Tese apresentada à Divisão de Pós-Graduação do Instituto Tecnológico de Aeronáutica como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Ciência no Curso de Física na Área de Física de Plasma. FERNANDO CRUZ BARBIERI “Modificação de propriedades superficiais de ligas de Ti6Al4V por processo de nitretação a plasma” Pesq. Dr. CHOYU OTANI Orientador Pesq. Dr. WILFREDO M. I. URRUCHI Coorientador Prof. Dr. HOMERO SANTIAGO MACIEL Chefe da Divisão de Pós-Graduação Campo Montenegro São José dos Campos, SP – Brasil 2001 “Modificação de propriedades superficiais de ligas de Ti6Al4V por processo de nitretação a plasma” FERNANDO CRUZ BARBIERI Composição da Banca Examinadora: Prof. Homero Santiago Maciel, Dr. Presidente - ITA Pesq. Choyu Otani, Dr. Orientador - ITA Pesq. Wilfredo M. I. Urruchi, Dr. Coorientador – ITA Prof. Carlos Moura Neto, Dr ITA Profa Déborah Dibbern Brunelli, Dra ITA Profa Nélia Ferreira Leite, Dra INPE ITA, Julho de 2001 II ÍNDICE GERAL iii Índice de Figuras vi Índice de Tabelas x Simbologia xi Agradecimento xiii Resumo xv Abstract xvii 1-INTRODUÇÃO............................................................................................. 1.1- Objetivo..................................................................................................... 2-REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................... 2.1 – Biomateriais............................................................................................. 2.1.1 – Fontes de biomateriais..................................................................... 2.1.2 – Biocompatibilidade.......................................................................... 2.1.3 – Seleção dos biomateriais...................................................... ............ 2.1.4 – Biofuncionalidade............................................................................ 2.1.5 – Titânio e sua liga Ti6Al4V.............................................................. 2.1.5.1 – Elemento químico titânio...................................................... 2.1.5.1.1 – Estrutura cristalina do titânio..................................... 2.1.5.1.2 – Propriedades físicas, magnéticas e mecânicas do titânio........................................................................................ 2.1.5.1.3 – Classificação das ligas de titânio............................ 2.1.5.1.3.1 – Ligas α ............................................... 2.1.5.1.3.2 – Ligas quase α................................... 2.1.5.1.3.3 - Ligas (α+β)....................................... 2.1.5.1.3.4 – Ligas quase β..................................... 2.1.5.1.3.5 – Ligas β............................................... 2.1.5.2 – Liga Ti6Al4V.................................................................... 2.1.5.2.1 – Propriedades físicas, mecânicas, térmicas e elétricas da liga Ti6Al4V.......................................................... 2.2 – Plasma...................................................................................................... 2.2.1 – Definição de plasma........................................................................ 2.2.2 – Descarga elétrica.............................................................................. 2.2.2.1 – Introdução.............................................................................. 2.2.2.2 – Regiões da curva característica de uma descarga............ 2.2.2.3 – Descarga luminescente............................ .............................. 2.2.3 – Parâmetros do plasma ..................................................................... 2.2.3.1 – Grau de ionização.................................................................. 2.2.3.2 – Comprimento de Debye......................................................... 2.2.3.3 – Bainha do plasma................................................................... 2.2.2.4 – Temperatura do plasma.......................................................... 1 5 7 7 7 8 9 11 12 12 13 14 15 16 16 16 17 17 17 22 25 25 25 25 26 29 30 30 31 32 34 III 2.2.4 – Processos de colisão do nitrogênio.................................................. 2.2.4.1 - Colisões elásticas.................................................................... 2.2.4.2 - Colisões inelásticas................................................................. 2.2.4.3 - Colisões superelásticas........................................................... 2.2.5 – Jato de plasma.................................................................................. 2.2.6 – Técnicas de diagnóstico de plasma. ............................................... 2.2.6.1 - Determinação da energia dos íons.......................................... 2.3 – Nitretação Iônica...................................................................................... 2.3.1 – Histórico........................................................................................... 2.3.2 – O processo de nitretação................................................................... 2.3.3 – Considerações fundamentais de tratamentos de superfície por plasma.............................................................................................. 2.3.3.1 – Química do plasma................................................................ 2.3.3.2 – Potencial do plasma............................................................... 2.3.3.3 – Reações entre o plasma e a superfície do substrato........... 2.3.4 – Nitretação iônica utilizando um reator jato de plasma..................... 2.3.5 – Processo de nitretação iônica no anodo de descarga luminescente em jato de plasma............................................................................. 2.3.6 – Propriedades do titânio nitretado...................................................... 2.3.6.1 – Dureza.................................................................................... 2.3.6.2 – Resistência ao desgaste.......................................................... 2.3.6.3 – Resistência à fadiga............................................................... 2.3.6.4 – Resistência à corrosão............................................................ 2.3.6.5 – Ductilidade............................................................................. 2.3.7 – Vantagens do processo de nitretação iônica..................................... 3 – MATERIAIS E MÉTODOS....................... ............................................... 3.1 – Materiais.................................................................................................. 3.1.1 – Características do titânio utilizado................................. .................. 3.1.2 – Preparação das amostras para a nitretação iônica............................ 3.1.3 – O equipamento para a nitretação iônica........................................... 36 36 37 39 40 43 44 48 48 49 3.1.3.2 – Calibração.............................................................................. 3.2 – Metodologia............................................................................................. 3.2.1 – Condições do processo.................................................................... 70 73 73 51 52 54 55 57 57 59 59 60 60 61 61 62 63 63 63 65 66 3.2.1.1 – Estudo da influência do fluxo de massa na nitretação por jato de plasma....74 3.2.1.2 – Estudo da influência do intervalo de duração do processo na camada nitretada.............................................................................. 76 3.2.1.3 – Estudo da influência da mistura de gases N2 / H2 na camada nitretada................................................................................... 77 3.2.1.4 – Técnica de caracterização do plasma..................................... 78 3.2.2 – Técnicas de caracterização das camadas nitretadas......................... 80 3.2.2.1 – Difração de raios -X................................................................ 81 3.2.2.2 – Microscopia eletrônica de varredura..................................... 83 3.2.2.3 – Determinação da tensão superficial (molhabilidade)............ 86 3.2.2.4 – Nanoindentação..................................................................... 90 94 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 4.1 – Nitretação com variação do f luxo de massa de nitrogênio...................... 95 IV 4.1.1 – Difração de raios -X......................................................................... 4.1.2 – Microscopia eletrônica de varredura (MEV)................................... 4.1.3 – Analise microestrutural por espectroscopia de energia dispersiva (EDS)........................................................................................................... 4.1.4 – Dureza superficial por nanoindentação........................................... 4.1.5 – Tensão superficial (ângulo de contato)............................................ 4.2 – Nitretação com variação do tempo de processo de nitretação................. 4.2.1 – Difração de raios -X.......................................................................... 4.2.2 – Microscopia eletrônica de varredura (MEV)................................... 4.2.3 – Dureza por nanoindentação............................................................. 4.2.4 – Tensão superficial (ângulo de contato)............................................ 4.3 – Nitretação com utilização de diferentes misturas de gases N2 / H2......... 4.3.1 – Difração de raios -X.......................................................................... 4.3.2 – Dureza por nanoindentação............................................................. 4.3.3 – Tensão superficial (ângulo de contato)............................................ 4.4 – Caracterização do reator de jato de plasma com o analisador eletrostático de energia.................................................................................... 4.4.1 – Medição de íons positivos do gás argônio....................................... 4.4.2 – Medição de íons positivos do gás nitrogênio................................... 4.4.3 – Medição de íons positivos da mistura de gás N2 e H 2...................... 5 – CONCLUSÕES........................................................................................... 6 – SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS...................................... 7- BIBLIOGRAFIA.......................................................................................... 95 99 100 104 112 117 118 119 121 126 129 130 131 134 136 136 138 140 142 145 146 V Índice de Figuras páginas Figura 1 – Evolução do pH dos fluidos corporais após implante de uma prótese................................................................................................ Figura 2 – Transformações alotrópicas do titânio......... ...................................... Figura 3 – Diagrama de fases da seção isotérmica da região rica em Ti a 10000C, 9000C e 8000C ...................................................................... Figura 4 – Microestrutura da ligaTi6Al4Vapós um resfriamento lento através da fase β. As placas brancas correspondem ao material na fase α e entre a região escura e corresponde pelo contorno de grão. Esta é uma típica estrutura de Widmanstätten................................... Figura 5 – Ilustração esquemática da formação da estrutura Widmanstätten na liga Ti6Al4V por resfriamento lento através da fase β.................. Figura 6 – Ilustração da estrutura formada na liga Ti6Al4V após a têmpera para diferentes temperaturas de tratamento........................................ F Figura 7 - Regiões características de tensão x corrente entre dois eletrodos planos imersos em argônio (dist. 50 cm; pressão 1.10 5 Pa). (A) região de descarga não-auto-sustentada, (BC) descarga escura ou Townsend, (DE) descarga “glow” descarga normal, (EF) glow anormal, (FG) região de transição para regime de arco, (G) descarga em arco..................... ........................................................... Figura 8 – Esquema da blindagem de Debye...................................................... Figura 9 - Ilustração esquemática do mecanismo de produção de íons na bainha catódica.................................................................................. Figura 10 - Representação esquemática do fenômeno de troca de carga na bainha catódica.................................................................................. Figura 11 – Imagem digitalizada da região do orifício.......................................... Figura 12 – Diagrama esquemático da formação de um jato de plasma............... Figura 13 – Diagrama esquemático mostrando a polarização do analisador de energia de íons.............................................................................. Figura 14 – Esquema básico de um equipamento para a nitretação iônica........... Figura 15 – Processo de troca de energia em plasma de descarga luminescente.. Figura 16 – Esquema da distribuição do potencial de plasma em descarga de eletrodo planar................................................................................... Figura 17 - Diagrama esquemático dos processos de interações do plasma com a superfície de materiais............................................................ Figura 18 – Micrografia (óptica ou eletrônica) da liga Ti6Al4V antes da nitretação............................................................................................. Figura 19 – Difratograma da liga titânio Ti6Al4V (λ = 1.54 Å).......................... Figura 20– Representação esquemática do reator a jato de plasma construído do LPP................................................................................................ Figura 21 – Ilustração do posicionamento da amostra no porta-amostra. O disco escuro externo é o ímã posicionado ao redor do porta-amostra......... Figura 22 – Ilustração das posições dos eletrodos no reator................................. Figura 23 - Pressão na câmara fonte e na câmara de expansão em função do fluxo de massa.................................................................................... 11 14 19 19 20 22 27 32 33 33 41 42 43 50 53 54 56 64 65 66 68 68 70 VI Figura 24 – Quociente entre pressão da câmara fonte e a pressão da câmara de expansão em função do fluxo de massa de nitrogênio...................................... Figura 25 – Velocidade de bombeamento das bombas utilizadas......................... Figura 26 – Voltagem de descarga em função do tempo de operação para diferentes fluxos de massa de N2....................................................... Figura 27 – Esquema do arranjo experimental com o alvo aterrado para o estudo da influência do fluxo de N2 na nitretação de Ti6Al4V......... Figura 28 – Arranjo experimental usado para o estudo da influência do tempo de processamento nas propriedades da camada nitretada formada em Ti6Al4V........................................................................................ Figura 29 – Desenho esquemático dos potenciais de polarização das grades do analisador de energia..................................................................... Figura 30 – Diagrama esquemático da geometria de reflexão dos feixes de raios-X por diferentes planos formados pelos átomos constituintes do material.......................................................................................... Figura 31 – Difratômetro de raios -X da AMR/CTA............................................. Figura 32 – Diagrama ilustrativo dos principais componentes do microscópio eletrônico de varredura....................................................................... Figura 33 – Representação esquemática da incidência de um feixe de elétrons secundários de alta energia sobre a amostra....................................... Figura 34 – Microscópio eletrônico de varredura do INPE................................... Figura 35 – Esquema representativo da medida do ângulo de contato.................. Figura 36 – Sistema montado na USP para medir tensão superficial ................... Figura 37 – Esquema do aparelho de medir tensão superficial da USP / São Carlos.......................................................................................... Figura 38 – Nanoindentador do Departamento de Física da UFPR...................... Figura 39 – Representação esquemática: (a) de uma seção através da nanoindentação (b) da carga aplicada versus profundidade de penetração do penetrador.................................................................... Figura 40 – Difratograma de raios -x da liga antes de ser nit retada....................... Figura 41 – Difratograma de raios -X das amostras nitretadas em diferente fluxo de N2......................................................................................... Figura 42 – Micrografias eletrônicas das camadas nitretadas para diferentes valores de fluxo de N2 – aumento 10.000X...................................... Figura 43 – Micrografias eletrônicas das superfícies transversais das amostras nitretadas em diferentes fluxos de N2 com indicação mapeada por técnica de EDS linha amarela - aumento de 8000 X................... Figura 44 – Espectro de energia dispersiva da amostra tratada com um fluxo de nitrogênio de 0,3 sccm....................................................................... Figura 45 – Espectro de energia dispersiva da amostra tratada com um fluxo de nitrogênio de 0,5 sccm....................................................................... Figura 46 – Espectro de energia dispersiva da amostra tratada com um fluxo de nitrogênio de 0,7 sccm........................................................... ............ Figura 47 – Espectro de energia dispersiva da amostra tratada com um fluxo de nitrogênio de 1,0 sccm....................................................................... Figura 48 – Distribuição de impressão da nanoindentação ao longo da superfície da camada nitretada........................................................... 71 72 72 75 76 78 81 83 84 85 86 88 88 89 90 92 96 97 99 101 102 102 103 103 105 VII Figura 49 – Dureza medida na superfície por nanoindentação na amostra original de Ti6Al4V e nas nitretadas em diferentes condições de fluxo de N2, em função da profundidade de penetração do indentador........................................................................................... Figura 50 – Dureza da camada nitretada em função ao fluxo de gás utilizado para diferentes profundidades de penetração do indentador............... Figura 51 – Módulo de elasticidade medido na superfície por nanoindentação na amostra original de Ti6Al4V e nas nitretadas em diferentes condições de fluxo de N2, em função da profundidade de penetração do indentador.................................................................... Figura 52 – Gota da solução de NaCl, sobre amostra não nitretada. a) no instante 0 min; b) instante 5 min........................................................ Figura 53 – Gota da solução de NaCl sobre amostra nitretada com fluxo = 0,3 sccm a) no instante 0 min; b) instante 5 min............................... Figura 54 – Difratograma de raios-X das amostras tratadas para diferentes tempos de processamentos.................................................................. Figura 55– Micrografia por MEV da camada nitretada com tempos de nitretação variado: a)120min; b) 90 min; c) 60 min e d) 30min – aumento de 1000 X............................................................................. Figura 56 – Dureza determinada por nanoindentação em superfície da liga de Ti6Al4V original e nitretada por intervalos de tempos variados....... Figura 57 – Dureza da camada nitretada em função do tempo de processos para diferentes profundidades de penetração do indentador .............. Figura 58 – Módulo de elasticidade medida na superfície por nanoindentação, na amostra original de Ti6Al4V e nas nitretadas a diferentes tempos de duração do processo, em função da profundidade de penetração do penetrador.................................................................... Figura 59 – Gota da solução de NaCl sobre amostra nitretada com tempo de 2 horas de processamento. a) no instante 0 min; b) instante 5 min. Figura 60 – Difratograma de raios-X das amostras nitretadas utilizando misturas de N2 : H2 para diferentes valores de fluxo total de gases injetados (a) e (b) 0,3 sccm; (c)e (d) 0,5 sccm.......................... Figura 61 - Dureza medida por nanoindentação na superfície das amostras de liga de Ti6Al4V não nitretada e nitretadas em diferentes condições de mistura de gases N2 : H2 e em diferentes valores de fluxo total de mistura de gases.............................................................................. Figura 62 – Módulo de elasticidade determinada por nanoindentação na amostra original de Ti6Al4V e nas nitretadas em diferentes condições de misturas de N2 : H2 em função da profundidade de penetração do indentador.................................................................... Figura 63 – Gota de solução de NaCl sobre amostra nitretada – mistura 67 N2 / 33 H2 %. A) no instante 0 min; b) instante 5 min............... Figura 64 – Gráfico de : (a) Corrente de íons (Ii) versus voltagem de desaceleração (φ), (b) dI / dφ em função da energia dos íons coletados pelo analisador de energia................................................. 106 108 110 113 114 119 120 122 123 125 127 130 132 133 134 137 VIII Figura 65 – Gráfico de : (a) Corrente de íons (Ii) versus voltagem de desaceleração ( φ), (b) Derivada da corrente em função do potencial em função da energia dos íons coletados........................ Figura 66 – Corrente máxima de íons de nitrogênio coletados no analisador em função do fluxo de nitrogênio....................................................... Figura 67 – Gráfico de : (a) Corrente de íons (Ii) em função da voltagem de desaceleração (φ), (b) Curva da derivada de corrente em função do potencial ............................................................................................. 138 139 141 IX Índice de Tabelas Tabela 1 – Tipos de materiais escolhidos para serem utilizados em medicina e odontologia pela sua biofuncionalidade........................................ Tabela 2 – Propriedades físicas e magnéticas do titânio puro........................... Tabela 3 – Propriedades mecânica do titânio puro............................................ Tabela 4 – Valores das propriedades físicas da liga Ti6Al4V sem tratamento. Tabela 5 – Valores das propriedades mecânicas da liga Ti6Al4V sem tratamento........................................................................................ Tabela 6 – Valores das propriedades térmicas da liga Ti6Al4V sem tratamento........................................................................................ Tabela 7 – Valores das propriedades elétricas da liga Ti6Al4V sem tratamento........................................................................................ Tabela 8 – Composição química da liga de titânio deste trabalho, analisado na AMR/CTA.................................................................. Tabela 9 – Resultados da pressão em função do fluxo de nitrogênio para se medir a energia dos íons positivos no reator.. ................................ Tabela 10 – Parâmetros do processo para diferentes condições de tempo de nitretação......................................................................................... Tabela 11 – Resultados das medições do ângulo de contato e do cálculo das tensões superficiais para cada condição de fluxo de N2...... .......... Tabela 12 – Parâmetros do plasma para diferentes condições de tempo de nitretação......................................................................................... Tabela 13 – Resultados da medição do ângulo de contato e da tensão superficial das amostras nitretadas por intervalos de tempos distintos .......................................................................................... Tabela 14 – Parâmetros do plasma para diferentes condições de mistura de gases............................................................ ..................................... Tabela 15 – Resultados da medição do ângulo de contato das amostras tratadas com mistura de gases N2 / H 2 em diferentes proporções e fluxos totais..................................................................................... páginas 12 15 15 22 23 23 23 63 79 95 115 117 127 129 135 X Simbologia a ,b,c A c.c. Ccc Cfc D D Dφ dI dhkl Do eE E F ƒ(v) ƒ(E) G H hg hC hS Hc H H2 Ii Ddp K MF Ms J N ni ni ni ne nn N+ N0 N* N2+ N20 N2* P P1 Parâmetros da rede de uma célula unitária Área de contato projetada para a carga máxima Corrente contínua Cúbica de corpo centrado Cúbica de face centrada Distância entre a amostra e o orifício de constrição Largura da gota Derivada da voltagem de desaceleração Derivada da corrente de íons Distância interplanar Diâmetro de constricção Elétron Energia das partículas Módulo de elasticidade Força aplicada do indentador Função da velocidade de íons Função de distribuição dos íons Transparência das grades Deslocamento total do penetrador Altura da gota Profundidade de contado Deslocamento da superfície no perímetro de contato Hexagonal compacta Dureza Molécula de hidrogênio Corrente de íons Diferencial de potencial Constante de Boltzmann Temperatura de recozimento Temperatura de têmpera Densidade do plasma Número de partículas neutras Densidade dos íons Número de partículas ionizadas Densidade de íons em frente da janela de entrada Densidade de elétrons Densidade da partícula neutra Íon atômico de nitrogênio Átomo neutro de nitrogênio Átomo de nitrogênio no estado excitado Íon do nitrogênio molecular Molécula neutra do nitrogênio Molécula de nitrogênio no estado excitado Pressão média do gás Pressão na câmara antes da expansão XI P2 P máx PH r.f. Te Tg Tex Tion Td Tr TÐÐ T⊥ VB <v> Vφ vi vi,n Vc vz α E ε ε0 φ φf γ(lv) γ(sv) γ(sl) λ λD θ τ Pressão depois da expansão Carga máxima da indentação sobre a amostra Potencial hidrogênico Rádio-freqüência Temperatura do elétron Temperatura do gás Temperatura de excitação Temperatura de ionização Temperatura de dissociação Temperatura de radiação Translação dos íons paralelos ao campo magnético Translação perpendicular para o campo magnético Voltagem crítica Velocidade média Tensão de ruptura Velocidade média dos íons Velocidade de íons na direção normal à superfície de coleta Velocidade crítica dos íons que intercepta a bainha do analisador Velocidade apenas em uma direção Grau de ionização Módulo de elasticidade Rigidez Permissividade do espaço livre Potencial retardador no analisador de energia Potencial flutuante Tensão interfacial líquido-vapor Tensão interfacial sólido-vapor Tensão interfacial sólido-líquido Comprimento de onda Comprimento de Debye Grau de molhabilidade Tensão superficial XII Agradecimentos No período do desenvolvimento deste trabalho tive o apoio e incentivo de muitas pessoas, as quais gostaria de agradecer. A Deus. Aos meus pais Geraldo Barbieri, Marilene Cruz Barbieri e meu irmão Luciano Cruz Barbieri pelo carinho, apoio, força e muita compreensão. Á CAPES, ao CNPq e à FAPESP pelo suporte financeiro. Ao Comando da Aeronáutica, ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA) através do Instituto Tecnológico de aeronáutica (ITA), por proporcionarem apoio técnico para a realização do presente trabalho. Aos meus orientadores, Prof. Dr. Choyu Otani e Prof. Dr. Wilfredo Milquiades Irrazabal Urruchi, pela paciente orientação, dedicação e amizade sem as quais este trabalho não teria sido realizado. Ao Prof. Dr. Homero Santiago Maciel pelas discussões e sugestões, e ao Prof. Dr. Jayr de Amorim Filho pelo apoio e incentivo no período do desenvolvimento deste trabalho. Ao Prof. Dr Carlos Maurício Lepienski, pelo auxílio na realização das análises de nanoindentação e também pela receptividade durante minhas permanências no Laboratório de Nanoindentação da UFPR. Ao Prof. Gilberto Goissis, pelas valiosas sugestões nas análises por microscopia eletrônica de varredura e nas análises microestrutural por espectroscopia de energia dispersiva e ao Dr. Marcos Bet, pela paciência nas análises e determinação da tensão superficial no IQSC/USP. XIII Ao Engenheiro Ronaldo Rodrigues da Cunha, pela execução de ensaios de difração de raios-X das amostras (AMR) e à técnica Maria Lúcia de Mattos, pela execução de ensaios por microscopia eletrônica de varredura das amostras (INPE). Ao Prof.Dr. Aparecido dos Reis Coutinho, pela amizade, apoio e pela indicação do orientador e instituição e ao grande amigo Prof. Carlos Mariano pelos ensinamentos de vida. Ao Prof. Dr. Carlos Moura Neto, Prof. Dr. Gilberto Petraconi Filho e Prof. Dr. Clodomiro Alves Jr., pelo incentivo, apoio e amizade. Aos Técnicos Donizeti Cerqueira, Roberto, Garufe e Anderson, pela amizade, paciência e boa vontade na construção de peças do reator e às secretárias Lindalva e Lúcia pelo apoio nesses dois anos de trabalho. Agradecimento especial ao meu eterno amigo Toby. Aos amigos da Física que sempre estiveram ao meu lado em todas as horas: Paulo Pavani Jr., Jorge Sales pela grande frase que nem Freud explica (“se você está aqui, quem está lá“), Galvani Alves Lacerda, Rita de Cássia Tenório, Douglas Fregolente, Clemilda Valente, Profa. Margarete Silva, Profa. Teresinha Saes, Sandro Polanco, Samanta Reis, Joares Lidovino Jr., Juscelino Nagai, Lea Nishioka, Caetano, Adilson e todos os professores do Departamento de Física do ITA. Aos amigos do quarto 302 do Hotel de Trânsito dos Oficiais: Érico Santana, Rodolfo Machado, Karlus Macedo, Haroldo do Nascimento e Aníbal, pela grande amizade e pelas longas conversas que atravessavam a madrugada. Aos grandes amigos de república de graduação: Tiago de Freitas, Roberto Bonassole, Luciano P. de Moura, Sergio M. Costa, Gustavo Januzzi, Fernando Januzzi, André Largueza, pela inesquecível e infinita amizade. À todos, minha eterna gratidão. XIV Resumo O presente trabalho tem como finalidade estudar a melhoria das características superficiais da liga Ti6Al4V, induzida pelo processo de nitretação iônica. Objetiva-se aumentar a dureza e melhorar as características de hemocompatibilidade, tendo em vista a sua aplicação futura na confecção de válvula cardíaca mecânica. O processo foi desenvolvido em um reator de jato de plasma de nitrogênio e estudouse a influência de parâmetros do processo como fluxo de nitrogênio, tempo de processamento e porcentagem de N2 na mistura N2 : H2 usada na descarga, nas características físico-químicas de ligas tratadas de Ti6Al4V. Outros parâmetros, como tensão de descarga, pressão da câmara e temperatura, foram ajustadas de maneira a poder sustentar a descarga com 100 mA de corrente elétrica. A formação das fases de nitreto de titânio nas amostras tratadas com diferentes condições pode ser verificada pela análise estrutural feita com a difração de raios-X. As durezas das camadas nitretadas foram qualitativamente analisadas pela técnica de nanoindentação, que identificou de maneira semiquantitativa a espessura da camada de maior dureza formada em cada amostra. A microscopia eletrônica de varredura e espectroscopia de energia dispersiva de raios-X foram utilizadas para avaliar a variação na textura da superfície da amostra em função das condições de nitretação iônica. O melhoramento da propriedade superficial, quanto à tensão de contato que dita a característica da molhabilidade, foi verificado pela técnica da determinação de ângulo de contato. O estudo permitiu verificar que a diminuição do fluxo de nitrogênio, numa faixa entre 1,0 e 0,3 sccm, assim como o aumento no intervalo de tempo de processamento e concentração de N2 na mistura N2 : H2, aumentam monotonicamente os valores das características mecânicas, como dureza e módulo de elasticidade do filme nitretado. A análise XV energética dos íons produzidos na descarga elétrica foi feita com o analisador de energia construído e colocado na câmara de processamento deste reator. Os resultados obtidos permitiram inferir que uma das principais causas da melhora na característica da camada nitretada é o aumento da energia dos íons de nitrogênio incidentes sobre a amostra processada. Um dos principais e relevantes resultados do presente trabalho foi, sem dúvida, a obtenção de uma liga de titânio nitretada no anodo de um reator do tipo jato de plasma de baixa intensidade, com dureza amplificada por fator da ordem de 7 vezes a da amostra original, classificando o processo desenvolvido entre os trabalhos que apresentaram melhores resultados em nível internacional Esse jato de plasma de N2 permite concluir sobre a viabilidade técnica da utilização do reator no melhoramento das características físico-químicas da superfície de Ti6Al4V, multiplicando-se o potencial a aplicação da liga como biomaterial, mesmo na área de produção de implantes cardiovasculares. XVI Abstract This work was aimed to study the improvement of the surface characteristics of the Ti6Al4V alloy, induced by ion nitriding process. The main objective of work was to increase the hardness of this alloy improving its haemocompatibility nature, enhancing its potentiality for future application in mechanical cardiac valve. The process is developed in a nitrogen plasma jet reactor, studying the influence of following parameters of the process: nitrogen flow, processing time and ratio of N2 and H2 injection flow in the discharge gas mixture, on the physical–chemical characteristics of Ti6Al4V alloys. Other parameters as discharge tension, pressure and temperature of the chamber are fixed, in order to sustain the electrical discharge with an electrical current of 100 mA. The formation of titanium nitride in the treated sample at different conditions could be verified by X-ray diffraction technique. The hardness of the nitriding layer was determined by nanoindentation technique which also indicated the nitrided layer thickness of each sample. Scanning electron microscopy and X-ray energy dispersive spectrometry are used to evaluate the surface morphology change on the sample surface as a consequence of the ion nitriding process. The improvement of the surface property related to its wettability characteristic was analysed by a contact angle measurement technique. The results allow to verify that the decrease of the nitrogen flow, in the range of 1.0 to 0.3 sccm, the increase in time of processing time from 30 to 120 minutes and the N2 concentration in the mixture N2 : H2 from 67 to 33% and 80 to 20% (%volume), produce a monotonically increasing behavior for properties hardness and the elastic modulus of the nitride film. The energetic analysis of the ions produced in the electrical discharge is also XVII made, making an energy analyzer and positioned it at front of the constriction orifice from where the plasma jet is expanded in processing chamber of reactor. The results obtained from the ion energy measurements allowed to infer that the main fact that produces the nitriding layer characteristic improvement is the increase of the incident nitrogen ions energy on the sample surface. One of the most relevant results of this work, is the fact that we performed a effective nitriding process on titanium alloy sample positioned at the anode of a low intensity plasma jet reactor. Moreover the hardening achieved for the nitrided sample was seven times greater than the original sample, and this fact allows to classify own work among the best results already reported in the technical papers of the area. This plasma jet reactor which have been optimized in the present work can actualy be used to improve the physical-chemistry characteristics of the Ti6Al4V surface leading to enhance its biomaterial functionality in the cardiovascular implant devices production field. XVIII À meu pai Geraldo Barbieri, minha mãe Marilene Cruz Barbieri e meu irmão Luciano Cruz Barbieri pelo carinho, compreensão e apoio. XIX "A ciência sem a religião é imperfeita, a religião sem a ciência é cega." (Albert Einstein) XX 1- INTRODUÇÃO Em função do seu desempenho incomparável, o corpo humano pode ser considerado como uma máquina de natureza perfeita em relação àquelas, construídas pelo homem. Infelizmente, seja como resultado de acidentes ou mesmo de enfermidades, tal funcionamento pode ser prejudicado ou mesmo completamente interrompido, tendo-se como causa o mau funcionamento de um ou mais órgãos que compõem essa máquina. Em consideráveis parcelas de problemas observados, a solução passa por tentativas de recuperação de partes do corpo por meio de sua substituição por implantes sintéticos. A história dos implantes é bastante antiga. Um dos primeiros casos de implantes relatado na literatura remonta ao século XVI e está relacionada com o emprego de placas de ouro na recuperação do osso palato. Dois séculos mais tarde ocorreu o primeiro caso de implante de fios metálicos com o objetivo de facilitar a recuperação de fraturas ósseas [1]. Apesar dessa inovação médica e do potencial que as operações com implantes representavam, o entusiasmo dos cirurgiões da época chocava-se frontalmente com dois tipos de obstáculos: o alto índice de infecções e os problemas de rejeições, ambos resultantes da introdução de materiais não biocompatíveis no corpo de pacientes [1]. De acordo com a revisão feita por Cohen Jr. [2], a primeira prótese valvular, implantada em 1952 por Charles Hufnagel, consistia de uma prótese de bola (prótese mecânica) colocada na aorta descendente de um paciente com insuficiência aórtica grave. Em 1955, Murray deu início ao emprego dos homoenxertos valvulares implantando válvula aórtica, também na aorta descendente. Em 1960, Albert Starr utilizou uma prótese de bola para substituição da válvula mitral e, a partir de então, as próteses valvulares mecânicas passaram a ser amplamente utilizadas, surgindo vários modelos, entre eles o de um disco 1 basculante e o de duplo folheto. Mesmo com o avanço tecnológico no projeto e na escolha de materiais para construção de válvulas cardíacas mecânicas, estas não eram isentas de complicações, principalmente de tromboembolismo, razão pela qual foram introduzidas as biopróteses, inicialmente confeccionadas a partir de válvulas naturais de tecidos homólogos (fascia lata, dura-máter ou pericárdio) ou heterólogos, como o pericárdio bovino (PB)[2]. Foram comportamento realizadas em pesquisas termo de sobre tolerância os pelo metais que organismo apresentassem receptor, isto um é, melhor sobre a biocompatibilidade [2]. A evolução dos implantes, bem como estudos sobre biocompatibilidade de metais no organismo humano tiveram impulso significativo durante a guerra civil americana [3]. Os primeiros implantes empregados nessa época eram constituídos de metais nobres e de metais e ligas desenvolvidas para outros fins. Muitos outros conflitos militares foram também responsáveis pelo desenvolvimento de implantes em seres humanos. Desde a primeira década do século passado, devido à 1ª Guerra Mundial, a metalurgia teve desenvolvimento significativo, que resultou na concepção de novas ligas metálicas, como os aços inoxidáveis. Na 2ª Guerra Mundial, os implantes metálicos em geral, tiveram expansão bastante considerável, o que foi resultado principalmente no desenvolvimento muito expressivo na metalurgia e das técnicas de cirurgias. Dentro dessa expansão enquadra-se o emprego dos materiais metálicos na fabricação de articulações ósseas[3]. Os progressos da ciência e tecnologia metalúrgica permitiram obter na forma pura o titânio. Pelas suas características intrínsecas tornar-se-ia um metal ideal para aplicar em implantes. O primeiro implante realizado de peça confeccionada em titânio data de 1951, tendo sido confeccionados placas e parafusos usados na fixação de ossos fraturados [4]. Atualmente, com os avanços tecnológicos observados tanto na área de materiais como na de 2 cirurgia, diversas regiões do corpo humano podem ser reparadas, com a utilização de implantes protéticos a base de titânio puro ou de suas ligas. O preço relativamente alto de titânio até o presente não reflete a sua disponibilidade, desde que é o quarto metal estrutural mais abundante em natureza, sendo a sua utilização só excedida pelos metais: alumínio, ferro e magnésio, estando à frente do cobre, chumbo e zinco [5]. Os maiores depósitos de titânio encontrados até hoje estão na forma de rutilo (TiO2) e ilmenita (TiFeO3)[5]. A ex-União Soviética é conhecido por possuir suprimentos de titânio que de longe excedem os depósitos da Europa, exclusivos da Península Escandinavo. De fato, a ilmenita foi assim chamada devido às Montanhas de Ilmen no Urais da Rússia [5]. Os desenvolvimentos aconteceram em um pequeno espaço de tempo, contudo a existência do titânio já era conhecida há cerca de 150 anos[4]. Segundo Barksdale [5], a descoberta de titânio ocorreu no laboratório de William Gregor em 1790, porém o nome foi dado por Klaproth em 1795. A potencialidade ou aplicação deste novo elemento só foi descoberta mais tarde, em 1943, com a pesquisa realizada pelo Bureau of Mines no trabalho de desenvolvimento de processo básico inventado anteriormente por Dr. Wilhelm Kroll, em associação com Siemens e Helske, na Alemanha. Em 1946, Dr. Kroll, como membro do Bureau of Mines, publicou seu primeiro relatório mais importante sobre metal intitulado “Titânio e suas Ligas”[5]. O titânio é um metal estrutural com uma combinação inédita de propriedades. A aparência visual é semelhante à do alumínio e do aço inoxidável e pode-se comparar o desenvolvimento de sua utilização ao do alumínio, pois ambos sofreram uma expansão mais 3 rápida de aplicações que a observada em outros metais, devido à urgência emanada pelas necessidades típicas dos períodos de guerra. Além disso, surgiu também ao incentivo de programas aeronáuticos promovidos pelos Governos dos Estados Unidos da América e da ex-União Soviética como outra razão da evolução rápida nos últimos 50 anos apresentada pela indústria do metal titânio em âmbito internacional [5]. O uso extensivo de titânio e ligas de titânio nas diversas áreas industriais é baseado principalmente em duas características importantes: alta resistência mecânica específica e excelente resistência à corrosão. Estas propriedades têm levado o uso dessas ligas em aplicações nas áreas de alta tecnologia, como a aeroespacial e a construção de reatores químicos. A sua reconhecida biocompatibilidade tem também permitido avanços significativos na área de bioengenharia, por meio de seu uso como material para implantes [4]. Como as propriedades mecânicas do metal titânio não são consideradas ideais para confecção de certos tipos de implantes, como por exemplo, cardiovasculares, tem-se tentativamente melhorado a sua característica utilizando-se as ligas deste metal. Dentre elas, a mais utilizada é a liga Ti6Al4V que exibe propriedades mecânicas excepcionais [5]. Porém, mesmo esta liga pode não atender aos quesitos básicos da aplicação, como em discos de válvulas cardíacas mecânicas, necessitando-se melhorar o seu desempenho mecânico. assim de tratamentos superficiais para Um dos processos utilizados para essa finalidade é o da criação de um filme fino de nitreto por inserção de heteroátomos na estrutura da liga, ou seja, por nitretação. Esse tratamento reconhecidamente permite mudar as características físico-químicas superficiais da liga e produz aumento significativo na dureza, além de diminuir o coeficiente 4 de atrito, aumentando conseqüentemente a resistência ao desgaste. Essas modificações são também acompanhadas pelo melhoramento na biocompatibilidade, incluindo-se a característica hemocompatível da liga de titânio o que permitiria, em tese, uma melhora considerável no desempenho de próteses cardiovasculares [6]. A estrutura do nitreto de titânio que se forma na superfície é o parâmetro que dita a característica física do material tratado e é fortemente dependente do processo de tratamento utilizado, fato que motiva a realização do presente trabalho [7]. 1.1 – OBJETIVO Tendo-se como objetivo global estudar o processo de produção de filmes de TiN por nitretação iônica da superfície do substrato de Ti6Al4V, visando a produção futura de peças para válvulas cardíacas mecânicas, este trabalho possui os seguintes objetivos específicos: • Adequar e otimizar as características dos reatores a plasmas existentes no Laboratório de Plasmas e Processos (IEFF-ITA) para a realização de experimentos de tratamentos de nitretação superficial da amostra de liga de titânio. • Caracterizar sob o ponto de vista da física de plasma, o reator de jato de plasma utilizado neste trabalho, medindo-se a energia de íons para a descarga de diferentes gases tais como Ar, N2, e N2 : H2 nas condições utilizadas para a nitretação iônica das amostras de Ti6Al4V. 5 • Realizar experiências de modificação das características superficiais das amostras da liga Ti6Al4V e posteriormente estudar a influência dos parâmetros de processo tais como: temperatura, mistura de gás (N2 e H2), pressão, corrente elétrica e voltagem da descarga elétrica no substrato de Ti6Al4V e posteriormente utilizar técnicas de caracterização como microscopia eletrônica de varredura (MEV), espectroscopia de energia dispersiva (EDS), difração de raios-X (DR-X), ensaios de nanoindentação e ângulo de contato para a caracterização dos filmes obtidos. 6 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 – Biomateriais Biomaterial é definido como todo material utilizado para substituir, no todo ou em parte, um sistema biológico. Assim, pode-se ter biomateriais metálicos, cerâmicos, poliméricos e compósitos, ou ainda materiais com recobrimento de filmes biocompativeis. Sob esta ótica, para uma dada aplicação, pode haver mais de um material e/ou processo de fabricação disponível. Como característica imprescindível, esses materiais devem ser biocompatíveis, ou seja, devem atender ao requisito de funcionalidade para o qual foram projetados, provocando o mínimo de reações alérgicas ou inflamatórias no organismo receptor. O desenvolvimento de biomateriais mostra-se fundamentalmente importante no sentido que, desse desenvolvimento, prescreve-se uma melhoria no nível de vida das pessoas, representada por um aumento na expectativa de vida, na saúde em geral e no bem estar da população. Dessa forma, foi observado que, ao longo da história da humanidade, tem sido dispensado um enorme esforço pelos técnicos e cientistas da área, no intuito de se produzir novos dispositivos implantáveis [8]. 2.1.1 – Fontes de biomateriais Os biomateriais podem ter várias origens. Existem os materiais de origem biológica, que podem ser autógenos quando são retirados do próprio paciente, e alógenos, quando são 7 retirados de outros indivíduos. Os alógenos podem ser de origem animal de mesma espécie (humanos) ou outros, ou ainda terem sido produzidos em culturas de células. Nesta classificação enquadram-se também os materiais sintéticos. Estes podem ter sido sintetizados especificamente para essa aplicação ou terem sido feitos visando uma outra aplicação, e por apresentarem as propriedades necessárias, virem a ser utilizados como biomateriais [9]. 2.1.2 – Biocompatibilidade Os materiais biocompatíveis ou biomateriais desempenham papel essencial na vida de muito seres humanos. O biomaterial designa uma classe bastante ampla de substâncias naturais ou sintéticas, com propriedades mecânicas, físicas e químicas que, quando em contato com tecidos e fluidos de seres vivos, de forma permanente ou não, não lhes provocam reações de rejeição [10]. Geralmente, a utilização dos biomateriais no corpo humano enfrenta dois tipos de problema: o primeiro relaciona-se aos comportamentos biológico e químico e o segundo, ao desempenho físico e mecânico desses materiais. Os mecanismos que governam esses problemas são geralmente de natureza extremamente complexa e nem sempre são completamente compreendidos, o que, conseqüentemente, afeta a forma como o corpo humano responde ao contato com os biomateriais [11]. Como a biocompatibilidade depende das interações entre o implante e os tecidos adjacentes, não se pode afirmar de uma maneira geral, que um determinado material é biocompatível, portanto, aplicável à fabricação de qualquer peça implantável em qualquer paciente. O sucesso da substituição de partes de um sistema orgânico vivo por implantes está intimamente associado ao conhecimento das características básicas e papéis do tecido ou 8 órgão a ser recuperado, bem como ao comportamento e desempenho do biomaterial empregado e a reação do corpo humano em relação a este corpo estranho. O estudo destes tecidos tem sido o objetivo de áreas associadas à medicina e à engenharia, de tal maneira que hoje, é relativamente comum a realização de cirurgias da recuperação de partes do corpo humano utilizando-se implantes sintéticos com materiais metálicos, cerâmicos ou poliméricos. Um dos materiais mais utilizados na confecção de próteses para implantes é a liga Ti6Al4V. Esse material inicialmente desenvolvido para fins aeronáuticos e espaciais, devido às características mecânicas e químicas, apresentou compatibilidade com tecidos vivos, o que levou à popularização de seu uso como biomaterial nos últimos 30 anos [11]. 2.1.3 – Seleção dos biomateriais A análise da substituição de partes do corpo humano, do ponto de vista puramente mecânico, revela que as peças para implantes são de estrutura e projeto relativamente simples. Entretanto, tal substituição engloba outros aspectos, que podem ser sintetizados nas necessidades de biocompatibilidade entre o implante e o corpo receptor. Como em qualquer ramo de engenharia, a utilização de um material em implantes envolve o estudo detalhado das características e propriedades do mesmo. A seleção e especificação de um material a ser empregado na construção de próteses são realizadas de acordo com dois aspectos básicos: análise da região do corpo humano a receber o implante e das funções a serem desempenhadas por tal implante. Em função desses dois aspectos pode-se proceder à escolha conveniente do material a ser empregado, por exemplo: gelatinas e silicones são empregados para suplementação de tecidos moles; materiais elásticos para 9 reposição de músculos, pele, cartilagens e órgãos; materiais rígidos são usados para extensão de tecidos ósseos e também para confecção de implantes valvulares [11, 12]. No caso de produzir próteses valvulares à base de ligas de titânio, sabe-se que é recomendável a realização de tratamentos superficiais de endurecimento e melhoramento da hemocompatibilidade deste material. A nitretação iônica pode ser considerada um dos processos interessantes a ser estudado por permitir à liga um aumento da dureza superficial, ao mesmo tempo em que modifica a característica da energia superficial de contato com o fluido hemácico. Sempre que um material estranho é introduzido no corpo humano podem ocorrer reações de rejeições. A intensidade de tal rejeição pode variar de uma irritação ou inflamação leve até o caso de morte do paciente [13]. Em termos de características químicas, a interação entre o implante e os fluidos corporais é fundamental. Os fluídos corporais, em geral, consistem de uma solução de 1% de NaCl com outros sais e compostos orgânicos em menor quantidade, à temperatura próxima de 37 0 C. Em geral, tais fluidos exibem pH próximo de 7,4; porém, no caso de cirurgias de implante, temporariamente, tal valor pode ser alterado profundamente. Logo após a cirurgia, as células dos tecidos em contato com o implante reagem devido a sua presença, o que resulta na diminuição do pH. As características normais somente serão atingidas após alguns dias. Sabe-se que em uma área próxima à que recebeu implante podem ocorrer hematomas. Nestes locais com drenagem deficiente, o pH ácido é mantido por semanas [11]. Em todos os casos, o pH ácido do fluido corpóreo corresponderá a uma significativa solicitação adicional ao material do implante. A figura 1 apresenta um diagrama da evolução do pH de fluidos corporais após uma cirurgia de implantes [11]. 