidade e temperatura elevadas são fundamentais no seu desenvolvimento e produção de biomassa, a ocorrência de sombreamento por plantas daninhas que em sua maioria são C3, implica redução drástica do potencial competitivo dessas forrageiras. Água, luz, nutrientes e espaço são fatores essenciais, objetos da competição entre as plantas invasoras e as gramíneas forrageiras nas pastagens. As plantas daninhas são mais eficientes no uso desses fatores que as gramíneas, geralmente exóticas. Isso se deve à melhor adaptação daquelas espécies ao ambiente, já que são naturais da região onde se encontram, ao contrário das últimas, procedentes de outras regiões. As invasoras possuem ainda um sistema radicular mais profundo, o que as favorece na busca de água e nutrientes, nas camadas mais profundas do solo. São dotadas ainda de uma arquitetura foliar mais eficiente na captação da luz solar e transformação em energia, essencial para o desenvolvimento da planta (VICTORIA FILHO, 2006). Lopes et al (2009) alertam para o potencial nucleador de Solanum lycocarpum como pioneira alterando as características abióticas sob sua copa, em recuperação de áreas degradadas, no estabelecimento de outras espécies na sua área de influência. Esta área é definida como um círculo de raio igual a duas vezes o raio da copa, centrado no eixo vertical da planta, que resulta aproximadamente na área de sombra projetada sobre o solo quando os raios do sol estão inclinados. Sabe-se, da geometria plana, que a área do círculo é A=πR². Supondo a copa da árvore aproximadamente circular, sua área é Ac = π( D/2)² = πD²/4 (onde D= 2R, sendo D o diâmetro e R o raio da copa). Logo, a área de influência será: Ai = π (2D/2)² = π(4 D²/4) = πD² . Assim, se verifica que a área de influência é equivalente a quatro vezes a área da copa, na qual a planta exerce sua ação nucleadora na sucessão ecológica. Sugere-se que o raio da área de influência seja o dobro do raio da copa, por considerar-se que a sombra da copa sobre o solo é sempre maior, quanto maior for a inclinação dos raios solares em relação ao eixo vertical da planta. Procura-se por esse método, estimar a área de influência das 10h até às 16h, período em que a incidência de energia solar é mais intensa sobre o solo, quando afeta mais o desenvolvimento da forrageira. Em monoculturas, principalmente para produção de alimentos, essa ação é indesejada e geralmente combatida. A lobeira classifica-se basicamente de duas formas de acordo com Teixeira & Fernandes (2011), sendo a 1ª, quanto ao ciclo: perene complexa – produz flores e frutos durante anos consecutivos. Reproduz por sementes e por meios vegetativos. São mais bem controladas através de herbicidas, pois, o sistema mecânico de controle faz com que se multiplique 2 Na maioria das plantas a fixação do dióxido de carbono segue o ciclo de fosfato pentose (C3) ou ciclo de Calvin, porém certas plantas reduzem o gás carbônico seguindo o ciclo do ácido dicarboxílico (C4). As plantas C3 são inibidas por temperatura e luminosidade elevadas, apresentando maior taxa fotossintética sob condições moderadas. Já as plantas C4 são adaptadas à luz intensa e a altas temperaturas. Tais características são responsáveis por implicações ecológicas importantes. As plantas C4 predominam na vegetação de desertos e campos em climas tropicais e temperados quentes (RICKLEFS 2009). 