GERALDA BATISTA DOS PASSOS DE MORAES CANTIGAS DE RODA: UMA LINGUAGEM NO APRENDER INFANTIL FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS NÚCLEO DE ZONA LESTE JABOTICABAL-SP 2007 GERALDA BATISTA DOS PASSOS DE MORAES CANTIGAS DE RODA: UMA LINGUAGEM NO APRENDER INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Educação São Luís, como exigência parcial para a conclusão do Curso de Pós -Graduação Lato Sensu em: Língua Portuguesa, Compreensão e Produção de Textos. Orientador: Prof. Ms. Mara Regina Mellini Jabur FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS NÚCLEO ZONA LESTE JABOTICABAL-SP 2007 Dedico a minha filha Carla Simone pelo incentivo e companheirismo no transcorrer do curso e a todos aqueles que as “cantigas de roda” fizeram parte de sua vida. AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida e pela força de conseguir mais esta conquista. A todos os incansáveis professores do curso pela suas competências e paciência que transformaram esses momentos em grandiosos saberes. Ao Gestor do curso em Moema Senhor Vicente Demaio Neto pelo seu carisma, sua bondade, tolerância e dedicação. “Quereis cultivar a inteligência de vosso aluno, então cultivai as forças que ela deve governar (...) Se o andásseis sempre dirigindo, sempre lhe dizendo: vai, vem, fica aqui, faz isto, não faças aquilo. Se vossa cabeça sempre dirigir os seus braços, a dele se tornará inútil”. (Jean Jacques Rousseau) Pelo brincar, cantar, a criança reorganiza suas experiências. Oferecer oportunidades para a criança brincar é criar espaço para a reconstrução do conhecimento. VYGOTSKI Resumo O presente trabalho procura apresentar a importância da utilização das cantigas de roda na alfabetização. A música é um universo de descobertas, não só atrai e envolve os alunos, como serve de motivação, eleva a auto-estima, estimula diferentes áreas do celebro, aumenta a sensibilidade, a criatividade, à capacidade de concentração e fixação de dados. Além de alfabetizar, a música também resgata a cultura e ajuda na construção do conhecimento. A partir das cantigas de roda, os alunos são despertados para a leitura e desenvolveram o hábito de ler e, automaticamente, aprenderam com mais facilidade a ler e escrever. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .........................................................................................9 1. Presença da Música nas Séries Iniciais: Idéias e práticas correntes ...................................................................................................11 2. Objetivos da Música na formação da criança ...................................18 3. O Folclore e a Música...........................................................................23 3.1 Práticas escolares na Alfabetização..................................................24 3.2 Cantigas de Roda ...............................................................................25 3.3 Cantigas de Roda em sala de aula.....................................................25 3.4 Aplicação das Cantigas de Roda na Alfabetização..........................26 3.5 Aspecto Musical..................................................................................28 3.6 Cantigas de Roda no processo da Linguagem Oral e Escrita........................................................................................................30 Considerações Finais ...............................................................................32 Referências ..............................................................................................34 Anexos INTRODUÇÃO De acordo com o Referencial Curricular Nacional (RCN 1999), a música é um instrumento muito utilizado em todas as tarefas que podemos propor para nossas crianças, cantando para: lanchar, lavar as mãos, ir ao parque, estimular a sala quando a mesma se encontra agitada ou desanimada, e, além disso, a música faz parte do cotidiano de todas as pessoas. Nos dias de hoje, até em cursos pré-vestibulares a músicas é muito utilizada para a memorização de fórmulas de química e física, e para normas gramáticas e ortográficas. Percebemos que a música estimula a fala porque o cantar, muitas vezes precede a comunicação verbal da criança, pois quando adultos cantarolam melodias curtas, canções de ninar, os bebês tentam imitar e responder, o balbucio dos bebês se dá por meio de ruídos produzidos por cordas vocais e com a interação com os brinquedos sonoros que o mesmo possui (chocalhos, mordedores musicais, etc). Os bebês responderam as mais variadas formas der musicas e respondem mantendose calmos, agitados ou atentos, dependendo do estilo musical. Quando a criança começa a desenvolver a capacidade motora, seus movimentos são sempre acompanhados por sons, gestos sonoros, palmas, etc. Isso a estimula muito. A orientação musical aumenta o interesse dos alunos pelas atividades na escola, pois quando brinca, a criança começa a perceber o valor da música em nossa vida; desenvolve sua criatividade e musicalidade e se torna mais disciplinada. A música traz muitos benefícios na aprendizagem integral das crianças, porém ainda é discriminada em muitas escolas e, a atividade lúdica é cada vez mais substituída, fora e dentro da escola, por novas tecnologias e pela televisão que reproduz valores impostos pela 10 cultura de massa. O ensino da música e das artes em geral deve ser consolidado como parte dos currículos escolares e devem ser criados também mais cursos de capacitação para professores. Os professores devem ser capacitados para orientar a formação do aluno e para conscientizá-lo que a música integra as mais variadas disciplinas. O trabalho de conscientização feito para os professores deve fornecer conceitos de que a música é de fundamental importância na formação dos cidadãos e mais educadores devem obter conhecimento sobre a importância da música na alfabetização. Neste contexto o trabalho aborda a importância do resgate do folclore nacional, adormecido por tecnologia, necessária e fundamental, porém, não quer dizer que tem de nos esquecer de nossas tradições, e sim nos organizar melhor para aprender e manter viva nossas tradições, também caminhando ao lado da tecnologia. Assim o resgate das cantigas de roda tira as crianças da frente da televisão, dos videogames, etc. Para o exercício de seu corpo e memória, e o mesmo acontece na escola, onde as crianças não são obrigadas a assistir as aulas, durante quatro ou seis horas sentadas, estáticas e em silêncio, fatores quase impossíveis de conseguir gerando assim a indisciplina, o desinteresse do professor dos alunos e uma bagunça ou insatisfação total. Com este trabalho procuro demonstrar, que as cantigas de roda são sem duvida, poderosas ferramentas no auxilio da alfabetização de crianças de séries iniciais. Para a realização deste trabalho, empregamos pesquisas bibliográficas, artigos e outros. O trabalho está estruturado na seguinte forma: Presença da música nas Séries Inicias; Objetivos da Música na formação da criança; Práticas escolares na alfabetização; Folclore e a Música; Cantigas de Roda; Cantigas de roda na Alfabetização; Aspecto Musical; Cantigas de Roda no processo da linguagem oral e escrita, e as considerações finais. 