10 Figura 1 – Evolução do pH dos fluidos corporais após implante de uma prótese [11]. Dentro desse quadro de condições, a liga Ti6Al4V tratada superficialmente apresentase como uma boa opção para ser selecionada na confecção de próteses de válvula cardíaca mecânica. 2.1.4 – Biofuncionalidade Biofuncionalidade é o conjunto de propriedades que dá a um determinado dispositivo a capacidade de desempenhar uma função desejada, ao passo que a compatibilidade refere-se à habilidade do dispositivo continuar exercendo a sua função por um período de tempo tão longo quanto necessário. A biofuncionalidade é um dos critérios utilizados na seleção dos materiais com os quais serão confeccionados os dispositivos a serem utilizados como implantes. A tabela 1 apresenta funções típicas de alguns grupos de materiais que justificam a sua utilização sob o ponto de vista da biofuncionalidade. 11 Tabela 1 – Tipos de materiais escolhidos para serem utilizados em medicina e odontologia pela sua biofuncionalidade [14]. Tipo de material Função Aplicação Metal condutor elétrico, bactericida, prótese óssea, estética estrutural, revestimento Liga estrutural, tribológica de válvulas cardíacas, prótese articulações, condutor óssea elétrico Cerâmicas inertes estrutural, tribológica de prótese óssea articulações cerâmicas biotivas estrutural, regenerador de próteses teciduais tecidos Carbono controlador de fluxo válvulas cardíacas sangüíneo Termoplásticos controlador de fluxo válvulas cardíacas, prótese sangüíneo e de outros fluidos, óssea, estética, sondas, tribológica de articulações, prótese tecidual transmissor de luz, controlador de liberação de medicamentos, isoladores elétricos, regenerador tecidual Elastômeros enchimentos de cavidades, válvulas cardíacas, prótese, controlador de fluxo estética sangüíneo e de outros fluidos Compósitos estrutural, regenerador estética tecidual Materiais de origem biológica regenerador tecidual, válvulas cardíacas, estética, controlador de fluxo próteses sangüíneo, enchimentos de cavidades 2.1.5 – Titânio e sua liga Ti6Al4V 2.1.5.1 – Elemento químico titânio O titânio é um elemento químico de peso atômico 47,867, número atômico 22, e encontra-se localizado na Tabela Periódica junto à camada “N” e ao grupo IV B. É um elemento que se apresenta no estado sólido nas condições normais de temperatura e pressão. 12 O titânio possui características físico-químicas que lhe permitem formar uma variedade de ligas com diferentes tipos de metais, podendo apresentar propriedades variadas em um intervalo de valores amplos. Suas propriedades químicas são similares à do zircônio, háfnio e tório. Portanto, era esperado que o titânio pudesse possuir algumas propriedades similares encontradas nestes metais. O estado eletrônico fundamental do titânio é 1s 2, 2s2, 2p6, 3s2, 3p6, 4s2, 3d2, o que proporciona uma grande afinidade pelos elementos hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio, todos formadores de soluções sólidas intersticiais. Os compostos formados com cada um desses elementos aumentam a dureza e a resistência mecânica em relação à característica do metal puro [15]. É considerado um dos mais importantes metais não ferrosos devido às suas propriedades físicas, químicas e mecânicas. 2.1.5.1.1 – Estrutura cristalina do titânio A estrutura cristalina pode ser entendida como a distribuição espacial ordenada de um padrão formado por um ou mais átomos. A estrutura do arranjo atômico ou molecular é responsável pela característica físico-química do material. O titânio exibe estrutura cristalina do tipo hexagonal compacta (hc) que é denominada de fase α em uma faixa de temperaturas que vai de 25 0C até 882,5 0C. No limite superior desse intervalo de temperaturas, o titânio sofre uma transformação alotrópica e passa a apresentar-se com estrutura cúbica de corpo centrado (ccc), conhecida como fase β. O titânio 13 funde-se a 16720C e entra em ebulição a 3260 0C nas CNTP. As transformações físicas e estruturais do titânio são esquematicamente apresentadas na figura 2 [15,16]. Figura 2 – Transformações alotrópicas do titânio [16]. Ligas do tipo α + β podem ser obtidas por tratamentos térmicos adequados que produzem precipitação da fase β, que pode ficar retida [15]. Para o titânio, a aresta da célula unitária é igual a 3,3065 Å [17]. Sua razão c/a é igual a 1,588. 2.1.5.1.2 – Propriedades físicas, magnéticas e mecânicas do titânio A tabela 2 ilustra algumas propriedades do titânio puro. A tabela 3 mostra alguns valores das propriedades mecânic as do titânio puro. Todo os valores são os obtidos à temperatura ambiente de ensaio. 14 Tabela 2 – Propriedades físicas e elétricas do titânio puro [18,19]. Propriedades Grandezas Peso atômico 47,88 Massa específica 4,500 Ponto de fusão 1953 Condutividade térmica 21,9 Calor específico 522 Coef. de expansão térmica 255,37 Resistividade elétrica 55 – 65 Condutividade elétrica 2,7 - 3,1 Tabela 3 – Propriedades mecânica do titânio puro [18,19]. Propriedades Grandezas Resistência de ruptura em tração 241,26 .106 Resistência à compressão 137,86 .106 Módulo de elasticidade 103,00 . 109 Módulo de rigidez 344,80.108 Dureza (Vickers) 90 Unidades kg/m3 K W/m.K J/kg.k (293,1-1144,26 K), K Ω-m 1/Ω-m Unidades Pa Pa Pa Pa HV O titânio de elevada pureza tem uma resistência à tração relativamente baixa (241,26 .106 Pa), e elevada elongação até a ruptura (50%). Essas propriedades podem ser modificadas por meio da formação de ligas. 2.1.5.1.3 – Classificação das ligas de titânio De acordo com o tipo de microestrutura apresentado, as ligas de titânio podem ser divididas em cinco classes: 1. liga α , 2. liga quase α, 3. liga α + β, 4. liga quase β, 5. liga β. 15 2.1.5.1.3.1 – Ligas α As ligas α contêm altos teores de estabilizadores da fase α. Os elementos que estabilizam a fase α, chamados de alfagênicos são os metais simples do grupo IIIA e IVA (Al, Ga e Sn) e os elementos intersticiais ( H, C, N e O) [19]. O principal objetivo da adição de elementos de ligas ao titânio está associado à mudança do equilíbrio termodinâmico das fases α e β. Com a adição apropriada de elementos de ligas do titânio, é possível modificar a estabilidade de cada uma das fases e assim, modificar o comportamento mecânico do sistema. (titânio puro => fase α → a = 0,29508 nm, c = 0,46855nm e c / a = 1,588). Como exemplo de ligas dessa classe cita-se a liga Ti5Al2,5Sn. 2.1.5.1.3.2 – Ligas quase α São ligas que contêm elementos estabilizadores da fase α e pequenos teores de estabilizadores da fase β, na forma metaestável. Como exemplo de ligas dessa classe cita-se a liga Ti6Al5Zr0,5Mo0,25Si [20]. 2.1.5.1.3.3 – Ligas (α + β) As ligas α + β contêm elementos estabilizadores da fase α e da fase β, ampliando significativamente, o campo de estabilidade da estrutura α + β, até a temperatura ambiente. 16 Nesta classe, a liga mais utilizada, e que será detalhadamente discutida, é a liga Ti6Al4V. Umas das principais características da liga Ti6Al4V é, portanto, possuir a fase α + β, na temperatura ambiente [20]. 2.1.5.1.3.4 – Ligas quase β São ligas com altos teores de estabilizadores da fase β, suficientes para manter a fase β à temperatura ambiente. As ligas Ti10V2Fe3Al e Ti11,5V2Al11Zr representam esta classe [20]. 2.1.5.1.3.5 – Ligas β São ligas com altos teores de estabilizadores da fase β. Os elementos estabilizadores da fase β, chamados de elementos betagênicos, são os metais de transição (V, Nb, Mo, Mg, Cu, Cr, Fe ) e os metais nobres, isto é, os metais com afinidades com o titânio e que apresentam a banda de elétrons “d” (subnível d) não ocupado ou parcialmente ocupado[15,18] ( titânio puro => fase β → a =0,33065 nm)[20]. 2.1.5.2 – Liga Ti6Al4V Uma das ligas de titânio amplamente usada é a liga Ti6Al4V contendo 6% Al e 4% V (% em peso), que tem uma combinação excelente de dureza e resistência à corrosão de maneira que vem se destacando em aplicações em diversas áreas de indústrias aeroespaciais, 17 para a produção de vasos de pressão e turbinas de aeronaves. Outras aplicações importantes são como lâminas de compressor, implantes cirúrgicos, etc [20]. Seções isotérmicas do diagrama de fase ternária de TiAlV para região rica em titânio são mostradas na figura 3. As posições que correspondem a 6% Al 4% V são indicadas em cada diagrama. Conforme estes diagramas, para 1000 OC e para a composição de Ti6Al4V, pode-se verificar somente a presença da fase β. Para temperaturas menores que 900 0C e 800 0C, essa composição permite a formação das duas fases α e β concomitantemente. Só podem ser determinadas as composições químicas de cada fase a uma determinada temperatura se a linha conjugada (linha pontilhada a-b) é conhecida. A composição 6% Al - 4% V passa pelas três fases α-β-γ do diagrama, e é razoável assumir que a linha conjugada seja aproximadamente paralela ao lado do triângulo referente à porcentagem de vanádio [20]. Quando essa liga é esfriada lentamente, o núcleo de α forma-se a partir da fase β. Devido a esse processo, placas de coloração branca vistas pelo microscópico óptico, características de fase α, são desenvolvidas. Os resfriamentos lentos induzem, então, à formação de uma estrutura conhecida como Widmanstätten. A microestrutura característica da liga nessa condição está ilustrada na Figura 4. 18 Figura 3 – Diagrama de fases da seção isotérmica da região rica em Ti a 1000 0C, 900 0C e 8000C [20]. Figura 4 – Microestrutura da liga Ti6Al4V após um resfriamento lento através da fase β. As placas brancas correspondem ao material na fase α e entre regiões escuras que correspondem ao contorno de grão. Esta é uma típica estrutura Widmanstätten [20]. 19 O processo de formação da estrutura Widmanstätten é mostrado esquematicamente na figura 5, usando uma seção de composição constante com 6% de alumínio por meio de um diagrama ternário de fases. Na ilustração esquemática das micrografias apresentadas na figura 5, a região escura é a correspondente ao material na fase β, e entre as partes escuras o material na fase α é representado por partes claras. Figura 5 – Ilustração esquemática da formação da estrutura Widmanstätten na liga Ti6Al4V por resfriamento lento através da fase β. A estrutura final é mostrada na figura 4 [20]. 20 A microestrutura representada corresponde à da região constituída de placas paralelas de α delineadas por fase β. As placas de α são formadas preferencialmente pelos planos específicos {110} de β, de maneira intrusiva, a partir de limites de grão, formando assim altos ângulos, próximos de 900, em relação aos contornos de grãos da fase β. Na figura 6, podem ser observados dois tipos diferentes de martensita que se formam em função da temperatura. O primeiro tipo é conhecido como fase α ’ e encontra-se arranjado na forma cúbica de face centrada ou tetragonal de face centrada, enquanto que o outro é a fase α”, que se apresenta em um arranjo cristalino hexagonal. Acima da linha de transformação de β, isto é, aproximadamente a 980 0 C, forma-se a estrutura α”, mas esta fase pode conter uma pequena proporção de fase β. A presença da fase β na estrutura após têmpera, a partir da linha de transformação β, é devido ao fato da estabilidade da estrutura martensítica terminar na temperatura martensítica MF que está 25 0 C abaixo da temperatura normal para este metal. Esse abaixamento da temperatura é decorrente da adição de 4% V na liga Ti com 6% de Al, que, por apresentarem estruturas cristalográficas de corpo centrado, diminuem o M F em 250 C. As têmperas feitas a MF não convertem totalmente a fase β em α' ou α ", quando esta liga é recozida na região das duas fases. A temperatura de recozimento das fases α e β tem diferentes equilíbrios para diferentes composições de Al e V. Conforme a temperatura de recozimento diminui, a fase β tem a concentração crescente de V (figura 3). Isto indica que para esta fase o MS (temperatura de têmpera) e o MF estão diminuindo progressivamente. Para aproximadamente 8400C, o MS está abaixo de 250C, de forma que nenhuma fase β é transformada em α’ para uma têmpera realizada além de temperatura de recozimento, e a estrutura consiste de α primário (presente à temperatura de recozimento) e é retida na fase β. 21 Figura 6 – Ilustração da estrutura formada na liga Ti6Al4V após a têmpera a diferentes temperaturas de tratamento [20]. 2.1.5.2.1 – Propriedades físicas, mecânicas, térmicas e elétricas da liga Ti6Al4V As tabelas 4, 5 e 6 foram constituídas com os valores das propriedades físicas, mecânicas e elétricas da liga Ti6Al4V sem tratamento adicional a partir da sua concepção e medidas à temperatura ambiente Tabela 4 – Valores das propriedades físicas da liga Ti6Al4V sem tratamento [21]. Propriedades Físicas Valores Unidades Massa específica 4,43 g/cm3 Dureza 334 Brinell Dureza 363 Knoop Dureza 36 Rockwell C Dureza 349 Vickers 22 Tabela 5 – Valores das propriedades mecânicas da liga Ti6Al4V sem tratamento [21]. Propriedades mecânicas Valores Unidades Comentários Resistência à Tração 950 MPa Elongação até a ruptura 14 % em tração Redução da seção 36 % transversal Módulo de Elasticidade 113,8 GPa Resistência à compressão 970 GPa Resistência à Kt (fator de concentração Cisalhamento 1490 MPa de tensão) Razão coeficiente/ módulo de Poisson 0,342 Resistência ao Impacto 17 J Resistência à fadiga 510 MPa 1.107 ciclos Resistência à fratura 75 MPa/m Módulo de cisalhamento 44 GPa - Tabela 6 – Valores das propriedades térmicas da liga Ti6Al4V sem tratamento [21]. Propriedades Térmicas Valores Unidades Comentários (1) 0 0 CTE, linear 20 C 8,6 20-1000C µm/m- C (1) CTE, linear 2500C 9,6 20-3150C µm/m-0C (1) 0 0 CTE, linear 500 C 9,7 20-6500C µm/m- C 0 Capacidade térmica 0,5263 J/g- C Condutividade térmica 6,7 W/m 0 Ponto de ebulição 1660 C Líquido (1) CTE = constante Tabela 7 – Valores das propriedades elétricas da liga Ti6Al4V sem tratamento [21]. Propriedades Elétricas Valores Unidades Comentários Resistividade elétrica 1,78.10-4 Ω-cm Permeabilidade magnética 1,00005 A/m - Comparando-se a dureza do titânio em relação à da liga, pode -se observar nas tabelas 3 e 4, que a dureza da liga é 4 vezes maior que ao do titânio puro. Isso mostra que a liga tem aplicabilidade ampliada em diversas áreas industriais, inclusive na área de biomateriais, onde se exige melhor desempenho do material. 23 As propriedades mecânicas da liga com relação às do titânio foram mostradas nas tabelas 3 e 5, podendo-se observar que a liga possui melhores valores de resistência mecânica, módulo de elasticidade, resistência ao impacto e em outras propriedades mecânicas citadas. Isto mostra que a liga se destaca em suas propriedades comparando com as do titânio puro. Enfim, comparando as propriedades mecânicas, elétricas e magnéticas do titânio puro com a da liga Ti6Al4V observadas nas tabelas 2, 3, 4, 5 e 6 deste capítulo, a liga possui melhores propriedades que o metal puro. Porém, esta liga ainda não atende aos quesitos básicos como boa resistência mecânica, dureza, resistência ao desgaste e tensão superficial para a utilização na confecção de peças para válvulas cardíacas mecânicas necessitando, por exemplo, de tratamentos superficiais induzidos pelo processo de nitretação iônica, visando o melhoramento das suas características físico-químicas e mecânicas. 24 2.2 – PLASMA 2.2.1 – Definição do Plasma O termo “plasma” é usado para descrever uma larga variedade de substâncias eletricamente quase neutras e que exibem um comportamento coletivo de longo alcance, mas que possuem localmente cargas elétricas conduzindo correntes elétricas devido à existência de constituintes carregados como elétrons livres e átomos ou moléculas ionizadas [22,23]. Na média, um plasma é eletricamente neutro, sendo que qualquer desbalanceamento de carga resulta no surgimento de campos elétricos que tendem a mover as cargas de modo a restabelecer o equilíbrio. Como resultado, a densidade de elétrons mais a densidade de íons negativos deve ser igual à densidade de íons positivos. 2.2.2 – Descarga elétrica 2.2.2.1 – Introdução O termo “descarga elétrica em gás” é originário do processo de descarga de um capacitor num circuito elétrico formado por dois eletrodos imersos num recipiente preenchido com gás a uma dada pressão [24,25]. Mais tarde, este termo passou a ser aplicado a todo circuito com passagem de corrente elétrica em gás ionizado. Atualmente, o estudo de descargas elétricas cobre um vasto campo de estudo que envolve todos os fenômenos relacionados com os processos de geração e sustentação dos estados ionizados dos gases por absorção de energia eletromagnética [25,26]. 25 2.2.2.2 – Regiões da curva característica de uma descarga A figura 7 ilustra um gráfico da diferença de potencial entre dois eletrodos em função da corrente conduzida através do gás. Na região da descarga não auto-sustentada (reta de subida da região A), a corrente e a densidade de portadores de carga envolvida são muito pequenas e proporcionais à intensidade da fonte de ionização externa. No entanto, partes dessas cargas não chegam ao anodo, pois colidem com a parede do tubo ou sofrem processo de recombinação. No momento em que o campo elétrico é suficientemente alto para que todos os elétrons produzidos, por unidades de tempo, cheguem ao anodo, atinge-se uma corrente de saturação (mostrada nas curvas da região B da figura 7), que permanece constante para uma grande variação relativamente de voltagem. A região BC é chamada de descarga escura ou Townsend, pois o fenômeno ainda não é visível e tanto a corrente como a densidade de portadores de carga envolvida é ainda muito pequena. Portanto, o campo elétrico externo não será afetado porque a carga espacial é desprezível. Quando um pequeno potencial adicional é aplicado no sistema que se encontra na condição de descarga Townsend, os elétrons livres produzidos no gás pela ação de uma fonte de ionização externa serão acelerados em direção ao anodo. Se a energia dos elétrons liberados for suficiente, os elétrons em movimento do catodo para o anodo poderão colidir com outras partículas, produzindo novos elétrons, íons e átomos excitados, que aumentam a corrente elétrica e abaixam a tensão. 26 Tensão (V) VB Corrente de descarga (A) Figura. 7 - Regiões características de tensão x corrente entre dois eletrodos planos imersos em argônio. (dist. 50 cm; pressão 1.105 Pa). (A) região de descarga não-auto-sustentada, (BC) descarga escura ou Townsend, (DE) descarga “glow” normal, (EF) descarga “glow” anormal, (FG) região de transição para regime de arco, (G) descarga em arco [26]. Nesse processo, os íons positivos serão também acelerados e ao colidirem-se com o catodo liberam elétrons secundários que se somam àqueles produzidos por outros processos envolvidos na formação do plasma. A tensão de ruptura (VB ), em que ocorre este fenômeno corresponde à região CD da figura 12 é chamada de ruptura (“breakdown”)[26]. Além de ionização, as colisões inelásticas entre diversas espécies que cohabitam o plasma produzem também excitação de átomos e moléculas com conseqüente emissão de luz visível. Com o aumento da corrente, a densidade de carga torna-se apreciável. Os elétrons cada vez mais não viajam estritamente ao longo do eixo entre os eletrodos. Devido à grande mobilidade que possuem, geralmente escapam radialmente do centro da descarga em direção às paredes do reator, gerando um campo elétrico de carga espacial que acaba repelindo outros elétrons [27]. 27 O equilíbrio no tubo de descarga é estabelecido quando as paredes são isoladas por meio de um campo elétrico próprio que limita o fluxo de elétrons nesta direção, tal que ocorra um equilíbrio entre a corrente de elétrons e a corrente de íons na parede. A limitação do fluxo de elétrons na parede torna a descarga mais eficiente e o potencial necessário para manter a descarga diminui com o surgimento de uma corrente apreciável. O resultado é uma descarga brilhante auto-sustentada [26]. Após a região CD, em que se estabelece uma descarga com emissão de luz visível ainda de forma instável, um novo aumento da corrente responde à invariância no valor do potencial elétrico através da descarga. Esta nova situação representada pela região DE na curva da figura da figura 7 é conhecida como região de descarga brilhante (“glow discharge” ). A região de descarga luminescente é uma das regiões mais investigadas até hoje, devido às inúmeras aplicações desse regime. Depois que a voltagem alcançou a tensão de ruptura, a descarga brilhante é estabilizada, e esta região é caracterizada por um baixo gradiente de potencial elétrico. O campo longitudinal é suficiente apenas para suprir a energia perdida pelos elétrons e íons no seu movimento de deriva ao longo do tubo de descarga. Quando esse potencial é elevado, a corrente é aumentada e a descarga se expande até cobrir a superfície inteira de catodo, mas quando a corrente da descarga aumenta além do ponto de cobertura de catodo, a voltagem começa a aumentar, e isso corresponde à região EF de descarga na figura 7. Se a corrente for aumentada, tipicamente para um valor de 1 ampère, verifica-se que a tensão da descarga diminui rapidamente para algumas dezenas de volts (região FG). O colapso da tensão ocorrerá principalmente devido ao processo de emissão termoiônica no catodo que permite a produção de elétrons muito mais facilmente e será formada uma descarga em regime de arco [27]. 28 O processo de nitretação deste trabalho será realizado sob descarga luminescente de corrente contínua. 2.2.2.3 – Descarga Luminescente As descargas luminescentes normais são mantidas com corrente de descarga da ordem de alguns mA. O processo de nitretação por plasma convencional está associado com a corrente de descarga, a qual deve ser de alta densidade. Isto ocorre na região de descarga luminescente anômala que fica próximo do catodo. Essa região é utilizada porque permite um bom controle devido à existência de relação entre voltagem e corrente [28]. Nesse regime, entre o anodo e catodo há a formação de zonas luminosas e escuras, caracterizadas por parâmetros elétricos distintos (potencial elétrico, densidade de cargas e corrente). O regime de descarga luminescente é atualmente muito utilizado em processos de tratamentos da superfície de materiais. Entretanto, para o processo conhecido como nitretação iônica, onde íons de nitrogênio devem ser inseridos na estrutura cristalina do material submetido ao tratamento, é utilizado o regime de descarga abnormal onde o controle do processo pela relação tensão x corrente é viável com precisão, além de poder produzir uma maior concentração de íons energeticamente importantes para o processo de tratamento superficial de materiais. Neste trabalho, o processo de nitretação foi produzido em reator de jato de plasma de baixa intensidade operado por descargas elétricas luminosas a corrente contínua, em nitrogênio puro e em mistura com hidrogênio. 29 2.2.3 – Parâmetros do Plasma Um plasma é comumente caracterizado por alguns parâmetros básicos [22,23]: • densidade da partícula neutra, nn; • densidade dos elétrons, ne e de íons, ni, (no estado quase-neutro do plasma as densidades dos elétrons e do íons podem ser consideradas iguais, ne= ni = n, onde n é denominado de densidade do plasma); e • distribuição de energia das partículas neutras. Como os plasmas são compostos por diferentes quantidades e tipos de partículas carregadas ou não, definem-se alguns parâmetros físicos importantes, que são apresentados a seguir: 2.2.3.1 – Grau de ionização O grau de ionização é dado pelo quociente da densidade de partículas ionizadas (ni) e a densidade de partículas não ionizadas (n), ou seja: α= ni n , (1) onde ni é o número de partículas ionizadas e n é o número de partículas neutras. 30 Para plasmas gerados em baixas pressões, o grau de ionização é tipicamente 10-6 a 10-3, porém, em sistemas de alta densidade, podem-se obter graus de ionização até da ordem de 10-2 [23]. 2.2.3.2 – Comprimento de Debye O comprimento de Debye refere-se à menor distância na qual as características do plasma são mantidas constantes. Apesar da neutralidade do plasma, não se pode esquecer que ele é composto de partículas carregadas, e essas partículas interagem com o campo elétrico do plasma. Este comprimento λD é calculado pela relação: 1/ 2 ε kT λD = 0 2e nee , (2) onde: λD = comprimento de Debye; ε 0 = permissividade do espaço livre; e = carga do elétron; k = constante de Boltzmann; ne= densidade de elétrons; e Te= temperatura do elétron. A alteração local do campo elétrico em torno de uma partícula carregada gera uma região neutra chamada de bainha de Debye, e esta blindagem produzida pela bainha confere ao plasma uma característica quase-neutra. A figura 8 mostra, esquematicamente, o comprimento de Debye em um plasma. 31 Figura 8 – Esquema da blindagem de Debye. 