2 ainda mais, por perfilhamento; e a 2ª, quanto ao hábito: arbustiva inicialmente, com ramificações desde a base e posteriormente arbórea, com caule lenhoso bem definido; arvoreta que pode atingir até 5 m. Com nome científico Solanum lycocarpum St. Hil., da família Solanáceae, é planta típica de cerrado, cresce e se desenvolve em condições ambientais desfavoráveis, tais como terras ácidas e pobres em nutrientes. É capaz de suportar um clima árido e períodos de seca prolongados, resistindo ainda a ciclos anuais de queimadas feitas pelo homem. De acordo com Oliveira Filho & Oliveira (1998)3, é uma espécie invasora em áreas devastadas pelo homem e em pastagens. A fruta-de-lobo é encontrada nas vegetações do tipo campo sujo, cerrado e cerradão (Silva et al., 2002), cujo período de florada compreende o ano inteiro, porém, com maior intensidade na estação chuvosa (Oliveira Filho & Oliveira, 1998). As plantas podem apresentar de 40 a 100 frutos, cuja massa pode variar de 400 a 900 g, e colheita de julho a janeiro (SILVA et. al, 2002). Conforme Dias Filho (2006): “Outra característica importante evidenciada por essas plantas diz respeito à habilidade que possuem para se disseminarem com extrema rapidez na pastagem. Tal fato está associado, dentre outros aspectos, à alta capacidade de produção e dispersão de sementes viáveis, proporcionando um fluxo constante e abundante de novos indivíduos na pastagem. Além disso, mesmo sob condições propícias para germinação, as sementes das plantas invasoras normalmente ocorrem em ondas sucessivas, visando à preservação da espécie”. Essas características tornam a invasora extremamente agressiva na colonização de novas áreas, onde não existem os fatores limitantes de seu ambiente de origem, como características químicas do solo, inimigos naturais (predadores de sementes e herbívoros), pois as interações negativas com a comunidade local é um dos fatores que controlariam seu crescimento (ESPÍNDOLA 2005, p 6). Pode-se afirmar que a dispersão de sementes tem estreita relação entre plantas e dispersores, o que pode tornar crítica a manutenção do sistema, pois se a interação entre eles é positiva, se exigirá rigor e abrangência suficiente para interromper essa interação. Fica ainda mais preocupante se lembrarmos que os frutos são parte da dieta de muitas aves, mamíferos e répteis, segundo Deminicis (2009), o alto poder dispersor de morcegos e a grande importância do potencial de dispersão por endozoocoria (via ingestão e posterior dispersão nas fezes), principalmente por bovinos. Informam, contudo, que não há trabalhos conclusivos a respeito da sobrevivência de sementes de várias espécies, após passagem pelo trato digestivo e permanência na placa fecal. A lobeira (Solanum lycocarpum) possui acúleos capazes de causar ferimentos nos animais, apresenta adaptação ao controle mecânico com copa bem expandida devido ao perfilhamento (competindo diretamente por espaço, luz, água e nutrientes); grande produção de sementes; alta capacidade de germinação devido à viabilidade das sementes; alta capacidade de florescimento; dispersão por endozoocoria, produzindo fruto palatável a vários animais. Por outro lado, práticas agrícolas podem introduzir espécies não desejadas a um sistema por meio da dispersão de sementes. Assim, lotes contaminados podem introduzir plantas daninhas devido à limpeza ineficaz das sementes, já que o processo de beneficiamento, que envolve um conjunto de operações da colheita até o armazenamento, não atinge a pureza necessária, por algum descontrole ocasional (Deminicis et al, 2009), ou porque, intencionalmente o responsável oferece um produto por preço mais competitivo, comprometendo a qualidade final. Na fase de implantação das pastagens ocorre a germinação da espécie forrageira, juntamente com as plantas daninhas, que estão no banco de sementes do solo e também a rebrota das estruturas de propagação das plantas nativas que ocorriam no local. Vários são os danos causados por elas à produção da espécie forrageira, exigindo constante controle e manejo eficaz: competição por água, luz e nutrientes – segundo Victoria( Filho, 2006), 40% de sombreamento reduz em 45% a produção de sementes; intoxicação pelas plantas tóxicas; ferimento nos animais; ambiente favorável para o desenvolvimento de parasitas externos; redução na qualidade do leite ou da