Universidade do Sul de Santa Catarina Mercado Agrícola I Disciplina na modalidade a distância Palhoça UnisulVirtual 2011 Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Campus UnisulVirtual – Educação Superior a Distância Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: [email protected] | Site: www.unisul.br/unisulvirtual Reitor Unisul Ailton Nazareno Soares Vice-Reitor Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Willian Máximo Pró-Reitora Acadêmica Miriam de Fátima Bora Rosa Pró-Reitor de Administração Fabian Martins de Castro Pró-Reitor de Ensino Mauri Luiz Heerdt Campus Universitário de Tubarão Diretora Milene Pacheco Kindermann Campus Universitário da Grande Florianópolis Diretor Hércules Nunes de Araújo Campus Universitário UnisulVirtual Diretora Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Diretora Adjunta Patrícia Alberton Secretaria Executiva e Cerimonial Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Marcelo Fraiberg Machado Tenille Catarina Assessoria de Assuntos Internacionais Murilo Matos Mendonça Assessoria de Relação com Poder Público e Forças Armadas Adenir Siqueira Viana Walter Félix Cardoso Junior Assessoria DAD - Disciplinas a Distância Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Carlos Alberto Areias Cláudia Berh V. da Silva Conceição Aparecida Kindermann Luiz Fernando Meneghel Renata Souza de A. Subtil Assessoria de Inovação e Qualidade de EAD Denia Falcão de Bittencourt (Coord) Andrea Ouriques Balbinot Carmen Maria Cipriani Pandini Iris de Sousa Barros Assessoria de Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Felipe Jacson de Freitas Jefferson Amorin Oliveira Phelipe Luiz Winter da Silva Priscila da Silva Rodrigo Battistotti Pimpão Tamara Bruna Ferreira da Silva Coordenação Cursos Coordenadores de UNA Diva Marília Flemming Marciel Evangelista Catâneo Roberto Iunskovski Assistente e Auxiliar de Coordenação Maria de Fátima Martins (Assistente) Fabiana Lange Patricio Tânia Regina Goularte Waltemann Ana Denise Goularte de Souza Coordenadores Graduação Adriano Sérgio da Cunha Aloísio José Rodrigues Ana Luísa Mülbert Ana Paula R. Pacheco Arthur Beck Neto Bernardino José da Silva Catia Melissa S. Rodrigues Charles Cesconetto Diva Marília Flemming Fabiano Ceretta José Carlos da Silva Junior Horácio Dutra Mello Itamar Pedro Bevilaqua Jairo Afonso Henkes Janaína Baeta Neves Jardel Mendes Vieira Joel Irineu Lohn Jorge Alexandre N. Cardoso José Carlos N. Oliveira José Gabriel da Silva José Humberto D. Toledo Joseane Borges de Miranda Luciana Manfroi Luiz G. Buchmann Figueiredo Marciel Evangelista Catâneo Maria Cristina S. Veit Maria da Graça Poyer Mauro Faccioni Filho Moacir Fogaça Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Fontanella Rogério Santos da Costa Rosa Beatriz M. Pinheiro Tatiana Lee Marques Valnei Carlos Denardin Roberto Iunskovski Rose Clér Beche Rodrigo Nunes Lunardelli Sergio Sell Coordenadores Pós-Graduação Aloisio Rodrigues Bernardino José da Silva Carmen Maria Cipriani Pandini Daniela Ernani Monteiro Will Giovani de Paula Karla Leonora Nunes Leticia Cristina Barbosa Luiz Otávio Botelho Lento Rogério Santos da Costa Roberto Iunskovski Thiago Coelho Soares Vera Regina N. Schuhmacher Gerência Administração Acadêmica Angelita Marçal Flores (Gerente) Fernanda Farias Secretaria de Ensino a Distância Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Adenir Soares Júnior Alessandro Alves da Silva Andréa Luci Mandira Cristina Mara Schauffert Djeime Sammer Bortolotti Douglas Silveira Evilym Melo Livramento Fabiano Silva Michels Fabricio Botelho Espíndola Felipe Wronski Henrique Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Indyanara Ramos Janaina Conceição Jorge Luiz Vilhar Malaquias Juliana Broering Martins Luana Borges da Silva Luana Tarsila Hellmann Luíza Koing Zumblick Maria José Rossetti Marilene de Fátima Capeleto Patricia A. Pereira de Carvalho Paulo Lisboa Cordeiro Paulo Mauricio Silveira Bubalo Rosângela Mara Siegel Simone Torres de Oliveira Vanessa Pereira Santos Metzker Vanilda Liordina Heerdt Gestão Documental Lamuniê Souza (Coord.) Clair Maria Cardoso Daniel Lucas de Medeiros Eduardo Rodrigues Guilherme Henrique Koerich Josiane Leal Marília Locks Fernandes Gerência Administrativa e Financeira Renato André Luz (Gerente) Ana Luise Wehrle Anderson Zandré Prudêncio Daniel Contessa Lisboa Naiara Jeremias da Rocha Rafael Bourdot Back Thais Helena Bonetti Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão Moacir Heerdt (Gerente) Aracelli Araldi Elaboração de Projeto e Reconhecimento de Curso Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Francielle Arruda Rampelotte Extensão Maria Cristina Veit (Coord.) Pesquisa Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Mauro Faccioni Filho(Coord. Nuvem) Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Biblioteca Salete Cecília e Souza (Coord.) Paula Sanhudo da Silva Renan Felipe Cascaes Gestão Docente e Discente Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Capacitação e Assessoria ao Docente Simone Zigunovas (Capacitação) Alessandra de Oliveira (Assessoria) Adriana Silveira Alexandre Wagner da Rocha Elaine Cristiane Surian Juliana Cardoso Esmeraldino Maria Lina Moratelli Prado Fabiana Pereira Tutoria e Suporte Claudia Noemi Nascimento (Líder) Anderson da Silveira (Líder) Ednéia Araujo Alberto (Líder) Maria Eugênia F. Celeghin (Líder) Andreza Talles Cascais Daniela Cassol Peres Débora Cristina Silveira Francine Cardoso da Silva Joice de Castro Peres Karla F. Wisniewski Desengrini Maria Aparecida Teixeira Mayara de Oliveira Bastos Patrícia de Souza Amorim Schenon Souza Preto Gerência de Desenho e Desenvolvimento de Materiais Didáticos Márcia Loch (Gerente) Desenho Educacional Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Silvana Souza da Cruz (Coord. Pós/Ext.) Aline Cassol Daga Ana Cláudia Taú Carmelita Schulze Carolina Hoeller da Silva Boeing Eloísa Machado Seemann Flavia Lumi Matuzawa Gislaine Martins Isabel Zoldan da Veiga Rambo Jaqueline de Souza Tartari João Marcos de Souza Alves Leandro Romanó Bamberg Letícia Laurindo de Bonfim Lygia Pereira Lis Airê Fogolari Luiz Henrique Milani Queriquelli Marina Melhado Gomes da Silva Marina Cabeda Egger Moellwald Melina de La Barrera Ayres Michele Antunes Corrêa Nágila Hinckel Pâmella Rocha Flores da Silva Rafael Araújo Saldanha Roberta de Fátima Martins Roseli Aparecida Rocha Moterle Sabrina Bleicher Sabrina Paula Soares Scaranto Viviane Bastos Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Letícia Regiane Da Silva Tobal Mariella Gloria Rodrigues Avaliação da aprendizagem Geovania Japiassu Martins (Coord.) Gabriella Araújo Souza Esteves Jaqueline Cardozo Polla Thayanny Aparecida B.da Conceição Jeferson Pandolfo Karine Augusta Zanoni Marcia Luz de Oliveira Assuntos Jurídicos Bruno Lucion Roso Marketing Estratégico Rafael Bavaresco Bongiolo Portal e Comunicação Catia Melissa Silveira Rodrigues Andreia Drewes Luiz Felipe Buchmann Figueiredo Marcelo Barcelos Rafael Pessi Gerência de Produção Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente) Francini Ferreira Dias Design Visual Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Alice Demaria Silva Anne Cristyne Pereira Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro Daiana Ferreira Cassanego Diogo Rafael da Silva Edison Rodrigo Valim Frederico Trilha Higor Ghisi Luciano Jordana Paula Schulka Marcelo Neri da Silva Nelson Rosa Oberdan Porto Leal Piantino Patrícia Fragnani de Morais Multimídia Sérgio Giron (Coord.) Dandara Lemos Reynaldo Cleber Magri Fernando Gustav Soares Lima Conferência (e-OLA) Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.) Bruno Augusto Zunino Gerência de Logística Produção Industrial Marcelo Bittencourt (Coord.) Logísitca de Materiais Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Abraao do Nascimento Germano Bruna Maciel Fernando Sardão da Silva Fylippy Margino dos Santos Guilherme Lentz Marlon Eliseu Pereira Pablo Varela da Silveira Rubens Amorim Yslann David Melo Cordeiro Gerência Serviço de Atenção Integral ao Acadêmico Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente) Avaliações Presenciais Graciele M. Lindenmayr (Coord.) Ana Paula de Andrade Angelica Cristina Gollo Cristilaine Medeiros Daiana Cristina Bortolotti Delano Pinheiro Gomes Edson Martins Rosa Junior Fernando Steimbach Fernando Oliveira Santos Lisdeise Nunes Felipe Marcelo Ramos Marcio Ventura Osni Jose Seidler Junior Thais Bortolotti Gerência de Marketing Fabiano Ceretta (Gerente) Relacionamento com o Mercado Eliza Bianchini Dallanhol Locks Relacionamento com Polos Presenciais Alex Fabiano Wehrle (Coord.) Maria Isabel Aragon (Gerente) André Luiz Portes Carolina Dias Damasceno Cleide Inácio Goulart Seeman Francielle Fernandes Holdrin Milet Brandão Jenniffer Camargo Juliana Cardoso da Silva Jonatas Collaço de Souza Juliana Elen Tizian Kamilla Rosa Maurício dos Santos Augusto Maycon de Sousa Candido Monique Napoli Ribeiro Nidia de Jesus Moraes Orivaldo Carli da Silva Junior Priscilla Geovana Pagani Sabrina Mari Kawano Gonçalves Scheila Cristina Martins Taize Muller Tatiane Crestani Trentin Vanessa Trindade Luis Augusto Araújo Mercado Agrícola I Livro didático Design instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos Palhoça UnisulVirtual 2011 Copyright © UnisulVirtual 2011 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Edição – Livro Didático Professor Conteudista Luis Augusto Araújo Design Instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Fenanda Fernandes Revisão Smirna Cavalheiro 381.41 A69 Araújo, Luis Augusto Mercado agrícola I : livro didático / Luis Augusto Araújo ; design instrucional Marcelo Tavares de Souza Campos. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011. 198 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. 1. Agropecuária – Comércio. 2. Agricultura – Aspectos econômicos. I. Campos, Marcelo Tavares de Souza. II. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Palavras do professor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 - A economia e o mercado agrícola. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 UNIDADE 2 - Oferta e demanda agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 UNIDADE 3 - Elasticidade de produtos agrícolas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 UNIDADE 4 - Análise de mercados agrícolas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 UNIDADE 5 - Intervenções do Estado nos mercados agrícolas. . . . . . . . . . 161 Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189 Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191 Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 193 Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina Mercado Agrícola I. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância, proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a um aprendizado contextualizado e eficaz. Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e instituição estarão sempre conectados com você. Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como: telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade. Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual. 7 Palavras do professor Caro estudante, Seja bem-vindo(a) à disciplina de Mercado Agrícola I. Modestamente, com este livro procuro contribuir para a promoção do “diálogo” entre futuros profissionais da área do agronegócio com a área de mercado. Isto significa, também, que tenho uma ambiciosa expectativa de que isso produza frutos que, se bem cultivados, poderão mudar a sua história de vida pessoal e profissional. Meu compromisso, nesta disciplina, é promover o entendimento da relevância do estudo do mercado agrícola para a formação de seu conhecimento como futuro profissional do agronegócio, bem como contribuir para a formação de profissionais das áreas das ciências agrárias, ciências florestais, economia, administração e demais áreas correlatas ao estudo do agronegócio. Além da discussão sobre mercado agrícola, seus agentes de produção e consumo, no decorrer da disciplina você terá oportunidade de analisar temas de crescente importância na atualidade como as diferentes estruturas de mercado, o papel do Estado na agricultura e suas intervenções nos mercados agrícolas. Sem pretensão de esgotar o assunto, mostrarei para você como os mercados agrícolas funcionam e, principalmente, como os preços são formados nos diferentes tipos de mercados. Exemplos do mundo real no passado recente, como, por exemplo, situações envolvendo a produção e demanda por café; a fusão entre a Sadia e a Perdigão, que deu origem a um gigante no setor de alimentos: a BRF – Brasil Foods; a JBS Friboi e o mercado do arroz facilitam o entendimento dos conceitos e conteúdos da disciplina. Para aqueles que estão iniciando seus estudos em mercados agrícolas, este livro é o ponto de partida para a sua compreensão. Um ótimo estudo! Professor Luis Augusto Araújo Plano de estudo O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: o livro didático; o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA); as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de autoavaliação); o Sistema Tutorial. Ementa Evolução da economia inserida no contexto histórico. Políticas para o desenvolvimento agrícola. Dinâmica da agricultura capitalista. Noções de microeconomia e macroeconomia. Análise de mercado. Custos de produção. Relações entre o desenvolvimento econômico e a agricultura. O Estado e as políticas agrícolas. Universidade do Sul de Santa Catarina Objetivos Geral Disseminar conhecimentos básicos sobre o comportamento dos principais elementos que afetam o mercado agrícola, permitindo melhor entendimento e compreensão do papel do agronegócio e de suas relações com o sistema econômico em geral. Específicos: Analisar a microeconomia dos mercados agrícolas, com ênfase à compreensão dos diferentes modelos de mercado. Identificar os principais métodos de análise de mercado, assim como entender o paradigma de sua estrutura, conduta e desempenho. Conhecer os limites e as potencialidades das políticas agrícolas. Carga Horária A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula. Conteúdo programático/objetivos Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidades de estudo: 5 12 Mercado Agrícola I Unidade 1 – A economia e o mercado agrícola Nesta unidade você será levado a entender o que é mercado e atividade econômica. Aprenderá a identificar o problema da agricultura, a compreender o funcionamento da economia e a analisar os sistemas econômicos e a importância do estudo econômico. Com o estudo destes conceitos ficará mais fácil a compreensão dos conteúdos das unidades seguintes relacionados ao mercado agrícola. Unidade 2 – Oferta e demanda agrícola Você aprenderá os conceitos de oferta e demanda, equilíbrio de mercado, assim como escassez e excedente. A maioria desses conceitos é ilustrada por exemplos relacionados ao mercado de café, que continuará a ser utilizado nas próximas unidades deste livro. Além disso, você aprenderá os componentes do modelo da oferta e da demanda e como esse modelo pode ser usado para entender o comportamento dos mercados agrícolas. Unidade 3 – Elasticidade de produtos agrícolas Por que tão pouca gente vive e trabalha no campo no Brasil e, em especial, nos Estados Unidos? No estudo da unidade anterior você utilizou o modelo da oferta e da demanda para prever como o preço e a quantidade mudam. Caso o preço do café venha a subir, por exemplo, sabemos que sua demanda cairá. A questão essencial é saber qual o volume demandado de café torna-se sensível as mudanças no preço do produto? A resposta a essas duas perguntas está relacionada ao tema desta unidade – elasticidade. Aqui você aprenderá o que é elasticidade, como são medidos os diferentes tipos de elasticidade e qual a sua importância para os produtores e consumidores de produtos agrícolas. 13 Universidade do Sul de Santa Catarina Unidade 4 – Análise de mercados agrícolas Nesta unidade você estudará o que é estrutura de mercado e quais são os tipos existentes no caminho percorrido entre os produtores rurais e os consumidores finais. Aprenderá as diferenças existentes entre a concorrência perfeita e o monopólio e os efeitos dessa diferença no bem-estar da sociedade. Em seguida, examinaremos por que o oligopólio é tão importante e quais são as políticas normalmente empregadas para mantê-los “bem comportados”. Você aprenderá, ainda, a partir do conteúdo relacionado à competição monopolística, como as empresas diferenciam seus produtos. Além disso, você estudará um método de análise de mercado conhecido por “paradigma de estruturaconduta-desempenho”. Unidade 5 – Intervenções do Estado nos mercados agrícolas Nesta unidade você aprenderá sobre os diferentes tipos de intervenções do Estado no mercado agrícola e suas consequências. Começamos explicando as razões que levam à intervenção do Estado na agricultura, para, em seguida, tratar da intervenção estatal e seus instrumentos: as políticas macroeconômicas e as políticas setoriais. Examinaremos o que acontece quando os governos tentam controlar os preços em um mercado competitivo e quando tentam determinar a quantidade comprada e vendida de um bem. E, finalmente, verificaremos o efeito esperado do imposto sobre vendas e compras. 14 Mercado Agrícola I Agenda de atividades/Cronograma Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e professor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. Atividades obrigatórias Demais atividades (registro pessoal) 15 UNIDADE 1 A economia e o mercado agrícola Objetivos de aprendizagem Compreender o funcionamento da economia, dos sistemas econômicos e a importância do estudo econômico. Conhecer o conceito de micro e macroeconomia. Aprender sobre o que é mercado e a atividade econômica. Identificar o mercado como um problema da agricultura de curto e de longo prazo. Seções de estudo Seção 1 Por que estudar economia? Seção 2 Sistema econômico Seção 3 Micro e macroeconomia e a economia agrícola Seção 4 Os mercados e a atividade econômica Seção 5 Mercado: o problema da agricultura 1 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo No passado, mais precisamente na Idade Média, a cidade de Paris foi considerada um dos maiores centros da civilização ocidental. Você pode imaginar os agricultores trazendo seus produtos alimentícios das províncias para a cidade de Paris e trocando‑os por bens produzidos pelos artesãos da cidade? Surpreendentemente, ninguém dizia aos agricultores o que as pessoas da cidade necessitavam, tampouco aos artesãos quais eram as necessidades dos agricultores. Ao final do dia, poucos produtos ficavam sem ser vendidos. Atualmente, este mesmo procedimento de troca acontece no mundo inteiro e em todos os mercados. Caro aluno, neste conteúdo você será levado a entender o que é mercado e atividade econômica; a identificar o problema da agricultura; a compreender o funcionamento da economia; os sistemas econômicos e a importância do estudo econômico. Com esses conceitos ficará mais fácil a compreensão dos conteúdos das unidades seguintes relacionados ao mercado agrícola. Seção 1 – Por que estudar economia? Como resposta à pergunta “Por que estudar economia?” iniciamos este estudo com uma abordagem sobre a aplicação dos fundamentos de economia. Nesta abordagem, apresentamos a definição de economia, apontando seu problema fundamental, principalmente no que se refere aos fatores de produção e às necessidades humanas. A ideia é responder tal questão relacionando‑a ao conceito de mercado agrícola. Como você já deve ter percebido em seu cotidiano, os fundamentos de economia são aplicados em muitas situações de nossas vidas. 18 Mercado Agrícola I Podemos aplicar esses fundamentos quando decidimos comprar um café, quando decidimos comprar um carro ou quando é preciso decidir a respeito de um financiamento. Portanto, é possível notar que todas essas decisões que envolvem finanças pessoais envolvem também as finanças das empresas e as finanças do próprio governo. O tema economia aparece diariamente também quando você assiste televisão, quando você lê um jornal internacional (Financial Times) ou quando você lê um jornal local (Globo Economia e Negócios e a Folha de São Paulo). Você já parou para pensar que nós, seres humanos, somos atormentados por necessidades? Note que estamos sempre em busca de algo: desejamos amor, reconhecimento social, necessidades materiais, conforto, bem‑estar, etc. Os esforços para realizar nossos desejos, ou seja, a busca pelo bem‑estar social, geralmente estão ligados às conquistas materiais. Portanto, essa busca constante torna‑se também uma preocupação de âmbito econômico. A definição de economia e de seu problema fundamental A economia pode ser definida como uma ciência social que estuda como as pessoas ganham o seu sustento e se relacionam a partir disso. É uma ciência que estuda os negócios comuns da vida. Economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí‑los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas. (VASCONCELLOS, 2005, p. 1). Unidade 1 19 Universidade do Sul de Santa Catarina Segundo Troster e Mochon (2003, p. 5), a economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos, com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí‑los para seu consumo entre os membros da sociedade. Hoje em dia, um cidadão brasileiro dispõe de um leque de bens e serviços a adquirir que corresponde a mais de 15 vezes do que se tinha à disposição no início do século XX. Pensando nesse aumento significativo de riqueza, pergunta‑se: Por que continuamos lutando pelos nossos ganhos? Se hoje temos mais riqueza que nossos avós ou bisavós, por que não afrouxamos um pouco e paramos de trabalhar tanto? Existem dois bons motivos para isso: a) as necessidades humanas são ditas “ilimitadas”; b)os recursos disponíveis são finitos ou “limitados”. Segundo Wonnacott e Wonnacott (1982, p. 23), por “não podermos ter tudo” devemos decidir o que teremos. O leque de nossos desejos é extremamente amplo. Queremos bens diversos como carro, casa, roupas e calçados. Queremos serviços diversos como viajar, consultas médicas, consultas odontológicas e serviços de uma cabeleireira. Além disso, a satisfação de um desejo inicial pode criar um desejo novo e maior. De um modo geral, os desejos materiais provêm de duas fontes: a) necessidades biológicas básicas; b) necessidades por bens e serviços. Para entender melhor essa questão, pense na seguinte situação: ao comer uma garoupa, peixe considerado nobre, em um restaurante conceituado, satisfazemos nossas necessidades básicas de alimentação. Mas estamos fazendo mais. Estamos nos alimentando de um prato saboroso, em um ambiente confortável e elegante. 20 Mercado Agrícola I Obtemos o supérfluo junto com o básico. O prazer que nos dão é suficiente para que nos motive a trabalhar a fim de obtê‑los. A letra da música Gente, composição de Raul Seixas e Cláudio Roberto, ilustra esta ideia de que o ser humano está sempre a querer algo. Acompanhe: Para ler a letra na sua íntegra e escutar a música, você pode acessar o EVA desta disciplina. Gente (Composição: Raul Seixas e Cláudio Roberto) Gente é tão louca E no entanto tem sempre razão Quando consegue um dedo Já não serve mais, quer a mão E o problema é tão fácil de perceber É que gente Gente nasceu pra querer Gente tá sempre querendo Chegar lá no alto Pra no fim descobrir Já cansado que tudo é tão chato Mas o engano é bem fácil de se entender É que gente Gente nasceu pra querer Em casa, na rua, na praia, na escola ou no bar... ah! Gente fingindo, escondendo seu medo de amar...oh! A maioria das questões importantes de nosso tempo, tais como desemprego, inflação, pobreza e desigualdade, desenvolvimento, regulação governamental, déficit orçamentário, seguridade social e poluição possuem algo comum: o desafio de se utilizar os fatores de produção (recursos) escassos de forma eficiente. Portanto, o problema fundamental da economia está relacionado diretamente à escassez de recursos. Como você pode perceber, ao analisarmos a atual realidade mundial vimos que é a escassez o principal objeto de estudo da economia. Unidade 1 21 Universidade do Sul de Santa Catarina Fatores de produção e as necessidades humanas Os fatores de produção podem ser agrupados em: Recursos naturais: são os usados na produção e que são extraídos diretamente da natureza, como: os solos, os minerais, as águas, a fauna, a flora, o sol e o vento. O Brasil utiliza aproximadamente 50 milhões de hectares com a produção de grãos. Recursos humanos: são todas as atividades humanas usadas na produção de bens e serviços. Capital: são todos os bens materiais produzidos pelo homem e que são utilizados na produção. O fator capital abrange o conjunto de riquezas acumuladas por uma sociedade, dos quais, podemos citar: a) infraestrutura econômica; b)infraestrutura social; c) construções e edificações; d)equipamentos de transportes; e) máquinas e equipamentos; f) matérias‑primas. Tecnologia é um termo utilizado para englobar uma ampla variedade de mudanças de técnicas e métodos de produção. 22 Mercado Agrícola I Como você pode perceber no presente estudo o principal motivo de se estudar economia pode ser traduzido na seguinte relação: “fatores de produção escassos x necessidades ilimitadas” (LEITE, 2007, p. 20). Para Mankiw (2004, p. 17), o estudo da economia é importante, entre outras razões, para: a) ajudar no entendimento do mundo em que se vive; b)ser um participante mais efetivo e perspicaz da própria economia; e c) proporcionar melhor compreensão dos limites e potencialidades da política econômica. Outro bom motivo que está relacionado aos contextos mencionados anteriormente é que os princípios de economia podem ser aplicados em muitas situações de nossas vidas. Unidade 1 23 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 2 – O sistema econômico Como a economia pode influenciar negócios comuns em nosso cotidiano? Veremos a seguir que cenas comuns de nossas vidas revelam algumas questões importantes que a economia ajuda a responder. Entre essas questões temos: Como funciona nosso sistema econômico? Isto é, como se consegue fornecer os bens e serviços? Os principais agentes econômicos que compõem o referido sistema são: a) famílias: oferecem fatores de produção às empresas e consomem os bens e serviços os quais são colocados à sua disposição; b)empresas: produzem a maioria dos bens e serviços que são disponibilizados às famílias (consumidores); c) governo: é outro importante agente econômico e tem as seguintes atribuições (entre outras): »» »» »» o fornecimento do chamado bem público; a definição dos rumos econômicos de uma nação através do estabelecimento da política econômica; e o estabelecimento de um marco jurídico‑institucional no qual se desenvolve a atividade econômica. Esta atribuição do governo gera o chamado sistema econômico. Como nossa sociedade consegue obter esse leque de bens e serviços que as famílias comuns podem adquirir? A resposta está relacionada à obtenção de um sistema que funcione bem para coordenar as atividades produtivas. Como você pode notar, uma sociedade precisa escolher um conjunto particular de arranjos institucionais e um mecanismo de coordenação para responder aos problemas econômicos fundamentais, ou seja, precisa escolher um sistema econômico. 24 Mercado Agrícola I Os sistemas econômicos podem diferir em relação (1) a quem possui os fatores de produção e (2) aos métodos utilizados para coordenar e conduzir as atividades econômicas. (McCONNELL e BRUE, 2001, p. 29). A utilização de um sistema de mercado e de preço para coordenar e conduzir a atividade econômica e os recursos produtivos privados caracteriza o sistema de economia de mercado (capitalismo puro ou economia descentralizada). Os defensores desse sistema argumentam que não existe a necessidade de o governo planejar, controlar ou intervir na economia. As características mais importantes de uma economia de mercado são: a) a propriedade privada dos recursos e meios de produção; b)a liberdade individual de escolha; c) a concorrência; d)a busca pelo lucro; e) os preços determinados pelas forças de oferta e demanda. A propriedade pública dos fatores de produção e as decisões econômicas tomadas através do órgão central de planejamento do governo caracterizam o sistema econômico socialista (economias centralmente planejadas). O referido órgão de planejamento determina os objetivos de produção para cada empresa e a quantidade de recursos que devem ser utilizados para que a produção aconteça. O sistema socialista impõe muitas limitações à liberdade dos consumidores e produtores de capital e serviço, influenciando‑os a tomarem suas decisões econômicas. Como justificativa para sua existência, esta corrente de pensamento econômico confere a autoridade estatal como a mais bem posicionada entidade para decidir quais escolhas e políticas são mais benéficas para a sociedade. Unidade 1 25 Universidade do Sul de Santa Catarina A maioria das economias do mundo real situa‑se entre esses dois polos, ou seja, entre o sistema de economia de mercado e o sistema socialista. O sistema alternativo é conhecido por sistema misto. Na economia brasileira, o governo intervém ativamente promovendo o crescimento econômico e a estabilidade econômica, fornecendo certos bens e serviços e promovendo a distribuição de renda. O Brasil tem uma economia de mercado em que a produção e o consumo são o resultado das decisões descentralizadas de indivíduos e das empresas. Não há autoridade central dizendo às pessoas o que, quanto, como e para quem produzir. Cada consumidor compra o que escolhe e cada produtor individual faz o que acredita ser mais interessante, mas com um envolvimento ativo do governo na economia. 26 Mercado Agrícola I Seção 3 – Macro e microeconomia e a economia agrícola Existem dois níveis diferentes nos quais se dividem os estudos econômicos: a macroeconomia e a microeconomia. A macroeconomia é a área da análise econômica que tem seu foco no comportamento da economia em seu conjunto. Em contraste, a microeconomia trata das decisões de produção e consumo de consumidores e produtores, além da alocação dos recursos escassos entre as várias alternativas de produção de bens e de serviços. Para você entender o escopo e a abrangência do estudo econômico, começamos por examinar mais detalhadamente a diferença entre macro e microeconomia. Macroeconomia Para entender o que é macroeconomia, imagine‑se olhando uma floresta por cima. Na macroeconomia o foco de estudo se volta para a floresta e não para a árvore. Trazendo este exemplo para a realidade econômica, o estudo se volta para o agregado de pessoas e empresas e não para os indivíduos. Sendo assim, a macroeconomia preocupa‑se em analisar: a) o emprego total no país e não como a empresa deve contratar seus trabalhadores; b)o gasto total com todos os bens e serviços em conjunto e não o gasto do consumidor por segmento econômico, como, por exemplo, em atividades de lazer; c) o comportamento do nível geral de preços agregados e não o que está determinando, por exemplo, o preço final de um sorvete; d)o nível do Produto Interno Bruto (PIB) e não como está o nível de renda de cada indivíduo. Unidade 1 Produto Interno Bruto (PIB) representa o valor do agregado de bens e serviços finais produzidos pelo país dentro de seu território, em determinado período de tempo. 