1. PRESENÇA DA MÚSICA NAS SÉRIES INICIAIS: IDÉIAS E PRÁTICAS CORRENTES No Referencial Curricular Nacional (1999), a música vem ao longo de sua história, atendendo a vários objetivos, alguns dos quais alheios às questões próprias dessa linguagem. Tem sido, em muitos casos, suporte para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, escovar os dentes, respeitar o farol, etc. a realização de comemorações relativas ao calendário de eventos do ano letivo simbolizado no dia da árvore, dia do soldado, dia das mães, etc. traduzidos em canções. Essas canções costumam serem acompanhadas por gestos corporais, imitados pelas crianças de forma mecânica e estereotipada. Outra prática corrente tem sido o uso das bandinhas rítmicas para o desenvolvimento motor, da audição e do domínio rítmico. Essas bandinhas utilizam instrumentos – pandeirinhos, tamborzinhos, pauzinhos, etc. – muitas vezes confeccionadas com material inadequado e conseqüentemente com qualidade sonora deficiente. Isso reforça o aspecto mecânico e a imitação, deixando pouco ou nenhum espaço às atividades de criação ou as questões ligadas à percepção e conhecimento das possibilidades e qualidades expressivas dos sons. Ainda que esses procedimentos venham sendo repensados, muitas instituições encontram dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional. Constatase uma defasagem entre o trabalho realizado na área de Música e nas demais áreas do conhecimento, evidenciada pela realização de atividades de reprodução e imitação em detrimento de atividades voltadas a criação e à elaboração musical. Nesses contextos, a música é tratada como se fosse um produto pronto, que se aprende a reproduzir, e não uma linguagem cujo conhecimento se constrói. 12 A música está presente em diversas situações da vida humana. Existe música para adormecer, música para dançar, para chorar os mortos, para conclamar o povo a lutar, o que remonta sua função ritualística. Presente na vida diária de alguns povos, ainda hoje é tocada e dançada por todos, seguindo costume que respeitam as festividades e os momentos próprios a cada manifestação musical. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e assim começam a aprender suas tradições musicais. Mesmo que as formas de organização social e o papel da música nas sociedades modernas tenham se transformado algo de seu caráter ritual é preservado, assim como certa tradição do fazer e ensinar por imitações e “por ouvido”, em que se misturam intuição, conhecimento prático e transmissão oral. Essas questões devem ser consideradas ao se pensar na aprendizagem, pois o contato intuitivo e espontâneo com a expressão musical desde os primeiros anos de vida é importante ponto de partida para o processo de musicalização. Ouvir música, aprender uma canção, brincar de atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados. Roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mão, etc. são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela e Pesquisadores e o perceber, sentir e estudiosos vêm traçando paralelos entre o desenvolvimento infantil cada fase, e contribuindo para que a construção do conhecimento dessa linguagem ocorra de modo significativo. (RCN, 1999). A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas, etc. Faz parte da educação desde há muito tempo, sendo que, já na Grécia antiga, era considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos, ao lado da matemática e da filosofia. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humana, o que por isso só justifica a sua presença no contexto educação, de um modo geral, e na educação infantil, não se deixe de lado o exercício das questões especificamente musicais (RCN, 1999). O trabalho com música se deve considerar, portanto, que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento particularmente. 13 Compreende se a música como linguagem e forma de conhecimento. Presente no cotidiano de modo intenso, no rádio, na TV, em gravações, etc. por meio de brincadeiras e manifestações espontâneas ou pela intervenção do professor ou familiares, além de outras situações de convívio social, a linguagem musical tem estrutura e característica próprias, devendo ser considerada como: ● Produção-centrada na experimentação e na imitação, tendo como produtos musicais à interpretação, a improvisação e a composição; ● Apreciação-percepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e reconhecimento; ● Reflexão sobre questões referentes à organização, criação, produtos e produtores musicais. Deve ser considerado o aspecto da integração do trabalho musical às outras áreas, já que, por um lado, a música mantém contato estreito e direto com as demais linguagens expressivas (movimento, expressão cênica, artes visuais, etc.), e, por outro, torna possível a realização de projetos integrados. É preciso cuidar, no entanto, para que acessível aos bebês e crianças, inclusive aquelas que apresentam necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. O ambiente sonoro, assim como a presença da música em diferentes e variadas situações do cotidiano fazem com que os bebês e crianças iniciem seu processo de musicalização de forma intuitiva. Adultos cantam melodias curtas, cantigas de ninar, fazem brincadeiras cantadas, com rimas, parlendas, etc. reconhecendo o fascínio que tais jogos exercem. Encantados com o que ouvem, os bebês tentam imitar ou responder, criando momentos significativos no desenvolvimento afetivo e cognitivo, responsáveis pela criação de vínculos tanto com os adultos quanto com a música. Nas interações que estabelecem, eles constroem um repertório que lhe permite iniciar uma forma de comunicação por meio de sons. O balbucio e o ato de controlar dos bebês têm sido objetos de pesquisas que apresentam dados importantes sobre a complexidade das linhas melódicas cantaroladas até os dois anos de idade, aproximadamente. Procuram imitar o que ouvem e também inventam linhas melódicas ou ruídos, explorando possibilidades vocais, da mesma forma como interagem com os objetos e brinquedos sonoros disponíveis, estabelecendo, desde então, um jogo caracterizado pelo exercício sensorial e motor com esses materiais. 