carne; favorecimento da erosão do solo (Nunes, 2001). Dias Filho (2006) alerta que: “À semelhança do controle preventivo, o controle mecânico deve ser adotado com freqüência pelo produtor e deve ser empregado desde o momento de implantação da pastagem. Um dos maiores benefícios desse método consiste em evitar que as plantas invasoras entrem em fase de reprodução, o que aumenta o potencial de infestação via banco de sementes. Assim, a intervenção deve ser sempre antes que as plantas invasoras atinjam a fase reprodutiva”. Apenas o controle mecânico (roçada) não é suficientemente eficaz, pois estimula a rebrota das estruturas remanescentes (tocos e raízes), devendo ser associado ao controle químico com a utilização de herbicidas, que provocam a morte ou impedem o desenvolvimento das plantas daninhas. Para tanto, deve-se conhecer bem as características fisiológicas, hábito e dinâmica de propagação da espécie a ser controlada para se decidir que herbicida utilizar, métodos de aplicação e 3 Oliveira, M.F, Retenção dos herbicidas flazasulfuron e imazaquin em solos de diferentes classes e hidrolise do flazasulfuron em diferentes valores de pH e temperatura. Tese – doutorado em produção vegetal, Departamento de fitotecnia, Universidade Estadual do Norte Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, 1998. 3 época mais adequada, com objetivos de atingir a eficiência esperada, reduzir e evitar gastos e prevenir quanto à possíveis impactos ambientais decorrentes da ação (VICTORIA FILHO, 2006). É importante que o produtor se sensibilize para manter constante o controle de plantas invasoras, com vistas a resultados em médio/longo prazo. Ao mesmo tempo esses fatores devem ser reavaliados a cada ação, readaptados à situação do momento, para se obter o melhor resultado e evitar a infestação, o que vai onerar os custos de produção e reduzir a lucratividade. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Observações preliminares permitiram verificar ocorrência de alta densidade em pequena área de pastagem, e intensa dispersão dentro e fora da área considerada para o estudo, evidenciando claramente que algum desequilíbrio ocorre no local. Também verificou-se o vigor e o porte atingido por muitos indivíduos chegando rapidamente à fase reprodutiva (Fig. 1 B), o que não se observa em área de cerrado em tão pouco tempo. Constatou-se ainda, o intenso perfilhamento após tentativa de controle mecânico, por corte do tronco rente ao solo, formando touceiras com até 11 indivíduos (Fig. 1 A). A) B) FIGURA 1: A) Touceiras de lobeira com 3,2m de altura. B) Frutos e flores de lobeira. Fonte: Antônio Francisco Monteiro, 2013. O local em questão para análise aprofundada tem coordenadas 20° 18’ 58,6” S e 42° 21’ 3,5” W, altitude em torno de 643m, a aproximadamente 5 km da sede do município de Matipó, situado na zona da mata de Minas Gerais, a 250 km de Belo Horizonte, com bioma típico preponderante de mata atlântica. O pastagem com aproximadamente 4,08 ha foi formada há 5 anos atrás, Fig. 2, por semeadura de Brachiaria brisantha em área de encosta degradada, onde havia capim gordura (Melinis minutiflora). FIGURA 2 – Localização da área de trabalho. Fonte: José Dias Monteiro, 2013. 4 A forrageira escolhida tem apresentado boa adaptação às condições de solo e clima da região, apresentando evidente vigor comparada com outras forrageiras e com outras invasoras nativas como assa-peixe branco (Vernonia polianthes), ipê tabaco (Zeyheria tuberculosa), ipê amarelo (Tabebuia serratifolia), Ipê mulato(Handroanthus umbellatus), dormideira ou sensitiva (Mimosa pudica), arranha gato (Acacia plumosa), gervão (Croton grandulosos), carrapicho (Cenchrus echinatus), guanxuma (Sida SP), que são as de maior freqüência, cujas respectivas exsicatas estão em fase de montagem. A invasora exótica dominante é a lobeira (Solanum