RPT V4N1

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SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS
REVISTA DE
PATOLOGIA
DO TOCANTINS
ISSN 2446-6492
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE
Vol. 4, Nº 01
Rev Pat Tocantins
V.4, n. 01, 2017
SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS
CONTEÚDO
MORTALIDADE PRECOCE POR DIABETES MELLITUS E FATORES DE RISCO EM
PALMAS, TOCANTINS................................................................................................................1
RECORTE BIBLIOGRÁFICO DA PREVALÊNCIA E DIAGNÓSTICO DA ANEMIA
FALCIFORME ...........................................................................................................................23
BRCA1, BRCA2, FAMÍLIA ALDH E ADH: GENES RELACIONADOS AO ETILISMO E
AO CÂNCER DE MAMA FEMININO........................................................................................39
DESCRIÇÃO COMPARATIVA E ADAPTAÇÃO HISTOLÓGICA DOS FIOS
CIRÚRGICOS: REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................65
NEOPLASIA MALIGNA "OSTEOSSARCOMA": UM ARTIGO DE REVISÃO................81
O MITO DA GASTRITE NERVOSA.....................................................................................89
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE HANSENÍASE TUBERCULOIDE NODULAR NA
INFÂNCIA E LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA EM PACIENTE
PEDIÁTRICO: UM CASO BREVE........................................................................................99
IXODÍASE REVELADO PELO EXAME DERMATOSCÓPIO: RELATO DE
CASO......................................................................................................................................106
PACIENTE COM MENINGITE INESPECÍFICA EVOLUINDO A ÓBITO: RELATO DE
CASO......................................................................................................................................111
RELATO DE CASO: TROMBOEMBOLISMO PULMONAR............................................120
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V.4, n. 01, 2017
SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS
APRESENTAÇÃO
Criada em 2013, a Revista de patologia do Tocantins é um periódico quadrimestral,
que publica resultados de investigação na área da saúde, artigos originais, revisões de
literatura, casos clínicos ou relatos de casos, comunicações breves, cartas ao editor, editoriais,
sobre uma grande variedade de temas de importância para ciência da saúde.
EXPEDIENTE
REVISTA DE PATOLOGIA DO TOCANTINS
SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS (SPT)
Editor
Dr. Virgilio Ribeiro Guedes, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
Comissão editorial
• Ana Maria Castro Morillo, Faculdade de Medicina Matanza, Cuba
• Ângela MaríaCastañedaMuñoz, Faculdade de Medicina Matanza, Cuba
• Arthur Alves Borges de Carvalho, ITPAC - Porto Nacional, Brasil
• Danielle Rosa Evangelista, UFT - Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Edson de Garcia Soares, FMRP-USP – Universidade de São Paulo, Brasil
• Gessi Carvalho de Araujo Santos, UFT - Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Guilherme Nobre Nascimento, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Jaqueline das Dores Dias Oliveira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• José Gerley Díaz Castro, UFT, Brasil
• Kelly Cristina Gomes Alves, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Leila Rute O. Gurgel do Amaral, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Leonardo Rodrigo Baldaçara, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Maria Cristina da Silva Pranchevicius, Universidade Federal de São Carlos, Brasil
• Marta Azevedo dos Santos, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• NeiltonAraujo de Olivera, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Poliana GuerrinoMarsonAscêncio, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Renata Junqueira Pereira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Sandra Maria Botelho Pinheiro, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
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SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS
• Tales Alexandre Aversi-Ferreira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
• Virgilio Ribeiro Guedes, Universidade Federal do Tocantins, Brasil
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Dr. Virgilio Ribeiro Guedes
Presidente
Dr. Mário de Souza Netto
Vice-Presidente
Dr. Arthur Alves Borges de Carvalho
Tesoureiro
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V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
ORIGINAL ARTICLE
MORTALIDADE PRECOCE POR DIABETES MELLITUS E FATORES DE
RISCO EM PALMAS, TOCANTINS
Larissa Moreira Galvão Bello1, Adélia Mascarenhas de Sousa Lima1, Kelly Cristina
Gomes Alves1, Silvely Tiemi Kojo Sousa2, Andreza Domingos da Silva2
RESUMO
Objetivos: Identificar os óbitos por Diabetes Mellitus e investigar os fatores de
risco a partir dos prontuários de usuários das Unidades Básicas de Saúde de Palmas,
Tocantins, no período de 2011 a 2013. Métodos: Trata-se de um estudo transversal e
descritivo. Os dados foram coletados dos relatórios de óbitos por Diabetes Mellitus da
Secretaria Municipal de Saúde ocorridos em 2011 a 2013 e dos prontuários. As variáveis
utilizadas foram causa básica de óbito, idade, raça/cor, estado civil, escolaridade e sexo,
realização de consulta médica no ano do óbito, índice de massa corporal, pressão arterial
sistêmica, uso de medicamentos, exame físico e laboratorial, tabagismo, etilismo,
sedentarismo, alimentação, visita domiciliar e ocupação. Foram determinadas a taxa de
mortalidade e os fatores de riscos através do programa estatístico EpiInfo versão 7.0.
Resultados: A taxa de mortalidade por Diabetes Mellitus aumentou 16,0% no período de
estudo, com média no triênio de 7,6 óbitos por 100.000 habitantes, com 86,7% dos óbitos
ocorridos na faixa etária entre 51 a 69 anos e a maioria em pessoas do sexo feminino,
pardas, casadas e com 4 a 7 anos de estudos. Dos 21 prontuários dos óbitos ocorridos em
2013, apenas 7 foram recuperados, porém com falta de informações sobre os fatores de
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[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
risco. Conclusão: A mortalidade por Diabetes Mellitus apresentou incremento positivo no
período e a falta de registro dos fatores de risco em prontuários requer a qualificação da
longitudinalidade e a coordenação da atenção primária para o planejamento de ações
preventivas e de promoção da saúde.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Doenças crônicas. Atenção Primária à Saúde.
Registros médicos.
2
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V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
EARLY MORTALITY FOR DIABETES MELLITUS AND RISK FACTORS IN
PALMAS, TOCANTINS
ABSTRACT
Objective: To identify deaths from Diabetes mellitus and investigate the risk
factors from the medical records of patients of the Basic Health Units of Palmas, Tocantins,
in the period from 2011 to 2013. Methods: This is a cross-sectional descriptive study. Data
were collected from death reports by Diabetes Mellitus of the Health Department that took
place in 2011-2013 and its records. The variables used were the basic cause of death, age,
race/color, marital status, education and gender, medical visits in the year of death, body
mass index, blood pressure, medications, physical and laboratory examination, smoking,
alcohol consumption, sedentary lifestyle, food, home visits and occupation. The mortality
rate and risk factors were determined through the statistical program EpiInfo version 7.0.
Results: The mortality rate for Diabetes mellitus increased 16.0% during the study period,
with an average in the three years to 7.6 deaths per 100,000 inhabitants, with 86.7% of all
deaths in the age group between 51-69 years and the majority in females, brown-skinned,
married with 4 to 7 years of education. Of the 21 medical records with death occurrences in
2013, only 7 have been recovered, but with lack of information about the risk factors.
Conclusion: Mortality from diabetes mellitus showed a positive growth during the study
period and the lack of registration of risk factors in medical records requires longitudinal
qualitative research and primary care coordination for planning of preventive actions and of
health promotion.
Keywords: Diabetes mellitus. chronic diseases. Primary Health Care. medical record.
3
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[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
INTRODUÇÃO
Para o DM tipo 2, a idade e o
O Brasil passou por uma transição
histórico familiar patológico são os
epidemiológica tardia, de natureza não-
principais
unidirecional
modificáveis. Já o sobrepeso, o aumento
denominada
contra-
fatores
de
não
transição, na qual há coexistência de
da
doenças
Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), as
transmissíveis
e
crônico-
circunferência
risco
degenerativas1. Observa-se o crescimento
dislipidemias,
das
últimas
devido
o
abdominal,
sedentarismo
a
e
o
à
urbanização,
tabagismo são os fatores de risco
sedentarismo,
obesidade,
alimentação
modificáveis3.
hipercalórica
e
hiperlipídica
Para
a
prevenção
e
("junk
controle do DM tipo 2, são necessárias
food"), estresse e envelhecimento, tendo
mudanças no estilo de vida, como
maior prevalência na população acima de
nutrição adequada e prática de exercícios
40 anos, sendo estes os principais fatores
físicos, a fim de que o índice de
de risco para o Diabetes Mellitus (DM)
sobrepeso decaia4.
tipo 2. O DM tipo 2 é uma doença
Quanto à epidemiologia do DM, a
multifatorial, havendo o envolvimento de
Federação Internacional do Diabetes5
fatores
ambientais,
indica que a prevalência mundial da
efeitos
doença em 2014 era de 387 milhões,
metabólicos: resistência dos tecidos à
correspondente a 8,3% da população
ação da insulina e disfunção das células β
mundial, sendo a China, Índia, Estados
pancreática2.
Unidos e Brasil os primeiros no ranking
genéticos
caracterizada
por
e
dois
dos
4
países
com
maior
número
de
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[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
diabéticos. Outro dado alarmante é que
atribuindo essa queda à disponibilização
179 milhões ou quase metade do total de
gratuita de medicação pelo SUS, o que
pessoas com diabetes ainda não são
não deve ser visto com tranquilidade, já
diagnosticadas, sendo, portanto, maior o
que o índice de mortalidade da doença
risco de desenvolver complicações com
continua alto. De acordo com a Federação
maiores custos5,6. De acordo com a
Internacional de Diabetes5, em 2014
Sociedade Brasileira de Diabetes7, em
ocorreram 4,9 milhões de mortes no
2014,
eram
mundo, ocorrendo uma morte a cada sete
diabéticos, totalizando 133,8 milhões de
segundos em decorrência do diabetes. O
adultos (20 a 79 anos), dos quais 11,6
número de óbitos no Brasil em 2013, foi
milhões possuem a doença. Segundo A
de 124.687 entre 20 e 79 anos. Nessa
Política Nacional da Atenção Básica
mesma faixa etária, a morte por diabetes
(PNAB) do Ministério da Saúde8, o maior
em
percentual de diabéticos está na cidade de
corresponde a um decréscimo de 6,65%7.
8,7%
dos
brasileiros
São Paulo (9,3%), seguido de Curitiba
2014
foi
de
116.383,
o
que
É importante ressaltar que o DM
(8,4%), Natal (8%) e Porto Alegre (8%),
não
com os menores índices em Palmas
morbidades, tais como: complicações
(4,3%), Macapá (4,9%), Manaus (4,9%) e
macrovasculares (infarto do miocárdio,
Porto Velho (5%). Ainda, aponta que o
insuficiência vascular renal, acidentes
número de internações por diabetes no
vasculares
SUS caiu 17,4%, passando de 172,1 mil
retinopatia2. O estudo epidemiológico do
em 2010, para 142,1 mil em 2012,
DM é indispensável para se criar políticas
5
tratado
pode
encefálicos),
gerar
severas
nefropatia
e
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
de saúde pública eficazes, tendo em vista
Tendo em vista a necessidade de
o alarmante crescimento do DM tipo 2,
realização de análises da situação de
correspondendo a mais de 90% do total
saúde, vigilância e monitoramento dos
de diabetes9, que atinge populações cada
fatores de risco das Doenças Crônicas
vez mais jovens, fazendo-se necessário
Não Transmissíveis (DCNT), bem como
preveni-lo10.
o planejamento das ações de promoção da
Palmas foi planejada para ser a
saúde e fortalecimento das Redes de
capital do Tocantins e é a mais nova do
Atenção à Saúde (RAS), o objetivo deste
país11. Possui 90 estabelecimentos de
estudo é identificar os óbitos por DM e
saúde do SUS e de acordo com o Sistema
investigar os fatores de risco a partir de
de Informação da Atenção Básica (SIAB),
análises
em
prontuários das Unidades Básicas de
2013,
36.963
cadastrados,
porém,
diabéticos
foram
apenas
32.943
dos
registros
contidos
nos
Saúde (UBS) de Palmas, Tocantins.
possuem acompanhamento médico. Em
2013, houve 16.889 pessoas com DM
MÉTODOS
atendidas nos estabelecimentos do SUS,
Trata-se de um estudo transversal,
com registros de 76 internações por
descritivo, de casos de mortalidade
complicações do diabetes no município
prematura por DM e seus fatores de risco
de Palmas nesse período. Em 2011,
que ocorreram no município de Palmas,
apenas
Tocantins, no triênio de 2011 a 2013. Faz
56
internações
foram
contabilizadas12.
parte do projeto intitulado “Mortalidade
por
6
Doenças
Crônicas
Não
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V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Transmissíveis e seus Determinantes
dos relatórios de óbitos da Secretaria
Sociais de Saúde em Palmas, Tocantins,
Municipal de Saúde de Palmas, após as
no período de 2011 a 2013”, financiado
Declarações de Óbito (DO) terem sido
com bolsas de estudo e pesquisa pelo
previamente digitadas na base nacional do
Ministério da Saúde, em parceria com o
SIM13. Foram selecionados os casos de
Ministério da Educação, por meio do
óbitos por Diabetes Mellitus (E10-E14),
Programa de Educação pelo Trabalho
conforme a 10ª Revisão da Classificação
para a Saúde – Vigilância em Saúde
Internacional
(PET-SAÚDE/VS). No projeto macro
descritos no campo “Causa Básica” do
foram
de
relatório de óbitos. Os dados sobre a
mortalidade pelos quatro grandes grupos
anamnese dos usuários dos serviços de
causas de óbito por DCNT: Doenças do
saúde
Aparelho Circulatório, Diabetes Mellitus,
coletados dos prontuários cujos óbitos
Doenças do Aparelho Respiratório e
ocorreram apenas em 2013. Prontuários
Neoplasias. Este estudo é um recorte do
não localizados ou com informações em
projeto, onde foram investigados os
branco foram excluídos da análise.
pesquisados
os
índices
óbitos por DM a partir da análise do
Sistema
de
Informações
das
ofertados
As
Doenças
pela
variáveis
(CID-10)
UBS
coletadas
foram
dos
sobre
relatórios dos óbitos para a análise foram:
Mortalidade (SIM) e dos prontuários de
causa básica de óbito, idade, raça/cor,
Unidades Básicas de Saúde (UBS).
estado civil, escolaridade e sexo. As
Os dados sobre os óbitos por DM
variáveis
e fatores de risco foram coletados a partir
coletadas
dos
prontuários
foram: realização de consulta médica no
7
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
ano do óbito, índice de massa corporal
sendo as prováveis causas: o fato da UBS
(IMC), pressão arterial sistêmica (PA),
estar em reforma e os prontuários estarem
registros sobre uso de medicamentos para
em outro local provisório; o usuário
DM,
laboratorial,
escolheu uma UBS mais longe de sua
sedentarismo,
casa, mudou de endereço ou não utiliza os
alimentação, visita domiciliar e ocupação.
serviços da UBS; construção de uma UBS
Para determinar a taxa de mortalidade foi
nova em outra área de abrangência;
utilizado
por
transição de prontuário físico para o
DM/população residente em Palmas,
eletrônico, acarretando o arquivamento do
multiplicado por 100.000 habitantes, e a
prontuário e impossibilitando o acesso
média do triênio. Para as demais variáveis
dos pesquisadores.
foi determinada a frequência e a média do
O presente projeto foi aprovado pelo Comitê
triênio.
de Ética em Pesquisa da Universidade
exame
tabagismo,
físico
e
etilismo,
o
Foi
número
de
utilizado
óbitos
o
programa
Federal do Tocantins sob o parecer nº
estatístico EpiInfo versão 7.014.
016/2015 e foi financiado com bolsas de
Os prontuários selecionados de
estudo e pesquisa pelo Ministério da
todos os casos de óbitos por DM
Saúde, em parceria com o Ministério da
ocorridos em 2013 foram localizados pelo
Educação, por meio do Programa de
endereço da UBS mais próxima ao
Educação pelo Trabalho para a Saúde –
endereço descrito no relatório de óbitos
Vigilância em Saúde (PET-SAÚDE/VS).
para cada caso. Durante a coleta dessas
informações, foi constatado que alguns
RESULTADOS
prontuários não puderam ser localizados,
8
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
O número absoluto de óbitos por
44,6%, seguido de viúvo com 16,1%. A
DM ocorridos no período de estudo foi de
escolaridade mais frequente foi entre 4 a
16, 19 e 21, com taxas de mortalidade
7 anos de estudos com média de 26,8% e
crescentes iguais a 6,8, 7,8 e 8,1
a menos frequente foi nenhuma e 12 anos
óbitos/100.000
habitantes,
e mais de estudos com médias iguais de
respectivamente, e com média de 7,6
5,4%. O número de óbitos segundo o
óbitos/100.000 habitantes, como descrito
sexo apresentou maior prevalência no
na tabela 1.
feminino
correspondendo
Conforme resultados da Tabela 2,
e
73,7%
tomando
novo
a média para o triênio apresentou 42,9%
entre 30 a 50 anos, 40,6% entre 51 a 60
para o sexo masculino e 57,1% para o
anos e 46,1% em maiores de 61 anos de
feminino.
idade. Em relação a raça/cor dos óbitos, a
Os dados encontrados através da
designação parda e branca obtiveram
e
62,5%
2012,
foi mais prevalente, chegando a 61,9%. Já
a análise por faixa etária igual a 13,4%
55,4%
a
e
panorama em 2013, quando o masculino
ocorridos no triênio foi de 56 anos, sendo
de
2011
respectivamente,
a média de idade de todos óbitos
médias
em
investigação
21,4%,
dos
prontuários
(representado pela letra P) para os fatores
respectivamente, sendo que 14% dos
de risco dos usuários/pacientes dos
casos não possuíam informação sobre
serviços
essa variável. O estado civil casado foi o
demonstram
mais frequente e correspondeu a média de
ofertados
que
pelas
um
número
UBS
de
prontuários encontrados foi extremamente
9
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
baixo. Dos 21 óbitos ocorridos em 2013,
quanto aos hábitos e estilo de vida do
apenas 7 prontuários foram encontrados
paciente
ao
tabagismo,
nas UBS, o que corresponde a 33,3%.
sedentarismo e alimentação.
Dentre os
Nota-se
prontuários analisados, todos continham
que
dos
7
prontuários
em
relação
encontrados, 100% continham algum tipo
algumas
informações
de registro de saúde, ou seja, não havia
anamnese, com 42,8% informando a
prontuários em branco, conforme Tabela
ocupação profissional do paciente, 28,5%
3. Ainda, dos 7 prontuários, dois (28,5%)
com registro de visitas domiciliares por
continham registros de IMC, sendo um
profissionais da UBS e 85,7% continham
com peso normal e os demais com
informações pertinentes sobre outras co-
sobrepeso. Mesmo não havendo o registro
morbidades
(hipertensão,
do IMC em cinco prontuários, dois desses
nefrolitíase,
broncopneumonia,
(P5 e P6) continham a descrição de que o
diabético, cegueira, e deficiente função
paciente era obeso. Além disso, 85,7%
renal), bem como registro de alergias,
dos prontuários continham o registro de
vacinas,
PA, 85,7% relatavam os medicamentos
dependência de insulina e obesidade.
amputação
colhidas
de
na
dengue,
pé
pododáctilo,
prescritos e de uso do usuário, 71,4% dos
Na tabela 4, em 85,7% dos
prontuários continham a anotação dos
prontuários foi identificado o registro da
exames solicitados com seus respectivos
PA, 57,1% dos pacientes diabéticos que
resultados,
de
foram a óbito em 2013 possuíam HAS e
consulta no ano do óbito (2013). Não
apenas 14,2% possuíam registro de
havia
histórico familiar.