2.2.3.3 – Bainha do plasma Em uma descarga elétrica os íons positivos na região catódica são acelerados contra o catodo tendo como uma das conseqüências a ejeção de elétrons secundários da superfície. Estes elétrons secundários são acelerados para a luminescência pela ação da queda de potencial existente na bainha catódica. Na bainha catódica, em razão do forte campo elétrico, os elétrons secundários adquirem grande energia cinética, podendo chegar ao limite correspondente à máxima voltagem aplicada ao catodo. Devido a essa grande energia, as seções de choque elétron partículas neutras (átomos e moléculas) são pequenas e produzem poucas colisões de ionização e excitação. É por isso que a bainha catódica é escura comparada com as regiões luminescentes. Porém, existem alguns elétrons que produzem colisões ionizantes com as espécies neutras do gás antes de chegarem na região da luminescência negativa. A figura 9 ilustra estes eventos [24]. 32 Figura 9 – Ilustração esquemática do mecanismo de produção de íons na bainha catódica [24]. Outro evento que pode ocorrer na bainha catódica é a troca de carga. Um íon da região de luminescência negativa chega na interface da bainha catódica possuindo uma energia cinética desprezível quando comparada com a queda de tensão da bainha. Entretanto, normalmente os íons colidem antes de chegarem ao catodo. Quando esta colisão se dá entre um íon e um átomo ou uma molécula neutra, pode ocorrer transferência de carga, muitas vezes simétrica, deixando o íon neutralizado e a espécie neutra ionizada, como mostra a figura 10 [24]. catodo Figura 10 – Representação esquemática do fenômeno de troca de carga na bainha catódica [24]. 33 2.2.3.4 – Temperatura do plasma A temperatura do plasma representa a energia translacional média das moléculas no sistema, além de ser um dos parâmetros físicos do plasma e definir o estado de um gás neutro no equilíbrio termodinâmico. A energia que os elétrons ganham do campo elétrico é transferida parcialmente para o sistema por meio de colisões elásticas ou inelásticas. O sistema de partículas pesadas perde a energia nas paredes do recipiente ou câmara que contém o plasma pela radiação ou por transferência de calor para as paredes da câmara que o contém. Os elétrons e as espécies pesadas como constituintes do plasma podem ser considerados aproximadamente como dois subsistemas, cada um em seu próprio quaseequilíbrio térmico. Os íons e os elétrons no plasma podem, conseqüentemente, ser caracterizados por suas diferentes temperaturas médias específicas: a temperatura do íon, Ti, e a temperatura do elétron, Te. De fato, em alguns casos de temperaturas adicionais pode-se caracterizar as partículas no plasma. Na presença de um campo magnético, até mesmo uma única espécie de plasma, é caracterizada por meio de duas temperaturas diferentes, uma representando a translação dos íons paralelos ao campo magnético, (TÐÐ), e outra representando a translação perpendicular para o campo magnético, (T⊥) [23]. As espécies pesadas no plasma podem ser caracterizadas por meio de diversas temperaturas no mesmo intervalo de tempo, como: temperatura do gás, (Tg), que caracteriza a energia translatória do gás; temperatura de excitação, (Tex), a energia das partículas excitadas no plasma; temperatura de ionização, (Tion) a energia de ionização; temperatura de 34 dissociação, (Td), a energia de dissociação; temperatura de radiação, (Tr), a energia de radiação. O equilíbrio termodinâmico existirá no plasma somente se as seguintes igualdades são satisfeitas [23]: Tg = Tex = Tion = Td = Tr = Te (3) O equilíbrio termodinâmico completo não pode ser conseguido no plasma inteiro porque a temperatura da radiação, (Tr), no invólucro do plasma, não se pode igualar à temperatura interna do volume ocupado por plasma. Entretanto, sob certas condições de laboratório, é possível conseguir um equilíbrio termodinâmico local no volume do plasma da ordem do livre caminho médio. Se isto acontecer, o plasma, é chamado de plasma em equilíbrio termodinâmico local (Local Thermodinamic Equilibrium - LTE). No plasma à pressão baixa produzida pela descarga em corrente contínua ou pela excitação pela rádiofreqüência, as condições de LTE não são geralmente conseguidas, sendo conseqüentemente denominado plasma não-LTE. No plasma não-LTE, as temperaturas das partículas pesadas são normalmente pequenas para promoverem reações químicas no equilíbrio termodinâmico. A temperatura do elétron é conseqüentemente considerada a temperatura mais importante no plasma, dentre todas as outras temperaturas diferentes mencionadas previamente. 35 2.2.4 – Processos de colisão do nitrogênio O estudo dos processos colisionais é muito importante tanto na formação como na manutenção de uma descarga elétrica. Nesta seção será feita uma breve discussão sobre os processos colisionais que devem, em tese, estarem presentes na sustentação da descarga, responsável pelo processo de nitretação em estudo. Os processos de colisão presentes no plasma frio responsável pela nitretação, podem ser divididos em três tipos, apresentados a seguir: colisão elástica, inelástica e super elástica. 2.2.4.1 - Colisões elásticas Uma colisão entre partículas é denominada elástica quando há somente alteração de energia cinética de translação, não havendo a ocorrência de nenhum processo de excitação ou ionização das partículas envolvidas, ou seja, suas estruturas e estados energéticos internos permanecem constantes. Em meio fracamente ionizado gerado por fornecimento de energias relativamente baixas, a maioria das colisões é elástica e, portanto, determinam a distribuição da velocidade das partículas carregadas, porém, não são responsáveis pela criação de espécies reativas capazes de produzirem transformações nas características superficiais de materiais imersos em plasma frio. 36 2.2.4.2 - Colisões inelásticas Neste tipo de colisão, além de proporcionar alterações nas energias cinéticas das partes, produzem-se também mudanças na energia interna das partículas envolvidas. Uma grande variedade de processos inelásticos de colisão ocorre num gás parcialmente ionizado. Pode-se citar para um processo de nitretação a plasma as seguintes conseqüências de colisões inelásticas [25,29]: • Ionização – Os elétrons mais energéticos, ao colidirem com as moléculas do gás, provocam a remoção de um elétron do átomo, produzindo um íon e dois elétrons: e− + N 2 → 2e− + N 2+ ; e− + H 2 → 2e− + H 2+ ; e e − + N x H y → 2e − + N x H y+ . Para essas espécies, o potencial de ionização é aproximadamente de 10 eV. Os dois elétrons formados no processo podem ser acelerados, adquirindo energia suficiente para causarem novas ionizações, ajudando na manutenção da descarga. • Excitação – se a energia de colisão do elétron for inferior àquela necessária para a ionização, poderá produzir as seguintes excitações: 37 e − + N 2 → e − + N 2* ; e − + H 2 → e − + H 2* ; e e − + N x H y → e − + N x H *y , onde * representa estados excitados • Relaxação ou emissão – Após a excitação das espécies, haverá o decaimento dos elétrons para níveis menos energéticos, resultando na emissão de fótons: N 2* → N 2 + hv ; H 2* → H 2 + hv ; e N x H *y → N x H y + hv . Por meio da análise dessa luz emitida pela descarga é possível fazer um diagnóstico do plasma. • Dissociação – Outra importante reação que ocorre no plasma pela colisão de moléculas com elétrons energéticos é a dissociação. Dependendo da energia do elétron, poderá haver a formação de átomos neutros, excitados ou ionizados. Para o caso particular do nitrogênio, tem-se: 38 e− + N 2 → e− + N + N ; e− + N2 → e− + N * + N ; e e− + N2 → e− + N + + N * . • Recombinação – quando espécies ionizadas chocam-se com uma superfície, elétrons desta superfície são liberadas. Essas superfícies são neutralizadas pelos seguintes processos de recombinação: N 2+ + e − → N 2 ; H 2+ + e − → H 2 ; e N x H +y + e − → N x H y . 2.2.4.3 - Colisões superelásticas Uma colisão entre partículas é denominada superelástica, quando um átomo excitado colide com um elétron de baixa energia, resultando em um átomo no estado fundamental e um elétron de alta energia. 39 2.2.5– Jato de Plasma A expansão de um gás numa câmara de vácuo, princípio em que se baseia o reator a jato de plasma produzido por uma descarga elétrica a corrente contínua, vem sendo utilizada desde os anos cinqüenta do século passado, inicialmente como a técnica para produzir feixe de átomos [30]. O reator a jato de plasma é constituído basicamente de uma pequena câmarafonte de partículas e uma câmara de expansão. O feixe origina-se num orifício entre a câmara fonte e a câmara de expansão. A pressão e a temperatura do gás são diferentes nas duas câmaras, devendo ser a pressão na câmara fonte muito mais elevada do que na câmara de expansão [27,30]. A montagem experimental tem o propósito de produzir feixes de partículas (átomos, íons, elétrons e radicais). Esse feixe de partículas origina-se na região de constrição de uma descarga luminescente, onde a predominância de cargas espacial conduz à formação de potenciais aceleradores, que permitem a continuação da descarga e a formação do jato na região de alto vácuo (câmara de expansão). Na figura 11 é mostrada uma imagem digitalizada correspondente à região do orifício e da expansão do jato até o encontro do substrato. No tubo de descarga, visualiza-se a coluna positiva e a sua transição para o plasma de constrição. 40 Tubo da descarga Camada dupla Coluna positiva Jato de plasma Plasma de constrição Câmara de expansão Figura 11 – Imagem digitalizada da região do orifício. O gás na coluna positiva encontra-se num estado ionizado com densidades de partículas positivas e negativas aproximadamente iguais. Na câmara de expansão, visualiza-se a transição do plasma de constrição para o jato de plasma. As condições de operação desta imagem foram: Do = 0,6 mm, fluxo de massa de nitrogênio 0,3 sccm, corrente contínua de 100mA. Na figura 12, são mostradas esquematicamente as diferentes regiões formadas numa descarga elétrica de um gás em expansão. O plasma da constrição é formado no tubo de descarga ao final da coluna positiva e é denominado de saco de plasma [27,31,32,33]. Essa é a região de brilho mais intenso. Suas dimensões dependem da pressão do gás na câmara fonte e da corrente elétrica da descarga. 41 Figura 12 – Diagrama esquemático da formação de um jato de plasma [27]. Quando a pressão é aumentada, o volume do saco diminui, e quando a corrente da descarga é aumentada, as dimensões deste saco de plasma aumentam atingindo um tamanho máximo, como é mostrado na figura 12. Na transição da coluna positiva para o plasma da constrição é formada uma camada dupla. O campo elétrico dentro da camada dupla acelera os elétrons do plasma da coluna positiva para dentro do saco do plasma. Íons do saco de plasma são acelerados em direção oposta ao dos elétrons do plasma catódico (coluna positiva). O plasma da constrição é um plasma com características de densidade e temperatura de elétrons maiores em relação às da coluna positiva. Na fronteira do saco de plasma com a câmara de expansão, também é formada uma camada dupla, devido a variação abrupta entre as propriedades do saco de plasma e do jato de plasma. A camada dupla entre a coluna positiva e o saco de plasma é formada por quatro grupos de partículas carregadas. Além dos elétrons e dos íons da coluna positiva, há também íons e elétrons térmicos do saco de plasma. Na segunda camada dupla participam os elétrons 42 energéticos oriundos da coluna positiva e os elétrons e íons gerados no saco de plasma. A variação de potencial nesta segunda camada dupla acelera os íons e desacelera os elétrons que se dirigem do orifício para a câmara de expansão. Portanto, o jato de plasma é composto por elétrons que só podem ser oriundos da camada positiva e pelos íons que só podem ser oriundos do saco de plasma [27]. 2.2.6 – Técnicas de diagnósticos de plasma Existem diferentes tipos de diagnósticos de plasma. Dentre eles destaca-se o de analisador de energia de íons. Este analisador é baseado no princípio eletrostático e mede a energia dos íons no plasma. O analisador eletrostático de energia é constituído por três grades devidamente polarizadas, seguidas por um coletor, e é esquematicamente mostrado na Figura 13. Figura 13 – Diagrama esquemático mostrando a polarização do analisador de energia de íons [27]. 43 Na figura 13, a primeira grade (I) está em um potencial flutuante φf. A segunda grade (II), que é polarizada positivamente em relação à primeira, tem o objetivo de selecionar os íons. Desta forma, se esta grade estiver com um potencial φ, somente os íons que possuírem energia cinética maior ou igual a este valor de energia chegarão ao coletor. A terceira grade (III) é polarizada negativamente em relação à primeira, e tem por objetivo devolver ao coletor os elétrons emitidos pelo impacto de íons (eliminação de elétrons secundários). A corrente dos íons que chega ao coletor (IV) é monitorada em função do potencial da segunda grade. Na construção do analisador deve-se tomar cuidado para que a abertura da malha seja aproximadamente igual a λD e o espaçamento entre as grades seja no máximo 4λD, onde λD é o comprimento de Debye no interior do plasma estudado e garante o campo elétrico uniforme entre as grades [34]. 2.2.6.1 - Determinação da energia dos íons A densidade de corrente de íons coletada pelo analisador é calculada pela relação: J i (Vφ ) = eni < v i > g , (4) onde, • vi é a velocidade média dos íons; • ni é a densidade de íons em frente da janela de entrada; e 44 • g é a transparência das grades (g1.g2.g3). Mas, < vi >= 1 vi, n f i ( v)d 3v , ∫ ni (5) onde vi,n é a velocidade de íons na direção normal à superfície de coleta e ƒ(ν) é a função de distribuição da velocidade de íons. Substituindo (5) em (4): ji Vφ = eni g n1 i ∞ ∞ 3 vi,n fi v d v = eg vi,n fi v d 3v , vc vc obtendo-se: ∞ ρ j i (Vφ ) = eg ∫ vi , n f i ( v ) dv x dv y dv z , (6) vc onde Vc é a velocidade crítica dos íons, ou seja, a velocidade máxima que os íons chegam no coletor . Supondo que o analisador de energia está em um plano paralelo ao plano xy, tem-se velocidade apenas na direção vz , logo, ∞ ρ ∞ J i (Vφ ) = eg ∫ vi , n f i (v )dvz = eg ∫ vf (v )dvz vc . (7) vc 45 Observa-se que a densidade de corrente está em função da velocidade e esta expressão pode ser escrita em função da energia. Da equação da energia cinética tem-se a relação: E = 1 mv 2 ⇒ dE = mvdv ⇒ vdv = dE m . 2 (8) Substituindo (8) em (9), chega-se a: ∞ eg f E dE = m ji Vφ = eg e Vφ φ eV φ f E dE. (9) Derivando a expressão (9) em relação à Vφ , obtém-se a função de distribuição de energia dos íons no espaço de velocidades: d ji Vφ f E = m e2g dVφ . (10) eVφ = E Entretanto, dn = F E dE = f E 4πv 2dv: F E mvdv = f E 4πv 2dv ; e F E = f E 4πv m . (11) Substituindo (11) em (10) tem-se: m d ji Vφ = 4πv d ji Vφ F E = 4πv m e2g dVφ e2g dVφ . 46 Como v = 2E , chega-se à expressão para F(E): m F E = 4π e 2g 2E d ji Vφ m d Vφ , (12) que é a função de distribuição de energia de íons no espaço de energia. A partir da curva características da variação da corrente coletada no analisador, em função do potencial retardador no jato de plasma, para os parâmetros previamente descritos neste capítulo, adquiriu-se uma grande base de dados que foi inserida no software Microcal Oringin® que por meio de ajuste de curvas de expressões teóricas forneceram os valores de parâmetros de interesse. No capítulo 4 serão descritos os resultados experimentais utilizando-se o analisador de energia. 47 2.3 – NITRETAÇÃO IÔNICA 2.3.1 – Histórico Do ponto de vista técnico, a nitretação iônica tem uma longa história desde a sua invenção por Skuple, na Alemanha, em 1920, seguida de solicitação de patente do processo por Egan, na América em 1931 e Berghaus na Alemanha em 1932 [35 ]. Segundo Alves Junior [36], a adaptação promovida por grandes companhias automotivas a este processo indica que poderá ser a principal técnica de endurecimento de superfície do futuro. Companhias como a Rolls Royce, Pilkington, Volkswagen, Peugeot, Citröen e Renault, através de seus fornecedores, utilizam este processo para tratamento de suas peças. No Brasil, essa técnica ainda não é muito conhecida, tanto no meio empresarial como também entre metalúrgicos e engenheiros de materiais, permanecendo a sua divulgação restrita a apenas aos meios técnicos e científicos em universidades e centros de pesquisas, por meio de congressos e publicações em periódicos nacionais [36,37,38]. Em 1999, iniciou-se também no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), estudos experimentais de tratamentos superficiais por nitretação iônica em amostras de ligas de titânio, mais precisamente em Ti6Al4V, visando melhorar as características tribológicas e mecânicas e sua compatibilidade biológica superficial com a finalidade de aplicações futuras na área de materiais para implantes cardiovasculares. 48 2.3.2 – O processo de nitretação A nitretação é um dos processos mais utilizados para o endurecimento superficial de peças onde a resistência ao desgaste mecânico e à fadiga deve ser maximizada, podendo também ser usada para aumentar a resistência à corrosão de metais tratados. A nitretação por processo convencional é realizada em atmosfera de amônia parcialmente dissociada a temperaturas entre 650oC e 800oC. O tempo de tratamento é relativamente longo e pode levar até 50 horas para se obter a profundidade desejada de camada nitretada [23]. Nitretação a plasma, ou como é muitas vezes denominada nitretação iônica, é um processo onde se produzem modificações superficiais através de produção e aniquilação de partículas que constituem o meio ionizado: elétrons, átomos, moléculas, íons positivos, íons negativos e radicais. Este processo acontece pela interação entre os diferentes tipos de partículas, descrito no capítulo anterior no item2.2.4.2. Um equipamento típico de nitretação iônica está esquematizado na figura 14. Ele é constituído basicamente de um sistema de vácuo, uma fonte de potência e um reator. O material a ser nitretado é exposto ao plasma produzido por descarga elétrica luminescente em uma mistura de N2 e H2. Se o material é colocado em contato elétrico com o catodo da descarga, o termo nitretação iônica pode ser empregado e o aquecimento da peça é garantido pela passagem de corrente elétrica da descarga e pelo bombardeamento de íons da bainha catódica. Por outro lado, pode-se também realizar a nitretação de peças que são posicionadas de maneira a serem embebidas por plasma. Neste caso essa peça pode ser ou não polarizada em relação ao potencial de plasma da posição em que se localiza e receber controle 49 da sua temperatura por meio de dispositivos como passagem de correntes elétricos ou fluidos refrigerantes. Válvula Amostra Fluxo de N2 e H2 + - Fonte D.C. Câmara Anodo Bomba vácuo Válvula Porta-amostra Catodo Figura 14 – Esquema básico de um equipamento para a nitretação iônica [39]. O sistema de vácuo acoplado ao dispositivo a plasma deve ser capaz de produzir pressões em torno de 13,33 Pa e possuir válvulas para controlar a vazão de gases específicos introduzidos para o processamento do material. A fonte de potência deve possuir, neste caso, uma saída c.c. com uma voltagem máxima de aproximadamente 1500 V e uma corrente capaz de fornecer energia à peça para que ela seja aquecida a uma temperatura entre 300 e 600 0C. Ainda no reator, devem existir saídas para medições de pressão, temperatura e outras variáveis importantes para o melhor controle do processo [36]. O processo de nitretação iônica pode ser realizado com a utilização de diferentes tipos de reatores a plasmas, que associados ao grande número de parâmetros independentes, possibilitam a produção de camada de nitreto com estrutura cristalográfica variada que não se pode observar em processos convencionais de nitretação. 50 Raveh [7] e Grill [40] observaram que, pelo processo de nitretação iônica, a camada de nitreto formada na superfície do Ti-6Al-4V é na realidade composta de uma fina camada externa seguida por uma camada interna produzida pela difusão. A camada externa é constituída de fases δ -Ti2N cúbica e ε -Ti2N tetragonal. A camada de difusão consiste da fase ε-Ti2N e uma solução sólida de nitrogênio em titânio a'-(Ti,N). A concentração relativa das diferentes fases e as suas orientações cristalográficas, assim como as propriedades mecânicas da superfície tratada, têm sido determinadas como sendo fortemente dependentes dos parâmetros de plasma, tais como composição do gás de descarga, polarização do substrato, freqüência da descarga e posição da amostra no interior da câmara. A escolha adequada da combinação de parâmetros de plasma como temperatura, mistura de gases, potência elétrica fornecida à descarga luminescente de plasma frio, permite, portanto, ajustar as propriedades superficiais da peça nitretada. 2.3.3 – Considerações fundamentais de tratamentos de superfície por plasma Os elétrons energéticos da descarga elétrica, formadores de plasma, interagem efetivamente com os elétrons atômicos e moleculares produzindo espécies em concentração não observáveis em estados gasosos normais, conferindo ao plasma propriedades extraordinárias para indução de reações químicas [41]. Plasmas também propiciam um atributo importante como resultado da possibilidade de um controle preciso do fluxo da energia que é fornecido às amostras. 51 2.3.3.1 – Química de plasma Uma descarga luminescente (“glow”) pode ser definida como uma região de pressão e temperatura relativamente baixa na qual o grau de ionização em um estado “quase-neutro” é sustentado pela presença de elétrons energéticos. Os elétrons energéticos obtêm sua energia a partir de campos elétricos locais do plasma ou da vizinhança dos eletrodos. Os eletrodos transferem estas energias aos átomos e moléculas gasosas via colisões inelásticas com os elétrons primários e secundários, podendo produzir uma ampla variedade de íons e diferentes tipos de radicais dentro de um gás molecular. Essas espécies podem interagir entre si ou com moléculas neutras do gás produzindo outras espécies ativas adicionais em reações de 2a ordem. São essas espécies ativas produzidas em reações de 1a ordem e ordens maiores que interagem com a superfície das amostras e produzem modificações superficiais desejadas em materiais. Configurações de descarga no plasma podem assumir uma ampla variedade de forma que diferem tanto na geometria quanto nas configurações dos campos elétricos que são utilizados para fornecer energia aos elétrons. A figura 15 mostra um diagrama esquemático de processos energéticos em que os elétrons se envolvem dentro da descarga luminescente do plasma [41]. Parâmetros importantes que descrevem a capacidade do plasma de induzir as reações químicas são, entre outros, a densidade dos elétrons, a função de distribuição de energia dos elétrons, fluxo de massa de gases específicos, misturas de gases e, diferença de potencial. 52 Parede da câmara Campo elétrico Elétrons do gás Distribuição de energia Função Temperatura/Densidade Recombinação Troca de Momento Dissociação Ionização Íons do gás Distribuição de energia Função Temperatura/ Densidade Molécula do gás Temperatura/Densidade Densidade do estado excitado Átomo do gás Temperatura/Densidade Densidade do estado excitado Recombinação Recombinação Radical molecular Parede da câmara Figura 15 – Processo de troca de energia em plasma de descarga luminescente [41]. Devido aos fenômenos que afetam o plasma e à complexidade resultante da química de plasma, não é sempre possível prever e controlar o caminho das reações químicas. A cinética das reações químicas em um plasma frio pode ser considerada como um caso particular de não-equilíbrio [23], pois enquanto os casos de equilíbrio cinético podem ser explicados por meio de teorias de colisões, a cinética da química de plasma leva em conta os fenômenos das colisões não elásticas. Portanto, os parâmetros que determinam o tipo da estrutura como espessura da camada do metal afetada e propriedades mecânicas alcançadas pelo material tratado em um processo a plasma são, entre outros, substância química do material, composição de gás, tempo de processo e temperatura. Como a nitretação pode ser controlada através das colisões iônicas de 53 nitrogênio sobre a camada superficial do material, o processo a plasma torna-se vantajoso em relação aos outros processos convencionais por permitir ajustes acurados e precisos dos parâmetros do processo. 2.3.3.2 – Potencial do plasma Quando a superfície está em contato com o plasma, a energia de bombardeamento das espécies que deixam o plasma e alcançam a superfície é dependente da diferença de potencial instantânea entre o potencial do plasma e o da superfície. A variação no potencial do plasma através da descarga c.c. de eletrodos simples, paralelamente dispostos, é mostrada na figura 16. Figura 16 – Esquema da distribuição do potencial de plasma em descarga de eletrodos planares [41] O potencial flutuante é o potencial alcançado por uma superfície isolada eletricamente dos eletrodos. Tais superfícies são bombardeadas por fluxos iguais de elétrons e íons. Conseqüentemente, há um fluxo livre de íons para a superfície que é negativa relativa ao 54 potencial do plasma e um fluxo livre de elétrons para a superfície, que é positiva relativa ao potencial flutuante [41]. Em plasma c.c. de baixa pressão, no qual o livre caminho médio do íon é maior do que a espessura da bainha, a energia dos íons que atingem a superfície do material será igual à da queda de potencial através da bainha. A pressões mais altas, os íons envolvem-se em colisões durante sua passagem através da bainha. Trocas de cargas por colisões tornam-se particularmente importantes e resultam na superfície bombardeada por um grande número de átomos e íons com energia média freqüentemente menor que 10 % da queda de potencial da bainha. 2.3.3.3 – Reações entre o plasma e a superfície do substrato Segundo Edenhofer [42], na nitretação por plasma, os íons atingem a superfície do substrato com certa energia cinética. Em tratamento superficial onde se processa principalmente por meio da energia de ativação do plasma, há o surgimento de um efeito físico, não importando o tipo do gás usado, e um efeito químico por meio da produção de íons. As interações físicas e químicas da superfície do material com íons são esquematicamente mostradas na figura 17. 