14 A escuta de diferentes sons (produzidos por brinquedos sonoros ou oriundos do próprio ambiente doméstico) também é fonte de observação e descobertas, provocando respostas. A audição de obras musicais enseja as mais diversas reações: os bebês podem manter-se atentos, tranqüilos ou agitados. Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês ampliam os modos de expressão musical pelas conquistas vocais e corporais. Podem articular e entoar um maior número de sons, inclusive os da língua materna, reproduzindo letras simples, refrões, onomatopéias, etc. explorando gestos sonoros, como bater palmas, pernas, pés, especialmente depois de conquistada a marcha, a capacidade de correr, pular e movimentar-se acompanhado uma música. No que diz respeito à relação com os materiais sonoros é importante notar que, nessa fase, as crianças conferem importância e equivalência a toda e qualquer fonte sonora e assim explorar as teclas de um piano é tal a qual percutir uma caixa ou um cestinho, por exemplo. Interessam-se pelos modos de ação e produção dos sons, sendo que sacudir e bater são seus primeiros modos de ação. Estão sempre atentas as características dos sons ouvidos ou produzidos, se gerados por um instrumento musical, pela voz ou qualquer objeto, descobrindo possibilidades sonoras com tal material acessível. Assim, o que caracteriza a produção musical das crianças nesse estágio é a exploração do som e suas qualidades – que são altura, duração, intensidade e timbre – e não a criação de temas ou melodias definidos precisamente, ou seja, diante de um teclado, por exemplo, importa explorar livremente os registros graves ou agudos (altura), tocando forte ou fraco (intensidade), produzindo sons curtos ou longos (duração), imitando gestos motores que observou e que reconhece como responsáveis pela produção do som, sem a preocupação de localizar as notas musicais (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si) ou reproduzir exatamente qualquer melodia conhecida. E ainda que possam em alguns casos, manter um pulso (medida referencial de duração constante), a vivência do ritmo não se subordina à pulsação e ao compasso (a organização do pulso em tempos fortes e fracos) e assim vivenciam o ritmo livre. Diferenças individuais e grupais acontecem, fazendo com que, aos três anos, por exemplo, integrantes de comunidades musicais ou crianças cujos pais toquem instrumentos possam apresentar um desenvolvimento e controle rítmico diferente das outras crianças, demonstrando que o contato sistemático com a música amplia o conhecimento e as possibilidades de realizações musicais. A expressão musical das crianças nessa frase é caracterizada pela ênfase nos aspectos intuitivo e afetivo e pela exploração (sensório-motora) dos materiais sonoros. As crianças 15 integram a música às demais brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carinhos, dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo “personalidade” e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical. O brincar permeia a relação que se estabelece com os materiais: mais do que sons podem representar personagens, como animais, carros, máquinas, super-heróis, etc. A partir dos três anos, aproximadamente, os jogos com movimentos são fonte de prazer, alegria e possibilidade efetiva para o desenvolvimento motor e rítmico, sintonizados com a música, uma vez que o modo de expressão característico dessa faixa etária integra gesto, som e movimento. Aos poucos ocorre um maior domínio com relação à entoação melódica. Ainda que sem um controle preciso da afinação, mas já com retenção de desenhos melódicos e de momentos significativos das canções como refrão, onomatopéias, o “to-to” de “Atirei o pau no gato”, etc. a criança memoriza um repertório maior de canções e conta, conseqüentemente, com um “arquivo” de informações referentes e desenhos melódicos e rítmicos que utiliza com freqüência nas canções que inventa. Ela é uma boa improvisadora, “cantando histórias”, misturando idéias e trechos dos materiais conhecidos, recriando, adaptando, etc. é comum que, brincando sozinha, invente longas canções. Aos poucos, começa a cantar com mais precisão de entoação e a reproduzir ritmos simples orientados por um pulso regular. Os batimentos rítmicos corporais (palmas, batidas nas pernas, pés, etc.) são observados e reproduzidos com cuidado, e, evidentemente, a maior ou menor complexidade das estruturas rítmicas dependerá do nível de desenvolvimento de cada criança ou grupo. Além de cantar, a criança tem interesse, também, em tocar pequenas linhas melódicas nos instrumentos musicais, buscando entender sua construção. Torna-se muito importante poder reproduzir ou compor uma melodia, mesmo que usando apenas dois sons diferentes e perceber o fato de que para tocar ou cantar uma melodia é preciso respeitar uma ordem, à semelhança do que ocorre com a escrita das palavras. A audição pode detalhar mais, e o interesse por muitos e variados estilos tende a se ampliar. Se a produção musical veiculada pela mídia lhe interessa, também se mostrar receptiva a diferença gêneros e estilos musicais, quando tem a possibilidade de conhecê-los. Para se trabalhar com crianças de 0 a 3 anos a musica deve se organizar de forma que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades: Ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais; 16 Brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir criações musicais. Para se trabalhar com crianças de 4 a 6 anos, os objetivos estabelecidos para a faixa etária de 0 a 3 anos deverão ser aprofundados e ampliados e ampliados garantindo-se, ainda, oportunidades para que as crianças sejam capazes de: Explorar e identificar elementos da música para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo; Perceber e expressar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio de improvisações, composições e interpretações musicais. Quais os conteúdos que devem ser trabalhados? A organização dos conteúdos para o trabalho na área de música nas instituições de educação infantil deverá acima de tudo, respeitar o nível de percepção e desenvolvimento (global e musical) das crianças em cada fase, bem como as diferenças sócio-culturais entre os grupos de crianças das muitas regiões do país. Os conteúdos deverão priorizar a possibilidade de desenvolver a comunicação e a expressão por meio dessa linguagem. Serão trabalhados como conceitos em construção, organizados num processo continuo e integrado que deve abranger: • a exploração de materiais e a escuta de obras musicais para propiciar o contato e experiências com a matéria-prima da linguagem musical: o som (e suas qualidades) e o silêncio; • a vivência da organização dos sons e silêncio em linguagem musical pelo fazer e pelo contato com obras diversas; • a reflexão sobre a música como produto cultural do ser humano é importante forma de conhecer e representar o mundo. Os conteúdos