28,5%
nehuma
com
registro
informação
registrada
10
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Foi identificado um incremento de
16,0% na taxa de mortalidade por DM em
DISCUSSÃO
Este estudo apresenta algumas
2013 em relação à 2011, o que identifica
limitações em relação à análise dos
a necessidade de medidas de prevenção
prontuários, em decorrência da baixa
da doença e de promoção da saúde para
qualidade de informações registradas nos
controle e redução destes índices na
mesmos
de
população do município de Palmas,
informações incompletas dos usuários,
Tocantins. Todos os óbitos ocorreram
letras ilegíveis dos profissionais em geral,
precocemente, antes da pessoa completar
dificuldades de encontrar prontuários nas
70 anos de idade, desses, 86,7% na faixa
UBS,
do
etária entre 51 a 69 anos e 13,3% entre 30
cadastro do paciente quando há mudança
e 50 anos de idade, e a maioria ocorreu
de endereço e transferência para outra
em pessoas do sexo feminino, pardas,
UBS, poucos registros de fatores de risco
casadas, seguidas das pessoas viúvas, e
para DCNT, falta de registro daqueles
com 4 a 7 anos de estudos.
como:
problemas
preenchimento
de
localização
com DM que não utilizam os serviços da
Considerando que em Palmas há
UBS. Além disso, o recorte metodológico
poucos estudos que avaliam o perfil
do estudo impossibilitou descobrir se os
sócio-econômico
casos de óbitos utilizavam somente os
usários/pacientes com DCNT, há estudos
serviços do SUS ou algum serviço
realizados
privado de assistência à saúde, resultando
corroboram com os resultados do perfil
na não existência do prontuário na UBS.
dos óbitos por diabetes mellitus neste
11
em
e
demográfico
outras
capitais
dos
que
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
estudo. Um estudo com residentes de
predominantemente no sexo feminino,
Cuiabá, Mato Grosso, apresentou uma
com média de 59 anos, sendo 71,4%
prevalência de 58,8% para DM tipo 2,
dessas sedentárias. Ainda, 25,3% dos
dentre os quais, mais de 80% eram
usuários possuiam mais de 45 anos de
hipertensos, a maior proporção era de
idade, 53,7% não comiam frutas/verduras
mulheres, nascidas no Estado, com baixa
diariamente, 59,7% estavam acima do
escolaridade e idade igual e maior de 40
peso
anos. Os fatores de risco mais relatados
hipertensivos, 83,3% eram sedentários e
foram
47% apresentaram história familiar de
sobrepeso,
sedentarismo
antecedentes
e
familiares
12,9%
diabetes.
Os
faziam
uso
autores
de
anti-
encontraram
cardiovasculares15. Semelhante a estudo
associação significante entre o risco para
realizado em Cuba, com dados da
desenvolver DM como IMC, alimentação,
Atenção Primária à Saúde, os fatores de
uso
risco mais prevalentes no DM foram
familiar, sexo feminino e idade.
de
anti-hipertensivos,
história
alimentação inadequada (86,1%), seguida
Nesta pesquisa constatou-se que
de peso elevado (80,2%), circunferência
57,1% dos pacientes diabéticos que foram
abdominal aumentada (74,8%) e falta de
a óbito em 2013 possuíam HAS e 85,7%
atividade física (66,3%)23.
dos prontuários continham a anotação da
Marinho et. al.18, em estudo
PA denotando um maior cuidado por
realizado entre os usuários da Estratégia
parte
Saúde da Família na Região Nordeste do
monitoramento desse dado nos pacientes
Brasil, identificou a prevalência de DM
diabéticos. Rodrigues et. al.4 constatou
12
dos
médicos
em
relação
ao
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
que a HAS ocorreu em 77,1% dos
chances para desenvolver DM tipo 2 entre
usuários cadastradas com DM tipo 2,
indivíduos com sobrepeso foram 1,35
desses,
(p<0,001) e obesos 2,5 (p<0,016)20.
o
tratamento
medicamentoso
predominou em 95,7%, e 74,3% informou
É inegável que o sedentarismo é
realizar dieta. O registro mais frequente
diretamente proporcional ao risco de
de co-morbidade ou de fator de risco no
desenvolver DM tipo 2. De acordo com o
DM tipo 2 é a HAS identificada como a
estudo de Rodrigues et. al.4 um número
principal afecção associada ao Diabetes.
significativo dos entrevistados portadores
O IMC é um parâmetro que
de DM tipo 2 (71,4%) declararam-se
verifica se o indivíduo possui um peso
sedentários, sendo que a alta prevalência
adequado, assim como sobrepeso ou
do sedentarismo está relacionada aos
obesidade. É de grande relevância que
tempos modernos e segue uma tendência
tanto o IMC quanto a circunferência
mundial. Segundo Hu et. al.21, apenas
abdominal, a qual não consta em nenhum
40% da população global obedecem à
dos prontuários encontrados neste estudo,
recomendação mínima de 30 minutos
estejam
diários de atividade física de intensidade
devidamente
principalmente
diabético,
comprovam
se
o
visto
que
registrados
paciente
que
o
moderada.
for
Para a qualidade de vida futura, é
pesquisas
aumento
importante a modificação de hábitos
da
de pacientes diabéticos4.
prevalência daqueles com alto risco para
alimentares
DM foi diretamente proporcional ao
Pesquisas em relação à alimentação,
aumento do IMC19. Além disso, as
afirmam que elevada ingestão de cereais
13
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
com fibra e gorduras poliinsaturadas está
tipo 2 visando a prevenção da doença e
vinculada a um risco remoto de diabetes,
alteração de fatores de risco modificáveis.
enquanto o consumo de gorduras trans e
Wilson e Meigs20, constatam que a
carboidratos refinados estão associados a
associação de um fator de risco não
uma maior chance de desenvolver a
modificável a um modificável, como o
doença22.
excesso de peso concomitante com
história familiar de DM, teve 1,76 vezes
O registro do histórico familiar
mais chance de desenvolver a doença.
encontrado nesta pesquisa se deu em 14%
dos prontuários. No único prontuário em
Outro estudo16 coletou dados a
que havia os antecedentes familiares foi
partir de consulta direta dos prontuários
relatado que a mãe da paciente possuía
dos pacientes de registros para cuidados
diabetes. A literatura aponta que os
prestados em quatro municípios do
indivíduos com história familiar de DM
Estado do Rio de Janeiro, onde verificou-
tipo
de
se a complexidade de atributos relativos à
apresentar desordens metabólicas, dentre
identificação dos usuários atendidos e as
elas o próprio Diabetes23. O estudo de
características
Rodrigues et. al.4, mostra que quase
atendimento (como peso, pressão arterial,
metade
colpocitologia e glicemia) nos prontuários
2
apresentam
dos
maior
entrevistados
risco
(42,9%)
de
Esse resultado indica que é necessário
hipertensas
realizar um acompanhamento de todos os
também baixa presença de atributos
membros da família com casos de DM
sociais e apenas metade dos prontuários
diabéticas.
19
de
de
e
acima
processo
referiram história familiar de DM tipo 2.
14
mulheres
do
anos,
Identificou
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
possuía registros da data de abertura da
relacionados às DCNT e ao óbito
primeira
de
prematuro por essas causas, implicando,
de
possivelmente, na falta de planejamento
atendimento em mulheres, hipertensas e
adequado de ações que possibilitem a
diabéticas, ficaram longe das proposições
redução
do Ministério da Saúde. Donabedian17
promoção da saúde. Assim, é possível
assevera que os registros médicos são
identificar a precariedade da coordenação
essenciais para indicar como se dá o
da atenção através dos registros da
processo de trabalho e a qualidade desses
história clinica dos usuários/pacientes nos
registros devem ser representações da
prontuários, que é um atributo essencial
qualidade da assistência prestada. A baixa
da Atenção Primária à Saúde (APS), em
presença de registro de características do
especial, à prática clínica e ao cuidado
processo de atendimento, como peso,
prestado pelas UBS, o que coaduna com o
altura, IMC, pressão arterial ou glicemia
documento da OPAS para os Cuidados
indica dificuldades na continuidade da
Inovadores para as Condições Crônicas24.
consulta.
características
Os
do
registros
processo
desses
fatores
de
risco
e
prestação do cuidado.
Nesta pesquisa, a falta de registros
dos
fatores
de
dos
O diabetes por ser considerado
algo
uma das principais doenças crônicas que
os
afetam o mundo moderno instiga o
profissionais de saúde das UBS não
conhecimento de sua magnitude, em que
evidenciam
se faz necessário um maior investimento
usuários/pacientes
problemático,
com
pois
tais
risco
CONCLUSÃO
DM
sugere
fatores
é
que
como
15
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
em serviços de APS, além de informação
de promoção da saúde para a redução das
e educação em saúde.
co-morbidades e da morbi-mortalidade
A taxa de mortalidade por DM em Palmas
por DCNT, em especial o DM tipo 2 em
teve incremento de 16,0% em 2013 em
Palmas, Tocantins.
relação à 2011 e o registro dos fatores de
risco nos prontuários recuperados dos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
casos de óbitos é precário. Isso é motivo
1. Frenk J et al. 1991. La transición
de alerta e cabe aos serviços de APS
epidemiológica
maiores investimentos na qualificação da
Latina. Boletín de la Oficina Sanitaria
informação, no levantamento e registro
Panamericana 111(6):485-496.
dos fatores de risco para o planejamento
das
ações,
com
intensificação
do
Patológicas das doenças; 8ª Edição.
3. Cercato C, Mancini MC, Arguello
tratamento adequado da doença, a fim de
AMC, Passos VQ, Villares SMF,
evitar
crônicas,
Halpern A, Systemic Hypertension,
fortalecendo a longitudinalidade e a
Diabetes Mellitus, And Dyslipidemia
coordenação da atenção para aumentar a
in relation to Body Mass Index:
sobrevida e melhorar a qualidade de vida
evaluation of a brazilian population,
do diabético.
Rev.Hosp. Clín. Fac. Med. S. Paulo,
complicações
manejo
Rio de Janeiro: Elsevie, 2010.
e
as
alimentar,
América
2. Robbins & Cotran; Patologia: Bases
incentivo a prática de atividade física,
reeducação
en
Diante disso, esta pesquisa aponta
59(3):113-118, 2004.
para a necessidade de ações preventivas e
4. Rodrigues DF, Brito GEG, Sousa
16
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
NM, Rufino TMS, Carvalho TD.
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et
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os-de-saude-2009>.
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edição.
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Acesso
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http://www.diabetes.org.br/images/pd
12. Sistema de Informação da Atenção
f/Atlas-IDF-2014.pdf. Acesso em: 16
Básica. Informações estatísticas de
17
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
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A,
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epidemiológicas
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Vigilância Epidemiológica, Sistema
de saúde – análise a partir do sistema
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HiperDia. Arq Bras endocrinol metab.
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Doenças
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atividade física e saúde - Brasília:
factors. Acta Paul Enferm; 26(6):569-
2003.
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Medicc Review. 2013;15(2):16
22. Scheffel RS, Bortolanza D, Weber
CS, Costa LA, Canani LH, Santos
24. Organización Panamericana de la
KG, Crispim D, Roisenberg I, Lisbôa
Salud (OPAS). Cuidados innovadores
HRK, Tres GS, Tschiede B, Gross JL,
para
Prevalência de complicações micro e
Organización y prestación de atención
macrovasculares e de seus fatores de
de alta calidad a las enfermedades
risco em pacientes com Diabetes
crónicas no transmisibles en las
Melito do tipo 2 em atendimento
Américas. Washington, DC. 2013.
19
las
condiciones
crónicas:
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
TABELAS
Tabela 1: Taxa de mortalidade por Diabetes Mellitus, Palmas, Tocantins, 2011 a 2013.
Variáveis
2011
2012
2013
Média do Triênio
Número de óbitos
16
19
21
18,7
Taxa de mortalidade*
6,8
7,8
8,1
7,6
Fonte: Relatórios de óbitos da Secretaria Municipal de Saúde de Palmas, Sistema de
Informações sobre Mortalidade. (*) Taxa de mortalidade calculada por 100.000 habitantes.
20
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Tabela 2: Mortalidade por Diabetes Mellitus e fatores de risco em Palmas, Tocantins, 2011
a 2013.
Variáveis
2011
2012
2013
Média
Sexo
n
%
n
%
n
%
n
%
Masculino
6
37,5
5
26,3
13
61,9
8,0
42,9
Feminino
10
62,5
14
73,7
8
38,1
10,7
57,1
Faixa Etária
30 a 50 anos
1
6,3
1
5,3
6
28,6
2,7
13,3
51 a 60 anos
10
62,5
4
21,1
8
38,1
7,3
40,6
61 anos e mais
5
31,3
14
73,7
7
33,3
8,7
46,1
Raça/Cor
Branca
3
18,8
6
31,6
3
14,3
4,0
21,4
Preta
2
12,5
3
15,8
1
4,8
2,0
10,7
Amarela
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0,0
0,0
Parda
9
56,3
8
42,1
14
66,7
10,3
55,4
Indígena
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0,0
0,0
Missing*
2
12,5
2
10,5
3
14,3
2,3
12,5
Estado Civil
Solteiro
1
6,3
2
10,5
5
23,8
2,7
14,3
Casado
6
37,5
8
42,1
11
52,4
8,3
44,6
Viúvo
4
25,0
4
21,1
1
4,8
3,0
16,1
Separado/Divorciado
1
6,3
0
0,0
1
4,8
0,7
3,6
União Estável
1
6,3
5
26,3
1
4,8
2,3
12,5
Ignorado
0
0,0
0
0,0
1
4,8
0,3
1,8
Missing*
3
18,8
0
0,0
1
4,8
1,3
7,1
Escolaridade
Nenhuma
3
18,8
0
0,0
0
0,0
1,0
5,4
1 a 3 anos de estudos
0
0,0
7
36,8
4
19,0
3,7
19,6
4 a 7 anos de estudos
3
18,8
5
26,3
7
33,3
5,0
26,8
8 a 11 anos de estudos
4
25,0
3
15,8
2
9,5
3,0
16,1
12 anos e mais de estudos
1
6,3
1
5,3
1
4,8
1,0
5,4
Ignorado
0
0,0
1
5,3
0
0,0
0,3
1,8
Missing*
5
31,3
2
10,5
7
33,3
4,7
25,0
16
28,6
19
33,9
21
37,5
18,7
100
Total de óbitos
Fonte: Relatórios de óbitos da Secretaria Municipal de Saúde de Palmas, Sistema de
Informações sobre Mortalidade. (*) Missing: dados em branco.
21
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Tabela 3: Investigação das informações registradas nos prontuários das Unidades Básicas
de Saúde dos casos de óbitos por Diabetes Mellitus em Palmas, Tocantins, 2013.
Variáveis
Total de óbitos ocorridos em 2013
Prontuários encontrados
Prontuários preenchidos
Registro de informações
IMC
PA
Exames
Medicamento
Consultas em 2013
Etilista
Tabagista
Sedentarismo
Alimentação
Anamnese
Visita domiciliar
Ocupação
Outros
Total de prontuários analisados
Fonte: Prontuários de usuários das UBS.
n
21
7
7
%
37,5
33,3
100
2
6
5
6
2
Não há registro
Não há registro
Não há registro
Não há registro
7
2
3
6
7
28,6
85,7
71,4
85,7
28,6
0
0
0
0
100
28,6
42,9
85,7
100
Tabela 4: Análise dos registros de PA e histórico familiar nos prontuários encontrados nas
UBS dos casos de óbito por Diabetes Mellitus em Palmas, Tocantins, 2013.
Prontuários
PA
1
110x70
2
180x120
3
110x80
4
180x90
5
200x 160
6
170x100
7
Não há registro
Fonte: Prontuários de usuários das UBS.
Histórico familiar
Mãe diabética e hipertensa
Não há registro
Não há registro
Não há registro
Não há registro
Não há registro
Não há registro
22
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
REVIEW ARTICLE
RECORTE BIBLIOGRÁFICO DA PREVALÊNCIA E DIAGNÓSTICO
DA ANEMIA FALCIFORME
DOUGLAS DANTAS RODRIGUES1, KARYNA FERNANDES DE FREITAS2,
LIBERTA LAMARTA FAVORITO1, 2, RODRIGO SOARES SILVA2
RESUMO
A anemia falciforme é uma doença hereditária predominante em negros,
caracterizada por uma mutação que ocorre no sexto códon do cromossomo onze da
cadeia beta. Nesse processo ocorre uma troca das bases nitrogenadas do DNA, onde a
Adenina e substituída pela Timina. Esta patologia está relacionada em duas partes, a
primeira envolve a anemia falciforme, e a outra se refere ao traço falcêmico. Como
método de pesquisa foi utilizado revistas, artigos e livros. O objetivo desse trabalho é
informar a população sobre a patologia através de um recorte bibliográfico da
prevalência e o diagnóstico da anemia falciforme.
Palavras-chaves: Anemia Falciforme. Diagnósticos Laboratoriais. Prevalência.
1
professor adjunto do curso de biomedicina IESC-FAG;
2
aluno do curso de biomedicina IESC-FAG
23
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
BIBLIOGRAPHIC CUTTING OF PREVALENCE AND DIAGNOSTICS OF
SICKLE CELL ANEMIA
ABSTRACT
Sickle cell disease is a hereditary disease prevalent among black people,
characterized by a mutation that occurs in the sixth codon of chromosome eleven. In
this process, there is an exchange of nitrogenous bases of DNA, where one thymine was
replaced by adenine. This disease is relate in two parts, the first is involve with a sickle
cell disease, and the other refers to the sickle cell trait. As a research method, it was
used journals, articles and books. The objective was to inform the population about the
disease through a bibliographic cut the prevalence and diagnosis of sickle cell anemia.
Keywords: sickle cell disease, Laboratory diagnostics, Prevalence
24
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
A AF pode ser encontrada em
INTRODUÇÃO
A anemia falciforme (AF) é uma
todos os continentes, com um destaque
doença hereditária predominante em
para
negros caracterizada por uma mutação
falciforme é prevalente no Brasil devido
de sentido trocado no sexto códon do
à alta prevalência de afro descendente
gene da hemoglobina presente no
que
cromossomo onze, onde o códon GAG
(SILVA; GIOVELLI, 2010)
é substituído pelo códon GTG, o que
África
e
constitui
Um
Índia.
parte
dos
A
da
população.
primeiros
relacionados
pela valina na molécula de hemoglobina
foram descritos por Herrick em 1910.
beta, resultando em uma hemoglobina
Ao estudar o sangue periférico de um
com
físico-química
estudante negro proveniente da Jamaica,
alterada conhecida como hemoglobina S
que era portador de uma anemia severa
(HbS). (FERRAZ et al., 2007)
com complicações pulmonares, icterícia
A AF ocorre quando uma pessoa
e
úlcera
nos
os
estudos
leva a uma troca do ácido glutâmico
propriedades
sobre
anemia
drepanócitos
membros
inferiores,
é homozigota para o gene da HbS, o que
observou a presença de eritrócitos em
leva a uma anemia crônica e grave.
forma de foice. (ANDRADE, 2013)
Indivíduos que apresentam somente um
O presente artigo tem como
gene HbS (heterozigoto) apresentam o
objetivo abordar sobre o diagnóstico
traço
laboratorial
falciforme,
e
raramente
da
anemia
falciforme
apresentam alguma manifestação clínica
enfatizando as técnicas de identificação
ou hematológica significante, sendo
de hemoglobina e mostrar a prevalência
assim uma condição de caráter benigno.
dessa anemia nos principais estados
A HbS, quando em baixa concentração
brasileiros. Justifica-se em função da
de oxigênio, sofre uma modificação
sua
tridimensional
uma
acadêmica e social. Os universitários
deformação do eritrócito, que assume
poderão utilizá-lo para melhorar a
uma forma semelhante a uma foice
elaboração de seus trabalhos dentro do
(drepanócitos),
a
mesmo tema, com uma visão mais
das
síndromes
ampliada e melhorada. A sociedade
(PAVIA;
RAMALHO;
também poderá ser beneficiada, pois o
levando
o
fisiopatologia
falciformes.
a
que
leva
CASSARLA, 1993)
relevância
para
a
pesquisa,
mesmo ficará disponível como acervo
25
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
da biblioteca, podendo contribuir para o
natal),
estudo das pessoas que buscam resposta
crianças/anos portadoras da AF e
para ampliar seus conhecimentos.
180.000 crianças anos que apresentam o
traço
Brasil,
falciforme
aproximadamente
METODOLOGIA
cunho
nascem
3.000
(prevalência
0,25%
e
de
3%
respectivamente). (MINISTÉRIO DA
Trata-se de um estudo de revisão
de
no
SAÚDE, 2009)
teórico-conceitual
bibliográfico, no qual serão analisados
A prevalência da AF está
dados referentes à anemia falciforme,
relacionada com a miscigenação da
dando
população afro-descente. Entretanto, a
ênfase
no
diagnóstico
e
população brasileira é constituída de
prevalência da doença.
