Condições Atmosféricas e Segurança 3 Condições Atmosféricas e Segurança As condições meteorológicas são de grande importância para os sistemas FSO porque eles utilizam a atmosfera, sujeita a todas as variações climáticas, como meio de transmissão óptico. É conhecido que alguns fatores têm sua contribuição bastante reduzida nas flutuações e degradação dos sinais do enlace, por outro lado, conforme demonstrado anteriormente, outras condições meteorológicas podem representar o sucesso ou a indisponibilidade temporária do enlace, mesmo que se apresentem em separado e isoladas de outras condições PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA disponíveis. Por exemplo, esse é o caso da neblina ou dos aerossóis, onde os tamanhos das partículas envolvidos geralmente são de uma dimensão nada desejável no enlace, além de conterem densidades, quantidades e duração totalmente aleatórias. Dentro destas condições meteorológicas que afetam os sinais do enlace podemos citar, por exemplo, as chuvas, o nevoeiro, a névoa e neblina, a neve, a umidade relativa do ar, as diferenças de temperatura e pressão, poluição, entre outros, que podem afetar o enlace tanto por absorção como por espalhamento da luz. 3.1. Chuva A chuva tem um impacto de reduzir a dinâmica dos sistemas FSO, embora sua contribuição seja significativamente menor do que se apresenta, por exemplo, em condições de nevoeiro nos comprimentos de onda do infravermelho próximo. Dependendo de sua intensidade e densidade, pode degradar mais os sinais nos comprimentos de onda onde a absorção por H2O é alta, como em janelas do infravermelho distante. Isto se dá porque o raio dos gotas de chuva (25-4000 µm) são significativamente maiores do que o comprimento de onda das fontes de luz típicas em FSO. Embora no Brasil, que é um país tropical, os níveis de chuva sejam um pouco mais acentuados do que na maioria do mundo, os valores típicos da atenuação por chuva são moderados na natureza. Por exemplo, para chuvas de Condições Atmosféricas e Segurança 69 25 mm/h, uma atenuação do sinal de 6 dB/km pode ser observada. Conseqüentemente, os sistemas comercialmente disponíveis de FSO que operam com uma margem do enlace de no mínimo 25 dB (necessário para nevoeiro, por exemplo) podem penetrar em chuvas muito densas. Este é o caso especial quando os sistemas são instalados nas áreas metropolitanas onde as distâncias são tipicamente menores que 1 Km. Assim, quando a taxa da precipitação aumenta drasticamente, além do nível de temporal (> 120 mm/h), a atenuação da chuva pode ser preocupante. Entretanto, este tipo de temporal não dura por um período de tempo longo (da ordem de minutos). Um ponto interessante que deve ser observado, é que as tecnologias sem fio de rádio freqüência que utilizam freqüências acima de 10 gigahertz estão seriamente comprometidas pela chuva e pouco afetadas pelo nevoeiro. Isto se dá pela menor imunidade do comprimento de onda da rádio freqüência em relação ao raio das gotas de chuva, onde ambos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA são maiores do que as gotas do vapor d’água no nevoeiro [36]. 3.2. Nevoeiro e Poluição As partículas em suspensão na atmosfera também são capazes de absorver e/ou dispersar a radiação solar. Seu efeito é notável quando associado a fenômenos da intensidade de uma queimada em florestas, ou das cinzas expelidas por uma erupção vulcânica. O nevoeiro é o fenômeno o mais prejudicial do tempo ao sistema FSO porque é composta de gotas pequenas de água com raios de dimensões idênticas aos dos comprimentos de onda do infravermelho próximo e médio. A distribuição do tamanho da partícula varia para graus diferentes de nevoeiro. As condições do tempo onde as visibilidades variam entre 0 a 2.000 metros são chamadas tipicamente como névoa ou nevoeiro. Como as características do nevoeiro são um tanto difíceis de descrever por meios físicos, as palavras muito utilizadas tais como denso ou fino são usadas a um grosso modo para caracterizar e generalizar a aparência do nevoeiro. Quando a visibilidade é de mais de 2.000 metros, esta condição é normalmente denominada como neblina. A tabela 1 relaciona a visibilidade com as diferentes condições de nevoeiro. O espalhamento é o mecanismo dominante da perda de sinal por nevoeiro, mesmo Condições Atmosféricas e Segurança 70 as condições mais modestas de nevoeiro podem atenuar muito o sinal e diminuir drasticamente as distâncias. A atenuação prevista no enlace em dB/km e em sua correlação com a visibilidade é mostrada na tabela 1. A tabela também ilustra claramente que a chuva tem muito menos impacto em sistemas FSO do que o nevoeiro em relação as perdas de potência. Por exemplo, um temporal no meio do enlace resulta em menos atenuação do que um nevoeiro fino [37]. Tabela 1 – Códigos de visibilidade internacional para as condições do tempo e precipitação [37]. Condição do tempo Nevoeiro Denso Nevoeiro Grosso Nevoeiro PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA Nevoeiro moderado Nevoeiro fino Neblina Neblina fina Limpo Precipitação mm/h Visibilidade Neve Neve Temporal Neve Chuva Pesada Neve Chuva Média Neve Chuva Fina Neve Garoa Muito Limpo 100 25 12,5 2,5 0,25 0 m, 50 m 200 m 500 m 770 m 1 Km 1,9 Km 2 Km 2,8 Km 4 Km 5,9 Km 10 Km 18,1 Km 20 Km 23 Km 50 Km Perda dB/km -271,65 -59,57 -20,99 -12,65 -9,26 -4,22 -3,96 -2,58 -1,62 -0,96 -0,44 -0,24 -0,22 -0,19 -0,06 O nevoeiro ainda não é bem compreendido e é muito difícil caracterizar fisicamente, desta forma, ainda há bastante discussões sobre suas características e propriedades de transmissão dos sinais ópticos. Embora a visibilidade seja usada geralmente para caracterizar circunstâncias nevoeiras, outros métodos tais como medidas do tamanho e da densidade das partículas foram desenvolvidos para descrever estas condições de nevoeiro de uma maneira mais quantitativa. Os sistemas FSO usam principalmente dados de visibilidade porque estas medidas foram feitas principalmente em aeroportos durante muitas décadas. Estas medidas permitem que se caracterize regiões diferentes e se desenvolva estatísticas da disponibilidade para sistemas FSO. Entretanto, a maioria dos dados foi calculada com a média de pouco tempo, no geral, a definição temporal destes dados não é muito elevada. Mesmo porque, os ambientes tais como lagoas ou rios podem induzir circunstâncias nevoeiras. Condições Atmosféricas e Segurança 71 O nevoeiro pode ser descrito como uma nuvem de gotas pequenas de água perto do nível da terra que é suficientemente denso para reduzir a visibilidade horizontal a menos de 2.000 m. As palavras nevoeiro e névoa também são usadas para definir as nuvens de partículas de fumaça, as partículas de gelo ou a mistura destes componentes. O nevoeiro é formado pela condensação do vapor d’água em suspensão que está sempre presente no ar, assim ela resulta do processo quando a umidade relativa do ar excede a saturação por uma fração de 1%. No ar altamente poluído as partículas podem crescer suficientemente para causar o nevoeiro em umidades relativas de 95% ou menores. O crescimento das gotas pode ser ajudado pela absorção de determinados gases solúveis, com atenção especial ao dióxido de enxofre formando o ácido sulfúrico diluído. Três processos podem aumentar a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA umidade relativa do ar, que podem ser: - Refrigerar o ar pela expansão adiabática; - Misturar duas correntes de ar úmidas com temperaturas diferentes - Refrigerar diretamente o ar por radiação. O primeiro processo, que é refrigeração por expansão adiabática, é responsável pela formação das nuvens e faz parte também da formação do nevoeiro de subida de inclinação (upslope fog) que é formado pela subida forçada do ar úmido por um dos lados dos montes e montanhas. O segundo processo, misturando duas correntes de ar úmidas, é manifestado quando o ar que está em contato com a terra é atingido por aquele que se desloca na superfície da água e que tem a temperatura diferente para causar o resfriamento da outra massa de ar. O nevoeiro mais estável ocorre quando a superfície da terra está mais fria do que o ar acima, isto é, na presença de uma inversão da temperatura. O nevoeiro também pode ocorrer quando o ar frio se move sobre uma superfície molhada mais quente e torna-se saturado pela evaporação da umidade da superfície subjacente. As correntes de convecção, entretanto, tendem a carregar o nevoeiro para cima quando ele é formado, e parece levantar-se como o vapor ou o fumaça da superfície molhada. Normalmente o nevoeiro é classificado dentro de dois grupos, que são o nevoeiro de advecção (formado pelo ar frio que passa sobre uma superfície ainda mais fria), típico de regiões litorâneas, e do nevoeiro radiativo (formado