55 Processo a plasma Íon incidente Físico - inerte + + Químico -inerte Átomos arrancados superfície camada Implantação “Sputtering” Difusão Figura 17 – Diagrama esquemáticos dos processos de interações do plasma com a superfície de materiais [43]. Quando íons de gases inertes energéticos colidem com uma superfície, vários eventos podem ocorrer: 1 - a partícula pode penetrar na superfície por processo de implantação; 2 – a partícula pode penetrar na superfície por processo de difusão; 3 - como resultado de transferência de momento um átomo da superfície pode ser arrancado; ou 4 - o íon incidente pode ser refletido na superfície e, subseqüentemente, neutralizar-se por transferência de carga do material em tratamento. Além dos processos citados, o bombardeio por íons pode causar a emissão de elétrons secundários. Estes elétrons são sustentados nos processos pela sua alta energia, que minimiza a sua seção de choque e diminui a probabilidade de colidirem produzindo processos de ionização e excitação. As características dos elétrons secundários produzidos são fortemente dependentes das colisões das espécies atômicas, ou seja, a presença de contaminantes ou de 56 camadas adsorvidas na superfície, mas podem também apresentar variações em função das diferentes orientações cristalográficas da amostra exposta ao plasma [28]. 2.3.4 – Nitretação iônica utilizando um reator a jato de plasma Vários processos a plasma têm sido aplicados para melhorar propriedades físicas ou mecânicas de superfície de metais como o ferro e titânio. A nitretação é um dos métodos efetivos para aumentar a resistência ao desgaste e proteção contra corrosão [44]. Jatos de plasmas produzidos pelas descargas c.c e r.f. são também fortes candidatos para serem aplicados em processos de nitretação com alta eficiência, uma vez que o uso do jato de plasma em processos de descarga luminescente, apresenta boa relação entre parâmetros de processos e características físicas e estruturais dos filmes de nitreto produzidos [44]. 2.3.5 – Processo de nitretação iônica no anodo de descarga luminescente em jato de plasma Segundo Hudis [45], muitos experimentos de laboratório e melhoramentos técnicos forneceram novos dados como o entendimento das interações superficiais plasma-sólido e dos mecanismos dos processos que envolvem a superfície sólida e que são de importância para a modelagem de processos a plasma. 57 Nestes últimos anos, o efeito da nitretação de plasma tem sido estudado para várias configurações de reatores a plasma, tais como para descargas em microondas, rádio freqüência e jato a arco de baixa pressão [46]. Estes trabalhos têm mostrado que, em vista do aquecimento produzido por bombardeamento de íons, o uso de fontes de íons de alta energia como fonte de nitretação a plasma é limitado. Um mecanismo de nitretação iônica sugerido por Kolbel [47] e discutido por Szalo [48] mostra a ocorrência de compostos FeNH2-3 na superfície nitretada de aço e a importância do papel dos processos de transporte de calor por íons. Na maioria de experimentos de nitretação iônica relatada, as amostras a serem tratadas serviram de catodo da descarga. A possibilidade de nitretação com amostra posicionada no anodo de uma descarga “glow” foi sugerida e analisada por Zlatanovic [49,50]. A possibilidade da nitretação anódica em uma descarga “glow” ofereceu novas possibilidades para estudar novos processos de nitretação. Segundo Zlatanovic [49], demonstra-se explicitamente que o nitrogênio na forma molecular não provoca a formação de camada nitretada, de maneira que um dos possíveis mecanismos de nitretação anódica deve ser por difusão direta de moléculas da região catódica para a anódica. Neste trabalho, um dos objetivos é realizar experiências de modificação das características superfic iais das amostras da liga Ti6Al4V pela nitretação iônica utilizando como equipamento um reator de jato de plasma de baixa pressão. Este reator, como será mostrado em detalhes no capítulo seguinte, possibilita que a amostra seja posicionada no anodo, devido à estrutura do reator possuir um orifício de constricção. 58 2.3.6 – Propriedades de titânio nitretado O tratamento de nitretação modifica as propriedades superficiais de titânio produzindo uma melhor combinação de resistência ao desgaste, fadiga, dureza, tenacidade e corrosão [28]. 2.3.6.1 – Dureza A dureza é a propriedade mecânica que fornece uma medida da resistência à deformação plástica de um material. A dureza, em geral, é dada pela razão entre a carga aplicada e a área da deformação plástica produzida [51]. O perfil de dureza produzido pela nitretação é reflexo da quantidade, tamanho e distribuição de nitretos e também do nitrogênio em solução sólida [52]. Quando se deseja medir as propriedades mecânicas de filmes finos e materiais submetidos a tratamentos superficiais, muitas vezes testes convencionais não podem ser aplicados, pois as cargas a serem utilizadas devem ser tão pequenas que as dimensões das deformações não podem ser determinadas por meios ópticos [53]. Dentre as técnicas desenvolvidas para caracterizar as propriedades mecânicas desses filmes finos, destaca-se o teste de nanoindentação. 59 Para se obter a dureza da camada, sem interferência do substrato, a nanoindentação mostra um alto grau de precisão. As medidas de dureza com essa técnica é recomendada para profundidade de impressão menor que 10 % da espessura do filme, embora em alguns materiais essa propriedade já tenha sido determinada com profundidade de impressão de até 25% da espessura do filme, sem influência do substrato [53]. 2.3.6.2 – Resistência ao desgaste Camadas nitretadas, principalmente por plasma, são conhecidas por beneficiarem um aumento na resistência ao desgaste. O comportamento ao desgaste depende da microestrutura da camada. Sabe-se que camadas mais espessas nem sempre resultam em menor taxa de desgaste, isto porque camadas muito espessas normalmente incluem alguns poros e são frágeis podendo-se, portanto, fraturarem facilmente [52]. Em ligas de titânio, nas quais os materiais constituintes já são duros, pode-se melhorar as propriedades tribológicas da superfície, aumentando a resistência ao desgaste. O melhoramento nas propriedades por nitretação superficial pode ser correlacionado com a concentração de nitrogênio introduzido por formar uma solução sólida na região de superfície A resistência ao desgaste na superfície nitretada pode ser investigada utilizando equipamentos com pino no disco e bola no disco. A resistência ao desgaste do nitreto de titânio é em geral muito superior que o da amostra sem tratamento [54 ,55]. 2.3.6.3 – Resistência à fadiga 60 A resistência à fadiga de peças nitretadas por plasma depende de parâmetros como profundidade e tensão residual da camada nitretada, controláveis pelo processo. O limite de carregamentos para fadiga tende a diminuir com o aumento da espessura da camada nitretada, devido à movimentação dos possíveis sítios de iniciação da trinca de fadiga, da superfície para o interior da peça. Portanto, quanto maior a tensão na superfície, maior será a fragilização na interface da camada – substrato favorecendo o surgimento de fraturas [52]. 2.3.6.4 – Resistência à corrosão Dependendo do tipo de metal e do meio corrosivo, a nitretação pode aumentar a resistência à corrosão. Em ligas de titânio, o processo de nitretação a plasma promove uma proteção contra a corrosão facilitando o seu emprego em várias áreas industriais. Chu e colaboradores [56] fizeram várias pesquisas sobre a resistência à corrosão de ligas de titânio e de nitreto de titânio e concluíram que, como o processo de nitretação iônica em ligas de titânio induz a inserção de heteroátomos de nitrogênio na liga, este produz o aumento da resistência à corrosão. 2.3.6.5 – Ductilidade O tratamento de nitretação a plasma produz um aumento significativo na dureza superficial. Esse aumento de dureza é acompanhado em geral pela perda da ductilidade. O aumento da espessura da camada nitretada também resulta na diminuição da ductilidade. A ductilidade da camada nitretada é consideravelmente maior se a camada de compostos consistir de apenas uma fase de nitreto, ou seja, nitretos ε ou γ’[28]. Em camadas 61 polifásicas, contendo uma mistura das fases ε e γ’, há geração de tensões internas nas interfaces entre diferentes nitretos (cúbico de face centrada e hexagonal compacta) que podem gerar microtrincas. Portanto, a ductilidade aparentemente mais alta da fase γ’ deve-se ao fato de que estrutura cúbica de face centrada do nitreto γ’ oferece melhores condições de plano de escorregamento que a estrutura hexagonal do nitreto ε [42]. 2.3.7 – Vantagens do processo de nitretação iônica A nitretação iônica apresenta algumas vantagens sobre o processo de nitretação convencional como: 1. versatilidade do processo em termos de controle das propriedades da camada e da peça em tratamento; 2. temperaturas de tratamento, entre 300 e 600 oC, portanto inferiores que as do processo convencional que é 8000C; 3. custo de energia e do gás menores que nos processos convencionais; e 4. diminuição do tempo de tratamento, que é de 1 a 10 horas, em comparação às 50 horas necessárias para o processo convencional. A vantagem pela baixa temperatura do processo a plasma, conferindo maior estabilidade dimensional da peça processada, indica a utilização desse método para tratamento de peças onde a tolerância dimensional é tida como fator determinante para a sua aplicação. 62 3 – MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 – Materiais 3.1.1 – Características do titânio utilizado O material escolhido para este estudo foi uma liga de titânio Ti6Al4V adquirido comercialmente da empresa “Goodfelow Cambridge Limited” na forma de chapa de 1,0 mm e tamanho 300 X 300 mm. A análise química foi realizada na Subdivisão de Ensaios e Análises Químicas da Divisão de Materiais do Instituto de Aeronáutica e Espaço de Centro Tecnológico de Aeronáutica (AMR/IAE/CTA) por meio da técnica de absorção atômica (Tabela 8). Tabela 8 – Composição química da liga de titânio utilizado nesse trabalho, analisado na AMR/IAE/CTA. Amostra Titânio 6Al4V ELEMENTOS Fe (%) 0,08 Cu (%) 0,007 Mn (%) 0,0003 Cr (%) 0,01 Ni (%) 0,01 Mg (%) 0,0005 Al (%) 6,53 V (%) 4,38 As medições de dureza apresentaram um valor médio de 450 ± 18,0 HV, compatível com as especificações normais para esse material. 63 A figura 18 ilustra a microestrutura da liga de titânio em estudo, onde se pode identificar os grãos da fase α, correspondentes a regiões mais claras, e grãos da fase β, como as partes mais escuras. Figura 18 – Micrografia (óptica) da liga Ti6Al4V antes da nitretação. Aumento de 1000X A figura 19 mostra um difratograma de raios-X da liga Ti6Al4V obtido com o uso de raios-X monocromáticos com λ = 1,54 Å (CuKα). Os picos de difração foram identificados como provenientes das reflexões características da estrutura da liga de titânio. Essas caracterizações levaram à confirmação de que essa liga está de acordo com a especificação do produto proveniente do fabricante. 64 Intensidade (unidade arbitrária) (011) liga Ti6Al4V 800 600 (002) 400 (012) 200 (010) (202) (110) 0 0 20 40 60 (203) (211) 80 Posição angular (2θ) Figura 19 – Difratograma da liga de titânio Ti6Al4V ( λ = 1,54 Å). 3.1.2 – Preparação das amostras para a nitretação iônica Partindo-se da chapa de 1,0 mm de espessura, a amostra a ser nitretada foi cortada em discos de 1,0 cm de diâmetro e, posteriormente, embutida em uma resina de baquelite de alta dureza. A etapa de lixamento foi feita com lixa d’água de granulometria 600 e o polimento foi realizado em panos especiais para titânio, utilizando-se uma pasta de diamante de 9 µm com uma solução de 85% de alumina e 15% de peróxido de hidrogênio (H2O2). Após a obtenção da superfície espelhada desfez-se o embutimento e as amostras foram limpas com acetona em ultra-som para a eliminação de óleo e/ou gordura e armazenadas em porta-amostras mantendo-se as superfícies polidas em condições adequadas para a nitretação a plasma. 65 3.1.3 – O equipamento para a nitretação iônica As nitretações foram realizadas em um equipamento construído por Urruchi W.I. [27] no Laboratório de Plasma e Processo do Departamento de Física de Plasma do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – LPP/ITA, e esquematicamente mostrado na figura 20. (8) Figura 20– Representação esquemática do reator a jato de plasma do LPP [27]. 1 – Câmara fonte (vidro – Pyrex) 5 – Entrada de gás (Fluxímetro) 2 - Câmara de vácuo ou de 6 – Sensor de pressão (Íon Gauge) expansão (vidro – Pyrex) 7 – Sensor de pressão Pirani 3 – Sistema de vácuo (bomba turbo 8 – Anodo molecular e bomba mecânica) 9 - Catodo 4 - Orifício de expansão 10-Carcaça(anodo) 66 O reator é constituído basicamente de duas câmaras de vácuo, um sistema de bombeamento e medição da pressão de vácuo, sistema de injeção de gases, uma unidade de potência elétrica de corrente contínua e um sistema de aquisição de dados e de controle dos parâmetros de processo. A primeira câmara, denominada de câmara fonte, consiste de um tubo de 26 mm e 30 mm de diâmetros interno e externo respectivamente, e 250 mm de comprimento, terminado por um orifício central. No presente trabalho foi escolhido e utilizado um orifício de 0,6 mm de diâmetro. Esse orifício interliga a câmara fonte à segunda câmara de 140 mm de diâmetro interno e 300 mm de comprimento denominado câmara de expansão ou de processo, confeccionada em Pyrex. As flanges foram construídas em alumínio [27]. As duas câmaras são bombeadas de maneira diferenciadas através do orifício constrictor por uma bomba turbomolecular EXT250 acoplada a uma bomba mecânica E2M18, ambas da marca Edwards [57]. Sensores de pressão do tipo Pirani são utilizados para medir as pressões na câmara fonte. Para pressões mais baixas da câmara de expansão é utilizado um sensor do tipo Ion Gauge. A injeção do gás é controlada por um fluxímetro controlador de fluxo de massa (MKS modelo 247C). O porta-amostra que constitui o anodo é feito de liga Ti6Al4V e possui a forma de um disco de 35 mm de diâmetro e 10 mm de espessura e apoiado sobre um suporte. O suporte é blindado eletricamente e permite variar as condições do tratamento facilitando, inclusive, o posicionamento de um imã anelar ao seu redor. O imã permanente produz campo magnético axial de maneira a induzir um confinamento dos feixes de elétrons e o direcionamento dos íons positivos para a amostra. Esse dispositivo é mostrado nas figuras 21 e 22. 67 Imã para o confinamento Termopar amostra Porta-amostra Figura 21 – Ilustração do posicionamento da amostra no porta-amostra. O disco escuro externo é o imã posicionado ao redor do portaamostra. Catodo Anodo Figura 22 – Ilustração das posições dos eletrodos no reator. 68 3.1.3.1 - Operação Para a operação do equipamento seguiu-se um roteiro, no qual inicialmente evacua-se a câmara fonte até a pressão de 1,33 Pa (10-2 Torr) e câmara de expansão até pressão 1,33 10-2 Pa (10-5 Torr). Introduz-se, em seguida, argônio a um fluxo de 2 sccm* e liga-se a fonte de tensão aumentando–se gradativamente a tensão. Ao mesmo tempo, liga-se um dispositivo elétrico que produz centelhas para induzir a ocorrência de ruptura e leva-se à extremidade do cabo deste instrumento junto à câmara de descarga. A ruptura, quando se instala, pode ser percebida pela luminescência característica do processo ou através do detector de corrente elétrica da câmara. A limpeza do sistema e da câmara com descarga de argônio é realizada por aproximadamente 2 horas. Depois de feito esse procedimento de limpeza, repete-se o procedimento anterior introduzindo-se o gás nitrogênio. Ao se instalar a descarga em N2, inicia-se a contagem do tempo do tratamento de nitretação. O bombardeamento iônico produz aquecimento da amostra, facilitando o processo de difusão de nitrogênio no substrato. Diversos parâmetros do processo podem ser variados e controlados. A pressão da câmara é controlada por meio de ajustes do fluxo de massa de nitrogênio. A tensão e a corrente de descarga são controladas por meio de ajustes da fonte de potência. Além desses parâmetros, o dispositivo permite ajustar a distância entre os eletrodos. *sccm “Standart cubic centimeter per minute”. Taxa de fluxo nas condições de pressão (1 atmosfera) temperatura (0 0C). 79,05 sccm = 1 torr litros/s 69 3.1.3.2 – Calibração Para determinar a correlação existente entre o parâmetro pressão nas duas câmaras em relação ao fluxo de gás injetado, mantendo-se constante a capacidade de bombeamento e orifício de 0,6 mm, determinou-se o comportamento das pressões do gás nitrogênio na câmara fonte (Pirani) e na fonte de expansão (Íon Gauge) em função do fluxo de massa de N2. Os resultados obtidos são apresentados na forma de gráfico na figura 23. 10 Pressão de vácuo (Pa) 1 0,1 0,01 Nitrogênio Ion Gauge (Câmara de expansão) Pirani (Câmara fonte) 1E-3 0 1 2 3 4 5 Fluxo de massa (sccm) Figura 23 - Pressão na câmara fonte e na câmara de expansão em função do fluxo de massa. Com os valores das pressões nas duas câmaras, e levando-se em consideração que o diferencial de pressão entre as câmaras é um dos parâmetros fundamentais para a funcionalidade do jato de plasmas, calculou-se o quociente entre os dois valores em função do fluxo de injeção do gás nitrogênio. O resultado é apresentado na figura 24. 70 câmara fonte / câmara de expansão 15000 14000 13000 12000 11000 10000 Pressão da câmara fonte / câmara de expansão DO= 0.6 mm 9000 8000 0 1 2 3 4 5 Fluxo de massa de nitrogênio (sccm) Figura 24 – Quociente entre pressão da câmara fonte e pressão da câmara de expansão em função do fluxo de massa de injeção de nitrogênio. A análise da curva da figura 24 mostra claramente a ocorrência do aumento do diferencial de pressão entre as câmaras com o aumento no fluxo de gás injetado e posteriormente uma queda desse diferencial a partir fluxo de 2,0 sccm de N2. Este fato é esperado, uma vez que a capacidade de bombeamento do conjunto de bombas utilizada é limitada e mantida constante durante todo o ensaio. As curvas de velocidade de bombeamento das bombas de vácuo utilizadas no experimento são mostradas na figura 25 (Catálogo – Edwards) [57]. 71 Figura 25 – Velocidade de bombeamento das bombas utilizadas [57]. A figura 26 ilustra a variação de tensão em função do tempo de processo para corrente constante de 100 mA e para diferentes fluxo de massa de nitrogênio. A análise dessa figura mostra que, com o aumento de fluxo, é produzido um aumento na tensão da descarga para manutenção da corrente de 100mA. 9 0 0 Corrente de Descarga = 100 mA 8 8 0 F F F F Tensão (V) 8 6 0 l l l l u u u u x x x x o o o o = = = = 0 0 0 1 , , , , 3 5 7 0 s s s s c c c c c c c c m m m m 8 4 0 8 2 0 8 0 0 7 8 0 7 6 0 0 2 0 4 0 6 0 T e m p o 8 0 1 0 0 1 2 0 ( m i n ) Figura 26 – Tensão de descarga em função do tempo de operação para diferentes fluxos de massa de N2. 72 3.2 – Metodologia 3.2.1 – Condições do processo Com o intuito de tentar determinar as melhores condições de nitretação iônica da liga Ti6Al4V para um reator de jato de plasma descrito, estudou-se a influência de diversos parâmetros operacionais nas características das camadas nitretadas formadas. Alguns parâmetros foram fixados desde o início deste trabalho nos seguintes valores: • Distância entre a amostra e o orifício de constrição • Corrente da descarga • Campo magnético axial 5 cm; 100 mA; e 250 Gauss; As razões da fixação desses parâmetros nesses valores partiram-se dos experimentos preliminares realizados, onde se pode perceber (Id = 100 mA), envolvimento completo das a amostras melhor estabilidade de pelo plasma formado descarga pelo jato (D = 5 cm). A intensidade do imã não pode ser variada por este dispositivo ser o único disponível no LPP nas dimensões adequadas para o presente experimento. Os parâmetros que foram variados são: • Fluxo de massa de nitrogênio • Temperatura 0,3; 0,5; 0,7; 1,0; 3,0 e 5,0 sccm; 400 a 600 °C, em função da descarga; 73 • Pressão de trabalho 10-2 a 10-3 Pa em função do fluxo; (câmara de expansão) • Tempo de processo 0,5; 1,0; 1,5; 2,0 e 3,0 horas; • Mistura de N2 : H2 67:33, 33:67 (%vol) para 0,3 sccm total , (% em volume); 80:20, 20:80 (%vol) para 0,5 sccm total; e Condições elétricas aterrado e flutuante. • A parte experimental deste trabalho foi dividida em várias etapas, de acordo com o objetivo específico. 3.2.1.1 – Estudo da influência do fluxo de massa na nitretação por jato de plasma O reator a ja to de plasma de corrente contínua, foi montado para este conjunto de experimentos conforme esquematicamente mostra a figura 27. A limpeza do sistema de vácuo, da câmara e da amostra, foram realizadas por meio de descarga de argônio mantendo-se por 2 horas, corrente da descarga de 100 mA e tensão entre 700 e 800 V. A temperatura da amostra variou entre 300 a 400 OC como conseqüência da formação de jato de plasma de argônio. 74 Figura 27 – Esquema do arranjo experimental com o alvo aterrado para o estudo da influência do fluxo de N2 na nitretação de Ti6Al4V [27]. Após a realização do procedimento de limpeza, desligou-se a fonte de tensão e fechouse a válvula do argônio, abriu-se a válvula do fluxímetro para a introdução de nitrogênio previamente ajustado para o fluxo desejado. Após conseguir a tensão de ruptura, a uma pressão de 10-3 Pa a 10-2 Pa na câmara de expansão e 15 a 350 Pa na câmara fonte, fixou-se o tempo de processamento em 2 horas mantendo-se constante a corrente da descarga fixada em 100 mA. A tensão aplicada variou entre 1000 e 1200 V para amostra aterrada, como mostra a figura 27. Nessas condições, a temperatura do processo variou entre 400 e 500 OC medida com termopares do tipo cromel-alumel. Foram efetuados tratamentos utilizando-se fluxos de 0,3; 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 3,0; 4,0 e 5,0 sccm. 75 3.2.1.2 – Estudo da influência do intervalo de duração do processo na camada nitretada Essa etapa do experimento foi planejada com o intuito de verificar o comportamento da nitretação variando-se o tempo de tratamento a uma pressão constante de aproximadamente de 3.102 e 8.10-3 Pa, na câmara fonte e na de expansão, respectivamente. Efetuada a limpeza convencional com plasma de argônio, iniciou-se o tratamento fixando o fluxo de massa de nitrogênio de 0,3 sccm, corrente da descarga de 100 mA. A tensão foi mantida em valores entre 1000 a 1200 V. A amostra foi fixada como alvo polarizado (+) 60V. Nessas condições a temperatura da amostra atinge 550 OC, mantendo-se constante durante a operação. O arranjo experimental empregado para este tratamento é mostrado na figura 28. Figura 28 – Arranjo experimental empregado para o estudo da influência do tempo de processamento nas propriedades da camada nitretada formada em Ti6Al4V [27]. 76 Nas condições citadas, foram efetuados tratamentos para intervalo de tempo de processamento de 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 3,0 horas. 3.2.1.3 – Estudo da influência da mistura de gases N2 : H2 na camada nitretada O comportamento da nitretação das amostras de Ti6Al4V, variando-se a proporcionalidade da mistura de nitrogênio e hidrogênio, também foi estudado. Nesses tratamentos utilizaram-se fluxos de massa total de 0,3 e 0,5 sccm de mistura de nitrogênio e hidrogênio, corrente da descarga de 140 mA, tensão entre 1000 a 1100 V, amostra polarizada (+) 150V, distância entre a amostra e o orifício de constrição de 5 cm, temperatura constante de 550 OC. O esquema do arranjo experimental deste conjunto de tratamentos é mostrado na figura 28. Para esses tratamentos utilizaram-se misturas de N2 e H2, para um fluxo de massa total inicial de 0,3 sccm na proporção de 67% de N2 - 33% de H2 e de 33% de N2 - 67% de H2 (%volume). Para a fase posterior, com um fluxo total da mistura mantido a 0.5 sccm, utilizouse uma proporção da mistura de 80% de N2 - 20% de H2 e de 20% de N2 - 80% de H2 (%volume). O tempo de duração dos processamentos de nitretação desta fase foi mantido fixo em 2 horas. Para esse tipo de descarga de mistura não foi possível manter a descarga autosustentada para correntes de 100 mA como nos experimentos de outras etapas. Assim, esse parâmetro foi variado entre 120 a 140 mA. Por outro lado, também não se conseguiu utilizar polarizações menores que 100 V, pois sem uma polarização superior a 100V a temperatura não atingia 5500C. 77 Para todos os tratamentos realizados, após o tempo normal de processo, desligou-se a fonte deixando a amostra resfriar sem abertura da câmara. 3.2.1.4 – Técnica de caracterização do plasma Foi construído e utilizado um analisador de energia para diagnosticar o plasma de argônio, nitrogênio e hidrogênio para as condições de processo utilizadas nas etapas deste trabalho. Foi observado também que, devido a alta energia dos íons, ocorria rápida deterioração do analisador, sendo necessária a sua substituição com alta freqüência. Foi construído um analisador de energia que consistiu de três grades, separadas por anéis de cerâmica e um coletor de cobre com base na teoria disposta no capítulo precedente. Todo o conjunto do analisador foi acondicionado num tubo de vidro. A Figura 29 mostra como as grades foram polarizadas. Figura 29 – Desenho esquemático dos potenciais de polarização das grades do analisador de energia [34]. 