O presente estudo contou como
grupos raciais e bastante diversificada.
estratégia de pesquisa, o levantamento
Os estados de Minas Gerais, Rio de
eletrônico de artigos indexados na base
Janeiro
de
apresentam
dados
Scielo,
Lilacs,
CAPES,
e
o
litoral
nordestino
uma
forma
maior
BIREME, Google acadêmico, pubmed,
miscigenação
livros
de
estados do Amazonas, Pará e parte do
publicação científica (Biblioteca digital
Maranhão a miscigenação é branco-
de Universidades). As palavras chaves
indígena, bem como os estados de Mato
pesquisadas foram: Anemia Falciforme,
Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Diagnósticos Laboratoriais, Prevalência.
No Sul há uma visível predominância
Foram pesquisados 32 artigos, no
do indivíduo branco causada pelo
período de agosto a outubro de 2015.
processo de colonização influenciado
e
em
sites
específicos
branco-negra.
Já
de
nos
pelos europeus. (IBGE, 2011)
PREVALÊNCIA
DA
No Brasil, a prevalência de
ANEMIA
heterozigotos para a Hemoglobina S
FALCIFORME
entre
A AF é uma doença prevalente
os
afros
regiões
Norte
é
no mundo, considerada um problema de
significante
saúde pública no Brasil em virtude de
Nordeste, acometendo de 6% a 10% da
suas
características
população, enquanto nas regiões Sul e
Com
base
epidemiológicas.
nas
descendentes
e
PNTN
Sudeste essa prevalência é menor (2% a
(programa nacional de triagem pré-
3%). O Estado do Tocantins é um
nos
dados
da
26
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
exemplo de um estado, onde há uma
Minas gerais é um exemplo de
forte influência negra na população, o
estado, onde a prevalência da AF é bem
que
dessa
heterogenia entre suas cidades. Para se
patologia. Segundo dados do IBGE
ter uma ideia de janeiro de 1998 a
(2011),
dezembro
aumenta
a
prevalência
aproximadamente
72%
da
de
2007,
segundo
nasceram
o
população que habita as diversas áreas
DATASUS,
210.696
urbanas e rurais do Estado se declaram
indivíduos nas 34 cidades que fazem
negras ou pardas. (CANÇADO; JESUS,
alusão ao HRJF (Hemocentro Regional
2007)
de Juiz de Fora), sendo que 136
Entre os estados brasileiros o
receberam
diagnóstico
de
doença
que apresenta maior incidência de AF é
falciforme.
A
com
maior
a Bahia, onde há uma prevalência de
incidência da doença foi Faria Lemos
0,1% de crianças com AF entre os
(100%) uma vez que a única criança
nascidos vivos e 5,8% de crianças com
nascida na cidade neste período foi
traço falciforme entre os nascidos vivos.
diagnosticada com hemoglobinopatia.
Outros estados que apresentam uma
Outras cidades com alta incidência
grande prevalência são o Rio de janeiro,
devido ao baixo número de nascimentos
Minas gerias, Maranhão e Pernambuco
foram Barão de Monte Alto (50%),
(Figura 1). (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
Itamarati
2009)
Candido (12,5%) e Bias Fortes (3,13%).
Figura 1 – prevalência de crianças nascidas
Considerando as cidades com mais de
com doença falciforme em alguns estados
30.000 habitantes, temos as seguintes
brasileiros
incidências: Juiz de Fora (0,07%), Ubá
(0,06%),
de
cidade
Minas
Santos
Cataguases
(67%),
Dumont
(0,04%),
Além
Paula
(0,05%),
Paraíba
(0,04%), Barbacena (0,03%), Muriaé
(0,02%), Visconde do Rio Branco
(0,01%)
e
Leopoldina
(0,01%).
(DATASUS, 2009)
Apesar
do
esforço
dos
governos, muitos estados e cidades não
Fonte: Ministério da saúde, 2009.
apresentam
27
dados
fidedignos
da
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
prevalência da AF. Algumas cidades e
A
ocorrência
hereditária
da
estados que tem alguns dados de
hemoglobina fetal está associada à HbS
nascidos
citar
que diminui a gravidade clínica da
Fortaleza (0,2%), Paraná (0, 002%),
anemia falciforme. A hemoglobina fetal
Rondônia (0,03%), Distrito Federal
é predominante nos primeiros meses de
(0,09%), Natal (0,05%), Mato Grosso
vida, mas declina rapidamente após o 6°
do Sul (0, 0042%), Rio de Janeiro
mês de vida e representa em adultos
(0,08%), Santa Catarina (0, 006%), Rio
menos de 1%, mas essa proporção pode
Grande do Norte (0,05%). O Tocantins
ser maior em indivíduos falcêmicos
não tem dados oficiais, mas conforme a
para auxiliar no transporte de oxigênio
associação
(STEINBERG, 2006)
com
AF,
pode-se
tocantinense
de
doença
falciforme existe aproximadamente 500
O quadro clínico que os pacientes
pessoas em tratamento da doença no
falcêmicos apresentarão no decorrer da
estado. (DINIZ; GUEDES; BARBOSA,
vida
2004;
progressivamente os diversos tecidos e
PINHEIRO
et
al.,
2006;
terminam
assim
por
o
lesar
HOLSBACH et al., 2008; ARAÚJO et
órgãos,
acompanhamento
al., 2004; WATANABE et al., 2008;
ambulatorial
LOBO et al., 2003).
periodicamente os diversos órgãos e
visa
avaliar
sistemas, a fim de que precocemente
sejam detectadas alterações. Devendo
SINTOMATOLOGIA
A manifestação clínica da doença
ser ressaltado junto ao paciente e seus
apresenta grande variabilidade e ocorre
familiares sobre a necessidade da
desde o primeiro ano de vida, e se
realização dos exames de rotina, uma
estende durante toda
a vida. As
vez que essas alterações podem se
hemácias
são
instalar
falciformes
menos
de
modo
insidioso,
sem
flexíveis que as hemácias normais. As
expressão clínica exuberante (BRAGA;
manifestações clínicas mais frequentes
PELLEGRINI, 2007).
incluem crises dolorosas vaso-oclusivo,
síndrome torácica aguda e infecções
DIAGNÓSTICO DA ANEMIA
bacterianas que levam a internações
FALCIFORME
hospitalares e morte. (LOUREIRO;
O diagnóstico se baseia na
ROSENFELD, 2005)
falcização dos eritrócitos e, a seguir na
28
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
eletroforese
da
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
hemoglobina
para
do pezinho, e o teste de falcização e o
comprovar se a anormalidade consiste
teste de solubilidade. (NOGUEIRA et
em doença SS ou em alguma outra
al., 2013)
hemoglobina com o gene S (RAVEL,
2014)
5.2. Teste do pezinho
O
diagnóstico
dessa
O teste do pezinho ou triagem
hemoglobinopatia é dividida em testes
neonatal como também é chamado, é
de triagem, que são utilizados para fazer
feito a partir do sangue coletado do
um pré-diagnóstico desta patologia,
calcanhar do recém-nascido e detecta
hemograma, teste de falcização, teste de
precocemente suspeitas das seguintes
solubilidade,
doenças
e
o
diagnóstico
congênitas:
fenilcetonúria,
confirmatório da doença falciforme é
hipotireoidismo
realizado
de
falciforme e outras hemoglobinopatias e
al.,
fibrose cística. O teste do pezinho deve
pela
hemoglobina
eletroforese
(NOGUEIRA
et
2013).
congênito,
doença
ser realizado entre o 2° ao 30° dia de
vida
5.1. Teste de triagem
do
recém-nascido
e
preferencialmente entre o 2° e 7° dia de
Teste de triagem são testes
vida antes desse período pode ocorre
simples e de rápida execução que
falhas no diagnóstico, o sangue deve
permitem fazer um diagnóstico rápido,
preencher toda a área reservada do
porém
cartão do exame. (ARAGÃO, 2010)
não
definitivo,
de
alguma
patologia de importância clínica e
Esse procedimento é importante
social. Os testes de triagem são muitos
para um diagnóstico preciso à análise do
utilizados
sangue
para
ser
aplicados
em
é
feita
em
laboratórios
campanhas de saúdes públicas. Os testes
especializados e o resultado sai em
de triagem
positivo são
poucos dias. É dividido em três fases:
encaminhados para realizar exames
Fase I teste para hipotireoidismo e
mais específicos para o diagnóstico
Fenilcetonuria; o estado do Tocantins só
definitivo da patologia. (NOGUEIRA et
realiza a fase I. Fase II, testes da fase I +
al., 2013)
hemoglobinopatias doença falciforme e
que
tão
Entre os testes de triagem para o
Fase III Fase I +Fase II + Fibrose
diagnóstico da AF pode-se citar o teste
Cística. No Brasil, 12 estados já
29
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
realizam os testes da Fase II (RS, RJ,
desoxigenação da hemoglobina por
SP, MG, BA, AL, PE, MA, AC, RO,
agente redutor, como por exemplo, o
GO e MS) e 4 estados aqueles da fase
metabissulfito de sódio a 2% em um
III (SC, PR,MG,ES) . Assim há 16
microambiente formado no espaço ente
estados que já fazem triagem neonatal,
lâmina e lamínula. O teste tem baixo
mais o Distrito Federal. A Figura 2
grau
mostra a situação atual do PNTN nos
sensibilidade depende do tipo de agente
estados brasileiros e quais fases do
redutor, do tempo de reação, da
programa
umidade de temperatura de vedação e
cada
um
realizam.
(ARAGÃO, 2010)
de
resolução,
pois
sua
da quantidade de hemoglobina fetal. A
hemoglobina
fetal
funciona
como
Figura 2: Situação atual das fases do
diluidor da hemoglobina S, o que pode
PNTN nos Estados Brasileiros.
resultar como falso negativo. (RAVEL,
2014)
Em situação de diminuição de
oxigênio as hemácias que apresentam
HbS apresentam-se falcizadas (Figura
3) o que leva aos aparecimentos dos
sinais e sintomas da AF.
Figura 3: Hemácias em formato de foice
Fonte: Relatórios anuais enviados pela
Hemácias em
formato de foice
SES, 2010.
Fonte:
5.3. Teste de falcização
Hemácia hipocrômica
Disponível
em:
O teste de falcização consiste em
<http://www.hemoglobinopatias.com.br
avaliar qualitativamente a presença ou
/d-falciforme/intro.htm>. Acesso em: 20
ausência
de Agosto de 2015.
de
hemoglobina
S
nos
eritrócitos. Seu princípio baseia-se na
indução da falcização por meio da
30
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
5.4. Teste de eletroforese
alterações
presentes
na
doença,
A eletroforese de hemoglobina
inclusive a mobilidade eletroforética
(Hb) é o teste confirmatório mais útil
mais lenta da HbS, facilitando o
para
diagnóstico.
separação
hemoglobinas
e
medição
normais
Há
dois
tipos
de
algumas
Eletroforese Alcalina de Hemoglobina
anormais. Por meio da carga elétrica,
que são usados com maior frequência
são separados diferentes tipos de Hb
em laboratórios o Acetato de Celulose e
formando
a Agarose. (SANTOS, 2014)
uma
e
de
série
de
bandas
pigmentadas em um meio (acetato de
celulose ou gel de amido). Os resultados
5.4.2. Eletroforese de hemoglobina em
são então comparados com aqueles de
fita de acetato de celulose
uma amostra normal. (NAOUM, 2000)
A eletroforese de hemoglobina
em fita de acetato de celulose ou em
5.4.1. Eletroforese alcalina de
filme de agarose é um teste amplamente
hemoglobina
conhecido,
A Eletroforese Alcalina é assim
qualitativo
podendo
quanto
ser
tanto
quantitativo.
A
denominada, pois o tampão utilizado
eletroforese se baseia na diferente
para esse fim tem pH variável entre 8,0
mobilidade
e 9,0, o ácido glutâmico é um
hemoglobinas carregadas eletricamente
aminoácido que tem sua cadeia lateral
permitindo a separação das bandas de
carregada negativamente, com ponto
migração de hemoglobinas. Como a
isoelétrico de 2,77. A valina tem o
hemoglobina é uma proteína carregada
ponto isoelétrico de 5,97, sendo assim
negativamente, as proteínas migram
classificada
aminoácido
para o pólo positivo. As diversas
neutro. Essa troca de aminoácidos
hemoglobinas com defeitos estruturais
envolvendo a saída de um aminoácido
causados
com carga negativa e a entrada de outro
aminoácidos
neutro resulta na perda de cargas
isoelétricos resultam na migração de
negativas da HbS em relação à Hb A,
diferentes mobilidades eletroforéticas.
fato
de
Como demonstra a Figura 4 essa análise
da
permite a separação dos principais
as
genótipos de hemoglobinas variantes e
que
como
modifica
propriedades
hemoglobina,
um
uma
série
físico-químicas
levando
a
todas
31
eletroforética
por
de
substituições
diferentes
das
de
pontos
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
talassemias que determina que a fração
linhas ao olhar através da solução. O
de
teste
hemoglobina
esteja
elevada.
(NAOUM, 2004)
de
solubilidade
positiva
é
confirmado com eletroforese alcalina de
hemoglobina, como de mostrado a
Figura 4: Eletroforese em gel PH
seguir na Figura 5. (ETTRE, 2000)
alcalina
Figura 5: Teste de solubilidade em tubo
formação de anel de precipitado de
HbS.
Fonte: Melo & Silveira, 2015
5.5. Teste de solubilidade
A prova de solubilidade com
ditionito de sódio é um teste seletivo
para detectar hemoglobina S, que se
*(setas) HbAS (1), HbSS(2) , Hb Sc (3)
caracterizam pela sua insolubilidade
e Hb AA (4)
quando induzida ao estado reduzido. O
Fonte: Melo & Silveira ,2015
teste é realizado da seguinte forma
prepara-se
o
tampão
fosfato
e
5.6. Técnica de cromatografia
acrescenta-se o redutor ditionito de
A cromatografia é uma técnica
sódio a 1% em tubos de ensaio
que foi relatada cientificamente há
pequenos. Pipetar 1 ml do tampão e
pouco mais de cem anos e baseia-se na
adicionar 10 microlitros do concentrado
migração de componentes de uma
de hemácias. A transparência dessa
solução
é
analisada
contra
mistura
traços
ao
total
fases:
a
fase
fase móvel que conduz a mistura por
branco. Esse teste apresenta como
negativo
duas
estacionária que retém elementos e a
horizontais de linha preta em papel
resultado
entre
meio de um soluto através da fase
de
estacionária. Pode ser utilizada para
visualizações das linhas negras através
purificação e detecção de substâncias ou
da solução e o resultado positivo,
auxiliar na separação de substâncias
quando não se é capaz de distinguir as
indesejáveis.
32
(DEGANI;
CASE;
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
VIERA, 1998; RABB; GRANDINSON;
Figura 6: modelo do método da técnica
MASON, 2009)
de cromatografia
O papel de cromatografia é
composto por moléculas de celulose que
possuem afinidade pela água, mas muito
pouca afinidade pela fase orgânica,
atuando como suporte inerte contendo a
fase estacionária aquosa (polar). À
medida que o solvente contendo o
soluto flui ao longo do papel, uma
Fonte:http://www.engquimicasantossp.c
partição deste composto ocorre entre a
om.br/cromatografia-em-papel.html.
fase móvel pouco polar e a fase
estacionária. Com o fluxo contínuo de
solvente, o efeito desta partição entre as
TRATAMENTO
fases móvel e estacionária possibilita a
O tratamento com o paciente
transferência do soluto do seu ponto de
deve ser iniciado desde os primeiros
aplicação no papel para outro ponto
meses de vida. A educação dos pais ou
localizado a alguma distância do local
responsáveis sobre a doença é de suma
de aplicação no sentido do fluxo de
importância, desde a primeira consulta,
solvente. A cromatografia em papel é
devem
uma das técnicas mais simples e requer
importância de manter hidratação e
menos
sua
nutrição adequadas e conhecer os níveis
realização, sendo muito útil para a
de hemoglobina e sinais de palidez. Os
separação
polares,
familiares devem ser alertados sobre a
(Figura 6). Devido à alta precisão e
importância da prevenção das infecções,
confiabilidade dessas técnicas, elas são
através das vacinações e do uso da
muito utilizadas na detecção ou na
penicilina profilática e encorajados a
separação de substâncias que estão em
reconhecer as intercorrências da doença.
pequenas quantidades em uma mistura.
O aconselhamento genético poderá ser
(RABB;
oferecido casos pais assim o desejarem.
instrumentos
de
para
compostos
GRANDINSON;
a
MASON,
2009)
ser
orientados
(SILVA; SHIMAUTI, 2006)
33
quanto
à
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Deve ser ressaltada a importância
realizado ainda polêmico. Até então, a
de uma nutrição adequada por meio do
técnica era realizada no Brasil como
aconselhamento nutricional. O ácido
pesquisa experimental com a publicação
fólico deverá ser prescrito, uma vez que
de uma nova portaria no Diário Oficial
as
aumentadas,
desta quarta-feira passa a fazer parte das
sobretudo no período de crescimento e
opções de terapia pelo sistema de saúde
durante a gestação. A deficiência de
SUS. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
zinco tem sido sugerida, podendo ser
TRANSPLANTE
uma
ÓSSEA, 2015)
necessidades
das
estão
causas
do
atraso
do
DE
MEDULA
crescimento e das úlceras presentes nas
pernas
desses
pacientes.
(BRAGA,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
2007)
Neste artigo apresentamos um
Atualmente, opções eficazes de
recorte bibliográfico sobre o diagnóstico
tratamento relativamente disponíveis
e prevalência da anemia falciforme. De
para o tratamento da anemia falciforme
uma forma geral, a anemia falciforme é
é o transplante de medula óssea (TMO)
uma
e a hidroxiuréia (HU), que ativa a
predominante
síntese de HbF, reduzindo o número de
considerando-se os países como África
crises álgicas e melhorando assim o
e Índia demonstrados neste estudo,
prognóstico
com
percebeu-se sua influência na doença no
O
Brasil, devida o processo migratório de
disfunção
dos
pacientes
orgânica
progressiva.
Transplante de medula óssea é uma
doença
hereditária
em
de
negros
modo
e
afrodescendente.
medida curativa, quando se tem um
Este trabalho não pretende
doador compatível, mas é considerado
esgotar a discussão sobre o diagnóstico
de alto risco por apresentar grande
e prevalência da Anemia Falciforme.
índice de complicações e mortalidade.
Pelo contrário, é um levantamento
(BELISÁRIO, 2010)
bibliográfico inicial que abre novos
De acordo com a Portaria n° 30,
rumos para a discussão do tema
publicada em 1 de julho de 2015, no
proposto, com o surgimento de novas
Diário Oficial da União a única
questões.
possibilidade de cura é o transplante de
medula
óssea
um
Por isso, um estudo nesse
procedimento
sentido é de suma importância. Por fim,
34
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
esperam-se que este estudo sirva de
Federal de Minas Gerais. Faculdade de
suporte para o desenvolvimento da área
Medicina Belo Horizonte, 2010.
em
estudo,
apontando
possíveis
assim
políticas
Braga J; Pellegrini A. Medidas gerais
públicas devem se concentrar para
no tratamento das doenças falciformes.
minimizar
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e
Hemoterapia. n. 28(2): 144-148 , 2006 .
37
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Sociedade Brasileira de Transplante de
Medula
Óssea
http://www.sbtmo.org.br/noticia.php?id
=366 acessado em 02 de set. de 2015 às
20h59min.
Steinberg, MH. Pathophysiologic ally
based drug treatment of sickle cell
disease. Trends in Pharmacological
Sciences. v. 27, n.4, p. 204-210, 2006.
Watanabe, AM et al. Prevalência da
hemoglobina S no Estado do Paraná,
Brasil, obtida pela triagem neonatal.
Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
vol.24 p993-1000, maio, 2008.