estarão organizados em dois blocos: “O fazer musical” e “Apreciação musical”, que abarcarão, também, questões referentes á reflexão. O fazer musical é uma forma de comunicação e expressão que acontece por meio da improvisação, da composição e da interpretação. Improvisar é criar instantaneamente, orientando-se por alguns critérios pré-definidos, mas com grande margem a realizações aleatórias, não determinadas. Compor é criar a partir de estruturas fixas e determinadas e interpretar é executar uma composição contato com a participação expressiva do intérprete. Nessa faixa etária, a improvisação constitui-se numa das formas de atividade criativa. Os jogos de improvisação são ações internacionais que possibilitam o exercício criativo de situações musicais e o desenvolvimento da comunicação por meio dessa linguagem. As 17 crianças de 4 a 6 anos já podem compor pequenas canções. Com os instrumentos musicais ainda é difícil criar estruturas definidas, e as criações musicais das crianças geralmente situam-se entre a improvisação e a composição, ou seja, a criança cria uma estrutura que, no entanto, sofre variações e alterações a cada nova interpretação. Imitando sons vocais, corporais, ou produzidos por instrumentos musicais, as crianças preparam-se para interpretar quando, então, imitam expressivamente (RCN, 1999). Para as crianças nessa faixa etária (0 a 6 anos), os conteúdos relacionados ao fazer musical deverão ser trabalhados em situações lúdicas, fazendo parte do contexto global das atividades. Quando as crianças se encontram em um ambiente afetivo no qual o professor está atento a suas necessidades, falando, cantando e brincado com e para elas, adquirem a capacidade de atenção, tornando-se capazes de ouvir o som do entorno. Podem aprender com facilidade as músicas mesmo que sua reprodução não seja fiel. Integrar a música à educação infantil que o professor deva assumir uma postura de disponibilidade em relação a essa linguagem. Considerando-se que a maioria dos professores de educação infantil não tem uma formação específica em música, sugere-se que cada profissional faça um contínuo trabalho pessoal consigo mesma no sentido de: • Sensibilizar-se em relação às questões inerentes à música; • Reconhecer a música como linguagem cujo conhecimento se constrói; • Entender e respeitar como as crianças se expressam musicalmente em cada fase, para, a partir daí, fornecer os meios necessários (vivências, informações, matérias.) ao desenvolvimento de sua capacidade expressiva. A escuta é uma das ações fundamentais para a construção do conhecimento referente a musica. O professor deve procurar ouvir o que dizem e cantam as crianças, a “paisagem sonora” de seu meio ambiente e a diversidade musical existente: o que é transmitido por rádio e televisão, as músicas de propaganda, as trilhas sonoras dos filmes, a música do folclore, a música erudita, a música popular, a música de outros povos e culturas. As marcas e lembranças da infância, os jogos, brinquedos e canções significativas da vida do professor, assim como o repertório musical das famílias, vizinhos e amigos das crianças, podem integrar o trabalho com música. É importante desenvolver nas crianças atitudes de respeito e cuidado com os materiais musicais, de valorização da voz humana e do corpo como materiais expressivos. Como o exemplo do professor é muito importante, é desejável que ele fale e cante com os cuidados necessários à boa emissão do som, evitando gritar e colaborando para desenvolver nas crianças atitudes semelhantes (RCN, 1999). 2 OBJETIVOS DA MÚSICA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA A música tem como objetivo, nas Séries Inicias, explorar som, ritmo e movimento, significando a descoberta e a vivência pela criança de: • uma variedade e riqueza de sons e movimentos produzidos a partir de nosso corpo; • grande variedade de sons e movimentos que podem ser inventados; • uma variedade de sons e movimentos que podem ser produzidos pelos seres e demais elementos da natureza; • diversos timbres (características do som) existentes; • que o som pode variar de intensidade (forte e fraco) ou ser repetido; • duração (curto, longo), altura (grave e agudo), orientação espacial (frente, trás, lado direito e lado esquerdo), de onde vem o som. Através do aperfeiçoamento da acuidade auditiva a criança não só ouve como passa a separar melhor os diversos tipos de som. Ao acompanhar os gestos do professor ou dos coleguinhas na regência musical, a visão está sendo utilizada com maior intensidade. Ao participar da bandinha rítmica, a criança passa a identificar as diferenças e semelhanças entre sons, instrumentos e grupos rítmicos, exercitando a sua compreensão e o seu raciocínio. Ao imitar o canto dos pássaros, as vozes dos animais ou outros sons existentes na natureza, a criança descobre seus próprios poderes e a sua relação com o ambiente em que vive. Já o vocabulário musical, que requer a pronúncia correta das letras da canção, ou a 19 conversa sobre os conteúdos das cantigas de roda, propicia o desenvolvimento da linguagem oral. Verifica-se que, a partir das experiências musicais, o pensamento da criança vai se organizando. E, quando mais ela tem oportunidade de comparar as ações executadas e as sensações obtidas através da música, mais a sua inteligência, o seu conhecimento vai se desenvolvendo (RCN, 1999). Desenvolvimento psicomotor É necessário que os músculos, ossos e sistema nervoso da criança tenham atingido determinado estágio de desenvolvimento para que ela possa desenvolver atividades específicas de forma natural. Não se pode forçar esse processo de maturação, que ocorre à medida que a criança cresce. No entanto, as atividades musicais podem oferecer inúmeras oportunidades para a criança aprimorar suas habilidades motoras, controlar os seus músculos e mover-se com desenvoltura. O movimento – atitude – é condição principal da vida da criança, pois sem movimento ela enfraqueceria física e mentalmente. Ora, o ritmo musical é movimento, por isso é fácil compreender a importância das experiências musicais para o psiquismo e a fisiologia da criança, através dos efeitos psicomotores que provocam. O ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque toda expressão musical ativa age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional e a reação motora (como reflexo rítmico) e aliviando as tensões. Além disso, o menor movimento adaptado a um ritmo é o resultado de um conjunto completo de atividades coordenadas. O desenvolvimento do senso rítmico dá maior agilidade e precisão aos movimentos da criança. As experiências musicais ajudam a criança a controlar melhor o seu corpo, melhorando a coordenação motora grossa (grandes movimentos) e fina (pequenos movimentos). Exemplos: um grupo de crianças canta e bate os pés, enquanto o outro grupo canta e estala os dedos. 