78 Foram realizados os seguintes procedimentos para a obtenção das curvas características do analisador de energia: • Posicionou-se o analisador a uma distância de 5 cm do orifício de constrição; • Ligou-se o sistema de vácuo e, após atingir uma pressão de fundo menor que 6.10-3 Pa, injetou-se nitrogênio a um fluxo variado, levando a uma pressão na câmara conforme mostra a tabela 9; • Ligou-se a fonte de potência e ajustou-a para trabalhar a 800 V cc; • Montou-se o circuito de operação do analisador e ajustou-se o potencial da terceira grade de modo a obter a máxima corrente coletada; • Traçou-se a curva característica do analisador variando a tensão de polarização da segunda grade; • Ajustou-se o fluxo variando para 0.3, 0.5, 0.7 e 1.0 sccm e repetiram-se os passos anteriores; • Ao terminar o experimento, fecharam-se as válvulas de injeção de gás, desligou-se o sistema de vácuo e abriram-se os anéis de vedação de modo a permitir a entrada de ar na câmara. Tabela 9 – Resultados da pressão em função do fluxo de nitrogênio para se medir a energia dos íons positivos no reator . Fluxo de massa de nitrogênio (sccm) Pressão de trabalho (Pa) 1,0 0,7 0,5 0,3 6,4 .10-3 6,0 .10-3 5,7 .10-3 5,4 .10-3 79 O analisador foi utilizado para medir a energia dos íons positivos. Ao interceptar o jato de plasma, é formada uma bainha em frente do analisador de energia como é mostrado na figura 29. Os íons penetram na primeira grade (GI), que está num potencial flutuante φf . A grade (GII) é polarizada com um potencial retardador de 0 a 250V. A terceira grade (GIII) é utilizada em combinação com a placa coletora, suprimindo a corrente devido à emissão de elétrons secundários produzidos pelo impacto de íons no coletor. A corrente no coletor é ajustada em um gráfico em função do potencial retardador φ [27,58]. O potencial da grade (GII) serve para selecionar a energia dos íons, isto é, apenas os íons com energia cinética maior que o equivalente potencial retardador poderão chegar ao coletor. Com isso o fluxo de íons coletados decresce com o aumento do potencial na grade (GII). A corrente de íons depende da função de distribuição de energia F(E). 3.2.2 – Técnicas de caracterização das camadas nitretadas As amostras relativas a cada condição de tratamento da nitretação foram caracterizadas quanto à sua microestrutura através de técnicas como difração de raios-X, microscopia eletrônica de varredura, espectroscopia de energia dispersiva de raios-X, determinação da tensão superficial (ângulo de contato) e nanoindentação. 80 3.2.2.1 – Difração de raios-X A técnica de difração de raios-X é usada para obter informações sobre o arranjo da estrutura cristalina do metal. Esse método tem-se mostrado eficiente na identificação e determinação quantitativa das fases das camadas nitretadas. Segundo Martovitskaya [59], a intensidade das linhas de difração é função da concentração da fase e da espessura da camada. A análise estrutural de material por difração de raios-X baseia-se no estudo do diagrama de difração, produzido pela interferência das reflexões geométricas dos feixes de radiação monocromática de raios-X incidentes sobre a amostra, como esquematicamente ilustrada na figura 30. Figura 30 – Diagrama esquemático da geometria de reflexão dos feixes de raios-X por diferentes planos formados pelos átomos constituintes do material [60]. A relação entre o comprimento de onda (λ) do feixe de raios-X, os ângulos de difração (2θhkl ) e a distância entre os planos atômicos paralelos de um retículo cristalino (dhkl), é dada pela equação de Bragg, onde n corresponde à ordem de difração [59,60]: nλ = 2dhkl sen θhkl (13) 81 Assim, pode-se calcular as distâncias interplanares do material cristalino, que dependerá somente do arranjo dos átomos na célula unitária. Portanto, com essa técnica, a incidência do raio monocromático e a detecção dos raios difratados são realizadas por uma varredura contínua do ângulo de espalhamento 2θ, a uma velocidade constante, obtendo-se gráficos de intensidade relativa de feixe difratado em função do ângulo de espalhamento ( I x 2θ). O equipamento de raios-X utilizado foi o difratógrafo Philips, modelo PW 1210 como mostra a figura 31, com monocromador para obtenção de radiação Kα de Cu, com λ = 1,54 Å. No caminho da detecção encontra-se um filtro de Ni para minimizar a influência dos espalhamentos de segunda ordem, e um colimador com fendas de 20, 2 mm e 20, para diminuir a divergência. O intervalo de varredura foi fixado entre 20 e 800, visto que os picos de difração de maiores intensidades do Ti6Al4V e TiN (fase α), que se espera identificar, ocorrem para valores de 2θ dentro dessa faixa. A tensão aplicada no tubo foi de 40 kV e corrente de 20 mA. Todos os ensaios de difração de raios-X deste trabalho foram realizados no Centro Técnico Aeroespacial (CTA) na Divisão de Materiais (AMR), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica. 82 Figura 31 – Difratômetro de raios-x da AMR// IAE/CTA. 3.2.2.2 – Microscopia Eletrônica de Varredura A microscopia eletrônica de varredura foi utilizada para a observação, com maiores detalhes, da microestrutura da camada nitretada, buscando-se uma relação entre os microconstituintes e as fases detectadas por difração de raios-X. O microscópio eletrônico de varredura (MEV) é um dos instrumentos mais versáteis para investigar microestrutura de materiais metálicos. Comparado ao microscópio óptico, sua expansão de resolução é bem maior que uma ordem de magnitude, pois permite analisar com resolução adequada objetos de aproximadamente de 10 nm (100 Å) [61]. Além da alta resolução, a principal vantagem dessa técnica é a grande profundidade de foco, que permite obter imagens tridimensionais da amostra, muito úteis para examinar superfícies de fratura [61]. 83 O microscópico eletrônico de varredura é constituído basicamente dos seguintes módulos, cujos componentes são esquematicamente mostrados na figura 32. Figura 32 – Diagrama ilustrativo dos principais componentes do microscópio eletrônico de varredura [61]. 1) Coluna óptica constituída de canhão de elétrons e de lentes eletromagnéticas; 2) Câmara de vácuo onde a amostra é colocada; 3) Sistema de vácuo; 4) Controle eletrônico de varredura; 5) Sistema de visualização de imagem. As imagens são formadas fundamentalmente como resultado da interação de feixe eletrônico colimado de alta energia, aproximadamente de 25kV, com a superfície da amostra. 84 A interação, produzida em todo o campo da amostra, é decorrente da varredura horizontal e vertical do feixe de elétrons. Quando um feixe de elétrons de alta energia incide sobre um material, dá origem a uma série de sinais que podem ser captados em pulsos elétricos por meio de um sistema eletrônico, sendo em seguida amplificados para finalmente, serem transformados em imagem por meio de um sistema de visualização [62]. A figura 33 apresenta esquematicamente os principais sinais originários da incidência de um feixe de elétrons de alta energia sobre uma amostra. Figura 33 – Representação esquemática da conseqüência da incidência de um feixe de elétrons de alta energia sobre a amostra [62]. As análises por microscopia eletrônica de varredura deste trabalho foram realizadas no Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (INPE) no Laboratório Associado de Materiais e Sensores com o microscópico Jeol, modelo JSM-5310 ilustrado na figura 34, e no Centro de Analises Químicas Instrumentais do Instituto de Química da USP de São Carlos. As microanálises por Espectroscopia por Energia Dispersiva de Raios-X - EDS foram feitas com o equipamento da marca LÉO, modelo 0-440 do Instituto de Química da USP de São Carlos. 85 Nessas análises puderam ser identificadas as microestruturas das composições das inclusões, bem como dos precipitados presentes na camada nitretada. Sistema de EDX Figura 34 – Microscópio eletrônico de varredura do INPE. 3.2.2.3 – Determinação da tensão superficial (molhabilidade) A tensão superficial ou tensão de molhabilidade (τ τ ) trata da diferença entre as tensões interfaciais sólido-vapor e sólido-líquido dada pela equação de Young [63,64]: τ ≡ γ(lv).cosθ = γ(sv) - γ(sl), (14) 86 onde: τ é a tensão superficial ou tensão de molhabilidade, γ (lv) é a tensão interfacial líquido- vapor, γ(sv) é a tensão interfacial sólido-vapor e γ (sl) é a tensão interfacial sólido-líquido. A medição do ângulo de contato entre o líquido e as amostras tratadas foi realizada utilizando o método da gota. O método resume-se em gerar uma pequena gota de uma solução de 0,9 % em volume de NaCl a 0,1 N sobre a superfície que se deseja estudar e observar o ângulo formado pela interface sólido-líquido-gás. Este ângulo é chamado de ângulo de contato e traz consigo informações sobre a energia superficial do substrato sólido (Lei de Young) [63,64]. O ângulo de contato é normalmente medido por um goniômetro. Porém, no presente trabalho, uma gota de 10µL (0,1N) foi adicionada sobre a superfície da membrana com auxílio de uma microseringa (Hamilton) com uma pressão constante e após 10 min essa gota foi fotografada e submetida a processamento digital para obtenção da largura e altura da gota, como mostra a figura 35. Todo o procedimento foi efetuado em uma sala refrigerada com temperatura constante de 20oC. O ângulo de contato foi calculado pela equação 15: θ = 2. arctg(2hg/d), (15) onde θ é o ângulo de contato, hg é a altura da gota e d é a sua largura. A tensão superficial (τ) é calculada pela equação 16 [63,64]: τ = 72,8cos(θ). (16) 87 h d Figura 35 – Esquema representativo da medida do ângulo de contato [63]. As medições dos ângulos de contato em amostras nitretadas foram realizadas no Departamento de Química e Física Molecular - DQFM/ IQSC / USP de São Carlos, utilizando-se um sistema montado pelo próprio departamento como mostram as figuras 36 e 37. Anteparo para filtrar o flash Flash Maquina fotográfica Amostra Objetiva macro Suporte do flash Suporte para amostra Suporte da máquina fotográfica Figura 36 – Sistema montado na USP para medir tensão superficial. 88 Foi utilizada uma máquina fotográfica da marca Pentax, modelo ME presa em um tripé, contando também com um flash da marca Pentax fixo ao suporte. Nessa máquina fotográfica foi acoplado um dispositivo junto à objetiva de 50 mm, transformando o sistema numa objetiva macro, com o intuito de favorecer uma melhor aproximação da imagem da gota sobre a superfície da amostra. Uma microseringa foi utilizada para depositar 10µL da solução de NaCl sobre a amostra. A amostra foi colocada sobre um suporte que possibilitou ajustes nas coordenadas X, Y e Z, para facilitar o ajuste do foco da objetiva em ralação a posição da gota com relação à objetiva. O esquema do aparato é apresentado na figura 37. Figura 37 – Esquema do aparelho para medição do ângulo de contato da USP/ São Carlos. 89 3.2.2.4 – Nanoindentação Para a realização dos ensaios de dureza por nanoindentação utilizou-se um nanodurômetro da marca MTS e modelo Nano Indenter XP do Departamento de Física da UFPR, ilustrado na figura 38. Todos os ensaios foram realizados sobre a superfície da amostra sob temperatura constante de 23,50 C e umidade relativa de 50 %. Foram feitas 15 impressões em cada amostra, sendo que em cada indentação foram realizados 8 descarregamentos de cargas com variação de 50; 25; 12,5; 6,3; 3,2; 1,6; 0,8 e 0,4 mN. Figura 38 – Nanoindentador do Departamento de Física da UFPR. A dureza, em geral, é dada pela razão entre a carga aplicada e a área da deformação plástica produzida, como mostra a equação 17 [53,65]: 90 H= F . A (17) O ensaio de nanoindentação é uma técnica utilizada para medir propriedades mecânicas de filmes finos e propriedades mecânicas de materiais com superfícies modificadas. O penetrador freqüentemente utilizado nos ensaios de nanoindentação é o de ponta de diamante do tipo Berkovich que possui geometria de uma pirâmide regular de base triangular, onde cada lado faz um ângulo de 65,3 0 com normal à base de tal forma que tem a mesma relação profundidade-área apresentada pelo penetrador tipo Vickers. As duas propriedades mecânicas mais freqüentemente medidas, utilizando a técnica de nanoindentação, são o módulo de elasticidade (E) e a dureza (H). No método utilizado, essas grandezas são obtidas a partir de um ciclo completo de aplicação e alívio de cargas (carregamento e deslocamento). A figura 39 mostra uma representação esquemática de uma seção em dois momentos de uma indentação e identifica os parâmetros utilizados na análise [53]. Em qualquer instante durante a carga, o deslocamento total do penetrador (h) é dado por: h = hC + hS , (18) onde hC é a profundidade de contado e hS é o deslocamento da superfície no perímetro de contato e h é a profundidade da impressão residual. Através de um tratamento matemático, segundo Pharr [53], pode-se chegar à seguinte equação para o cálculo da dureza: 91 H= Pmax A (19) , onde Pmáx = carga máxima da indentação sobre a amostra e A= área de contato projetada para a carga máxima. A figura 39 mostra uma representação esquemática de uma seção em dois momentos de uma indentação e identifica os parâmetros utilizados na análise. Figura 39 – Representação esquemática: (a) de uma seção através da nanoindentação (b) da carga aplicada versus profundidade de penetração do penetrador [53]. 92 A partir da equação (18) e analisando a figura 39(a), admitindo o uso do penetrador tipo Berkovich, pode-se determinar a profundidade de contato pela equação (20). hc = hmáx − hs , (20) onde hC é a profundidade de contato, hmáx é o deslocamento máximo do penetrador e hs é o deslocamento da superfície no perímetro de contato. O deslocamento do perímetro de contato, por sua vez é dado por: hs = ε . Pmáx S , (21) onde S é a rigidez do material e ε assume os valores iguais a 1,0; 0,75 ou 0,72 conforme a geometria da ponta do penetrador. Portanto, determina-se o módulo de elasticidade do material a partir da sua dureza. . 93 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO Todas as nitretações foram realizadas no Laboratório de Plasma e Processos do Departamento de Física de Plasma do ITA. Os resultados da determinação de dureza por nanoindentação, análise microestrutural por espectroscopia de energia dispersiva (EDS), análise da estrutura cristalográfica por difração de raios-X, análise da textura morfológica por microscopia eletrônica de varredura e análise da energia superficial por medição do ângulo de contato, serão apresentados a seguir e discutidos para elucidar a influência dos parâmetros do processo de nitretação assistido por plasma, nas características superficiais do Ti6Al4V tratada. Os resultados serão apresentados em quatro etapas de acordo com o parâmetro do processo específico estudado: • fluxo de massa de nitrogênio : 0,3; 0,5; 0,7 e 1,0 sccm; • tempo de processo fixado em : 30 min, 60 min, 90 min e 120 min; • proporção de gases na mistura N2 : H2 para dois fluxos de massa totais distintos : 67 : 33 e 33 : 67 (%volume) para fluxo total de 0,3 sccm e 80 : 20 e 20 : 80. (%volume) para fluxo total de 0,5 sccm; e • energia dos íons positivos no reator para as condições dos processos de nitretação estudados. Todos os ensaios de nitretação, exceto para os de mistura de gases, são realizados mantendo fixa a corrente da descarga em 100 mA. 94 4.1 – Nitretação com variação do fluxo de massa de nitrogênio Nesta etapa do trabalho foram realizados experimentos de nitretação mantendo fixo o tempo de processo em 120 min e tendo como parâmetro de variação o fluxo de N2. Nestas condições foram medidas a temperatura e a tensão da descarga cujos valores são apresentados na Tabela 10. Tabela 10 – Parâmetros do processo para diferentes valores de fluxo de N2. Fluxo Temperatura Tensão da descarga (sccm) (0C) (V) 0,3 484 762-780 0,5 461 796-830 0,7 430 804-850 1,0 398 817-890 Os resultados obtidos das caracterizações físicas e mecânicas das amostras nitretadas em diferentes condições de fluxo de N2 são apresentados e discutidos a seguir: 4.1.1 – Difração de Raios -X O difratograma de raios-X da liga Ti6Al4V original é apresentado na figura 40. Os picos de difração presentes neste diagrama são todos identificados como sendo oriundos da reflexão dos planos cristalográficos da estrutura de titânio-α hexagonal. Os índices correspondentes a cada reflexão são apresentados juntos a cada pico na própria figura 40. 95 Intensidade (u.a.) 5 0 0 L i g a ( 1 0 1 ) T i 6 A l 4 V 4 0 0 ( 0 0 2 ) ( 0 1 0 ) 3 0 0 ( 1 1 0 ) 2 0 0 ( 1 0 3 ) ( 1 0 2 ) 1 0 0 ( 2 0 0 ) ( 1 1 2 ) ( 1 1 0 ) ( 2 0 1 ) 0 0 1 0 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 7 0 8 0 9 0 ( 2 θ ) Figura 40 – Difratograma de raios-X da liga Ti6Al4V antes de ser nitretada. Na figura 41 são apresentados os difratogramas de 4 amostras nitretadas em fluxos diferentes de N2. A análise comparativa dessas curvas com a da amostra original evidencia a formação de uma estrutura de material com característica cristalográfica diferente da liga Ti6Al4V. Ao mesmo tempo, observa-se ainda a presença da maioria dos picos de difração identificados como sendo da estrutura de titânio-α hexagonal, indicando que o material formado na superfície é suficientemente delgado para permitir a passagem do feixe de raios-X através dele e revelar a estrutura do substrato existente no plano inferior. 96 Fluxo de N 2d e 0 , 3 s c c m (211) Ti 2N Intensidade (u. a.) (101) Ti2N (002) (220) (331) Ti2N Ti N Ti N 2 2 (220) Ti 2N Fluxo de N 2d e 0 , 5 s c c m (222) TiN (112) Ti6Al4V (303) Ti 2N (222) TiN (002) Ti 2N (220) Ti 2N Fluxo de N 2d e 0 , 7 s c c m (303) Ti2N (303) Ti2N (222) TiN Fluxo de N 2d e 1 , 0 s c c m (303) Ti2N (220) Ti2N 0 10 20 30 40 50 60 70 (222) TiN 80 90 2θ Figura 41 – Difratogramas de raios-X das amostras nitretadas em diferentes fluxos de N2. Os picos adicionais presentes nos difratogramas da figura 41 podem ser atribuídos a reflexões de duas fases de nitretos: ε -Ti2N e δ - TiN. Além disso, uma análise comparativa entre eles permite observar que ocorrem variações nas intensidades de diversos picos em função do fluxo de N2 injetado. Observa-se que ocorre uma proeminência do pico de Ti2N a 2θ = 63,50, para uma amostra nitretada com 0,7 sccm de N2. Os picos identificados como sendo de TiN presentes a 2θ = 66,7 e 76,50 apresentam maior amplitude para amostras tratadas com fluxos de 0,3 e 0,5 sccm de N2. 97 De acordo com a literatura [7 e 40], a camada de nitreto da superfície de Ti6Al4V é composta por uma camada superficial externa com estruturas de δ-Ti2N cúbica e ε-Ti2N tetragonal, seguida por uma camada interna produzida pela difusão constituída da fase ε-Ti2N e uma solução sólida de nitrogênio em titânio a'-(Ti,N). Ettaqi e colaboradores [66], por sua vez, nitretaram o titânio através de plasma pulsado e utilizando a técnica de difração de raiosX, identificaram a formação de duas fases: nitreto de titânio cúbico (TiN) e nitreto de titânio α-hexagonal (TiN0.3). Entretanto, os autores concluem que os padrões de difração para essas duas fases são bem parecidos e difíceis de serem distinguidos. Os diagramas obtidos e apresentados, mesmo para aquelas amostras que apresentaram os picos das fases de nitretos relativamente intensos, não permitiram identificar todas as fases indicadas na literatura. A razão da impossibilidade dessa verificação pode ser atribuída ao fato das camadas nitretadas das amostras obtidas, não serem suficientemente espessas a ponto de permitirem a observação dos picos correspondentes a estas fases pela técnica de medição simples utilizada neste trabalho. Os resultados apresentados permitiram verific ar que o processo utilizado cria fases de nitreto de titânio na sua superfície e que a proporção de ocorrência de cada fase, assim como a orientação preferencial de titânio hexagonal na superfície sofre influências significativas da taxa de injeção do N2 utilizada durante o processo. 98 4.1.2 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) A topografia das amostras tratadas em diferentes condições de fluxo de N2 foi analisada pela técnica de microscopia eletrônica de varredura. Os resultados representativos em termos de micrografias obtidas são apresentados nas fotos da figura 42. A micrografia (a) representa a superfície da amostra nitretada com fluxo de 1,0 sccm de N2, enquanto que as outras, na seqüência, correspondem às superfícies da camada de nitreto obtida com uso de fluxos menores, isto é, (b) = 0,7 sccm, (c) = 0,5 sccm e (d) = 0,3 sccm. 1,0 sccm 0,7 sccm 0,5 sccm 0,3 sccm Figura 42 – Micrografias eletrônicas (MEV) das da camadas nitretadas para diferentes valores de fluxo de N2 – aumento 10.000X. 99 A análise comparativa entre essas micrografias permite verificar um significativo aumento na rugosidade da amostra com diminuição do fluxo de N2. Esse resultado pode ser atribuído ao efeito do aumento de caminho livre médio das partículas que aumenta a energia cinética das partículas e, como conseqüência, a de impacto sobre a superfície da amostra com diminuição do fluxo e da pressão da câmara de processo [67]. Esse resultado reforça os resultados obtidos com o uso da difratometria de raios-X que indicou possibilidade de promover maior nitretação com diminuição do fluxo de N2 no reator. 4.1.3 – Analise microestrutural por espectroscopia de energia dispersiva (EDS) Com o intuito de melhor visualizar a camada nitretada, todas as amostras tratadas foram cortadas transversalmente. Antes de efetuar as medições por EDS, foram realizado mapeamento topográfico dessas seções. A figura 43 apresenta micrografias obtidas por MEV. Nessa análise topográfica observa-se a presença de uma faixa branca à esquerda em todas as fotos apresentadas. Ressalta -se que essa faixa ocorre exatamente na região da aresta formada pela superfície nitretada e a superfície de corte transversal. Percebe -se pela análise comparativa que há um nítido aumento na espessura da faixa em função da diminuição do fluxo de nitrogênio. Considerando-se os resultados da análise com difração de raios-X e outras técnicas de caracterização, que serão abordados nos tópicos subsequentes, pode-se inferir o efeito da variação da espessura da faixa como sendo correlacionada à espessura da camada nitretada. A faixa corresponde à camada de nitreto, que por apresentar uma dureza superior ao material do substrato, acaba se desprendendo do corpo da amostra durante o polimento, produzindo a depressão que, ao ser observada por microscopia eletrônica, apresentou-se com essa coloração esbranquiçada. 100 6µm 6µm F – 0,3 sccm 6µm F – 0,5 sccm 6µm F – 0,7 sccm F – 1,0 sccm Figura 43 – Micrografia eletrônica das superfícies transversais das amostras nitretadas em diferentes fluxo de N2 com indicação mapeada por técnica de EDS em linha amarela. As microanálises por EDS foram realizadas nas superfícies e os espectros obtidos para cada amostra são apresentados nas figuras 44, 45, 46 e 47. A presença de nitrogênio em todas as amostras nitretadas com fluxos de 0,3; 0,5; 0,7 e 1,0 sccm é verificada, mesmo sendo este um elemento de número atômico muito baixo que produz emissão de raios-X de baixa intensidade em comparação aos demais elementos [68]. 101 Counts 100 Ti 80 60 40 C N 20 V Al 0 2 4 6 8 Energy (keV) Figura 44 – Espectro de energia dispersiva da amostra tratada com um fluxo de nitrogênio de 0,3 sccm. Counts 100 Ti 80 60 40 C 20 V Al N N 0 0 2 4 6 8 Energy (keV) Figura 45 – Espectro de energia dispersiva da amostra tratada com um fluxo de nitrogênio de 0,5 sccm. 102 Counts Ti 100 80 60 40 C 20 V Al N 0 2 4 6 8 Energy (keV) Figura 46 – Espectro de energia dispersiva da amostra tratada com um fluxo de nitrogênio de 0,7 sccm. Counts Ti 100 80 60 40 C 20 V Al N 0 2 4 6 8 Energy (keV) | Figura 47 – Espectro de energia dispersiva da amostra tratada com um fluxo de nitrogênio de 1,0 sccm. 103 A análise comparativa dos quatro espectros permite confirmar que as amostras possuem a mesma composição: titânio, alumínio, vanádio e nitrogênio, não permitindo, entretanto, verificar significativas diferenças em termos de intensidades dos picos de emissão de cada elemento. Esse resultado pode parecer contraditório em relação ao resultado anteriormente apresentado sobre a variação da espessura da camada nitretada. Porém, esta ausência na variação da concentração elementar, pode confirmar a hipótese anteriormente feita: a faixa branca na micrografia da superfície transversal corresponde à retirada da camada nitretada pelo esforço mecânico do polimento. O pico de emissão de nitrogênio, assim como o de carbono, são nestes casos, espúreos ou decorrentes da inserção ocorrida durante a deposição de filme de carbono usado para melhorar as condições de análise por EDS. Em conclusão, os resultados apresentados mostraram que a análise por EDS, com intuito de verificar a espessura da camada nitretada, não é possível, devido a ocorrência do desprendimento do material de alta dureza do restante do substrato durante o polimento, razão pela qual se decidiu a não repetir essa caracterização em outros conjuntos de amostras. 4.1.4 – Dureza superficial por nanoindentação A figura 48 ilustra a distribuição típica de posições indentadas em cada amostra analisada. Ressalte-se a preocupação em distribuir essas impressões alinhadas em colunas onde se encontra o filme de nitreto e que o espaçamento médio de uma indentação para outra foi de 50 µm. Foram feitas tentativas para medir a dureza também ao longo da seção transversal da amostra, como no caso das medições com a técnica de EDS, porém, devido ao fato do filme produzido ser muito fino, as medições feitas não puderam fornecer resultados confiáveis, mesmo sendo o indentador nanométrico. Uma outra razão que dificulta a análise transversal 104 foi a espessura da amostra como um todo (cerca de 1mm), dificultando a montagem e polimento adequados, podendo provocar efeitos como os já verificados na análise por EDS. 50 µm 50 µm Figura 48 – Distribuição de impressão de nanoindentador ao longo da superfície da camada nitretada. A nanoindentação é uma técnica útil para realizar medição das propriedades mecânicas de amostras delgadas com espessuras até da ordem de nanômetros [69]. A figura 49 apresenta esquematicamente os valores médios da dureza obtidos das medições feitas em inúmeras indentações para cada amostra tratada, em diferentes condições de fluxo de N2 e sem tratamento, em função da profundidade de penetração do indentador. 