38
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
REVIEW ARTICLE
BRCA1, BRCA2, FAMÍLIA ALDH e ADH:
GENES RELACIONADOS AO ETILISMO E AO CÂNCER DE MAMA
FEMININO
Ikaro Alves de Andrade¹, Igor Romeiro dos Santos¹, Danielly Batista Borges Camargo¹, Thays
Teixeira Linhares¹, Danebe Fernandes de Araújo²
RESUMO
INTRODUÇÃO: O câncer de mama é a patologia que mais acomete mulheres
no mundo. Sabe-se que o consumo de bebidas alcoólicas e os fatores genéticos são os
principais envolvidos no desenvolvimento da doença. OBJETIVO: Reunir informações
relevantes sobre a relação do consumo de bebidas alcoólicas, expressão gênica e
ocâncer de mama. METODOLOGIA: Trata-se de um artigo de revisão, em que
procurou-se obter informações sobre os genes que participam da carcinogênese mamária
e a influência da ingestão de álcool sobre o organismo da mulher. Ao todo foram
selecionados 50 trabalhos nos bancos de dados: PubMed, Scielo e Google Acadêmico.
CONCLUSÕES: O etanol é reconhecido como um carcinógeno humano. Diversos
achados mencionam que suas vias de ação ainda seguem em estudo para melhor
esclarecimento e que as alterações genéticas influenciam no desenvolvimento de formas
mais graves de câncer de mama.
Palavras-chave: Neoplasia. Mama. Álcool. Genes.
¹Graduandos do curso de Bacharelado em Biomedicina da Faculdade Anhanguera de Anápolis (FAA).
²Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Professora da Faculdade Anhanguera de Anápolis,
Brasil. E-mail: [email protected]
39
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
BRCA1, BRCA2, AND ADH ALDH FAMILY:
GENES RELATED TO ALCOHOL CONSUMPTION AND BREAST CANCER
IN WOMEN
ABSTRACT
INTRODUCTION: Breast cancer is a disease that affects more women
worldwide. It is known that alcohol consumption and genetic factors are the main
involved in the development of the disease. OBJECTIVE: To gather relevant
information on the relationship of alcohol consumption, gene expression and breast
cancer. METHODOLOGY: This is a review article, in which we tried to get
information about the genes involved in breast carcinogenesis and the influence of
alcohol consumption on the body of the woman. In all, 50 works selected in the
databases PubMed, Scielo and Google Scholar. CONCLUSIONS: The ethanol is
recognized as a human carcinogen. Several findings mention that their courses of action
still follow under study for further clarification and that the genetic influence in the
development of more serious forms of breast cancer.
Keywords: Neoplasm. Breast Alcohol. Genes.
40
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
álcool sem haver alterações relevantes
INTRODUÇÃO
Ao
analisar
a
história
do
no organismo, mas o risco se torna
consumo de bebidas alcoólicas na
diretamente
antiguidade percebe-se que os gregos e
Os
as mulheres não havia restrição, no
reservado
a
ingeridas (ARAÚJO, 2013).
noite para estimular a sociabilidade,para
ficava-lhes
com
quantidade e frequência de bebidas
romanos consumiam vinho somente à
entanto,
proporcional
dados
evidenciam
que,
mulheres que ingerem cerca de 3 a 6
o
copos de vinho por semana podem
consumo discreto (SELLERS et al.,
adquirir problemas a níveis hormonais,
2002).
como alterações na via de estrogênio,
O consumo discreto de álcool
modificou-se ao longo
estimulando a proliferação de células
do tempo,
cancerígenas. O riscoaumenta quando
promovendo que o etanol de um simples
há registros de casos anteriores na
agente socializador fosse classificado
família. Não foram relatadas diferenças
como um carcinógeno humano pela
significativas entre os tipos de bebidas
Agência Internacional de Pesquisa sobre
alcoólicas, no entanto, o acetaldeído,
Câncer (IARC). Em decorrência disto,
metabólito do etanol, é o principal
centralizamos nosso estudo nas relações
agente mutagênico da doença (KROPP
existentes entre a ingestão alcoólica e a
neoplasia
mamária
feminina,
et al., 2001; CHEN et al., 2011).
não
O câncer de mama é o segundo
excluindo que os efeitos adversos se
manifestam
também
na
tumormais frequente entre as mulheres,
população
apresentando 53 mil casos (INCA,
masculina. Analisando as referências
2011). Os estudos dos fatores que
selecionadas, não foi encontrado um
influenciam na incidência da doença são
limite seguro quanto à ingestão de
41
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
importantes para melhor compreender o
quanto às suas contribuições para esta
mecanismo carcinogênico. Ressalta-se
análise.
que o consumo de etanol não apresenta
riscos apenas cancerígenos, mas,afetao
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
sistema nervoso central; o aparelho
reprodutor e promove a má formação do
Metabolismo do álcool no organismo
feto caso amãe consuma etanol durante
O álcool etílico ou etanol está
a gravidez (MARTINS, 2013).
presente em diversos tipos de bebidas,
O presente trabalho trata-se de
comocervejas e vinhos. A molécula
uma revisão literária,no qual objetivou-
penetra nas membranas celulares e
se investigar informações sobre as
eventualmente causa prejuízo à célula.
relações entre o consumo de álcool e
Boa parte do etanol é absorvido pelo
expressões gênicas relacionadas com o
trato gastrointestinal, e o restantepela
surgimento de carcinoma mamário.
mucosa
Para isso, realizou-se pesquisa
nos
seguintes
bancos
de
como
(VIEIRA,
2012;
MARTINS, 2013).Por tratar-se de uma
artigos:
molécula hidrofílica, o etanol entra no
PubMed, Scielo e Google Acadêmico.
Utilizou-se
oral
sistema
palavras-chave
circulatório
distribuindo-se
e
pelos tecidos que dispõe de água, como
‘‘Genes’’ e foram obtidos 50 artigos
coração, cérebro e mamas, entretanto
‘‘Neoplasia’’,
‘‘Mama’’,‘‘Álcool’’
devido sua toxicidade, não se deve
com o tema relacionado, com data de
acumularesta
2000 a 2016. Os materiais selecionados
substância
no
organismo(TAKAMORI, 2012).
em português e inglês foram analisados
Aos ser absorvido cerca de 5 a
10% do álcool é eliminado pelos rins,
42
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
pulmões e saliva e o restante é
oxidado pela enzima ALDH (aldeído
destinado ao fígado onde sofre oxidação
desidrogenase). A reação necessita do
(TAKAMORI,
a
NADH devido ao consumo energético,
desintoxicação e eliminação decorrem
todavia, a NAD é necessária em outras
das
sistema
reações e a sua regeneração no fígado é
desidrogenase
limitada.Assim, o sistema é restrito a
(ADH); o sistema mitocondrial de
bebedores moderados por conta da
oxidação do etanol (MEOS) e a
disponibilidade de NAD e a atividade
catalase. As três vias produzem o
mitocondrial.
acetaldeído
grandes quantidades de etanol altera a
vias
2012).No
metabólicas:
enzimático
álcool
(AA),
um
fígado,
potente
carcinógeno que inibe os mecanismos
relação
de
metabolização
reparação
do
DNA;
desnatura
A
metabolização
NADH/NAD,
de
inibindo
ácidos
de
a
graxos,
proteínas; altera o procedimento de
comprometendo a respiração celular
exocitose; aumenta o efeito tóxico de
(MARTINS, 2013).
radicais livres e altera a estrutura da
mitocôndria
(VIEIRA,
O sistema MEOS presente no
2012;
retículo
MARTINS, 2013).
endoplasmáticolisodos
hepatócitos degrada 20% do álcool
O sistema ADH ocorre no
ingerido no consumo excessivo. Os
citoplasma e é a via direta durante o
componentes presentes são a NADPH
consumo moderado de álcool. A enzima
(nicotinamida
ADH juntamente com a coenzima
dinucleotideofosfato hidrogenado), o
NADH
citocromo P-450 (CYP3E1), a NADPH
(nicotinamida
dinucleotídeo
reduzida)
adenina
forma
adenina
o
citocromoredutase e os fosfolipídeos.No
acetilaldeído que em sequência será
MEOS, o aumento na ingestão de álcool
43
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
desencadeia a indução enzimática, que é
peroxissomoscom
o
retículo
peróxido de hidrogênio. O sistema
consequências
responde por menos 2% da oxidação do
restringem-se a eficiência na eliminação
etanol e é um recurso tóxico uma vez
do etanol e ativação acelerada de
que o peróxido modifica a estrutura dos
metabólitos
tóxicos.A
terceira
via
ácidos
metabólica,
Catalase,
ocorre
nos
2012;MARTINS,
crescimento
endoplasmático.
do
As
produção
nucleicos
agentes
Correlação entre gene, etilismo e
a
físicos
sucedendoem
de
(VIEIRA,
2013).
ou
químicos,
disfunçõesde
funções
câncer de mama
básicas, como a auto-renovação. A
O início de qualquer tumor
auto-renovação é o processo em que as
segue a hipótese da importância das
células
tronco
tumorais
células
(câncer
estaminais
(células
tronco)
geram descendentes idênticos a ele.
stemcells - CSC) proposta inicialmente
Além deste procedimento, as células
no século XX. Somente anos mais tarde,
estaminais
com os recentes avanços na área de
originam
progenitores
multipotentes, que por sua vez, formam
biologia molecular, a função deste
células diferenciadas (AMENDOLA,
grupo celular passa a ser esclarecida e a
VIEIRA,
teoria solidificada (GINESTIERet al.,
2005;GINESTIERet
al.,
2007).
2007).
As células tronco cancerosas
Este arquétipo esclarece que
compartilhamda auto-renovação e de
qualquer tumor inicia a partir de células
outras características fenotípicas das
progenitoras ou de células-tronco de
células de origem, contribuindo para a
tecidos, que possuem alterações em seu
lenta
material genético devido influências de
44
condução
das
características
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
tumorais
e
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
desenvolvimento
de
diagnóstico e prognóstico coerente,
metástases. Tal grupo celular possui
além do correto tratamento terapêutico
também a capacidade de diferenciação,
para
originando uma população heterogênea
heterogeneidade,
de células aberrantes (GINESTIERet
épriorizar
al., 2007).
destinadas aos marcadores (subtipos)
da
estrutura,
as
pelas
atual
medidas
tal
tendência
terapêuticas
2013).
células
A mama (glândula mamária) é
estaminais cancerosas. Observa-se que
uma estrutura constituída por um
durante
sistema
o
formada
a
de
al., 2008; GOBBI, 2012; ARAÚJO,
sua maior parte e uma pequena parcela
é
as
Apesar
2005; DENT et al., 2007; SCHMITT et
células
diferenciadas passam a constituí-lo em
restante
paciente.
moleculares (AMENDOLA, VIEIRA,
Conforme o desenvolvimento
anormal
o
processo,
as
células
de
ductos
categorias:
os
separados
perdem a capacidade de auto-renovação
grandes ductos e a unidade terminal do
(GINESTIERet al., 2007).
ducto lobular (UTDL), proporcionando
a criação de um microambiente peculiar
O carcinoma mamário é a
responsável
neoplasia mais recorrente em mulheres
proporcionando
componentes
consegue-se
uma
celulares.
esclarecer
fisiologia
e
deste órgão, e apresenta-se pela união
maneiras,
de uma única camada de células
alteraçãodos
Quando
tais
sua
conhecida por ser a unidade funcional
crescente. A sua expressão decorre a
várias
pela
desenvolvimento.Sabe-se que a UTDL é
e apresenta uma incidência mundial
de
duas
e
componentes da maior parte do tumor
partir
em
ramificados
vias
luminais
(células
realizam
absorção
colunares
e
secreção
que
de
substâncias) e uma camada única de
modificantes, existe a elaboração de um
45
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
células
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
no
(ZANETTI,
mioepiteliais
desenvolvimento
(ZANETTI,
OLIVEIRA, RIBEIRO-SILVA, 2011).
OLIVEIRA,
neoplasias
RIBEIRO-
SILVA, 2011).
As células luminais evidenciamse pelo respectivo fenótipo epitelial e a
Os principais fatores (vias) que
expressão principal de citoqueratinas de
influenciam no aparecimento do câncer
baixo peso molecular (7, 8, 18),
consistem
proteínas relacionadas ao leite, antígeno
receptores de estrógeno, problemas na
epitelial de membrana (EMA), antígeno
correção do ciclo celular, atividade
epitelial específico (ESA) e mucinas
gênica (ativação dos oncogenes e
(MUC1).
consequente
Enquanto
as
células
na
desregulação
silenciamento
dos
dos
mioepiteliais manifestam citoqueratinas
supressores tumorais) e erros nas vias
de alto peso molecular (5 e 14), α-6
de
integrina, actina muscular lisa α (α-
OLIVEIRA, RIBEIRO-SILVA, 2011).
SMA)
e
metaloproteinases
(ZANETTI,
OLIVEIRA,
(CD10)
apoptose
As
RIBEIRO-
celular
manifestações
(ZANETTI,
tumorais,
independentemente da via, implicam em
SILVA, 2011).
consequentes tipos de classificações.
O microambiente deste órgão é
Quanto ao local da célula na região,
resultante da interação das células e as
categoriza-se em carcinoma ductal e
proteínas
expressas.
lobular aqueles que se desenvolvem na
normais,
as
Em
proteínas
condições
regulam
as
unidade do ducto lobular, estrutura com
atividades celulares básicas, dentre elas:
células cuboides luminais secretoras e
proliferação, polaridade, sobrevivência
mioepiteliais. Percebe-se também a
e diferenciação. Qualquer desequilíbrio
caracterização em não invasivo (in situ)
neste microambiente ao decorrer do
e
desenvolvimento é um fator primordial
compreende o limite da unidade do
46
invasivo.
No
primeiro,o
tumor
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
ducto,
enquanto
em
Os subtipo Luminal A apresenta
contrapartida, dissemina-se para outros
receptor de estrógeno (RE) positivo e
tecidos próximos, por intermédio da
HER2 negativo, o fenótipo é associado
membrana basal e apresenta tendência
a um melhor prognóstico e a resposta
em
terapêutica com antiestrogênicos por
proporcionar
o
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
segundo,
metástase
celular
(SCHMITT et al., 2008; ARAÚJO,
possuir
2013).
direcionada
proliferação
celular.
quando comparados às pacientes com
humano, são desenvolvidos métodos de
carcinomas Luminais B (SCHMITT et
alta tecnologia para a análise da
al.,
expressão do genoma. A partir do
ZANETTI,
2008;
RIBEIRO-SILVA,
datécnica
por
gênica
possuem melhores taxas de sobrevida
esclarecimento da sequência de DNA
cDNAmicrorray,
a
expressão
Pacientes com neoplasias Luminais A
Com as recentes pesquisas e o
desenvolvimento
baixa
OLIVEIRA,
2011;
ARAÚJO,
2013).
exemplo,
ocorreram mudanças significativas e
O Luminal B detém o receptor
estratégicas nas pesquisas destinadas a
hormonal de estrógeno positivo, e
análise genômica do câncer (SCHMITT
HER2 positivo, sendo este caracterizado
et al., 2008).
por
um
pior
reaparecimento
Em detrimento dos avanços
prognóstico
do
tumor,
e
em
decorrência da alta proliferação celular
conquistados, é possível diferenciar os
e à similaridade com os tumores (RE)
subtipos tumorais, resultando noatual
negativos
parâmetro de classificação molecular:
(HER2
e
basal
like).O
tratamento comum para estes tipos
Luminal A, Luminal B, Her-2 e basal-
Luminal
like (SCHMITT et al., 2008; ARAÚJO,
A
e
B
permitem
a
administração da droga tamoxifeno,
2013).
47
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
uma espécie de modulador que bloqueia
sua agressividade é atrelada ao fato de
a atividade de RE (SCHMITT et al.,
não possuir um alvo terapêutico como
2008; ARAÚJO, 2013).
os
como
monoclonal
cujo fenótipo é RE negativo e HER2
ou
o
seja,
anticorpo
anti-HER2
antiestrogênicos
positivo, é desencadeado pela expressão
demasia
subtipos,
medicamentos
A variação molecular HER2
em
demais
são
e
ineficientes
(SCHMITT et al., 2008; ARAÚJO,
dooncogeneHER2,
2013).
apresentando grande atividade mitótica
e alto grau de pleomorfismo nuclear.
As expressões dos subtipos do
Independente do grau do tumor, este
carcinoma mamário, em sua maioria,
subtipo é associado a um péssimo
são resultantes de alterações genéticas e
prognóstico e o tratamento com o
epigenéticas, no entanto, este fato não
anticorpo
descaracteriza
monoclonal
(trastuzumab)
é
o
anti-HER2
mais
indicado,
desencadeadores
porproporcionar melhora aos pacientes
fatores
(POLYAK
&
KALLURI, 2010).
(SCHMITT et al., 2008;ZANETTI,
OLIVEIRA,
outros
Aliado aos quatros subtipos
RIBEIRO-SILVA,
moleculares comumente estabelecidos,
2011;ARAÚJO, 2013).
não existe um consenso na literatura
Obasal likeé a variação mais
referente a uma subdivisão adicional
agressiva do câncer de mama. O
conhecida como triplo negativo, na qual
fenótipo expresso é RE negativo e
os
HER2 negativo e esta denominação
progesterona
decorre da expressão de genética de
negativos. Isto pode ser verificado em
algumas
achados
moléculas,
como
as
receptores
de
de
(RP)
Dentet
estrógeno
e
(RE),
HER2
al
(2007)
são
e
Nalwogaet al (2010). O primeiro afirma
citoqueratinas de alto peso molecular. A
48
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
que a variação triplo negativo constitui
genéticas do câncer e três grupos
boa parte do grupo tumoral basal like,
influentes
enquanto o segundo menciona que as
patologia.
subdivisões são diferentes, no entanto,
podem ser confundidas entre si.
Carcinomas
triplo-negativos
(TN)são mais agressivos, semelhante ao
fenótipo basallike e comumente afetam
mulheres com idade inferior aos 50 anos
e afrodescendentes. Os recentes achados
referentes a este subtipo, esclarecem
que medicamentos do grupo taxanos
apresentam
baixa
sensibilidade
no
tratamento e que aspectos étnicos
influenciam na manifestação do tumor
(CORRÊAet al., 2010).
A caracterização das mutações
em genes que relacionam-se com o
desenvolvimento da mama é alvo de
diversos estudos bibliográficos nos
últimos anos. Mediante o exposto, a
tabela seguinte descreve os principais
genes observados em estudos que
retratam o estudo das características
49
na
manifestação
desta
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
DISCUSSÃO
Tabela 1 - Principais genes relacionados ao câncer de mama
Família
Gene
ALDH1A1
Nome
Aldehyde
Dehydrogenase
1 Family
Member A1
Localização
Autor
Ano
Relação
GINISTIER et al
(17)
2007
Demonstra que o gene auxilia na
degradação de substâncias tóxicas e
toxinas que se formam no interior das
células. Além de ser considerado um
biomarcador em células estaminais
cancerosas.
KAWASE et
al(24)
2009
Mutações nos genes pertencentes a
família ADH e ALDH representam
uma via consistente para desencadear
o câncer de mama.
NALWOGA et
al(35)
2009
Associa que mutações no gene
ALDH1A1 estão correlacionadas com
o surgimento de tumores basallike.
CARNEIRO (7)
2013
Aponta o papel do ALDH1 como fator
adaptativo ao estresse oxidativo.
LIU JIN-FANG
et al(29)
2015
Expressa que a manifestação do gene
ALDH1A1 possibilita a identificação
de células cancerosas.
LIU YAN et al
(30)
2015
Associa que a alta expressão do
mRNA do gene ALDH1A1 favorece a
um resultado favorável de câncer de
mama.
RODRIGUEZTORRES,
ALLAN (37)
2015
Descreve que células estaminais que
expressam este gene em alta
quantidade originam tumores mais
agressivos e que além de maiores
chances de desenvolver metástases, o
gene também participa no processo de
resistência tumoral.
9q21.13
ALDH
ALDH1A3
ALDH2
ADH1A
ADH1B
ADH
Aldehyde
Dehydrogenase
1 Family
Member A3
Aldehyde
Dehydrogenase
2 Family
Member A2
Alcohol
Dehydrogenase
1A (Class I),
Alpha
Polypeptide
Alcohol
Dehydrogenase
1A (Class I),
Beta
Polypeptide
RODRIGUEZTORRES,
ALLAN (37)
15q26.3
2015
Associa a expressão deste gene em
células estaminais com a promoção
de metástases para tecidos
subjacentes.