20 Sempre que a coordenação motora se desenvolve, a expressividade rítmica melhora. E acriança que tem boa expressividade rítmica terá favorecida a sua coordenação motora. Assim, o desenvolvimento rítmico prepara naturalmente a criança para a leitura e a escrita que fazem parte do seu processo de escolarização. • existência da unidade de movimento (ritmo) em nosso corpo e em tudo que nos rodeia; • variação de ritmos envolvendo percepção, discriminação e memória auditiva; • prática rítmica partindo da palavra; • silêncio (pausa); • andamento (lentos, moderados e rápidos). • situações que envolvam o controle da respiração; • situações que aperfeiçoem o desenvolvimento rítmico e controle motor; • situações que favoreçam uma melhor aquisição das noções de tempo e espaço; • atividade criadora musicais. Contribuição da música para o desenvolvimento global da criança Atualmente, educadores e psicólogos ressaltam a globalidade do ser humano e do seu desenvolvimento apontando a impossibilidade de se distinguir um aspecto somente motor, intelectual ou afetivo. Todos os aspectos do desenvolvimento estão intimamente relacionados e exercem influência uns sobre os outros, a ponto de não ser possível estimular o desenvolvimento de um deles sem que, ao mesmo tempo, os outros sejam igualmente afetados. No entanto, para efeitos didáticos, pode-se estudar as contribuições da música para os aspectos ou áreas do desenvolvimento infantil abordando-os em sua especificidade. Considerando em todos seus processos ativos (a audição, o canto, a dança, a percussão corporal e instrumental, a criação melódica) a música globaliza naturalmente os diversos aspectos a serem ativados no desenvolvimento da criança: cognitivo/lingüístico, psicomotor, afetivo/social. 21 Conseqüentemente, as brincadeiras musicais contribuem para reforçar todas as áreas do desenvolvimento infantil, representando um estimável benefício para a formação e o equilíbrio da personalidade da criança e do adolescente (RCN, 1999). Desenvolvimento cognitivo/lingüístico Segundo Bréscia (2003), Jean Piaget, biológico, espistemólogo e educar suíço, explica a capacidade de conhecer, como sendo a capacidade do individuo de estabelecer relações. A criança interage com o meio ambiente através da inteligência: inicialmente ela experimenta o local, mexendo em objetos, materiais e brinquedos. Em seguida passa a organizá-los e posteriormente consegue transformá-los, construindo o seu conhecimento e adquirindo pouco a pouco a compreensão das situações vividas. Segundo Piaget, “a própria criança abre a porta para o mundo exterior”. A fonte de conhecimento da criança é a própria variedade de situação que ela tem oportunidade de experimentar no seu dia-a-dia. Conseqüentemente, a riqueza de estímulos consciência do “nós”. Paralelamente, a música favorece o desenvolvimento afetivo e emocional da criança, pois, proporciona auto-satisfação e prazer, possibilitando a expansão dos sentimentos. Sente-se a intensidade de emoção da criança que canta por seus gestos e sua voz. Mesmo a criança tímida ou inibida sente-se encorajada ao cantar em grupo. E o ajustamento ao grupo desenvolve um sentimento de segurança. Ao mostrar suas emoções liberar seus impulsos e utilizar seu corpo para criar música, a criança desenvolve o sentimento de auto-realização. Que a criança recebe por meio das diversas experiências musicais contribui para o seu desenvolvimento intelectual. As vivencias rítmicas e musicais, que possibilitam uma participação ativa quanto ao ver, ouvir e tocar, também favorecem o desenvolvimento dos sentidos da criança. Desenvolvimento socioafetivo No processo de desenvolvimento sócio-afetivo, a criança, pouco a pouco, vai formando sua identidade, ou seja, vai se descobrindo como pessoa, percebendo-se cada vez 22 mais diferenciada dos outros. Ao mesmo tempo, ela busca forma de comportamento que lhe vão permitir agir de maneira mais integrada na sociedade em que vive. Na formação dessa identidade, destacam-se o papel que a auto-estima e a autorealização desempenham no desenvolvimento sócio-afetivo da criança. A auto-estima é a capacidade de nos aceitarmos em todo os sentidos, entendendo assim, nossas limitações e capacidades. Essa estrutura do eu se constrói a partir do contato com as outras pessoas. As atividades musicais coletivas favorecem a auto-estima, bem como a socialização infantil, pelo ambiente de compreensão, participação e cooperação que podem proporcionar. “Agora é a vez do outro; agora é a minha vez. O outro tocando é bonito; esperando, posso mostrar que também sei tocar bonito”. Portanto, participando de um grupo com a mesma finalidade um grupo musical, a cooperação se tornará mais constante e começará a se formar, em cada criança, a consciência do “nós” (BRÉSCIA, 2003). 3. O FOLCLORE E A MÚSICA Segundo Melo (1985) todos os povos possuem tradições, crendices e superstições, que transmitem através de lendas, contos, narrativas, provérbios e canções. Esses veículos de expressão popular passam de uma geração a outra, e ficam pertencendo a determinado povo, de tal modo que desconhecemos seus autores. Em 1846, então, o inglês William John Thoms designou essa cultura com o nome de folklore, cujo significado era "saber popular" ou em alguns livros podemos encontrar o significado "saber vulgar". Apesar de ter se desenvolvido há relativamente pouco tempo, o folclore brasileiro é um dos mais ricos do mundo. Isso porque houve no Brasil uma nítida diferenciação entre as classes, reforçadas pelas diferenças de raças e pela distribuição da população em grandes espaços, o que contribuiu para o distanciamento entre os vários grupos. O folclore europeu estava perfeitamente adaptado ao seu continente. Ao chegarem ao Brasil, os portugueses encontraram uma terra de condições totalmente diferentes, com as estações ocorrendo em outra época do ano, além de um ritmo diferente do ano agrícola e da natureza diversa de vegetação. As manifestações culturais do povo tiveram de ser quase totalmente reorganizada, recebendo também influências da cultura africana e indígena. A dificuldade de comunicação entre os vários povoamentos que ocasionou a criação de folclores diferentes para cada região, de acordo com o tipo da população. Desenvolveramse, assim, manifestações que sobrevivem até hoje, como o samba, o carnaval, as festas juninas e religiosas, a literatura do cordel, o bumba-meu-boi, além de uma série de estória, danças e cantigas. 24 Essas manifestações são parte de uma cultura que representa o saber do povo brasileiro, surgindo de acordo com o país e sua natureza. 