27 Universidade do Sul de Santa Catarina Macroeconomia é o ramo da ciência econômica que se preocupa em estudar a economia como um todo, analisando o comportamento e a relação existente entre os grandes agregados econômicos, tais como inflação, PIB, taxa de juros, taxa de câmbio, investimento, poupança, emprego e moeda. Microeconomia Retomando a metáfora anterior, imagine‑se agora olhando e estudando determinada espécie de árvore daquela imensa floresta: o foco nesta análise é a arvore e não a floresta. Portanto, a preocupação da microeconomia é com o comportamento das unidades individuais no mercado em geral. Microeconomia estuda como os indivíduos e as empresas tomam decisões e como essas decisões afetam os preços e a produção de bens e serviços. (WESSELS, 2002, p. 1). De forma genérica, [...] a Microeconomia é concebida como o ramo da ciência econômica voltado ao estudo do comportamento das unidades de consumo representadas pelos indivíduos e famílias (estas, desde que caracterizadas por um orçamento único), ao estudo das empresas, suas respectivas produções e custos, e ao estudo da geração e preços dos diversos bens, serviços e fatores produtivos. (GARÓFALO, 2004, p.101). 28 Mercado Agrícola I Economia agrícola A economia agrícola é uma importante área de conhecimento porque se preocupa com as necessidades básicas da sociedade, ou seja, como produzir alimentos e fibras para as pessoas na forma e no tempo certo. Economia agrícola pode ser definida como uma ciência social aplicada que trata da maneira como o ser humano escolhe usar o conhecimento técnico e os recursos produtivos escassos, como terra, trabalho, capital e capacidade administrativa para produzir alimentos e fibras e distribuí‑los para consumo dos inúmeros membros da sociedade. (MENDES, 1998, p. 25). O Brasil tem um importante papel a desempenhar nessa área. Além do agronegócio ser responsável por quase 30% do PIB nacional, mais de 40% da receita gerada com as exportações brasileiras e cerca de 37% do total de empregos do país, advém do agronegócio, sendo que o Brasil aparece no cenário mundial como a nação que pode, na próxima década, aumentar 40% sua produção agrícola. Unidade 1 29 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 4 – Os mercados e a atividade econômica De acordo com Adam Smith, em sua clássica obra A riqueza das nações, não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter. (SMITH, 1976, p.18). Para McConnel e Brue (2001, p. 35), “mercado é uma instituição ou mecanismo que reúne compradores e vendedores de bens, serviços ou fatores de produção”. Existem diversos tipos de mercados, mas suas definições dependem do problema a ser analisado. Os mercados são classificados segundo algumas tipologias, as quais são apresentadas a seguir: a) os mercados geográficos: incorporam a utilidade de lugar. Ex.: alguns mercados são locais, enquanto outros podem ser nacionais ou internacionais; b)os mercados de um produto: incorporam a utilidade de forma. Ex.: os restaurantes de comidas rápidas, os postos de gasolina e o mercado de trigo; c) os mercados temporais: incorporam a utilidade de tempo. Ex.: o mercado de milho no mês de abril ou o mercado de sorvete nos meses do inverno; d)os mercados pessoais ou impessoais: o enquadramento depende, fundamentalmente, se existe o relacionamento “cara a cara” entre compradores e vendedores, ou seja, se estes entram em contato um com o outro. Ex.: a feira livre é exemplo de mercado pessoal, enquanto uma compra realizada pela internet é exemplo de mercado impessoal. 30 Mercado Agrícola I O funcionamento de uma economia de mercado A maioria dos países utiliza os mercados para responder aos problemas fundamentais da economia. Na sequência você aprenderá como identificar os principais grupos de tomadores de decisão e os principais mercados através de um modelo simplificado de economia de mercado. Veja a figura a seguir: Mercado de Bens e Serviços Demanda de bens e serviços Oferta de bens e serviços $ Empresas Como produzir $ Demanda de serviços dos fatores de produção O que e quanto produzir $ Família Para quem produzir $ Mercado de Fatores de Produção Oferta de serviços dos fatores de produção Figura 1.1 – Funcionamento simplificado de uma economia de mercado Fonte: Adaptado de Krugmann (2007, p. 26). Nessa figura você pode observar dois grupos de tomadores de decisão, também conhecidos por agentes econômicos: as famílias e as empresas. Por simplificação, note que neste modelo não está sendo considerado um importante agente econômico importante: o governo. O mecanismo que coordena as decisões desses agentes econômicos é o chamado sistema de mercado, que pode ser classificado como: a) mercado de bens e de serviços; b)mercado de fatores de produção (recursos). Unidade 1 31 Universidade do Sul de Santa Catarina O local em que os recursos ou fatores de produção são comprados e vendidos denomina‑se mercado de fatores de produção. As famílias ofertam seus recursos (fatores de produção) às empresas que os buscam para a produção de bens e serviços. Para adquirir esses recursos as empresas remuneram o seu uso a um preço que dependerá das forças de oferta e de demanda particular para cada recurso. Os pagamentos acontecerão na forma de salários, juros, lucros e aluguéis das empresas para as famílias (indivíduos). A partir do momento em que famílias e indivíduos são remunerados pelo uso de seus fatores de produção, podem ser considerados como consumidores. Os bens e serviços das empresas são comprados e vendidos no mercado de bens e de serviços. A interação das decisões de demanda dos consumidores e da oferta das empresas determina os preços dos inúmeros bens e serviços existentes no mercado. Os gastos realizados pelos consumidores constituem as receitas das empresas. O modelo simplificado de uma economia de mercado sugere uma rede complexa e interrelacionada de tomadores de decisão e atividades econômicas. O fantasma da escassez persegue as transações nos mercados de bens e de serviços e de fatores de produção realizados pelas famílias e pelas empresas. O comércio pode ser bom para todos Pense em uma família que se isola de todas as outras ao não realizar suas relações comerciais. Na opção pelo isolamento, precisaria produzir sua própria comida, confeccionar suas próprias roupas, gerar sua própria energia, entre outros itens. Portanto, veja que a maioria das famílias beneficia‑se muito quando podem realizar o comércio de seus bens e serviços com outras pessoas. O comércio permite que as pessoas se especializem naquilo que sabem fazer: seja na agricultura, na confecção de produtos, na prestação de serviços, entre outros. 32 Mercado Agrícola I A razão pela qual temos poucos indivíduos autossuficientes é que há ganhos do comércio. Os ganhos do comércio surgem, sobretudo, quando há especializações. As vantagens das especializações e os ganhos do comércio delas resultantes foram brilhantemente descritos por Adam Smith (1776), em A riqueza das nações. O livre comércio funciona e vale tanto para as pessoas quanto para os países. Atualmente a China, país comunista, está restabelecendo a livre iniciativa, e atualmente é o principal parceiro comercial do Brasil. (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2011, p. 87). Os mercados e a organização da atividade econômica No início do desenvolvimento capitalista, Adam Smith (1776) já afirmava em sua teoria que o livre comércio era eficiente nas relações de troca existentes. Em 1848, Karl Marx publica o Manifesto comunista, no qual defende um sistema econômico alternativo que substitui o livre mercado pelo planejamento estatal. Vários países adotaram esse sistema, desde a Rússia até a Coreia do Norte. Hoje, só uns poucos permanecem comunistas e os únicos que possuem qualquer tipo de sucesso econômico são os que estão restabelecendo a livre iniciativa. (LOFT, 2009, p. 13). Na economia de mercado as decisões são realizadas por milhões de empresas e famílias. Essas empresas e famílias interagem no mercado em que os preços e os interesses próprios guiam suas decisões. Apesar da tomada de decisão descentralizada e de tomadores de decisão movidos pelo interesse particular, as economias de mercado têm se mostrado muito bem‑sucedidas na organização da atividade econômica. Um dos objetivos desta disciplina é fazer com que você entenda como essa “mão invisível” do mercado faz sua mágica. Unidade 1 33 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 5 – Mercado: o problema da agricultura Ao longo do século passado, os produtores rurais do Brasil adotaram novas técnicas agrícolas e variedades de cultivo que reduziram os custos e aumentaram os rendimentos. As consequências deste ato, quando cada agricultor tratou de aumentar sua própria renda, foi expulsão de muitos agricultores dessa atividade. Com o sucesso do aumento dos rendimentos em suas lavouras, os preços têm caído continuamente. Os preços em queda reduziram a renda de muitos agricultores e muitos desses passaram a considerar a atividade agrícola como não sendo atrativa. “A agricultura tem problemas ‘dentro’ e ‘fora’ da porteira agrícola, mas é sem dúvida, ‘fora dos limites da fazenda’, ou seja, fora do alcance do produtor rural que ocorre a maior parte dos problemas que afetam o resultado econômico‑financeiro, com adversas conseqüências sociais.” (MENDES, 1998, p. 9). Ao longo dos anos, os agricultores enfrentaram severas flutuações de preços e reduções periódicas em suas rendas. Existem dois problemas na agricultura: o primeiro, como sendo de curto prazo relacionado às flutuações, ano a ano, de preços e rendas agrícolas. O segundo, de longo prazo, está relacionado com o fato de a agricultura ser um setor em declínio. “O declínio da agricultura pode ser explicado por duas características dos mercados agrícolas: ao longo do tempo a oferta tem aumentado rapidamente; e a demanda por produtos agrícolas tem aumentado de maneira lenta.” (McCONNELL e BRUE, 2001, p. 331). Um exemplo desse declínio na agricultura pode ser ilustrado pela variação de preços do arroz entre os anos de 1995 e 2011, conforme apresenta a figura a seguir. Podemos verificar na série histórica de preços do arroz (em reais por saca de 50 kg) flutuações ano a ano e variações cíclicas de preços. A linha reta inicia com um valor de R$ 40,00/saca e termina abaixo de R$ 30,00/saca, com tendência de declínio acentuado. A referida figura ilustra a média do valor anual recebido pelos produtores de arroz de Santa Catarina, indexado pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP‑DI) com base em abril de 2011. 34 Mercado Agrícola I Figura 1.2 – Série histórica de preços do arroz recebidos pelo produtor em Santa Catarina entre 1995 a abril de 2011 Fonte: Epagri/Cepa (2011). A tendência do declínio da agricultura pode ser revertida, ou talvez amenizada. O entendimento da evolução dos preços e da renda agrícola passa também pela análise dos fatores determinantes da demanda e, não só, dos fatores determinantes da oferta como veremos a seguir. Unidade 1 35 Universidade do Sul de Santa Catarina Como reverter a tendência de declínio da agricultura O declínio da agricultura pode ser revertido com aumento do poder de consumo das faixas de renda, aumento da população mundial e pela nova matriz de combustíveis à base de insumos agrícolas. A evolução da renda real dos consumidores brasileiros em todas as faixas de renda tem levado a uma crescente massificação da demanda por produtos agroindustriais no mercado interno. Em nível mundial, observamos a entrada de centenas de milhões de pessoas no mercado de consumo de alimentos, principalmente no continente Asiático. Observamos, ainda, o aumento da demanda de biocombustíveis. Essas variáveis determinantes da demanda podem fazer com que se tenha maior consumo que oferta, provocando um aumento dos preços. Caso isto se confirme, o problema deixa de ser da agricultura e passa a ser do consumidor. Assim, é exatamente sobre um aspecto que está fora dos limites da “fazenda” que o presente livro procura enfocar: o mercado agrícola. Para compreender a formação dos preços nos mercados agrícolas e quais são os vários fatores que os influenciam tanto do lado da oferta como do lado da demanda agrícola, assim como as implicações geradas tanto para consumidores quanto para os produtores de alimentos. 36 Mercado Agrícola I Síntese Neste conteúdo você obteve resposta para a pergunta: Por que estudar economia? Aprendeu que os fundamentos de economia são aplicados em muitas situações de nossas vidas. Neste sentido, pôde conhecer algumas definições sobre o que é economia e qual o seu problema fundamental. Percebeu o conflito existente entre os fatores de produção e as necessidades humanas. Você verificou que uma sociedade precisa escolher um sistema econômico dentre os dois diferentes sistemas existentes: economias de mercado (capitalistas) e economias socialistas. Pôde perceber, ainda, que os estudos da economia podem ser realizados de duas formas: o estudo da economia em seu conjunto, chamado de macroeconomia; e o estudo das decisões de produção e de consumo de consumidores e produtores, e da alocação de recursos entre diferentes alternativas de produção, chamado de microeconomia. Estudou, de forma simplificada, como funciona uma economia de mercado, cujo comércio pode ser bom para todos uma vez que os mercados parecem ser uma boa maneira de organizar a atividade econômica. Por fim, pôde constatar que o problema agrícola de curto prazo está relacionado às flutuações de preços e rendas agrícolas que variam de ano a ano, e que o problema agrícola de longo prazo está relacionado ao fato de a agricultura ser um setor em declínio. Este último problema poderá ser revertido caso se confirmem as projeções de que o aumento na demanda seja maior que a oferta agrícola. Unidade 1 37 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de autoavaliação 1) De acordo com a “mão invisível” de Adam Smith, em seu clássico intitulado A riqueza das nações: Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter. (SMITH, 1976, p. 18). Pergunta‑se: Qual o interesse do padeiro, cervejeiro e açougueiro em vender, respectivamente, pão, cerveja e carne? O que eles recebem em troca? 2) De acordo com a visão geral da macroeconomia e de como ela difere da microeconomia, relacione os itens da primeira coluna com as respectivas questões microeconômicas ou macroeconômicas na segunda coluna. ( 1 ) Questões microeconômicas ( ) Eu deveria fazer uma faculdade de Agronegócios ou aceitar um emprego já? ( 2 ) Questões macroeconômicas ( ) Quantas pessoas estão empregadas na economia brasileira em seu conjunto este ano? ( ) Que políticas públicas deveriam ser adotadas para facilitar o acesso à universidade para estudantes de baixa renda? ( ) O que determina o comércio total em produtos do agronegócio entre o Brasil e o resto do mundo? ( ) Que políticas públicas deveriam ser adotadas para promover o emprego e o crescimento da economia brasileira em seu conjunto? ( ) O que determina o custo, para uma universidade, de oferecer um novo curso sobre o Agronegócio? 38 Mercado Agrícola I 3) A partir da leitura geral do conteúdo Economia e o Mercado Agrícola de nosso material didático, marque V para a alternativa verdadeira ou F para a alternativa falsa. Justifique a(s) alternativa(s) falsa(s). ( ) A escolha individual é a base da economia; se não envolve escolha, não é economia. ( ) Os bens de capital são bens e serviços que entram na produção de outros bens. ( ) As famílias constituem a oferta no mercado de bens e demanda no mercado de fatores. ( ) Os três fatores produtivos tradicionais são trabalho, capital e recursos naturais. Unidade 1 39 Universidade do Sul de Santa Catarina ( ) Nas economias modernas, as pessoas fazem escambo, em vez de trocá‑los por dinheiro. Saiba mais LEITE, A. L. da S. Fundamentos econômicos. Instrucional designer: Dênia Falcão de Bittencurt; ‑6. ed. rev. – Palhoça: UnisulVirtual, 2005. 40 UNIDADE 2 Oferta e demanda agrícola Objetivos de aprendizagem Entender o que é um mercado competitivo e como este mercado pode ser descrito pelo modelo de oferta e demanda. Analisar a diferença entre movimentos ao longo de uma curva de demanda e de oferta e deslocamentos da curva da demanda e da curva da oferta. Compreender o funcionamento do sistema de preços em uma economia de mercado e o que é preço de equilíbrio. Seções de estudo Seção 1 Mercado competitivo Seção 2 Demanda agrícola Seção 3 Oferta agrícola Seção 4 Equilíbrio de mercado 2 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Quando uma geada atinge uma importante região produtora de café, o preço do produto aumenta nos supermercados. Se o clima contribuiu para o aumento da safra de arroz de 2010/11, os preços deste produto despencam. Mas o que esses acontecimentos têm em comum? Todos mostram como funcionam a oferta e a demanda. Muitas pessoas utilizam os termos oferta e demanda como referência para indicar “as leis do mercado em funcionamento”. As relações de demanda e de oferta podem ajudar você a compreender não apenas questões econômicas específicas de um determinado mercado, mas também de como toda a economia opera. A oferta e a demanda são as forças que fazem as economias de mercado funcionar. Neste conteúdo, você aprenderá que o conceito de oferta e demanda tem um significado preciso. Aprenderá, ainda, os componentes do modelo da oferta e da demanda e como esse modelo pode ser usado para entender como os mercados agrícolas se comportam. 42 Mercado Agrícola I Seção 1 – Mercado competitivo Os preços do café, recebido pelo produtor, dobraram entre 2002 e 2006. Neste sentido, você deve estar se perguntando: Quem decide a elevação dos preços do café? Produtores e consumidores de café constituem um mercado, um grupo de vendedores e compradores. Observe que este mercado é formado por muitos compradores e vendedores de café. Outra característica importante a ser observada refere‑se à influência das ações dos indivíduos neste mercado sobre o preço. As decisões individuais tanto dos produtores, em ampliar ou reduzir a produção de café, quanto dos consumidores, em comprar mais ou menos café, não têm efeito perceptível sobre o preço final do produto. Quando você decide tomar um cafezinho após o almoço em determinada cafeteria, ao final, você pergunta ao vendedor quanto custa? O mesmo acontece quando um produtor de café decide vender “tantas” sacas do produto, neste caso, a pergunta feita ao comprador é: Quanto estão pagando pela saca de café? Quando todos os participantes do mercado, tanto consumidores quanto produtores, são tomadores de preço, caracteriza‑se um mercado competitivo. “Mercado competitivo é um mercado no qual existem muitos compradores e vendedores de um bem ou serviço e nenhum deles podem influenciar o preço pelo qual o bem ou serviço é vendido”. (KRUGMAN, 2009, p. 62). Você já parou para pensar porque os mercados competitivos são diferentes de outros mercados? Compare o problema com que se defrontam o produtor de café e um executivo de uma empresa fabricante de automóveis, se devem ou não produzir mais de seus respectivos produtos. Unidade 2 43 Universidade do Sul de Santa Catarina A preocupação do produtor de café é simplesmente se o preço compensa o custo de produção extra. Para o fabricante de automóveis, a questão é um pouco mais complexa, porque os poucos participantes deste mercado sabem que suas ações têm um impacto perceptível sobre o preço final do produto no mercado. O fabricante de automóveis opera em um mercado que não é competitivo, ou seja, há poucos produtores de automóveis no mercado. Além de perguntar se o preço compensa o custo de produção extra de automóveis, o fabricante precisa perguntar também se a produção extra de automóveis não irá pressionar para baixo o preço de mercado e reduzir seu lucro. Neste estudo, nossa atenção está direcionada ao mercado competitivo, que tem seu comportamento bem descrito por um modelo conhecido por modelo de oferta e demanda. Os elementos deste modelo que você aprenderá a seguir são os seguintes: a curva da demanda e da oferta, os fatores que deslocam as curvas de oferta e demanda, o preço de equilíbrio do mercado, a maneira como o preço de equilíbrio muda quando a curva de oferta e demanda se desloca. Neste sentido, iremos estudar conteúdos os quais você terá a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos referentes às características e o funcionamento de um mercado competitivo, assim como o comportamento dos demais tipos de mercado. 44 Mercado Agrícola I Seção 2 – Demanda agrícola Quantas pessoas gostam de consumir um cafezinho após o almoço? Acredito que aqui no Brasil e pelo resto do mundo são milhões de pessoas. O número de pessoas que irá comprar um cafezinho dependerá do preço final do café. Quando o preço do café se eleva, como aconteceu no ano de 2006, algumas pessoas deixaram de consumir café e procuraram outro produto para substituí‑lo, como o chá, ou mesmo o refrigerante. Quanto mais alto o preço de um produto, menos pessoas desejam comprá‑lo; quanto mais baixo seu preço, acontece o contrário, ou seja, mais pessoas estarão desejosas de comprá‑lo. Retomando o exemplo anterior, o resultado final da fabricação e distribuição de todos os insumos usados na produção do café, as atividades de produção agrícola, os processos de coleta, estocagem, transporte, processamento e o comércio atacadista e varejista de café é chamado de consumo. A seguir, você estudará o comportamento das pessoas com relação às suas decisões de procurar satisfazer seus desejos de consumo. Além disso, reconhecerá a importância das atitudes dos consumidores de alimentos e fibras de origem agrícola na operação do agronegócio brasileiro. Unidade 2 45 Universidade do Sul de Santa Catarina A curva de demanda Como você pode desenhar a curva de demanda por café? Primeiramente, você pode montar uma tabela de demanda que mostre quanto de café os consumidores desejam adquirir a diferentes níveis de preços. A tabela a seguir ilustra uma demanda mundial hipotética de café: Tabela 2.1 – Tabela de demanda de mercado para café Preço do café (reais/unidade) Quantidade demandada de café (bilhões de unidades) 4,00 10 3,00 12 2,00 14 1,00 16 Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (D = 18 – 2P) (2011). Podemos observar, a partir da interpretação dos dados contidos na tabela acima, que o preço de mercado do café estando a R$ 2,00/unidade, os consumidores estão dispostos a comprar 14 bilhões de sacas de café. Mas quando o preço é elevado para R$ 3,00/unidade, alguns consumidores acham o preço alto demais e somente 12 bilhões de unidades poderão ser adquiridas. A figura a seguir ilustra o comportamento da curva de demanda para o café. O eixo vertical representa o preço de uma unidade de café e o eixo horizontal representa as quantidades em bilhões de sacas que os consumidores desejam adquirir. 46 Mercado Agrícola I Preço 6 do café 5 À medida que o preço sobe, a quantidade demandada cai 4 Curva de demanda 3 2 1 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 2.1 – Curva da demanda de café Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos e que representam uma curva de demanda linear (2011). Para facilitar a interpretação da figura anterior, admita que a curva da demanda tenha o comportamento de uma reta. Cada ponto no gráfico corresponde a um par de dados contidos na tabela anterior. A curva de demanda é uma relação que mostra quanto de um bem ou serviço os consumidores estão dispostos a comprar, com diferentes níveis de preços, em determinado período, considerando todos os demais condicionantes da demanda inalterados. Você deve ter observado que a tabela de demanda e a curva de demanda refletem que quando o preço se eleva, a quantidade demandada (o desejo de consumo) diminui; quando preço diminui, a quantidade demandada se eleva. Essa relação foi exposta pelo economista Alfred Marshall (1842‑1924) e ficou conhecida como sendo a Lei da Demanda. Unidade 2 Os condicionantes da demanda são aqueles fatores que influenciam a quantidade que se deseja consumir de bens e serviços. Os condicionantes são o tamanho da população, a renda do consumidor, os preços dos produtos relacionados, o nível de propaganda, a sazonalidade e as preferências dos consumidores. 47 Universidade do Sul de Santa Catarina Segundo a Lei da Demanda, tende a haver uma relação inversa entre os preços de um produto e as quantidades que os consumidores estarão dispostos a adquirir, por unidade de tempo, em condições ceteris paribus (com tudo o mais constante). Note que a curva de demanda tem uma inclinação negativa e isso reflete a chamada Lei da Demanda. Considerando a análise anterior, podemos fazer a seguinte pergunta: Quais seriam as principais razões para a inclinação negativa da curva da demanda, ou seja, quais as razões pelas quais os consumidores compram uma quantidade menor de um produto quando os preços se elevam (e vice‑versa)? Os itens a seguir esclarecem algumas dúvidas sobre a curva negativa da demanda: a) o efeito novo consumidor: novos consumidores potenciais deixam de adquirir o café quando os preços se elevam; b)o efeito renda: a renda monetária do consumidor permaneceu inalterada, mas seu poder aquisitivo diminuiu com o aumento do preço do café. Em consequência disso, sua renda real diminui também, e agora o consumidor deverá diminuir a quantidade comprada de café; c) o efeito substituição: quando o preço do café eleva‑se, a satisfação do consumidor por comprá‑lo diminui relativamente, aumentando a possibilidade de o consumidor adquirir um produto substituto que não teve alteração de preço (por exemplo, o chá). Em outro exemplo do mundo real, quanto à Lei da Demanda, considere que o consumo de gasolina varia conforme se altera o preço ao consumidor da Europa, quando comparado com os consumidores dos Estados Unidos. 48 Mercado Agrícola I Na Europa, devido às altas taxas (impostos), os consumidores pagam duas vezes mais do que pagam os consumidores americanos. Segundo a lei da demanda, se espera que os europeus consumam por dia bem menos que os consumidores dos Estados Unidos. (KRUGMAN, 2009, p. 64). A figura a seguir ilustra o comportamento dos consumidores europeus conforme destacado anteriormente. Preço da gasolina (por galão) 9 França 8 7 Reino Unido Itália 6 Canadá 5 Espanha 4 Estados Unidos Japão 3 2 1 0 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 Galões por dia per capita 1,4 Figura 2.2 – A Lei da Demanda e o consumo de gasolina na Europa comparado ao consumo nos Estados Unidos Fonte: Adaptado de Krugman (2009, p. 64). As alterações nos preços de um produto resultam em mudanças nas vendas. Este evento causa, apenas, um movimento ao longo da curva de demanda. A curva de demanda permanece inalterada e existe apenas uma mudança na quantidade demandada do produto. A seguir, você estudará outros fatores que influenciam a demanda. Esses fatores são chamados de deslocadores de demanda. Unidade 2 49 Universidade do Sul de Santa Catarina Deslocamentos da curva de demanda A Organization for Economic Co‑operation and Development (OCDE) e a Food and Agriculture Organization (FAO), em seu relatório “Perspectivas para a agricultura 2010‑2019”, preveem para os próximos dez anos que os preços médios de vários produtos agrícolas se situem acima dos níveis da década anterior aos picos de 2007‑2008, tanto em termos nominais como reais (ajustados pela inflação). Em termos reais, por exemplo, estima‑se que os preços médios do trigo e dos cereais secundários estejam de 15 a 40% mais elevados, em comparação ao período compreendido entre os anos de 1997 a 2006. Como os preços tendem a aumentar, e considerando a Lei da Demanda, você pode se perguntar: haverá uma redução no consumo de um leque de produtos agrícolas? Isso significa, por exemplo, que a quantidade demandada de trigo e café irá diminuir? A resposta à questão acima está relacionada à expressão ceteris paribus, que significa: com tudo o mais constante. No mundo real, tudo o mais não está constante, e ele mudará muito nos próximos anos. Com isso, os condicionantes da demanda também terão mudanças significativas. Retomemos mais uma vez o exemplo do café. As estimativas apontam que a população mundial e o número de consumidores potenciais aumentaram nos últimos anos. Esses fatores que afetam a demanda do produto fazem com que a um mesmo preço mais consumidores demandem maiores quantidades de café. A tabela de demanda e a curva de demanda para o café em 2010 e sua projeção para 2015, representados pela tabela e figura a seguir, apresentam dados hipotéticos, os quais ilustram este fenômeno. 50 Mercado Agrícola I Tabela 2.2 – Tabela de demanda de mercado para café em 2010 e sua projeção para 2015 Preço do café (reais/ unidade) Quantidade demandada de café (bilhões de sacas) Em 2010 Em 2015 4,00 10 12 3,00 12 14 2,00 14 16 1,00 16 18 Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Preço do café Curva de demanda 6 Aumento na 5 Em 2015 demanda provocado pelo crescimento da 4 população mundial 3 Em 2010 2 1 0 10 12 14 16 18 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 2.3 – Um aumento na demanda de café em bilhões de sacas em decorrência do crescimento da população Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). O aumento da população mundial e o número de consumidores potenciais geram um aumento na demanda, ou seja, uma elevação na quantidade demandada para qualquer dado preço. Este é o evento que faz com que a curva de demanda se desloque para a direita. Unidade 2 51 Universidade do Sul de Santa Catarina Mantendo‑se constante o preço de R$ 2,00/unidade de café, o consumo mundial é de 14 bilhões de sacas em 2010. Com o aumento da população mundial, o consumo estimado do produto será de 16 bilhões, em 2016, a esse mesmo nível de preço. As mudanças que ocorreram entre 2010 e 2015 geram uma nova curva de demanda, em que a quantidade demanda é maior que a anterior, a um mesmo nível de preço. Como você pode visualizar na figura anterior, a curva de demanda de 2015 está mais à direita que aquela de 2010. O deslocamento da curva de demanda mostra uma alteração na quantidade demandada a qualquer preço dado, ocasionando uma mudança de posição da curva de demanda para sua nova posição. Os quatro principais fatores que deslocam a curva da demanda são os seguintes: a) os preços dos bens relacionados; b)a renda da população; c) as preferências e gostos; e d)as expectativas. Outros fatores que influenciam o deslocamento da demanda estão relacionados a seguir: a) o tamanho da população; b)o nível de propaganda; c) processos de urbanização; d)políticas governamentais direcionadas ao consumo (impostos e subsídios); e) disponibilidade de crédito; f) sazonalidade; 52 Mercado Agrícola I g)nível de educação da população; h)clima; i) sexo; j) moda; k)geografia. No exemplo anterior, para exemplificar o deslocamento à direita da demanda, utilizamos o aumento da população mundial. Segundo Mendes e Padilha Júnior (2007, p. 89), dependendo apenas do crescimento populacional, que só tende a crescer, a curva de demanda no médio e longo prazo irá se deslocar para a direita. As estimativas são de que a população cresça a 0,5% ao ano nos países desenvolvidos e de 1,7% nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. Confirmadas as projeções, a demanda vai se deslocar (para a direita), proporcionalmente menos nos países desenvolvidos do que nos demais países. Na sequência, você irá compreender um pouco mais sobre os quatro principais fatores que deslocam a curva da demanda. Mudanças nos preços dos bens relacionados Você, quando vai a um supermercado, tem a opção de adquirir, por exemplo, café ou chá. A relação existente entre esses dois bens é de substituição, por isso é dito que estes são bens substitutos. Como fontes de proteína animal, você pode optar: carne de boi, de frango, de peixe, de carneiro ou de peru. Os automóveis podem ser abastecidos com diversas fontes de energia: álcool, gasolina, diesel, gás natural (GNV) e eletricidade. Unidade 2 Bens substitutos são aqueles que têm uma função similar. Se houver elevação do preço de um bem, haverá aumento no consumo de outro. 