SUZUKI et al
(41)
2010
Relaciona o acúmulo de acetaldeído
em razão de mutações no gene
ALDH2.
MARTINS (33)
2013
Síntese de enzimas atuantes no
metabolismo.
LIU JIN-FANG
et al(29)
2015
Elucida a relação entre o ALDHIA1 e
o câncer.
KAWASE et
al(24)
2009
MC DONALD
(34)
2012
Demonstra que mutações no ADH1C
são comuns em caucasianos.
MARTINS (33)
2013
Remonta a influência na oxidação
alcoólica ao gene ADH1A.
12q24.2
4q23
4q23
50
O Polimorfismo do ADH1B resulta no
acúmulo de acetaldeído em tecidos.
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
ADH1C
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Alcohol
Dehydrogenase
1A (Class I),
Gamma
Polypeptide
MARTINS (33)
2013
Apresenta que alterações no gene
desencadeia metabolismo não
funcional.
4q23
Tabela 1 - Principais genes relacionados ao câncer de mama
Família
Gene
Nome
Localização
GREB1
GREB1
Growth
Regulation By
Estrogen In
Breast Cancer 1
2p25.1
RNF
FANC
BRCA1
BRCA2
BreastCancer 1
BreastCancer 2
Autor
Ano
Relação
FAN (15)
2000
Elucida duas possíveis ligações do
álcool com o câncer de mama.
CANDELARIAet
al (6)
2015
A ação molecular do álcool promove
o acréscimo de fatores de sinalização,
com atividade do gene GREB1.
DUFLOTH (14)
2004
Descreve que mulheres portadoras de
mutações neste gene apresentam 80%
de desenvolver câncer de mama.
AMENDOLA
(01)
2005
SCHMITTet al
(38)
2008
DENNISet al (11)
2010
Menciona o consumo exclusivo de
vinho como fator de baixa incidência
patológica.
ARAÚJO (02)
2013
Caracteriza alterações no gene
BRCA1 a registros hereditários de
câncer de mama.
MAJEEDet al(28)
2014
Relaciona os processos de apoptose,
ciclo celular e supressão tumoral ao
gene BRCA1
SHAPIRO;
MILLERPINSLER;
WELLS (31)
2016
Direciona ao BRCA1 a atuação em
outras vias de transcrição gênica.
DUFLOTH (14)
2004
Descreve que mutações gene BRCA2
conferem menores chances de
desenvolver o câncer de mama
(60%), quando comparados ao
BRCA1.
AMENDOLA
(01)
2005
Relata que mutações no gene
BRCA2 elevam os ricos para o
desenvolvimento de câncer de mama
em ambos os sexos.
DENNISet al (11)
2010
Risco de câncer de mama
proporcional à idade.
ARAÚJO (02)
2013
Discorre sobre alterações hereditárias
no gene BRCA2 com relação a
neoplasia mamária.
17q21
13q12.3
51
Esclarece que existe uma fraca
associação entre mutações no gene
BRCA1 e o desenvolvimento de
carcinoma ductalin situ.
Associa que mutações no gene
BRCA1 está ligado ao
desenvolvimento do tumor mamário
do tipo HER2.
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
auxilia na degradação de substâncias
FamíliaALDH
Os genes pertencentes à família
tóxicas, como os metabólitos do álcool,
ALDHapresentam informações para a
poluentes e toxinas que se formam no
síntese
interior
de
enzimas
atuantes
no
das
células;
regulação
da
células.
homeostase e o crescimento celular, por
Atualmente foram identificados em
meio da oxidação do retinol para ácido
seres humanos dezenove variações,
retinóicoe
sendo
adaptação da célula perante ao estresse
metabolismo
as
de
diversas
principais:
ALDH1A1,
por
fim,
contribui
na
e
promovido pelo ambiente (GINESTIER
ALDH4A1 (LIU et al., 2015).Para
et al., 2007; CARNEIRO, 2013; LIU et
Martins (2013), as formas da ALDH
al., 2015).
ALDH1A3,
ALDH2,
ALDH3A1,
podem ser agrupadas em quatro classes:
Mutações nos genes da ALDH1
isoenzimas de classe I e II (ALDH1 e
e ALDH2podem alterar a via de
ALDH2) e de classe III e IV (ALDH3 e
metabolização
ALDH4). As ALDH1 e ALDH3 estão
e
ALDH4
situam-se
sistema
ADH,
causando o acúmulo de substâncias
dispostas no citoplasma, enquanto a
ALDH2
do
como o AA nas células (MC DONALD
nas
et al., 2013). A expressão em alta
mitocôndrias.
quantidade
do
ALDH1
tem
sido
A ALDH1 (ou ALDH1A1) é a
considerada como um importante fator
variação mais estudada nos últimos
prognóstico para a neoplasia mamária,
anos. A enzima resultante se faz
sendo sugerido inclusive como um
presente em células estaminais e em
marcador
diversos
a
estaminais, por apresentar uma relação
concentração mais elevada no fígado
com o grau do tumor; a progressão do
(LIU et al., 2015). O referido composto
câncer; a recorrência de tumor local; o
tecidos
humanos,
com
52
da
doença
em
células
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
risco de metástases à distância e
atividade apresentam maior capacidade
inativação de agentes quimioterápicos
de migração para tecidos subjacentes,
(GINESTIER
2007;
por mecanismos ainda não esclarecidos
NALWOGAet al., 2010; LIU et al.,
(DENT et al., 2007; LIU et al., 2015;
2015).
RODRIGUES-TORREZ,
et
al.,
ALLAN,
2015).
A expressão do gene ALDH1A1
é comum tanto a células estaminais
normais, quanto para as tumorais. A
partir
do
momento
que
existe
Família ADH
a
A família de
manifestação do tumor por influência
responsável
deste gene, a neoplasia poderá se
agressivo
e
mal
que
álcoois alifáticos, hidroxiesteróidese em
tumores relacionados com a expressão
apresentam
fígado,
substratos, dentre eles etanol, retinol,
GINESTIER et al., 2007), ou seja,
gene,
no
metabolizam uma ampla variedade de
triplo negativo (DENT et al., 2007;
deste
ADHé
por sintetizar enzimas,
primordialmente
diferenciar apenas nos tipos basal like e
genes
segundo
caráter
plano
elimina
o
álcool
resultante de fermentação bacteriana. A
prognóstico
atividade da ADH parece ser o principal
(NALWOGAet al., 2010).
fator da oxidação do álcool etílicoem
Dentre
conhecidas,
todas
as
alterações
isofromas
nos
ácido
genes
classificadas
tumores do tipo triplo negativo. Além
em
em
(MARTINS, 2013).
disso, células estaminais cancerosas que
formas
intermédio
da
ADHsão codificadas por oito genes e
associados com o estabelecimento de
estas
Por
literatura sabe-se que as variações de
ALDH1A1 e ALDH1A3 estão mais
expressam
acético.
alta
53
seis
classes
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
As
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
isoenzimas
(ADH1A/ADH1,
ADH1C/ADH3)
de
classe
I
e
ADH1B/ADH2,
dispõem
de
comporta-se
como
formaldeído
desidrogenase. A classe IV (ADH6) está
maior
disposta
na
região
do
trato
afinidade pelo etanol e são formadas por
gastrointestinal e córnea, representando
associações
uma
das
subunidades
barreira
metabólica
contra
a
polipeptídicas,e ,respectivamente. A
entrada de álcoois e aldeídos externos.
enzima
três
Por fim, as ADH de classe V (ADH7) e
subunidades diferentes, enquanto a
VI (ADH8) não apresentam papel
ADH1C
explícito na metabolização do etanol até
ADH1B
codifica
diferentes,
codifica
duas
subunidades
apresentando
o momento (MARTINS, 2013).
assim
Mutações
polimorfia. Os alelos estão distribuídos
nos
genes
ADH
caracteristicamente por grupos raciais:
representam uma via consistente a
1 predomina em brancos e negros, 2
respeito do risco para desencadear o
em japoneses e chineses e 3 aparece
câncer de mama, todavia, o mecanismo
carcinogênico e os possíveis subtipos
em uma pequena parcela da população
desencadeados não são bem elucidados
negra. A polimorfia interfere no hábito
de
ingerir
bebidas
alcoólicas
(DENNIS et al., 2010; MARTINS,
e
2013).
desenvolver doenças hepáticas.
O
pressuposto
parte
do
polimorfismo dos genes ADH1B em
A ADH de classe II (ADH4)
consonância comADLH2provocando o
apresenta uma subunidade , a enzima
acúmulo do acetaldeído, metabólito
resultante tem baixa atividade em
tóxico para as células (KAWASEet al.,
baixas concentrações de etanol. A ADH
2009;MC DONALD et al., 2013).
de classe III (ADH5)apresenta uma
subunidade e oxida álcoois de cadeia
longa, exibe baixa afinidade por etanol
54
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
impedirem
BRCA1e BRCA2
a
evolução
carcinogênese
ao
da
codificarem
O BRCA1 (BreastCancer 1)
proteínas que auxiliam na manutenção
pertence
à
família
de
genes
do
genoma,
enquanto
os
denominadaRNFRingFingerProteins),r
gatekeeperssão aqueles que regulam de
esponsáveis
pela
codificação
de
forma positiva a apoptose, bloqueando
enzimas com sólida estabilidade para
crescimento desordenado da célula
ligações químicas. As mutações do
(AMENDOLA, VIEIRA, 2005).
gene
BRCA1
têm
sido
muito
O
BRCA1
apresenta
duas
relacionadas ao desenvolvimento de
regiões
importantes,
a
N-terminal
câncer de mama (hereditários) e na
interage com proteínas do ciclo celular
região dos ovários em mulheres, e na
e a C-terminal responde pela ativação
próstata, em homens. Ao gene são
transcricional. A primeira é voltada
atribuídas as funções de manutenção
para
atividade
da
enzima
na informação genética; reparo do
ubiquitinaligase
E3,
enquanto
a
DNA; regulação de vias de transcrição
segunda é importante por suprimir
gênica; administração de apoptose,
tumores e recrutar enzimas de reparo
ciclo celular e supressão tumoral
do DNA. Quando existem alterações
(SCHMITT et al., 2008; MAJEED et
no C-terminal, o risco de câncer
al.,
2014;
SHAPIRO,
MILLERaumenta
(SHAPIRO,
MILLER-
PINSLER, WELLS, 2016).
PINSLER, WELLS, 2016).
A supressão neoplásica decorre
O etanol regula de forma
de
genes
que
apresentam
duas
indireta o RNAm da proteína BRCA1a
subdivisões: caretakerse gatekeepers.
nível
celular,
admitindo-se
um
Os genes BRCA1 e BRCA2 são
mecanismo de regulação negativa do
classificados
comocaretakers,
por
55
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
gene supressor de tumor BRCA1. A
circulante, o que é associado com as
diminuição
formas de manifestação do tumor.
da
gênicapossibilita
expressão
células
O BRCA1 realiza, em adição a
cancerígenas escapem do controle de
estabilização do material genético, o
supressão tumoral (FAN et al., 2000).
controleda
Em famílias que apresentam registros
relacionados com uma variação de RE,
de câncer de mama, as mutaçõesnos
o receptor de estrogênio a (REa). Em
genes BRCA1 e BRCA2 são descritos
períodos de intensa atividade mitótica,
na maioria dos casos (ARAÚJO,
existe a redução de sinais iniciados
2013).
hereditárias,
pela ativação do respectivo receptor,
representam 5-10% dos casos mundiais
caracterizando uma forma de proteção
e conferem um risco proporcional à
para a mama contra a instabilidade
idade. Mulheres de até 70 anos que
induzida
apresentam mutação no gene BRCA1
estrogênio.
apresentam risco de 65% e para o
níveis de estrogênio é extremamente
BRCA2 cerca de 45% (DENNIS et al.,
necessário, pois este hormônio induz o
2010; MAJEED et al., 2014).
crescimento das células mamárias e
As
queas
alterações
Devido
ao
carcinogênese
não
processo
ser
de
qualquer
claramente
câncer
se que a ligação do álcool com o
2005).
formas,
pode
ocorrerdentre
através
da
outras
resposta
pela
O
alta
de
genes
atividade
balanceamento
alteração
do
dos
hormonal
potencializa o desenvolvimento de
compreendido até o momento, sugere-
câncer
expressão
(AMENDOLA,
VIEIRA,
Os carcinomas que possuem
de
alterações no gene BRCA1 em sua
estrogênio em função do BRCA1. O
maioria são receptores de estrogênio e
álcool aumentaos níveis de estrogênio
progesterona negativos e recentemente,
56
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
comprovou-se que em tumores basal
ao longo dos anos e ainda existe um
like existe a supressão do gene pelo
grande caminho a ser percorrido.
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gene
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câncer
de
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gênicas;
de
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carcinogênica, em razão do acetaldeído
alterações
família
associações com o câncer de mama,
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Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Study." American
JournalofEpidemiology 165.6 (2007):
667-676.
64
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
REVIEW ARTICLE
DESCRIÇÃO COMPARATIVA E ADAPTAÇÃO HISTOLÓGICA DOS FIOS
CIRÚRGICOS: REVISÃO DE LITERATURA
Laíz Soares Silva1, Gustavo Carvalho Viveiros2, Jessica Fernandes Oliveira2, Hewerton
Douglas Dias Alves2, André Moreira Rocha3, Josefa Moreira do Nascimento-Rocha4
RESUMO
Objetivo: Apresentar diferentes fios de sutura e suas classificações, analisando e
comparando seus usos considerando a especificidade de cada tecido. Métodos: Revisão
sistemática de literatura com base em artigos científicos publicados e selecionados
através do banco de dados eletrônico SciELO. Resultados: Os fios de sutura podem ser
classificados em absorvíveis ou inabsoviveis, considerando sua degradação pelo
organismo; orgânicos, sintéticos ou minerais quanto o seu material de origem; e
multifilamentados ou monofilamentado, considerando o número de filamentos. As
várias classificações de fios se tornam necessárias para atender a diversidade de tecidos
existentes. Conclusão: Muitos critérios podem ser utilizados para escolher o fio de
sutura a ser usado e depende da habilidade e conhecimento do profissional de saúde,
considerando todo o processo de cicatrização, optar pelo fio ideal para cada
procedimento.
Palavras chave: fios cirúrgicos, adaptação histológica, sutura
Acadêmica do Curso de Medicina – Fundação Universidade do Tocantins – UFT campus Palmas- Tocantins , Brasil
Acadêmico do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos – ITPAC Porto Nacional- Tocantins , Brasil
Especialista em Farmacologia e Pós-Graduado em Docência no Ensino Superior - ITPAC Porto Nacional - Tocantins, Brasil.
4
Doutora em Ciência Animal e Pós-Doutora em Medicina Veterinária Preventiva pela Universidade Federal de Goiás, - Goiás ,
Brasil
1
2
3
65
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
COMPARATIVE DESCRIPTION AND HISTOLOGICAL ADAPTATION OF
SURGICAL SUTURES: LITERATURE REVIEW
ABSTRACT
Objective: Show the different surgical sutures and their ratings, analyzing and
comparing their use considering the specificity of each tissue. Methods: Systematic
review of literature based on published scientific articles and selected through electronic
SciELO database. Results: surgical sutures can be classified into absorbable or non
absorbable considering its degradation by the body; organic, synthetic or mineral as
their source material; and multifilament or monofilament, considering the number of
filaments. The various kind of surgical sutures become necessary to meet the diversity
of tissues. Conclusion: Many criteria can be used to pick suture material to be used and
depends on the skill and knowledge of the health care professional, considering the
whole healing process, choose the ideal thread for each procedure.
Key words: surgical sutures, histological adaptation, suture
66
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
INTRODUÇÃO
em consideração quão diversificada e
No inicio do desenvolvimento da
complexa é a histologia dos tecidos
medicina um dos grandes desafios era
humanos. Cada região histologia conta
como conter hemorragias e unir tecidos
com uma gama de especificidades que
a fim de evitar infecções e auxiliar o
varia
processo
Nesse
espessuras, até a vascularização e
contexto foram criados os primeiros fios
inervação. A partir daí há a necessidade
cirúrgicos, com funções de ligar e
de avaliar quais os fios e qual será a
suturar.
reação do tecido em questão. Devem-se
de
cicatrização.
Muitos
experimentos
foram
desde
observar
as
tipo
celular,
fibras,
propriedades
de
feitos na busca dos melhores materiais
absorbância, reabsorção e regeneração
para a formação desses fios, como, por
para a escolha do melhor fio.
exemplo,
fibras
vegetais,
vísceras,
Seja um cirurgião geral ou
dentre outros.
qualquer outro profissional que seja
Assim como os materiais, a
responsável pela prática de síntese,
utilização dos fios cirúrgicos foi se
realizam escolhas baseados em critérios
aprimorando
diversificados, dentre os quais podemos
com
o
tempo.
Foi
observado que o mesmo material tinha
citar:
ações diferentes em partes diferentes do
composição histológica do material/fio,
corpo: Um fio que era muito útil em um
extensão
tecido e não supria a necessidade de
resistência
outro.
adversas
Quando se aborda sobre o ser
preferências
da
das
do
ferida
individuais,
ou
sínteses,
cliente,
incisão,
condições
ou
ainda
peculiaridades como faixa etária, massa
humano e sua anatomia deve ser levado
67
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
corporal, outras patologias ou fatores
na escolha da melhor opção que se
desfavoráveis.
adapte de forma satisfatória a cada tipo
Os fios cirúrgicos classificam-se
de
acordo
pelotecido
com
sua
em
absorvíveis
de tecido, e descrever os tipos de fios
degradação
cirúrgicos
ou
utilizados
relacionando-os
orgânicos, sintéticos, mistos/minerais;
aspectos histológicos.
aos
seus
filamentos
suturas
considerando as suas especificidades e
inabsorvíveis; por seu material em
quanto
em
com
os
diversos
em
multifilamentados ou monofilamentados
METODOLOGIA
e pelo seu diâmetro, (SANTOS et al.,
Trata- se de uma de um artigo
2009).
de revisão de literatura descritivo,
Cabe
ao
cirurgião
ter
o
qualitativo, realizado a partir de artigos
conhecimento sobre fios cirúrgicos
selecionados
disponíveis e as características de cada
eletrônico SciELO (ScientificElectrocic
tecido para poder relaciona-los da
Library Online), com estratégia de
melhor forma e alcançar êxito nos
busca definida sobre a temática de fios
procedimentos
É
cirúrgicos e sua analise histológica.
os
Aplicou se a combinação dos seguintes
profissionais de saúde conhecer os
descritores “Fios cirúrgicos”,“Fios de
materiais que serão utilizados nos
sutura”,
procedimentos cotidianos.
“Cirurgia”, “Catgut” , “Feridas”, “Fios
extremamente
Esse
de
suturas.
importante
artigo
de
para
banco
“Suturas”,
Absorvíveis”,
revisão
no
de
dados
“Cicatrização”,
“multifilamentos
“Materiais
dentários”,
sistemática visa apresentar os variados
sintéticos”,
tipos de fios cirúrgicos e assim auxiliar
“Propriedades físicas”, “Fios de aço”,
68
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
“Fios
de
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
poliéster”,
“Nylon”,
condiliana
“Polipropileno”, “Tipos de fio” e “Fios
de
úmero
e
estudo
multicêntrico.
inabsorvíveis”.