pela refrigeração radiativa da superfície da terra abaixo do ponto de orvalho), Condições Atmosféricas e Segurança 72 encontrado em regiões ilhadas. Nevoeiro de advecção contem um número maior de gotas grandes de água e um índice de água líquida geralmente mais elevado do que o nevoeiro radiativo [38,39]. Quando o tamanho de uma partícula do nevoeiro, da nuvem, da chuva, da poeira, etc. é comparável ao comprimento de onda do sinal incidente, a fase da onda não é uniforme sobre a partícula. Estas diferenças de fase causam espalhamentos Mie da energia da luz. O nevoeiro de advecção é formado pela passagem lenta do ar relativamente morno, úmido e estável sobre uma superfície molhada mais fria. É comum nas regiões próximas ao mar, onde sempre que as correntes frias e mornas do oceano estão se misturando podem afetar as costas adjacentes. Também pode ocorrer sobre a terra, especialmente no inverno, quando o ar morno funde sobre a superfície gelada da terra. O nevoeiro de advecção ocorre mais facilmente com PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA ventos de aproximadamente 5 m/s, suficientemente leve para manter uma diferença de temperatura entre o ar e a superfície da terra e não forte bastante para produzir espalhamento por turbulência da atmosfera. O nevoeiro de advecção típico estende-se até alturas de algumas centenas de metros e ocorre às vezes também junto com o nevoeiro de radiação. O nevoeiro de radiação se forma em cima da terra nas noites de céu limpo e calmo, em que a perda de calor por radiação refrigera a terra e o ar abaixo da temperatura do ponto de orvalho em altitudes de poucos metros. Uma vez que o nevoeiro denso se formou, o alto do nevoeiro substitui a terra como a superfície eficaz de refrigeração por radiação, e o nevoeiro aumenta progressivamente na profundidade por muito tempo enquanto existir ar suficientemente úmido acima dele. O desenvolvimento de uma inversão forte da temperatura tende a estabilizar o nevoeiro e a suprimir os movimentos do ar, mas se for lento, os movimentos da turbulência estarão presentes e são provavelmente importantes para manter o nevoeiro, pois fazem a substituição do ar nas camadas mais baixas. Foi realizado um estudo da influência do terreno e os ventos locais na formação do nevoeiro que usa uma predição numérica de modelagem do tempo para simular o desenvolvimento do nevoeiro em Perth, Austrália [40]. Os aspectos principais de seu modelo de nevoeiro eram a necessidade de parametrizar a difusão vertical, incorporar a radiação das ondas longas e incorporar efeitos da radiação das ondas curtas. Os fenômenos do processo de desenvolvimento do Condições Atmosféricas e Segurança 73 nevoeiro mostraram que ele era produzido após a passagem de uma frente fria ou costeira associada quase sempre com um vento leve e uma umidade relativa do ar elevada. Estas circunstâncias restringem o transporte da umidade através da turbulência. Em locais de vales, o aparecimento de ventos noturnos pode ter um impacto considerável na formulação do nevoeiro de radiação. A importância da circulação local do vento nas simulações levanta perguntas sobre mecanismos da formação do nevoeiro de radiação em outras áreas que não apresentem este fenômeno. Sabemos que o de radiação se forma freqüentemente nas regiões mais baixas e que este está atribuído geralmente à presença da umidade do ar. O nevoeiro de inversão é formado em conseqüência de uma extensão descendente de uma camada de nuvens stratus, situada abaixo da base do nível baixo de inversão de temperatura. São particularmente prevalecentes fora das costas ocidentais em regiões tropicais durante o verão, quando os ventos se PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA fundem para o equador e causam o aparecimento da água mais fria ao longo da costa. O ar que passa sobre a água fria se torna refrigerado, aumentando a umidade relativa do ar e se tornando preso sob a inversão. Refrigerado subseqüentemente a noite pode então causar uma camada de nuvens stratus para se movimentar para baixo em direção a terra para formar um nevoeiro de inversão. O nevoeiro frontal se forma perto de uma frente fria quando as gotas de chuva, caindo do ar acima de uma superfície relativamente morna, evaporam em um ar mais fresco perto da superfície da terra e fazem com que se torne saturado. Quando a temperatura de ar cai abaixo de 0º C as gotas do nevoeiro tornamse super-resfriadas. Em temperaturas entre 0º C e – 10º C, somente uma proporção pequena das gotas congela, e o nevoeiro é composto principalmente ou inteiramente de água no estado líquido. Em temperaturas mais baixas mais gotas ou todas congelam com aproximadamente – 35º C e certamente abaixo de – 40º C, o nevoeiro é composto inteiramente de cristais de gelo. A visibilidade de um nevoeiro formado de cristais de gelo é consideravelmente pior do que aquela em um nevoeiro contém a mesma concentração de água condensada. Embora seja conveniente classificar o nevoeiro de acordo com os processos físicos que produzem a saturação do ar, é difícil aplicar tal definição. Por exemplo, múltiplos processos podem agir ao mesmo tempo para produzir um nevoeiro. A importância relativa de cada processo varia de caso a caso e com o tempo na hora da formação. Provavelmente dois nevoeiros na mesma região não Condições Atmosféricas e Segurança 74 sejam formados exatamente pela mesma combinação dos fatores, este é um fato que faz com que prever a formação e dispersão do nevoeiro muito difícil. A tabela 2 mostra uma outra classificação também internacional de nebulosidades em função apenas das condições de visibilidade, onde esta classificação é apresentada de forma bastante genérica em relação as condições de formação, persistência e dissipação dos diferentes tipos de nevoeiros. Como podemos observar anteriormente, onde estes fenômenos são altamente importantes para a determinação da densidade em função dos tamanhos das partículas. Tabela 2 – Classificação internacional de visibilidade para diferentes nebulosidades [41]. VISIBILIDADE PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA Menor 40 m 40 – 200 m 200 – 1000 m 1 – 2 Km 2 – 4 Km 4 – 10 Km 10 – 40 Km Acima 40 Km DESCRIÇÃO Nevoeiro Denso Nevoeiro Grosso Nevoeiro Neblina (água) Névoa (fumaça) Visibilidade Pobre Visibilidade Moderada Visibilidade Boa Visibilidade excelente Embora a atmosfera seja opaca acima do espectro do infravermelho até as ondas milimétricas, existem diversas janelas de baixa atenuação onde podemos trabalhar com a propagação de sinais. As figuras 28 e 29 mostram as simulações das janelas de transmissão atmosféricas em função do comprimento de onda para nevoeiro radiativo e de advecção, respectivamente [41]. O modelo padrão de nevoeiros desenvolvido pela Air Force Office of Scientific Research (AFOSR), referenciado como nevoeiro 1 (nevoeiro de advecção, com a visibilidade igual a 0,2 Km) e nevoeiro 2, (nevoeiro radiativo, com visibilidade igual a 0,5 Km) foram usados para gerar estes gráficos. Cada espectro é composto de muitas simulações de MODTRAN [42] (um software desenvolvido por este laboratório para simular as condições atmosféricas de propagação das ondas eletromagnéticas), para através de diversas médias melhorar a resolução da resposta obtida. Nestes modelos da simulação, foi observado que as janelas de transmissão são extremamente sensíveis às pequenas mudanças na quantidade de água do nevoeiro. Condições Atmosféricas e Segurança 75 Figura 28 – Transmissão atmosférica com nevoeiro radiativo de média densidade, visibilidade de 100 m em um enlace com 50 m. É importante salientar que estes dados representam composições atmosféricas típicas simuladas dentro das limitações dos espalhamentos da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA simulação do software, desta forma, a atenuação real nas condições de nevoeiro encontrado em uma estrada ou região metropolitana pode diferenciar bastante deste resultado obtido, devido às variações na composição e na distribuição heterogênea do nevoeiro real. Figura 29 – Transmissão atmosférica com nevoeiro de advecção de média densidade, visibilidade de 100 m em um enlace com 50 m. Este nevoeiro de radiação é conhecido como o nevoeiro comum dos vales, formado quando a temperatura do ar parado cai abaixo do ponto de orvalho. Tais efeitos ocorrem freqüentemente quando o calor da terra é perdido por radiação para ambiente. O nevoeiro radiativo é imprevisível e transiente e desta forma são um fator significativo em complicado de ser previsto no projeto de sistemas de transmissões ópticas de dados em espaço livre. Condições Atmosféricas e Segurança 76 As características do nevoeiro de advecção são comuns em áreas litorâneas ou montanhosas. É distinguido do nevoeiro de radiação porque o vento é que transporta o ar úmido e as gotas subseqüentes causadas pela diferença de temperatura da mistura com o ar mais frio e de mudanças de altitude. O nevoeiro de advecção também é considerado transiente, porém seu aparecimento é mais previsível e os efeitos na propagação da luz no infravermelho distante são maiores. 