“A existência de duas grafias oficiais acarreta problemas na redação de documentos em tratados internacionais e na publicação de obras de interesse público” Antônio Houaiss (filólogo - principal responsável pelo processo de unificação da língua no Brasil) Um novo jeito de escrever Do ponto de vista da ortografia, existem diferenças bastante relevantes na língua portuguesa. E não apenas entre Brasil e Portugal. O mesmo ocorre nas outras seis nações que falam e escrevem o português (Angola, Cabo Verde, GuinéBissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste). Para acabar com essas diferenças, foi criado, em 1990, um acordo ortográfico que entra em vigor no Brasil no mês de janeiro de 2009, mas garante um período de três anos de adaptação. Dessa forma, no triênio de convivência e transição, as duas ortografias serão aceitas aqui (no Brasil) em todas as instâncias. Acredita-se que de agora em diante, a língua portuguesa tem tudo para ganhar espaço, pois o intercâmbio de informações e textos – com as regras mais simplificadas - será mais fácil, reduzirá custos de produção e adaptação de livros e facilitará a difusão bibliográfica de novas tecnologias. É importante ressaltar que a pronúncia, o vocabulário e a sintaxe permanecem exatamente como estão. A novidade é apenas a unificação da grafia de algumas palavras. www.coedup.com.br Acordo ortográfico – o que muda? Página 1 de 6 1. Novas letras Com o novo acordo, nosso alfabeto passa a ter 26 letras, ou seja, a incorporação oficial das letras k, w e y. No entanto, seu emprego fica restrito a apenas alguns casos, como já ocorre. Veja os principais exemplos: em nomes próprios de pessoas e seus derivados; Exemplos: Franklin, frankliniano; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Taylor, taylorista; Byron, byroniano. Em nomes próprios de lugares originários de outras línguas e seus derivados; Exemplos: Kuawait, kuwaitiano; Washington; Yokohama. Em símbolos, abreviaturas, siglas e palavras adotadas como unidades de medida internacionais; Exemplos: km (quilômetro); k (potássio); W (watt); Em palavras estrangeiras incorporadas à língua. Exemplo: sexy, show, download, megabyte. 2. Acentuação: Acento agudo: O acento agudo desaparece das palavras da língua portuguesa em três casos, como se pode ver a seguir: nos ditongos (encontro de duas vogais proferidas em uma só sílaba) abertos ei e oi das palavras paroxítonas (aquelas cuja sílaba pronunciada com mais intensidade é a penúltima). COMO ERA assembléia heróico idéia jibóia alcatéia bóia celulóide Coréia COMO FICA assembleia heroico ideia jiboia alcateia boia celuloide Coreia NO ENTANTO, as oxítonas (palavras com acento na última sílaba) e os monossílabos tônicos terminados em éi, éu e ói continuam com o acento (no singular e/ou no plural). Exemplos: herói (s), ilhéu (s), chapéu (s), anéis, dói, céu. nas palavras paroxítonas com i e u tônicos quando vierem depois de um ditongo.: COMO ERA baiúca bocaiúva feiúra COMO FICA baiuca bocaiuva feiura COMO ERA assembléia Heróico Idéia Jibóia alcatéia Bóia celulóide Coréia COMO FICA assembleia heroico ideia jiboia alcateia boia celuloide Coreia NO ENTANTO, as letras i e u continuam a ser acentuadas se formarem hiato mas estiverem sozinhas na sílaba ou seguidas de s. Exemplos: baú, baús, saída, saúde, viúva. No caso das oxítonas, com o i ou u na posição final, seguido ou não de “s”, o acento permanece. Exemplo: Piauí, tuiuiú, tuiuiús Nas formas verbais que tem acento tônico na raiz (rizotônicas), com o u tônico precedido das letras g ou q e seguido de e ou i. Esses casos são pouco frequentes na língua portuguesa: apenas nas formas verbais de arguir e redarguir. www.coedup.com.br Página 2 de 6 NO ENTANTO, as oxítonas (palavras com acento na última sílaba) e os monossílabos tônicos terminados em éi, éu e ói continuam com o acento (no singular e/ou no plural). Exemplos: herói (s), ilhéu (s), chapéu (s), anéis, dói, céu. nas palavras paroxítonas com i e u tônicos quando vierem depois de um ditongo.: COMO ERA baiúca bocaiúva feiúra COMO FICA