53 Universidade do Sul de Santa Catarina Observe que uma diminuição no preço da carne bovina (bem “A”) induz a uma diminuição na demanda por carne de frango (bem “B”), deslocando a demanda deste último para a esquerda. No mundo real, às vezes, uma queda no preço do bem “A” induz os consumidores a demandarem mais do bem “B”. Quando isto acontece, a relação entre os bens são de complementaridade, e esses pares de bens são conhecidos por bens complementares. Bens complementares são aqueles que são consumidos em conjunto. Se houver a elevação do preço de um bem, haverá diminuição no consumo de outro. Como você consome os bens complementares juntos, a mudança no preço de um bem afetará a demanda de seu complementar. Quando o preço de um bem (A) se eleva, a demanda de seu bem complementar (B) decresce, e faz deslocar para a esquerda a demanda deste último bem. Como foi descrito anteriormente, bens complementares são os que são consumidos em conjunto. São exemplos destes bens: o café e o leite, o pão e o queijo, a gasolina e o carro, entre outros. Mudanças na renda da população As mudanças na renda da população influenciam os consumidores a comprar mais ou menos de um determinado bem, mesmo que seu preço permaneça o mesmo. Se a renda familiar aumenta, é mais provável que as famílias consumam mais café. O aumento na renda da população fará com que a curva da demanda da maioria dos bens se desloque para a direita. Você deve estar se perguntando: Por que a maioria dos bens? A maioria dos bens são bens normais, ou seja, a demanda deles aumenta quando a renda do consumidor sobe. Contudo, existem alguns bens em que ocorre o processo inverso. Esses são conhecidos como bens inferiores. Neste caso, um aumento da renda desloca a curva da demanda para a esquerda. 54 Mercado Agrícola I Por exemplo, quando aumenta a sua renda, o consumidor pode diminuir ou deixar de consumir carne de segunda; e, ainda, pode diminuir ou deixar de andar de ônibus. Mudanças nas preferências O que você pode chamar de mudanças nas preferências? Preferências são as atitudes de um consumidor em relação a bens e serviços. Ocorrem devido à moda, às crenças e às mudanças culturais. Um exemplo que influencia na mudança da preferência por um determinado produto é a Páscoa. Nesse período, a quantidade de consumidores que desejam gastar com chocolate aumenta consideravelmente. Imagine, ainda, que você aprecie tomar café no período da tarde, enquanto eu aprecio tomar determinado refrigerante. Mesmo que tenhamos a mesma renda, as nossas respectivas demandas por bebida serão bem diferentes. Quando as preferências mudam a favor de um bem, mais pessoas querem comprá‑lo a qualquer dado preço. Assim, a curva da demanda se desloca para a direita. Mudanças nas expectativas As mudanças nas expectativas podem diminuir ou aumentar a demanda de um bem. Os cafezais brasileiros foram atingidos por uma forte geada em 1993. Você, como consumidor, quando ocorre um evento como este, espera que os preços subam e se antecipa comprando mais desse produto antes que os preços se elevem. Nesse caso, expectativas de uma elevação de preços levam a um aumento da demanda. As mudanças nas expectativas de renda futura também podem levar a mudanças na demanda. Unidade 2 55 Universidade do Sul de Santa Catarina Caso você ache que sua renda irá diminuir no futuro, provavelmente reduzirá a demanda de alguns bens, procurando poupar algo. Para ter uma visão geral dos fatores que deslocam a demanda, você pode visualizar os elementos que estão contidos no quadro a seguir. Tipo de mudança Evento Resultado esperado “A” é um bem normal A renda aumenta A demanda de “A” aumenta “A” é um bem inferior A renda aumenta A demanda de “A” diminui “A” e “B” são substitutos O preço de “B” aumenta A demanda de “A” aumenta “A” e “B” são complementares O preço de “B” aumenta A demanda de “A” diminui As preferências e gostos mudam a favor de “A” A demanda de “A” aumenta O preço de “A” é esperado aumentar no futuro A demanda de “A” aumenta hoje O número de consumidores aumenta A demanda de mercado de “A” também aumenta a) Renda b) Preço dos bens relacionados c) Preferências e gostos d) Expectativas e) Número de consumidores Quadro 2.1 – Fatores que deslocam a demanda e o resultado esperado Fonte: Adaptado de Krugman (2009, p. 70). 56 Mercado Agrícola I Seção 3 – Oferta agrícola A partir de agora você estudará o comportamento das pessoas com relação às suas decisões de produção e reconhecerá a importância das atitudes dos produtores de alimentos e fibras de origem agrícola para o agronegócio brasileiro. Você deve se perguntar: Por que os preços do café para os produtores dobraram entre 2002 e 2006? A resposta está relacionada à diminuição da oferta de dois grandes países exportadores mundiais de café: o Brasil e o Vietnã. Aqui, no Brasil, os baixos preços obtidos pelos produtores na década anterior fizeram com que muitos deles deixassem de plantar café. A quantidade de café que os consumidores querem comprar dependerá do preço que eles terão de pagar. Esta relação é a mesma para os produtores, na qual a quantidade de café que eles irão produzir e vender dependerá do preço oferecido pela saca. A curva de oferta Como você desenha a curva de oferta por café? Os procedimentos utilizados são os mesmos que adotamos para o estudo da curva da demanda. Primeiramente, você deverá elaborar um estudo de oferta que demonstre quanto de café os produtores estão dispostos a produzir a diferentes níveis de preços. A tabela a seguir ilustra uma oferta mundial hipotética de café. Tabela 2.3 – Tabela de oferta de mercado para o café Preço do café (reais/unidade) Quantidade ofertada de café (bilhões de sacas) 4,00 14 3,00 12 2,00 10 1,00 8 Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (O = 7 + 1,2P) (2011). Unidade 2 57 Universidade do Sul de Santa Catarina A tabela anterior, referente à oferta de mercado para o café, mostra a quantidade de sacas de café que os produtores estarão dispostos a oferecer a cada preço. A figura a seguir demonstra o comportamento da curva de oferta para o café. O eixo vertical representa o preço de uma unidade de café e o eixo horizontal representa as quantidades que os produtores desejam vender. Admita, também, que a curva da oferta tenha um comportamento de uma reta. Cada ponto no gráfico corresponde a um par de dados contidos na tabela anterior. Preço 6 do café 5 Curva de oferta 4 3 2 À medida que o preço 1 sobe, a quantidade ofertada aumenta 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 2.4 – Curva da oferta de café Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos e que representam uma curva de oferta linear (2011). A partir da análise dos dados contidos na tabela e figura anterior, constatamos que se o preço de mercado do café estiver em R$ 2,00/unidade, os produtores estarão dispostos a vender dez bilhões de unidades daquele produto. Mas se o valor estiver a R$ 1,00/unidade, alguns produtores acharão o preço baixo demais, e somente oito bilhões de unidades serão vendidas. 58 Mercado Agrícola I A curva de oferta é uma relação que mostra quanto de um bem ou serviço os produtores estão dispostos a vender, com diferentes níveis de preços, em determinado período, considerando todos os demais condicionantes da oferta inalterados. Você deve ter observado que a tabela de oferta e a figura da curva de oferta refletem que quando o preço se eleva, a quantidade ofertada (o desejo de produzir) aumenta; quando o preço diminui, a quantidade ofertada também diminui. Essa relação ficou conhecida como sendo a Lei da Oferta. Segundo a Lei da Oferta, tende a haver uma relação positiva entre os preços de um produto e as quantidades que os produtores estarão dispostos a vender, por unidade de tempo, em condições ceteris paribus. Os condicionantes da oferta são aqueles fatores que influenciam a quantidade que se deseja produzir de bens e serviços. Podemos citar como exemplos daqueles condicionantes os preços dos insumos, as tecnologias empregadas na produção e as expectativas de compra e venda. Note que a inclinação positiva da curva de oferta reflete a chamada Lei da Oferta. Conforme você já pode observar, alterações nos preços de um produto resultam mudanças nas vendas. Este evento causa, apenas, um movimento ao longo da curva de oferta, a qual permanece inalterada, existindo somente uma mudança na quantidade ofertada do produto. A seguir, você estudará outros fatores que influenciam a oferta, os chamados fatores deslocadores de oferta. Deslocamentos da curva de oferta Segundo as projeções feitas pela OCDE e a FAO, os preços agrícolas de vários produtos tendem a aumentar até 2019. Considerando a Lei da Oferta, você pode se perguntar: Haverá um aumento na produção de vários produtos agrícolas? Isso significa que a quantidade ofertada de café irá aumentar? Unidade 2 59 Universidade do Sul de Santa Catarina A resposta à questão anterior está também relacionada à expressão ceteris paribus (com tudo o mais constante). No mundo real, tudo o mais não está constante, e com isso também os condicionantes da oferta terão alterações. Por exemplo, admita que o Vietnã passe a ser um grande produtor de café a partir dos próximos anos (fato real que aconteceu anos atrás). Este fato, que afeta a oferta do produto, faz com que a um mesmo preço mais produtores desejem ofertar quantidades de café. A oferta de mercado para o café em 2010 e sua projeção para 2015, representados por dados hipotéticos contidos na tabela e figura a seguir, ilustram este fenômeno. Tabela 2.4 – Tabela de oferta de mercado para café em 2010 e sua projeção para 2015 Preço do café (reais/ unidade) Quantidade ofertada de café (bilhões de sacas) Em 2010 Em 2015 4,00 14 15 3,00 12 13 2,00 10 11 1,00 8 9 Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). De acordo com a tabela anterior, para o preço de R$ 2,00/unidade de café a produção mundial é dez bilhões de sacas em 2010. Com o aumento da participação do Vietnã na oferta mundial, a oferta estimada do produto será de 11 bilhões em 2015, a esse mesmo nível de preço. 60 Mercado Agrícola I 6 Curva de oferta Preço 5 do café 4 Em 2010 Em 2015 3 2 Aumento na oferta provocado pelo aumento na produção de café no Vietnã 1 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 2.5 – Um aumento da oferta de café pelo Vietnã Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). O significativo aumento da produção de café no Vietnã gerou uma elevação na oferta, ou seja, um aumento na quantidade ofertada de café para qualquer dado preço. Este evento fez com que a curva de oferta se deslocasse para a direita, conforme representado na figura anterior. As mudanças que ocorreram entre os anos de 2010 e 2015 geraram uma nova curva de oferta, em que a quantidade ofertada é maior que a anterior, a um mesmo nível de preço. Como você pode visualizar na figura anterior, a curva de oferta de 2015 está mais à direita que aquela de 2010. O deslocamento da curva de oferta mostra a mudança na quantidade ofertada a qualquer preço dado, representando a mudança de posição da curva de oferta para sua nova posição. Unidade 2 61 Universidade do Sul de Santa Catarina Os cinco principais fatores que deslocam a curva da oferta, entre outras causas possíveis, são os seguintes: a) os preços dos bens relacionados; b)a tecnologia; c) os preços dos insumos; d)as expectativas; e e) o número de produtores. Mudanças nos preços dos bens relacionados Quando um produtor rural decide elaborar seu plano de produção, a quantidade a ser ofertada de um determinado tipo de produto dependerá do preço de produtos alternativos. O efeito da alteração de preço, dos produtos relacionados, poderá afetar diretamente a quantidade a ser produzida de um determinado produto, dependendo da relação existente entre eles (alternativas). Admita, por exemplo, que os produtores possam optar entre o plantio de café ou algodão. A relação existente entre esses dois bens é de substituição, por isso é dito que estes são bens substitutos na produção. Bens substitutos na produção são os que não podem compartilhar, no espaço e no tempo, uma mesma área. A elevação do preço de um bem causa redução da produção de outro. Observe que uma diminuição no preço do café (bem “A”) induz a um aumento na oferta por algodão (bem “B”), deslocando a oferta deste último para a direita. Bens complementares na produção são aqueles produzidos em conjunto. A diminuição do preço de um bem causa o aumento na produção do outro. Por exemplo, um produtor de milho e carne suína. Quando o preço do milho diminui, o qual é utilizado como insumo na produção de suínos, o produtor tem um estímulo para aumentar a produção de carne suína. 62 No mundo real, às vezes, uma queda no preço do bem “A” induz os produtores a ofertarem mais o bem “B”. Quando isto acontece, a relação entre os bens é de complemento e, por isso, esses pares de bens são conhecidos por bens complementares na produção. Mercado Agrícola I Como os bens complementares são produzidos juntos, a mudança no preço de um bem afetará a produção de seu complementar. Quando o preço de um bem se eleva, a produção de seu bem complementar decresce, e faz deslocar para a esquerda a curva de oferta deste último. Mudanças na tecnologia A tecnologia, no espaço rural, refere‑se às técnicas de transformar insumos em produtos agrícolas. O complexo conjunto de atividades que transformam o grão de café colhido nas propriedades rurais em café solúvel, o qual será servido em seu café da manhã, denomina‑se tecnologia. No Brasil, nas últimas décadas, o acúmulo de conhecimento em agricultura tropical foi grande. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 1990 o Brasil colhia 57,9 milhões de toneladas de grãos em 37,9 milhões de hectares. Hoje, na safra 2009/2010, colhe mais de 140 milhões de toneladas em 47,9 milhões de hectares. Podemos observar que a área plantada aumentou 26,4%, mas a produção aumentou 147%. Uma tecnologia estratégica para o Brasil foi a “tropicalização da soja”, através de um processo de melhoramento genético desenvolvido pela Embrapa. A soja, de origem asiática, de clima temperado, não se adaptava ao clima brasileiro. Com a cultura adaptada para regiões de baixa latitude, o Brasil se tornou o segundo maior produtor mundial e o maior exportador mundial do grão. (MENDES e PADILHA JÚNIOR, 2007, p. 153). O desenvolvimento de novas tecnologias no mercado agrícola, como apresentado no exemplo anterior, reduz os custos de produção, eleva a oferta e desloca, para a direita, a curva da oferta. Unidade 2 63 Universidade do Sul de Santa Catarina Mudanças nos preços dos insumos O aumento no preço de um insumo tem influência direta nos custos de produção de um bem. Quando o preço do insumo se eleva, os produtores estarão menos dispostos a produzir e vender o bem, e a curva da oferta se deslocará para a esquerda. Um aumento no preço de adubo, utilizado na produção do café, eleva o custo de produção do produto e os produtores estarão menos dispostos a ofertar café. Como resultado final, a curva de oferta se desloca para a esquerda. Mudanças nas expectativas Assim como as expectativas podem deslocar a curva da demanda, elas também poderão deslocar a curva da oferta. Como as expectativas alteram a oferta? As escolhas dos produtores dependem da comparação do preço corrente com o preço futuro esperado pelo seu produto. Imagine um produtor que tem em estoque sacas de café e recebe a notícia que o preço do café aumentará no futuro. A decisão esperada é que o produtor irá esperar o preço do café se elevar para vender sua produção, o que ocasionará a redução da oferta do produto hoje. Um aumento do preço futuro esperado pelo seu produto desloca para a esquerda a curva de oferta do produto. Número de produtores A oferta em um mercado depende do número de vendedores. Por exemplo, se João e Paulo resolvessem deixar de cultivar o café, a oferta no mercado diminuiria. Caso a situação fosse contrária, ou seja, se esses produtores decidissem produzir mais café, a oferta no mercado aumentaria. 64 Mercado Agrícola I Para ter uma visão geral dos fatores que deslocam a oferta, você pode visualizar os elementos que estão contidos no quadro a seguir: Mudança Evento Resultado esperado O preço do insumo utilizado na produção de “A” aumenta A oferta de “A” decresce O preço do insumo utilizado na produção de “A” diminui A oferta de “A” aumenta “A” e “B” são substitutos na produção O preço de “B” aumenta A oferta de “A” diminui “A” e “B” são complementares na produção O preço de “B” diminui A oferta de “A” aumenta A tecnologia utilizada para produzir “A” melhora A oferta de “A” aumenta O preço de “A” é esperado aumentar no futuro A oferta de “A” diminui hoje O número de produtores de “A” aumenta A oferta de mercado de “A” aumenta a) Preço dos insumos b) Preço dos bens relacionados c) Tecnologia d) Expectativas e) Número de produtores Quadro 2.2 – Fatores que deslocam a oferta e o resultado esperado Fonte: Adaptado de Krugman (2009, p. 77). Tendo analisado a demanda e a oferta em separado, vamos agora combinar essas duas forças de mercado para determinar como se formam a quantidade de um bem e o seu preço. Unidade 2 65 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 4 – Equilíbrio de mercado Ao estudar os elementos que compõem o modelo da oferta e da demanda você compreende como se comporta a curva da oferta, a curva da demanda e os fatores que fazem com que essas curvas se desloquem para a direita ou para a esquerda. Antes de estudarmos como se dá o equilíbrio de mercado, considere a seguinte reflexão. Para tomar o seu café da manhã de hoje, você utilizou produtos que vieram de diferentes regiões e países. O café, propriamente dito, pode ter sido produzido no Estado de São Paulo, Paraná, Minas Gerais ou Espírito Santo e utilizado insumos, como adubos, vindos de outros países. O palito de fósforo utilizado para acender o fogo veio dos Estados Unidos. O gás que você utilizou para aquecer seu café veio do Oriente Médio. A colherzinha para mexer o café foi fabricada no Estado de São Paulo, com o minério de ferro extraído em Minas Gerais. O açúcar utilizado para adoçar seu café foi produzido em Santa Catarina, com a cana‑de‑açúcar vinda do nordeste brasileiro. Para que você possa tomar seu café, muitas atividades de produção e comercialização precisaram ser implementadas. O mecanismo utilizado para manter a ordem e colocar as coisas em seus lugares certos, na maioria das economias do mundo, denomina‑se mercado. Como você utiliza esses elementos da oferta e da demanda para prever o preço que determinado bem ou serviço será comprado e vendido? Utilizando uma analogia feita por Alfred Marshall, o qual refere que, para cortarmos uma folha de papel, são necessárias as duas lâminas da tesoura. Para entendermos a formação do preço de determinado produto, é preciso considerar o comportamento das duas “lâminas”: da oferta e da demanda. Um mercado competitivo está em equilíbrio quando o preço se move para um nível em que a quantidade ofertada e a quantidade demandada de um bem são iguais. A esse nível de preço, os desejos dos consumidores e dos produtores estão atendidos. 66 Mercado Agrícola I Como você encontra o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio do café? É preciso combinar as curvas da demanda e da oferta em um mesmo gráfico, conforme ilustrado na figura a seguir. Da mesma forma, deve combinar as informações relativas às quantidades demandadas e ofertadas conforme aparecem na tabela e figura a seguir. Tabela 2.5 – A demanda, a oferta e o equilíbrio de mercado para café Preço do café (reais/unid.) Quantidade demandada de café (bilhões de sacas) Quantidade ofertada de café (bilhões sacas) Equilíbrio, excedente (+) ou escassez (‑) 4,00 10 14 (+) 4 3,00 12 12 (Equilíbrio) 0 2,00 14 10 (‑) 4 1,00 16 8 (‑) 8 Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (D = 18 – 2P) e (O = 6 + 2P) (2011). 6 Preço 5 do café Demanda Oferta 4 Preço de equilíbrio 3 Equilíbrio (E) 2 1 Quantidade de equilíbrio 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões) Figura 2.6 – Equilíbrio de mercado do café Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Unidade 2 67 Universidade do Sul de Santa Catarina A interseção das curvas de oferta e demanda acontece no ponto E, que é ponto de equilíbrio desse mercado. O preço de equilíbrio é R$ 3,00 e a quantidade de equilíbrio é 12 bilhões de sacas. “Equilíbrio é uma situação na qual as coisas não tendem a mudar. Assim, o equilíbrio representa uma situação que pode perdurar.” (WONNACOTT, 2002, p. 67). Note que, a qualquer outro preço que não seja de equilíbrio, o mercado não estaria ajustado, ou seja, teríamos escassez ou excedente de produto. O excesso de oferta acontece quando a quantidade ofertada supera a quantidade demandada. Por exemplo, caso o preço da saca fosse fixado a R$ 4,00, haveria um excedente de quatro bilhões de unidades de café. A este preço, os consumidores desejam adquirir dez bilhões de unidades e os produtores desejam ofertar 14 bilhões de unidades de café. Por que o preço de mercado cai se ele está acima do preço de equilíbrio? O excedente de oferta de quatro bilhões de unidades causa frustração aos vendedores: não conseguem encontrar alguém que queira comprar esse excedente. Os estoques indesejáveis fornecem incentivos para que os vendedores ofereçam o produto a um preço mais baixo. O resultado final esperado é uma pressão para baixo do preço até que chegue ao chamado preço de equilíbrio. A escassez, ou excesso de demanda, acontece quando a quantidade demandada supera a quantidade ofertada. Se o preço fosse fixado a R$ 2,00, ou seja, muito baixo, a situação de mercado é de escassez de produto (também de quatro bilhões de unidades de café). A este preço os consumidores desejam adquirir 14 bilhões de unidades e os produtores desejam ofertar somente dez bilhões de unidades de café. 68 Mercado Agrícola I Por que o preço de mercado sobe, se ele está abaixo do preço de equilíbrio? Numa situação de escassez, há pessoas que querem comprar o café, mas não conseguem encontrar vendedores dispostos a ofertar o produto ao preço corrente. O estímulo agora é para que os vendedores cobrem um preço mais alto, ou, ainda, que os consumidores se proponham a pagar mais que o preço corrente. Assim, o preço sempre subirá se estiver abaixo do preço de equilíbrio. Preço de equilíbrio é aquele que ajusta o mercado, ou seja, que iguala a quantidade ofertada e a quantidade demandada. A quantidade de equilíbrio é aquela vendida e comprada ao preço de equilíbrio. Com o preço de equilíbrio de R$ 3,00, tanto compradores quanto vendedores estarão satisfeitos com a quantidade vendida e comprada. Assim, não haverá mais escassez ou excedente, nem haverá pressão para mudanças no preço de mercado. O mercado de um produto ou serviço tende a ter um único preço. O preço de mercado sempre subirá, se estiver abaixo do preço de equilíbrio. Por outro lado, haverá uma pressão para baixo do preço de mercado, se estiver acima do preço de equilíbrio. Assim, o preço de mercado se move em direção ao preço de equilíbrio. Mudanças na demanda e na oferta Quando uma curva de oferta ou de demanda se desloca, preço e quantidade sofrem uma variação. Neste sentido vamos agora nos concentrar no estudo de como as mudanças na curva da oferta e na curva da demanda alteram o preço e a quantidade de equilíbrio. Unidade 2 69 Universidade do Sul de Santa Catarina O que acontece quando a curva de demanda se desloca? Imagine que o nível de propaganda nos jornais e na televisão leve os consumidores a tomarem mais café e menos chá. Café e chá são bens substitutos. A mudança nas preferências significa um deslocamento para a direita na curva de demanda para café e um deslocamento à esquerda para chá. Mas como o nível de propaganda afeta o mercado de café? A figura a seguir mostra o equilíbrio inicial correspondente à curva de demanda original, sendo PE1 o preço de equilíbrio e QE1 a quantidade de equilíbrio comprada e vendida. 6 Um aumento na demanda Preço 5 do café Oferta Equilíbrio final 4 PE2 = 3,5 PE1 = 3 2 Equilíbrio inicial 1 QE2 = 13 0 8 10 QE1 = 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 2.7 – Equilíbrio inicial e o aumento na demanda Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). 70 Mercado Agrícola I O aumento no nível de propaganda faz com que mais consumidores se interessem por consumir café, aumentando sua demanda. Ao preço de mercado original PE1, esse mercado não está mais em equilíbrio. Observe que ao preço PE1 ocorre uma escassez, porque a quantidade demandada excede a quantidade ofertada. Na condição de escassez, o preço do café aumenta e gera um aumento na quantidade ofertada de café (um movimento para cima ao longo da curva de oferta). No ponto que representa o equilíbrio final, o preço de equilíbrio PE2 é maior que o anterior, assim como a quantidade de equilíbrio QE2 é também maior. O aumento na demanda conduz a um aumento tanto do preço de equilíbrio como da quantidade de equilíbrio. Uma redução na demanda causa uma queda tanto do preço de equilíbrio como da quantidade de equilíbrio. O que acontece quando a curva de oferta se desloca? Imagine agora que a geada que ocorreu no Estado do Paraná destruiu parte significativa dos cafezais. A quantidade de café disponível para venda diminui e a curva da oferta se desloca para a esquerda. Mas como a geada no Paraná afeta o mercado de café? A figura a seguir ilustra o equilíbrio inicial correspondente à curva de oferta original, sendo PE1 o preço de equilíbrio e QE1 a quantidade de equilíbrio comprada e vendida. Unidade 2 71 Universidade do Sul de Santa Catarina Preço6 do café 5 Equilíbrio final Uma redução na oferta 4 PE2 = 3,5 PE1 = 3 Equilíbrio inicial 2 1 Demanda QE2 = 11 0 8 10 QE1 =12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 2.8 – Equilíbrio e a diminuição na oferta Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Ao preço de equilíbrio original, temos agora uma situação de escassez. Com menos café disponível, a cotação do produto começa a subir. Como resultado final, temos um novo preço de equilíbrio mais alto e uma nova quantidade de equilíbrio menor que a anterior. Uma redução na oferta causa um aumento no preço de equilíbrio e a uma redução na quantidade de equilíbrio comprada e vendida. O aumento na oferta conduz a uma diminuição no preço de equilíbrio e a um aumento na quantidade de equilíbrio comprada e vendida. No mundo real, é comum as flutuações nos mercados envolverem deslocamentos simultâneos da curva de oferta e da curva de demanda. O resultado a ser obtido para o novo equilíbrio depende se o deslocamento das curvas acontece na mesma direção ou não, e do quanto cada curva venha se deslocar. 72 Mercado Agrícola I O problema agrícola de longo prazo está relacionado com o fato de a agricultura ser um setor em declínio. Observou também que este declínio da agricultura pode ser explicado por duas características dos mercados agrícolas: ao longo do tempo a oferta tem aumentado rapidamente; e a demanda por produtos agrícolas tem aumentado de maneira lenta. No exemplo anterior, o deslocamento das curvas acontece na mesma direção. A mudança na quantidade, quando ocorre, é previsível. A nova quantidade de equilíbrio será maior. Mas o que acontece com o novo preço de equilíbrio? O preço, neste caso, não é previsível (vai depender do quanto cada curva está se deslocando). Como o deslocamento da oferta foi maior que o verificado na demanda, ocorre uma pressão para baixo no preço de equilíbrio. Este fato foi observado na maioria dos produtos agrícolas ao longo do século XX, ou seja, uma tendência de queda secular nos preços agrícolas. Unidade 2 73 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Neste conteúdo você estudou o modelo da oferta e da demanda que explica como os mercados chegam a um preço e por que os mercados “funcionam”. Este modelo o ajuda a entender como os mercados competitivos operam e a prever os efeitos esperados com alterações climáticas bruscas, com um aumento no nível de propaganda de um produto, ou, até mesmo, como veremos mais adiante, de uma política agrícola equivocada. Você pôde perceber que a curva de demanda tem uma inclinação negativa e isso reflete na chamada Lei da Demanda. Segundo a Lei da Demanda, tende a haver uma relação inversa entre os preços de um produto e as quantidades que os consumidores estarão dispostos a adquirir, por unidade de tempo, com tudo o mais mantido constante. Verificou também que a inclinação positiva da curva de oferta reflete a chamada Lei da Oferta. Segundo esta Lei, tende a ocorrer uma relação positiva entre os preços de um produto e as quantidades que os produtores estarão dispostos a vender, por unidade de tempo, em condições ceteris paribus (com tudo o mais constante). Você constatou que o deslocamento da curva de demanda ou da curva de oferta mostra a mudança na quantidade demandada ou ofertada a qualquer preço dado, representando a mudança de posição da curva de demanda ou da curva de oferta, se este for o caso, para uma nova posição. Estudou que os principais fatores que deslocam a curva da demanda são os preços dos bens relacionados, a renda da população, as preferências e gostos e as expectativas. Os principais fatores que deslocam a curva da oferta são os preços dos bens relacionados, a tecnologia, os preços dos insumos, as expectativas e o número de produtores. 74 Mercado Agrícola I Pôde perceber ainda que o preço em um mercado se move para o preço de equilíbrio. Preço de equilíbrio é aquele que iguala a quantidade ofertada e a quantidade demandada. A quantidade de equilíbrio é aquela vendida e comprada ao preço de equilíbrio. Analisou que o aumento na demanda conduz a um aumento tanto do preço de equilíbrio como da quantidade de equilíbrio. Uma redução na demanda causa uma queda tanto do preço de equilíbrio como da quantidade de equilíbrio. E por fim, pôde verificar que a redução na oferta causa um aumento no preço de equilíbrio e a uma redução na quantidade de equilíbrio. O aumento na oferta conduz a uma diminuição no preço de equilíbrio e a um aumento na quantidade de equilíbrio. Unidade 2 75 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de autoavaliação 1) Você aprendeu nesta unidade o que é um mercado competitivo e como este mercado pode ser descrito pelo modelo de oferta e demanda. Marque V para a alternativa verdadeira ou F para a alternativa falsa em cada uma das proposições abaixo. Justifique a(s) alternativa(s) falsa(s). ( ) Um avanço tecnológico nos métodos de produção do arroz desloca para a direita a curva de oferta do produto. ( ) O preço de equilíbrio do milho é, efetivamente, o único preço que harmoniza os interesses conflitantes dos produtores e dos consumidores. ( ) Na curva de oferta, quanto mais se elevam os preços de um produto, maiores serão as quantidades, por período de tempo, que os produtores estarão dispostos a produzir. 