Uso de Imagens de Satélite para Comparação da Organização Espacial Urbana entre as Cidades de Brasília e São Paulo no Ensino Fundamental Rafael Marques Gobbo Prefeitura Municipal de São Luiz do Paraitinga Praça Oswaldo Cruz, 03 [email protected] Resumo: As novas tecnologias para serem aplicadas em sala de aula são instrumentos importantíssimos para ao auxilio do professor. As imagens de satélite fornecem ao ensino da Geografia uma visão espacial diferenciada para o aluno. Com o objetivo de analisar a organização espacial urbana do Brasil, os alunos do 7º do Ensino Fundamental, utilizam as imagens CBERS para a comparação de duas cidades brasileiras, Brasília e São Paulo. As atividades são divididas em 2 (duas) aulas de 50 (cinquenta) minutos cujo objetivo é a explanação e o levantamento da discussão sobre a temática.Assim, como é usado um material diferenciado da realidade dos alunos, há um interesse maior pelo conteúdo apresentado e assimilação do conhecimento intermediado pelo professor. Palavras Chaves: imagens de satélite, organização espacial, espaço urbano. Introdução No início do século XX, as cidades mais importantes da região Sudeste, Rio de Janeiro (capital da República) e São Paulo sofriam o impacto da expansão da economia cafeeira e da incipiente industrialização. A urbanização é simultaneamente um resultado e uma combinação do processo de difusão do capital. Este destrói autarquias regionais ao penetrá-las e provoca uma especialização especulativa de acelerar as operações monetárias, as quais crescem em consequência das necessidades do capital (Santos, 2003 p. 23) Para Santos (2005), uma comparação entre os elementos díspares da nova ideologia urbana e da nova ideologia rural aponta uma urbanização mais intensa e uma pobreza mais aguda no Brasil no início do século XX. Na década de 1940 o Brasil apresentava-se com apenas 31,2% de população urbana. Nos anos seguintes a taxa referente ao processo de urbanização aumentou consideravelmente, principalmente a partir da década de 1970; no ano de 2000, segundo o último censo, o grau de urbanização passava de 81%. (BRITO, et al, 2001) Segundo Maricato (1999), as mudanças políticas havidas na década de 1930, com a regulamentação do trabalho urbano (não extensiva ao campo), incentivo à industrialização, construção da infraestrutura industrial, entre outras medidas, reforçaram o movimento migratório campo-cidade, consequentemente o processo de urbanização. Porém Sposito, apud, Reschilian (2004) ressalta a diferença do contexto europeu no processo da urbanização brasileira, pois não se pode associar a industrialização ao processo da urbanização brasileira, e sim analisar a integração econômica capitalista como a dominação imperialista, dominação colonial, etc. Para Brito, et al, (2001) foi a partir dos anos 1930 e 1940 que a urbanização se incorporou às profundas transformações estruturais pelas quais passavam a sociedade e a economia brasileira. Assume, de fato, uma dimensão estrutural: não é só o território que acelera o seu processo de urbanização, mas a própria sociedade brasileira se torna cada vez mais urbana. Este “grande ciclo de expansão da urbanização”, que se iniciava, coincidia com o “grande ciclo de expansão das migrações internas”. As migrações internas faziam o elo maior entre as mudanças estruturais pelas quais passavam a sociedade e a economia brasileira e a aceleração do processo de urbanização. De acordo com Santos (2005), no caso brasileiro, semelhante a alguns outros países em desenvolvimento, foi a velocidade do processo de urbanização, muito superior à dos países capitalistas mais avançados, que causou mudanças estruturais socioeconômicas no país. O desenvolvimento da economia ampliou os desequilíbrios regionais, inclusive entre o campo e a cidade, que não conseguia gerar o número de empregos que atendesse ao crescimento da sua força de trabalho. As migrações internas redistribuíam a população do campo para as cidades, principalmente, para as regiões metropolitanas do Sudeste, São Paulo em particular. (SANTOS, 2005) A sociedade brasileira em peso embriagou-se, desde os tempos da abolição e da república velha, com as idealizações sobre progresso e modernização. A salvação parecia estar nas cidades, onde o futuro já havia chegado. Então era só vir para elas e desfrutar de fantasias como emprego pleno, assistência social providenciada pelo Estado, lazer, novas oportunidades para os filhos... Não aconteceu nada disso, é claro, e, aos poucos, os sonhos viraram pesadelos. (Santos, 2005, p. 20) A segregação socioespacial, a localização e a concentração dos investimentos públicos sobre o espaço urbano contribuíram para produzir a cara das cidades brasileiras. De acordo com Scarlato (2003), a formação das cidades brasileiras foi suprimida pela demanda constante dos espaços urbano, ativa pela especulação imobiliária. A especulação tende a expandir as periferias horizontalmente e verticalizar áreas centrais. Como acontece nas metrópoles do Terceiro Mundo, o gigantismo deteriora as habitações, torna precário os serviços urbanos, desde os transportes até a segurança, e gera outros problemas. Considerando a importância deste tema, é previsto como conteúdo programático a temática do espaço urbano brasileiro para o 7º ano da Escola Municipal “Cassiana dos Santos Moreira” da Rede Municipal de Ensino de São Luiz do Paraitinga - SP. A contextualização desse processo releva um histórico do processo de urbanização brasileira. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo interpretação e leitura espacial das imagens através de sensoriamento remoto, concluindo e analisando o tipo de organização espacial urbana. No ensino da Geografia o sensoriamento remoto pode ser usado pra o estudo de aspectos físicos do território e também sobre a intervenção do homem no meio, assim como sobre o tema transversal “meio ambiente”, previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais no terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Para Florenzano e Sausen (2008), o uso de novas tecnologias em atividades escolares torna-se um instrumento para a interpretação e observação da Terra, visando à conscientização da realidade sócio ambiental do aluno. Cavalcanti (2002) destaca as propostas de trabalho em sala de aula com ênfase em cartografia, têm buscando novas alternativas sem trazer as práticas convencionais de copiar e colorir mapas. Porém não destaca o uso de sensoriamento remoto como auxilio para o desenvolvimento do ensino da cartografia. Para apresentar esses conhecimentos aos alunos e mostrar o tipo de organização espacial que existe entre as cidades, as imagens de satélite são de grande contribuição. Desta forma, para atingir os objetivos foram usadas imagens CBERS que contribuíram para análise das capitais brasileiras, em especial das cidades de Brasília e São Paulo, quanto ao planejamento. Cavalcanti (2002) destaca a importância do uso da cartografia em sala de aula no ensino da Geografia: A cartografia é um importante conteúdo do ensino por ser uma linguagem peculiar da Geografia, por ser uma forma de representar analises e sínteses geográficas, por permitir a leitura de acontecimentos, fatos fenômenos geográficos pela sua localização e pela espacialização. Pó outro lado sabe-se que os alunos têm um interesse acentuado por mapas. (Cavalcanti, 2002, p.39) Para realizar um trabalho sobre o tema cidade é necessário entender como as diferentes experiências e conhecimentos de crianças e jovens da cidade se cruzam ou se encontram com os conteúdos sistematizados e experiências curriculares na aula de Geografia. No desenvolvimento deste trabalho, os alunos foram divididos em grupos e cada grupo recebeu as imagens dos municípios e um questionário a ser respondido, a fim de incentivar a discussão sobre o tipo de organização espacial existente entre as duas figuras propostas. Os questionamentos sobre a diferença de organização do espaço urbano entre Brasília e o município de São Paulo, motivou os alunos a reflexão e conclusão da atividade, utilizando-se das imagens de satélite como recurso didático principal. Materiais e método Materiais Na atividade foram utilizadas imagens CBERS2/CCD - órbita/ponto 154/126+127 de São Paulo, com passagem em 15/06/2006 e composição RGB 3 4 2 e CBERS 2 /CCD órbita/pontos 157/ 117+118 de Brasília, com passagem em 06/06/2006 e composição em RGB 3 4 2, ambas as imagens foram fornecidas pelo Departamento de Processamento de Imagens do INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais). Após a obtenção das imagens, foram editadas e centralizadas no software da Microsoft “WORD 2003”, com objetivo de imprimilas e direcioná-las aos alunos. O livro didático de Cláudio Giardino, Geografia 7º ano, é utilizado como apoio nos textos para contextualizar os conceitos trabalhados em sala de aula sobre as diferenças entre o surgimento de espaços planejados e de surgimento espontâneo. Método A carga horária prevista no regimento da rede de ensino prevê 2 aulas semanais, com a duração de 50 minutos cada aula. Assim as atividades foram dividas em: • 1º aula: leitura e compreensão dos textos sobre o modo de organização do espaço urbano e sobre as cidades planejadas no Brasil, ambas retirados do livro didático. Essa etapa consiste também na contextualização do histórico do processo de formação do espaço urbanos brasileiro. • 2º aula: divisão dos grupos para leitura e interpretação das imagens de satélite e aplicação do questionário, no total de 15 alunos. Questionário: 1. Analisando as imagens, qual delas apresenta-se mais densamente povoada? 2. Qual é a localização da cidade de Brasília, entre as cinco regiões administrativas do Brasil? 