lycocarpum), cujo estudo é objeto deste trabalho, espécie típica de cerrado, que apresenta no local, característica agressiva em relação à forrageira e a outras invasoras. Como já havia sido feito duas tentativas de controle mecânico da invasora e por ser área relativamente pequena, optou-se pelo levantamento censitário. Foram encontrados na pastagem, indivíduos atualmente em estágio de rebrota; touceiras formadas pela rebrota resultante do corte, em estágio de reprodução; indivíduos solitários juvenis e adultos, resultantes de germinação de sementes dispersas; muitos indivíduos mortos, com CAP 4de valor relativamente alto, indicando terem atingido estágio adulto e reprodutivo, cujo corte deu origem às touceiras atuais em estágio de reprodução e outros cortados há aproximadamente um ano, que deram origem às rebrotas com até 0,40m de altura. Assim, foi feito o registro de todos os indivíduos encontrados, independente de seu estágio de desenvolvimento, para abranger fielmente a real situação do ambiente. Por ser muito extensa, a tabela original não será apresentada neste trabalho, mas a sua compilação. Em 29/07/2013 foram anotados altura, diâmetro da copa e CAP, se havia presença de flores e ou frutos de todas as plantas com altura a partir de 1,20 m e copa a partir de 0,40 m. Foram consideradas juvenis plantas com altura menor do que 1,20 m e copa menor do que 0,40 m, sendo anotada apenas sua altura, desconsiderando sua área de influência por ser muito pequena. Para as rebrotas foi anotada esta condição e o CAP da planta original morta, e em alguns casos mais de uma, por se tratar de 2ª tentativa de controle por corte. Para as touceiras foi anotado altura e diâmetro do conjunto, se havia presença de flores e ou frutos, o CAP de cada um dos perfilhos e o CAP da planta original morta quando havia. Em 28/10/2013 foram construídas duas armadilhas de rastros conforme Marcolino e Lencioni Neto (2011) (fora das trilhas do rebanho), com o objetivo de identificar que animais estariam se alimentando dos frutos maduros. São círculos de terra peneirada com 1,5 m de diâmetro e 5 cm de espessura, planificada com régua de madeira, no centro dos quais foi colocada a metade de uma fruta madura trazida de planta externa à área estudada – veja Fig. 3a, 3b, 4a e 4b fotografias das armadilhas preparadas (A fita métrica da Fig. 3a tem 1,5 m e a caneta usada como referência na Fig. 4 b tem 0,15 m). FIGURA 3a – Armadilha 1. Fonte: Antônio F. Monteiro, 2013. FIGURA 3b – Detalhe da armadilha 1. Fonte: Antônio F. Monteiro, 2013. FIGURA 4a – Armadilha 2. Fonte: Antônio F. Monteiro, 2013. FIGURA 4b – Detalhe da armadilha 2. Fonte: Antônio F. Monteiro, 2013. 4 CAP – Circunferência a Altura do Peito: É um parâmetro comumente usado nas avaliações fitossociológicas, e refere-se à medida da circunferência da planta à altura do peito (em torno de 1,30 m de altura), que informa seu estágio de desenvolvimento. 5 Para complemento da experiência, foram coletas das fezes de bovinos de forma aleatória, fora da área de estudo, nas trilhas de acesso ao cocho de sal e ao bebedouro, de fezes recentes e de vários dias (ressecadas), de amostras de 20 placas fecais (esta quantidade foi definida pela capacidade do recipiente disponível para coleta). Pretendeu-se dessa forma, atingir mais de um animal que tenha ingerido fruta da lobeira, anteriormente à montagem das armadilhas. Cada placa fecal foi dividida com facão, em 9 partes, segundo a grade usada para o “Jogo da Velha” (4 linhas, sendo 2 pares de paralelas, perpendiculares entre si), Fig. 5 a, e apenas uma das partes foi coletada, independente da posição ocupada. Todas as amostras foram recolhidas em um único recipiente onde sofreram diluição em igual volume de água e após homogeneização, despejadas em peneira média, com malha de 3 mm (menor do que a semente da fruta de lobo). Após a eliminação