76 Mercado Agrícola I ( ) Os preços e as quantidades demandadas de trigo, coeteris paribus, variam na mesma direção: quanto mais altos aqueles forem, maiores estas serão. 2) A partir da leitura geral de nosso livro didático, marque V para a alternativa verdadeira ou F para a alternativa falsa. Justifique a(s) alternativa(s) falsa(s). A demanda é uma lista ou curva que representa a disposição dos consumidores em comprar determinado produto aos vários preços possíveis num período de tempo específico. A curva da demanda é decrescente (inclinação negativa), porque: ( ) Os produtores oferecem uma quantidade maior de um produto para a venda à medida que o preço do produto aumenta. ( ) Quanto maior o número de compradores no mercado, menor será o preço do produto. ( ) A quantidade ofertada excede a quantidade demandada. Unidade 2 77 Universidade do Sul de Santa Catarina 3) Conforme você estudou, alterações no preço de um produto resultam em mudanças em suas vendas. Este evento causa, apenas, um movimento ao longo da curva de demanda, ou seja, a curva de demanda permanece inalterada e existe apenas uma mudança na quantidade demandada do produto. Por outro lado, você também estudou outros fatores que influenciam a demanda. Esses outros fatores denominam‑se deslocadores de demanda. Relacione os itens da primeira coluna com os respectivos eventos na segunda coluna. ( 1 ) Movimento ao longo da curva da demanda. ( 2 ) Deslocamento da curva da demanda para a direita. ( 3 ) Deslocamento da curva da demanda para a esquerda. ( ) Os donos de sorveterias acham que os consumidores estão mais dispostos a pagar mais caro por sorvete durante o verão. ( ) Os consumidores preveem que o preço de um produto será menor em um futuro próximo. ( ) O forte aumento no preço da gasolina leva muita gente a procurar transporte coletivo, a fim de reduzir o consumo de gasolina. ( ) No dia dos namorados, as pessoas compram mais rosas, ainda que seu preço seja mais alto que em outras épocas do ano. 4) Você estudou que um determinado evento climático (geada) pode gerar um impacto no mercado de café. A quantidade de café disponível para venda diminui e a curva da oferta se desloca para a esquerda. Ao preço de equilíbrio original, temos agora uma situação de escassez. Com menos café disponível, a cotação do produto começa a subir. Como resultado final, temos um novo preço de equilíbrio mais alto e uma nova quantidade de equilíbrio menor que a anterior. Responda e explique, respectivamente: a) Como a mudança no preço do café decorrente da geada afetará o mercado de chá? b) Explique em um gráfico os efeitos esperados deste evento para deslocamento das curvas de demanda ou de oferta por chá. 78 Mercado Agrícola I Saiba mais MENDES, Judas Tadeu Grassi; PADILHA JÚNIOR, João Batista. Agronegócio: uma abordagem econômica. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. WONNACOTT P. e WONNACOTT, R. Economia. São Paulo: McGraw‑Hill, 1994. Unidade 2 79 UNIDADE 3 Elasticidade de produtos agrícolas Objetivos de aprendizagem Entender a definição da elasticidade-preço da demanda, da elasticidade-preço da oferta, da elasticidade-renda da demanda. Compreender a importância dos diferentes tipos de elasticidades para os produtores e consumidores de produtos agrícolas. Aprender quais fatores influenciam o tamanho dessas diferentes tipologias de elasticidade. Seções de estudo Seção 1 Definição e medida da elasticidade Seção 2 Interpretação da elasticidade-preço da demanda Seção 3 Importância da elasticidade-preço da demanda Seção 4 Elasticidade-renda da demanda Seção 5 Elasticidade-preço da oferta 3 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Caro estudante, você imagina que percentagem da população brasileira vive no campo? O resultado do último censo, realizado pelo IBGE (2010), indica 190,7 milhões de pessoas para a população brasileira, as quais estão distribuídas em áreas dos meios urbano e rural. Os dados do censo revelaram que essa população está mais urbanizada que há 60 anos. Para termos uma ideia, no ano de 1950, 64% dos brasileiros viviam em áreas rurais, e agora são 16%. Nos Estados Unidos, na década de 1940, aproximadamente 16% de sua população total vivia no campo. Essas cifras são semelhantes às observadas atualmente no Brasil. A última percentagem oficial publicada pelo governo norte‑americano data de 1991 e, naquele ano, a percentagem da sua população rural era 1,9%. Por que tão pouca gente vive e trabalha no campo no Brasil e, especialmente, nos Estados Unidos? A resposta a essa pergunta está relacionada ao tema que será abordado a seguir: elasticidades. Na sequência você aprenderá como se medem os diferentes tipos de elasticidade e sua importância para os produtores e consumidores de produtos agrícolas. Seção 1 – Definição e medida da elasticidade Até agora você utilizou o modelo da oferta e da demanda para prever como o preço e a quantidade de um determinado bem mudam. Por exemplo: caso o preço do café venha a subir, sabemos que sua demanda cairá. A questão essencial é saber qual a quantidade demandada de café torna‑se sensível a mudanças no preço do produto. 82 Mercado Agrícola I Como definimos sensibilidade? A resposta a essa pergunta é um número especial, o qual pode ser obtido a partir da elasticidade‑preço da demanda. A seguir, veremos como se mede a elasticidade‑preço da demanda e por que ela é a melhor maneira de medir como a quantidade demandada responde a mudanças no preço. A elasticidade‑preço da demanda Ao interpretarmos os dados contidos na figura a seguir, percebemos a resposta da quantidade demandada a uma mudança específica no preço. Preço 6 do café 5 À medida que o preço sobe, a quantidade demandada cai 4 Curva de demanda 3 2 1 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 3.1 – Curva da demanda de café Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Unidade 3 83 Universidade do Sul de Santa Catarina Você pode observar que se o preço de mercado estiver a R$ 2,00/ unidade, os consumidores estão dispostos a comprar 14 bilhões de unidades de café. A R$ 3,00/unidade, alguns consumidores acham o preço alto demais, e somente 12 bilhões de unidades serão adquiridas. Mas como podemos transformar isso em uma medida de sensibilidade ao preço? A elasticidade‑preço da demanda compara a resposta dos consumidores em termos de quantidade demandada de um produto, com a mudança percentual no preço. Para calcular a elasticidade‑preço da demanda, você deve primeiro calcular a variação percentual na quantidade demandada e a correspondente variação percentual no preço. Elas são calculadas da seguinte forma: Variação (%) na quantidade demandada = (1) Variação na quantidade X 100 Valor médio da quantidade demandada A variação percentual na quantidade demandada de café quando o preço sobe de R$ 2,00 para R$ 3,00 é calculada da seguinte forma: Variação (%) na quantidade demandada = (12 - 14) X 100 (12 + 14)/2 Variação (%) na quantidade demandada = (‑) 15,38% A mudança percentual no preço é: Variação (%) no preço = Variação no preço X 100 Valor médio do preço Variação (%) no preço = (3 - 2) X 100 (3 + 2)/2 Variação (%) no preço = 40% 84 (2) Mercado Agrícola I Para calcular a elasticidade‑preço da demanda, dividimos a mudança percentual na quantidade demandada (1) pela mudança percentual no preço (2): Elasticidade‑preço da demanda (Epd) = Elasticidade‑preço da demanda (Epd) = (‑) Variação % na quantidade demandada (3) Variação % no preço 15,38% 40% Elasticidade‑preço da demanda (Epd) = (‑) 0,38 Como você pode observar, o coeficiente da elasticidade‑preço da demanda tem sinal negativo, porque o preço e a quantidade variam em sentido opostos devido à lei da demanda. Por exemplo, se o preço aumenta (uma mudança percentual positiva), a quantidade cai (uma mudança percentual negativa). A partir de agora, por comodidade, vamos convencionar eliminar o sinal negativo quando nos referirmos à elasticidade‑preço da demanda. Como você verá a seguir, uma elasticidade‑preço da demanda de 0,38 indica uma resposta fraca da quantidade demandada ao preço. Unidade 3 85 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 2 – Interpretação da elasticidade‑preço da demanda O que significa uma elasticidade‑preço da demanda baixa? E o que determina que a elasticidade‑preço da demanda seja alta ou baixa? No mundo real, não é tão fácil calcular elasticidade‑preço da demanda. Infelizmente, mudança de preço não é a única coisa que afeta a quantidade demandada. Existe uma série de fatores que interferem no nosso desejo de consumir bens e serviços: preferências, preço dos bens relacionados, renda da população, entre outros. Na prática, é preciso separar a influência desses outros fatores para estimar a elasticidade‑preço da demanda. O esforço de vários estudos de estimativas de elasticidade‑preço da demanda pode ser visualizado na tabela a seguir. As estimativas revelam uma grande amplitude de elasticidade‑preço, mesmo quando se considera somente um grupo de produtos – os alimentos. Tabela 3.1 – Estimativas de elasticidade‑preço da demanda, de curto prazo, de alguns alimentos, no varejo, Brasil e Estados Unidos Produtos agropecuários Açúcar Arroz Banana Batata inglesa Café em pó Café solúvel Carne bovina Carne de frango Carne suína Farinha de trigo Feijão Frutas Leite Ovos Pão Queijo Alimentos em geral Fonte: Adaptado de Mendes (2007, p. 73). 86 Brasil Estados Unidos 0,13 0,10 0,49 0,15 0,12 0,85 0,94 0,96 0,70 0,35 0,16 0,50 0,14 1,20 n.d. n.d. 0,50 0,24 n.d. n.d. 0,25 0,21 1,10 0,77 0,80 0,60 0,15 n.d 0,45 0,34 n.d. 0,15 0,55 0,12 Mercado Agrícola I Quando a elasticidade‑preço da demanda é maior que 1, a demanda é chamada de elástica. A demanda elástica acontece quando uma variação percentual no preço do produto produz uma variação percentual maior na quantidade demandada. Exemplo: se uma redução de 10% no preço de ovos acarreta um aumento de 12% na quantidade demandada, a demanda é elástica (Epd = 1,20) – resultado observado aqui no Brasil para o produto “ovos”. Quando a elasticidade‑preço da demanda é menor que 1, a demanda é chamada de inelástica. A demanda inelástica acontece quando uma variação percentual no preço do produto produz uma variação percentual menor na quantidade demandada. Exemplo: se uma redução de 10% no preço do açúcar provoca um aumento de 1,3% na quantidade demandada, a demanda é inelástica (Epd = 0,13) – resultado observado aqui no Brasil para o produto “açúcar”. Quando a elasticidade‑preço da demanda é igual a 1, a demanda é chamada de elasticidade unitária. A demanda elasticidade unitária é o limite entre os dois tipos anteriores de elasticidade. Acontece quando uma variação percentual no preço do produto produz uma variação percentual exatamente igual na quantidade demandada. Exemplo: se uma redução de 10% no preço de um determinado produto provoca um aumento de 10% na quantidade demandada, a demanda é elasticidade unitária (Epd = 1,00). Para o nosso exemplo, com relação ao cálculo da elasticidade‑preço da demanda por café, o valor encontrado foi Epd = 0,38. Como seu valor é menor que 1, a demanda por café é dita inelástica. Significa também que um aumento de 10% no preço do café provoca uma diminuição de 3,8% na quantidade demandada. Por que as estimativas de elasticidade‑preço diferem entre os tipos de alimentos? A demanda por alimentos é inelástica a preço. Isto significa dizer que, de maneira geral, os consumidores têm baixa sensibilidade às variações nos preços. Unidade 3 87 Universidade do Sul de Santa Catarina Você observou, de acordo com a tabela anterior, que existem variações no coeficiente de elasticidade‑preço para os alimentos. Os fatores que determinam a magnitude da elasticidade‑preço da demanda são: a) disponibilidade de produtos substitutos: a elasticidade‑preço da demanda por alimentos tende a ser alta quando existem outros bens que o consumidor pode substituir em lugar do bem considerado. A elasticidade‑preço da demanda por gêneros alimentícios tende a ser baixa quando não há bens substitutos. Exemplo: do ponto de vista dos produtores e empresas do ramo alimentício, há um esforço para diferenciar o seu produto através da propaganda, reduzindo o número de substitutos e, assim, tornar a demanda mais inelástica; b)proporção de renda gasta: quanto maior a proporção da renda gasta com um produto alimentício, maior a elasticidade‑preço da demanda do bem, ou seja, mais elástica será a demanda. Os dados da figura a seguir, referentes a um grupo de oito países, ilustram a tendência que descrevemos: quanto maior a proporção da renda gasta com alimentos, mais elástica a preço é a demanda. India 0,78 Indonesia 0,7 Coreia do Sul 0,6 Brasil 0,45 Espanha 0,4 Japão 0,36 Inglaterra 0,3 Estados Unidos 0,12 0 10 20 Percentual da renda 30 40 50 Elasticidade-preço Figura 3.2 – Elasticidade‑preço da demanda em oito países, segundo a proporção da renda gasta com alimentos Fonte: Adaptado de Mendes (2007, p. 75). 88 60 Mercado Agrícola I Conforme podemos observar na figura anterior, o consumidor dos Estados Unidos gasta apenas 12% de sua renda disponível com alimentos e a elasticidade‑preço é 0,12. Por outro lado, o consumidor na Índia gasta mais da metade de sua renda per capita com alimentos e sua elasticidade‑preço da demanda é 0,75. Aqui no Brasil, estamos numa situação intermediária, gastamos aproximadamente 35% da renda disponível com alimentos e a elasticidade‑preço é 0,45. Quando o peso de um determinado produto no orçamento do consumidor é muito baixo, a elasticidade tende a diminuir. Exemplo: um aumento de 10% no preço de itens alimentícios, relativamente baratos, como o sal e outros condimentos, provavelmente produzirá uma pequena redução na quantidade demandada de seu produto. c) essencialidade do bem: a elasticidade‑preço da demanda tende a ser baixa se o bem for algo muito necessário. Por exemplo, água, pão ou um remédio de uso contínuo são considerados bens necessários. Já os chamados bens de luxo tendem a ter elasticidade‑preço da demanda alta. Exemplo: uma viagem de férias para a Europa ou um cruzeiro marítimo pelo território brasileiro são bens supérfluos, uma vez que podem deixar de ser consumidos. d)tempo: a elasticidade‑preço da demanda tende a aumentar à medida que os consumidores têm mais tempo para se ajustar à mudança de preço. Unidade 3 89 Universidade do Sul de Santa Catarina Para entender a influência do tempo na elasticidade‑preço da demanda de um produto alimentício leia o texto abaixo que se refere a um produto não agrícola (a gasolina): AUMENTAR O PREÇO DA GASOLINA REDUZ A DEMANDA? As estimativas dos economistas sobre quanto a demanda de gasolina se reduz à medida que seu preço aumenta mostram que, no curto prazo, o coeficiente de elasticidade preço é igual a ‑0,10; ou seja, deve‑se esperar uma redução em torno de 1% da quantidade de gasolina demandada para cada 10% de aumento no seu preço. Contudo, a elasticidade muda substancialmente à medida que o período de análise das respostas à variação do preço é ampliado. Isso ocorre porque o impacto total de uma mudança de preço sobre a demanda não ocorre imediatamente; quanto maior for o tempo que os motoristas têm para fazer ajustes no seu consumo de gasolina, maior será a sua capacidade de economizar através de mudanças básicas como o tipo de carro que possuem, hábitos de direção e dependência ao automóvel em relação ao número de quilômetros percorridos a cada ano. Além disso, os fabricantes terão tempo para desenhar e construir carros com maior eficiência no uso do combustível. As estimativas de elasticidade preço para períodos de 2 a 3 anos se situam na vizinhança de ‑0,25. O professor Pyndyck, do MIT, obteve uma elasticidade de ‑0,45 para um período de 5 anos, no caso da economia dos Estados Unidos. Para um período de 10 anos, suas estimativas são de ‑0,82 e para um período de 15 anos, de ‑1,03. O elevado aumento do grau de elasticidade preço da demanda, à medida que aumenta o intervalo de tempo após a mudança de preço, mostra que o impacto total de uma variação de preço pode ser muito mais dramático no longo prazo do que no curto prazo. (THOMPSON e FORMBY, 1998, p. 79). Conforme podemos observar no exemplo anterior, quando, nos EUA, os preços da gasolina aumentam no curto prazo o consumo cai muito pouco. Ao longo do tempo, contudo, os norte‑americanos mudam seus hábitos para reduzir gradualmente o consumo de gasolina. O resultado apresentado foi que a elasticidade‑preço da demanda por gasolina nos EUA no longo prazo era de fato maior que sua elasticidade no curto prazo. O mesmo resultado é esperado para os produtos alimentícios, ou seja, no longo prazo sua elasticidade será maior que a sua elasticidade no curto prazo. 90 Mercado Agrícola I O efeito conjunto dos fatores apontados anteriormente ajuda a explicar a baixa elasticidade‑preço dos alimentos. Em resumo, podemos afirmar que quanto: Mais essencial for o produto Menor for o número de substitutos Mais baixa a proporção da renda gasta com o produto Mais inelástica é a sua demanda Menor o tempo que os consumidores têm para se ajustar as mudanças de preços Seção 3 – A importância da elasticidade‑preço da demanda Você deve estar se perguntando: Por que importa saber se no ramo do agronegócio a demanda tem elasticidade inelástica, unitária ou elástica? A resposta está relacionada com a receita a ser obtida com a venda de seus produtos no mercado. Em muitos casos do mundo do agronegócio, é preciso saber como as mudanças no preço de um produto afetam a receita que os produtores obtêm com a venda desse produto. A receita total é definida como o valor total das vendas de um produto ou serviço, ou seja, a multiplicação do preço do produto pela quantidade vendida. É interessante notar que a receita total dos vendedores equivale no mercado às despesas totais dos consumidores. Unidade 3 91 Universidade do Sul de Santa Catarina Qual o efeito final sobre a receita total dos produtores quando o preço aumenta? A receita aumenta ou diminui? A resposta à pergunta anterior depende de dois efeitos que se contrapõem: Efeito preço: o preço mais alto tende aumentar a receita. Efeito quantidade: o preço mais alto tende a diminuir a quantia vendida e, por consequência, sua receita. Para entender a relação entre efeito preço versus efeito quantidade, convido você a retomar a figura de Curva da demanda de café que mostra o comportamento da demanda por café. Você pôde observar que caso o preço de mercado esteja a R$ 2,00/unidade, os consumidores estão dispostos a comprar 14 bilhões de unidades de café. A receita total ao preço de R$ 2,00 é igual a 28 bilhões de reais. Suponha que haja um aumento no preço do café para R$ 3,00/ unidade. Agora, alguns consumidores acham o preço alto demais e somente 12 bilhões de unidades serão adquiridas. A receita total após o aumento do preço passa a ser de 36 bilhões de reais. No exemplo descrito anteriormente, há um aumento de receita total de R$ 8 bilhões de reais. Isso aconteceu porque o efeito preço é mais forte que o efeito quantidade. Lembre‑se de que a elasticidade‑preço da demanda por café foi Epd = 0,38, portanto, a demanda por café é dita inelástica. Se a demanda de um produto é inelástica, um preço mais alto aumenta a receita. O efeito preço é mais forte que o efeito quantidade. Por outro lado, se a demanda de um produto é elástica, com o aumento do preço, acontece o contrário: a receita diminui. A elasticidade‑preço da demanda é importante porque ela aponta o que acontece com a receita total quando o preço muda. O seu tamanho determina qual dos dois efeitos – efeito preço ou efeito quantidade – é o mais forte. 92 Mercado Agrícola I A tabela a seguir resume o efeito de uma variação no preço do produto na receita total obtida pelos produtores, dependendo do tamanho do coeficiente de elasticidade‑preço: Tabela 3.2 – Elasticidade‑preço da demanda e a receita total Elasticidade Tipo de demanda Aumento de preço Redução de preço Epd < 1 Inelástica Aumenta a receita total Diminui a receita total Epd > 1 Elástica Diminui a receita total Aumenta a receita total Epd = 1 Unitária Permanece constante a receita total Permanece constante a receita total Fonte: Elaboração do autor (2011). A elasticidade‑preço da demanda prevê também o efeito de uma queda do preço sobre a receita total. Quando o preço cai, estão presentes as duas forças que se contrapõem: o efeito preço e o efeito quantidade. Qual deles é efeito dominante? A resposta para esta pergunta dependerá da elasticidade‑preço. Quando a demanda é inelástica, o efeito preço domina o efeito quantidade. Assim, uma queda de preço reduz a receita total. Por outro lado, quando a demanda é elástica, uma queda de preço aumenta a receita total. A importância da elasticidade‑preço da demanda se deve à contribuição para a tomada de decisão das empresas do agronegócio quanto à determinação do nível de preço do seu produto no mercado. A opção por aumentar o preço, ao saber que seu produto tem demanda inelástica, deverá resultar em aumento de receita total. Como influenciar o tamanho da elasticidade‑preço de produtos agrícolas? Os produtos agrícolas têm demanda inelástica a preço em decorrência do efeito do conjunto dos fatores apontados anteriormente, tais como a essencialidade do produto, a existência de produtos substitutos, o peso do preço do produto na renda do consumidor e a perecibilidade do produto agrícola. Unidade 3 93 Universidade do Sul de Santa Catarina Como as empresas do agronegócio podem tornar menos ou mais inelástica a demanda de seus produtos? Segundo Mendes (2007, p. 79), do ponto de vista econômico, a industrialização aumenta o tempo de conservação do produto in natura e o número de produtos substitutos. O resultado esperado é que o processamento dos produtos agrícolas faz com que a demanda fique menos inelástica (mais elástica). Um alimento não perecível estimula o consumidor a demandar muito mais se ocorrem quedas de preço, quando comparado a um alimento que seja perecível. Por exemplo, uma queda de 40% no preço do leite in natura e do leite longa vida fará com que as vendas do leite longa vida aumentem muito em relação ao leite mais perecível (ou in natura). A segunda consequência do processo de industrialização de produtos agrícolas é possibilitar maior número de substitutos via marca. A figura a seguir ilustra a mudança para uma curva de demanda mais elástica de um produto que sofreu um processo de agregação de valor. Observe que o consumidor tem vários produtos substitutos para a alcatra (picanha, filé mignon, coxão duro, coxão mole, lombo, costela, contrafilé, lagarto, ponta da agulha, maminha e fraldinha). 94 Mercado Agrícola I Preço Mais substitutos Alcatra Alimentos Carnes Carnes de boi Quantidade Figura 3.3 – Efeito da agregação de valor tornando a demanda mais elástica Fonte: Adaptado de Mendes (2007, p. 80). Você deve observar que mercados definidos de maneira restrita tendem a ter uma demanda mais elástica quando comparados com mercados que são definidos de maneira mais ampla. O sorvete tem uma demanda mais elástica, porque é fácil substituir por outras sobremesas e o seu tempo de conservação pode ser prolongado por meses. O sorvete de flocos, tipo mais restrito, tem uma demanda muito elástica, por que existem muitos outros sabores substitutos. Além de a industrialização aumentar o tempo de conservação do produto in natura e o número de produtos substitutos, do ponto de vista econômico pode resultar ainda em uma diferenciação do produto. O efeito esperado dessa diferenciação, por reduzir o número de bens substitutos, é fazer com que a curva da demanda fique mais inelástica. O grau de inelasticidade depende do grau de diferenciação do produto que se consegue obter, pela redução da possibilidade de substituição por produtos de outras empresas. A diferenciação pode resultar em maior lealdade dos consumidores e permitir maior controle de preço por parte da empresa. Unidade 3 95 Universidade do Sul de Santa Catarina Retomando nosso exemplo, a diferenciação do café como estratégia de comercialização e controle de preço tem duas situações que considero interessante, que são as marcas Jacu Bird e a Kopi Luwak. A marca Jacu Bird – Super Premium Organic Coffee – é considerado um dos mais raros e exóticos grãos de café do Brasil. Figura 3.4 – A marca Jacu Bird – Super Premium Organic Coffee Fonte: Thedim (2009). Mas o que torna esse café tão raro e especial? Seu processo de produção é diferente dos tradicionais? Os grãos do Jacu Bird são colhidos das fezes do jacu, uma ave nativa da Mata Atlântica que come os melhores frutos do cafeeiro. O Jacu Bird é vendido nas formas de expresso, R$ 12,00 a xícara, e moído, R$ 86,00 cada 250 gramas. Segundo Kiefer (2010), “maior produtor e exportador mundial de café, o Brasil escolheu o segundo café mais exótico do mundo para ser o seu representante nas Olimpíadas de 2014”. 96 Mercado Agrícola I Kopi Luwak é considerado o café mais caro do mundo. É produzido com grãos de café extraídos das fezes do civeta, na Indonésia e nas Filipinas. Kopi é uma palavra indonésia para “café”, enquanto luwak é o nome local da civeta. Um quilo do grão de café pode render cerca de mil dólares e uma xícara de café preparado com Kopi Luwak pode custar mais de 30 libras esterlinas no Reino Unido (mais de R$ 100,00). Figura 3.5 – Grãos do café Kopi Luwak excretado pelo civeta Fonte: Qvinho (2007). Figura 3.6 – O café Kopi Luwak Fonte: France‑Stream (2010). Unidade 3 97 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 4 – Elasticidade‑renda da demanda A demanda de um produto agrícola depende do seu preço, de mudanças na renda dos consumidores, do preço de produtos relacionados e de outras variáveis. Neste conteúdo, você estudará a influência de mudanças da renda dos consumidores na quantidade demandada de determinado produto agrícola. A elasticidade‑renda da demanda (Erd) é uma medida de quanto os consumidores respondem a mudanças percentuais em sua renda. O coeficiente da elasticidade‑renda da demanda, que pode ser negativo ou positivo, é determinado pela seguinte fórmula: Elasticidade‑renda da demanda (Erd) = Variação % na quantidade demandada (1) Variação % no preço Quando a elasticidade‑renda da demanda é positiva, significa que, quando a renda aumenta, eleva‑se a quantidade demandada do produto. Esse produto denomina‑se bem normal ou superior. Quando a elasticidade‑renda da demanda é negativa, significa que, quando a renda aumenta, a quantidade demandada do produto diminui. Esse produto denomina‑se bem inferior. Vamos supor que a renda do consumidor brasileiro aumente de R$ 2.000,00 para R$ 2.400,00 (um aumento de 20%) e que isso provoque uma expansão do consumo de café em 5%. Aplicando a fórmula (1): Elasticidade‑renda da demanda (Erd) = Variação % na quantidade demandada = 5% Variação % no preço 20% Erd = 0,25 A elasticidade‑renda da demanda para o produto café é positiva com Erd = 0,25, indicando que se trata de um bem normal. O resultado de estimativas de elasticidade‑renda da demanda de alguns alimentos para o Brasil e Estados Unidos podem ser observados na tabela a seguir. 98 Mercado Agrícola I Tabela 3.3 – Estimativas de elasticidade‑renda da demanda de alguns alimentos, Brasil e Estados Unidos Elasticidade‑renda da demanda Produtos agropecuários Brasil Estados Unidos Açúcar 0,13 0,01 Arroz 0,10 0,15 Banana 0,10 0,10 Batata inglesa 0,61 0,10 Café em pó 0,25 0,30 Carne bovina 0,94 0,47 Carne de frango 1,10 0,50 Carne suína 0,80 0,18 Farinha de mandioca ‑ 0,03 n.d. Farinha de trigo 0,32 0,35 Feijão ‑ 0,11 ‑ 0,49 Fumo 0,60 1,02 Leite 0,60 0,16 Óleos vegetais 0,42 0,49 Ovos 0,62 0,16 Queijo 0,85 0,45 Alimentos em geral 0,50 0,15 Fonte: Adaptado de Mendes (2007, p. 73). A partir da interpretação dos dados contidos na tabela anterior, podemos observar que a resposta dos consumidores às variações de renda é uma informação importante para que os administradores do agronegócio possam antecipar a magnitude da expansão ou da retração de suas vendas. Segundo Mendes (2007, p. 100), merecem destaque as seguintes tendências quando ocorre um aumento da renda: a) o consumo de produtos pecuários aumenta relativamente mais que os de origem agrícola; b) o consumo de produtos mais processados cresce proporcionalmente mais que os produtos in natura; c) o consumo de produtos in natura de melhor qualidade também aumenta relativamente quando comparado ao produto in natura que não tenha tão boa qualidade. Unidade 3 99 Universidade do Sul de Santa Catarina A elasticidade‑renda da demanda de alimentos diminui à medida que a renda aumenta. Quando há um aumento do poder aquisitivo da população, consumidores de classes sociais menos favorecidas gastam uma proporção da renda maior com alimentos em comparação com os consumidores de classes sociais mais favorecidas. A figura a seguir relaciona a elasticidade‑renda da demanda em oito países, segundo o nível de renda per capita em relação à renda per capita dos Estados Unidos. Figura 3.7 – Elasticidade‑renda da demanda em oito países, segundo o nível de renda per capita (em relação à dos Estados Unidos) Fonte: Adaptado de Mendes (2007, p. 75). Você pode observar que um aumento de 10% na renda per capita na Índia provoca um aumento de consumo de 8,8%, ao passo que para este aumento de renda nos Estados Unidos o consumo aumenta apenas 1,5%. Note que o consumidor indiano possui uma renda disponível de 6% da renda per capita norte‑americana. 100 Mercado Agrícola I Seção 5 – Elasticidade‑preço da oferta Quando se estuda a oferta e demanda agrícola, verifica-se que os produtores estão dispostos a oferecer uma quantidade maior do seu produto quando há um aumento no preço, quando diminui o preço de seu insumo, ou quando ocorre um avanço tecnológico. Para avançar um pouco mais nesse conteúdo e quantificar essa mudança de disposição dos produtores de ofertar seu produto em relação ao preço, usaremos o conceito de elasticidade‑preço da oferta. A elasticidade‑preço da oferta é uma medida à resposta dos produtores às mudanças de preços. O grau de elasticidade‑preço da oferta é calculado da seguinte maneira: Elasticidade‑preço da oferta (Epo) = Variação % na quantidade ofertada Variação % no preço Suponha que o preço do café aumente 40%, mudando de R$ 2,00 para R$ 3,00, conforme podemos observar na figura a seguir. Unidade 3 101 Universidade do Sul de Santa Catarina Preço 6 do café 5 Curva de oferta 4 3 2 À medida que o preço 1 sobe, a quantidade ofertada aumenta 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 3.8 – Curva de oferta de café Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Variação % na quantidade ofertada = Variação na quantidade X 100 Valor médio da quantidade (1) A mudança percentual na quantidade ofertada de café quando o preço sobre de R$ 2,00 para R$3,00 é calculada da seguinte forma: Variação (%) na quantidade ofertada = (12 - 10) X 100 (12 + 10)/2 Variação (%) na quantidade ofertada = 18,18% 102 Mercado Agrícola I A variação percentual no preço é: Variação (%) no preço = Variação no preço X 100 Valor médio do preço (2) Variação (%) no preço = (3 - 2) X 100 (3 + 2)/2 Variação (%) no preço = 40% Para calcular a elasticidade‑preço da oferta, dividimos a mudança percentual na quantidade ofertada (1) pela mudança percentual no preço (2): Elasticidade‑preço da oferta (Epo) = Variação % na quantidade ofertada Variação % no preço (3) Elasticidade‑preço da oferta (Epo) = 18,18% / 40% = 0,45 Como você pode observar, o coeficiente Epo é menor que a unidade (1) e a oferta de café é inelástica. O preço do café aumentou 40%, mas a reação dos produtores em aumentar a produção se situa em 18%. Se a reação dos produtores para aumentar a produção fosse maior que 40%, a oferta seria elástica. A oferta de um produto agrícola é chamada de elástica se a variação da quantidade ofertada responder substancialmente acima da variação de preço. A oferta é chamada inelástica se a variação da quantidade ofertada responder relativamente abaixo da variação de preço. Unidade 3 103 Universidade do Sul de Santa Catarina A elasticidade‑preço dos alimentos, em geral, é inelástica. As estimativas de elasticidade‑preço da oferta de alguns alimentos do Brasil podem ser observadas na tabela a seguir. Tabela 3.4 – Estimativas de elasticidade‑preço da oferta de alguns alimentos do Brasil, no curto e longo prazo Brasil Produtos agropecuários Curto prazo Longo prazo Açúcar 0,26 0,60 Arroz 0,31 0,80 Algodão 0,19 0,65 Batata inglesa 0,34 0,45 Café 0,30 0,55 Carne bovina 0,30 0,60 Carne de frango 0,95 1,50 Carne suína 0,40 0,60 Cebola 0,13 0,45 Feijão 0,15 0,30 Milho 0,35 0,70 Leite 0,27 0,50 Soja 0,80 1,40 Ovos 0,70 1,20 Trigo 0,50 0,70 Alimentos em geral 0,20 0,40 Fonte: Adaptado de Mendes (1998, p. 217). Note que a elasticidade‑preço da oferta é sempre positiva. Isso ocorre porque as variações de preço e quantidade são no mesmo sentido. Ao diminuir o preço, diminui a quantidade oferecida. 