3.3. Nuvens As nuvens constituem uma das primeiras manifestações visíveis de possíveis alterações das condições meteorológicas, apresentando-se em formas que prenunciam desde a ausência de chuvas nas próximas horas ou até estados PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA mais severos, como tempestades e elementos associados (granizo, raios, ventos fortes). As nuvens são suspensões de gotículas ou de cristais de gelo. Como tais, podem ser consideradas como um aerossol concentrado no espaço. Suas partículas têm alto poder de reflexão, e no infravermelho próximo são bons absorvedores de radiação, principalmente a solar. Durante muito tempo, as nuvens foram consideradas estados muito mutáveis para serem classificadas, mas no início do século XIX foram colocadas em bases sistemáticas, mais condizentes com os métodos científicos que se estabeleciam. Os pioneiros nesse trabalho foram o farmacêutico inglês Luke Howard e o cientista francês Jean-Baptiste Lamarck, argumentando que mesmo sendo as nuvens estados consideravelmente mutáveis, eram governadas pelos mesmos mecanismos distintos que respondem pelas demais manifestações atmosféricas e seria então de grande valia para os meteorologistas a instituição de uma classificação sistemática das nuvens. Lamarck elaborou um sistema de classificação baseado em aspectos gerais, mas não ganhou uma aceitação tão generalizada quanto a nomenclatura de Howard, em que termos latinos são aplicados a cada um dos gêneros. A nomenclatura hoje aplicada às nuvens oficializou-se em uma conferência internacional de 1891, com base no sistema de Howard. No atual sistema de classificação, as nuvens são divididas em dez gêneros, cada um dos quais se subdividem em espécies que se diferenciam entre si. Os gêneros são agrupados em três estágios, correspondentes às nuvens altas, nuvens médias e nuvens baixas, e em um grupo de nuvens de Condições Atmosféricas e Segurança 77 desenvolvimento vertical, cuja grande extensão cobre alturas ocupadas por mais de um estágio [43,44]. As nuvens são hoje classificadas conforme a tabela 3. As nuvens variam continuamente de forma e tamanho, e são as grandes moduladoras da energia solar que chega ao sistema e também do sinal transmitido pela fonte óptica quando se desloca no meio do enlace. Considerando sua distribuição sobre o globo terrestre, elas provocam reflexão de 25 % a 30 % (em média) da radiação solar que chega a superfície. Tabela 3 – Classificação dos tipos básicos de nuvens. Família / altura Símbolo Tipos Básicos de Nuvens Tipo de Nuvem Características Cirrus (Ci) Nuvens Altas Cirrocumulus (Cc) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA (acima 6000 m) Cirrostratus (Cs) Altocumulus (Ac) Nuvens Médias (2000 – 6000 m) Altostratus (As) Stratocumulus (Sc) Nuvens Baixas (abaixo 2000 m) Nuvens com desenvolvimento vertical Nuvens finas, delicadas e fibrosas, formadas de cristais de gelo. Nuvens finas e brancas de cristais de gelo, na forma de ondas ou massas globulares em linhas. É a menos comum das nuvens altas. Camada fina de nuvens brancas de cristais de gelo que podem dar ao céu um aspecto leitoso. Às vezes produz halos em torno do sol ou da Lua Nuvens brancas a cinzas constituídas de glóbulos separados ou ondas. Camada uniforme branca ou cinza, que pode produzir precipitação muito leve. Nuvens cinzas em rolos ou formas globulares, que formam uma camada. Camada baixa, uniforme, cinza, parecida com nevoeiro, mas não baseada sobre o solo. Pode produzir chuvisco. Camada amorfa de nuvens cinza Nimbostratus (Ns) escuro. Uma das mais associadas à precipitação. Nuvens densas, com contornos salientes, ondulados e bases freqüentemente planas, com extensão Cumulus (Cu) vertical pequena ou moderada. Podem ocorrer isoladamente ou dispostas próximas umas das outras. Nuvens altas, algumas vezes espalhadas no topo de modo a formar Cumulonimbus (Cb) uma "bigorna". Associadas com chuvas fortes, raios, granizo e tornados. Stratus (St) Nimbostratus e Cumulonimbus são as nuvens responsáveis pela maior parte da precipitação. Condições Atmosféricas e Segurança 78 Nuvens Cirrus: nuvens de aspecto essencialmente filamentoso, conferindoas um aspecto de plumas ou cabelos esvoaçantes. Apresentam uma transparência característica, o que faz com que não se obscureçam ou obscureçam pouco quando vistas contra a luminosidade solar. A análise de seus movimentos revela a direção e a velocidade dos ventos em grandes alturas. As principais espécies são Cirrus fibratus, caracterizada por filamentos dispostos paralelamente ou de maneira irregular (Cirrus fibratus intortus), Cirrus uncinus, onde os elementos se curvam em forma de vírgula em uma das extremidades, Cirrus spissatus, de consistência mais compacta e espessa e, portanto, freqüentemente sombreada, e Cirrus floccus, formada por pequenos elementos que se organizam regularmente, às vezes deixando cavidades de céu claro bem definidas (Cirrus floccus lacunosus). Nuvens Cirrus freqüentemente prenunciam a aproximação de trovoadas, particularmente quando se estendem em Cirrostratus que por sua vez se adensam PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA em Altostratus, ou são resultantes da dissipação de nuvens Cumulonimbus que podem ter evoluído há horas, nesse caso denominando-se Cirrus cumulonimbogenitus. Uma curiosa formação é aquela em que os elementos se dispõem em forma sugestiva de espinha de peixe (Cirrus fibratus vertebratus), geralmente constituindo trilhas de condensação em estado avançado de degeneração [43,44]. Nuvens Cirrocumulus: gênero que se apresenta na maioria das vezes na forma de camadas relativamente pouco extensas, constituídas de elementos cumuliformes transparentes e de pouca largura, como referente à espécie Cirrocumulus stratiformis; caso os elementos encontrem-se mais apartados, denomina-se Cirrocumulus floccus. Um padrão particularmente interessante compreende um ou mais sistemas de ondulações orientadas de modo mais ou menos regular ao longo da camada, parecidas com escamas de peixe. A espécie Cirrocumulus castellanus é caracterizada por um desenvolvimento vertical maior de suas partes. Ao aparecimento de nuvens Cirrocumulus segue-se com freqüência a formação de Altocumulus (nebulosidade de nível médio), com elementos maiores, geralmente sombreados e formando camadas mais extensas, identificando movimentos verticais de ar nas camadas médias e altas da Troposfera [43,44]. Nuvens Cirrostratus: nebulosidade de nível alto caracterizada por camadas uniformes e transparentes bastante extensas, dispondo-se em dois aspectos Condições Atmosféricas e Segurança 79 principais: a espécie Cirrostratus fibratus aparece em camadas onde se pode visualizar fibras típicas de nuvens superiores, enquanto que Cirrostratus nebulosus apresenta-se como regiões surpreendentemente uniforme, conferindo ao céu um tom esbranquiçado. As camadas periféricas de Cirrostratus fibratus encerram elementos mais individualizados, evidenciando a necessidade de um critério para distinção entre Cirrus fibratus e a espécie em questão. Cirrostratus causam às vezes o fenômeno óptico de halo solar (e outros mais raros e espetaculares, como o Arco Circumzenital e o Círculo Paraélico) principalmente quando sob a forma de uma camada branca difusa (Cirrostratus nebulosus). Indicam freqüentemente mudanças drásticas no tempo, que se mostram como a nebulosidade, como o surgimento de nuvens Altostratus, mais densas, e a aproximação de trovoadas [43,44]. Nuvens Altocumulus: gênero que apresenta uma grande variedade de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA formas, constituintes de quatro espécies classificadas e estados transitórios e/ou híbridos. A espécie Altocumulus stratiformis compreende camadas freqüentemente extensas, compostas por elementos cumuliformes quase perfeitamente individualizados ou interligados por porções menos densas, com coloração não uniforme variando do branco-amarelado ao cinza-sombrio. Aplicase a nomenclatura Altocumulus stratiformis undulatus quando os elementos exibem uma disposição direcional evidente. A variedade perlucidus é bastante comum, observada no caso das partes arranjarem-se com presença de lacunas, pelas quais pode-se ver o Sol ou a Lua. Em alguns casos, a camada de nebulosidade não é suficientemente espessa para lançar sombras sobre a superfície, trata-se da variedade translucidus; o caso oposto, de uma camada