3.1 Práticas escolares na alfabetização Nas séries iniciais, é necessário haver uma conscientização sobre os currículos, metodologias para despertar o interesse dos alunos pelas aulas. Assim uma nova abordagem seriam as cantigas de roda para alfabetizar, utilizando-as com o objetivo de aumentar a motivação, interesse, resgatar a cultura e despertar a curiosidade das crianças pela leitura escrita, pois atualmente cerca de 125 milhões de crianças em idade escolar não freqüentam a escola. E os que freqüentam não estão aprendendo, cerca de 55% dos estudantes da 4º ensino fundamental não compreendem a idéia principal de um texto simples, e apenas 2 de cada 10 adultos brasileiros dominam a leitura e escrita (fonte: Mec, OCDE e Instituto Paulo Montenegro-publicação Revista Veja, abril 2006). Além do bê-á-bá, o processo de alfabetização engloba outras leituras, outras aprendizagens, muito mais abrangentes que somente ler e escrever letras e palavras. Assim, alfabetizar, além de ensinar a ler e escrever é questionar leituras, concepções, formas de ver e interpretar tudo no mundo. O processo da leitura e da escrita, indicando como ele pode ser favorecido por estratégias lúdicas, reconhecendo que muito do seu ensino tem-se efetivado, ainda e infelizmente, por meio de práticas mecânicas, desmotivadoras (como cópias e ditados), descontextualizadas dos conteúdos e da realidade da criança. Ler e escrever são uma das etapas de um processo de aprendizagem que será facilitado com uma riqueza de experiências e do vocabulário a elas associado. A aquisição da leitura e da escrita deveria ocorrer num momento natural, englobando outras linguagens e formas de expressão, como a dramática, a corporal, a musical, a artística, em atividades criativas e desafiantes. Por isso, compreende-se por que a aquisição da leitura e da escrita se dá paralelamente à alfabetização matemática, já que os processos mentais são os mesmos (agrupar, reunir, classificar, separar) e a matemática, a forma como a inteligência aborda a realidade. Portanto, deveríamos proporcionar tantas atividades e tantos desafios quanto possíveis, objetivando desencadear esses processos. 25 Qualquer prática deveria pressupor o aluno como sujeito do processo, que a si mesmo se alfabetiza, à medida que vai cooperando com os pais, com o professor e com os colegas, que vão mediando sua interação com o meio, numa construção coletiva (EMERIQUE, 2003). 3.2 Cantigas de roda Acredito que as cantigas de roda, em primeiro lugar, facilitam, dinamizam e propiciam prazer e alegria nas aulas. O importante é não utilizar as cantigas e brincadeiras de roda de maneira obrigatória e tão somente didática, como se fossem “muletas”, nos procedimentos daquelas aulas mal preparadas, e sim dentro de um projeto sério e bem planejado, elaborado com uma visão ampla de agregar as disciplina (português, matemática, ciências, história, ed. física e artística, etc) com um possível desenvolvimento físico e musical dos alunos. Segundo Prazeres (1993), a importância e o papel das cantigas de roda são resgatar as manifestações lúdico-musicais nas escolas e instituições de forma geral e também da comunidade com possíveis apresentações das escolas em eventos na comunidade. 3.3 Cantigas de roda em sala de aula Segundo Lamas (1992), no processo de adaptação de crianças na escola, principalmente é difícil e muitas vezes demorado, assim o contato e a troca de afeto tão necessária ao pleno desenvolvimento infantil ocorre de forma e prazerosa dentro das próprias brincadeiras que precisam de muitas crianças para fazer uma grande roda, por exemplo. Para as coreografias e dramatizações das cantigas é necessário união e acordo, caso contrário não funciona como deveria. No projeto os alunos poderão produzir uma fita cassete (ou um CD), acompanhado de um livro. Essa produção envolve importantes aprendizagens no campo da música, o que torna o projeto ainda mais significativo, pois, permite uma interface entre as áreas de Língua Portuguesa e Artes. Na montagem da fita cassete, professor e alunos deverão pesquisar os ritmos e as melodias das cantigas selecionadas, tomar decisões quando ao seu resultado sonoro e acompanhar a gravações das músicas. As cantigas de roda ou de ninar, os ritmos e melodias que acompanhar os momentos de trabalho e até mesmo as cantigas de amor e os ritmos religiosos presentes nas festividades 26 locais podem ser coletados e trabalhos pelos alunos que, com a ajuda do professor, organizarão seu registro escrito e oral. No dia-a-dia, os alunos cantam e brincam de roda. Quais são suas músicas preferidas? Elas têm relação com a cultura local? Será que seus pais e avós cantavam as mesmas cantigas quando crianças? Convidando os alunos para brincar e cantar na escola, o professor pode gerar discussões interessantes sobre a origem dessas cantigas; sua relação com a tradição oral da comunidade, do bairro ou com a cultura da região; as transformações pelas quais os ritmos e os movimentos que as acompanham sofreram ao longo dos tempos. Será também uma excelente oportunidade para ampliar seu repertório de cantigas e brincadeiras de roda, ao mesmo tempo em que aprendem sobre os costumes do lugar onde vivem. Casos conheçam poucas cantigas, o professor poderá organizar uma pesquisa junto aos familiares e outras pessoas da comunidade, além de apresentar a eles CDs e livros o assunto. 3.4 Aplicação das cantigas de roda na alfabetização Percebe-se que em regência de aulas para crianças de séries iniciais, que as aulas com músicas (cantigas de roda) eram mais incentivadoras, e divertidas de uma aprendizagem mais significativa em comparação com as outras aulas ou turmas que os professores não trabalhavam com músicas. Assim de uma maneira sutil, desde ao chegar na sala de aula, as saudações e inicio da aula com a leitura e audição de uma cantiga, com coreografia e animação os alunos participam ativamente da “brincadeira” de aprendizagem, que era muito produtiva para eles. (PRAZERES, 1993). As cantigas de roda andam esquecidas ou pouco conhecidas, devido possivelmente à tecnologia e à correria da sociedade. O resgate das cantigas de roda valoriza nossa cultura, pois, são transmitidas de geração para geração. Assim trabalhamos de forma integrada com várias disciplinas de língua portuguesa, artes, educação física, estudos sociais, matemáticas, etc. Elaborar textos coletivos com os alunos a partir das letras das cantigas, criar outras cantigas de roda ilustrá-las, possivelmente organizar um livro com as cantigas já conhecidas e com novas criadas pelos alunos, fazer a revisão do que foi copiado do quadro negro com os alunos, usar a escrita como recurso de registro das cantigas. Segundo este autor a música tem fundamental importância auxiliando na reorganização da seqüência musical, e que determinada que as cantigas de roda auxiliam no tratamento de dificuldades