104 Mercado Agrícola I Fatores determinantes da elasticidade‑preço da oferta A disposição do produtor em vender seu produto a determinado preço depende de outros fatores. O período de tempo considerado e a disponibilidade de insumos desempenham papéis importantes na elasticidade‑preço da oferta. Período de tempo. A elasticidade‑preço da oferta depende do tempo necessário para os produtores responderem a mudanças de preços. O tamanho da elasticidade tende a ser maior quanto mais tempo os produtores dispuserem para darem essa resposta. Portanto, no longo prazo, a elasticidade‑preço da oferta tende a ser maior que a elasticidade de curto prazo. No curto prazo, as empresas do agronegócio não podem mudar facilmente o tamanho e a estrutura de produção para produzir uma quantia maior do produto. A quantia a ser ofertada não pode responder muito ao preço (mais inelástica). A elasticidade‑preço dos alimentos em geral é mais inelástica no curto prazo 0,2 que no longo prazo 0,4, conforme mostrado na tabela anterior. Disponibilidade de insumos. A elasticidade‑preço da oferta tende a ser elevada quando não houver dificuldades para acessar os insumos de produção. As pizzarias, por exemplo, obtêm facilmente os insumos necessários à expansão da sua atividade. Assim, esse ramo de atividade pode reagir às mudanças no preço, e a elasticidade‑preço da oferta tende a ser elevada (mais elástica). A partir do entendimento quanto ao conteúdo estudado, referente à elasticidade dos produtos agrícolas, agora podemos responder à pergunta feita no início deste conteúdo. Unidade 3 105 Universidade do Sul de Santa Catarina Por que tão pouca gente vive e trabalha no campo no Brasil e, especialmente, nos Estados Unidos? A resposta a essa pergunta está relacionada ao tema – elasticidades – e envolve principalmente a elasticidade‑renda e a elasticidade‑preço da demanda. A elasticidade‑renda da demanda por alimentos é inelástica, visto que a proporção do crescimento da renda do consumidor não é transferida proporcionalmente para gastos com alimentação. Assim, à medida que as economias brasileira e norte‑americana cresceram, diminuiu a proporção gasta com alimentos e, por consequência, reduziu a parcela da renda dos agricultores na renda total. A demanda de alimentos é inelástica em resposta a preços. Por exemplo, os agricultores desses dois países têm investido no avanço tecnológico para aumentar sua produção ao longo do tempo. Esse avanço tem elevado o índice da oferta de produtos agrícolas numa intensidade maior que o índice observado para a demanda desses produtos, ocasionando uma redução nos preços. Você deve observar que uma redução no preço de produtos agrícolas leva a uma redução da renda total dos agricultores, porque a demanda de alimentos é inelástica em resposta a preços. Isso é bom para os consumidores, mas não é bom para os agricultores. Nesse sentido, podemos observar que o efeito da baixa elasticidade‑renda faz com que a renda dos agricultores cresça menos que a economia no seu conjunto. Assim, o efeito conjunto dessas duas elasticidades reforça e ajuda a explicar o declínio relativo da agricultura naqueles dois países e a consequente redução de suas populações no campo. 106 Mercado Agrícola I Síntese Neste conteúdo você aprendeu como se medem os diferentes tipos de elasticidade, como se faz a sua interpretação, e, ainda, pôde entender a importância deste assunto para a tomada de decisão dos produtores e consumidores de produtos agrícolas. O quadro a seguir contém um resumo com todas as elasticidades estudadas e suas implicações. Nome Valores Elasticidade‑preço da demanda (Epd) = Interpretação Variação % na quantidade demandada Variação % no preço ‑ Demanda inelástica <1 Aumento no preço aumenta a receita total ‑ Demanda de elasticidade unitária =1 Mudança no preço não afeta a receita total ‑ Demanda elástica >1 Aumento no preço reduz a receita total Elasticidade‑renda da demanda (Erd) = Variação % na quantidade demandada Variação % na renda ‑ Bem inferior <0 A quantidade demandada cai quando a renda sobe ‑ Bem normal inelástico 0 < Erd < 1 A quantidade demandada sobe quando a renda sobe, mas numa proporção menor ‑ Bem normal elástico <1 A quantidade demandada sobe quando a renda sobe, mas numa proporção maior Elasticidade‑preço da oferta (Epo) = Variação % na quantidade ofertada Variação % no preço ‑ Oferta inelástica 0 < Erd < 1 A quantidade ofertada responde não tão rapidamente quanto à mudança de preço ‑ Oferta elástica >1 A quantidade ofertada responde substancialmente à mudança de preço Quadro 3.1 – Resumo de elasticidades Fonte: Elaboração do autor (2011). Unidade 3 107 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de autoavaliação 1) Considere o estudo de caso: Duas maneiras de reduzir a quantidade demandada de tabaco Os formuladores de políticas públicas muitas vezes desejam reduzir a quantidade de cigarros consumida pelo povo. A política pode tentar atingir esse objetivo de duas maneiras. Uma maneira de reduzir o tabagismo é deslocar a curva de demanda por cigarro e outros produtos do tabaco. Os comunicados públicos, os alertas obrigatórios nas embalagens de cigarros e a proibição da publicidade de cigarros na TV são políticas que têm por objetivo reduzir a quantidade demandada de cigarros a cada preço. Alternativamente, os formuladores de políticas podem tentar aumentar o preço dos cigarros. Se o governo taxar os fabricantes de cigarros, por exemplo, eles repassarão grande parte da taxação para os consumidores na forma de preços mais elevados. Um preço maior incentivará os fumantes a reduzir o número de cigarros consumidos. Em que medida a quantidade demandada de cigarros reage a mudanças no seu preço? Os economistas tentaram responder a essa pergunta estudando o que acontece quando o imposto sobre o cigarro muda. Eles descobriram que um aumento de 10% do preço provoca uma redução de 4% na quantidade demandada. Os adolescentes se mostraram especialmente sensíveis ao preço dos cigarros: um aumento de 10% do preço resulta numa queda de 12% na quantidade demandada de cigarros entre os adolescentes. Uma questão relacionada a esta é como o preço dos cigarros afeta a demanda por drogas ilegais como a maconha. Os opositores da taxação sobre cigarros argumentam que tabaco e maconha são bens substitutos, de modo que os preços elevados dos cigarros encorajam o uso da maconha. Por outro lado, especialistas em dependência química veem o cigarro como uma “droga de entrada”, que leva os jovens a experimentar outras substâncias nocivas à saúde. A maioria dos estudos consistentes com dados é consistente com esta última visão: constataram que menores preços dos cigarros estão associados a um maior uso de maconha. Em outras palavras, tabaco e maconha parecem mais ser bens complementares que propriamente substitutos. * Extraído e adaptado do livro de N. Gregory Mankiw, Introdução à economia, 2005, p. 70. 108 Mercado Agrícola I Responda o que se pede tendo por base o estudo de caso anterior e o conteúdo tratado em nossa disciplina. A elasticidade é uma medida da resposta dos compradores e vendedores às mudanças de mercado. Assinale a(s) alternativa(s) correta(s) e justifique. a) A elasticidade‑preço da procura por um bem mede a reação, em termos proporcionais, da quantidade procurada do bem em função de uma mudança de sua renda quando todos os outros parâmetros permanecerem constantes. b) O impacto total de uma variação de preço pode ser muito menos dramático aos jovens adolescentes, provavelmente por terem uma renda relativamente menor que o restante da população. c) A demanda por cigarro apresenta um comportamento mais elástico aos jovens adolescentes. d) Os estudos apontam que se deve esperar uma diminuição no consumo de cigarro de 40% quando seu preço reduzir de 100%. Unidade 3 109 Universidade do Sul de Santa Catarina e) Nenhuma das respostas. 2) Para cada caso a seguir escolha a condição que caracteriza a demanda: elástica, unitária ou inelástica: a) A receita total aumenta quando o preço diminui. b) Os produtores agrícolas acham que podem aumentar suas receitas totais cooperando para reduzir a quantidade produzida. 3) O preço da uva reduziu de R$ 1,50 para R$ 1,00 a caixa, e a quantidade demandada aumentou de um milhão para dois milhões de caixas. Qual a elasticidade‑preço da demanda? Qual o tipo de elasticidade‑preço deste produto? 110 Mercado Agrícola I Saiba mais VASCONCELLOS, M. A. S. de; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 2008. MOCHON, F.; TROSTER, L. R. Introdução à economia. São Paulo: Makron Books, 2002. Unidade 3 111 UNIDADE 4 Análise de mercados agrícolas Objetivos de aprendizagem Diferenciar e caracterizar o mercado da concorrência perfeita, do monopólio, da concorrência monopolística e do oligopólio. Compreender as implicações do poder dessas estruturas de mercado para os consumidores e empresas agrícolas. Entender o paradigma da estrutura, conduta e desempenho para análise dos mercados agrícolas. Seções de estudo Seção 1 Estruturas de mercado Seção 2 Concorrência perfeita e monopólio Seção 3 Oligopólio e concorrência monopolista Seção 4 O paradigma da estrutura, conduta e desempenho 4 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Neste conteúdo, você aprenderá o que é estrutura de mercado e quais são os diferentes tipos de estruturas de mercado existentes no fluxo percorrido, pelos produtos agrícolas, entre os produtores rurais e os consumidores finais. Começamos explicando o conceito de cada uma dessas estruturas, oferecendo uma breve introdução sobre as condições que dão a sua origem. Você estudará as diferenças existentes entre a concorrência perfeita e o monopólio e os efeitos dessa diferença no bem-estar da sociedade. Em seguida, examinaremos por que o oligopólio é tão importante e quais são as políticas normalmente empregadas para manter os oligopólios “bem comportados”. Aprenderá, no conteúdo que aborda competição monopolística, sobre como as empresas diferenciam seus produtos. E, para finalizar, você estudará um método de análise de mercado conhecido por “paradigma de estrutura-conduta-desempenho”. 114 Mercado Agrícola I Seção 1 – Estruturas de mercado A partir do estudo da oferta e demanda agrícola e da elasticidade de produtos agrícolas, obteremos o instrumental básico de como os preços dos produtos agrícolas e os níveis de produção são determinados. Entretanto, as decisões das empresas, quanto à definição de preços e níveis de produção, são influenciadas pelas características do próprio mercado em que atuam. No mundo real existem diferentes tipos de mercados; dessa forma, você pode notar que os padrões de comportamento dos produtores diferem-se, dependendo do tipo de mercado que operam. Nessa leitura, você perceberá a existência de extremos entre os diferentes tipos de mercados. Em um extremo, um único produtor domina o mercado, ao passo que, no outro extremo, milhares de empresas ofertam uma fração muito pequena da produção total. Entre um extremo e outro há uma infinidade de estruturas de mercado. “Estrutura de mercado é um modelo que capta aspectos de como os mercados estão organizados, ou seja, refere-se às características organizacionais de um mercado.” (PINHO, 2004, p. 191). Com o objetivo de desenvolver princípios, fazer previsões sobre mercados e como os produtores se comportam neles, você aprenderá quatro modelos de estruturas de mercado: competição perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística. O que determina o número de empresas em um mercado? Ou, ainda, por que alguns mercados têm produtos diferenciados e outros têm produtos homogêneos? As duas dimensões relacionadas às perguntas anteriores, ou seja, o número de empresas no mercado e se os produtos são idênticos ou diferenciados, permitem classificar os principais tipos de estruturas de mercado. Um resumo simplificado dessas estruturas pode ser visualizado na figura a seguir. Unidade 4 115 Universidade do Sul de Santa Catarina Produtos diferenciados Um Número de produtores Poucos Muitos Não Sim Monopólio Oligopólio Competição perfeita Competição monopolística Figura 4.1 – Tipos de estrutura de mercado Fonte: Adaptado de Krugman (2007, p. 290). Na competição perfeita, também conhecida por concorrência pura ou mercado competitivo, existem muitos produtores oferecendo um produto idêntico. Na competição monopolística, também são muitos produtores, mas oferecendo um produto diferenciado. No oligopólio, existem poucos produtores, que podem oferecer um produto idêntico ou diferenciado. E, por último, no monopólio, um único produtor vende um produto único, sem diferenciação. A seguir, você terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre cada uma dessas estruturas de mercado. Isso o ajudará a entender por que os mercados são diferentes e por que os produtores comportam-se de diferentes formas, dependendo do mercado em que atuam. 116 Mercado Agrícola I Seção 2 – Concorrência perfeita e monopólio No mercado competitivo existem milhares de produtores de café. Por exemplo, João e José são produtores de café e entregam sua produção à cooperativa. Como existe uma competição um com o outro, João deve tomar medidas para impedir que José produza café? João e José competem entre si e com os demais produtores. A decisão de um produtor produzir mais ou menos não tem efeito sobre os preços de mercado. Como são tantos competidores não faz sentido identificar quaisquer deles como sendo rival ou se preocupar com o quanto ele está produzindo. Quando João, José ou cada um dos demais agricultores decidem vender o seu produto para a cooperativa ou para o maquinista, ao final, a pergunta a ser feita ao comprador é: Quanto está pagando por saca de café? Quando a competição é perfeita, o produtor considera o preço de mercado como sendo dado, ou seja, o produtor é um tomador de preço na compra dos insumos de produção e na venda de seu produto. Inicialmente, vamos nos concentrar no estudo de como os produtores se comportam em condições em que a estrutura de mercado apresenta uma concorrência perfeita e, na sequência, estudaremos como os produtores se comportam em condições de um mercado com estrutura mais imperfeita: o monopólio. Concorrência perfeita O modelo de oferta e demanda é um exemplo de mercado de concorrência perfeita, também conhecido por mercado perfeitamente competitivo. Quando todos os participantes do mercado, tanto consumidores quanto produtores, são tomadores de preço caracteriza-se um mercado competitivo. Unidade 4 117 Universidade do Sul de Santa Catarina “Mercado competitivo é um mercado no qual existem muitos compradores e vendedores de um bem ou serviço e nenhum deles podem influenciar o preço pelo qual o bem ou serviço é vendido.” (KRUGMAN, 2009, p. 62). Quais são as condições necessárias para que os produtores agrícolas sejam tomadores de preço? As condições para que a agricultura funcione em um ambiente de mercado muito competitivo são as seguintes: a) presença de um número muito grande de produtores no mercado e que nenhum deles, individualmente, tenha uma participação significativa na produção. Por exemplo, há milhares de produtores de café e nenhum deles representa mais que uma pequena fração na oferta global do referido produto no mercado; b)os consumidores consideram os produtos de todos os produtores equivalentes. Por exemplo, os consumidores consideram o café produzido na fazenda de João substituível pelo café produzido na fazenda de José. Nesse sentido, podemos dizer que os produtos agrícolas são muito homogêneos e, por isso, muitas vezes são chamados de commodity. A consequência disso é que os produtores não fazem nenhuma tentativa de diferenciar o seu produto, nem tentam adotar outra forma de concorrência extrapreço; A concorrência extra-preço é uma competição em áreas que não o preço, com o objetivo de aumentar as vendas. Consiste em alterar as características do produto e depois fazer propaganda do produto diferenciado junto aos consumidores. (KRUGMAN, 2007, p. 799). c) os produtores têm livre entrada e saída no mercado, ou seja, não existem obstáculos legais, tecnológicos ou financeiros que proíbam novas empresas de produzirem café ou outro produto agrícola. Por exemplo, a qualquer momento, João ou o José podem decidir deixar de 118 Mercado Agrícola I produzir café. A consequência disso é que os produtores podem se ajustar a mudanças nas condições de mercado, transferindo seus recursos para usos mais econômicos. O modelo de concorrência perfeita é muito relevante por várias razões. Primeiro, podemos aprender muito sobre os mercados agrícolas compreendendo as características deste modelo e de como ele funciona. Segundo, é um ponto de partida importante para qualquer discussão sobre o nível de preço e de produção. Por último, este modelo nos dá um padrão a partir do qual a eficiência da economia de um mundo real possa ser comparada e avaliada. (McCONNELL, 2001, p. 151). Como se comportam os produtores que operam num mercado que atende às três condições elencadas anteriormente? Para responder a essa pergunta vamos analisar como o João, produtor de café, determina a quantidade a ser produzida que maximiza o lucro. Existem duas formas para se determinar o nível de produção que maximiza o lucro: a primeira consiste em comparar a receita total e o custo total; e a segunda consiste no uso da análise marginal, ou seja, comparar a receita marginal e o custo marginal. Receita total – Custo total Admita que o preço de mercado do café seja R$ 3,00 por saca e que João pode vender quanto queira a esse preço. O máximo lucro pode ser obtido utilizando-se como exemplo os dados da tabela a seguir. Unidade 4 119 Universidade do Sul de Santa Catarina Tabela 4.1 – Lucro da produção de café do produtor João a um preço de R$ 3,00 por saca Quantidade de café (sacas) Receita total (R$) Custo total (R$) Lucro (R$) 0 0,00 4,00 -4,00 1 3,00 6,00 -3,00 2 6,00 7,00 -1,00 3 9,00 7,80 1,20 4 12,00 9,00 3,00 5 15,00 11,20 3,80 6 18,00 14,00 4,00 7 21,00 18,00 3,00 8 24,00 24,00 0,00 9 27,00 33,00 -6,00 10 30,00 45,00 -15,00 Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Podemos observar na tabela acima que a primeira coluna mostra a quantidade de produto em sacas, e na segunda coluna a receita total obtida por João com cada nível de produto. Na sequência apresentamos um quadro que ilustra a fórmula para obtenção da receita total (RT), a qual é calculada a partir da multiplicação do preço de mercado pela quantidade de produto. Receita total (RT) = Preço (P) x Quantidade (Q ) (1) Assim, verificamos que a receita total de João é igual ao preço, R$ 3,00 por saca, multiplicado pela quantidade de café medido em sacas. Na terceira coluna da tabela anterior verificamos o custo total de produção e, na quarta coluna, percebemos o lucro obtido pelo produtor João. O lucro é obtido a partir da diferença entre a receita total e o custo total. Lucro (L) = Receita total (RT) – Custo total (CT) 120 (2) Mercado Agrícola I Diante do exposto, constatamos que o lucro máximo obtido por João é de R$ 4,00 quando ele produz uma quantidade de seis sacas de café. Assim, o produtor João escolherá produzir essa quantia de sacas de café porque esse é o nível de produção que maximiza seus lucros. Análise marginal Para aprendermos sobre análise marginal, utilizaremos os dados anteriores com a finalidade de definir o nível de produção que maximiza o lucro do produtor João. A análise marginal é obtida quando o produtor João compara os valores que cada unidade adicional produzida de café acrescentaria à sua receita total e ao custo total. O benefício marginal dessa unidade, também conhecido por receita marginal, é a receita adicional obtida com a venda do café. Receita marginal (RMg) = Mudança na receita total Mudança no produto (3) A fórmula geral do custo marginal é: Custo marginal (CMg) = Mudança no custo total Mudança no produto (4) “Segundo o princípio da análise marginal, a quantidade ótima de uma atividade é o nível em que o benefício marginal é igual ao custo marginal.” (KRUGMAN, 2007, p. 183). Você pode definir o nível de produção ótimo observando os dados da tabela a seguir, que apresenta medidas de custo de curto prazo da fazenda do João. “O curto prazo é considerado o período de tempo em que pelo menos um insumo utilizado na produção é fixo.” (KRUGMAN, 2007, p. 799). Unidade 4 121 Universidade do Sul de Santa Catarina Tabela 4.2 – Custos de curto prazo de produção de café do produtor João Quantidade de café (sacas) Custo fixo médio (CFMe) Custo total médio (CTMe) Custo marginal (CMg) Receita marginal (RMg) Ganho líquido por saca (RMg – CMg) 1 4,00 6,00 2,00 3,00 1,00 2 2,00 3,50 1,00 3,00 2,00 3 1,33 2,60 0,80 3,00 2,20 4 1,00 2,25 1,20 3,00 1,80 5 0,80 2,24 2,20 3,00 0,80 6 0,67 2,33 2,80 3,00 0,20 7 0,57 2,57 4,00 3,00 -1,00 8 0,50 3,00 6,00 3,00 -3,00 9 0,44 3,67 9,00 3,00 -6,00 10 0,40 4,50 12,00 3,00 -9,00 0 Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Ao analisarmos a tabela anterior, verificamos, na segunda coluna, os valores que representam o custo fixo médio (CFMe) obtido da relação entre o custo fixo da fazenda e a quantidade produzida. Na terceira coluna visualizamos os valores de custo total médio (CTMe), que é o resultado da relação entre o custo total e a quantidade a ser produzida. Na quarta coluna observamos os valores de custo marginal (CMg). Note que os valores de custo marginal diminuem com o aumento da produção até a quantidade de três sacas de café e, a partir dessa quantia, começam a se elevar. Verificamos, ainda, na quinta coluna, os valores da receita marginal (RMg), os quais permanecem inalterados para cada nível de sacas de café produzidas. A receita marginal do produtor em concorrência perfeita é o próprio preço de mercado do produto. Quando a receita marginal exceder o custo marginal, unidades adicionais de café devem ser produzidas, porque a receita obtida com a produção de uma saca adicional será maior que os custos gerados para produzi-la. Observe na tabela anterior que isto acontece até o nível de produção de seis sacas. 122 Mercado Agrícola I O que acontece quando o produtor João decide produzir sete sacas de café? Quando João produz sete sacas de café a receita marginal é menor que o custo marginal, e o produtor não se sente estimulado a produzir essa quantia adicional. Note que o custo de uma unidade adicional é R$ 4,00, e a receita marginal R$ 3,00. Caso o produtor decida produzir uma unidade a mais, ele estará reduzindo o seu lucro em R$ 1,00. Na sexta coluna observamos o ganho líquido obtido pelo produtor por saca de café: receita marginal menos o custo marginal. O ganho líquido por saca de café é positivo da primeira até a sexta saca. Contudo, com a produção de sacas adicionais de café o ganho líquido é negativo. Quando a receita marginal e o custo marginal não forem exatamente iguais, o produtor deve produzir a maior quantidade para a qual a receita marginal exceda o custo marginal. Você pode concluir, utilizando a análise marginal, que o produtor João deve produzir seis sacas de café para maximizar o lucro. O máximo lucro obtido pelo produtor em concorrência perfeita acontece quando ele produz uma quantidade de produto em que o custo marginal é igual ao preço (CMg = preço de mercado). Unidade 4 123 Universidade do Sul de Santa Catarina 6 Preço, custo da saca 5 CMg 4 Ponto próximo Preço de mercado RMg = preço 3 2 Quantidade maximizadora do lucro 1 0 2 4 6 8 Quantidade de café (sacas) Figura 4.2 – Quantidade de produto que maximiza o lucro da fazenda tomadora de preço Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). A partir da interpretação dos dados contidos na figura anterior, percebemos que a quantidade de sacas de café que maximiza o lucro do produtor João é a mesma que iguala o seu custo marginal ao preço de mercado. A curva de custo marginal traçada na figura foi desenhada tendo como base os dados da tabela que analisamos anteriormente. João poderá vender a quantidade de café que quiser ao preço de mercado. Isso significa dizer que João enxerga a demanda pelo seu produto como sendo perfeitamente elástica (horizontal). A linha horizontal no preço de mercado de R$ 3,00 é também a linha de receita marginal do produtor individual. Como você pode observar na figura anterior, a curva de custo marginal (CMg) intercepta a linha de receita marginal (RMg), ou linha de demanda do produtor individual, no chamado ponto ótimo. Neste ponto, a quantidade maximizadora de lucro é de seis sacas de café. 124 Mercado Agrícola I O produtor precisa saber se deve ou não produzir determinado produto para depois decidir quanto produzir. Para isso ele precisa saber se a produção é lucrativa ou não. A produção é lucrativa? A decisão do produtor de permanecer ou não em um determinado negócio depende de seu lucro econômico. “O lucro econômico é uma medida baseada no custo de oportunidade dos recursos utilizados no negócio.” (KRUGMAN, 2007, p. 185). Lembre-se de que o lucro é igual à receita total menos o custo total. O lucro pode ser expresso por unidade produzida, que será resultado da diferença entre a receita unitária (preço de mercado = P) e o custo unitário (custo médio = CMe). Há três situações possíveis: Situação (A): Lucro supernormal, se P > CMe. Situação (B): Lucro econômico, se P = CMe. Situação (C): Prejuízo econômico, se P < CMe. As figuras a seguir, respectivamente, ilustram uma situação (A) de lucro, ao preço de mercado de R$ 3,00; a situação (C) de prejuízo, ao preço de mercado de R$ 2,00, e o comportamento das curvas de custo marginal e custo médio de curto prazo. Na primeira figura, observamos uma situação de lucro, na qual ao preço de mercado de R$ 3,00 por saca, a quantidade de produto que maximiza o lucro é de seis sacas (indicada pelo ponto em que a curva de custo marginal intercepta a linha de preço). Unidade 4 125 Universidade do Sul de Santa Catarina Como o preço de mercado é maior que o custo médio de R$ 2,30, na quantidade de seis sacas o produtor obtém um lucro de R$ 0,70 por unidade. O lucro total obtido pelo produtor é R$ 4,20, resultado da multiplicação de seis sacas de café pelo lucro unitário. 6 5 Preço de Mercado Preço, custo da saca 4 CMg Ponto ótimo 3 RMg = P Lucro 2,3 2 1 0 Custo médio (CMe) A Quantidade maximizadora do lucro 2 4 6 8 Quantidade de café (sacas) Figura 4.3 – Lucro obtido pelo produtor e preço de mercado Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Contrapondo ao que vimos anteriormente, a figura a seguir demonstra uma situação de prejuízo, na qual, ao preço de mercado de R$ 2,00 por saca, o produtor não obtém lucro porque o preço fica abaixo do custo médio de produção de R$ 2,10 por saca. Assim, o prejuízo, por unidade, é R$ 0,10. Nesse caso, a quantidade ótima a produzir é quatro sacas, o que corresponde, ao nível ótimo de produção, a um prejuízo de R$ 0,40. 126 Mercado Agrícola I 6 5 Preço, custo da saca CMg 4 Custo médio ( CMe) 3 2,1 2 Preço de mercado 1 0 B Prejuízo RMg = P Ponto ótimo Quantidade minimizadora do prejuízo 2 4 6 8 Quantidade de café (sacas) Figura 4.4 – Prejuízo obtido pelo produtor e preço de mercado Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Como o produtor sabe se o seu negócio é lucrativo? A resposta está em uma comparação entre o custo médio mínimo de produção e o preço de mercado. Observe que o custo médio mínimo de produção está um pouco acima de R$ 2,00 e ocorre a um nível de produção de cinco sacas. Caso o preço de mercado seja superior ao custo médio mínimo de produção, o produtor pode encontrar algum nível de produção que P > CMe, e, nessa situação, o seu negócio é lucrativo. Por outro lado, se o preço de mercado é inferior ao custo médio mínimo, o produtor não terá um nível de produto em que o preço exceda o custo médio. A consequência disto é que o produtor não terá lucro em quantidade alguma de produto. Você deve verificado que o produtor João fez o possível para obter o melhor resultado quando decidiu produzir dada quantia de produto em que seu custo marginal se iguala ao preço de mercado. Entretanto, conforme observamos na figura anterior, ele obtém um prejuízo de R$ 0,40. Unidade 4 127 Universidade do Sul de Santa Catarina Uma produção será lucrativa sempre que o preço de mercado de seus produtos exceder ao custo médio mínimo de produção; e não será lucrativo quando ocorrer o contrário, ou seja, o custo médio mínimo de produção exceder o preço de mercado. Na condição de prejuízo econômico, o produtor não deveria produzir nada em uma situação de curto prazo? No curto prazo, os produtores, algumas vezes, devem produzir mesmo quando o preço está abaixo do custo médio mínimo de produção. Para maximizar seus lucros, João fez todo um investimento em sua produção de café. Para isso, contraiu um empréstimo que deve ser pago no longo prazo com amortização anual. Nesse caso, o produtor precisa pagar o empréstimo realizado independente de a produção ser zero ou não. Observe que esse compromisso não muda no curto prazo. O chamado custo fixo, que compõe o custo total, é irrelevante para sua decisão de produzir ou não. A decisão de não produzir acontece quando o preço de mercado é inferior ao custo variável médio mínimo de produção. Nessa condição, o produtor deve interromper a produção no curto prazo. A tabela a seguir resume as condições de lucro e produção de um produtor em concorrência perfeita. 