Ainda foram descartados os
Foram considerados os seguintes
artigos que estavam em outras línguas
critérios de seleção: artigos relacionados
como o inglês e o espanhol, bem como
com
sua
houve descarte daqueles artigos cujas
origem,
datas de publicação são anteriores aos
composição e características; artigos
considerados na pesquisa (1999) e
que abordassem o metabolismo celular
posteriores a 2012. No banco de dados
e a absorção e não absorção dos fios;
SciELO foram selecionados dezesseis
considerando os artigos de revistas
(16), dos quais foram utilizados oito
científicas de publicações entre os anos
(08) para o estudo descritivo.
fios
cirúrgicos
histofisiologia,
e
a
morfologia,
de 1999 a 2012. Por, nem todos os
artigos
pesquisados
abordarem
os
RESULTADO E DISCUSSÃO
assuntos pertinentes à pesquisa dos fios
e
a
sua
foram
serão apresentados os fios de sutura
descartados aqueles tangenciavam do
mais citados durante a revisão de
tema. Foram eliminados primariamente
literatura, classificados primeiramente
aqueles que abordavam temas como
pelas suas características de absorção e
ligadura
entre suas características serão citados
do
histofisiologia,
Devido a grande diversidade,
canal
arterial,
fios
ortodônticos, nervo sensitivo radial, fio
os
de kirschner, manguito rotador, lesão
pertinentes ao fio.
abdominal,
fio
de
Kirschner
transfixando artéria aorta, fratura supra
69
outros
tipos
de
classificação
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
1. Características gerais
decorrência de sua não degradação.
As características dos fios de
Quanto à sua origem são eles, orgânicos
sutura
a
(fio de algodão), mistos ou minerais (fio
classificação dos fios que, dentre outras
de aço), e sintéticos (como o fio de
formas, pode ser classificado de acordo
nylon). Quanto ao diâmetro os fios são
com sua degradação pelo organismo em
subdivididos em calibres variados em
absorvíveis e inabsorvíveis, quanto a
números
sua origem em orgânicos, sintéticos,
determinam a sua resistência tênsil, e
mistos
pelo
quanto maior a quantidade de zeros
sendo
mais delgado é o fio (SANTOS, et al.
número
são
trabalhadas
ou minerais,
de
como
também
filamentos
multifilamentados ou monofilamentado
de
zero,
cujos
zeros
2009).
(que também pode ser sugerido como a
De acordo com cada uma de
sua capilaridade), e ainda quanto ao seu
suas
diâmetro (que geralmente é evidenciado
profissionais
pelas numerações), (FOSSUM, 2002).
escolhem os fios a serem utilizados, o
No aspecto da degradação os
características
que
é
realizam
que
os
suturas
qual deve se adequado ao órgão ou
fios cirúrgicos podem ser absorvíveis de
tecido
curta ou longa duração, de acordo com
multifilamentado
o tempo que levam para que o
aderência
organismo através de suas reações
monofilamentado,
metabólicas degrade completamente o
desprezível seu uso em tecidos com alto
fio. Já os fios inabsorvíveis não são
índice de contaminação. Outro exemplo
divididos quanto à sua duração, uma
é o caso de tecidos que sofrem grandes
vez que eles devem ser removidos, em
cargas de tração, como aponeuroses,
70
a
sofrer
síntese.
Um
possui
bacteriana
o
do
que
fio
maior
que
um
torna-se
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
esses devem ser suturados com fios de
(BENICEWICZ E HOPPER, 1990),
alta força tênsil. Fios que contam com a
Apud (RIBEIRO E GRAZIANO, 2003).
característica desvantajosa de grande
Na execução da sutura ou síntese
memoria, isto é, de voltarem a seu
devemos contar com todo um arranjo,
estado prévio à sutura, como dobram-se,
que pode ser definido como “um ideal”.
espiralarem-se, não oferecem vantagem.
As
Bem como aqueles que têm alta
segurança no nó, adequada resistência à
pliabilidade, que é a dificuldade de dar
tração,
nós, unida a à característica anterior
reação tecidual, de reação carcinogênica
oferecem
ausente, não possuir a capacidade de
dificuldades
em
suturas
delicadas. (SANTOS, et al. 2009).
características
fácil
ideais
manipulação,
seriam
mínima
desencadear ou mesmo de manter
Os cirurgiões escolhem o fio de
infecção, proporcionar a união das
sutura influenciados por vários fatores,
bordas da ferida unidas até pelo menos
dentre
ou
a fase proliferativa da cicatrização,
preferência individual, a característica
possuir resistência no meio a qual atue e
biológica do material, se absorvível ou
ainda por cima ter um custo baixo,
inabsorvível; a resistência à tensão de
(HUMBERTO, et al. 2007).
eles:
seu
treinamento
uma sutura, que influencia no tipo e
Nessa margem de discussão,
diâmetro do fio a ser escolhido; a
torna-se necessário trazer a baila, as
localização e o tamanho da incisão ou
fases de cicatrização da ferida, e assim
do campo operatório e as condições
situar melhor os apontamentos quanto
particulares do paciente, tais como:
às reações fisiológicas teciduais em
idade, peso corporal, outras doenças ou
presença
condições clínicas desfavoráveis, Para
necessidade é afirmada, pela capacidade
71
do
fio
cirúrgico.
Essa
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]

que os fios de sutura tem de causar
Fase proliferativa - decorre do
irritação aos tecidos e de determinar
quinto dia até a quarta semana
uma resposta inflamatória de baixa
após
intensidade
predominando nessa fase os
e
curta
duração.
,
(HUMBERTO, et al. 2007).
ferida
tecidual,
se
proliferação
dos
fibroblastos,
procede
com concomitante formação de
inicialmente após o seu encerramento
matriz extracelular. Fase em que
primário e se subdivide em três fases:
ocorre também o alinhamento
„fase inflamatória‟, „fase proliferativa‟,
das fibras colágenas e aumento
e „fase de maturação e remodelação‟:
da força tensil nas bordas da

de
lesão
fenômenos da angiogênese e
Dessa forma o processo de
cicatrização
a
Fase inflamatória - inicia-se
ferida e conseguinte redução do
após a lesão tecidual, sendo
tamanho da ferida. (BARROS,
sobre
et al., 2011).
tudo
evidenciados

fenômenos relacionados com a
Fase de remodelação- inicia-se
formação do coágulo de fibrina
na 3ª semana e pode prolongar-
com
se por mais de um ano. Barros
agregação
ativação
de
salienta que durante este tempo
coagulação, e migração celular
dá-se a maturação e renovação
de
das fibras de colágeno, formação
macrófagos,
da
plaquetária,
cascata
polimorfonucleado,
linfócitos
e
de novos capilares de maior
fibroblastos. (BARROS, et al.,
calibre,
2011).
epitélio e remodelação das fibras
formação
de
novo
de colágeno. A força de tensão
72
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
máxima
é
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
atingida
às
12
2.
semanas mas não ultrapassa 7080%
da
força
Fios inabsorvíveis
Para que se tenha uma análise
pré-lesão.
mais detalhada e concomitante, uma
(BARROS, et al., 2011).
visão mais apreensível e entendível,
Retomando a caracterização dos
faremos uma abordagem do fio não-
fios cirúrgicos, podemos fazer uma
absorvível /inabsorvível, definindo suas
consideração quanto aos diâmetros dos
características peculiares, tais como:
fios, pois conforme Santos, et al.
origem
do
material,
composição,
(2009), os fios são enumerados pelo
capilaridade,
indicação,
diâmetro
sistema USP (Farmacopéia dos Estados
aplicabilidade(SANTOS, et al. 2009).
Unidos) como 2- 0, 3-0, 4-0, dentre
Mediante
outros.
caracterizações
todas
anteriores,
e
as
torna-se
Sendo diversificadas e variáveis
necessário apresentar alguns exemplos
as relações entre a numeração do fio e
de fios inabsorvíveis, os quais se
seu
seguem representados na Tabela 1:
diâmetro
correspondente
em
milímetros. Sendo que existe um valor
(TABELA 1)
mínimo e um máximo na dependência
do numero, como por exemplo: o
numero 0 varia de 0,35mm até 0,40mm
de diâmetro do fio, (HUMBERTO, et
al. 2007).
73
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
2.1.Fios
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
inabsorvíveis
capacidade de potencializar infecções
de
por
origem animal
aderência
bacteriana.
Suas
cirurgia
geral,
Seda: multifilamento entrançado, muito
indicações
fácil de manusear. Trata-se de um fio
ginecológica,
barato que permite dar nós seguros mas
urológica,
associa-se a tempo de suporte errático
(GOFFI e TOLOSA, 1996).
(força tênsil pequena e com perda total
Linho: É um fio multifilamentado,
ao fim de 1 a 2 anos). Sendo um fio
inabsorvível, mas biodegradável assim
orgânico acarreta maior reação tecidual
como o algodão. Este material é
e, por se tratar de um multifilamento,
produzido a partir de fibras pericíclicas
maior risco de infecção (SANTOS et
do caule do linho. Possui boa resistência
al., 2009).
tênsil, é flexível, permite boa segurança
2.2.Fios
inabsorvíveis
obstétrica,
oftálmica
ortopédica,
e
neurológica,
na formação dos nós e baixo atrito
de
quando implantado nos tecidos (GOFFI
origem vegetal
Algodão: É um fio multifilamentado,
considerado
são:
inabsorvível,
e TOLOSA, 1996).
mas
2.3.Fios
inabsorvíveis
de
biodegradável, composto de longas
origem sintética
fibras de algodão torcidas, com boa
Poliamida (nylon): Possuem elevada
flexibilidade e resistência. O algodão
força
ganha em resistência à tensão e em
deslizamento e memória a reacção
segurança dos nós, quando umedecido.
tecidual
De acordo com Goffi e Tolosa, as
memória faz requerer 3 a 4 nós,
desvantagens
enquanto a sua hidrólise lenta faz perder
do
algodão
é
sua
capilaridade, reatividade nos tecidos e
74
tênsil,
mínima.
elasticidade,
A
sua
fácil
elevada
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
15-20%
da
força
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
tênsil
por
ano
ortopédicas
e
vasculares.
Tem
(HUMBERTO et al., 2007).
aindacomo características ser um fio
Polipropileno: esse fio tem elevada
maleável
força tênsil e elasticidade, e daí a
memória, o queminimiza a irritação
facilidade em distribuir a tensão em
causada
suturas contínuas, requer a realização de
cirurgias cardiovasculares,hernioplastias
4 nós, desperta pouca reação de corpo
e cirurgias orais (SILVA, 2009).
estranho e é fácil de remover. Dá pouco
e
elástico,
pelos
2.4. Fios
traumatismo por arrastamento e difere
nós.
não
possuir
Indicado
inabsorvíveis
para
de
origem mineral
dos restantes monofilamentos pela sua
Aço inoxidável: Trata-se de um fio
maior flexibilidade (HUMBERTO et
inabsorvível
al., 2007).
materialbiologicamente
Poliéster: foi o primeiro fio sintético
capilar e facilmente esterilizável por
não absorvível a ser produzido.Permite
autoclave, (SILVA,2009).
com
inerte,
não
bom manuseamento, realização segura
de nó, desperta pouca reaçãotecidual e
3. Fios absorvíveis
apresenta
De acordo com Silva os fios de
força
tênsil
elevada
e
constante (HUMBERTO et al., 2007).
Politetrafluoretileno:
de
Tabela 2, são fios quesão absorvidos
um
pelo organismo durante o processo de
monofilamentomicroporoso constituído
cicatrização. Isso evita anecessidade de
de um polímero de cadeia de carbono
um retorno do paciente para retirada dos
com átomos de flúorem torno dele,
pontos em locais queseriam inacessíveis
tendo
para a sua retirada sem uma nova
politetrafluoretileno
sido
utilizado
O
fio
sutura absorvíveis, apresentados na
é
em
cirurgias
75
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
incisão, como, por exemplo,vísceras.
Entre os de origem animal, o
(SILVA, 2009).
catgut
Eles têm origem animal ou
simples
e
sãoclassificados
cromado
também
que
como
sintética e sua absorção varia de 1 a 3
monofilamtentos torcidos e entre os
meses,logo, eles devem ser utilizados
sintéticos
nas suturas em que o fio deve
multifilamentos sintéticos (Poliglatina,
permanecer por poucotempo, ou seja,
Ácido Poliglicólico) emonofilamentos
tecidos de rápida regeneração, (Santos,
sintéticos
et al. 2009).
Poliglecaprone
Os
fios
absorvíveis
são
citatambém
os
(Polidioxanona,
e
Gliconato).
(SLATER,1998).
utilizados de acordo com o tipo de
TABELA 2
tecido animal,por exemplo, eles podem
ser usados na pele e subcutâneo, mas na
pele devem serremovidos porque a
absorção requer contato com fluidos
corporais. Alguns outrosexemplos são
músculo e órgãos parenquimatosos e
vasos, tais como fígado, baçoou rim que
3.1.Fios absorvíveis de origem
são geralmente suturados com fios
monofilamentares
animal
absorvíveis.
Fio catgut simples e cromado: A
Emórgãos ocos recomendam-se fios
camada serosa do intestino delgado de
absorvíveis para prevenir retenção de
bovinos
materialestranho na cicatrização da
sadios.
longitudinais
ferida. (SLATER, 1998).
de
Possui
origem
fibras
proteica
revestida de colágeno formando um
76
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
multifilamento que proporcionam maior
aderências e não desencadeia reação
resistência ao fio. A absorção do catgut
inflamatória significativa ao seuredor.
é um processo que envolve fagocitose,
Pode ser bem empregado em suturas
principalmente dos macrófagos. Ainda
delicadas ou que requer menor tempode
envolve dois estágios, um em que as
permanência, (SLATER (1998).
ligações moleculares são quebradas por
Ácido Poliglicólico: Trata-se de um fio
hidrolise acida e outra a colagenólise,
sintético absorvível composto deum
(SILVA, 2009). Em seguida há a
monopolímero de ácido glicólico (ácido
digestão e a absorção por enzimas
hidroxiacético)
proteolíticas. O catgut cromado possui a
emmultifilamentos, com boa resistência,
mesma composição do simples, só que
bom manuseio na confecção dos nós e
para aumentar sua resistência ele é
boafixação. Seu material é considerado
tratado com uma solução salina de
inerte, não antigênico e não piogênico e
cromo, (SLATER, 1998).
suaabsorção ocorre por hidrólise de
moldado
forma uniforme e previsível, conforme
3.2.Fios absorvíveis de origem
estudos de, (SILVA, 2009).
sintética
Poliglatina: confeccionado a partir de
Polidioxanona: Esse fio é útil quando
polímeros que são inerteis,antigênicos e
se
não piogenicos. Esse é um fio trançado
eresistência prolongada. As suturas com
bem estirado e tem absorçãode 60 a 80
esse
dias. Possui boa resistência a tração e de
tecidosmoles,
fácil manuseio. Tem sido considerado
oftalmológicas, exceto a córnea e a
um material excelente para qualquer
esclera, e cirurgiascardiovasculares, não
tipo de sutura, por que nãofavorece
sendo recomendada para tecido neural.
77
quer
uma
material
sutura
são
absorvível
indicadas
em
para
cirurgias
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
É
definido
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
comomonofilamento
de
bactérias. A suaboa maleabilidade dá
poliéster, não alergênico e que durante a
segurança aos nós de sutura. Possui
absorção sofre ligeirareação tecidual,
ainda a capacidade deser absorvido até
(SILVA, 2009).
60 dias, sendo que em 14 dias após sua
Poliglecaprone:
é
um
fio
implantação
ocorre
50%de
sua
monofilamentar sintético à base de
degradação pelos tecidos. É indicado
blocossegmentados de copolímeros de
para
épsilon coprolactona e glicolida que são
eobstétricas, urológicas, sutura de pele e
absorvidospor hidrólise quando em
ligadura de vasos, (SILVA, 2009)
contato
e(SLATER, 1998).
com
organismos
vivos.
cirurgias
gastrointestinais
Apresenta excelenteresistência tênsil,
reduzida
memória
maleabilidade.
e
grande
Devido
CONSIDERAÇÕES FINAIS
a
Na área médica são de extrema
essascaracterísticas pode ser aplicado
importância as produções científicas,
não somente nas suturas internas, mas
tambémem
suturas
superficiais
umavez que essas tendem a melhorar a
de
atuação dos profissionais, seja através
mucosa e externas cutâneas, (SILVA,
depráticas
2009).
é desenvolvido, a fim de, trazer para o
gliconato. Possui baixo coeficiente de
superfície
lisa
ou
que estetrabalho de revisão sistemática
monofilamento, produzido a partirdo
contem
cirúrgicas,
clínicas investigativas. É neste intuito
Gliconato: É um fio classificado como
atrito,
médicas,
campo damedicina conhecimentos sobre
que
a estrutura e propriedades dos fios de
favoreceusá-lo em suturas delicadas e
sutura bemcomo sua utilização de
acaba minimizando a aderência de
acordo
78
com
o
tecido/órgão,
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
metabolismo celular e reaçãotissular
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
que os fios podem desencadear.
Observa-se,
que
apesar
BARROS, M. et al. Princípios básicos
das
em cirurgia: fios de sutura. Acta Med
múltiplas características dos fios de
Port. V.24, n. S4, p. 1051-1056
sutura, como absorvíveis, inabsorvíveis,
vegetais
ou
CASTRO, H. L.; DELLA BONA, A.;
sintéticos,
ÁVILA, V. J. B. Propriedades físicas
multifilamentados oumonofilametos, a
dos
sua escolha leva em consideração
principalmente
as
peculiaridades
FOSSUM,
utilizados
na
T,
W.
Cirúrgia
de
Pequenos Animais. Editora Roca Ltda.
fisiológicas, de idade, peso corporal,
2002.
outras patologias e condições clinicas
GOFFI, F. S.; TOLOSA, E. M. C.
desfavoráveis; considera-se também o
Operações fundamentais. In: Goffi FS.
treinamento e preferência do próprio
Técnica Cirúrgica: bases anatômicas,
cirurgião.
fisiopatológicas e técnicas cirúrgicas.
Portanto, essa pesquisa traz, para
acadêmico
e
Roca, São Paulo, Ed. 4., p. 52-53,
profissional
1996.
informações básicas e peculiares quanto
SANTOS,
os fios cirúrgicos, a fim de relacionar as
práticas
sutura
85-90, abr./jun. 2007
paciente e suas condições físicas,
meio
de
odontologia. CiencOdontol Bras. p.
próprias do órgão a sofrer síntese; o
o
fios
cirúrgicas
com
T.
D.;
PAES,
C.
A.;
PEREIRA, D. M.; GONÇALVES, L. G.
a
G. G. D. Fios de sutura absorvíveis.
histofisiomorfologia dos tecidos.
Rev CientElet Med Vet. p. 12, Jan.
2009.
79
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
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Tecidual dos Fios de Sutura. 2009. 37
f. Seminário (Doutorado em Ciência
Animal) – Universidade Federal De
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pequenos animais. 2.ed. São Paulo:
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RIBEIRO, A. R; GRAZIANO, K. U. Os
fios de sutura cirúrgica e a enfermeira
decentro cirúrgico: critérios de previsão
e provisão segundo a natureza das
instituiçõeshospitalares.
Ver
EscEnferm USP. 2003; 37(4): 61-8.
80
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
REVIEW ARTICLE
NEOPLASIA MALIGNA
“OSTEOSARCOMA”: UM ARTIGO DE REVISÃO
LFS Cavalcante ¹, AS Valente ¹, DD Carneiro¹, CA Souto¹, VR Guedes².
RESUMO
Osteossarcoma, tumor ósseo maligno primário mais comum, geralmente surge
entre a segunda e terceira décadas de vida, seguindo uma distribuição bimodal, com um
pico inicial no período da adolescência e adultos jovens, e um segundo pico após a 6ª
década de vida. Acomete principalmente a metáfise de ossos longos como o fêmur distal,
tíbia proximal e úmero proximal. Osteosarcoma, ou sarcoma osteogênico, é de difícil
diagnóstico precoce devido a forma insidiosa com que aparece.Seu tratamento inclui
diversas abordagens terapêuticas dependentes de variáveis como volume, localização e
estadiamento.
Palavras chave: Tumor ósseo, osteosarcoma, diagnóstico, estadiamento.
1
2
Acadêmico de Medicina da UFT;
Orientador e docente do curso de Medicina da UFT.
81
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
De acordo com a Sociedade
A pesquisa foi fundamentada na
Brasileira de Cancerologia, surgem no
revisão de literatura, análises científicas
Brasil 2.700 novos casos de câncer ósseo
de pesquisa latino-americana e norte
e estes são percebidos como raros.
americana sobre a temática Tumor
Tumores
ósseos
Ósseo. O processo de seleção de artigos
malignossão
classificados
em
primários
secundários.