baiuca bocaiuva feiura NO ENTANTO, as letras i e u continuam a ser acentuadas se formarem hiato mas estiverem sozinhas na sílaba ou seguidas de s. Exemplos: baú, baús, saída, saúde, viúva. No caso das oxítonas, com o i ou u na posição final, seguido ou não de “s”, o acento permanece. Exemplo: Piauí, tuiuiú, tuiuiús Nas formas verbais que tem acento tônico na raiz (rizotônicas), com o u tônico precedido das letras g ou q e seguido de e ou i. Esses casos são pouco frequentes na língua portuguesa: apenas nas formas verbais de arguir e redarguir. • Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos: Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros. Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba. Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra. Observação: É facultativo o uso do acento em: dêmos (1ª p. plural do presente do subjuntivo) para diferenciar de demos (1ª p. plural do pretérito perfeito do indicativo); fôrma (substantivo), para diferenciar de forma (substantivo e verbo) c. Acento circunflexo: Não será mais utilizado nas palavras terminadas em oo. COMO ERA COMO FICA enjôo enjoo vôo voo corôo coroo magôo magoo perdôo perdoo Da mesma forma, deixa de ser usado o circunflexo na conjugação da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus derivados. COMO ERA COMO FICA crêem creem dêem deem lêem leem vêem veem relêem releem revêem reveem NO ENTANTO, nada muda na acentuação dos verbos ter, vir e seus derivados. Eles continuam com o acento circunflexo no plural (eles têm, eles vêm) e, no caso dos derivados, com o acento agudo nas formas que possuem mais de uma sílaba no singular (ele detém, ele intervém). www.coedup.com.br Trema Página 3 de 6 3. O trema – sinal gráfico de dois pontos usado em cima do u para indicar que essa letra é pronunciada nos grupos que, qui, gue e gui, foi abolido. Ele simplesmente deixa de existir na língua portuguesa, mas em palavras estrangeiras e seus derivados (Müller. mülleriano) o sinal permanece. NO ENTANTO, vale lembrar que a pronúncia continua a mesma. 4. Hífen a. O hífen deixa de ser empregado nas seguintes situações: quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso, a Quando o prefixo termina em vogal e o consoante obrigatoriamente passa a ser duplicada. segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: antirrábico aeroespacial antirracismo agroindustrial microssistema coedição antirreligioso anteontem minissaia extraescolar antirrugas antiaéreo multissecular infraestrutura antissocial antieducativo neorrealismo plurianual biorritmo autoaprendizagem semirreta semianalfabeto contrarregra autoescola ultrarresistente. semiesférico contrassenso autoestrada ultrassom semiopaco cosseno autoinstrução infrassom coautor NO ENTANTO, o hífen permanece quando o prefixo termina com r (hiper, inter e super) e a primeira letra do segundo elemento também é r. Exemplos: hiper-requintado, super-resistente. b. O hífen é mantido nas palavras compostas. Alguns NO ENTANTO, palavras compostas das exemplos: quais se perdeu a noção de composição são escritas guarda-noturno guarda-chuva sem hífen. conta-gotas maria-mole guarda-roupa porto-alegrense mandachuva paraquedas arco-íris sul-africano girassol pontapé guarda-sol tenente-coronel Este é um ponto do Acordo sobre o qual há divergências, pois a perda da noção de composição é um critério subjetivo. As palavras que passam a se escrever sem hífen, em razão dessa determinação, só serão plenamente definidas com a publicação do novo VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). (localizar esse link) www.coedup.com.br Página 4 de 6 c. O acordo regularizou o uso do hífen na grafia de todas as palavras que indicam espécies de plantas d. Usa-se o hífen. ou de animais: Quando se soma ao prefixo ou falso prefixo palavra couve-flor canário-da-terra iniciada por h. couve-de-bruxelas tamanduá-bandeira anti-hipertensivo anti-histamínico ervilha-torta erva-doce sub-humano macro-história formiga-de-roça erva-cidreira anti-higiênico co-herdeiro formiga-ferro flor-da-noite sobre-humano