128 Mercado Agrícola I Tabela 4.3 – Resumo das condições de lucro e produção de um produtor em concorrência perfeita, no curto prazo Pergunta Resposta Quando o produtor deve produzir? O produtor deve produzir quando o preço for igual ou maior que o custo variável médio mínimo. Assim, o produtor terá lucro ou perdas que serão inferiores ao seu custo fixo. Condições de produção e resultado esperado: Se P > CVMe mínimo, o produtor produz no curto prazo. Se P = CVMe mínimo, para o produtor é indiferente entre produzir no curto prazo ou não. Se P < CVMe mínimo, o produtor interrompe sua produção. Qual a quantidade que o produtor deve produzir? O produtor deve produzir até a quantidade em que o ponto RMg (P) = CMg. Nesse ponto, o lucro é maximizado ou o prejuízo é minimizado. Qual nível de produção resultará um lucro econômico? Se o preço exceder o custo total médio de produção, haverá lucro econômico. Porém, se o custo total médio de produção exceder o preço, não haverá lucro econômico. Condições de lucro e resultado esperado: Se P > CMe mínimo, a empresa é lucrativa e há condições para o ingresso de novos produtores nesse negócio no longo prazo. Se P = CMe mínimo, nem entram nem saem produtores nesse negócio no longo prazo. Se P < CMe mínimo, a empresa não é lucrativa e há condições para saída de produtores nesse negócio no longo prazo. Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Monopólio No mundo do agronegócio, o segmento da produção agrícola se aproxima da estrutura de mercado de concorrência perfeita. Nas relações dos agricultores com os agentes econômicos do “antes da porteira” e com os agentes econômicos do “depois da porteira”, verifica-se uma situação de enfrentamento que é fortemente afetada pelas chamadas estruturas de mercado imperfeitas. Unidade 4 129 Universidade do Sul de Santa Catarina Para aprofundar nossos estudos em relação aos mercados imperfeitos, começaremos pela análise do caso mais extremo de afastamento da concorrência perfeita: o monopólio. Monopólio é a estrutura de mercado em que o número de vendedores é tão pequeno, que cada vendedor é capaz de influenciar a oferta total e o preço do produto ou serviço. (McCONNELL, 2001, p. 451). O chamado monopólio puro apresenta, entre outras, as seguintes características: a) um único vendedor. Isso significa que a oferta da empresa representa a própria oferta de mercado do produto ou serviço; b)ausência de produtos com substitutos próximos. Significa dizer que, do ponto de vista do consumidor, não existem produtos alternativos; c) é um formador de preço. O produtor exerce um controle significativo sobre o preço porque detém toda a quantidade ofertada; d)entrada bloqueada para concorrentes próximos. Existem barreiras impeditivas para que seus concorrentes potenciais ofertem o produto ou serviço. Por que os diamantes parecem mais raros que outras pedras preciosas? A resposta está relacionada, sobretudo, ao fato de a De Beers ser a principal fornecedora de diamantes do mundo, controlando assim a produção de diamantes, tornando-os tão raros. O monopólio da De Beers na África do Sul foi criado na década de 1880, por um homem de negócios britânico. Após comprar a maioria das minas de diamantes, e consolidá-las em uma única companhia, a De Beers, em 1889, controlava quase toda produção mundial de diamantes. A De Beers tornou-se um monopolista (KRUGMAN, 2007, p. 291). 130 Mercado Agrícola I Como se comportam os mercados monopolistas? Imagine você que, ao invés dos milhares de produtores de café, houvesse apenas um único ofertante deste produto: o produtor João. Como João irá se comportar em uma condição como essa? Que diferença isso faria no mercado mundial de café? A figura a seguir ilustra o comportamento esperado para o monopolista João e os respectivos efeitos sobre o preço e a quantidade produzida de café. Inicialmente, em condições de equilíbrio de mercado em concorrência perfeita, o preço (PC) é R$ 3,00 e a quantidade ofertada (QC) é 12 bilhões de sacas de café. Preço do café 6 5 PM 4 PC 3 Demanda Oferta Equilíbrio em monopólio Equilíbrio em concorrência 2 1 0 8 10 PC 12 PC 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Monopolista reduz a quantidade de produto Figura 4.5 – Comportamento do monopolista Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Suponha agora que este segmento tenha se consolidado como um monopólio. Como João detém a oferta global deste produto, decide reduzir um pouco a quantidade da produção de café. Para a quantidade ofertada (QM) de 10 bilhões de sacas de café, o preço tende a subir até R$ 4,00. Observe que este é o preço em condições de monopólio. Unidade 4 131 Universidade do Sul de Santa Catarina A quantidade de monopólio (QM) é mais baixa e o preço de monopólio (PM) é mais alto que aquele observado em condições de concorrência perfeita. O motivo pelo qual João, como monopolista, reduziu a quantidade de produção e aumentou o preço de café se deve à obtenção do lucro. Note que a receita obtida pelos produtores em condições de concorrência é de 36 bilhões de reais, e em condições de monopólio é de 40 bilhões de reais. No monopólio, a receita é maior, mesmo que o produtor tenha uma produção menor. João tem o que chamamos de poder de mercado em condições de monopólio, isto é, tem a capacidade de aumentar o preço acima daquele observado em condições de concorrência perfeita. Essa não é a realidade para o produto “café”, visto que existem milhares de produtores de café e cada um não tem poder de mercado, ou seja, eles precisam vender o café ao preço corrente de mercado. Quais as condições que permitiriam a João, de fato, ser um monopolista? Por que existe um monopólio? Um monopolista, obtendo lucro, não passará despercebido por outros produtores em potencial, visto que tais produtores terão interesse em participar da “festa”. A existência de um mercado monopolista lucrativo depende das barreiras à entrada no negócio. As principais barreiras à entrada são: controle de um recurso ou insumo escasso; economia de escala; superioridade tecnológica e entraves criados pelo governo. O estudo do monopólio é importante porque fornece a base para que você possa compreender as estruturas de mercado imperfeitas mais comuns: o oligopólio e a concorrência monopolista, que será o assunto estudado a seguir. 132 Mercado Agrícola I Seção 3 – Oligopólio e concorrência monopolística Em maio de 2009, você deve ter ouvido falar que a Sadia e a Perdigão fundiram-se em uma gigante de alimentos: a BRF – Brasil Foods. Na época, a futura gigante BRF exportava 42% de sua produção; possuía 116 mil trabalhadores; 42 fábricas; era a segunda maior empresa alimentícia do país (atrás apenas da JBS Friboi); maior produtora e exportadora mundial de carnes processadas e terceira empresa exportadora do Brasil (atrás da Petrobras e da mineradora Vale). A aprovação da operação de fusão das empresas Sadia e Perdigão pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) é esperada para o ano de 2011, segundo o presidente da BRF – Brasil Foods, José Antonio do Prado Fay. Por que, decorrido todo esse período, essa operação de fusão ainda não foi aprovada? Para responder a essa pergunta estudaremos o que é oligopólio, por que é tão importante seu surgimento e como se comporta uma empresa oligopolística. Por fim, vamos compreender a importância do poder público em adotar políticas para manter os oligopólios “bem comportados”, a exemplo do que acontece com a BRF – Brasil Foods. A seguir iremos analisar as duas estruturas de mercado que mais se aproximam do “mundo real”. Começaremos com o estudo do oligopólio e, em seguida, da concorrência monopolística. Unidade 4 133 Universidade do Sul de Santa Catarina Oligopólio O oligopólio é uma estrutura de mercado que é constituída por alguns poucos vendedores que são concorrentes rivais entre si. O oligopólio atualmente prevalece nas economias do mundo e a agricultura tem sido fortemente afetada por esta forma de mercado. O oligopólio é um mercado dominado por alguns poucos produtores de um bem homogêneo ou diferenciado que produzem reações entre os seus competidores quando de suas ações. (McCONNELL, 2001, p. 196). A característica básica do oligopólio é a interdependência entre os produtores. Como todos os produtores são importantes, possuindo faixa significativa do mercado, as decisões de produção e de preço são interdependentes. Isso quer dizer que as decisões de um vendedor influenciam o comportamento econômico dos demais. O comportamento do oligopolista assemelha-se ao de um jogador de xadrez. Ao decidir que peça movimentar no tabuleiro, é preciso analisar as possibilidades de reação do adversário (do concorrente), identificando as opções de contra-ataque e de defesa disponíveis para si. Os oligopolistas precisam levar em consideração as possíveis reações de seus concorrentes nas suas próprias decisões de preço, de produção e de propaganda. No oligopólio a demanda de cada empresa depende do preço que as concorrentes venham estabelecer. Se uma empresa reduzir seu preço, as curvas de demanda das demais empresas deslocam-se para baixo. Por outro lado, se uma empresa aumentar seu preço, as curvas de demanda das demais empresas deslocam-se para cima. (WESSELS, 2002, p. 146). 134 Mercado Agrícola I Quais são as principais características de um oligopólio? a) alguns poucos produtores: apesar de vários exemplos do mundo real relacionar oligopólio com empresas grandes, um oligopólio não é necessariamente composto por empresas que apresentam o referido perfil. O que importa, nesta estrutura de mercado, é o número de competidores. Por exemplo, uma pequena cidade com duas lojas de produtos agropecuários pode caracterizar a ocorrência de oligopólio, assim como esta mesma situação pode acontecer caso existam duas ou três padarias; b)produtos homogêneos ou diferenciados: oligopólio com produtos homogêneos ocorre quando o produto envolvido for de natureza homogênea ou padronizada. São exemplos de oligopólio com produtos homogêneos: água mineral e commodities. Oligopólio com produtos diferenciados é aquele em que o produto final conta com substituto(s). São exemplos desta tipologia de oligopólio: os segmentos de cerveja/refrigerantes e o setor tabaqueiro; c) controle sobre o preço, mas interdependência mútua: os oligopolistas podem fixar seus níveis de produção e preços a fim de maximizar os lucros. Entretanto, para obter sucesso, devem considerar a reação dos produtores concorrentes, e isso caracteriza uma situação de interdependência mútua. Por exemplo, a política de fixar preço e produção de determinada empresa do setor tabaqueiro terá sucesso em obter máximo lucro dependendo da resposta das demais empresas do setor em termos de políticas adotadas de preço e de produção; d)barreiras à entrada: as mesmas barreiras à entrada para o monopólio são relevantes também para o oligopólio. São exemplos de barreiras à entrada: controle de um recurso ou insumo escasso; economia de escala; superioridade tecnológica e as entraves criados pelo governo. Além disso, os oligopolistas podem utilizar estratégias de preço e propaganda retaliatória para deter a entrada de novos concorrentes; Unidade 4 135 Universidade do Sul de Santa Catarina e) concorrência extrapreço: consiste em alterar as características do produto e depois fazer propaganda para diferenciá-lo junto aos consumidores. Os oligopólios diferenciados realizam considerável concorrência extrapreço, apoiada em propaganda. Na prática o oligopolista reluta em se engajar em uma competição de preço devido à possibilidade de reação dos seus rivais. A concorrência via preço pode desencadear uma guerra de preços. Por este motivo, dentro de um oligopólio, aparecem outras formas de competição extrapreço, tais como, qualidade, design do produto, serviço ao cliente e propaganda. (PASSOS, 2005, p. 350). No agronegócio brasileiro, muitos casos se aproximam da condição de oligopólio quando se analisa o mercado que fornece fatores de produção à agricultura. O oligopólio acontece nos diferentes setores do agronegócio, como, por exemplo, indústria de ração, fertilizantes, sementes melhoradas, agrotóxicos e máquinas agrícolas (colheitadeiras e tratores). O secretário de Agricultura do Paraná, em meados de maio de 2008, revela a importância do oligopólio no setor de fertilizantes. O pouco número de empresas que produzem fertilizantes aumentou o preço do produto em mais de 50% só este ano, o que vem causando um repasse de custos inaceitável na produção de alimentos. (AMADEO, 2008). Entendendo oligopólio O oligopólio constitui uma extensão do monopólio, porém o comportamento esperado da empresa oligopolista tem se apresentado como um “quebra-cabeça”. A partir dessa relação, vamos estudar por que o oligopólio é considerado uma extensão do monopólio e por que o comportamento das empresas oligopolistas é um verdadeiro “quebra-cabeça”. 136 Mercado Agrícola I Quanto uma empresa oligopolista irá produzir? Para entender esse “quebra-cabeça”, admita que a Sadia e a Perdigão sejam os únicos produtores de coxinha da asa de frango caracterizando o chamado duopólio. A figura a seguir ilustra esse produto, produzido pela Sadia, e que está disponível para compra na região de Campo Grande (MS). Duopólio é um mercado oligopolista no qual há apenas dois vendedores. (WONNACOTT, 2002, p. 806). Figura 4.6 – Embalagem e composição nutricional da coxinha da asa do frango da Sadia Fonte: Supermercados Comper (2009). Retomando o exemplo do produto anterior, suponha que a Sadia e a Perdigão tenham desembolsado todo o custo fixo necessário para produzir coxinha da asa de frango e estejam apenas preocupadas em obter receita com a venda do produto. Isso significa que o custo marginal é zero para produzir uma unidade adicional de coxinha da asa de frango. Para melhor entendermos a demanda de mercado hipotética para coxinha da asa de frango e a receita total para cada nível de preço, apresentamos uma relação hipotética de dados na tabela a seguir. Unidade 4 137 Universidade do Sul de Santa Catarina Tabela 4.4 – A demanda de mercado para coxinha da asa e a receita total Preço da coxinha da asa (reais/kg) Quantidade demandada de coxinha da asa (milhões de kg) Receita total (milhões em reais) 10 0 0 9 20 180 8 40 320 7 60 420 6 80 480 5 100 500 4 120 480 3 140 420 2 160 320 1 180 180 0 200 0 Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Com apenas duas empresas operando nesse mercado, a Sadia e a Perdigão perceberiam que, a partir da interpretação dos dados contidos na tabela anterior, ao aumentarem sua produção estariam pressionando para baixo os preços de mercado. Nesse sentido, limitar a produção de coxinha da asa deve ser uma estratégia interessante. Conluio é uma tentativa, explícita ou implícita, de as empresas não concorrerem entre si. (WESSELS, 2002, p. 278). Cartel é um acordo entre os concorrentes sob diversas formas, como fixar preços, definir cotas de produção e distribuição e dividir o território, no sentido de obter lucros extraordinários. (OLIVEIRA, 2001, p. 217). 138 Quanto as duas empresas irão produzir? Uma estratégia possível para o cenário ilustrado anteriormente é que as duas empresas estabeleçam uma situação de conluio. O conluio é a situação em que as empresas vão cooperar para aumentar o lucro uma da outra. A forma mais intensa de colusão é o cartel, um acerto que determina quanto cada empresa tem licença para produzir. O cartel constitui uma infração à ordem econômica do Brasil, sendo um acordo considerado ilegal também em vários países. Mercado Agrícola I Admita que a Sadia e a Perdigão deixem de lado o cumprimento da lei por um momento e formem um cartel para atuar como se fossem um monopolista. Nesse caso, o cartel deverá fixar a quantia produzida em 100 (cem) milhões de quilos de coxinha da asa, que deverá ser vendida ao preço de R$ 5,00 por quilo, para se obter um máximo lucro, equivalente à receita de quinhentos milhões de reais. Para responder à pergunta inicialmente formulada, é preciso atribuir quanto dos 100 milhões de quilos de coxinha da asa a Sadia e a Perdigão poderiam produzir. Mesmo que a opção fosse produzir meio a meio (50 milhões de quilos cada), você pode observar que existe um incentivo para trair o combinado e produzir uma quantia maior. Por que existe um incentivo para trair o combinado? Admita que a Sadia cumpra exatamente o acordo estabelecido, e a Perdigão produza 70 milhões de quilos. O aumento na quantia total do produto, agora em 120 milhões de quilos de coxinhas de asas de frango, pressionará para baixo o preço deste produto, que passará de R$ 5,00 para R$ 4,00. Em consequência deste excedente de produção haverá uma diminuição da receita total, que passará de quinhentos milhões de reais para quatrocentos e oitenta milhões de reais. Entretanto, observe que a receita da Perdigão aumentaria de duzentos e cinquenta milhões de reais para duzentos e oitenta milhões de reais, um lucro adicional de trinta milhões de reais. É certo que a Sadia diminuirá seu lucro significativamente. A receita da Sadia reduzirá de duzentos e cinquenta milhões de reais para duzentos milhões de reais, resultado da diminuição do preço do produto dado ao aumento na quantia ofertada. Na realidade, note que o presidente da Sadia poderá adotar a mesma estratégia e romper simultaneamente o acordo, produzindo também setenta milhões de quilos. Agora, com uma produção de 140 milhões de quilos do produto, o preço da coxinha da asa diminui para R$ 3,00 e o lucro para cada empresa diminui duzentos e dez milhões de reais. Unidade 4 139 Universidade do Sul de Santa Catarina À primeira vista pode parecer, para um oligopolista, que aumentar a produção é lucrativo. Mas, se todas as empresas adotarem essa mesma estratégia, o resultado final é que todas terão um lucro menor. Decisões sobre preço e produção no oligopólio: uma visualização gráfica A característica de interdependência entre os produtores faz com que o resultado das vendas seja incerto. Caso as empresas venham a se unir, estarão agindo como um monopólio, ou seja, agindo como se fosse uma única empresa no setor. Se forem agressivamente concorrentes, é possível que se estabeleça um preço de concorrência perfeita. Para ilustrar graficamente o resultado incerto, observe as duas curvas de demanda representadas na figura a seguir. )" Preço da coxinha da asa 6 A Curva de demanda agindo sozinha (D2) 5 C 4 B Curva de demanda em conluio (D1) 3 2 1 0 40 50 60 70 Quantidade por período (milhões de quilos) Figura 4.7 – As curvas de demanda em situação de conluio e de concorrência nos oligopólios Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). 140 Mercado Agrícola I A partir da interpretação dos dados contidos na figura anterior, podemos fazer as seguintes considerações: a primeira curva de demanda D(1) representa a situação na qual todas as empresas agem em conjunto, cobrando o mesmo preço. Para um preço de R$ 5,00, todas as empresas vendem cinquenta milhões de quilos da coxinha da asa de frango (ver ponto “A”). Como são duas empresas, a produção do setor é cem milhões de quilos. Esse caso reflete os resultados obtidos em situação de conluio. Já curva de demanda D(2) representa uma situação quando a empresa atua estabelecendo sua própria política de preços, elevando ou reduzindo o preço de seu produto, e as demais empresas continuam cobrando o preço de R$ 5,00. Por exemplo, a empresa Perdigão, atuando sozinha ao fixar um preço de R$ 4,00, poderá vender setenta milhões de quilos de coxinha da asa de frango (ver ponto “B”). A outra empresa, nesse caso a Sadia, só poderá vender uma quantia inferior a cinquenta milhões de quilos do mesmo produto, uma vez que a empresa de menor preço obterá uma parcela maior deste mercado. Esse caso reflete os resultados obtidos em situação de não conluio. Você pôde observar, ainda, que as empresas podem não cumprir seus acordos, reduzir o preço de seus produtos e aumentar sua produção. Nesse caso, obteremos outro cenário (o ponto “C”), no qual a quantia a ser vendida por uma empresa é de sessenta milhões de quilos de coxinha da asa, e o setor venderá um total de cento e vinte milhões de quilos do produto. Em oligopólio, o resultado das vendas é incerto e depende daquilo que as outras empresas fazem. Diferentemente da concorrência perfeita e monopólio, aqui não existe uma posição clara para a qual todas as empresas tendem a se mover. A interdependência entre as empresas e o resultado incerto, impossibilita até o momento a construção de uma teoria geral para o oligopólio. O que tem sido adotado são modelos de oligopólios que partem de determinadas hipóteses sobre as reações das empresas concorrentes às decisões de preço e produção da empresa em estudo. (PASSOS, 2005, p. 350). Unidade 4 141 Universidade do Sul de Santa Catarina Na sequência, vamos estudar dois modelos oligopolistas: o Modelo da Curva de Demanda Quebrada e o Modelo da Empresa Dominante ou de Liderança de Preços. Cada modelo apresenta certas características de conduta e desempenho dos oligopolistas, embora nenhum deles seja capaz de ilustrar o histórico completo da concorrência entre poucos. O modelo da curva de demanda quebrada O modelo da curva de demanda quebrada é um modelo simples de oligopólio que considera a forma pela qual as concorrentes irão responder a mudanças em seu preço de venda. A melhor maneira de entender a ideia de uma curva de demanda quebrada é colocar-se na posição do presidente da Sadia e da Perdigão. Admita as seguintes suposições: (i) quando a Sadia eleva o preço da coxinha da asa de frango, ela age sozinha porque a Perdigão recusase a fazer o mesmo; (ii) mas quando a Sadia reduz o preço daquele produto, a Perdigão a acompanha, decidindo reduzir também o preço de seu produto para manter sua parcela de mercado. Observe na figura a seguir o cenário descrito anteriormente. 7 Preço da coxinha da asa 6 Curva de demanda quebrada A 5 4 Qualquer curva de CMg nesta região... Curva de demanda agindo sozinha (D2) CMg RMg 1 3 Curva de demanda em conluio (D1) 2 RMg 2 1 0 40 ...corresponde a este nível de produto. 142 50 60 70 Quantidade por período (milhões de quilos) Figura 4.8 – A curva de demanda quebrada em oligopólio Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Mercado Agrícola I Você pôde observar na suposição (i) de aumento de preço, o decréscimo de quantidade será uma função do grau de diferenciação do produto. No caso de não haver diferenciação, o comportamento da curva de demanda para preços acima de R$ 5,00 é mais elástico. O resultado esperado é um decréscimo maior na quantidade em comparação com o aumento percentual no preço. Isso significa uma redução na receita total, se o preço passar de R$ 5,00. Na suposição (ii) de diminuição do preço, observe que a curva de demanda abaixo de R$ 5,00 tende a ser mais inelástica. Isso significa redução na receita total se o preço for menor que R$ 5,00. Você deve recordar que a empresa maximizará lucro quando produzir uma quantidade de produto na qual a receita marginal é igual ao custo marginal. A curva de demanda quebrada ilustra como em situação de conluio pode fazer com que o oligopolista não responda à mudança de custo marginal dentro de determinada faixa de variação. Observe na figura anterior que existe uma faixa de variação (representada pela linha vertical tracejada) para o custo marginal em que a quantia a ser produzida corresponde a cinquenta milhões de quilos do produto comercializado. O modelo da demanda quebrada e a interdependência mútua entre as decisões das empresas explicam por que os preços em oligopólio tendem a ser estáveis. Uma vez estabelecido um nível de preço, a tendência é a manutenção deste preço, ou a denominada rigidez de preços. O modelo da demanda quebrada possui duas críticas básicas: a) o modelo não explica como o preço corrente de R$ 5,00 é inicialmente estabelecido. A curva da demanda quebrada explica a rigidez de preço, mas não explica como o preço é determinado inicialmente; b)em períodos de instabilidade no nível geral de preços de uma economia, ou seja, num ambiente inflacionário, os oligopolistas aumentam seus preços substancial e frequentemente. Quando a economia encontra-se em Unidade 4 143 Universidade do Sul de Santa Catarina recessão, alguns oligopolistas reduzem os seus preços. Os dois exemplos anteriores caracterizam uma situação de não rigidez de preços. (McCONNELL, 2001, p. 202). O modelo da demanda quebrada apresenta determinadas características de conduta e desempenho dos oligopolistas que explicam porque os preços em oligopólio tendem a ser estáveis. Como observamos anteriormente, esse modelo não é capaz de demonstrar a realidade do processo de concorrência entre poucos. Para melhor compreender esse processo, você irá conhecer o modelo de liderança de preço. O modelo de liderança de preço O modelo de liderança de preço é um cartel imperfeito, em que as empresas de um setor oligopolista decidem, sem a necessidade de um acordo informal, estabelecer o mesmo preço, aceitando a liderança de uma empresa dominante. (PINHO, 2004, p. 200). As alterações de preços substanciais e frequentes realizadas pelo oligopolista podem ser explicadas pelo modelo de liderança de preço. A prática de liderança acontece sempre que uma empresa dominante, considerada a maior ou a mais eficiente, altera o preço de seus produtos e as demais empresas a seguem automaticamente. Suponha que a Perdigão, no mercado de coxinha da asa de frango, seja uma empresa líder. Nesse caso, a curva de demanda que a Perdigão enfrenta não tem mais uma quebra. Isso acontece porque os seus concorrentes irão acompanhar na mudança de preço tanto para cima como para baixo. Observe que a Perdigão é capaz de liderar a alteração do preço para um nível mais elevado, desde que esteja confiante que as demais empresas seguirão sua liderança. Sendo esta a realidade observada, o resultado esperado é semelhante ao do cartel. A Perdigão, como empresa líder, seleciona o preço que maximiza o lucro. A empresa líder de preço, para obter sucesso em suas decisões, poderá adotar as seguintes estratégias: a) variações de preços pouco frequentes: como existe um risco de que as rivais não sigam a empresa líder, os ajustamentos de preços são realizados com pouca frequência; 144 Mercado Agrícola I b)comunicações de ajustes de preços: ao divulgar que precisa ajustar os preços, a empresa líder busca um acordo com as demais empresas em relação ao ajuste de preços que sugere; c) preço limite: é o preço utilizado como estratégia para impedir a entrada de novas empresas ou a expansão das existentes. A empresa líder pode não estabelecer um preço que maximiza o lucro de curto prazo, a fim de desestimular novos concorrentes. As quebras na liderança de preço podem acontecer no mundo real. Quando isso acontece, mesmo que temporariamente, resulta na chamada “guerra de preços”. As empresas, ao reconhecerem que os preços mais baixos estão reduzindo seus lucros, tendem novamente a ceder para a liderança de preço da empresa dominante. (McCONNELL, 2001, p. 205). Sabemos então que o modelo de liderança preço funciona como se fosse um cartel imperfeito, permitindo a empresa líder estabeleça um preço maximizador de seus lucros. A seguir, você irá compreender o modelo de mark-up. O modelo de mark-up Nas estruturas de mercado estudadas até aqui, o preço é fixado em função do mercado e dos custos. Na concorrência perfeita, o mercado determina o preço e a empresa ajusta a quantidade a ser produzida de acordo com sua curva de custo. No monopólio, o produtor determina o preço em função da demanda de mercado e de seus custos. No oligopólio, a situação é mais complicada. Algumas estratégias se assemelham às seguidas pelo monopólio. Outras se aproximam da hipótese levantada para o uso do modelo de mark-up. Unidade 4 145 Universidade do Sul de Santa Catarina Para alguns autores, as curvas de custo médio das empresas não têm a forma de “U”, com um único ponto de mínimo. Esta curva tem uma parte principal contendo custos médios constantes. Nesta situação, a empresa conta com certa flexibilidade para alterar a quantia produzida mantendo inalterado o custo variável médio. (TROSTER, 2003, p. 166). Em condição de oligopólio, a determinação da curva de demanda não é algo tão simples em decorrência das contínuas variações de mercado e da ação dos concorrentes. Os custos são mais facilmente conhecidos. No modelo de mark-up, o preço é determinado diretamente dos custos das empresas. O mark-up é obtido pela diferença entre as receitas de vendas e os custos diretos (custos variáveis). Mark-up = receita das vendas – custos diretos Para determinar o preço, a empresa utiliza a seguinte fórmula: p = (1 + M) x C onde, p = preço para o produto; M = taxa de mark-up (porcentagem sobre os custos diretos); C = custo direto unitário ou custo variável médio. O custo unitário de produção de uma caixa de 20 kg de coxinha da asa de frango da Sadia é de R$ 76,00. Suponha que o mark-up adotado pela empresa é igual a 66,67%. Qual seria o preço de venda para este produto? p = (1 + M) x C p = (1 + 0,6667) x 76 p = R$ 126,67 146 Mercado Agrícola I A determinação da curva de demanda não é algo tão simples de ser obtida em decorrência das contínuas variações de mercado e da ação dos concorrentes. Porém, os custos de produção são mais facilmente conhecidos e, por isso, a maioria das empresas oligopolísticas utiliza o modelo de mark-up para determinar o preço de seus produtos. A seguir, você aprenderá sobre a última estrutura de mercado: a concorrência monopolística. Concorrência monopolística Há algum tempo, entrei em um estabelecimento chamado Café de Paris, que tinha um ambiente muito agradável para tomar um café expresso no meio de uma tarde de sábado. Fiquei surpreso ao receber o café cuidadosamente apoiado sobre um folheto de papel contendo uma foto antiga em preto e branco de pessoas degustando café no centro da capital francesa. O café foi servido numa pequena bandeja e estava acompanhado de um elegante copo contendo água mineral gasosa, cujo gás enaltece o sabor do café. Na minha cidade, Florianópolis, aconteceu uma expansão de cafeterias e de casas especializadas nesse ramo. As lojas competem para satisfazer cada vez mais a mesma demanda e, consequentemente, aumentar o desejo de consumir algo gostoso. Cada cafeteria busca satisfazer a demanda por café com um produto e serviço diferenciado. A concorrência monopolista é uma estrutura de mercado que contém elementos de concorrência perfeita e de monopólio, ficando em uma situação intermediária entre esses dois modelos de mercado. (PASSOS, 2005, p. 344). Quando muitas empresas oferecem produtos diferenciados competindo entre si, como no ramo das cafeterias, caracteriza a quarta e última estrutura de mercado que é a concorrência monopolista. Unidade 4 147 Universidade do Sul de Santa Catarina Entendendo a concorrência monopolística Suponha agora que João seja o dono do Café de Paris, sendo o único que oferece o produto com a marca “Café de Paris”. Observa-se que existem várias dúzias de alternativas de cafeterias aos consumidores locais. Ao decidir o preço de uma xícara de seu café, João sabe que precisa levar em conta o preço estabelecido pelos demais concorrentes. João sabe também que não irá perder todos os seus clientes, mesmo que seu café tenha um preço mais alto. O “Café de Paris” não é o mesmo café que será ofertado pelas demais cafeterias existentes na região, tais como “Aroma de Canela”, “Café Riso”, “Café Cultura”, “Café da Praça”, “Café do Lado”, “La Bohème Café”, “Senadinho Ponto Chique” e “Santo Bule Café”, para citar algumas alternativas. João sabe ainda que tem a possibilidade de fixar seu próprio preço porque tem algum poder de mercado. Definitivamente não é um tomador de preço, mas também não se pode chamá-lo de monopolista. É o único que vende “Café de Paris”, mas se depara com a concorrência de outras cafeterias. Por que não chamá-lo de oligopolista? A principal característica do oligopólio é a interdependência entre os produtores. No oligopólio, como todos os produtores são importantes por possuírem faixa significativa do mercado, as decisões de produção e de preço são interdependentes. Essa interdependência é um incentivo para que as empresas façam um conluio. Observe que, no caso de João, há uma diversidade de cafeterias de modo que a prática do conluio não é esperada nessas condições. A situação de João se enquadra melhor no modelo de concorrência monopolista. 