do excesso de água, foi espremido e posto a secar sobre jornais, Fig. 5 b, para posterior catação, após peneiramento. FIGURA 5 a – Divisão da placa fecal. Fonte: Antônio F. Monteiro, 2013. FIGURA 5 b – Secagem. Fonte: Antônio F. Monteiro, 2013. RESULTADOS E DISCUSSÃO ITEM LOBEIRA (Solanum lycocarpum) QUANTIDADE 1 Adultas 1 225 2 Juvenis 2 182 3 Rebrotas 3 145 4 Total 552 5 Densidade (área de 4,08 há) 135/há 6 Mortas 4 181 7 CAP médio das plantas mortas 19,5 cm 8 Touceiras 5 176 9 Plantas com flores 104 10 Plantas isoladas e touceiras com frutos 25 11 Plantas isoladas e perfilhos com frutos 51 12 CAP médio de plantas isoladas e perfilhos com frutos 18,8 cm 13 Área total das copas (adultas) 614,92 m² 14 Área total de influência (4 X área total das copas) 2.459,68 m² 15 % de área de influência (relativo ao total: 4,08 há) 5,1 % TABELA 1 – Compilação dos resultados obtidos na primeira visita ao local de estudo em 27, 28, 29 e 30/07/2013. Organizada pelo autor. 6 1. 2. 3. 4. 5. A descrição da tabela mencionada deu-se da seguinte maneira: “ADULTAS” – Plantas com altura de 1,20 m ou mais e com copa de diâmetro a partir de 0,40 m, cuja sombra já pode causar alguma interferência no desempenho da forrageira. Cada touceira foi considerada 1 indivíduo. JUVENIS – Plantas solitárias, com altura abaixo de 1,20 m e copa reduzida a poucas folhas, resultante de germinação de semente. O diâmetro da copa não foi anotado. REBROTA – Brotação com até 0,40 m resultante de corte recente (há menos de 1 ano). MORTAS – Plantas adultas que foram cortadas há 2 ou 3 anos, boa parte em estágio de frutificação confirmado pelo levantamento diamétrico, obtendo-se CAP médio de 19,5 cm, comparado com o CAP médio das plantas vivas, em frutificação atualmente. A “poda” deu origem às touceiras em floração e outras que foram cortadas há menos de 1 ano, dando origem às brotações. TOUCEIRAS – Aglomerado de plantas adultas (até 11 perfilhos) em estágio reprodutivo, em geral com presença de ninhos de formiga mijona (picada muito dolorosa), tocas, buraco de tatu e a forrageira bem rarefeita. Não foi possível identificar essa espécie de formiga nem explicar sua relação com as touceiras. Com relação à entomofauna local, observou-se intensa e variada presença nas plantas com flores, contribuindo ou não com a polinização: 4 abelhas nativas (jataí, mandaçaia, mirim, irapuá); abelha melífera (apis sp); mamangaba; 3 espécies de besouros; moscas; borboletas; 3 espécies de formigas(mijona, preta pequena, preta de abdômen listrado), 4 espécies de vespas e uma espécie de pulgão. Não foi observada a visita de aves (beija-flor, sebinho ou outras). Não foi observada a ocorrência de herbivoria – restos de frutos, caules, cascas, folhas, botões ou flores em nenhum indivíduo, em qualquer estágio de desenvolvimento. Em 28/10/2013 encontrou-se 127 plantas isoladas e touceiras com flores e frutos (comparar com item 10 da tabela 1) em diferentes estágios de desenvolvimento, podendo-se identificar muitas incisões do pedúnculo no caule, de onde se soltou o fruto maduro, mas nenhum foi encontrado. Os resultados apontam o acréscimo de 102 espécies em num espaço de tempo de aproximadamente 90 dias. Apesar da grande quantidade de frutos ainda verdes encontrados nas árvores, não havia frutos maduros no solo (sugerindo consumo por herbívoros), tendo as de menor porte poucos frutos - 4 a 10 de tamanho uniforme, e as de maior porte com até 83 frutos, em vários estágios de crescimento. Não foi encontrada na literatura consultada, referência ao consumo de fruta de lobo por animais em liberdade, além de lobo guará. Sabe-se, no entanto, que vários animais silvestres encontrados na região da área estudada, se alimentam de frutas da época, sobretudo aquelas que exalam forte aroma quando maduras como ocorre com a fruta de lobo. São eles: tatus, quati, teiú, paca, capivara, lebre, morcegos, jacutinga. O resultado obtido com as armadilhas 1 e 2 estão registrados nas FIG 6 a e 6 b, obtidos após 24 h da montagem. FIGURA 6a – Impressão de pata de bovino deixada na armadilha 1. Fonte: Antônio F. Monteiro, 2013. FIGURA 6b – Impressão de patas e fezes de bovino deixadas na armadilha 2. Fonte: Antônio F. Monteiro, 2013. 