fonéticas, no trabalho com crianças que não falam estimulam-se e 27 se demonstram interesse e compreensão do que estão ouvindo através de gestos ou pinturas e desenhos. As cantigas estimulam a fala dos bebês, antes de conseguirem cantar ouvem as canções contadas por suas mães, por exemplo. Grandes profissionais concordam (como educadores, professores, psicólogos, recreacionistas, fonoaudiólogos, etc) que a música é fundamental para o processo de crescimento das crianças, com cunho pedagógico e que com objetivos de enriquecimento curricular. Atualmente muitas pessoas, educadores, ONGs, instituição estão trabalhando com as cantigas de rodas com projetos ricos e interessantes, sempre me encantaram as cantigas e sempre acreditei na magia da aprendizagem que elas podem proporcionar. O trabalho com textos relacionados à tradição oral – as cantigas de roda, as parlendas, as piadas, os “causos”, etc. – permite aos alunos do primeiro ciclo, ainda em fase de alfabetização, escrever e refletir sobre textos cujo conteúdo lhe soa familiar, pois já foram narrados por seus familiares e pela comunidade como um todo em momentos de lazer e de trabalho ou ainda nas festas e comemorações típicas de sua cidade. Eles podem, assim, participar de situações de leitura e de escrita sem se preocupar tanto em decifrar o que está escrito, concentrando-se na reflexão sobre como o texto foi escrito e organizado. Além disso, por serem que se canta ou se recita, podemos ampliar suas experiências no campo da linguagem oral, além de participar de atividades nas quais tenham de aprender a adequar a entonação e o ritmo de sua fala de forma distinta da que empregam em seu dia-a-dia. 3.5 Aspectos Musical BRAGA, (1950) olhando para o aspecto musical das cantigas temos que atentar para a seleção das cantigas, pois, podem transmitir sentimentos de melancolia, agressividade, punição, etc. Para exemplificar esses sentimentos, podem-se citar as seguintes cantigas: Agressividade “A carrocinha pegou Três cachorros de uma vez Trá lá lá..... Que gente é essa? 28 Trá lá lá..... Que gente má!” Agressividade associada a mecanismo de defesa, que deve ser explicado pelo educador porque acontece e trabalho com os maus tratos com os animais, por exemplo: Ansiedade / Saudade “Nesta rua, nessa rua Tem um bosque Que se chama Que se chama Solidão Dentro dele Dentro dele mora um anjo Que roubou Que roubou meu coração..” Pode manifestar ma criança suas “ansiedades não resolvidas diante de separações e tentativas de elaboração do luto pela perda da relação mãe bebê”. Punição “Samba Lelê está doente Está com a cabeça quebrada Samba Lelé esta doente Está com a cabeça quebrada Samba Lelé precisava Era de umas boas palmadas. Samba, Samba, ô Lê, Pisa na barra da saia Ô Lê... Pode expressar receio de punição por estar doente, ou por castigos corporais. 29 No caso de muitas cantigas temos a demonstração do desenvolvimento, da busca por novas amizades, fora do ambiente familiar, que implicam em uma série de riscos, expectativas e escolhas com as quais é preciso lidar. “Ai eu entrei na roda Para vê como se dança Eu entrei na contra-dança Eu não sei dançar... Sete e sete são quatorze Três vez sete vinte e um Tenho sete namorado Mas não gosto de nem um Podemos utilizar as músicas para serem rescritas através de desenhos, assim passamos à cantiga e solicitamos às crianças que desenhem o que ouviram e entenderam da música. E sempre prestar atenção na seleção das músicas e cantá-las com alegria procurando sempre associá-las a uma coreografia para facilitar a memorização da letra e movimentos. Além de poder trabalhar com a integração de varias disciplinas. 30 3.6 Cantigas d roda no processo da Linguagem oral e escrita A música é também uma linguagem porque é, sem dúvida, um excelente meio de comunicação e expressão. Quando oferecemos às crianças, variadas oportunidades de desenvolver e aperfeiçoar sua capacidade de expressar-se “artisticamente”, através da música, do desenho, pintura, recorte, modelagem, podemos contribuir para sua auto-afirmação e auto-realização (VIANA, 1998, p.380). De modo informal, a música está sempre presente no dia-a-dia das crianças. Outro efeito saudável em ouvi-la é o das mudanças posturais e da própria expressão corporais, tanto faciais, (leveza de expressão) quanto corporais (expansão, contração) exercitando a respiração, chegando quase a ser um exercício de melhoria no ato de respirar. Cantigas de rodas são muito valiosas, a criança gosta de cantar, imitar, gesticular, e quanto mais o movimento se aproxima de sua natureza interior, melhor será o benefício. (GOMES, 2000, p.16 ). Segundo Sampaio (2000) a musicoterapia é, basicamente, um meio para se chegar a um fim. Através dela, alcançam-se objetivos específicos como à melhoria da linguagem, coordenação, percepção, comunicação, etc., como crianças que possuem dificuldades de interação como o meio em que vivem ou, inclusive, portadores de deficiências. Segundo Prado trabalhar com a música serve para todos observarem a organização formal do texto e favorece a memorização da letra da música que será trabalhada depois. Os alunos poderão estabilizar a escrita de algumas palavras bem como repetições, título e grafia. A criança participa de situações de leitura e escrita mais facilmente. Afinal, ela já sabe o que está escrito e pode prestar mais atenção à forma como se escreve. É possível que alguém ainda não plenamente alfabetizado, mas domine palavras, inícios de palavras e repetições, consiga "ler" a letra, acompanhando os versos com o dedo. Ao se trabalhar com cantigas com coreografia é um caminho para a memorização das letras, o trabalho com as palavras veio a seguir, canções com palavras repetidas ajudam os pequenos na construção de estratégias de leitura. Nas séries iniciais, ela é um excelente veículo para o aluno perceber como se dá a organização espacial do texto, o uso de maiúsculas e a grafia das palavras. 31 Ela também dá à criança a oportunidade da releitura, por ocasião da revisão do que foi copiado do quadro-negro. Assim, ela aprende que um texto só fica bom depois de uma ou mais revisões. Cada erro que o aluno encontra antes do professor (ou junto com ele) cimenta a noção de que o desenvolvimento intelectual não cai do céu, mas é conquistado com esforço, linha a linha. Se cada grupo for responsável por uma parte do livreto, certamente cuidará para que não haja erros. Nem que seja na "nossa" parte. Como em todo didática, a avaliação deve ser feita de forma contínua, não apenas no final das atividades, cabendo ao professor, levar em conta que a aprendizagem se dá em três vertentes distintas: as atividades relacionadas ao conteúdo proposto (pesquisa sobre cantigas de roda, ligadas à alfabetização (leitura acompanhada das músicas trabalhadas, confecção de cartazes, caça-palavras ou palavras cruzadas com as palavras conhecidas, montagem de textos lacuna dos ou com letras, palavras ou frases móveis) e, finalmente, as que se relacionam a tarefas permanentes do alfabetizador como a leitura). Embora, ao se trabalhar com a música, a mesma seja usada muito mais como um veículo para acelerar a alfabetização e garantir seu sucesso, não se pode deixar de lado o prazer de cantar. É importante destacar esse ponto porque é comum ele ser desprezado – muitos professores, preocupados em enaltecer o valor da música para a nossa história e cultura, se esquecem da alegria que a canção em si proporciona às crianças. Site: Artigo na revista Nova Escola (2001). 