contínua e opaca, identifica-se por Altocumulus stratiformis opacus, casualmente complementada por protuberâncias pendentes (Altocumulus stratiformis opacus mamma) [43,44]. A espécie Altocumulus floccus caracteriza-se por elementos mais apartados, de consistência semelhante aos elementos de Altocumulus stratiformis, ou particularmente mais difusos, às vezes apresentando precipitações que não atingem o solo (Altocumulus floccus virga). Condições específicas de clima e tempo, geralmente associadas a movimentos convectivos vigorosos nos níveis médios, favorecem a formação de estruturas em bases, dotadas de partes verticalmente mais desenvolvidas, mais evidentes quando vistas próximas ao Condições Atmosféricas e Segurança 80 horizonte, componentes de Altocumulus castellanus, muitas vezes ocorrendo em seguida tempestades severas. Em raras ocasiões, nuvens Altocumulus castellanus constituem a própria gênese de Cumulonimbus que exibem, então, bases situadas a uma altura superior à comumente vista. Uma última espécie, Altocumulus lenticularis, representa a mais intrigante das formas de Altocumulus. Constituem formações semi-estacionárias situadas nos topos de ondulações de correntes de ar que se desestabilizam por atrito sobre acidentes topográficos, geralmente representados por montanhas altas. Há registros de relatos de "objetos voadores não-identificados" provavelmente decorrentes dessas nuvens lenticulares, que de fato mostram contornos surpreendentemente nítidos, sobretudo em sua parte superior [43,44]. Nuvens Altostratus: nuvens em disposições laminares constituídas por uma estrutura fibrosa comumente regular e compacta. Apresentam coloração PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA acinzentada ou azulada, dependendo da hora do dia ou da distância do horizonte em que são visualizadas, que permitem ocasionalmente a passagem parcial e difusa da luz solar, como através de vidro fosco, de modo que o astro é visto sem nitidez. As camadas de Altostratus terminam quase sempre gradualmente, são bordejadas por formações cirrosas mais rarefeitas e esparsas do que no seio da camada, que lembram Cirrus spissatus. Prenunciam ou são resultantes de células de tempestade, no primeiro caso são regularmente antecedidas por nuvens Cirrostratus, que se distinguem daquelas por serem mais finas e pelo fenômeno óptico de halo solar, e se espessam gradualmente até que trovoadas antes escondidas atrás do horizonte se tornam visíveis, representadas por nuvens Cumulonimbus dificilmente distinguíveis. Quando evoluem do colapso das partes médias e altas de nuvens cumuliformes, exibem com freqüência protuberâncias pendentes (Altostratus mamma cumulonimbogenitus), resultantes de correntes descendentes de ar. Formações de Altocumulus podem estar presentes abaixo de uma camada de Altostratus. A precipitação mais ou menos contínua de chuva ou neve geralmente está associada a Altostratus ou Nimbostratus, estas últimas mais espessas e menos contínuas, mas ambas bloqueiam totalmente o Sol (Altostratus opacus) [43,44]. A figura 30 apresenta os tipos básicos de classificação visual das nuvens em função de sua altitude média, a família e o gênero que pertencem. Condições Atmosféricas e Segurança 81 Figura 30 – Classificação dos tipos básicos de nuvens na atmosfera. 3.4. Neve PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA Ao nível de Brasil, a neve é muito ocasional em algumas regiões e costuma cair em intervalos de tempo muito pequenos. Os flocos de neve são cristais de gelo que vêm em uma variedade de formas e de tamanhos. No geral, entretanto, a neve tende a causar mais atenuação que a chuva, devido as grandes dimensões das partículas em suspensão. As condições de whiteout, que é o fenômeno óptico nas regiões polares, onde os contornos ópticos são apagados e oblitera a orientação, podem atenuar muito o feixe no infravermelho, desta forma estes espalhamentos podem ser um grande problema para sistemas de FSO porque o tamanho dos flocos de neve é grande quando comparado ao comprimento de onda que se opera o sistema [32]. O impacto da neve na luz às condições de nevasca e do whiteout cai aproximadamente entre a chuva fina a nevoeiro moderado, com potenciais de atenuação do enlace de aproximadamente 3 a 30 dB/km. 3.5. Modelamento Atmosférico Modelar a atmosfera com todos os seus parâmetros é muito complicado, devido aos muitos fatores envolvidos, desde sua própria composição até sua não homogeneidade espacial, justificando, por exemplo, que diversos autores fazem suas simulações utilizando ferramentas computacionais idênticas, mas obtêm resultados finais muito diferentes. Podemos observar mais comumente duas linhas distintas hoje aceitas em simulações das condições de propagação atmosférica, Condições Atmosféricas e Segurança 82 que são o tratamento padrão e a utilização dos códigos MODTRAN [42]. O tratamento padrão nos dá uma idéia inicial do comportamento da atenuação da luz na atmosfera. Porém, as expressões analíticas para os espalhamentos Rayleigh e Mie são pouco flexíveis e não são adequadas para descrever satisfatoriamente a variabilidade apresentada pela atmosfera [45], onde a atenuação entre dois pontos ( x1, h1 ) e ( x2, h2 ) é dada por: ⎡ x − x2 ⎛ 400nm ⎞ 4 ⎤ TRayl = exp ⎢− 1 ⎜ ⎟ ⎥ x R ⎝ λ ⎠ ⎥⎦ ⎢⎣ ⎡ ⎛ h hM TMie = exp ⎢− . exp⎜⎜ − 1 ⎝ hM ⎣⎢ l M . cosθ ⎞ ⎛ h ⎟⎟ − exp⎜⎜ − 2 ⎠ ⎝ hM (30) ⎞⎤ ⎟⎟ ⎥ ⎠ ⎦⎥ (31) Onde as constantes xR e lM são os livres caminhos médios do espalhamento PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA Rayleigh e Mie e hM é a altura de escala dos aerosóis. A falta de flexibilidade do tratamento padrão se deve, em parte, por considerarmos xR, lM e hM como constantes, não levando em conta possíveis dependências com fatores como altitude, latitude e concentração das moléculas na atmosfera, por exemplo. Porém, mesmo considerando xR, lM e hM como funções desses fatores, ainda estaríamos deixando de lado as absorções, como aquelas devido ao ozônio. Já o tratamento segundo o código MODTRAN, que foi desenvolvido pelo governo norte-americano com finalidades civis e militares e é um programa largamente aceito pela comunidade de física da atmosfera, apresenta uma larga flexibilidade na definição da atmosfera a ser simulada, permitindo uma caracterização mais realista do perfil de aerosóis e da concentração dos diversos gases na atmosfera. Para gerar os coeficientes de atenuação utilizando o MODTRAN é necessário definir sua atmosfera, ou seja, determinar os parâmetros de entrada do programa que caracterizam melhor a atmosfera estudada. O programa apresenta diferentes possibilidades na configuração da atmosfera como: - Diferentes modelos de atmosfera, dependendo da latitude e estação do ano; - Possibilidade de entrar com dados experimentais e definir uma atmosfera particular, modificando os perfis, em altitude, da temperatura, pressão, vapor de água, O3, CH4, N2O, CO2, entre outros; - Possibilidade de definir os perfis de novas moléculas pesadas cujas seções de choque venham a ser medidas, como CFC's, ClONO2, HNO+, CCl+ ou N2O5; Condições Atmosféricas e Segurança 83 - Determinação dos coeficientes de transmissão utilizando espalhamento múltiplo ou simples; - Boa caracterização do perfil de aerosóis, dependendo de fatores como a altitude, estação do ano, tipo de terreno e umidade relativa; - Divisão e caracterização independente do perfil de aerosóis em três faixas: superficial (0 - 2 Km), troposfera (2 - 10 Km) e estratosfera (acima de 10 Km); - Diversos perfis de nuvens e chuvas; - Possibilidade de mudar a distância meteorológica padrão para uma dada atmosfera; - Incluir no cálculo a velocidade média diária dos ventos. Por todos esses motivos, este código MODTRAN é amplamente utilizado pela maioria dos autores em suas simulações, mas a grande quantidade de parâmetros livres que necessitam ser implementados nas simulações acaba por PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA originar resultados diferentes dependendo das condições locais aproximadas. 