7 RESULTADO DA CATAÇÃO DAS AMOSTRAS DE FEZES – Após peneiramento das partículas muito finas, com a catação do resíduo foram encontradas 5 sementes (escuras) de lobeira. (As sementes claras foram coletadas de fruta fresca apenas para comparação). Fig. 7 FIGURA 7 – Sementes de lobeira. Fonte: Antônio F.Monteiro, 2013. AVALIAÇÃO A PARTIR DA ANÁLISE DO SOLO - A análise do solo realizada no IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária, sob número 1842, com data de 10/10/2013, identificada como amostra 04 (“braquiária da pedra”), indicou as deficiências de Fósforo (P=2,9 mg/dm³) e Potássio (K=74 mg/dm³), consideradas pelo profissional técnico consultado como as mais críticas. Os valores ideais são 15 mg/dm³ e 150 mg/dm³ respectivamente. O mesmo profissional orientou a aplicação de 400 kg/há de adubo químico NPK com a fórmula 4-14-8. Pode-se verificar claramente a marca de pata de bovino, no centro da Fig. 3 c, deixada pelo visitante e a ausência da isca mostrada na Fig. 3 b. Na Fig. 4c se observa os rastros deixados, a placa fecal característica de bovinos e a ausência da isca. Estes resultados corroboram a hipótese de que o rebanho se alimenta das frutas da lobeira, confirmada com segurança pela presença de propágulos da planta nas amostras coletadas das placas fecais . Como a quantidade de sementes encontradas foi muito pequena (para efeito de comparação, uma fruta média, com 470 g, forneceu 381 sementes) outras hipóteses podem ser propostas para a dispersão: O método de coleta das amostras não teve abrangência suficiente; Não havia, no período de coleta das informações, frutas maduras em quantidade suficiente para ser detectada com maior abundância nas fezes, sugerindo-se nova coleta em época mais propícia. Muitas sementes não resistem ao processo mecânico a que são submetidas na mastigação, sendo trituradas, impossibilitando sua identificação nas fezes; Muitas sementes não resistem aos ácidos estomacais a que são submetidas durante alguma das etapas da digestão, ou ao desgaste mecânico da ruminação; A viabilidade das sementes expelidas nas fezes precisa ser testada; O processo de dispersão pode ocorrer também pelo pisoteio das frutas que não forem ingeridas, expondo as sementes à secagem, o que as tornariam viáveis, e completado com o carreamento pela enxurrada; Animais silvestres, não detectados neste trabalho, podem estar contribuindo com a dispersão. Enfim, qualquer uma das propostas deverá demandar estudos mais aprofundados, novas metodologias e exigência de mais tempo de observação e pesquisa. Comparando-se as quantidades nos itens 6-plantas mortas e 8-touceiras, da Tabela 1, verifica-se estreita relação entre eles, sugerindo que as touceiras resultaram da tentativa de controle da invasora apenas por corte (roçagem), pois a literatura afirma que uma é consequência da outra. A comparação do item 12-CAP médio das plantas com frutos, na data da observação, e do item 7-CAP médio das plantas mortas, indica claramente o erro cometido ao se tentar controlar a invasão, por corte, quando as plantas estavam em estágio reprodutivo. O proprietário informou que os frutos não foram recolhidos, levando à inferência de que, ao amadurecerem no solo, suas sementes sofreram dispersão por um ou vários vetores combinados, resultando na situação atual, de infestação da pastagem. Não se encontrou na literatura consultada, valor percentual mínimo de tolerância de invasoras em pastagens para comparação com o valor registrado no item 15 da Tabela 1: 5,1% da área total (4,08 há). No entanto, há unanimidade na literatura consultada, no interesse de se eliminar as invasoras desde sua emergência, com vistoria periódica da área de pastagem, como medida preventiva de controle, pois qualquer sombreamento na forrageira deve ser evitado. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados e das análises dos mesmos, conclui-se que não há nenhum interesse de ter essa espécie onde o rebanho tenha acesso aos seus frutos, já que ao se alimentar com eles, pode se tornar um dispersor das sementes e implementar seu recrutamento. É senso comum que o período mais propício para a dispersão das sementes e para o estabelecimento das plântulas é durante a estação chuvosa, provavelmente em função de condições climáticas e da maior atividade dos animais dispersores neste período do ano. Portanto, o que se recomenda é imediata coleta dos frutos para 8 destruí-los (por incineração, enterramento em cova profunda ou cozimento e aproveitamento da polpa inativando as sementes), antes do corte e aplicação de herbicida no toco, o que oferece maior eficiência no controle da invasora, conforme a literatura consultada. Pretende-se com essas ações atender aos interesses econômico, social e ambiental ao eliminar da pastagem a invasora Solanum lycocarpum, pois sendo uma espécie naturalmente selecionada para sobreviver em ambiente adverso, encontra na área estudada condições favoráveis ao seu estabelecimento e predomínio sobre quaisquer competidoras, inclusive a forrageira. Cuidado especial deve-se tomar com a origem, qualidade e garantia das sementes da forrageira escolhida, evitando uma futura fonte de problemas, devido à poluição biológica. REFERÊNCIAS [1] DEMINICIS, B. B., VIEIRA, H. D., ARAÚJO, S. A. C., JARDIM, J. G., PÁDUA, F. T., CHAMBELA NETO, A. 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Recuperação ambiental e contaminação biológica: aspectos ecológicos e legais. Biotemas, 18 (1): 27 38, 2005 https://periodicos.ufsc.br/index.php/biotemas/article/view/21454/19419 [5] LOPES, C.M.; RIBEIRO, J. F.; Passos, F.B.; AQUINO, F.G. Solanum lycocarpum (Solanaceae) e Fatores Abióticos na Recuperação Ecológica de Área Perturbada de Cerrado Sentido Restrito no Distrito Federal. IV Encontro de jovens talentos da Embrapa Cerrados. 2009: Planaltina, DF. p159. [6] MARCOLINO, Luciana M. C., LENCIONI-NETO, F. Vertebrados encontrados em lobeiras (Solanum lycocarpum St. Hil - Solanaceae): interação animal-planta. 2011. São José dos Campos, SP XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba. Dildponível em www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2011/anais/.../0284_0941_02.pdf. Acesso em 15/10/2013. [7] NUNES, S.G. Controle de Plantas Invasoras em Pastagens Cultivadas nos Cerrados. Campo Grande, EMBRAPA, 2001. Disponível em http://www.cnpgc.embrapa.br. [8] OLIVEIRA Jr., R. S. Biologia e Manejo de Plantas Daninhas. Curitiba, PR: Omnipax, 2011. 348 p Disponível em http://omnipax.com.br/livros/2011/BMPD/BMPD-livro.pdf Acesso em 18/10/2013. [9] RICKLEFS, R. E. A Economia da Natureza; 5. ed.- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,2009. Biblioteca UNA- Betim. [10] SILVA, A. A. et al. Biologia e controle de plantas daninhas. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2002. Biblioteca EPAMIG, Belo Horizonte - MG. [11] TEIXEIRA, S.R.¹; FERNANDES, A. L. T. Manejo de Plantas Invasoras em Pastagem. https://www.google.com.br/#q=XIII+encontro+latino+americano+de+inicia%C3%A7%C3%A3o+cient%C3%ADfica. CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FAZU, V. 2 (2011). Acesso em 15/10/2013. [12] VICTORIA FILHO, R. Manejo Sustentável de Plantas Daninhas em Pastagens – ESALQ/USP – Piracicaba-SP. 2006. Disponível em http://sbcpd.org/portal/images/stories/downloads/2simposio/manejodeplantasdaninhasempastagens.pdf. Acesso em 04/11/2013. 9