Tumores
teve como período determinante o
e
lapsoentre os anos de 2011 a 2016.
primários
Foram
configuram-se como os originados do
utilizados
materiais
com
disponibilidade na íntegra do texto.
osso, enquanto os secundários são
Ocorreram
provenientes de partes distintas do
buscas
pela
Biblioteca
Virtual de Saúde (BVS); American
organismo e migram para a estrutura
CancerSociety;PubMed;
óssea, denominando a metástase.
Scielo;
Sociedade Brasileira de Cancerologia,
Temos como tumores malignos
mais
frequentes
(também
o
chamado
revistas
Osteosarcoma
de
Norte Americanas e Latino
Americanas atualizadas.
sarcoma
osteogênico), apresentado como tumor
exclusivo do osso, categoria primária.
ETIOLOGIA
O presente artigo de revisãotem
como
objetivo
atualização
A causa dos tumores ósseos é
médica
desconhecida,
porém,
hereditários
revelando as características clínicas e
mutações genéticas.Ocorrem com índice
epidemiológicas do Osteosarcoma, bem
elevado em áreas de desenvolvimento
como
sobre
ósseo rápido e, apesar de numerosas
negligência dos sintomas basais comoa
alterações moleculares e genéticas
dor, aumento de volume local, fratura e
serem associados a patogênese para o
impotência funcional, tendo em vista a
desenvolvimento
facilidade em erro ao discernir essas
(OS), sua
simplesdores com o surgimento de
obscura1.
atenção
tumores ósseos.
A
causados
do
por
ser
quanto ao tumor ósseo mais comum,
introduzir
e
parecem
certas
osteossarcoma
progressão permanece
Sociedade
Brasileira
de
Oncologia identifica que a prevalência é
82
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
maior no sexo masculino, com uma
admitem
relação de 1,5 a 2,1: 1, ocorrendo
neoplasias malignas podem ter origem
geralmente entre a segunda e terceira
na inflamação crônica e em agentes
décadas
uma
infecciosos, um exemplo é a Doença de
distribuição bimodal, com um pico
Paget do osso5. Foi identificado que
inicial no período da adolescência e
portadores dessa doença crônica têm
adultos jovens,e um segundo pico após a
maiores
6ª década de vida2.
osteossarcoma na vida adulta, pois a
de
vida,
seguindo
que
mais
chances
desestruturação
Outros fatores de risco para
de
de
da
25%
das
apresentar
arquitetura
o
nos
tecidos ósseos acometidos, promovida
osteossarcoma incluem: Idade: o risco de
por reabsorção óssea aumentada e reparo
osteossarcoma é o mais alto durante o
ósseo
surto de crescimento na adolescência;
desorganizado,
resulta
em
aumento de volume e maior fragilidade
Altura: pode haver alta conexão entre
óssea, podendo haver transformação
crianças altas e osteossarcoma; Etnia: O
neoplásica das lesões, especialmente o
osteossarcoma é um pouco mais comum
osteossarcoma6.
em afro-americanos do que em brancos3.
Apesar desta tumorogênese não
ter procedência absolutamente definida,
DIAGNÓSTICO
as pesquisas identificaram outros fatores
que
promovem
incidências
Neoplasias ósseas apresentam
dessa
uma
patologia. Alguns procedimentos para
diagnosticar
ao aparecimento de um osteossarcoma,
diagnóstico
Crianças que tiveram retinoblastoma
ligação
ao
modo
pode
ser
confuso
e
imitar Histiocitoma Fibroso Maligno,
para o osteossarcoma, particularmente se
Fibrossarcoma ou Tumores de Células
eles são tratados com radiação4.
Gigantes.
estar a
A radiografia averigua o estado
subestimar a associação entre infecção
o
têm
histológico, pois o osteossarcoma pode
hereditário apresentam risco aumentado
e
comportamentos
insidioso com que a doença surge. O
como a intervenção por radioterapia.
crônica
de
genéticos. A demora e a dificuldade em
diagnósticos e tratamento podem induzir
Atualmente podemos
variedade
desenvolvimento
ósseo e se existe algum tecido mais
de
denso. Geralmente é o primeiro exame
neoplasias malignas. Alguns autores
83
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
feito quando há suspeita de tumor ósseo.
cirúrgicos que visam preservação do
O exame por raios X pode mostrar a
membro. A RNM é o procedimento mais
destruição do córtex, a elevação do
preciso para a avaliação da extensão
periósteo e a extensão extra-óssea com
intra e extramedular de um tumor ósseo.
ossificação dos tecidos moles adjacentes,
O contraste marcante entre os sinais da
mas
gordura e do tecido neoplásico torna a
muitas
vezes
são
necessários
exames complementares para fechar o
RNM
excelente
diagnóstico7.
estudo9.
método
para
este
Os três locais onde a metástase se
A tomografia por emissão de
instala preferencialmente são pulmão,
pósitrons (PET) é um exame que
fígado e osso. O diagnóstico é realizado
monitora a atividade metabólica no
por meio de diversas ferramentas, entre
corpo todo e consegue detectar tumores
elas exames laboratoriais que mostra se
que se disseminaram para os linfonodos
há no sangue algumas substâncias que,
ou outras estruturas e órgãos do corpo10.
em elevados títulos, indicam a presença
A
de tumor em estágio avançado, tais como
medicina
nuclear
utiliza
radiação em mínima quantidade, uma
fosfatase alcalina e lactato desidrogenase
das ferramentas que utilizam esse tipo de
7
(LDH) .
estrutura nuclear é a Cintilografia. Sua
Tomografia
computadorizada
utilização em conjunto com agentes
(TC) reproduz imagens em distintos
buscadores de tumores pode oferecer
ângulos, útil para diagnosticar se o tumor
informações
adicionais
invadiu
aumentando
a
estruturas
como
tendões,
importantes,
especificidade
do
músculos ou tecido gorduroso7. A TC é
diagnóstico, em comparação com as
mais precisa no diagnóstico de doenças
técnicas
metastáticas do tórax do que os raios-x8.
morfológicas.
Isto
para o acompanhamento de tumores
visualização
envolvidos,
preciosas
propicia
de
tecidos
fornecendo
para
uma
auxiliar
imagens
das
maiores
ela permite a pesquisa de todo o corpo.
(RNM) deve ser usada com freqüência
pois
Uma
de
vantagens da cintilografia óssea é que
Ressonância Nuclear magnética
malignos,
convencionais
é
importante
aproximadamente
boa
metastáticas
moles
13%
ocorrem
porque
das
no
lesões
esqueleto
apendicular em regiões que usualmente
informações
tratamentos
84
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
não
são
incluídas
na
pesquisa
mostrará
11
esquelética .
dinâmica
correta
do
tratamento. No entanto, é necessário
exames de imagem para um correto
A Biopsia também é um exame
importante,
pois
confirmação
do
determinará
diagnóstico
estadiamento, incluindo uma varredura
a
isótopo
de
indicada pelo
médico
colabora
conduzir
o
descartar metástases pulmonares12.
a investigação padrão em cenário de
biopsia
para
tórax e tomografia computadorizada para
que fará o
tratamento, sendo que a biópsia aberta é
A
óssea
tratamento, bem como radiografia de
osteossarcoma. A biópsia deve ser
dúvida.
a
Sabe-se que na década de 60 o
em
volume de amputações de pacientes com
determinar a melhor opção de tratamento
câncer era bastante expressivo, porém
e deve ser um procedimento de absoluta
com
atenção, pois biópsias realizadas de
procedimentos a expectativa e qualidade
maneira inadequada são responsáveis
de vida aumentaram. A amputação pode
por modificações no plano terapêutico2.
acarretar necrose, infecção, crescimento
a
intervenção
de
novos
excessivo do osso em crianças, neuroma,
dor do membro fantasma, dentre outros
CONDUTA TERAPÊUTICA
As
opções
tratamento
Atualmente há diversidade de
responderão a especificidade do tumor.
procedimentos justapostos ao sarcoma
Volume, localização e estadiamento são
ósseo que respondem com êxito a:
fatores
quimioterapia, procedimento sistêmico,
que
de
fatores.
direcionam
qual
procedimento executar.
radioterapia e ressecção do osso.
De acordo com a Sociedade
Algumas
referências
Americana Muscoesquelética, o sistema
esclarecemque os procedimentos padrão
de estadiamento dos tumores é feito em
para a terapêutica de osteossarcoma
três informações: o grau do tumor (I =
incluem quimioterapia, cirurgia de ponta
baixa qualidade; II = alto grau); A
combinada e inovadora estratégia de
extensão do tumor (A = envolvimento
fortalecimentodroga imunitário, o que
intra-; B = intra e extra ósseos extensão);
pode diminuir a quantidade de 30 a 40%
Presença de metástases à distância (III).
pacientes de risco com a recidiva da
Através do estadiamento é que se
doença
85
com
metástases
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
pulmonares13.Porém,mesmo
as
Radioterapia é um método em
técnicas de quimioterapia e cirúrgicas
potencial para destruir células tumorais,
melhoradas, muitos pacientes portadores
porém no caso de osteosarcoma há
de
ressalvas. O tratamento por radioterapia
OS
não
com
conseguem
atingir
a
sobrevida livre de doença a longo prazo,
no
devido
radiorresistente, não é aplicado como
ao
desenvolvimento
de
1
resistência a intervenções terapêuticas .
Os
procedimentos
osteossarcoma
inacessível,
paliativa.
com
cisplatina, ifosfamida e etoposido são
mais
utilizados
em
regiões
Portanto, esse procedimento
não é utilizado em todos os pacientes
compostos metotrexato, doxorrubicina,
os
geralmente
ou
coluna e pélvis como uma opção
terapia
endócrina) antes ou após a cirurgia. Os
atualmente
irressecável
axiais, incluindo a cabeça, pescoço,
radioterapia com a terapia antineoplásica
ou
relativamente
indicado apenas em pacientes com
sistêmicos
sendo possível e se viável associado a
(quimioterapia
tumor
uma primeira escolha, sendo comumente
levam a uma conjunção de tratamento,
sistêmica
OS,
câncer;
vai
depender
do
estadiamento e evolução do tumor
no
maligno16.
combate a esta patologia, no entanto
apresentam elevada citotoxicidade e
A
ressecção
a
ser
no
caso
de
quando administrados em longo prazo
procedimento
são a causa de efeitos secundários
neoplasias malignas.
adversos, tais como falência renal,
cirurgia continua a ser uma parte
mielossupressão
indispensável
de
tratamento
osteossarcoma
em
conjunto
e
problemas
cardíacos14.
comum
tende
Atualmente, a
de
com
Mas provavelmente apenas o
quimioterapia. O objetivo da cirurgia
procedimento sistêmico não é suficiente,
deve ser uma remoção completa do
há dados que indicam que nem todos os
tumor, com uma ampla margem de
pacientes
tecido normal, a fim de evitar locais de
com
diagnóstico
de
osteossarcoma com um alto grau (grau
recorrência,
3) sebeneficiariam com o tratamento
segurança do paciente16.
sistémico,
já
que
altas
taxas
de
prezando
sempre
.
sobrevivência só pode ser conseguida
por
meio
da
ressecção
CONSIDERAÇÕES FINAIS
cirúrgica
completa15.
86
pela
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
É notória a importância do diagnóstico
2. SAMAL B.P., et al; Calcaneal
precoce do osteossarcoma, fato que
osteosarcoma, a challenge for diagnosis:
diagnosticado em tempo prematuro
a rare case report and literature review.
condiciona melhor qualidade de vida ao
Oncology Discovery. Vol. 3. Article 2.
paciente, proporcionando a preservação
2-3. Outubro 2015.
do membro, bem como a sua função
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mais fisiológica possível.
cáncer
Além do cenário palpável a
de
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no
contexto
multidisciplinar,
cujo
4.
tratamento e chance de sobrevida são
Actualización
imprecisos, tendendo deste modo o
paciente
a
disfuncionais.
enfrentamento
ter
As
Asoc.
pensamentos
estratégias
psicológico
MUSCOLO,
en
Argent.
D.
Luis
et
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07.08.2016
11. COLÉGIO BRASILEIRO DE
RADIOLOGIA. Critérios de Adequação
88
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
REVIEW ARTICLE
O MITO DA GASTRITE NERVOSA
Karolina Alencar Bandeira1, Tatiana Nascimento Marques1, Aline Santos Iamamoto1,
Raimundo Célio Pedreira2
RESUMO
Os recentes avanços científicos estão esclarecendo ainda mais a gêneses dos agravos
de saúde. No caso específico da gastrite, estudos recentes mostram a relação estreita entre a
doença e a bactéria Helicobacter pylori. No entanto, a história natural das doenças esclarece
que praticamente todas as patologias possui diversos aspectos relacionados a sua gênese, um
deles é o aspecto psicossocial com destaque para o estresse. O estresse pode estar presente no
aparecimento da gastrite, principalmente nos casos graves de pacientes internados. Aspectos
emocionais parecem não possuir estreita associação, de maneira isolada, com a origem das
gastrites. Outro importante fato é que a gastrite em algumas ocasiões é relatada como um
sintoma. A literatura mostra que gastrite é uma doença e seu conceito passa necessariamente
por uma injúria no tecido do ambiente gástrico, cujo diagnóstico definitivo necessita da
verificação de achados histopatológicos específica. A presente revisão comparara aspectos
orgânicos e psicológicos relacionados com a gastrite para avaliar o mito conhecido como
“gastrite nervosa”, examinando sua aproximação com a nosologia propriamente dita.
Palavras- chave: Mito. Gastrite. Saúde. Doença. Aspectos orgânicos. Aspectos psicossociais.
1
Acadêmicas do 12º período de Medicina do Instituto Tocantinense Antônio Carlos Porto - ITPAC. e-mail:
[email protected]; [email protected]; [email protected].
2
Gastroenterologista e Professor auxiliar de Saúde do Adulto na Universidade Federal do Tocantins – UFT e
Instituto Presidente Antônio Carlos Porto – ITPAC. email: [email protected].
89
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
THE MYTH OF GASTRITE NERVOUS
ABSTRACT
Recent scientific advances are further illuminating the genesis of health problems. In
the specific case of gastritis, recent studies show the close relationship between the disease
and the bacterium Helicobacter pylori. However, the natural history of the diseases explains
that practically all the pathologies have several aspects related to its genesis, one of them is
the psychosocial aspect emphasizing the stress. Stress may be present in the onset of gastritis,
especially in severe cases of hospitalized patients. Emotional aspects do not seem to have
close association, in an isolated way, with the origin of gastritis. Another important fact is that
gastritis on some occasions is reported as a symptom. The literature shows that gastritis is a
disease and its concept necessarily passes through an injury in the tissue of the gastric
environment, whose definitive diagnosis necessitates the verification of specific
histopathological findings. The present review compared organic and psychological aspects
related to gastritis to evaluate the myth known as "gastritis nervosa", examining its approach
to the nosology itself.
Keywords: Myth. Gastritis. Health. Disease. Organic aspects. Psychosocial Aspects.
90
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
gastroduodenal, veremos que conflitos
INTRODUÇÃO
O presente estudo destina-se a uma
comuns ligados ao seu trabalho, ou à vida
aproximação do entendimento do mito da
familiar
“gastrite nervosa”, um problema de saúde
suficientes
rotineiro no contexto da atenção básica. O
sintomatologia
primeiro
2005). No entanto, a literatura específica
entendimento
desta
revisão
área
e
afetiva,
para
são
desencadear
dolorosa.”
médica
elementos
(FERRAZ,
bibliográfica, no entanto, fica por conta da
da
conceituação de “mito”, tendo em vista a
considera frágil a participação de fatores
não ocorrência de registros científicos da
psicogênicos
nosologia Gastrite Nervosa.
Podemos observar em DANI (2011), que
na
de
a
gastroenterologia
gênese
da
gastrite.
as classificações das gastrites considerando
O mito é uma Personagem, fato ou
particularidade que, não tendo sido real,
simboliza não obstante uma generalidade
que devemos admitir coisa que não existe,
mas que se supõe real, só possível por
hipótese quimera. Um mito é um conjunto
de símbolos que procuram falar daquilo
que não se pode falar, não por ser um ser
um segredo misterioso e proibido aos não
iniciados, mas por estar situado
radicalmente
fora
da
linguagem.
(JABOUILLE, 1986).
sua etiologia não contemplam os fatores
emocionais, mas sim aquele ligado as
injuria da mucosa. “O termo gastrite deve
ficar restrito aos casos em que coexistem
lesão celular, processo regenerativo e
infiltração
Esta
conceituação
básica
nos
gástrica”.
existir a doença em estudo, no entanto a
1995).
dá
conta
de
acrescida
da
presença de folículos linfóides na mucosa
permite entender que parece mesmo não
literatura
inflamatória,
(CARPENTER;
TALLEY,
ocorrências
psicossomáticas como o “nervosismo”
APRESENTAÇÃO
como um dos fatores presentes na gastrite.
As pré-condições que condicionam
“Se atentarmos para o histórico do paciente
a produção de doença, seja em indivíduos,
com
sejam em coletividades humanas, estão de
gastrite
ou
com
úlcera
91
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
tal forma interligadas e, na sua tessitura,
agressores físicos, químicos e biológicos.
são tão interdependentes, que seu conjunto
Os
forma uma estrutura reconhecida pela
componente social podem ser agrupados,
denominação de estrutura epidemiológica.
didaticamente, com vistas a uma melhor
Por estrutura epidemiológica, que tem
compreensão, em quatro tipos gerais cujos
funcionamento sistêmico, entende-se o
limites não se pretendem que sejam claros
conjunto formado pelos fatores vinculados
ou finamente definidos: Fatores sócio-
ao suscetível e ao ambiente, incluindo aí o
econômicos, fatores sócio-políticos, fatores
agente etiológico conjunto este dotado de
sócio-culturais e fatores psicossociais.
uma organização interna que define as
(ROUQUARYOL, 2013).
fatores
que
constituem
esse
suas interações e também é responsável
O termo gastrite foi usado pela
pela produção da doença. É, na realidade,
primeira vez por Sthal em 1728. Vale
um sistema epidemiológico. Cada vez que
salientar
um
alguma
tecnológica ocorrida, ainda não existe um
alteração, está repercutirá, e atingirá os
conhecimento completo desta afecção.
demais, num processo em que o sistema
Exatamente por não ter um
busca novo equilíbrio. Um novo equilíbrio
etiológico definido, muitas denominações
trará consigo uma maior ou menor
foram utilizadas, resultando sempre em
incidência de doenças, modificações na
grande dificuldade na interpretação dos
variação cíclica e no seu caráter, epidêmico
dados da literatura. Às vezes, situações
ou endêmico. O componente social na pré-
emocionais de conflito, de depressão ou
patogênese poderia ser definido como uma
angústia com manifestações digestivas
categoria residual: conjunto de todos os
eram referidas como “gastrite nervosa”. O
fatores que não podem ser classificados
diagnóstico de gastrite deve ficar restrito
como
aos casos em que coexistem lesão celular,
dos
componentes
componentes
sofrer
genéticos
ou
92
que,
apesar
da
evolução
agente
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
processo
regenerativo
e
infiltração
METODOLOGIA
inflamatória com folículos linfóides na
mucosa
gástrica.
O presente Trabalho constitui-se de
(CARPENTER;
uma pesquisa em literatura utilizando-se
TALLEY, 1995).
tanto os textos clássicos quanto trabalhos
de investigação publicados. A pesquisa
bibliográfica
OBJETIVOS
O trabalho visa contribuir com o
entendimento
adequado
de
serviu
inicialmente
para
embasamento teórico do estudo. Foram
uma
realizadas pesquisas
em
literatura
determinada doença para orientar de forma
específica,
artigos
segura sobre prevenção e tratamento desta
dissertações
em
doença. Estabelecer o conceito de Gastrite
pesquisa buscou ainda confrontar aspectos
em detrimento do entendimento popular de
orgânicos
“gastrite
de
entendimento do tema. Busca e análise
maneira mais adequada sobre os aspectos
seletiva de livros técnicos e publicações
que dão origem a doença, incluindo os
em base de dados - BVS-LILACS BVS-
aspectos psicossociais. O termo “gastrite
IBECS;
nervosa”
SCOPUS-Elsevier
freqüência
nervosa”
é
para
utilizado
pela
informar
com
população,
alguma
mas
e
científicos,
acervos
psicológicos
teses e
virtuais.
para
Pubmed/Medline-NLM
-
com
seleção
A
o
e
de
não
referências científicas de relevância no
encontra escopo na literatura médica.
período de fevereiro a novembro de 2016.