3. Segundo a classificação climática do território brasileiro, cite a predominância de clima das duas cidades brasileiras apresentadas. 4. Cite o tipo de formação florestal predominante originalmente nas duas cidades. 5. Qual dessas cidades apresenta-se uma maior quantidade de área verde, tanto para o plantio, quanto áreas de preservação ambiental? 6. De acordo com as duas imagens apresentadas, qual delas apresenta-se nitidamente um espaço urbano surgido espontaneamente sem um prévio planejamento? Resultado Sendo que as figuras são editadas por um software de edição de texto e impresso de forma de que não apresentasse a escala devidamente proporcional, os exercícios e questionamentos de medidas, como, cálculos de distância real e tamanho, não são solicitados nesse plano de aula; o objetivo atingido pelo desenvolvimento das atividades é a interpretação das imagens fornecidas sobre outra projeção. A 1º aula foi desenvolvida através de textos extras sugeridos pelo professor, junto ao livro didático. Os alunos fizeram a leitura dos textos, para juntamente trabalhar a leitura e se possível levantar alguma dúvida em relação ao conteúdo. Na questão sobre a organização do espaço urbano sobre o surgimento espontâneo ou planejado os alunos despertaram o interesse quanto a formação de Brasília, no formato de um avião, assim houve a intervenção do professor quanto ao histórico da formação da capital do país. Com aplicação desse questionário na 2º aula pretende-se contextualizar o espaço dentro das paisagens brasileiras, dentre elas destaca-se: a região administrativa das cidades referidas, o clima predominante, e a formação florestal. Isso acontece com os conteúdos previamente estudos em sala de aula durante os bimestres anteriores. O objetivo desse questionário é o desenvolvimento e a aplicação de conteúdos desenvolvidos ao longo do ano letivo juntamente com a temática da organização do espaço urbano brasileiro de surgimento planejado ou espontâneo. O questionário procura desenvolver a analise espacial e comparativa com as imagens de São Paulo e Brasília, a atividade utilizou- se de materiais didáticos como atlas e também de textos complementares no caderno do aluno, tais como mapas e gráficos. Com o apoio desses materiais as respostas dos alunos do 7º ano do Ensino Fundamental obtiveram um aproveitamento considerável quanto a observação da organização espacial das duas cidades sugeridas. Tabela1 -porcentagem de acertos das questões propostas 100% 80% 60% 40% 20% 0% 1º questão 2º questão 3º questão 4º questão 5º questão 6º questão Nas questões 2, 3 e 4 o professor pode observar o interesse dos alunos em consultar os materiais sugeridos, porém a correlação das informações do caderno com as imagens obtiveram um aproveitamento médio de aproximadamente 62%. Ao contrário as questões 1 e 6, que somente era necessário a observação das imagens de satélite, demonstraram resultados de 80% e 93,3% em média respectivamente de aproveitamento. Alunos do 7º ano trabalhando com imagens Alunos utilizando o apoio de atlas para as atividades Conclusão O uso de instrumentos novos e inovadores em sala de aula incentiva e desperta o interesse de alunos para a temática. As imagens de satélite remetem a uma visão espacial diferenciada, como foi mostrado o Plano Piloto de Brasília e a organização espacial da cidade de São Paulo, diferenciando-as pela organização planejada ou o surgimento de forma espontânea. Assim os objetivos das aulas previstas foram satisfatórios, quanto a analise das imagens, como demonstra o gráfico. Com isto, leva-se em consideração outro plano de aula para o desenvolvimento da sistematização do conhecimento obtido ao longo do ano letivo, como os tipos climáticos brasileiros, as formações florestais e o tipo de formação do espaço urbano brasileiro. Referências Bibliográficas BRITO, Fausto; HORTA, Claudia J. G.; AMARAL, Ernesto F. de Lima. A urbanização recente no Brasil e as aglomerações metropolitanas. Belo Horizonte: UFMG, 2001. CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e práticas de ensino. Goiânia: Editora ALTERNATIVA, 2002. 127 p. FLORENZANO, Teresa Galloti, SAUSEN, Tânia Maria. Formação continuada de professores.Curso astronáutica e ciências do espaço.Sensoriamento Remoto, v.1,p.59-63,2008. MARICATO, Ermínia Terezinha Menon. Metrópole na periferia do capitalismo. São Paulo: Hucitec, 1999. RESCHILIAN, Paulo Romano. Dinâmica urbana e pobreza: a favela como expressão da inclusão precária. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v.1, n. 1, pp. 52-70, 2004. SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. 5a ed. São Paulo: EDUSP, 2005. SANTOS, Milton. Economia Espacial: Críticas e Alternativas. 3a ed. São Paulo: EDUSP, 2003. SCARLATO, Francisco Capuano. In: Ross, Jurandyr L. Sanches (org). Geografia do Brasil: população e urbanização brasileira. 4a ed. São Paulo: EDUSP, 2003.