super-homem flor-do-espíritopintassilgo-verde mini-hotel anti-histórico santo pimenta-do-reino sabiá-laranjeira Quando o prefixo ou falso prefixo termina pela mesma vogal com que se inicia o segundo elemento da palavra. anti-inflamatório micro-ônibus anti-imperialista contra-atacar arqui-inimigo micro-ondas auto-observação semi-interno NO ENTANTO, o prefixo co, independentemente de o segundo elemento da palavra iniciar pela mesma vogal, aglutina-se: coocupante, coordenar, cooperar. Com palavras iniciadas por circum e pan cujo segundo elemento começa por vogal e h (isso estava na regra anterior) e m, n (nova regra). bem-aceito mal-aceito bem-afortunado mal-afortunado bem-arrumado mal-arrumado bem-estar mal-estar bem-humorado mal-humorado bem-orientado mal-orientado Com palavras iniciadas por circum e pan cujo segundo elemento começa por vogal e h (isso estava na regra anterior) e m, n (nova regra). Circum-murado Circum-navegar Pan-mítico Não houve alteração na grafia dos compostos com os advérbios bem e mal, mas pela dúvida que essas grafias trazem, justificase uma explicação sobre o caso. e. Usa-se hífen nas palavras compostas com os advérbios bem e mal, quando formam uma unidade de significado e o segundo elemento começa por vogal ou h. OBSERVAÇÃO: O advérbio mal sempre se aglutina com consoantes. Com o advérbio bem, isso nem sempre acontece. É por isso que há essas grafias: bem-criado malcriado bem-falado malfalado bem-nascido malnascido bem-sucedido malsucedido NO ENTANTO, o advérbio bem, em alguns casos aglutina-se como o segundo elemento: benfazejo, benfeitor, benquerença. www.coedup.com.br Página 5 de 6 5. Resumo Emprego do hífen com prefixos - Regra básica Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-homem. Outros casos 1. Prefixo terminado em vogal: • Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo. • Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, semicírculo. • Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracismo, antissocial, ultrassom. • Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-ondas. 2. Prefixo terminado em consoante: •Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-bibliotecário. • Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, supersônico. • Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante. Observações a. Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça. b. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano. c. O prefixo co, aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante. d. Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-almirante e. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista. f. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu. 5. Considerações Gerais Boa parte das mudanças previstas no novo acordo não afeta o português escrito no Brasil, mas tem relação direta com a grafia atual das palavras em Portugal. Um exemplo é a eliminação da letra h no início de palavras como herva e húmido (que há muito tempo são erva e úmido por aqui e passam a ser escritas só dessa forma em todos os países lusófonos). Além disso, como regra geral, desaparecem o c e o p das palavras em que essas letras não são pronunciadas. COMO ERA acção aflicto colectivo director exacto baptizar COMO FICA Ação Aflito Coletivo Diretor Exato batizar www.coedup.com.br Página 6 de 6 6. Referências Bibliográficas GUIA Ortográfico da língua portuguesa: Editora Positivo MESQUITA, Roberto Melo. Gramática da Língua Portuguesa.São Paulo: Saraiva, 1999 LÍNGUA PORTUGUESA, São Paulo: Segmento. Nº 39, janeiro de 2009 TUFANO, Douglas.Guia prático da nova ortografia. São Paulo: Melhoramentos, 2008 ***** SITES SUGERIDOS PARA PESQUISAS SOBRE LÍNGUA PORTUGUESA: Portal da Língua Portuguesa www.portaldalinguaportuguesa.org Wikipédia HTTP://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_Ortogr%C3%A1fico_de_1990 Academia Brasileira de Letras HTTP://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home Material elaborado pela Cooperativa Educacional de Pederneiras COEDUP maio de 2009 www.coedup.com.br