3.5.1. MODTRAN Espalhamentos múltiplos da radiação por nuvens e os aerossóis mais densos representam um componente significativo para a transmissão de sinais no espectro do visível e infravermelho. No MODTRAN menos recente, a simulação do espalhamento múltiplo não poderia variar com o azimute da linha de visada (LOS), embora um único componente do espalhamento da radiação fizesse análise da variação azimutal razoável, porém na nova versão agora foi incorporada a dependência do espalhamento múltiplo (MS) com a variação do azimute da LOS. Esta implementação foi realizada promovendo a união entre o MODTRAN e o DISORT [46], que é usado como uma sub-rotina do espalhamento múltiplo no MODTRAN. Além disso, esta versão melhorada do MODTRAN pode utilizar funções parametrizadas BRDFs (funções de distribuição bidirecionais da reflectância) para superfícies [47]. As medidas dos espectrômetros fornecem a informação sobre a atmosfera e a superfície da terra, bem como os dados para validar os códigos atmosféricos de radiação como o MODTRAN (Moderate resolution atmospheric transmittance and radiance code). Estes códigos foram desenvolvidos conjuntamente pela Condições Atmosféricas e Segurança 84 Spectral Sciences, Inc. e a Air Force Research Laboratory/Space Vehicles Directorate (AFRL/VS), para serem utilizados na análise dos dados de sensoriamento remoto e outras propagações de sinais ópticos na atmosfera devido a sua potencialidade de modelar eficientemente a emissão molecular, os espalhamentos da radiação por aerosóis e nuvens e a atenuação atmosférica. O MODTRAN usa uma atmosfera esférica simétrica, consistindo de camadas homogêneas, cada uma das camadas é caracterizada pela especificação do limite da temperatura, da pressão e das concentrações das partículas da atmosfera, utilizando a lei de Snell para a refração de uma linha de visada (LOS). Fazendo uma suposição razoável dos espalhamentos como aleatoriamente orientados, o único ângulo que afeta o espalhamento é o próprio ângulo do espalhamento. O primeiro evento de espalhamento é entre um fóton solar e a atmosfera, e este ângulo formado é aquele entre a LOS e a fonte externa. Este PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA ângulo varia com o azimute relativo da LOS e da fonte externa. A componente dos espalhamentos simples (SS) tem uma correlação mais forte e direta com este ângulo. A componente do MS, sendo resultado dos fótons espalhados diversas vezes, é menos dependente do azimute relativo. Não obstante, esta dependência é altamente importante, particularmente para os aerossóis onde o espalhamento é mais para o sentido da propagação [48]. 3.5.2. Simulações de Nevoeiros e Neblina Conforme foi comentado anteriormente, diferentes autores têm simulado enlaces FSO em diferentes comprimentos de onda e diferentes condições de nevoeiro e neblina e os resultados contrastantes obtidos em cada simulação com o mesmo software MODTRAN tem gerado uma grande discussão sobre as vantagens e desvantagens em se operar um sistema no comprimento de onda na janela de 10 mícrons. Como também foi visto, as características bastante flexíveis deste código de simulação amplamente utilizado nas simulações podem levar o programador a cometer erros, subestimar determinados fatores decisivos na propagação dos sinais, ou então até por interesses comerciais ou particulares manipular resultados nestes comprimentos de onda do infravermelho distante, alterando seu comportamento espacial, e assim mascarando os resultados reais. Condições Atmosféricas e Segurança 85 A seguir, para introduzir a discussão das vantagens e desvantagens dos sistemas FSO no infravermelho distante demonstramos as duas linhas de pesquisa obtidas através de simulações em publicações de diferentes autores. Os gráficos apresentados não são de nossa autoria e estão no formato original da publicação com suas respectivas referências e conclusões de seus autores. No primeiro caso, o autor compara a performance de diferentes comprimentos de onda sob condições de nevoeiro denso, mais especificamente, o nevoeiro típico primaveril da costa oeste dos Estados Unidos (West Coast Fog), classificado como nevoeiro de advecção, por sua composição e densidade conhecida. Para a simulação foram utilizados os cálculos do MODTRAN, onde salienta que a atenuação atmosférica típica é de aproximadamente 110 a 120 dB/Km e constante para os comprimentos de onda de 780 e 1550 nm. Nos comprimentos de onda maiores que 12 mícrons a taxa de atenuação por nevoeiro é PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA relativamente constante apenas com picos de absorção. Desta forma, não existem vantagens aparentes na utilização dos “mágicos” comprimentos de onda do infravermelho distante [49], conforme observado na figura 31. Figura 31 – Exemplo de cálculo do MODTRAN para a atenuação total da atmosfera para diferentes comprimentos de onda em condições de nevoeiro de advecção [49]. Condições Atmosféricas e Segurança 86 Em uma simulação de diferentes modelos de distribuição de nevoeiros, mostra-se que em geral, existe uma ressonância principalmente quando ocorre a transmissão dos sinais ópticos no comprimento de onda equivalente ao raio da maioria das partículas em suspensão. Desta forma, como foi mencionado anteriormente, o infravermelho distante não tem vantagens em relação aos comprimentos de onda dos enlaces comerciais, como pode ser observado na figura PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA 32 [50]. Figura 32 – Atenuação por espalhamento Mie em dB/km para várias distribuições de nevoeiro [50]. O espalhamento da radiação pela seção transversal de uma partícula esférica de raio r e índice de refração n fica em uma de três regiões demonstradas na figura 33, dependendo do comprimento de onda relativo ao raio. Na região geométrica onde o comprimento de onda é muito menor do que o raio da partícula, o espalhamento da seção transversal é aproximadamente 2.π.r2, sendo uniforme para as partículas de mesmo índice de refração muito perto daquele do meio de propagação. Para os comprimentos de onda muito maiores do que este raio, o espalhamento fica na região de Rayleigh e diminui rapidamente com os comprimentos de onda mais longos. E na região onde o comprimento de onda e o raio são similares, há uma região de ressonância onde a correlação do comprimento de onda e do espalhamento é mais complicada [51]. Condições Atmosféricas e Segurança 87 Figura 33 – Exemplo do espalhamento da seção transversal em função do comprimento de onda para partículas de raio médio de 5 mícrons [51]. No segundo caso, assim como foram apresentadas anteriormente, as simulações e conclusões foram elaboradas pelos autores e são demonstradas na PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA forma original, simulando também esse comportamento da transmissão atmosférica em função do comprimento de onda utilizando MODTRAN e também um software proprietário que utiliza os mesmos códigos de programação, porém com resultados opostos ao primeiro caso. Para estas simulações, o aerossol inclui partículas resultantes da condensação do vapor de água, com suas propriedades físicas e químicas específicas. As partículas com diâmetro médio até 1 mícrons, são responsáveis pelos espalhamentos dos raios visíveis e do infravermelho próximo. Este é um fenômeno que pertence ao modelo bimodal da distribuição da gota da água. Enquanto a umidade relativa aumenta, as partículas do aerossol vêm gradualmente se tornando gotas de nuvens, de nevoeiro ou de gelo. Na figura 34 podemos observar a distribuição típica das concentrações de partículas de nevoeiros de regiões marítimas e continentais [52]. Figura 34 – Exemplo de concentração típica de partículas sob nevoeiro em regiões marítimas e continentais [52]. Condições Atmosféricas e Segurança 88 Utilizando estas distribuições típicas para os dois nevoeiros, podemos verificar na figura 35 os resultados das atenuações por espalhamentos em função da correlação do tamanho médio das partículas e o comprimento de onda do sinal (r2*Qscatt(x)) versus o diâmetro médio das partículas, para os comprimentos de onda de 550, 1500, 3000, 5000 e 10000 nm. É evidente que para partículas de nevoeiro menores do que 5 mícrons de diâmetro, os sinais na janela de transmissão de 10 mícrons é o menos afetado, mas se torna também afetado por PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA partículas dos diâmetros maiores que 10 mícrons [52]. Figura 35 – Atenuações por espalhamentos correlacionados pelo tamanho médio das partículas e comprimento de onda do sinal (r2*Qscatt(x)) versus o diâmetro médio das partículas 2r [52]. As simulações da figura 36 foram realizadas com um software proprietário chamado SimulightTM [53,54] desenvolvido pela empresa UlmTech e que utiliza os códigos reconhecidos do software MODTRAN para modelar a atmosfera em condições claras, de chuva, nevoeiros diversos e neve. Utilizando a distribuição bimodal da gota do nevoeiro para condições muito baixas das visibilidades, podemos observar as atenuações mais baixas no comprimento de onda de 10 µm comparado aos comprimentos de onda mais curtos. Nesta figura os pontos escolhidos na simulação foram utilizados como referência para comparar com o estudo experimental em laboratório de Arnulf et al [55]. Condições Atmosféricas e Segurança 89 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA (a) (b) Figura 36 – Atenuação através do (a) Nevoeiro Seletivo e (b) Nevoeiro Estável [52]. O método