105 22 Fluxo de N Dureza (GPa) 20 2 f=0,5 sccm 18 Ti6Al4V Puro Fluxo de N 2 f=0,3 sccm 16 Fluxo de N Fluxo de N 2 2 f=0,7 sccm f=1,0 sccm 14 12 10 8 6 4 2 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Profundidade de penetração (nm) Figura 49 - Dureza medida na superfície por nano-indentação na amostra original de Ti6Al4V e nas nitretadas, em diferentes condições de fluxo de N2, em função da profundidade de penetração do indentador. A amostra não nitretada apresentou dureza relativamente constante na faixa de 4 GPa, como era de esperar, para profundidade de penetração até 300 nm, quando foi interrompida a medição. Já, as amostras nitretadas apresentaram um aumento significativo no valor da dureza em função do fluxo de N2 utilizado. Porém, apresentaram uma diminuição mais acentuada na dureza em função da profundidade de indentação. A amostra nitretada com fluxo de 0,3 sccm foi a que apresentou o maior valor de dureza próximo à superfície (50 nm da superfície) com 21 GPa e uma diminuição relativamente menor desse valor em função da profundidade de penetração. Seguindo a tendência observada nas análises por difração de raios-X e por EDS já apresentadas, as 106 amostras obtidas com nitretação em condições de maiores valores de fluxo de injeção de N2 foram as que apresentaram menores valores de dureza máxima. O valor máximo de dureza apresentado pela amostra tratada com 0,3 sccm de N2 corresponde a um aumento de aproximadamente 6 vezes em relação ao da amostra original de Ti6Al4V. Esse fato comprova a eficiência do processo que utiliza jato de plasma para nitretação, inclusive em comparação com alguns valores constantes na literatura, como os apresentados por Königer e colaboradores [70] que também estudaram a formação de nitreto de titânio em titânio puro, em função do fluxo de nitrogênio, e obtiveram valores de dureza entre 20 e 25 GPa. O valor de dureza superficial da amostra está relacionado à estrutura do nitreto de titânio formado e também quanto à concentração de fases de nitreto na superfície. Nesse sentido, fica evidente que as amostras tratadas com fluxos de 0,3 e 0,5 sccm são as que apresentam melhores condições superficiais quanto à formação de camada com melhores características de dureza. A diminuição dos valores de dureza em função da profundidade de penetração do indentador é uma indicação da espessura limitada da camada nitretada. A análise cuidadosa dos dados constantes da figura 49 pode então indicar a profundidade relativa de nitretação que se consegue obter para diferentes fluxos de N2. Para poder melhor visualizar o efeito da profundidade de nitretação construíu-se um gráfico auxiliar, apresentado na figura 50, onde se tem a dureza da amostra em função do fluxo de N2 para diferentes profundidades de indentação. 107 22 Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade 21 20 19 Dureza (GPa) 18 de de de de de de de de 50 nm 100 nm 150 nm 200 nm 250 nm 300 nm 350 nm 400 nm 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 Fluxo de massa de N 2 (sccm) Figura 50 – Dureza da camada nitretada em função do fluxo de gás utilizado para diferentes profundidades de penetração do indentador . As curvas construídas pela interligação de pontos experimentais na figura 50 permitem pontuar diversos aspectos importantes em termos da dureza da superfície das amostras analisadas, que são: • para todas as profundidades de indentação a condição de 0,3 sccm fornece amostra de superfície mais dura, indicando que essa é a condição mais favorável para tratamento quando se quer obter material com maior dureza superficial e também com camada nitretada mais espessa ; 108 • para amostra tratada com 0,5 sccm, o valor da dureza máxima a 50 nm de profundidade foi praticamente idêntico ao da amostra tratada com 0,3 sccm, porém, para profundidades maiores pode-se perceber o surgimento de queda cada vez maior, podendo atribuir ao fenômeno a diferença ocorrida na espessura da camada nitretada formada para as duas condições distintas de nitretação; e • mesmo para profundidades de indentação da ordem de 1 µm, mais precisamente até 800 nm, não se observou a queda no valor da dureza no valor apresentado à amostra sem tratamento de nitretação, devido provavelmente à composição de esforços de reação contra indentação apresentada pela camada de nitreto sobreposto à matriz metálica da liga de titânio. Levando-se em consideração os pontos discutidos, e também ao fato que a amostra tratada a 0,3 sccm de fluxo de N2 apresenta valor constante de dureza para profundidades de indentação até 150 nm, pode-se estimar que a espessura da camada nitretada é de pelo menos 150 nm e que essa camada apresenta uma dureza superficial da ordem de 21GPa. Para amostra tratada com fluxo de 0,5 sccm pode-se estimar que a espessura da camada nitretada é de aproximadamente 100 nm. Para amostras obtidas com fluxos 0,7 e 1,0 sccm, pode-se dizer que a camada formada não possui nitreto com estrutura cristalográfica adequadamente ordenada ou que os nitretos formados são partículas pequenas esparsamente distribuídas de maneira a não conferir à amostra valor de dureza adequada. Além disso, os valores obtidos permitem inferir que a formação da camada nitretada se limita a uma espessura da ordem de 50 nm. Resultados condizentes com os apresentados para medição da dureza das amostras foram obtidos pelas medições de módulo de elasticidade (ε), em compressão, feitas 109 simultaneamente com nanoindentador. Os principais resultados dessa caracterização são apresentados na figura 51 na forma de gráfico de módulo de elasticidade em função da profundidade de penetração do indentador para diferentes fluxos de N2 utilizados. Módulo de elasticidade (GPa) 320 0,3 sccm 0,5 sccm 0,7 sccm 1,0 sccm Liga de titânio 300 280 260 240 220 200 180 160 140 120 100 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Profundidade de contato (nm) Figura 51 – Módulo de elasticidade medido na superfície por nanoindentação na amostra original de Ti6Al4V e nas nitretadas em diferentes condições de fluxo de N2, em função da profundidade de penetração do indentador. A analise das curvas da figura 51 permite observar diversos fatos importantes em termos das características físicas superficiais das amostras estudadas, que são: 110 • A liga Ti6Al4V sem tratamento é a que apresenta menor valor de ε em todas as profundidades analisadas. Além disso, apresenta uma peculiaridade que é o aumento do módulo na fase inicial do ensaio para posterior estabilização. • Todas as amostras nitretadas apresentaram tendências de diminuição no valor do módulo com o aumento na profundidade da penetração, mostrando a criação por meio do processo de uma resistência superficial à penetração de objeto, mesmo que este seja de espessura nanométrica. • O módulo de elasticidade superficial da amostra nitretada aumenta monotonicamente com a diminuição do fluxo de N2, de maneira que a amostra tratada com fluxo de 0,3 sccm tenha apresentado módulo de elasticidade máximo maior que 300 Gpa. Portanto, maior que o dobro do valor máximo apresentado pela liga original sem tratamento. • A variação do módulo de elasticidade, em função da profundidade para amostras tratadas com fluxo de 0,3 e 0,5 sccm, apresentou duas faixas distintas de deflexões. Para a amostra de 0,3 sccm, a primeira faixa terminando em 100 nm e, para 0,5 sccm, em 75 nm. Essa deflexão com tendência à pseudo-estabilização no módulo em função da profundidade do penetrador, pode ser tentativamente associada à formação de uma camada externa e outra camada de difusão mais interna, formada pela nitretação iônica, que está associada ao limite da espessura da camada nitretada pela similaridade do aspecto ε x d penetração observada em amostra Ti6Al4V após o pico do εmáx. Essa proporção leva a conciliar valores de 100 nm e 75 nm como espessuras das camadas nitretadas formadas nas amostras de 0,3 e 0,5 sccm, respectivamente. Os resultados apresentados pela medida de nanoindentação permitiram verificar que, para processos de nitretação utilizando reator de jato de plasma, trabalhar com fluxos baixos é 111 de suma importância para se conseguir um ótimo rendimento, devido ao aumento da energia dos íons que colidem com o substrato, favorecendo assim o processo de formação de nitretos de titânio, conforme resultados das medições feitas e apresentados no último segmento de resultados. 4.1.5 – Tensão superficial (ângulo de contato) Quando uma quantidade limitada de um líquido é colocada em uma superfície sólida, o líquido espalhado será contido em forma semi-elíptica, cujo aspecto geométrico do contorno será uma função dos aspectos de equilíbrio energético da interface de contato entre três materiais de diferentes características: sólido, líquido e gasoso. O ângulo formado na base da gota deste líquido em contato com a superfície sólida é denominado de ângulo de contato. É intuitiva a associação do valor deste ângulo com a molhabilidade do líquido no sólido, no sentido de prever que, quanto menor o ângulo de contato, maior a molhabilidade e menor a tensão superficial na interface. Como neste trabalho pretende-se realizar estudos experimentais de tratamentos superficiais por nitretação iônica da liga Ti6Al4V, visando melhorar as características mecânicas e sua compatibilidade biológica superficiais com moléculas protéicas, esperandose com isso melhorar a boa funcionalidade hemodinâmica da peça construída, é de suma importância que as amostras tratadas não permitam a adesão das células hemácicas, o que se traduz na menor trombogenicidade do material. A figura 52 ilustra fotos da gota de solução de NaCl adicionada sobre a liga Ti6Al4V não tratada, utilizando o método da gota. 112 a b Figura 52 – Gota da solução de NaCl, sobre amostra não nitretada. a) no instante 0 min; b) instante 5 min. A comparação entre as fotos das figuras 52-a e 52-b mostra que a largura da gota é menor no instante inicial da deposição da gota, enquanto que sua altura é maior do que a gota observada após um determinado intervalo de tempo (figura 52-b). Isto indica que a solução salina para esta amostra específica de Ti6al4V não tratada, deve ter-se melhor espalhado em função do tempo de duração do ensaio. Esse resultado mostra que a liga de Ti6Al4V apresenta uma manifestação parcial de uma força molecular de adesão sólido-líquido, que cria uma energia livre adicional sólido/líquido (γSL) entre duas fases condensadas (conhecida como energia interfacial) que melhora a molhabilidade do material em função do tempo de contato com o líquido [63,64]. A figura 53 ilustra fotos das gotas de solução de NaCl adicionada sobre liga nitretada (TiN) utilizando-se o método da gota. 113 a b Figura 53 – Gota da solução d NaCl sobre amostra nitretada com fluxo de N2= 0.3 sccm a) no instante 0 min; b) instante 5 min. Como pode ser visto pela comparação dos aspectos geométricos das figuras 53-a e 53-b, a gota depositada sobre a amostra nitretada não mostra diferença significativa no ângulo de contato em função do tempo de ensaio. Isso mostra que essa amostra nitretada apresenta maiores valores de ângulo de contato. Este comportamento resultante da má molhabilidade que o liquido exerce na amostra tratada, diminuindo a tensão superficial, era esperado e é positivo para o objetivo da pesquisa. Dentre as condições de tratamento utilizadas nesta etapa, as amostras que apresentaram maiores ângulos de contato foram aquelas tratadas com um menor fluxo de nitrogênio, portanto coincidentes com resultados obtidos com a utilização de outras metodologias. A tabela 11 mostra resumidamente resultados das medições relativas de ângulos de contato e da tensão superficial entre líquido e a amostra nitretada utilizando o método da gota, para diferentes taxas de injeções de gás N 2. 114 Tabela 11 – Resultados das medições do ângulo de contato e do cálculo das tensões superficiais para cada condição de fluxo de N2 Condições Tempo (min) θ (graus) τ (N/mm) 0,3 sccm 0 91,13 -1,44 5 87,66 2,97 0,5 sccm 0 90,56 -0,71 5 86,46 4,49 0,7 sccm 0 90,41 -5,52 5 86,09 4,69 1,0 sccm 0 90,43 -0,54 5 86,50 4,44 Liga não tratada 0 73,89 20,20 5 65,57 30,11 Torna-se evidente que a amostra não tratada é a que apresenta um comportamento de molhabilidade e tensão superficial diferente das outras amostras tratadas em qualquer das condições usadas de fluxo de N2. Pode-se observar, dos valores da tabela, que o ângulo de contato da amostra não tratada foi menor do que nas amostras tratadas, como já havia sido apresentado nas figuras 60 e 61. Kipaldi e colaboradores [71], estudaram o efeito da passivação e esterilização a vapor seco realizada na superfície de titânio e observando que o valor da tensão superficial sólida apresentou um pequeno aumento. Realizando esse mesmo tratamento sem a passivação no titânio, descobriram que o valor da tensão superficial sólida aumentava consideravelmente. Um aspecto importante da análise dos resultados apresentados é sobre o gradiente de tensão, ou seja, a diferença dos valores de tensão medidos no instante inicial (t = 0) e no instante final (t = 5). Pode-se verificar que essas diferenças diminuem com a diminuição do fluxo, além do fato de ter sido maior o ângulo de contato para as amostras processadas com 0,3 e 0,5 sccm. Esses resultados vêm reforçar os anteriormente apresentados, comprovando que a nitretação para baixos valores de fluxo produz nitretos superficiais com melhores 115 características físicas e com maior compatibilidade biológica superficial com soluções salinas. Portanto, isto confirma a hipótese inicial de que a formação do filme de nitreto aumenta o seu potencial de aplicação na confecção de válvula cardíaca mecânica. 116 4.2 – Nitretação para diferentes tempos de duração do processo de nitretação Para esta etapa de estudo experimental foram realizadas nitretações com diferentes tempos de duração do processo mantendo-se o fluxo de nitrogênio em 0,3 sccm constante, por ter sido esta a condição que fornece os melhores resultados apresentados no segmento precedente. Os valores dos parâmetros que variaram em função do plasma para cada condição de tempo de nitretação são apresentados na Tabela 12. Tabela 12 - Parâmetros do plasma para diferentes condições de tempo de nitretação. Tempo (min) 120 90 60 30 Temperatura (0C) 550 550 550 550 ddp (V) 815-825 920-980 824-838 873-887 Com a finalidade de aumentar a aceleração dos íons positivos no jato de plasma para promover o aquecimento da amostra, o alvo foi polarizado negativamente com uma fonte externa c.c. regulável de 1500 V e 200mA. Para se obter a temperatura desejada, regulou-se a tensão aplicada ao porta-amostras em aproximadamente +60V, com o intuito de aumentar a energia cinética dos íons positivos e possibilitar a colisão dessas partículas com o substrato. Como efeito secundário dessas colisões, obteve-se a temperatura do substrato de 5500C. O potencial de descarga foi ajustado várias vezes durante um mesmo tratamento para gerar a intensidade de corrente de descarga necessária para manter a temperatura constante. 117 Os resultados das análises realizadas em amostras tratadas são apresentados a seguir. 4.2.1 – Difração de Raios-X Os difratogramas obtidos das amostras tratadas a diferentes tempos de duração do processo de nitretação são apresentados na figura 54. Uma análise comparativa desses diagramas com o da amostra sem nitretação permite observar, em primeira instância, a formação de picos nas regiões de 2θ = 39, 63, 76o. De acordo com as fichas do International Table of Crystallography [72] esses picos podem ser atribuídos às reflexões dos planos de δ - Ti2N cúbica e ε - Ti2N tetragonal. De acordo com a premissa de que camadas nitretadas mais espessas devem ser formadas para tempos mais longos de tratamento, esperava-se que os picos de difração dos nitretos apresentassem um aumento relativo das suas intensidades com o aumento do tempo de processamento. Porém, a análise comparativa dos diagramas obtidos não permitiu afirmar esta tendência, podendo somente afirmar que a amostra tratada por 30 min é a que apresenta menor intensidade relativa do pico de Ti2N, em comparação às intensidades das amostras tratadas por tempos mais longos. A variação na intensidade de difração da estrutura de nitretos de titânio, ε - Ti2N e δ -TiN, em função do tempo de tratamento foi verificada por Renevier e colaboradores [73], que estudaram a nitretação de titânio produzida por processo assistido a arco de baixa pressão, por tempos mais longos 4, 9, 15 e18 horas e concluíram que um maior tempo de nitretação induz a formação de picos das fases δ-Ti2N cúbica e ε-Ti2N. 118 Tempo de processo = 2,0 horas (111) TiN (220) (331) (002) T i2N T i2 N T i2N (111) T i2N Intensidade (u.a.) (101) T i2N (303) T i2N (222) TiN Tempo de processo = 1,5 horas (100) T i2 N (220) T i2N (303) T i2N (222) TiN (100) T i2N Tempo de processo = 1,0 hora (220) T i2N (225) T i2N (222) TiN Tempo de processo = 0,5 hora 220 T i2N 222 TiN 0 10 20 30 40 50 60 70 Distância interplanar (2θ) 80 90 Figura 54 – Difratogramas de raios-X das amostras tratadas para diferentes tempos de processamentos. 4.2.2 – Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) A figura 55 mostra as micrografias por MEV obtidos das amostras tratadas por 4 diferentes intervalos de tempo. 119 a b 40 µm c 40 µm d 40 µm 40 µm Figura 55 – Micrografia por MEV da camada nitretada com os tempos nitretação variados: a) 120min; b) 90 min; c) 60 min e d) 30min – aumento de 1000 X. A seqüência das micrografias mostra que quanto maior é a exposição da amostra ao jato de plasma de nitrogênio, maior é a irregularidade na topografia da superfície. A micrografia da figura 55-a apresenta superfície com muita irregularidade topográfica mesmo na região pertencente a um grão, enquanto que a superfície da amostra tratada com menor tempo de nitretação (figura 55-d), apresenta nitidamente os contornos de grão em relevos e uma superfície plana no interior de cada grão. Este aspecto de rugosidade superficial está associado à ocorrência, em alguma proporção, ao fenômeno de “sputtering” durante o processo de nitretação que, ao arrancar da superfície os átomos constituintes da liga, produz 120 irregularidade topográfica na superfície. Esse efeito de produção de rugosidade superficial foi verificado por Tamaki e colaboradores [44], ao realizarem a nitretação por jato de plasma com descarga em arco. Wilson e colaboradores [74] também verificaram o mesmo efeito em tratamentos de nitretação a plasma feitos pelos métodos de implantação iônica, PAPVD, nitrocarbonetação e nitretação a descarga “glow”. Esses pesquisadores inferiram a produção de rugosidade superficial ao fenômeno de “sputtering” e à ocorrência da inclusão de nitrogênio na rede original do titânio. 4.2.3 – Dureza por nanoindentação A figura 56 mostra os resultados obtidos nos ensaios de dureza da superfície, em função da profundidade de penetração do nanoindentador, para diferentes tempos de tratamentos de nitretação. Como no caso dos resultados de nanoindentação apresentados anteriormente, para diferentes fluxos de nitrogênio usados no processo, juntou-se também o resultado das medições feitas em amostra original de Ti6Al4V. 121 20 Tempo Tempo Tempo Tempo Titanio 18 Dureza (GPa) 16 de nitretação de nitretação de nitretação de nitretação puro 30 min 60 min 90 min 120 min 14 12 10 8 6 4 2 200 400 600 800 1000 Profundidade de contato (nm) Figura 56 – Dureza determinada por nanoindentação em superfícies da liga de Ti6Al4V original e nitretada por intervalos de tempo variados. Os pontos experimentais do gráfico permitem verificar que as amostras nitretadas apresentam um aumento significativo no valor da dureza em função do aumento no tempo de processamento de nitretação. No conjunto analisado, a amostra nitretada por 120 minutos apresentou o maior valor de dureza, próximo à superfície (50 nm da superfície), chegando a 19 GPa. Esse resultado mostra evidentemente a formação de nitreto de titânio de alta dureza na superfície do Ti6Al4V tratado. Pode-se observar também, na figura 56, que o endurecimento provocado pelo processo foi de aproximadamente 4 vezes. Além disso, verifica-se, como no caso anterior, a diminuição monotônica dos valores de dureza em função da profundidade de penetração do indentador, 122 indicando a existência de limites de espessura na camada dura formada na superfície da amostra. Considerando que a dureza do nitreto de titânio encontra se na faixa de 17 a 24 GPa, conforme relatado por Patsalas e colaboradores [76], que investigaram as propriedades mecânicas do filme de nitreto de titânio, depositado em um alvo, as amostras obtidas neste experimento apresentaram valores condizentes com a formação de camada nitretada. Porém, somente para tempos de processamento maiores que 60 minutos, pois com 30 minutos de tratamento o valor obtido de 7 GPa é praticamente coincidente com o da amostra sem tratamento. A figura 57 mostra o efeito da dureza das amostras em função do tempo de processo utilizado na nitretação para diferentes profundidades de indentação. 18 Dureza (GPa) 16 14 12 10 Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade Profundidade 8 6 de de de de de de de de 50 100 150 200 250 300 350 400 nm nm nm nm nm nm nm nm 4 20 40 60 80 100 120 Tempo de processo (min) Figura 57 – Dureza da camada nitretada em função do tempo de processo para diferentes profundidades de penetração do indentador. 123 Pela figura 57, pode-se pontuar alguns aspectos importantes em termo da dureza da superfície das amostras analisadas, que são: • para todas as profundidades de indentação a condição de tratamento de 2 horas foi a que induziu a formação de uma superfície mais dura indicando ser esta a condição mais favorável para o tratamento, que precise de um valor elevado da dureza superficial; • há uma proporcionalidade da queda da dureza com a diminuição do tempo de processo de 120 até 30 minutos, podendo-se perceber que o processo de nitretação depende do tempo de processo para se obter uma camada mais dura e espessa; e • no tempo de 30 minutos, pode-se perceber que a dureza não se modificou em função da profundidade, tornando-se quase constante desde a distancia de 50 nm até 400 nm, devido provavelmente à formação pobre de nitreto de titânio na superfície da amostra. Quanto à análise da penetração, ou seja, da espessura da camada dura formada em cada amostra obtida, pode-se estimar por esta técnica de caracterização que, para tratamentos com maior duração, ocorrem maiores penetrações do nitrogênio na rede, atingindo maiores que 170 nm valores para ∆t = 120 minutos. A espessura da camada diminui ao mesmo tempo em que a própria dureza da camada diminui com a duração mais curta do processo. Os resultados apresentados mostram a importância do parâmetro tempo de exposição ao fluxo de plasma de nitrogênio para a formação de camadas de nitretos com características de dureza apropriadas ao uso em condições de desgastes. 124 A figura 58 reporta os resultados da determinação do módulo de elasticidade das amostras de Ti6Al4V sem tratamento e nitretadas com diferentes intervalos de tempo, em Módulo de elasticidade (GPa) função da profundidade de penetração do indentador. 120 minutos 90 minutos 60 minutos 30 minutos Liga de Titânio 280 260 240 220 200 180 160 140 120 100 80 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 Profundidade de contato (nm) Figura 58 – Módulo de elasticidade medida na superfície por nanoindentação, na amostra original deTi6Al4V e nas nitretadas com diferentes tempos de duração do processo, em função da profundidade de penetração do indentador. A análise comparativa dos pontos experimentais dessa figura permite verificar um comportamento semelhante quanto aos módulos de elasticidade em compressão dessas amostras, em relação às tratadas por diferentes fluxos de nitrogênio. A exceção à regra é a amostra tratada por 30 minutos que aparentemente apresenta menor valor de ε, mesmo em 125 relação à amostra não tratada. Levando-se em consideração que a mesma amostra apresentou uma curva de dureza superficial dentro da expectativa, i.é, maior que a amostra sem tratamento, a determinação do módulo pode ter sido influenciada por erros sistemáticos produzidos pelo posicionamento inicial não adequado do indentador. Isso deve ter produzido nos primeiros instantes do experimento, um deslocamento catastrófico do penetrador que justificaria o resultado discutido. As amostras tratadas por tempos 120, 90 e 60 minutos apresentaram valores máximos condizentes com o esperado em função do tempo de processamento. O módulo de elasticidade aumentou com tempo de processo e diminui com o aumento da penetração do indentador até se tornar constante e com valores próximos da liga Ti6Al4V não tratada, para profundidades maiores que aproximadamente 400 nm. Isto implica que as amostras possuem maior rigidez na região superficial, que diminui nas camadas mais internas, principalmente para amostra tratada por 2 horas. 4.2.4 – Tensão superficial (ângulo de contato) Para esse conjunto de experimentos realizou-se o mesmo procedimento para medir os ângulos formados no contato da solução salina com a superfície sólida. Posteriormente calculou-se também a tensão superficial das amostras nitretadas para variados tempos de processamento. A figura 59 ilustra fotos da gota sobre liga nitretada, utilizando-se o método da gota já apresentado anteriormente, para análise das amostras nitretadas com diferentes valores de fluxo de nitrogênio. O resultado do ensaio realizado na amostra original sem nitretação é apresentado na figura 52 (Página 113). 