32 CONSIDERAÇÕES FINAIS Cantar, dançar, compartilhar, transformar, imitar, recriar, inventar, pensar... são vários movimentos vitais contidos nas cantigas infantis. Quando não são valiosos os motivos culturais, que podem ser resgatados através das cantigas e de brincadeiras de roda, que com um caráter autentico e simples, tem o poder de comunicação e uma ressonância imediata no espírito das pessoas que ouvem, praticam e recriam. As cantigas e brincadeiras de roda têm as raízes nas relações primárias do desenvolvimento humano. A simplicidade de seus caminhos rítmicos e melodias refletem os traços psicopedagógicos e adequados à etapa do desenvolvimento infantil, facilitando a aprendizagem de maneira lúdica e criativa. Podemos concluir que a utilização da música como instrumento de aprendizagem, na educação nas séries inicias, traz muitos benefícios. Através da música a criança desenvolve suas emoções, sua imaginação e sua sensibilidade. A criança passa a ser mais observadora e mais sensível às coisas que acontecem ao seu redor e principalmente o que for relacionado às artes. Desenvolve também a expressão corporal, pois a música estimula a fala e a dança. Não podemos de falar também que as crianças passa a se sociabilizar muito melhor, pois, através da interação com os colegas a criança perde a inibição. Segundo Romero em seu artigo: pôde-se verificar que se o professor privilegiar os textos que contenham letras de músicas folclóricas e parlendas, no processo de alfabetização, esse processo se torna lúdico, prazeroso e eficiente, por se tratar de um gênero que já circula no cotidiano das crianças, uma vez que estas, quando desafiadas, demonstram interesse e entusiasmo pelas parlendas e músicas folclóricas e se motivam para vivenciar o processo de ensino e aprendizagem no que se refere à aquisição da linguagem e escrita. Site:www.inicepg.univap. 33 No entanto, este trabalho mostrou-se que como o lúdico pode ser uma possibilidade de mudarmos do ensino mecânico tradicional para um ensino mais significativo para a aprendizagem da criança. Não pretendemos apresentar um modelo a ser seguido, mas buscarmos a introdução de atividades lúdicas como um recurso a mais no processo de alfabetização. 33 REFERÊNCIAS BRAGA, Henriqueta - Peculiaridades Rítmicas e Melódicas do Cancioneiro Infantil Brasileiro. Rio de Janeiro, RJ, 1950. BRITO, Teca Alencar. A música na educação infantil. São Paulo: Petrópolis, 2003. BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003. EMERIQUE, P.S. Brinca, Aprende, dicas lúdicas para pais e professores. Campinas, Papirus Editora, 2003. MELO, Veríssimo de. Folclore Infantil. .Educação Infantil. Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, MG, 1985. LAMAS, Dulce Martins. A música tradicional folclórica oral no Brasil. Rio de Janeiro: CBAG, 1992. PRADO. Ricardo, de João Neiva (ES) Revista Nova Escola: Edição Nº146 Outubro de 2001. PRAZERES. Soni . O canto que cura. Ed. Atheneu – Rio de Janeiro RJ 1993. REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL 1999. VIANA, Moacir da Cunha. Ensino Fundamental. São Paulo. Didática Paulista, 1998. SITE: www.novaescola : disponível 15/06/2008. SITE: www.construirnoticias.com.br/A Expressão Musical Infantil. Disponível 18/06/2008. 35 SITE: www.inicepg.univap Martha Marcelino Romero. A letra da música Folclore.Disponível l8/06/2008. SITE: www.construirnoticias.com.br//música Revista Voltada à Educação. Disponível 18/06/2008. 36 ANEXOS 37 Cantigas de Roda A barata A barata diz que tem Sete saias de filó É mentira da barata Que ela tem é uma só Rá, rá, ra Ró, ró, ró Ela tem é uma só A barata diz que tem Um sapato de fivela É mentira da barata O sapato é da irmã dela Rá, rá, ra Ró, ró, ró Ela tem é uma só A barata diz que tem um anel de formatura É mentira da barata Ela tem é casca dura Rá, rá, ra Ró, ró, ró Ela tem é uma só A barata diz que usa Um perfume muito bom É mentira da barata Ela usa é detefon A Canoa Virou A canoa virou, Fui deixar ela virar, 38 Foi por causa de fulano(nome da criança) Que não soube remar. Siriri pra cá, siriri pra lá Fulana é velha E quer se casar Siriri pra cá, siriri pra lá Fulana é velha E quer se casar Se eu fosse um peixinho E soubesse nadar, Eu tirava fulano (nome da criança) Do fundo do mar. Siriri pra cá, siriri pra lá Fulana é velha E quer se casar Siriri pra cá, siriri pra lá Fulana é velha E quer se casar Ai bota aqui, ai bota ali o seu pezinho Ai bota aqui ai bota ali o seu pezinho O seu pezinho bem juntinho com o meu (bis) E depooois não vá dizer Que vocêêê já me esqueceu (bis) Ai bota aqui ai bota ali o seu pezinho O seu pezinho bem juntinho com o meu (bis) E vou chegaaar nesse seu corpo Um abraaaço quero eeu (bis) Ai bota aqui ai bota ali o seu pezinho O seu pezinho bem juntinho com o meu (bis) Agora queee estamos juntinhos 39 Me dá um abraaaço e um beijinho Alecrim Alecrim, alecrim dourado Que nasceu no campo Sem ser semeado Alecrim, alecrim dourado Que nasceu no campo Sem ser semeado Foi meu amor Que me disse assim Que a flor do campo É o alecrim Foi meu amor Que me disse assim Que a flor do campo É o alecrim Atirei o pau no gato Atirei o pau no gatô-tô Mas o gatô-tô Não morreu-reu-reu Dona Chicá-cá Admirou-sê-sê Do berrô, do berrô que o gato deu: Miauuu! Borboletinha Borboletinha, Tá na cozinha, Fazendo chocolate, Para a madrinha. 40 Poti, poti, Perna de pau, Olho de vidro, Nariz de pica-pau, pau, pau. Borboletinha, Tá no jardim, Fazendo cambalhotas, Só para mim. Poti, poti, Perna de pau, Olho de vidro, Nariz de pica-pau, pau, pau. Cai, Cai, Balão Cai, cai, balão! Cai, cai, balão! Na rua do sabão. Não cai, não! Não cai, não! Não cai, não! Cai aqui na minha mão! Carneirinho – Carneirão Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, Olhai pro céu, olhai pro chão, pro chão, pro chão. Manda el-rei, nosso senhor, senhor, senhor, Para todos se ajoelharem. Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, 41 Olhai pro céu, olhai pro chão, pro chão, pro chão. Manda el-rei, nosso senhor, senhor, senhor, Para todos se levantarem.