de modelar a atenuação produzida pelo nevoeiro deve tratar nuvens, nevoeiro, e neblina como gotas esféricas de água utilizando a teoria do espalhamento Mie para simular os coeficientes do espalhamento e os parâmetros assimétricos. O diâmetro das gotas nas nuvens, na neblina, e no nevoeiro são da escala de 0,1 a 100 µm, densidades de 1 cm-3 a 103 cm-3. As conclusões são de que a extinção é pequena quando o diâmetro da gota é muito menor do que o comprimento de onda do sinal transmitido. O coeficiente de extinção alcança um Condições Atmosféricas e Segurança 90 valor máximo quando o diâmetro da gota de água se iguala a 16 µm. O coeficiente de espalhamento para trás flutua quando o diâmetro fica em torno de 3,8 µm (implicação para os radares laser de 10,6 µm) [45]. Quando as gotas forem pequenas (diâmetro ≤ 1 µm), a absorção domina com o espalhamento, igualando à relação do coeficiente de espalhamento ao coeficiente da extinção, também pequeno. (o coeficiente da extinção é a soma da absorção e dos coeficientes de espalhamento). Quando as gotas se tornam maiores, o espalhamento é mais importante. Quando o tamanho e a densidade da gota forem grandes o bastante (em algum valor maior que 5 µm), ocorre o espalhamento múltiplo, como em nuvens grossas ou no nevoeiro pesado [45]. Através desta comparação de diferentes autores e seus respectivos resultados podemos observar esta discussão sobre as reais vantagens ou PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA desvantagens de se utilizar a janela de transmissão de 10 mícrons para os sistemas FSO. Conforme pode ser observado, cada simulação é defendida por seus autores com referências e leis de propagação da luz reais e estabelecidas, e de acordo com a grande flexibilidade dos parâmetros livres que os softwares contém e principalmente, a falta de padronização sobre qual nevoeiro está sendo observado estes espalhamentos. Criou-se então a necessidade de realizarmos um experimento prático nestas condições de propagação para tentar compreender melhor e de forma mais clara este assunto. 3.5.3. Simulações de Chuva Da mesma forma que as simulações de atenuação dos feixes no infravermelho para as condições de nevoeiro podemos observar que no tratamento das atenuações por chuva também existe uma certa discussão sobre seus reais efeitos, principalmente nos comprimentos de onda do infravermelho distante. Diferentes autores defendem diferentes pontos de vista e condições específicas de chuva simulada, e com a grande flexibilidade de parâmetros que podem ser introduzidos nos softwares de simulação os resultados obtidos geralmente apresentam respostas diferentes. A grande maioria dos autores defende a teoria de que a atenuação por chuva em todo o espectro do infravermelho é constante, ou seja, independe do Condições Atmosféricas e Segurança 91 comprimento de onda do feixe, como podemos observar pela teoria proposta, onde o espalhamento devido a chuva é considerado um espalhamento não seletivo, visto que o tamanho da gota é muito maior do que os comprimentos de onda do infravermelho. Em 1920, Preston [56] afirmou que a atenuação da potência pela chuva é proporcional somente ao número de gotas que caem em uma área unitária da superfície da terra por segundo. Devemos considerar as seguintes notações: - Za é a taxa de precipitação (cm/s) de um tamanho de gota de raio a (mm); - Na é o número de gotas de raio a em cm3 de densidade da água ρ=1g/cm3. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA - As gotas muito pequenas de chuva obedecem a lei de Stokes que limita a velocidade Va. Va = 2.a.ρ .g = 1,2.10 6.a 2 9.η (32) Onde a constante gravitacional é g = 980 cm/s2 e a viscosidade do ar é η = 1,8.10-4 g/cm/s. Da eq. (32), nós deduzimos que ρ Za gramas de água por cm por segundo e o número de gotas em Va cm3 são dados pela eq. (33) [57]: Xa = Za 4 π .a 3 3 (33) Assim, diretamente temos o número de gotas de raio a em um volume unitário: Na = Xa Va (34) Como a eq. (32) é derivada do teorema de Stokes, generalizando estes resultados para as gotas de maior tamanho, não temos uma boa exatidão sem medidas experimentais apropriadas. Medidas da velocidade da queda das gotas de chuva de tamanhos diferentes são apresentados na tabela 4 [58]: Condições Atmosféricas e Segurança 92 Tabela 4 – Velocidade das gotas da chuva em função do seu diâmetro médio [58]. Tamanho da Gota (mm) Velocidade (m/s) D ≤ 0,075 mm 28.D2 0,075 < D ≤ 0,5 mm 4,5.D – 0,18 0,5 < D ≤ 1,0 mm 4,0.D + 0,07 1,0 < D ≤ 3,6 mm -0,425.D2 + 3,695.D + 0,8 Onde D é o diâmetro da gota. A velocidade da queda de gotas muito pequenas é proporcional ao quadrado do diâmetro como na eq. (32). Quando convertemos esta equação às unidades da queda das gotas da chuva em m/s, Va = 32,5 D2 m/s. Esta constante geral é ligeiramente diferente daquela da tabela por causa das impurezas no ar. Para simular o coeficiente de espalhamento da chuva, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA precisamos determinar o Na da função de distribuição das gotas da chuva. No caso do software SimulightTM, ele utiliza a forma mais geral de distribuição de tamanhos das gotas de chuva dada por Weibull [59]: ⎛ a⎞ N N a = T ϕ (n)n⎜⎜ ⎟⎟ ao .Va ⎝ ao ⎠ n −1 e ⎛ a −ϕ ( n ) ⎜⎜ ⎝ ao ⎞ ⎟ ⎟ ⎠ n (35) Com: ao = d (Z a ) e − cza b ( , ϕ ( n) = Γ n 1 + 1 n ) (36) Os parâmetros d, b, c, e n são derivados das medidas experimentais de diferentes condições de chuva. A chuva mais comum tem os seguintes valores de parâmetros: d = 0,941, b = 0,336, c = 0,471 10-2 e n = 3. A constante NT representa o número total de gotas de chuva de todos os tamanhos no volume unitário, e é introduzido no software como a taxa total de precipitação da seguinte forma: ( Z = Σ Z a = Σ N aVa 4 πa 3 3 a a ) (37) Sabendo que as gotas de chuva têm um raio entre 0,01 e 1 milímetros com concentração entre 10-2 e 10-5 por cm3, nós podemos supor que as gotas de chuva não estão sobrepostos. Conseqüentemente, o coeficiente de espalhamento total pela chuva pode ser obtido da eq. (38) [58]: Condições Atmosféricas e Segurança β Chuva scatt ⎛a⎞ = ∑ π .a 2 .N a.Qscatt ⎜ ⎟ ⎝λ⎠ a 93 (38) Onde, Qscatt é a eficiência do espalhamento. Esta metodologia aplicada na simulação apresenta resultados de atenuações por espalhamentos das gotas de chuva praticamente iguais para todos os comprimentos de onda do infravermelho, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA conforme pode ser observado nos gráficos apresentados na figura 37: Figura 37 – Simulação da atenuação dos sinais ópticos no infravermelho provocado por chuva, demonstrando o espalhamento não-seletivo, independente do comprimento de onda do sinal [58]. Diversas simulações, levando em consideração os espalhamentos como não seletivos para todos os comprimentos de onda, e os absorvedores naturais em suspensão na atmosfera, demonstram como conclusão que esta atenuação dos sinais é realmente independente do comprimento de onda para todos os tipos de chuvas, modificando a atenuação conforme a intensidade total da chuva [60]. Figura 38 – Atenuação por chuva em diferentes comprimentos de onda e diferentes taxas de precipitação [60]. Condições Atmosféricas e Segurança 94 Por outro lado, existem simulações, que utilizando um espectro maior, do infravermelho as ondas sub-milimétricas, por exemplo, demonstram que nos comprimentos de onda mais altos, igualmente as microondas, também sofrem uma maior atenuação de sua intensidade quando estão sujeitos a grandes densidades de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA chuva, ficando mais linear quanto menor a quantidade de chuva registrada [61]. Figura 39 – Atenuação atmosférica em função do comprimento de onda do sinal e da intensidade média do nevoeiro (superior) e chuva (inferior), onde nota-se no caso da chuva, assim como em microondas, uma dependência da atenuação com o comprimento de onda transmitido, principalmente em condições de chuva mais forte [61]. Nesta simulação, podemos notar que em condições de chuva extrema, a diferença de atenuação entre os comprimentos de onda de 1 mícron e 10 mícrons chega a 10 dB, com vantagem para os comprimentos de onda ainda mais baixos. Para definir melhor as verdadeiras características de propagação das diferentes janelas do infravermelho em condições de chuva, fizemos um experimento prático com uma nova configuração dos enlaces, otimizada para medir a transmissão dos sinais no infravermelho próximo, médio e distante com mais eficácia e assim determinar com mais exatidão a dependência ou não do comprimento de onda do sinal na atenuação por chuva e garoa. Condições Atmosféricas e Segurança 95 3.6. Visibilidade Por definição, visibilidade em meteorologia significa registrar a dinâmica da atmosfera livre, em função de uma distância, dada