126 a b Figura 59 – Gota da solução de NaCl sobre amostra nitretada com tempo de 2 horas de processamento. a) no instante 0 min; b) instante 5 min. Como pode ser visto na figura 59, esse processo também produz material com superfície com molhabilidade minimizada, conseqüentemente com baixos valores da tensão superficial, que favorece a sua aplicação onde são recomendados materiais com capacidade de repelir líquidos com características polares como é a solução salina. A tabela 13 mostra o resumo dos resultados obtidos da medida do ângulo de contato e do cálculo da tensão superficial entre líquido e o material nitretado, por diferentes tempos de duração. Tabela 13 – Resultados da medição do ângulo de contato e tensão superficial das amostras nitretadas por intervalos de tempos distintos. Condições Tempo (min) θ (graus) γ (N/mm) 120 min 0 95,45 -6,91 5 90,00 0 90 min 0 92,25 -2,86 5 86,46 4,49 60 min 0 91,13 -1,43 5 85,23 6,05 30 min 0 90,55 -0,70 5 86,92 3,91 Liga não tratada 0 73,89 20,20 5 65,57 30,11 127 Os valores da tensão superficial obtidos para os tempos de processamento de 120, 90, 60 e 30 minutos, mostram que as amostras apresentam diminuição na molhabilidade com o aumento do tempo de tratamento. Tais valores confirmam os resultados anteriormente apresentados pelas nanoindentação, diferentes técnicas de caracterização como Difração de raio-X, MEV, de que maiores tempos de exposição do Ti6Al4V ao jato de plasma de nitrogênio permite formar camadas de nitretos de titânio de característica cristalográfica mais adequada para apresentar maior dureza e também menor molhabilidade a solução salina. Todos esses resultados levam à conclusão da necessidade de se realizarem tratamentos de nitretação em reatores a jato de plasma com duração pelo menos igual a 2 horas, nas condições experimentais fixadas para essa etapa do trabalho. 128 4.3 – Nitretação com utilização de diferentes misturas de gases N2 e H2 Com o intuito de verificar a influência da proporção de gases na mistura N2:H2, bem como a influência dos fluxos totais diferentes com misturas diferentes de N2:H2 na formação de camadas de nitreto sobre Ti6Al4V, realizou-se um conjunto de experiências mantendo-se fixo o tempo de processo em 120 minutos e temperatura entre 530 a 5500C, cujos parâmetros são apresentados na tabela 14. Tabela 14 - Parâmetros do plasma para diferentes condições de mistura de gases. FLUXO DA MISTURA DE GASES = 0,3 sccm Mistura Corrente da descarga (mA) 67 % - 33 % 140 33 % - 67 % 140 FLUXO DA MISTURA DE GASES = 0,5 sccm Mistura Corrente da descarga (mA) 80 % - 20 % 110 20 % - 80 % 130 Tensão da descarga (V) 815-825 920-980 Tensão da descarga (V) 824-838 873-887 Neste caso foi necessário aumentar a corrente de descarga, para manter a descarga auto-sustentada. Utilizou-se também uma fonte externa c.c. regulável de 1500 V e 200mA com o objetivo de se obter o controle da temperatura a 5500C. A tensão de descarga foi ajustada por várias vezes durante um mesmo tratamento para gerar a intensidade de corrente no alvo, necessária para manter a temperatura constante em valor previamente definido. Mas mesmo utilizando uma fonte c.c. externa, não foi possível manter a temperatura constante em 5500C durante todo o processo, com variações na faixa indicada na tabela 14. Os resultados obtidos das caracterizações realizadas com o uso de diferentes técnicas em amostras tratadas nessas condições são a seguir apresentados e discutidos. 129 4.3.1 – Difração de Raios-X Os difratogramas de raios-X obtidos das amostras nitretadas em condições anteriormente descritas são apresentados na figura 60. A análise desses diagramas permite verificar que, neste conjunto de experiências, há ocorrência de uma maior predominância de picos referentes ao titânio-α hexagonal. Os picos de difração referentes às fases de nitretos ε-Ti2N e δ-TiN aparecem com menor freqüência e com intensidades muito baixas, significando provavelmente que a camada de nitreto formada deve ser extremamente fina, ou que houve má formação da camada para as condições de mistura de N2:H2 testadas. (303) Ti 2N Mistura de gás N2:H 2 0,2:0,1 sccm (101) Ti2 N (222) TiN a) Intnesidade (u.a.) Mistura de gás N2:H 2 0,1:0,2 sccm (222) TiN (101) Ti 2N b) Mistura de gás N2:H 2 0,4:0,1 sccm (303) Ti2 N c) Mistura de gás N2:H 2 0,1:0,4 sccm (222) TiN (303) Ti N 2 (222) TiN d) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Distância interplanar (2θ) Figura 60 – Difratogramas de raios-X das amostras nitretadas utilizando diferentes misturas de N2:H2, para diferentes valores de fluxo total de gases injetados (a) e (b) 0,3 sccm; (c) e (d) 0,5 sccm. 130 É interessante notar que o trabalho realizado por Tamaki e colaboradores [44], por exemplo, comprovam um notável crescimento de filme de nitreto utilizando a mistura N2:H2 no reator de jato de plasma. Bekir e colaboradores [54] também observaram, por meio da técnica de difratometria de raios-X, que as fases δ-TiN e ε -Ti2N apresentam um bom desenvolvimento na região nitretada com a utilização do processo de jato a plasma. Portanto, deve-se ter a formação de camadas de nitretos no trabalho realizado, proporcionando um aumento na dureza superficial do material. 4.3.2 – Dureza por nanoindentação Como nas outras apresentações, na figura 61 são apresentados os valores de dureza referentes a amostras tratadas em diferentes condições de mistura de gases, em função da profundidade de penetração do nanoindentador. 131 18 Mistura 67 Mistura 33 Mistura 80 Mistura 20 Ti6Al4V Dureza (GPa) 16 14 % % % % N 2:H 2 / 33 % / 67 % / 20 % / 80 % (0,3 (0,3 (0,5 (0,5 sccm) sccm) sccm) sccm) 12 10 8 6 4 2 100 200 300 400 500 600 700 800 Profundidade de penetração (nm) Figura 61 – Durezas medidas por nanoindentação nas superfícies das amostras de liga de Ti6Al4V não nitretada e nitretadas em diferentes condições de mistura de gases N2 : H2 e em diferentes valores de fluxo total da mistura de gases. Os valores de dureza obtidos foram sensivelmente menores que os conseguidos em outros conjuntos de tratamentos. A análise dos resultados mostra que as misturas com porcentagens maiores de nitrogênio, para ambos os fluxos testados, apresentam uma pequena vantagem sobre as amostras com maiores proporções de H2. O aumento na dureza, entretanto, destacou-se na região de 0 a 50 nm de profundidade, caindo rapidamente para valores próximos do apresentado pela amostra sem tratamento, para profundidades da ordem de 150 a 200 nm. Observou-se também que não ocorreram diferenças entre os perfis de dureza em relação às diferentes misturas de gases utilizadas no processo. Para profundidades de 132 penetração da ordem de 200nm os valores de dureza para diferentes misturas apresentaram-se praticamente coincidentes. A figura 62 mostra os valores do módulo de elasticidade obtidos das amostras nitretadas nas diferentes condições de mistura de N2 : H2, em função da profundidade do Módulo de elasticiadade (GPa) indentador. N 2 6 0 2 / H 2 m istura 67 / 33 % m istura 33 / 67 % m istura 80 / 20 % 2 4 0 m istura 20 / 80 % liga de titânio 2 2 0 2 0 0 1 8 0 1 6 0 1 4 0 1 2 0 1 0 0 0 1 0 0 2 0 0 3 0 0 4 0 0 5 0 0 6 0 0 7 0 0 8 0 0 Profundidade de contato (nm) Figura 62 – Módulo de elasticidade determinados por nanoindentação na amostra original de Ti6Al4V e nas nitretadas, para diferentes condições de misturas de N2 : H2 em função da profundidade de penetração do indentador . Pode-se observar que as amostras com maior concentração de N2 produziram maiores valores do módulo de elasticidade, indicando serem mais duros e rígidos. Em função do aumento da penetração do indentador sobre a amostra, esse valor de elasticidade diminui até tornar-se constante chegando próximos aos valores da liga não tratada em profundidades maiores que 100 nm. 133 Esses resultados indicam que, contrariamente a algumas indicações encontradas na literatura, a mistura de H2 em N2 pode não produzir um melhoramento nas características do Ti6Al4V nitretado em um reator a jato de plasma onde a amostra é posicionada no anodo. 4.3.3 – Tensão superficial (ângulo de contato). Nesta etapa do processo realizou-se o mesmo procedimento para medir os ângulos formados no contato do líquido com a superfície sólida e para calcular as tensões superficiais das amostras nitretadas, verificando-se assim a influência da proporção da mistura de gases N2: H2 nas propriedades superficiais desse material. A figura 63 ilustra fotos da gota depositada sobre liga nitretada sob condições de misturas de gases de N2 : H2, utilizando-se o mesmo método da gota anteriormente descrito. a b Figura 63 – Gota de solução de NaCl sobre amostra nitretada – mistura 67 N2 / 33H 2 % . a) no instante 0 min; b) instante 5 min. A tabela 15 resume os resultados obtidos da medida do ângulo de contato e tensão superficial entre a solução salina e as amostras nitretadas utilizando-se o método da gota. 134 Tabela 15 – Resultados da medição do ângulo de contato das amostras tratadas com mistura de gases N2 : H2 , para diferentes proporções e fluxos totais. Condições Tempo (min) θ (graus) γ (N/mm) 67 % - 33 % 0 95,56 -7,05 5 90,57 -0,72 33 % - 67 % 0 93,99 -5,06 5 88,82 1,50 80 % - 20 % 0 92,82 -3,58 5 88,24 2,23 20 % - 80 % 0 90,00 0 5 85,42 5,81 Liga não tratada 0 73,89 20,20 5 65,57 30,11 Os valores constantes desta tabela mostram claramente que todas as amostras tratadas apresentam maiores valores de ângulo de contato, o que significa que todos os processos desse conjunto de experiências foram eficientes para diminuir a tensão superficial. Dentre as condições utilizadas e analisadas, as que forneceram os maiores ângulos foram aquelas que apresentaram maiores concentrações de nitrogênio, em relação à proporção do hidrogênio. É importante também salientar que os menores valores de tensão superficial foram conseguidos neste conjunto de experiências, o que indica que nem sempre os melhores valores da dureza ou a estrutura mais ordenada do nitreto significam que o material tenha menor molhabilidade. O conjunto dos últimos resultados apresentados é de extrema importância quando se quer definir o processamento superficial ideal para o material voltado para uma determinada aplicação. Quando o parâmetro determinante da aplicabilidade do material for a sua dureza ou o seu módulo de elasticidade deve-se utilizar o nitrogênio puro como o gás formador de plasma e do outro lado, quando a molhabilidade for o fator preponderante, misturas adequadas de nitrogênio e hidrogênio devem ser escolhidas para promover uma nitretação adequada para esse fim. 135 4.4 – Caracterização do reator de jato de plasma com o analisador eletrostático de energia Utilizando o analisador de energia foram levantadas curvas características da corrente coletada no analisador em função do potencial retardador no jato de plasma. O analisador de energia de 1,54 cm2 de área foi posicionado axialmente a uma distância fixa de 5 cm do orifício. Foram realizadas análises da energia do plasma para diferentes gases como N2, H2, Ar e da mistura de N2 : H2. Em quase todos os casos, foi mantida constante a corrente de descarga em 100 mA, exceto para descarga utilizando mistura de N2 : H2 em que é preciso aumentar a corrente da descarga com a finalidade de sustentar a descarga para esse tipo de análise. Os resultados obtidos dessas medições sob a luz das características das amostras nitretadas são a seguir apresentados e discutidos. 4.4.1 – Medição de íons positivos do gás argônio A figura 64 apresenta a curva característica de corrente em função da tensão de desaceleração do analisador para o gás argônio, tendo como parâmetro de variação o fluxo de massa. Nessa mesma figura é também apresentada a função derivada da corrente de íons, em relação ao potencial de desaceleração. 136 (a) I i(µ A) 1,0x10 (b) F= 1 sccm -5 -7 1,5x10 Argônio - Íons positivos 1,2x10-7 6,0x10 4,0x10 -6 dii/dφ (u.a.) 8,0x10 -6 F= 2 sccm -8 9,0x10 -8 6,0x10 1 sccm 3,0x10-8 -6 2 sccm 0,0 0 2,0x10 -6 50 100 150 200 Energia dos íons (eV) 0,0 0 50 100 150 200 Voltagem de desaceleração (V) Figura 64 – Gráficos de: (a) Corrente de íons (Ii) versus voltagem de desaceleração (φ), (b) dI / dφ em função da energia dos íons coletados pelo analisador de energia para diferentes fluxos de Ar. Dos resultados obtidos, pode-se observar que a corrente de íons coletada decresce com o aumento do fluxo de gás, e a dispersão da energia dos íons pode ser controlada através do fluxo de gás. Observa-se também, que a dispersão da energia dos íons pode ser controlada através do fluxo de gás. A distribuição máxima de partículas encontra-se para energias da ordem de 70 a 50 eV, para as condições de fluxo de massa de argônio de 1 sccm e 2 sccm, respectivamente. Argônio foi utilizado para o processo de limpeza das amostras, assim, foi importante determinar a distribuição de energia dos íons de argônio, produzida no reator de jato de plasma. 137 4.4.2 – Medição de íons positivos do gás nitrogênio Na figura 65 são mostradas as curvas características obtidas com o analisador de energia para diferentes fluxos de massa de nitrogênio, sendo estas: 0,3; 0,5; 0,7 e 1,0 sccm. As condições dos fluxos de massa foram as mesmas escolhidas para os processos de nitretação. Como no caso anterior, foram calculadas as curvas da derivada da corrente em função do potencial (dI / dφ) e plotadas na figura como gráfico (b). (a) 2,0x10 1,8x10 1,6x10 1,4x10 1,2x10 1,0x10 (b) -6 0,3 sccm 2,0x10- 8 Nitrogênio - íons positivo -6 -6 1,5x10- 8 -6 d ii/dφ(u.a.) I i (µ Α) -6 -6 1,0x10- 8 0.3 sccm 0.7 sccm -9 5,0x10 8,0x10 6,0x10 -7 2,0x10 1.0 sccm 0,0 0 0,7 sccm 4,0x10 0.5 sccm 0,5 sccm -7 50 100 150 200 Energia dos íons (eV) -7 -7 1,0 sccm 0,0 0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 Voltagem de desaceleração (V) Figura 65 – Gráficos de: (a) Corrente de íons (Ii) em função da voltagem de desaceleração (φ), (b) Derivada da corrente em função do potencial em função da energia dos íons coletados, para diferentes fluxos de massa de N2. Os resultados obtidos mostram novamente que a corrente de íons diminui com o aumento do fluxo de massa de nitrogênio. Por outro lado, observa-se que nos jatos de plasma 138 de N2 as curvas características mostram-se mais instáveis quando comparadas com as do argônio. Nota-se que esta instabilidade cresce para fluxos de massa menores. A figura 66 mostra os valores da corrente máxima de íons coletados no analisador de energia em função do fluxo de nitrogênio 2,0x10 1,8x10 1,6x10 1,4x10 Ii (µΑ) 1,2x10 1,0x10 8,0x10 6,0x10 4,0x10 2,0x10 -6 Nitrogênio - íons positivos D= 0,6 mm; I d = 100 mA -6 -6 -6 -6 -6 -7 -7 -7 -7 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 Fluxo de nitrogênio (sccm) Figura 66 – Corrente máxima de íons de nitrogênio coletados no analisador em função do fluxo de nitrogênio. Pode-se observar que, com o aumento do fluxo de nitrogênio, diminui significativamente a corrente de íons. Apenas um trabalho de Ivanov e colaboradores [76] foi localizado na literatura especializada, realizando experimentos similares do comportamento da distribuição de 139 energia em descarga a arco de nitrogênio em titânio e utilizando um retardador eletrostático simples. As condições estudadas são as normalmente utilizadas para evaporação a arco com intuito de formar camadas de nitreto. Os autores perceberam que ocorria uma perda da energia inicial na descarga a arco gerada pelo aumento dos íons de titânio, quando a pressão do nitrogênio era aumentada, isto é, a energia cai de 60 a 6 eV, quando a pressão de nitrogênio é aumentada de 0 para 6 Pa. Os resultados obtidos indicam nitidamente a existência de uma correlação entre a energia das partículas que incidem sobre a amostra em função do fluxo de gás escolhido, e utilizado de maneira a produzir tratamentos superficiais diferenciados, mesmo com a utilização de um único material como substrato e o mesmo reator com condições diferentes de injeção do mesmo gás (nitrogênio). 4.4.3 – Medição de número de íons positivos na descarga de mistura de gás N2 e H 2 A corrente de íons positivos coletados em função da voltagem de desaceleração para plasmas formados no reator de jato de plasma com diferentes proporções de misturas de gás N2 e H2, é apresentada na figura 67 (a). Na 67 (b) pode-se observar a sua derivada em função do potencial, também para as mesmas proporções de mistura gasosa. 140 (a) Ι ι(µΑ) 4,0x10 (b) -7 N 2/ H 2 1,0 : 0,4 sccm N 2/ H 2 2,0x10 dii/d φ (u.a.) 3,0x10 1,0 : 1,0 sccm -7 -7 1,0x10 -8 8,0x10 -9 6,0x10 -9 4,0x10 -9 2,0x10 -9 N2/ H2 1,0 : 0,4 sccm N 2/ H 2 1,0 : 1,0 sccm N2/ H2 2,0 : 1,0 sccm 1,0x10 -7 0,0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 Energia dos íons (eV) N 2/ H 2 2,0 : 1,0 sccm 0,0 0 50 100 150 200 Voltagem de desaceleração (V) Figura 67 – (a) Corrente de íons (Ii) em função da voltagem de desaceleração (φ) (b) Curva da derivada de corrente em função do potencial. A análise comparativa dessas curvas permite avaliar que, para variação na concentração em misturas gasosas, pelo menos para as condições estudadas, não induz modificações consideráveis na dispersão de energia. Observa-se que a dispersão da energia diminui na ordem de 25 % devido ao incremento no fluxo de N2 na mistura. A corrente máxima medida é praticamente uma função decrescente do fluxo de massa total da mistura N2 : H2 , diminuindo sistematicamente com o aumento do fluxo total. 141 5 – CONCLUSÕES A otimização da característica do reator a jato de plasma existente no Laboratório de Plasmas e Processos (IEFF-ITA) permitiu melhorar o desempenho de tratamentos de nitretação iônica de amostras de materiais metálicos, por meio de um melhor entendimento da influência de cada parâmetro do processo no mecanismo da geração do jato de plasma e sua interação com o material. No reator a jato de plasma de baixa intensidade otimizado, onde a expansão do nitrogênio é produzida através de um orifício de 0,6 mm e pela diferença de pressão entre a câmara fonte e a câmara de expansão, podem-se melhorar as condições de colisões e a cinética das reações dos íons variando-se adequadamente os parâmetros do processo. Neste trabalho foi empregado, como sucesso, um campo magnético axial fraco (250 gauss) promovendo um aumento na intensidade do jato de plasma incidente na superfície da amostra. Verificou-se que o jato de plasma caracteriza-se como uma fonte de íons positivos com energia de algumas dezenas de eV, que depende do tipo de gás e das pressões do gás na câmara. Podem ser elaboradas as seguintes conclusões: • para o caso do argônio, energias que variam de 100 – 200 eV, para fluxo de massa de 2 sccm – 1 sccm respectivamente; • para o caso do N2, energias que variam de 100 - 180 eV, para variações do fluxo de massa de 1,0 sccm – 0,3 sccm, respectivamente; • para o caso de mistura de N2 : H2 energia da ordem de 80 eV, praticamente independente da variação no fluxo de N2. 142 Foi comprovada a possibilidade de nitretar eficientemente a liga Ti6Al4V colocando-a junto ao anodo do reator a jato de plasma. A temperatura foi também tida como um parâmetro que influi no ganho da eficiência do processo. Temperaturas de 5000C a 5500C na amostra em tratamento foram utilizadas para o presente estudo com sucesso. As analises de difração de raios-X mostraram o surgimento de duas fases de nitreto na liga: ε-Ti2N e δ -TiN. O tempo de exposição e a taxa de fluxo de nitrogênio foram variados e mostraram suas influências na produção da camada de nitreto na liga de titânio. Porém, a utilização da mistura de gás N2 com H2 não mostrou ser tão eficiente na sustentação da descarga e, em conseqüência, na produção da camada nitretada de característica física adequada, apesar de ter conferido melhoria mais significativa na tensão superficial de contato com solução salina. Em todas as condições de tratamento utilizadas, a liga Ti6Al4V apresentou camada nitretada com zona composta de nitretos de estruturas variadas com distribuição ditada pelas condições utilizadas. As condições de tratamento, empregando um fluxo de nitrogênio 0,3 sccm, produziram uma camada nitretada mais dura enquanto que o tratamento utilizando misturas de gases é o que menos mostrou eficiência na melhoria da característica mecânica da liga de Ti6Al4V. A topografia da superfície mostrou que, com a diminuição do fluxo de N2 de 1,0 para 0,3 sccm, a rugosidade da liga tratada aumenta. Isso se deve provavelmente ao aumento do caminho livre médio das partículas, aumentando a energia de impacto sobre a superfície da amostra. A técnica de nanoindentação é adequada para medir com confiança necessária a dureza da camada nitretada da liga Ti6Al4V. Determinou-se com a utilização desta técnica 143 que a amostra nitretada sob as condições de fluxo de massa de nitrogênio de 0,3 sccm, corrente da descarga de 100mA e tempo de processo de 2 horas, apresenta dureza superficial de 21 GPa, portanto próxima dos valores máximos dos trabalhos publicados[49,50]. Através da técnica da nanoindentação, pode-se estimar as espessuras das camadas nitretadas em diversas condições de processo. A camada nitretada com alta dureza variou entre 75 a 150 nm aproximadamente, em função das condições de processo. No contexto biológico, os resultados apresentados são particularmente interessantes, pois as amostras tratadas apresentaram valores do ângulo de contato relativamente alto e de tensão superficial baixos, indicando que o filme de nitreto de titânio, do ponto de vista biológico, tenha melhorado as características de trombogenicidade. O presente trabalho, realizado com suficiente cuidado na preparação de amostras, sistemática rigorosa e adequado protocolo de processamento, amplificados com as diversas técnicas de caracterizações físico-químicas, permite concluir a viabilidade de aprimorar o potencial da biofuncionalidade da liga Ti6Al4V, levando a vislumbrar novos experimentos com as análises da biocompatibilidade do material resultante em futuro próximo. 144 6 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS • Estudar as mesmas condições de nitretação nesse mesmo reator de jato de plasma, utilizando fonte pulsada para poder obter um melhor controle da temperatura; • Estudar a nitretação sobre as mesmas condições anteriores, mas utilizando outro material, por exemplo o aço inoxidável; • Avaliar o desempenho das camadas nitretadas através de ensaio de desgastes, correlacionando-se os resultados com a rugosidade superficial das camadas; • Estudar a corrosão e oxidação das camadas obtidas nas condições utilizadas neste trabalho; • Nitretar a liga Ti6Al4V sobre as mesmas condições de processo utilizado neste trabalho, trocando o sistema de jato de plasma simples para jatos de plasma múltiplos no processo. 145 7- BIBLIOGRAFIA 1. 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RESUMO: O presente trabalho tem como finalidade estudar a melhoria das características superficiais da liga Ti6Al4V, induzida pelo processo de nitretação iônica. Objetiva-se aumentar a dureza e melhorar as características de hemocompatibilidade, tendo em vista a sua aplicação futura na confecção de válvula cardíaca mecânica O processo foi desenvolvido em um reator de jato de plasma de nitrogênio e estudou-se a influência de parâmetros do processo como fluxo de nitrogênio, tempo de processamento e porcentagem de N2 na mistura N2 : H2 usada na descarga, nas características físico-químicas de ligas tratadas de Ti6Al4V. Outros parâmetros, como tensão de descarga, pressão da câmara e temperatura, foram ajustadas de maneira a poder sustentar a descarga com 100 mA de corrente elétrica. A formação das fases de nitreto de titânio nas amostras tratadas com diferentes condições pode ser verificada pela análise estrutural feita com a difração de raios-X. As durezas das camadas nitretadas foram qualitativamente analisadas pela técnica de nanoindentação, que identificou de maneira semiquantitativa a espessura da camada de maior dureza formada em cada amostra. A microscopia eletrônica de varredura e espectroscopia de energia dispersiva de raios-X foram utilizadas para avaliar a variação na textura da superfície da amostra em função das condições de nitretação iônica. O melhoramento da propriedade superficial, quanto à tensão de contato que dita a característica da molhabilidade, foi verificado pela técnica da determinação de ângulo de contato. O estudo permitiu verificar que a diminuição do fluxo de nitrogênio, numa faixa entre 1,0 e 0,3 sccm, assim como o aumento no intervalo de tempo de processamento e concentração de N2 na mistura N2 : H2, aumentam monotonicamente os valores das características mecânicas, como dureza e módulo de elasticidade do filme nitretado. A análise energética dos íons produzidos na descarga elétrica foi feita com o analisador de energia construído e colocado na câmara de processamento deste reator. Os resultados obtidos permitiram inferir que uma das principais causas da melhora na característica da camada nitretada é o aumento da energia dos íons de nitrogênio incidentes sobre a amostra processada. Um dos principais e relevantes resultados do presente trabalho foi, sem dúvida, a obtenção de uma liga de titânio nitretada no anodo de um reator do tipo jato de plasma de baixa intensidade, com dureza amplificada por fator da ordem de 7 vezes a da amostra original, classificando o processo desenvolvido entre os trabalhos que apresentaram melhores resultados em nível internacional. Esse jato de plasma de N2 permite concluir sobre a viabilidade técnica da utilização do reator no melhoramento das características físico-químicas da superfície de Ti6Al4V, multiplicando-se o potencial a aplicação da liga como biomaterial, mesmo na área de produção de implantes cardiovasculares. 12. GRAU DE SIGILO: (X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) CONFIDENCIAL ( ) SECRETO