148 Mercado Agrícola I As características que definem a concorrência monopolística são: a) número relativamente grande de vendedores: a concorrência monopolística não requer a existência de milhares de empresas, mas um número relativamente grande. Como há muitos produtores, observamos o seguinte: cada produtor detém pequena parcela do mercado total; tem pouca probabilidade de ocorrência de conluio e a ação de cada produtor independe dos demais; b)produtos diferenciados: a diferenciação de produtos é a característica fundamental da concorrência monopolística. Os produtores aqui buscam variações de um mesmo produto. A diferenciação dos bens produzidos pelos demais concorrentes pode se relacionar a aspectos reais: os atributos do produto; os serviços ao cliente, a localização e facilidade de acesso. A diferenciação pode também contemplar aspectos imaginários, com diferenças superficiais, tais como marca, embalagem e design. c) livre entrada e saída: a entrada e a saída em mercados de concorrência monopolística são relativamente fáceis. Como os concorrentes monopolistas são empresas pequenas, tanto em termos absolutos quanto em termos relativos, as economias de escala são pequenas e as exigências de capital são mais reduzidas. A qualquer momento o produtor pode sair desse mercado e interromper suas operações. Observa-se, na concorrência monopolista, que cada produtor procura diferenciar o seu produto, a fim de torná-lo único. Uma importante implicação da diferenciação do produto é que os produtores têm algum poder de monopólio, dado que somente ele produz aquele produto específico. Nessas condições, cada produtor tem alguma liberdade para estabelecer o preço de seu produto. Você deve observar que a primeira e a terceira característica, respectivamente, número relativamente grande de empresas e livre entrada e saída, conferem o aspecto “concorrencial” à concorrência monopolística. A segunda característica, a diferenciação de produtos, contribui para o aspecto monopolista. Unidade 4 149 Universidade do Sul de Santa Catarina Diferenciação de produto: um pouco mais sobre o café O setor de café sempre foi de concorrência monopolística, em que cada empresa vende um produto pouco diferenciado. Convém lembrar que até duas décadas atrás, café era café. Os cafés se diferenciavam principalmente pela localização. A escolha do café dependia, principalmente, se o cliente estava perto do trabalho ou de casa. Ocorria um pouco de diferenciação pela qualidade, mas ainda assim, café era café. Aos olhos do agricultor que produz café, uma tonelada de fertilizante da fórmula 05-20-10, de um fornecedor próximo à sua propriedade, é diferente de outro localizado mais distante. Uma cooperativa de crédito que realiza uma operação de empréstimo ao agricultor e ainda presta assistência técnica, consegue diferenciar o seu serviço de crédito sob o ponto de vista desse agricultor. Café era café até que começou a ser capuccino, latte, frapuccino e outras bebidas, digamos, de estilo. Observe que do ponto de vista econômico, o processamento do café pode resultar em uma diferenciação do produto. Devido à diferenciação no produto, a curva de demanda é menos elástica que aquela observada em concorrência perfeita. Por outro lado, devido à possibilidade de substituição, a demanda é menos inelástica que em monopólio. A inelasticidade da demanda dependerá do grau de diferenciação do produto. Se for alta tal diferenciação, maior será a lealdade por parte do consumidor e mais inelástica será a demanda. Você pode se perguntar: A melhora na qualidade do café vale o preço de um capuccino na Café de Paris? Ou, ainda, pagar acima de R$ 12,00 por uma xícara de café da marca Jacu Bird? A resposta a essas situações está relacionada à disposição do consumidor de pagar determinado preço por um produto diferenciado. Lembre-se de que o cliente “sempre” tem razão. 150 Mercado Agrícola I Decisões sobre preço e produção em concorrência monopolística Agora, vamos conhecer as principais análises referentes às decisões de preço e produção de uma empresa em concorrência monopolística, sendo que o assunto não será tão aprofundado como foi feito quando estudamos concorrência perfeita e o monopólio. Lembre-se de que a concorrência monopolística envolve um número relativamente elevado de empresas operando sem a prática do conluio, produzindo um produto diferenciado e com facilidade de entrada e saída do negócio. A empresa em concorrência monopolística maximizará os lucros no curto prazo produzindo a quantia em que a receita marginal é igual ao custo marginal. Observe que ela poderá ter lucro ou prejuízo na quantidade produzida em que a RMg = CMg. Se a “Café de Paris”, que é uma empresa tradicional entre as cafeterias, obtém lucro econômico, é de se esperar que surjam novas cafeterias. Situação contrária é esperada na condição de prejuízo. No longo prazo, a facilidade de entrada e saída faz com que as empresas só recebam o lucro normal (lucro zero). A habilidade de uma empresa realizar concorrência extrapreço torna mais complexa a análise econômica em concorrência monopolística. Os atributos dos produtos e a propaganda não são fixos. A empresa em concorrência monopolística considera o preço, o produto e a propaganda quando busca maximizar o lucro. Na prática, a combinação ótima de preço, produto e propaganda só poderão ser obtidos por tentativa e erro. (McCONNELL, 2001, p. 196). Você aprendeu, no conteúdo referente à competição monopolística, as características com as quais as empresas diferenciam seus produtos e como tomam suas decisões sobre preço e produção. Para finalizar, vamos estudar o método de análise de mercado conhecido por “paradigma de estruturaconduta-desempenho”. Unidade 4 151 Universidade do Sul de Santa Catarina Seção 4 – O paradigma da estrutura, conduta e desempenho A fusão entre a Sadia e a Perdigão ocorreu no ano de 2009, e deu origem a um gigante no setor de alimentos: a BRF – Brasil Foods, porém até o início do ano de 2011, essa fusão não havia sido aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). “Por que, decorrido todo esse período, essa operação de fusão ainda não foi aprovada?” O estudo de conteúdos referente as catacterísticas do mercado financeiro nos ajuda a compreender a importância do poder público em adotar políticas para manter os oligopólios “bem comportados”. Aqui no Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) é o organismo do Estado responsável pelas decisões finais no plano administrativo das fusões. Leis antitruste são aquelas que atuam sobre a formação de preços em mercados monopolizados ou oligopolizados e sobre a conduta das empresas evitando a eliminação da concorrência. (PINHO, 2004, p. 588). O paradigma da estrutura, conduta e desempenho é um dos principais instrumentos de análise das políticas de defesa da concorrência. O Estado identifica os elementos da estrutura de mercado e as condutas das empresas que são prejudiciais à prática da concorrência e, por meio das leis antitruste, procura adotar restrições para deixar o mercado “bem comportado”. Entendendo o paradigma da estrutura, conduta e desempenho Cada estrutura de mercado é contemplada por características organizacionais, tais como número de empresas, diferenciação de produtos e barreiras à entrada no mercado. Com base na estrutura de mercado, o trabalho de Bain (1956) postula uma relação de causalidade com a conduta das empresas e desta com o desempenho. As condições básicas de oferta e de demanda determinam a estrutura de mercado. Nas condições de oferta, aspectos ligados à tecnologia definem a existência de economia de escala. A sua existência leva ao aparecimento de estruturas de mercado mais concentradas. Nas condições de demanda, as características do produto vão definir o grau de diferenciação e este, por sua vez, é também um elemento de estrutura. 152 Mercado Agrícola I A estrutura de mercado irá influenciar a conduta da empresa. Um resumo da ideia do paradigma da estrutura, conduta e desempenho dos mercados é mostrado na figura a seguir: A conduta das empresas é definida como sendo a política adotada em relação às demais concorrentes no mercado. O comportamento da empresa pode se relacionar à política de preços, à política de produto e à política de coação aos concorrentes (MENDES, 2007, p. 226). Figura 4.9 – O modelo da estrutura, conduta e desempenho de mercado Fonte: Sherer e Ross (1990, p. 5). Você pode observar na figura acima a relação de causalidade entre as condições de mercado, estrutura de mercado, conduta das empresas e o desempenho. Por exemplo, um produtor operando em condições de concorrência perfeita não se preocupa em definir sua estratégia de precificação (como vimos, ele é um tomador de preço). Caso este produtor estivesse operando em oligopólio estaria, então, muito preocupado em ter uma estratégia de precificação (dado que possui poder de mercado). Unidade 4 153 Universidade do Sul de Santa Catarina A política de coação aos concorrentes refere-se à tentativa de uma determinada empresa eliminar ou enfraquecer a concorrência, aumentando as barreiras à entrada, através da política de dumping de preços, e à integração vertical. A BRF – Brasil Foods atuará em integração vertical porque tem o controle de todas as fases de produção de frango até que ele chegue aos milhares de pontos de venda no Brasil e no exterior. Isto se constitui em uma barreira à entrada de novas empresas nesse mercado. No caso citado, a empresa tem um conjunto de estratégias possíveis de precificação, de propaganda, de pesquisa e desenvolvimento, entre outras. A estratégia a ser escolhida é determinada pela estrutura de mercado. A existência de barreiras à entrada, por exemplo, permite a empresa adotar uma política de precificação. Quando acontece o contrário, ou seja, não existem barreiras à entrada, a empresa terá dificuldades para estabelecer uma política de precificação. Observe que a estrutura de mercado condiciona a decisão estratégica da empresa em atuar no mercado. A conduta das empresas, através do desenvolvimento de diferentes estratégias, trará um impacto sobre o desempenho de mercado. A estratégia de conluio ou de formação de cartéis tem objetivo de elevação dos preços dos produtos. Ocorrendo este fato, surgem ineficiências alocativas e produtivas, que têm reflexos sobre o desempenho do mercado. O que é uma ineficiência alocativa e ineficiência produtiva? A ineficiência alocativa implica que os recursos não estejam no lugar e no tempo certo. Ela surge do exercício do poder de monopólio, ou seja, do fato de o preço ser maior ao custo marginal. A consequência disto é que o consumo do produto acontece em quantidades inferiores ao que seria socialmente desejável. As empresas que atuam no setor agrícola terão eficiência alocativa à medida que possuam pleno conhecimento. A obtenção desta eficiência alocativa é muito dependente de um dos principais aspectos do pleno conhecimento: as informações de mercado. 154 Mercado Agrícola I A ineficiência produtiva se refere à perda de motivação por parte da empresa que desfruta de lucros elevados. O pior custo do monopólio é a “preguiça dos gerentes”. Uma ação do Estado no sentido de promover a concorrência pode ser também benéfica nesse caso. O desempenho de mercado refere-se ao resultado do padrão de conduta que as empresas adotam. O paradigma de estrutura, conduta e desempenho se preocupa em avaliar o desempenho de determinado mercado diante do desempenho esperado em uma situação de concorrência perfeita. A pergunta a ser respondida é: até que ponto as imperfeições de mercado limitam o atendimento das aspirações da sociedade por bens e serviços? (PINHO, 2004, p. 215). Sempre que as imperfeições de mercado limitem o atendimento das aspirações da sociedade por bens e serviços, o Estado tem um importante papel a cumprir. A seguir, reproduzo observação feita pelo ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, que consta na contracapa do livro intitulado Concorrência: panorama no Brasil e no mundo: Disseminar a cultura da defesa da concorrência é um dos nossos grandes desafios. A intervenção estatal do passado contribuiu para a industrialização, mas enraizou visões e interesses que não mais se coadunam com o país competitivo, pujante e justo que estamos construindo. A nova atuação do Estado na economia deverá pautarse por fortes instituições de defesa da concorrência, o que exige o estudo e o debate permanente do seu marco teórico e da experiência nacional e internacional. (OLIVEIRA, 2001). A semelhança da intervenção, citada acima pelo ex-ministro, diz respeito às diferentes intervenções do Estado nos mercados agrícolas e suas consequências. Unidade 4 155 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Neste conteúdo, você estudou uma das questões centrais na análise dos mercados agrícolas e da própria economia, tendo como destaque a eficiência. Existe uma perfeita combinação de produtos sendo produzidos, usando a correta combinação de insumos? A resposta depende da estrutura de mercado. Você aprendeu o que é estrutura de mercado e quais são os diferentes tipos de estruturas de mercado existentes no caminho percorrido entre os produtores rurais e os consumidores finais. Estudou que os mercados podem ser de concorrência perfeita, com produtores e consumidores incapazes de influenciar isoladamente o preço final. Você percebeu que ao buscar o lucro, as empresas servirão ao interesse da sociedade, realizando uma produção eficiente. Estudou que os mercados podem ser imperfeitos, tais como o monopólio, o oligopólio e a concorrência monopolística, com produtores individuais tendo poder de mercado, ou seja, tendo influência no preço final. Estudou também que a busca do lucro pelas empresas e os interesses da sociedade podem algumas vezes coincidir e, outras vezes, divergir. O mercado agrícola pode falhar em fornecer um produto eficiente. Quando isto ocorre, há algo a se fazer? Qual o papel que o Estado deve desempenhar? As respostas a estes questionamentos estão relacionadas às intervenções do Estado nos mercados agrícolas. 156 Mercado Agrícola I Atividades de autoavaliação 1) Quando uma empresa agrícola, operando em condições de concorrência perfeita, deverá fechar as portas no curto prazo? Acerca desta pergunta, julgue os itens a seguir como verdadeiro(s) ou falso(s) e justifique a(s) alternativa(s) verdadeira(s). ( ) O preço for menor que o custo médio. ( ) A receita marginal for menor que o custo fixo médio. ( ) O preço for menor que o custo variável médio. ( ) O preço de mercado exceder o custo médio. Unidade 4 157 Universidade do Sul de Santa Catarina 2) Uma empresa do ramo do agronegócio, operando em condições de mercado de concorrência monopolista, pode obter lucro extraordinário no longo prazo e manter essa situação indefinidamente? Elabore um parágrafo com até 10 linhas justificando sua resposta. 3) O cartel é uma organização de produtores. Acerca dessa organização, julgue os itens a seguir como verdadeiro(s) ou falso(s) e justifique a(s) alternativa(s) falsa(s). ( ) O cartel é combatido pelos órgãos de defesa da concorrência. ( ) A política de preços é determinada conjuntamente. 158 Mercado Agrícola I ( ) Sua organização é somente informal. ( ) Os cartéis são geralmente instáveis, pois uma empresa tem grande incentivo para não cumprir com o acordo. Saiba mais THOMPSON, A. A.; FORMBY, J. P. Microeconomia da firma. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1998. Unidade 4 159 UNIDADE 5 Intervenções do Estado nos mercados agrícolas Objetivos de aprendizagem Entender o significado dos principais tipos de intervenção governamental nos mercados agrícolas: o controle de preços, o controle de quantidades e os impostos. Compreender quem ganha e quem perde com as intervenções nos mercados. Aprender que os efeitos dos impostos são similares aqueles observados quando se pretende fazer um controle de quantidade. Seções de estudo Seção 1 A agricultura e a intervenção do Estado Seção 2 Controle de preços agrícolas Seção 3 Controle de produção agrícola Seção 4 Os impostos 5 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Neste conteúdo, você aprenderá diferentes tipos de intervenções do Estado nos mercados agrícolas e suas consequências para produtores e consumidores. Como o controle de preços e quantidades torna um mercado ineficiente? Por meio de exemplos, vamos discutir e apresentar os benefícios e os custos de controlar os mercados. Começamos explicando as razões que levam à intervenção do Estado na agricultura para, em seguida, analisar a intervenção estatal e seus instrumentos, como as políticas macroeconômicas e setoriais. Vamos estudar o que acontece quando os governos tentam controlar os preços em um mercado competitivo e quando tentam determinar a quantidade comprada e vendida de um bem. E, finalmente, iremos verificar o efeito esperado dos impostos sobre vendas e compras. Seção 1 – A agricultura e a intervenção do Estado A intervenção do Estado na economia é sempre um assunto controvertido. Você pode observar que em uma economia de mercado existe um conflito entre pobres e ricos, patrões e empregados, e agricultura familiar e a patronal. O papel do Estado é proteger os mais fracos, aprovando leis que impeçam os abusos e a exploração dos mais fortes. A dinâmica da vida econômica não pode ser analisada apenas considerando essas relações conflituosas. Há outra disputa, muito mais abrangente e ampla: a disputa entre produtores e consumidores, entre compradores e vendedores. Cada participante busca, livremente, o melhor para si e isto se constitui a base para o bom funcionamento de uma economia de mercado. (MONTORO FILHO, 2008, p. 8). 162 Mercado Agrícola I Na agricultura, independente do país a ser estudado, historicamente há controvérsia da questão de “intervir ou não”, a qual tem sido deslocada para a “forma e o conteúdo da intervenção”. Quais são as razões apontadas para justificar a necessidade de intervenção e da formulação de políticas agrícolas para promoção do desenvolvimento? A agricultura apresenta algumas características peculiares quando a comparamos com outros setores da economia. Na agricultura temos: a) atividades ao ar livre, sujeitas a intempéries como calor, chuva e vento, e que podem interromper o trabalho; b)tempo de produção maior que o tempo de trabalho, o que determina tempo de espera até que as plantas concluam seu ciclo biológico; c) atividades econômicas cujos ciclos produtivos dependem do clima, caracterizando a chamada sazonalidade; d)desembolsos, renda e fluxo de caixa irregular ao longo dos meses do ano. A sazonalidade, a dependência de fatores climáticos e a rigidez produtiva fazem com que a agricultura enfrente maiores riscos que o conjunto dos demais setores da economia. Além disso, a agricultura só poderá ajustar-se às mudanças da conjuntura do mercado somente na safra seguinte. A ação conjunta desses fatores tem sido empregada para justificar a intervenção e o estabelecimento de políticas para amenizar o efeito negativo dessas características peculiares sobre o nível de renda do setor. Unidade 5 163 Universidade do Sul de Santa Catarina As falhas do mercado e do Estado A partir do estudo relacionado ao mercado e à atividade econômica é possível constatar que o mercado é uma boa maneira de organizar a atividade econômica. O mercado é o principal mecanismo para orientar as decisões dos milhões de agentes econômicos (produtores, consumidores, governo, importadores, exportadores, comerciantes, entre outros) e alocar recursos entre as várias alternativas. Por outro lado, existem mercados imperfeitos, os quais apresentam, dentre as principais falhas, estruturas imperfeitas de mercado, externalidades, informações imperfeitas, provisão de bens públicos e coletivos e distribuição de renda. A experiência histórica, observada em vários países, aponta que o Estado, assim como o mercado, também é imperfeito e sujeito a falhas. Em algumas situações, o Estado é impotente para melhorar os resultados do funcionamento do mercado, ou, ainda, sua intervenção acaba por produzir distorções “mais indesejáveis” que aquelas produzidas pelo próprio mercado. A intervenção do Estado atua sobre “elementos” que influenciam as decisões dos produtores, as quais refletem uma série de condicionantes que irão influenciar a produção, tais como a inserção socioeconômica dos produtores, a disponibilidade de recursos produtivos e financeiros, as oportunidades econômicas, a conjuntura econômica, as instituições e os valores culturais, entre outras. O desenvolvimento rural O desenvolvimento rural é influenciado por quatro grupos de fatores: a) os incentivos existentes para investir e produzir; b)a disponibilidade de recursos que determinam o potencial de produção; 164 Mercado Agrícola I c) o acesso aos mercados, insumos, informações e serviços que influenciam decisivamente na capacidade efetiva de produção; d)as instituições, que influenciam as decisões dos agentes e sua disposição para produzir. (NORTON, 1993, p. 13). O item “d” acima se refere ao importante papel das instituições formais ou informais que atuam no mercado agrícola por meio de leis, normas, hábitos e costumes, para estabelecer os estímulos e garantias para o exercício da atividade econômica e para o desenvolvimento rural. A complexidade da vida econômica, que é caracterizada por milhões de transações realizadas em um curto espaço de tempo, e por participantes com interesses divergentes, exige que se disciplinem tais relações e que as regras sejam obedecidas por todos. O mercado não produz esse serviço de segurança jurídica e a instituição Estado aparece como provedor natural. Uma breve explicação do processo de intervenção do Estado é feita a seguir, considerando seu plano mais abrangente – as políticas macroeconômicas – e o seu plano mais localizado – as políticas setoriais. Políticas macroeconômicas As políticas macroeconômicas têm impacto considerável sobre as condições gerais de produção. Seus efeitos se estendem à formação dos custos de produção, às decisões de investir, às opções tecnológicas, ao nível e estrutura de distribuição de renda, aos preços relativos, à rentabilidade de cada atividade econômica, às expectativas dos agentes e à alocação dos recursos entre atividades e setores econômicos. A política macroeconômica tem influência direta sobre os incentivos e sobre a disponibilidade de recursos. Essa política, juntamente com o marco institucional, funciona como um pano de fundo que influencia e condiciona as decisões dos produtores, assim como os resultados obtidos. Além disso, exercem influência Unidade 5 165 Universidade do Sul de Santa Catarina sobre o nível e a composição da demanda presente e, também, sobre a demanda futura (em razão de influenciar as expectativas dos agentes em relação ao futuro). Os principais instrumentos de política macroeconômica são: a política monetária, a política fiscal, a política cambial e a política comercial. A seguir iremos estudar cada um desses instrumentos de política macroeconômica. a) A política monetária A política monetária refere-se às decisões do governo em relação à oferta de moeda e as condições de crédito no mercado doméstico, podendo ser expansionista ou contracionista. A política monetária é a variação na oferta de moeda pelo banco central para influenciar as taxas de juros e ajudar a economia na obtenção de um nível de produção de pleno emprego e na manutenção de preços estáveis. (McCONNELL, 2001, p. 453). A política monetária expansionista é aquela que reduz a taxa de juros e aumenta a demanda agregada ao aumentar a oferta de moeda, sendo utilizada para alterar uma situação de recessão econômica. Observe que uma política fortemente expansionista aumenta a oferta de crédito e diminui o custo do dinheiro, estimulando o consumo, a produção e o emprego. A política monetária contracionista é a que aumenta a taxa de juros e diminui a demanda agregada ao reduzir a oferta de moeda, sendo utilizada para controlar o nível de preços da economia (inflação). Observe que neste tipo de política espera-se uma redução na produção e no emprego. b)A política fiscal A política fiscal diz respeito às decisões do governo em relação a seu orçamento, podendo também ser expansionista ou contracionista. 166 Mercado Agrícola I A política fiscal é relacionada aos gastos governamentais e nas receitas de impostos destinadas à obtenção de um nível de produção interno não inflacionário e de pleno emprego. (McCONNELL, 2001, p. 453). A política fiscal expansionista é aquela que aumenta a demanda agregada reduzindo impostos, aumentando transferências ou expandindo compras governamentais. Já a política fiscal contracionista possui efeito inverso, pois reduz a demanda agregada aumentando impostos, diminuindo as transferências e as compras governamentais. A política fiscal é um tipo de política de estabilização que envolve o uso de mudanças na tributação, nas transferências governamentais, ou nas compras governamentais de bens e de serviços. (KRUGMAN, 2007, p. 806). A possibilidade de usar incentivos fiscais para promover objetivos do setor agrícola é limitada pela política fiscal do governo. A agricultura sofre ainda a influência da política de preços e tarifas de serviços públicos, estrutura de gastos do setor público, utilização de políticas de rendas e carga fiscal que recai sobre o setor e seus produtos. c) A política cambial A taxa de câmbio é o preço da moeda de um país em termos da moeda de outro país. A quantidade de moeda é determinada pela política governamental. A taxa de câmbio determina o preço das importações e exportações. Movimentos das taxas de câmbio podem ter efeitos importantes sobre o produto agregado e o nível de preços agregados. Atualmente, existem dois tipos principais de políticas de taxas de câmbio: câmbio fixo e câmbio flutuante. Um país tem uma taxa de câmbio fixa quando o governo mantém a taxa de câmbio em relação à outra moeda fixa, ou tendo uma meta específica. A agricultura é particularmente sensível às variações da taxa de câmbio, que exerce influência sobre o desempenho do setor. O câmbio tem influência direta nos incentivos para o produtor investir e produzir. A China é um exemplo marcante sobre o esforço do governo para manter sua taxa de câmbio fixa. Unidade 5 167 Universidade do Sul de Santa Catarina Um país tem uma taxa de câmbio flutuante quando o governo deixa a taxa de câmbio oscilar conforme o modelo da oferta e demanda (o mercado). O Brasil, os Estados Unidos, a Inglaterra e o Canadá seguem essa política de taxa cambial flutuante. d)A política comercial A política comercial atribui níveis de proteção diferenciados entre os setores da economia. A política comercial e a taxa de câmbio modificam os preços relativos d os diferentes tipos de bens e provocam uma realocação de recursos. Para determinada taxa de câmbio, por exemplo, elevar o nível de proteção de determinados produtos tende elevar o preço dos produtos importáveis induzindo à transferência dos recursos para a sua produção. Políticas setoriais Os instrumentos de política setorial possibilitam ao setor público intervir nas condições e nas variáveis específicas ao setor agrícola, como, por exemplo, definir uma taxa de juros diferente da taxa de juros de mercado, condições especiais de acesso aos mercados e preços mínimos e preços máximos para alguns produtos. Os principais mecanismos de intervenção na produção e demanda agrícola são: a) políticas de preços; b) políticas de financiamento; c) seguro; d)políticas de comercialização e estoques; e) políticas tributária e fiscal; e f) políticas de comércio exterior. 168 Mercado Agrícola I Na sequência, você estudará alguns desses importantes instrumentos de intervenção do Estado nos mercados agrícolas. Primeiramente, compreenderá o que acontece quando os governos tentam controlar os preços em um mercado competitivo e quando tentam determinar a quantidade comprada e vendida de um bem. E, finalmente, verificaremos o efeito esperado do imposto sobre vendas e compras. Seção 2 – Controle de preços agrícolas O preço de mercado de um determinado produto agrícola pode oscilar até a igualdade entre as quantidades demandadas e ofertadas desse produto. Infelizmente, muitas vezes, o preço de equilíbrio resultante pode não agradar a compradores ou produtores. Quando isso ocorre, é comum o governo sofrer pressão política para que intervenha nos mercados para regular os preços. A intervenção típica é controlar os preços estabelecendo um limite inferior, um preço mínimo, ou estabelecendo um limite superior, um preço máximo. O que acontece quando o governo tenta controlar os preços em um mercado competitivo estabelecendo um preço mínimo? É o que você verá a seguir. Política de preços mínimos A política de preços mínimos, em uso no Brasil, garante um preço mínimo fixado e anunciado previamente pelo governo antes do início do plantio. O governo assegura aos produtores, independentemente dos preços do mercado, a venda de sua produção pelo preço mínimo. O objetivo principal desta política é evitar a volatilidade dos preços agrícolas no curto prazo e garantir renda aos produtores. Unidade 5 169 Universidade do Sul de Santa Catarina Os preços mínimos têm como objetivo ajudar os produtores, no entanto geram alguns efeitos indesejáveis. Os problemas indesejáveis acontecem quando os mercados são competitivos. Em situação de monopólio, por exemplo, os controles de preços não causam necessariamente problemas. (KRUGMAN, 2007, p. 72). As curvas de oferta e demanda de café, ilustradas na figura a seguir, demonstram que o mercado encontra-se em equilíbrio com 12 bilhões de sacas de café compradas e vendidas ao preço de R$ 3,00 por saca. 6 Preço 5 do café Demanda Excedente de café Oferta (4 bilhões de sacas) 4 Preço mínimo 3 Equilíbrio (E) 2 1 Quantidade de equilíbrio 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 5.1 – O efeito do preço mínimo para o mercado do café Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Com objetivo de ajudar os produtores de café, suponha que o governo estabeleça um preço mínimo de R$ 4,00 por saca. O preço mínimo é representado pela linha horizontal que intercepta o eixo vertical ao preço de R$ 4,00. Observe que a esse preço os produtores querem vender 14 bilhões de sacas e os consumidores querem comprar 10 bilhões de sacas. Nessas condições, há um excesso de oferta de quatro bilhões de sacas de café, cujo excedente de produção o governo deve adquirir a fim de garantir o preço mínimo que está acima do preço de equilíbrio. Isso 170 Mercado Agrícola I implica um custo adicional para o governo referente à aquisição e armazenamento dos quatro bilhões de sacas de café. Quais os principais efeitos esperados de uma política de preço mínimo efetiva? Uma política de preço mínimo efetiva é aquela em que o preço mínimo fixado está acima do preço de equilíbrio. Note que, se o preço mínimo for fixado abaixo do preço de equilíbrio, o excesso de demanda forçará a subida de preço, e o preço estabelecido não terá nenhuma efetividade. Admita a situação de efetividade da política de preço mínimo, tal como representado na figura anterior, e o resultado óbvio de gerar um excedente de produção. Os produtores se beneficiam da política de suporte de preço mínimo. Em condições de livre mercado, a receita agrícola bruta seria de 36 bilhões de reais e, com a política de preços mínimos, a receita agrícola agora é de R$ 56 bilhões de reais, tendo os produtores um acréscimo de 20 bilhões de reais na sua receita de produção de café. Nesse contexto, uma política de suporte de preço mínimo dá origem a vários efeitos colaterais negativos, conforme podemos observar a seguir. a) Perda para os consumidores Considerando o período de tempo entre duas safras agrícolas, os consumidores perdem duas vezes: por pagarem um preço maior que o de equilíbrio em condições de livre mercado; e por consumirem uma quantidade inferior àquela consumida em condições de livre mercado. Observe que a despesa dos consumidores sem a política de preços mínimos, considerando o exemplo da figura anterior, é R$ 36 bilhões de reais. Com a adoção desta política de suporte de preços, a despesa dos consumidores é R$ 40 bilhões de reais. Unidade 5 171 Universidade do Sul de Santa Catarina A perda dos consumidores depende do comportamento da oferta e demanda de cada produto e também da diferença existente entre o preço de mercado e o preço mínimo estabelecido. Além disso, note que o preço mais alto a ser pago pelo consumidor recai de maneira desproporcional sobre a população mais pobre, que destina uma parcela maior de sua renda com alimentação. (McCONNELL, 2001, p. 335). b)Alocação ineficiente de recursos entre os produtores A política de preço mínimo atrai mais recurso para a agricultura que o preço em condições de mercado livre e faz com que a sociedade incorra em uma “perda de eficiência”. Um mercado competitivo é eficiente na alocação dos recursos por maximizar os benefícios líquidos de fornecer os bens à sociedade. A quantia ótima produzida acontece quando o benefício marginal (preço de demanda) é igual ao custo marginal (preço de oferta). (WESSELS, 2002, p. 118). Na figura a seguir, o nível de produção de 12 bilhões de sacas de café indica que a alocação dos recursos é eficiente. Isso acontece porque, nesse nível de produção, o preço de oferta (custo marginal) é igual ao preço de demanda (benefício marginal), ou seja, R$ 3,00. 