pela evolução das condições do tempo, através de ventos, de altitude, umidade, estabilidade, turbulência, etc. Na prática de observações atmosféricas, é a maior distância, numa direção dada, em que é possível ver e identificar a olho nu durante o dia, um objeto proeminente e escuro contra o céu, no horizonte e à noite, uma fonte de luz conhecida, moderadamente intensa e, preferencialmente, sem foco. Este conceito é amplamente utilizado em aplicações que necessitem caracterizar as condições de propagação no espectro do visível através da atmosfera, por esse motivo sua aplicação em aeroportos, para auxiliar pilotos na PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA navegação sem instrumentos (visual), em estradas para definir as condições de periculosidade de trechos sob neblina ou chuva ou para a monitoração de poluição em ambientes ao ar livre são satisfatoriamente boas. Assim como para a visão humana, as visibilidades mais baixas diminuem a eficácia e a disponibilidade dos sistemas FSO. As estatísticas das observações em longos períodos de tempo mostram que algumas cidades, tais como Petrópolis-RJ, têm predominância de visibilidades médias mais baixas do que cidades como o Rio de Janeiro - RJ. Isto significa que para a mesma distância, o mesmo sistema FSO no Rio de Janeiro experimentará uma disponibilidade mais elevada do que um sistema instalado em Petrópolis. Utilizando estes dados estatísticos, podemos observar que as condições de baixa visibilidade costumam ocorrer em estações ou períodos relativamente conhecidos dentro de um ano ou em horas específicas do dia (como nas primeiras horas da manhã). Especialmente em áreas litorâneas, a visibilidade baixa pode ser de fenômenos localizados (nevoeiro litorâneo) da mesma forma que em regiões de maior altitude podemos observar o aparecimento do nevoeiro de inclinação (upslope). A medida de visibilidade é de grande importância para correlacionar com sistemas FSO porque ela contempla a maioria dos fenômenos existentes no meio de propagação e que podem afetar o feixe emitido de forma generalizada, como vapor d’água, monóxido de carbono, fuligem, poeira, etc. Algumas vezes, dependendo das condições do local, a única solução contra o impacto negativo da baixa visibilidade em um sistema FSO é diminuir a distância entre terminais Condições Atmosféricas e Segurança 96 transceptores para manter uma figura estatística boa de disponibilidade, desta forma conseguindo uma margem maior para operação do enlace para assegurar sua conexão em condições de tempo ruins tais como com nevoeiro denso. A operação redundante do enlace pode melhorar a disponibilidade se a visibilidade for muito limitada em um local. A visibilidade baixa e os coeficientes de espalhamento elevados associados são os fatores limites para desdobrar distâncias mais longas dos sistemas de FSO. 3.7. Outros Fatores que afetam o FSO Em uma escala de menor impacto no enlace, podemos ainda observar a reflexão da luz solar na superfície da terra ou estruturas próximas, a qual uma PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA parte dessa energia também pode vir a ser acoplada na óptica do receptor e detectada pelo sistema variando o nível geral de background dos detectores durante o dia, causando flutuações dependendo da posição do sol. A radiação solar que consegue chegar à superfície da terra poderá ser absorvida pelo solo, na medida em que este tenha pouca refletância (inferior a 10 %). Uma superfície vegetada á bastante absorvente no visível. Isto é devido à clorofila, que absorve especialmente no azul, laranja e vermelho, e como absorve menos no verde, este é mais refletido, tornando a vegetação esverdeada. Já no infravermelho próximo, nossos olhos não percebem, mas as superfícies vegetadas têm refletância alta (da ordem ou superior a 35 %). Superfícies minerais também têm refletância alta, a algumas (como a neve) que refletem a maior parte da radiação solar que chega até elas. Já a água tem refletância pequena no visível, que vai diminuindo ainda mais com o comprimento de onda. Gases absorventes minoritários se comparados a massa de ar presentes na atmosfera também produzem efeitos consideráveis de absorção, como o vapor d’água (H2O), que está presente em proporções variáveis (até 15 ou 20 gramas por cada kg de ar), que é capaz de absorver radiação em várias faixas (bandas de absorção) no infravermelho próximo (comprimentos de onda maiores que 0,8 µm) e o dióxido de carbono (CO2) que está presente em concentração constante na atmosfera (em torno de 350 ppm: partes por milhão), que também absorve radiação solar em várias bandas de absorção no infravermelho próximo. Condições Atmosféricas e Segurança 97 3.8. Segurança A utilização de dispositivos lasers para os sistemas FSO em regiões grandemente povoadas requer alguns cuidados especiais no que diz respeito a segurança no manuseio e operação, tanto dos operadores do sistema na hora da instalação e manutenção, bem como com eventuais pessoas que venham a ficar na linha de visada do enlace. A falta de cuidados às normalizações para comprimentos de onda e potências utilizadas nestes enlaces, bem como falhas operacionais e de sinalização de advertência que venham a ocorrer na instalação ou manutenção dos sistemas podem acarretar em danos físicos permanentes as pessoas atingidas diretamente ou por meio de reflexões do feixe do laser PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA transmitido, principalmente afetando o campo da visão. 3.8.1. Cuidados com os olhos Em sistemas FSO operados com fontes laser, onde as potências são geralmente altas, a segurança deve ser levada em consideração como uma preocupação máxima, principalmente no que diz respeito aos olhos, onde uma lesão em caso de acidente na maioria das vezes é irreversível. Ao trabalhar com sistemas FSO, naturalmente o operador acaba ficando sujeito a receber parte da energia transmitida em seu corpo, principalmente nos olhos, que são as ferramentas indispensáveis para o alinhamento e montagem. A utilização de óculos de proteção adequados ou de visualizadores de infravermelho podem reduzir ou evitar esses prejuízos, porém nem sempre é possível contar com esses aparatos ou então é necessária a visualização no caso de lasers visíveis. Outro cuidado importante é com a estrutura do canhão receptor e a utilização de ferramentas não reflexivas (tipo aço escovado), onde qualquer reflexão da luz emitida pode eventualmente incidir no olho do operador e causar sérios danos à retina devido a altas potências envolvidas, mesmo que estejamos trabalhando com laser na faixa do infravermelho perto, onde não podemos visualizar, mas os olhos têm a capacidade de focalizar uma considerável intensidade do sinal a partir de uma certa potência. Condições Atmosféricas e Segurança 98 As características biofísicas do olho humano são completamente diferentes para as duas faixas predominantes de comprimentos de onda utilizados nos sistemas FSO comerciais, as considerações de segurança para os olhos tem um papel chave no comércio dos dispositivos de diferentes comprimentos de onda hoje. Estes dispositivos ópticos atualmente no mercado podem ser classificados em duas categorias gerais, os sistemas que se operam em torno do comprimento de onda de 800 nm e aqueles que se operam em torno de 1550 nm. Os feixes laser no comprimento de onda de 800 nm e 1550 nm estão situados no espectro do infravermelho próximo e médio, acima da banda do visível, conseqüentemente são considerados invisíveis para o olho humano. O olho humano está preparado para receber os comprimentos de onda do visível, onde a radiação passa através da córnea e da lente e é focalizada em um ponto minúsculo na retina. Isto é ilustrado na figura 40, que se aplica para comprimentos de onda do visível ao começo do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA espectro do infravermelho até os 1400 nm. A radiação do feixe laser colimado que é absorvido pelo olho nesta região de comprimento de onda é perigosa porque será concentrado por um fator de 100.000 vezes para atingir esse ponto minúsculo da retina [62]. Como a retina não tem nenhum sensor de dor, e a radiação no espectro invisível não induz um reflexo de piscamento, em 800 nm o olho irá sofrer um fenômeno chamado acomodamento, onde irá tentar focalizar ao máximo como se estivesse enxergando no visível, e desta forma a retina pode ser permanentemente danificada por esse feixe antes que a vítima esteja ciente do que ocorreu. Figura 40 – Características de transmissão e absorção do olho humano para o espectro do visível até o início do infravermelho próximo, onde a radiação é focalizada na retina. Diferentemente na figura 41 podemos observar que os feixes de laser no comprimento de onda de 1550 nm são pouco absorvidos pela córnea e pela lente, e Condições Atmosféricas e Segurança 99 não conseguem ser focalizados na retina, considerando uma potência equivalente ao laser de 800 nm, o excesso de potência causa os mesmos danos que o outro laser por causa da densidade pela área. Figura 41 – Características de transmissão e absorção do olho humano para o espectro PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA do infravermelho próximo, médio e distante, onde a radiação não é focalizada na retina. É possível projetar transmissores dentro das normas de segurança para os olhos com lasers de comprimentos de onda em 800 nm e em 1550 nm, mas devido a biofísica acima mencionada, a potência permitida do laser que opera em 1550 nm é aproximadamente cinqüenta vezes mais alta do que em 800 nm. Este fator de cinqüenta vezes é importante para o projetista de um sistema de comunicação óptica no espaço livre, porque a potência adicional permite que o sinal propague por distâncias mais longas com uma condição de atenuação menos favorável. A segurança dos olhos em relação a radiação laser é classificada pela International Electrotechnical Commission (IEC), que é a responsável pelos padrões internacionais para todos os campos da eletrotecnologia, sendo que suas normas são adotadas pelas agências reguladoras na maioria dos países do mundo. Por exemplo, um transmissor laser que seja seguro para ser visto pelo olho humano é designado Classe 1M da IEC ou um transmissor que seja também seguro para ser visto com o olho humano com 25 milímetros de abertura é designado a classe 1 da IEC. As classificações da segurança de lasers são encontradas na documentação 60825-1 emenda 2 da IEC. As fontes de lasers são divididas basicamente em quatro grupos, conforme o tipo de lesão que provocam nos olhos. Os quatro grupos são numerados de I a IV. CLASSE I - Trata-se de lasers de baixa potência, cujo perigo é moderado, porém não é aconselhável olhar diretamente para nenhum tipo de laser. Condições Atmosféricas e Segurança 100 CLASSE II - Emitem radiação visível de baixa potência e provavelmente não prejudicam os olhos se não forem olhados diretamente durante mais de 0,25 s; 0,25 s é o tempo de rejeição do olho à luz, que no caso é o tempo que o olho leva para piscar. Nas regiões do visível e do infravermelho próximo os lasers do grupo II emitem de 1 µW a 1 mW, aproximadamente conforme o comprimento de onda que varia de 400 nm a 700 nm. As classificações deixam uma margem de segurança razoavelmente grande, mas não convém olhar diretamente para o feixe emitido pelos lasers do grupo II. CLASSE IIIa e IIIb e IV - Provocam lesão no olho em menos de 0,25 s. Os lasers do grupo IV são os que apresentam níveis de radiação muito perigosos por reflexão difusa. Além disso, vários lasers do grupo IV chegam a produzir fogo ou emitir tanta potência que conseguem vaporizar qualquer material que usamos para bloquear o feixe, colocando no ar certos compostos químicos perigosos, como o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA de berílio, por exemplo [62]. Com exceção dos lasers do grupo I, todos os outros precisam receber etiqueta de identificação para estabelecer o grupo a que pertencem. Podemos ter uma idéia melhor do esquema de classificação dos lasers através de uma comparação dos níveis de irradiância que se estabelecem na retina quando olhamos diretamente para o sol e quando olhamos diretamente para um laser de He-Ne de 1 mW. O sol produz um ângulo de aproximadamente 10 mrad e emite uma irradiância de 100 mW.cm-2 na superfície da terra. Como a distância focal do olho é aproximadamente 25 cm, com o olho na claridade, o diâmetro da pupila mede aproximadamente 2 mm e a potência que incide na pupila é de 3 mW. A irradiância é de 6 mW.cm-2, que é a potência dividida pela área da imagem. Já o olho no escuro, a pupila chega até 8 mm e a irradiância na retina pode chegar a 100 mW.cm-2. Se incidirmos diretamente no olho o feixe de laser de 1 mW de 2 mm de diâmetro, sendo a largura do feixe 1 mm, com a pupila do olho limitada por difração e se o comprimento de onda do laser for 633 nm, o raio da cintura do feixe na retina é aproximadamente igual a 5 µm. A irradiância média no interior de um círculo que tem esse raio é de 1 kW.cm-2, que é quase 200 vezes maior do que a irradiância emitida pelo sol. Portanto as normas de segurança devem ser seguidas com rigor dependendo do laser utilizado [62]. Condições Atmosféricas e Segurança 101 3.8.2. Efeitos do Laser nos Tecidos Muitas vezes os enlaces ópticos exigem e possuem potências muito elevadas das fontes lasers, da ordem de Watts, para funcionarem em condições adversas de propagação e manterem a disponibilidade dentro das normas especificadas, desta forma, demonstramos também os efeitos da exposição da pele na linha de visada do laser. Ao interagir com a pele a luz reage aos componentes do tecido e com seus pigmentos. Assim podemos observar as seguintes relações laser x tecido, onde a energia pode ser: 1- Parcialmente absorvida; 2- Refletida; 3- Parcialmente espalhada; PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA 4- Absorvida. O efeito térmico é diretamente proporcional a energia que é cedida ao tecido. Energia, potências e densidade de potência são parâmetros físicos. A energia é medida em Joules (J), a potência em Watts (W). A potência (W) = Energia (J) / Tempo (t). Portanto a energia é transferida em função do tempo para o tecido. A resposta tecidual é governada pela área (spot size), ou seja, pela densidade de potência. Quanto maior a densidade, maior será o calor no tecido atingido. Assim além dos equipamentos modulados alterarem a densidade do laser sobre o tecido, os movimentos do tecido atingidos em frente ao feixe também colaboram para reduzir este efeito tecidual. Esta interação é melhor visualizada na eq. (39): W. t J = f. 2 SpotSize cm (39) Onde notamos que é diretamente proporcional a potência (W), ao tempo de exposição (t) e a freqüência (f) e inversamente a área atingida (spot size). A forma como se manifesta esta interação nos tecidos humanos: - Fototérmica - A energia emitida pelo laser é absorvida e convertida em calor, produzindo sensação térmica de calor e vaporização, onde os pulsos têm que ser longos em torno de 1 ms ou maiores. Condições Atmosféricas e Segurança 102 - Fotomecânica - A energia cedida deve ser muito alta e em pulsos rápidos em torno de 100 µs ou menores, produzindo uma onda de choque mecânica rompendo o tecido. - Fotoquímica - A interação do laser ocorre nas ligações a nível molecular podendo bioestimular uma molécula inerte em ativa e assim produzir um gatilho de ação intracelular. Normalmente sem efeito térmico e com comprimento de onda muito pequeno e sem interesse em sistemas FSO (Ultravioleta). - Fotobioestimulação - Lasers de baixas potências (mW) produzem feixe de fótons que podem estimular e ordenar. Ação ao nível de mitocôndrias e membrana celular. - Fototermólise Seletiva – Ao nível de tecidos, tem grande importância nos sistemas FSO e também é a principal característica dos lasers aplicados a medicina. Seus efeitos ocorrem na presença dos Cromóforos, que são os PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0116426/CA pigmentos endógenos do tecido que absorvem seletivamente o laser. Assim alguns tecidos serão transparentes ao laser, enquanto outros o absorverão totalmente. Portanto podemos ter a destruição de alguns tecidos alvos preservando outros. É o que acontece com o laser de Alexandrita e o Rubylaser que estão na faixa do vermelho e são absorvidos principalmente pela melanina e pigmentos escuros da pele, produzindo destruição de pelos ou manchas sem destruir a pele. O laser NdYAG na faixa do infravermelho tem mais afinidades com a hemoglobina em relação a melanina, na medicina, são utilizados em lesões pigmentadas. Cuidados especiais devem ser tomados também com a pele na utilização dos lasers de CO2 ou QCL, pois devido às altas potências e ao comprimento de onda no infravermelho médio e distante tem como sua afinidade a absorção da água. Como os tecidos têm como componente predominante H2O, seus efeitos são mais amplos. Algumas reações teciduais podem até ser visualizadas. Em caso de acidente, quando atingem temperaturas de 60º C não há alteração visual. Até 45º C as alterações são reversíveis. Acima entre 45º C até 65º C as enzimas são destruídas, Ocorre uma coagulação celular, Entre 65º C e 90º C as proteínas se desnaturam completamente, o tecido adquire uma cor esbranquiçada. A 100º C ocorre uma vaporização da água celular rompendo as células, produzindo vapor e fumaça. Se houver emissões de energia em alta potência, atingindo temperaturas superiores à 100º C observa-se a carbonização.