6 Preço 5 do café Demanda Oferta 4 Preço mínimo Benefício líquido à sociedade 3 2 1 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões) de sacas 172 Figura 5.2 – Benefício líquido à sociedade em decorrência do estabelecimento do preço mínimo para o café Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Mercado Agrícola I Em todas as unidades de produção, entre 12 bilhões até 14 bilhões de sacas, o preço de oferta (custos marginais) excede os preços que as pessoas estariam dispostas a pagar por essas unidades. O benefício líquido gerado é negativo para cada quantidade adicional superior a 12 bilhões de sacas de café. A ineficiência econômica advém de uma sobrealocação de recursos na agricultura (recursos alocados na agricultura acima do desejável, do ponto de vista econômico). c) Desperdício de recursos Em condições de efetividade da política de preço mínimo, o resultado esperado é um excedente de produção. Quando o governo compra o excedente agrícola, existe o “risco” de esse excedente ser desperdiçado ou destruído. Ou, ainda, o produto estocado ficar fora de condições de uso e precisar ser jogado fora. Além disso, deve-se considerar a perda de tempo e de esforço empregados para produzir quantias superiores àquelas que representam a condição de equilíbrio de mercado competitivo livre. d)Outras perdas para a sociedade Existem pelo menos três outras importantes perdas para a sociedade que advêm da política de preços mínimos. (McCONNELL, 2001, p. 335): 1. a sociedade paga mais impostos para financiar a compra do excedente pelo governo. A carga tributária adicional é igual ao excedente multiplicado pelo preço mínimo. Em nosso exemplo, a carga tributária adicional foi de R$ 16 bilhões de reais (preço mínimo de R$ 4,00 multiplicado pela quantia de quatro bilhões de sacas, o excedente). Note ainda que o simples fato de coletar impostos por si só gera ineficiência. Além disso, o custo para estocagem do produto agrícola requer uma carga tributária adicional; 2. a “busca de renda” envolvida pode ser cara e socialmente desgastante. Os representantes agrícolas e seus grupos de interesse gastam recursos para manter apoio político aos programas de suporte de preços; Unidade 5 173 Universidade do Sul de Santa Catarina 3. a intervenção governamental na agricultura também gera custos administrativos. É necessário manter funcionários para administrar a política de preços e outros programas agrícolas. e) Custos internacionais A política de preço mínimo pode gerar distorções que ultrapassam os limites do território nacional. Em nosso exemplo, os preços mínimos do café tornam esse mercado atrativo para produtores de outros países. O resultado esperado é uma produção maior em decorrência da produção por estrangeiros. Isso agrava o problema do excedente agrícola, ou seja, a quantia excedente será maior que os quatro bilhões de sacas de café. Por que o governo adota uma política de suporte de preços mínimos quando existem tantos efeitos colaterais? A principal razão para impor uma política de suporte de preços mínimos é beneficiar grupos de produtores e vendedores influentes. Outra razão se relaciona ao fato dos funcionários do governo não considerarem ou não avaliarem adequadamente os efeitos colaterais. Estes funcionários podem achar que o mercado não é bem descrito pelo modelo da oferta e demanda, ou ainda, porque eles não entendem o próprio modelo da oferta e demanda. (KRUGMAN, 2007, p. 80). Nesse contexto, “adotar política de suporte de preço mínimo ou não” na agricultura, e, admitindo a opção pela sua adoção, a eficácia dos objetivos de garantir um preço mínimo depende: a) do valor do preço fixado como sendo mínimo pelo governo; b)da disponibilidade de recursos; e c) do volume de produto operacionalizado pelos diversos instrumentos, quando comparado com o total da produção. 174 Mercado Agrícola I Seção 3 – Controle de produção agrícola Alguns analistas apontam que o mercado de arroz nacional deve passar, em 2011, por uma queda acentuada nos preços, alcançando um recorde de preço negativo (estando abaixo do custo de produção). Essa tendência é baseada em um tripé: produção elevada, estoques altos e importação do Mercosul. Caso os produtores de arroz tivessem optado por uma pequena redução de 10% na área plantada na safra 2009/2010, a produção teria uma redução significativa do produto no mercado. Segundo alguns especialistas, isso seria suficiente para elevar o preço para valores acima do custo de produção. Se os produtores fossem muito organizados, seria isso o que deveriam fazer, ou seja, reduzir a produção. As tentativas de controle das quantidades produzidas, como nesse caso, são levadas a cabo por boas razões econômicas (do ponto de vista do produtor). Vamos analisar agora um pouco melhor essa questão. O que acontece quando o governo tenta controlar a quantidade produzida em um mercado competitivo? Para responder a essa questão, observe o modelo de oferta e demanda do mercado competitivo do café desenvolvido até aqui. Nossa suposição, agora, é que o governo limite a quantia que os produtores possam produzir. A figura a seguir mostra o impacto de uma política de controle de oferta. Unidade 5 175 Universidade do Sul de Santa Catarina 6 Preço 5 do café Demanda A 4 Oferta Benefício líquido à sociedade “Cunha” E 3 2 B 1 Cota 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 5.3 – Impacto de uma política de controle de oferta para o mercado do café Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Admita uma versão simplificada do mercado de café em que o governo limite a produção de café em 10 bilhões de sacas (na figura anterior corresponde à linha vertical passando por essa quantia de produto). Como a quantidade é limitada a 10 bilhões de sacas, os consumidores estariam no ponto A da curva de demanda e o preço que estariam dispostos a pagar é R$ 4,00. Enquanto isso, os produtores estariam no ponto B da curva de oferta e o preço correspondente é R$ 2,00. Quando a oferta de café é legalmente restringida, verifica-se uma cunha entre o preço de demanda da quantidade transacionada e o preço de oferta da quantidade transacionada. Essa cunha representa a chamada “renda da cota”. A renda da cota corresponde à diferença entre esses dois preços (R$ 4,00 e R$ 2,00). 176 Mercado Agrícola I Como o controle de quantidade tem problemas e tornam um mercado ineficiente? Os controles de quantidades geram, tipicamente, os seguintes efeitos colaterais indesejáveis: a) Ineficiência ou oportunidades perdidas O controle de quantidade impede a realização de transações mutuamente benéficas. Por exemplo, a partir do limite de produção estabelecido pelo governo, os consumidores de café estariam dispostos a pagar R$ 3,50 por saca de café, para um bilhão de sacas adicionais. Os produtores estariam dispostos a oferecer essa quantia desde que ganhassem pelo menos R$ 2,50 por saca. O mesmo raciocínio se aplica ao bilhão de sacas adicionais produzidas. Os consumidores estariam dispostos a pagar R$ 3,00 quando a quantidade produzida aumenta de 11 para 12 bilhões de sacas, e os produtores ofertariam essa produção desde que obtivessem R$ 3,00 por saca. Observe que não haverá “oportunidades perdidas de produção” somente quando o mercado atingir a quantidade de equilíbrio de livre mercado. “Um comprador estaria disposto a comprar o bem a um preço que o vendedor estaria disposto a aceitar, mas tal transação não acontece porque é proibida pela cota.” (KRUGMAN, 2007, p. 84). O estabelecimento de cotas de produção resulta em má alocação de recursos. Os consumidores são forçados a pagar mais pelos produtos agrícolas. b)Incentivos para atividades ilegais Como existem oportunidades perdidas para produtores e consumidores e os mesmos estão proibidos de fazê-lo, o controle de quantidade gera incentivo para não cumprir o estabelecido (não cumprir a lei!). Unidade 5 177 Universidade do Sul de Santa Catarina É importante observar que, do ponto de vista do produtor, a justificativa para o controle da produção baseia-se na inelasticidadepreço da demanda dos produtos agrícolas em geral. Note que a restrição de produção fará com que a receita total da agricultura aumente, uma vez que o aumento de preço será proporcionalmente maior que a diminuição estabelecida de produção. No Brasil, há dificuldades para operacionalizar o controle da produção de um produto como o milho, por exemplo, que tem múltiplos usos, vários destinos de sua produção, e, são mais de 2 milhões de produtores espalhados por mais de 5.000 municípios. A produção da cana de açúcar, por sua vez, é de mais fácil controle. Isto acontece porque é um produto que se concentra em algumas regiões do país e sua produção comercial tem um só destino: a industrialização em usinas e destilarias. (MENDES, 2007, p. 361). Portanto, embora a restrição da produção agrícola possa trazer aos produtores maior renda, a sua operacionalização é dificultada pelo grande número de produtores e a presença de fatores não controláveis como clima, pragas e doenças. A seguir, você compreenderá os efeitos esperados sobre o preço e a quantidade de um produto agrícola quando há a incidência de um imposto. 178 Mercado Agrícola I Seção 4 – Os impostos Outra maneira de o governo intervir na agricultura, e na economia como um todo, é por meio dos impostos. Os impostos permitem ao governo oferecer bens e serviços que não são adequadamente oferecidos pelo mercado e realizar outras funções econômicas, tais como a distribuição da renda e a estabilização da produção e do aumento dos preços. Por sua vez, os impostos têm um custo na economia. Neste conteúdo você poderá analisar e responder às seguintes questões: Qual o efeito do imposto? Qual o custo econômico da tributação de determinado produto agrícola? E quem arca com esse custo? Qual o efeito do imposto? Observe o modelo de oferta e demanda do mercado competitivo do café desenvolvido até aqui. Vamos supor que o governo estabeleça um imposto sobre as vendas, a ser pago pelos produtores, correspondente a 50% do preço da saca de café. A figura a seguir ilustra o impacto esperado desse imposto no mercado do café. Unidade 5 179 Universidade do Sul de Santa Catarina 6 Preço 5 do café Oferta se desloca para cima Demanda Oferta A 4 Imposto 3 E Receita do imposto 2 B 1 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 5.4 – Impacto de um imposto a ser pago pelo produtor para o mercado do café e a receita obtida Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). O imposto significa que o produtor de café não pode ficar com a receita total obtida pela venda do café. No exemplo anterior, ele poderá ficar apenas com 50% desta receita. Para qualquer quantidade de café produzida, o preço de oferta depois do imposto é mais alto que o preço de oferta antes do imposto. Note que agora o preço do café é R$ 4,00 para que os produtores ofereçam a quantidade que eles estavam dispostos a oferecer, quando o preço da saca de café era de R$ 2,00. O imposto sobre a venda desloca a curva de oferta para cima. O equilíbrio de mercado passa de “E”, em que o preço é R$ 3,00 e são comercializados 12 bilhões de sacas de café, para “A”, em que o preço é R$ 4,00 e são comercializados 10 bilhões de sacas de café. Observe ainda que a receita tributária arrecadada pelo governo é representada pela área do retângulo sombreado na figura anterior, totalizando R$ 20 bilhões de reais. A receita tributária é igual à área do retângulo, cuja altura é representada pelo imposto de R$ 2,00 introduzido entre a curva da oferta e da demanda, cuja largura é a quantidade comprada e vendida de 10 bilhões de sacas de café. 180 Mercado Agrícola I Quem arca com esse custo? Admita agora que o governo estabeleça um imposto, a ser pago pelos compradores, correspondente a 50% do preço da saca de café. A figura a seguir ilustra o impacto esperado desse imposto no mercado do café. 6 Preço 5 do café Demanda Oferta A 4 Imposto 3 Receita do imposto E Demanda se desloca para baixo 2 B 1 0 8 10 12 14 16 Quantidade de café (bilhões de sacas) Figura 5.5 – Impacto de um imposto a ser pago pelo comprador para o mercado do café e a receita obtida Fonte: Elaboração do autor, a partir de dados hipotéticos (2011). Quando você compara as figuras referentes ao impacto de um imposto a ser pago pelo produtor e pelo comprador, poderá notar que elas mostram o mesmo efeito preço. Em cada caso, os compradores pagam R$ 4,00 e os produtores recebem um preço efetivo de R$ 2,00, sendo comercializados 10 bilhões de sacas de café. Além disso, a receita do imposto é a mesma nas duas situações analisadas (R$ 20 bilhões de reais). A incidência de um imposto é dividida tanto entre consumidores como produtores, independentemente de quem pague o imposto. A quem incidirá a maior proporção depende dos formatos das curvas de oferta e de demanda do produto. Nos dois exemplos anteriores, o imposto de R$ 2,00 sobre o preço do café se reflete em R$ 1,00/saca a ser paga pelo comprador e R$ 1,00 de redução de preço recebido pelo produtor de café. Unidade 5 181 Universidade do Sul de Santa Catarina Qual o custo econômico da tributação? Você deve ter observado que o efeito esperado no mercado de café quando há incidência de um imposto de R$ 2,00/saca é exatamente o mesmo quando o governo decide estabelecer uma cota de produção para este produto de 10 bilhões de sacas. Mas, quanto custa um imposto? Um imposto tem os mesmos custos apresentados anteriormente quando o governo decide estabelecer uma quota de produção. Os impostos tipicamente geram os seguintes efeitos colaterais indesejáveis: a) ineficiência ou oportunidades perdidas: o imposto sobre a venda de um determinado produto impede, assim como no estabelecimento de uma cota, a realização de transações mutuamente benéficas. Por exemplo, um imposto de R$ 2,00 por saca de café estabelecido pelo governo: os compradores pagam R$ 4,00, mas os produtores recebem apenas R$ 2,00/saca. Existem compradores potenciais que estariam dispostos a pagar R$ 3,00, por exemplo, e produtores potenciais para vender seu produto a R$ 3,00. Há, portanto, transações mutuamente benéficas que passariam a ser ilegais caso fossem implementadas (e o imposto de R$ 2,00 não teria sido pago); b)incentivos para atividades ilegais: como existem oportunidades perdidas para produtores e consumidores e os mesmos estão proibidos de fazê-lo, o imposto sobre a venda de um determinado produto gera incentivo para o não cumprimento da legislação. Para finalizar este conteúdo, é feita uma última observação sobre a pergunta referente ao custo econômico da tributação. Além dos custos estudados anteriormente, você deve estar se perguntando se o dinheiro resultante da arrecadação de impostos pagos ao governo é também um custo econômico. Isso faria sentido caso não houvesse prestação de serviço algum por parte do governo, do contrário, havendo essa prestação de serviços, é como se o dinheiro arrecadado, ou parte dele, retornasse às mãos dos contribuintes. 182 Mercado Agrícola I Síntese Neste conteúdo você aprendeu sobre os diferentes tipos de intervenções do Estado na agricultura e, em especial, no mercado agrícola. Iniciamos explicando as razões que levam à intervenção do Estado na agricultura para, em seguida, tratar da intervenção estatal e seus instrumentos: as políticas macroeconômicas e setoriais. Você estudou o que acontece quando os governos tentam controlar os preços em um mercado competitivo. Um preço mínimo, por exemplo, é um valor mínimo legal para o preço de um bem ou serviço. Se o preço mínimo está acima do preço de equilíbrio, a quantidade ofertada excede a quantidade demandada, beneficia os vendedores que conseguem vender, porém cria um excedente persistente. Compreendeu que os controles de quantidade limitam a quantidade de um bem a ser vendido ou comprado. Os controles de quantidade geram ineficiências na forma de transações mutuamente benéficas que deixam de ocorrer, além de encorajar atividades ilegais. A mesma análise utilizada para entender o controle de quantidade pode ser aplicada em um exame do estabelecimento de impostos. Verificou que quando o governo estabelece um imposto sobre um bem, a quantidade de equilíbrio deste bem diminui. Um imposto sobre uma determinada atividade econômica reduz o tamanho de seu mercado. Quando o mercado se move para um novo equilíbrio (igualdade entre oferta e demanda), os compradores pagam mais pelo bem e os vendedores recebem menos por ele. Nesse caso, compradores e os vendedores compartilham o ônus do imposto, sendo que o ônus tende a recair sobre o lado do mercado que é mais inelástico. E, por fim, estudamos que o controle de preços, quantidades e impostos são frequentemente debatidos entre os formuladores das políticas econômicas. Essas intervenções geram efeitos colaterais previsíveis e indesejáveis, na forma de ineficiências e atividades ilegais. Um pouco de conhecimento de economia pode ajudar muito a entender e avaliar as potencialidades e os limites dessas políticas. Unidade 5 183 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de autoavaliação 1) Leia atentamente o texto abaixo1. Ministro francês critica controle de preço das commodities agrícolas Brasília – O ministro da Agricultura da França, Bruno Le Maier, esteve reunido ontem com o ministro da Agricultura do Brasil, Wagner Rossi. Durante a reunião, Le Maier afirmou que o governo francês não defende o controle de preço das commodities agrícolas. Maier disse que os franceses não concordam com mecanismos de controle de preços das commodities agrícolas. “O controle de preços pode levar a catástrofes. A melhor forma de reduzir a volatilidade dos preços é aumentar a produção”, declarou. Le Maire argumentou que a França defende a regulação dos mercados financeiros, e não o controle de preços das commodities: “Entendo a preocupação do Brasil, porque a Europa teve esse controle por muitos anos. Mas tanto o Brasil como a França se opõem a qualquer controle de preços”, disse o representante da França. “É enorme a responsabilidade política nessa área. Não queremos passar na agricultura o que já enfrentamos com o setor imobiliário”, disse Le Maire, referindo-se à crise no setor imobiliário dos Estados Unidos, que explodiu na virada de 2007 para 2008, contaminando economias de todo o mundo. “Se não regularmos o mercado agrícola, será feito o mesmo erro que ocorreu com o mercado financeiro”, declarou o ministro francês. Extraído do site do Diário Comercio, Industria e Serviços, disponível em: <http://www. dci.com.br/noticia.asp?id_editoria=10&id_noticia=369487/>. Acesso em: 8 abr. 2011. 1 184 Mercado Agrícola I Pergunta: O estabelecimento de um teto de preço para os produtos agrícolas, em comparação com o mercado livre a um nível abaixo do preço de equilíbrio, provoca um aumento da quantidade ofertada? Explique esta situação. 2) Ainda em relação ao texto da pergunta anterior, intitulado “Ministro francês critica controle de preço das commodities agrícolas”, e a possibilidade de estabelecimento de teto para preços agrícolas. Explique por que, quando comparado com uma situação de mercado livre a um nível abaixo do preço de equilíbrio, o teto de preço piora a situação de: a) algumas pessoas que querem consumir o produto; b) todos os produtores. Unidade 5 185 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba mais VASCONCELLOS, M. A. S. de; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 2008. KRUGMAN, Paul; WELLS, Robin. Introdução à economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 186 Para concluir o estudo Espero ter cumprido com a mediação do contato entre futuros profissionais da área do agronegócio com a área de mercado. Como comentei no início deste livro, tenho uma ambiciosa expectativa de que isso produzirá frutos que, se bem cultivados, poderão mudar a sua história de vida pessoal e profissional. Os conhecimentos sobre como funcionam os mercados agrícolas são fundamentais para a formação do futuro profissional do Agronegócio, e também para formação de profissionais das áreas das ciências agrárias, ciências florestais, economia, administração e demais áreas correlatas ao estudo do agronegócio. Você obteve acesso a temas de crescente importância na atualidade, que foram abordados no decorrer da disciplina como as diferentes estruturas de mercado, o papel do Estado na agricultura e suas intervenções nos mercados agrícolas. Sem pretensão de esgotar o assunto, espero que os estudos tenham contribuído para a compreensão de como funcionam os mercados agrícolas. Sucesso em seus estudos! Professor Luis Augusto Araújo Referências AMADEO, Humberto. Secretário de agricultura do Paraná alerta: oligopólio de fertilizantes encarece alimentos. 2008. Disponível em: <http://www.seab.pr.gov.br/modules/noticias/ makepdf.php?storyid=3678>. Acesso em: 20 maio 2011. BAIN, J. Barriers to new competition. Cambridge: Harvard University Press, 1956. FRANCE-STREAM. Kopi Luwak: café à base d’excréments!. 24 out. 2009. Disponível em: <http://www.france-stream.com/insolites/ kopi-luwak-cafe-a-base-dexcrements/>. Acesso em: 8 jun. 2011.il. GARÓFALO, G. L. E; CARVALHO, L. C. Teoria microeconômica. São Paulo: Atlas, 2004. KIEFER, Sandra. Café feito com fezes de pássaro é vendido a R$ 272 o quilo. 2010. Disponível em: <http://www.uai.com.br/htmls/ app/noticia173/2010/02/21/noticia_economia,i=148666/index. shtml>. 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VASCONCELLOS, Antonio S.; GARCIA. Manuel E. Fundamentos de economia. São Paulo: Saraiva, 2005. Wonnacott p. e Wonnacott, R. Economia. São Paulo: McGraw-Hill, 1994. 190 Sobre o professor conteudista Luis Augusto Araújo Possui mestrado em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo - USP e especialização em Administração Rural pela Universidade de Lavras - MG. Atualmente, atua como coordenador do projeto estadual de pesquisa e desenvolvimento, intitulado “Administração Rural e Socioeconomia”, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - Epagri, e como professor da Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul. Lecionou, até meados de 2008, na Faculdade Estácio de Sá. Tem experiência na área de Administração e Economia, atuando, principalmente, nos seguintes temas: pesquisa operacional, programação linear, fundamentos de economia, administração rural e economia da produção. Respostas e comentários das atividades de autoavaliação Unidade 1 1) A mensagem de Smith foi clara. Na defesa de seus próprios interesses, os homens de negócios, individualmente, produziriam para os consumidores. Há uma “mão invisível”, escreveu ele, que leva o produtor a promover os interesses da sociedade. Na época de Smith, um bem é trocado diretamente por outro bem (prática do escambo). Com o uso do dinheiro, o sistema de troca pode ser muito mais eficiente, não havendo necessidade de coincidência de desejos. Por exemplo, o indivíduo “A” querer trocar cerveja por carne do indivíduo “B”. 2) A sequência dos itens é: (1); (2); (1); (2); (2); (1) 3) A sequência dos itens é: (V); (V); (F); (V); (F). As famílias constituem a oferta no mercado de fatores de produção e a demanda no mercado de bens e serviços. Nas economias mais simples (e não nas modernas), as pessoas fazem escambo, em vez de trocá-los por dinheiro. Unidade 2 1) A sequência dos itens é: (V); (F) Alterações da preferência do consumidor por determinadas marcas de vinho, por influência de propaganda, provocam um deslocamento para a direita da curva de demanda. Observe que as preferências do consumidor constituem-se em fatores determinantes para a demanda, não para a oferta; (V); (V); (F) Os preços e as quantidades demandadas, coeteris paribus, variam na direção oposta: quanto mais altos aqueles forem, menores estas serão. Universidade do Sul de Santa Catarina 2) A sequência dos itens é: (F); (V); (F); (F); (F). O único item correto é: “Preços maiores de um produto geram efeitos renda e substituição que levam os consumidores a comprar menos do produto”. Observe que com o aumento do preço do produto, com tudo o mais mantido constante, o consumidor perdeu poder aquisitivo (efeito renda). Além disso, com o aumento do preço do produto, o consumidor procurará um produto similar (efeito substituição). Assim, à medida que o preço sobe, o consumo diminui (inclinação negativa da curva da demanda). Os demais itens podem ter afirmações corretas, mas não explicam por que a demanda tem inclinação negativa. 3) A sequência dos itens é: (2) A quantidade demandada de sorvete é mais alta a qualquer preço dado no verão em relação a outra estação do ano. Esse é um deslocamento para a direita da curva da demanda; (3) Como existe uma expectativa de redução de preço no futuro, o consumo hoje diminui, deslocando a curva de demanda para a esquerda; (1) A quantidade consumida de gasolina cai em resposta a uma mudança em seu preço. Esse é um movimento ao longo da curva de demanda; (2) A quantidade demandada de rosas é mais alta a qualquer preço dado na semana do dia dos namorados em relação a qualquer outra semana do ano. Esse é um deslocamento para a direita da curva da demanda. 4) a) Como café e chá são produtos substitutos, dado que o preço do café aumentou, é esperado um aumento na demanda por chá. b) O gráfico deverá mostrar o deslocamento da curva da demanda por chá para a direita, resultado da alteração do preço de um produto substituto ao chá (aumento do preço do café). A curva de oferta deverá permanecer inalterada. Unidade 3 1) (C) Os adolescentes se mostraram especialmente sensíveis ao preço dos cigarros: um aumento de 10% do preço resulta numa queda de 12% na quantidade demandada de cigarros entre os adolescentes. Portanto, são mais elásticos. 194 Mercado Agrícola I 2) No item (a) a demanda é elástica. Os consumidores têm elevada sensibilidade a mudanças de preços. Dada a redução do preço, o efeitoquantidade (que tende aumentar a receita total) supera o efeito-preço (que tende diminuir a receita total). O resultado desses dois efeitos é um aumento na receita total. No item (b) a demanda é inelástica. Uma queda percentual na quantia produzida é acompanhada por uma elevação proporcionalmente maior no preço. O efeito-preço supera o efeito-quantidade e, como resultado, a receita total aumenta. 3) A mudança percentual no preço da uva é 40% e a mudança percentual na quantidade demandada 67%. A elasticidade-preço da demanda é 1,7 (67%/40%). Portanto, a demanda para esse produto tem comportamento elástico (demanda elástica). Unidade 4 1) A sequência dos itens é: (F); (F); (V) A decisão de não produzir acontece quando o preço de mercado for inferior ao custo variável médio mínimo. Nessa condição, sim, o produtor interrompe a produção no curto prazo; (F). 2) Em um mercado de concorrência monopolista, uma empresa pode obter lucro extraordinário no curto prazo. No longo prazo, entretanto, a livre entrada e saída de empresas desse ramo do agronegócio vai fazer com que a demanda pelo produto de cada empresa se reduza. Em decorrência da competição, o lucro econômico cairá para zero no longo prazo (lucro econômico normal). 3) A sequência dos itens é: (F); (F); (V) O cartel pode ser uma organização formal ou informal; (F). 195 Universidade do Sul de Santa Catarina Unidade 5 1) O aumento da quantidade ofertada não acontece. Ao reduzir os preços a serem recebidos pelos produtores, os tetos de preços levam a uma redução na quantidade ofertada. Isso contraria, inclusive, a posição do ministro da França, Le Maier, de que “[...] a melhor forma de reduzir a volatilidade dos preços é aumentar a produção”. 2) a) Tetos de preços levam a uma quantidade mais baixa quando comparada com o mercado livre. Existem, portanto, algumas pessoas que teriam comprado o produto no mercado livre e, agora, com o teto de preço não conseguem obtê-lo; b) Os produtores, ao venderem o seu produto, recebem menos por ele e, portanto, pioram de situação. Os produtores que consideram não valer a pena vender seu produto, igualmente ficaram em situação pior. 196 Biblioteca Virtual Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos alunos a distância: Pesquisa a publicações online www.unisul.br/textocompleto Acesso a bases de dados assinadas www. unisul.br/bdassinadas Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas www.unisul.br/bdgratuitas Acesso a jornais e revistas on-line www. unisul.br/periodicos Empréstimo de livros www. unisul.br/emprestimos Escaneamento de parte de obra* Acesse a página da Biblioteca Virtual da Unisul, disponível no EVA e explore seus recursos digitais. Qualquer dúvida escreva para [email protected] * Se você optar por escaneamento de parte do livro, será lhe enviado o sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei 9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.