Considerando que o adoecer é quase
Para a efetivação da busca de artigos foram
sempre um evento multifatorial, a gastrite
utilizados
os
apesar de estar acompanhada de fatores
Gastrite,
mito,
psicossociais, não possui estes fatores
sociedade.
como origem exclusiva da doença.
psicossomática, cultura, saúde e doença.
93
seguintes
sintoma,
descritores:
psicologia,
gastroenterologia,
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
“Várias situações estressantes resultam em
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Inicialmente, uma abordagem do
lesões agudas da mucosa gástrica. As
ponto de vista orgânico faz-se necessária.
causas mais comuns de erosões gástricas
Gastrite significa inflamação gástrica. Este
incluem
termo é utilizado atualmente para indicar a
queimaduras,
septicemia,
choque
e
presença de um infiltrado leucocitário
insuficiência
respiratória,
renal
ou
inflamatório na mucosa do estômago, que
hepática.” (DANI, 2011). Vale ressalta,
pode ou não se associar a alterações do
para complementar a associação entre
aspecto endoscópico. A gastrite causada
erosão e gastrite que o achado que mais se
pela bactéria Helicobacter pylori
e a
correlaciona com gastrite na endoscopia é
gastrite auto-imune são os dois principais
a presença de erosões na mucosa (gastrite
representantes.
erosiva
Segundo publicação da Federação
trauma,
ou
cirurgia
extensa,
gastropatia
erosiva).
Observamos que ocorre envolvimento de
Brasileira de Gastroeneterologia (2016),
eventos
não-orgânicos
específicos
classificamos as gastrites e gastropatias
origem das lesões da mucosa gástrica e que
baseando-se em (1) tempo de instalação
praticamente as situações envolvem o
(aguda ou crônica), (2) histopatologia
ambiente hospitalar. No entanto os eventos
(gastrite superficial ou gastrite atrófica ou
emocionais
do
gastropatia e (3) etiologia - Gastrite antral
abordados.
Por
por H. pylori, Pangastrite (atrófica ou não)
observar a seguir motivos psicológicos que
por H. pylor, Gastrite atrófica auto-imune e
podem estar associados as gastrites. É
Gastrite crônica de tipo indeterminado.
importante
cotidiano
este
também
não
motivo,
o
registro
na
são
vamos
da
Os casos de gastrite que possuem
existência de uma entidade nosológica que
relação direta com o estado emocional do
acomete o aparelho digestório alto e que
paciente dão conta de situações extemas.
possui fraca relação com eventos orgânicos
94
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
e ao mesmo tempo pode evidenciar
pois aqui se concentram os chamados
aspectos emocionais, conhecida como
“fatores psicossociais”. Os determinantes
dispepsia funcional.
sociais de saúde (DSS) são os fatores
Uma análise
de
revisão de literatura revela claramente uma
sociais,
associação entre farores psicossociais e
étnicos/raciais,
dispepsia
comportamentais
funcional.
(FELDMAN;
FRIEDMAN; BRANDT, 2014).
distanciam
da
a
psicológicos
que
e
influenciam
a
fatores de risco na população. (CNDSS,
gastrite que se
abordagem
culturais,
ocorrência de problemas de saúde e seus
É importante salientar aspectos
relacionados com
econômicos,
2006).
puramente
Uma
importante
literatura
específica da área de epidemiologia nos
orgânica. Nesse sentido, cabem aqui
ajuda
a
entender
considerações gerais e iniciais sobre o
psicossociais:
estes
fatores
adoecimento, ou sobre a doença. “O termo
doença” (illness), utilizado para o paciente,
Dentre os fatores psicossociais aos quais
pode ser imputada a característica de prépatogênese, encontram-se: marginalidade,
ausência de relações parentais estáveis,
desconexão em relação à cultura de
origem, falta de apoio no contexto social
em que se vive, condições de trabalho
extenuantes
ou
estressantes,
promiscuidade, transtornos econômicos,
sociais ou pessoais, falta de cuidados
maternos na infância, carência afetiva de
ordem geral, competição desenfreada,
agressividade vigente nos grandes centros
urbanos e desemprego. Estes estímulos
têm influência direta sobre o psiquismo
humano, com conseqüências somáticas e
mentais danosas”. (ROUQUARYOL,
2013).
denota o que este sente quando procura
auxílio
médico.
Trata-se
de
uma
interpretação subjetiva dele e de todos os
que o cercam, incluindo a importância
atribuída ao agravo, bem
como suas conseqüências. A pessoa entra
no consultório com uma doença (illness) e
sai
com
uma
enfermidade
(disease).
Uma emoção é antes uma reação
(HELMAN, 2009). Para esclarecer sobre
aguda,
que
envolve
pronunciadas
os fatores psicológicos devemos considerar
alterações
somáticas,
experimentadas
os determinantes sociais do adoecimento,
como uma sensação mais ou menos
95
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
agitada. A sensação e o comportamento
como sintoma e não exatamente como uma
que a expressam, bem como a resposta
doença. Isso ocorre com alguma freqüência
fisiológica interna à situação-estímulo,
no consultório, quando o paciente se refere
constituem
a
um
todo
intimamente
um
sintoma
com
relativo
ao
“gastrite”.
aparelho
relacionado, que é a emoção propriamente
digestório
dita. Assim, emoção tem ao mesmo tempo
encontrada outra fonte bibliográfica que
componentes fisiológicos, psicológicos e
cita a palavra gastrite como sintoma.
Não
foi
sociais – desde que as outras pessoas
constituem
estímulos
geralmente
emotivos
os
em
maiores
nosso
CONCLUSÃO
meio
Parece seguro concluir-se que a
civilizado. (MARINO, 2013).
expressão conhecida popularmente como
“gastrite nervosa” não encontra lugar na
A relação da gastrite com o estresse
já
foi
comentada
anteriormente,
literatura científica. Ainda assim o termo é
principalmente em situações de maior
usado com alguma freqüência inclusive
gravidade e relacionadas com o ambiente
entre profissionais da área de saúde. Como
nosocomial. Vale considerar ainda o
praticamente em todas as doenças, os
ambiente do consultório. Um dos mais
fatores conhecidos como psicossociais
importantes
de
estão presentes também nas gastrites,
estresse em nosso meio é o “Teste de
raramente como o agente principal e quase
Lipp”. (LIPP, 2014). Observamos que no
sempre
inventário de sintomas do referido teste, a
participam das condições favoráveis para o
autora elenca o “aparecimento de gastrite
aparecimento de uma alteração no estado
prolongada” na fase de resistência do
de saúde.
testes
para
avaliação
como
um
dos
fatores
que
estresse. Aqui então observamos uma
A literatura médica é clara ao
publicação científica que trata a gastrite
considerar a gastrite como um diagnóstico
96
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
histológico ou no máximo endoscópico se
razoável admitir que realmente a “gastrite
os achados macroscópicos no ambiente
nervosa” está inserida neste contexto, pelo
gástrico forem sugestivos. Os estudos
fato de ligar-se muito mais ao imaginário
atuais dão conta de que quase totalidades
do que a ciência das nosologias.
das gastrites estão ligadas a presença da
bactéria Helicobacter pylori. Ocorre que
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARPENTER, H. A; TALLEY, N. J.
Gastrocopy is incomplete without biopsy:
clinical relevance of distinguishing
gastropathy
from
gastritis.
Gastroenterology, v. 108, ed. 3, p. 917924, mar. 1995.
esta ligação somente ficou estabelecida
recentemente. Isso pode, no passado, ter
desencadeado
sugestões
de
aspectos
psicológicos fortemente envolvidos com a
COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS
DETERMINANTES SOCIAIS DA
SAÚDE (CNDSS). Carta aberta aos
candidatos à Presidência da
República.São Paulo: Fiocruz, 2006.
Disponível em:
<www.determinantes.fiocruz.br>. Acesso
em: 09 fev. 2017.
gastrite. A presente revisão aponta fatores
estressantes ligados a quadros graves em
pacientes internados como intensamente
relacionados com o aparecimento da
DANI, R.; CASTRO, L.P.
Gastroenterologia clínica. 4. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara, 2011.
gastrite. Mas estes aspectos seguramente
não seriam os envolvidos no aparecimento
FELDMAN, Mark; FRIEDMAN,
Lawrence S; BRANDT, Lawrence.
Sleisenger & Fordtran: tratado
gastrointestinal e doenças do fígado. 9. ed.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.
do termo “gastrite nervosa”. Apenas uma
publicação científica das revisadas nesta
pesquisa apresenta o termo “gastrite”
FERRAZ, Flávio Carvalho. Psicossoma:
psicanálise e psicossomática. 3. ed. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.
sugerindo ser o mesmo um sintoma. Em
todas as outras publicações o entendimento
HELMAN, C. G. Cultura, saúde e
doença. 5. ed. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2009.
do termo esta relacionado com a doença
propriamente dita.
Considerando-se
os
elementos
JABOUILLE, Victor. Iniciação à ciência
dos mitos. Lisboa: Inquérito, 1986.
Cadernos Culturais n. 120. 119 p.
que
justificam a existência dos mitos, parece
97
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
LAKATOS, E.M; MARCONI, M. A.
Fundamentos de metodologia científica.
7. ed.São Paulo: Atlas, 2010.
LIPP, M. N. Stress e suas implicações.
Estudos de Psicologia, 2014.
MARINO Jr., R. Fisiologia das emoções.
São Paulo: Sarvier, 2013.
OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de
metodologia científica: projetos de
pesquisa, TGI, TCC, monografias,
dissertações e teses. São Paulo: Pioneira,
2002.
ROUQUAYROL, Maria Zélia; SILVA,
Marcelo Gurgel. Epidemiologia & saúde.
7. ed. Rio de Janeiro: MedBooks, 2013.
98
Rev Pat Tocantins
V 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
CASE REPORT
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE HANSENÍASE TUBERCULOIDE
NODULAR DA INFÂNCIA E LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA
EM PACIENTE PEDIÁTRICO: UM CASO BREVE
Giovana Trevizani Toigo1, Renata de Paula Mendonça1, Cibele Rezende Borba1, Fabiana
Ribeiro Queiroz de Oliveira Fagundes2
RESUMO
A hanseníase nodular da infância é uma variedade da hanseníase tuberculoide
que acomete crianças de 1 a 4 anos de idade. O caso relatado baseia-se em um paciente
de 4 anos, sexo masculino, que apresentou uma lesão nodular em região infra orbital
com um ano de evolução e foi inicialmente diagnosticado com leishmaniose tegumentar
americana através de uma primeira análise histopatológica. Porém, devido à clínica
pouco compatível com a leishmaniose tegumentar americana, associada à morfologia da
lesão característica de hanseníase tuberculoide do tipo nodular da infância, aventou-se
esta hipótese como diagnóstico diferencial. A hipótese foi confirmada após uma nova
biópsia e iniciou-se o tratamento para hanseníase tuberculoide. Dessa forma,
destacamos a relevância da compatibilidade entre a clínica e o estudo histopatológico e
do conhecimento das variedades de hanseníase, uma patologia com alta prevalência no
Tocantins, que também pode ser diagnóstico diferencial para doenças dermatológicas
também prevalentes, como a leishmaniose tegumentar americana.
Palavras-chave: Hanseníase tuberculoide. Leishmaniose Cutânea. Biópsia. Pediatria.
1
Discente do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Campus Palmas, TO.
2
Docente do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Campus Palmas, TO.
E-mail para contato: [email protected]. Endereço: 110 sul, alameda 5, lote 05A. Palmas - TO, CEP: 77020-138.
99
Rev Pat Tocantins
V 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
DIFFERENTIAL DIAGNOSIS OF NODULAR TUBERCULOID LEPROSY OF
CHILDHOOD AND AMERICAN TEGUMENTARY LEISHMANIASIS IN
PEDIATRIC PATIENT: A BRIEF CASE
ABSTRACT
Nodular tuberculoidleprosy of childhood is a variety of tuberculoid leprosy
affecting children between 1 and 4 years of age. The case reported is based on a 4-yearold male patient who presented a nodular lesion in an infra-orbital region with one year
of evolution and was initially diagnosed with American tegumentaryleishmaniasis
through a first histopathological analysis. However, due to the clinic that is not
compatible with American cutaneous leishmaniasis, associated with the morphology of
the lesion characteristic of nodular tuberculoid leprosy of childhood, that was proposed
as a differential diagnosis. The hypothesis was confirmed after a new biopsy and
treatment for tuberculoid leprosy was started. Thus, we highlight the relevance of the
compatibility between the clinical and the histopathological study and the knowledge of
the varieties of leprosy, a pathology with high prevalence in Tocantins, which can also
be differential diagnosis for dermatological diseases also prevalent, such as American
tegumentaryleishmaniasis.
Keywords:Leprosy. Leishmaniasis, Cutaneous. Biopsy. Pediatrics.
100
Rev Pat Tocantins
V 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
INTRODUÇÃO
A
centímetros. Geralmente, a lesão de
da
inoculação é única, sendo a úlcera a
infância é uma variedade da hanseníase
apresentação mais comum. Esta se
tuberculoide (HT) que acomete crianças
localiza
de 1 a 4 anos de idade.5 As lesões são
membros inferiores e superiores.1
pápulas,
hanseníase
pequenos
nodular
tubérculos
ou
com
mais
frequência
em
O presente relato aborda um
nódulos, únicos ou em pequeno número,
caso
de tonalidade marrom-avermelhada e
pretende discutir a dúvida diagnóstica
sem lesão aparente de nervo periférico.
nas manifestações dermatológicas de
Não
doenças
se
encontram
bacilos
nos
característico
infecciosas
esfregaços de rotina e a histopatologia
incidência
mostra
hanseníase.
um
quadro
histológico
desta
local,
forma
com
como
e
elevada
LTA
e
tuberculoide. A reação de Mitsuda é
RELATO DE CASO
positiva e os casos têm tendência à cura
Paciente K. F. S., quatro anos,
espontânea.6
pardo, masculino, natural de Palmas A
leishmaniose
tegumentar
TO, procedente de Taquaralto - TO.
americana (LTA) cursa com alterações
Refere contato íntimo e prolongado com
histopatológicas na pele ou mucosas
bisavô
portador
de
hanseníase,
que variam de inflamação exsudativa
diagnosticado há três anos e meio.
aguda até granuloma tuberculoide. Em
Mãe relata aparecimento de
relação à morfologia, a lesão observada
lesão eritematosa de aproximadamente
pode
ser
eritema
com
edema
e
0,5 cm na face do paciente, há um ano,
infiltração,
pápula,
tubérculo,
com crescimento progressivo. Desde
verrucosidade ou úlcera, com tamanho
então, em um período de oito meses, foi
aproximado de poucos milímetros a
101
Rev Pat Tocantins
V 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
consultado por cinco médicos (clínico,
(BAAR) negativa, compatível com
pediatras
LTA.
e
dermatologista),
não
obtendo hipótese diagnóstica até a
O paciente foi observado na
primeira biópsia.
espera para internação do Hospital
Ao exame físico, lesão em placa
Infantil de Palmas-TO, há dois meses,
eritemato-infiltrada com centro claro,
por uma dermatologista, quando se
nodular única, em região infra orbital
decidiu continuar a investigação.
esquerda, crescimento centrípeto, não
Frente à dúvida diagnóstica de
pruriginosa, indolor, sem secreções,
LTA, uma revisão do caso foi solicitada
sem
em
sinais
flogísticos,
de
16/05/2014,
indicando
a
aproximadamente 2 cm no seu maior
possibilidade de hanseníase do tipo
diâmetro (Imagem 1).
tuberculoide, apesar da presença de
A primeira biópsia foi realizada
granulomas
e
em 12/03/2014, revelando a presença de
pseudoepiteliomatosa
granulomas
com
indicadores de LTA.
Estes
Para
tuberculoides
histiócitosepitelioides.
da
hiperplasia
serem
confirmação
fortes
da
nova
granulomas acompanham os anexos,
hipótese, uma segunda biópsia foi
infiltram os músculos eretores dos
realizada em 10/06/2014, evidenciando,
pelos, destruindo filetes nervosos e
na derme, infiltrado granulomatoso com
glândulas sudoríparas. A conclusão da
histiócitosepitelioides,
análise
estruturas anexiais, sugestivo de HT
foi
dermatite
crônica
granulomatosa associada à hiperplasia
com BAAR negativo.
pseudoepiteliomatosa com pesquisa de
Bacilos
álcool-ácido
circundando
Intradermorreação
resistentes
Montenegro
(26/06/2014)
de
negativa.
Baciloscopia e Mitsuda não realizadas.
102
Rev Pat Tocantins
V 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
As lesões apresentam-se, geralmente,
como pápulas ou placas, sendo estas
hipocrômicas
ou
discretamente
eritematosas, com poucas lesões em
áreas
de
contato
(face,
membros,
abdome).1
A hanseníase é mais rara em
crianças, principalmente devido ao seu
longo período de incubação, mas deve
ser considerada em diferentes contextos
e locais, como no estado do Tocantins,
no qual a incidência em menores de 15
Imagem 1: Lesão em placa, eritemato-
anos é elevada, chegando a 81/100.000
infiltrada, em região infraorbital
habitantes/ano
esquerda.
devemos não só conhecer os aspectos
em
20123.Portanto,
básicos da doença, como também
COMENTÁRIOS
dominar suas peculiaridades para que
O presente caso ressalta a
importância
complementada
da
clínica
sendo
pelo
exame
casos de formas não clássicas, como a
nodular da infância, sejam identificados
precocemente e notificados.
histopatológico, uma vez que a análise
Um número significativo de
macroscópica da lesão foi fundamental
casos registrados de hanseníase na
para a suspeita de hanseníase nodular da
infância tem estreita relação com a
infância, instigando a revisão do caso
endemia regional, sendo, portanto, um
com a solicitação de uma nova biópsia.
indicador de alta prevalência, o que
103
Rev Pat Tocantins
V 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
evidencia a relevância destes casos para
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a vigilância epidemiológica local.
Como a HT na infância é
1. AZULAY, R. D. AZULAY, D. R.
incomum e a incidência de LTA no
Dermatologia. 6ª. edição. Rio de
Tocantins é alta4, a histologia da lesão,
Janeiro: Ed. Guanabara Koogan; 2013.
ao apresentar granuloma tuberculoide e
2. FARHAT, C. K. CARVALHO, L. H.
hiperplasia
pseudoepiteliomatosa,
F. R. SUCCI, R. C. M. Infectologia
direcionou o diagnóstico para LTA.
pediátrica. São Paulo: Editora Atheneu,
Além disso, a lesão da HT pode se
2008.
assemelhar macroscopicamente a lesão
3.
primária
DATASUS.
da
geralmente,
LTA,
única,
sendo
em
esta,
MINISTÉRIO
Indicadores
de
Hanseníase, 1990-2012. Disponível em:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.e
Considerando a demora para
definição diagnóstica, ressaltamos a
xe?idb2012/d0206.def.
importância
15/07/2014.
conhecimento
SAÚDE.
morbidade. Taxa de incidência de
pápula
eritematosa, que evolui para nódulo.2
do
DA
das
4.
sejam feitos diagnósticos mais precoces
DATASUS.
e da forma mais precisa possível,
morbidade. Taxa de incidência de
evitando
Leishmaniose Tegumentar Americana,
tratamentos
DA
em:
variedades de hanseníase para que
assim
MINISTÉRIO
Acesso
Indicadores
de
desnecessários. Lembrando que quanto
1990-2012.
mais precoce for o diagnóstico, mais
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.e
evitamos incapacidades e portadores
xe?idb2012/d0204.def . Acesso em:
assintomáticos, diminuindo, assim, a
15/07/2014.
incidência dessa patologia.
104
Disponível
SAÚDE.
em:
Rev Pat Tocantins
V 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
5. OLIVEIRA, Z. N. P. D. et al.
Dermatologia
Pediátrica.
Coleção
Pediatria: Instituto da criança, HCFMUSP. Barueri, SP: Manole, 2009.
6. OPROMOLLA, D. V. A. URA, S.
Atlas de Hanseníase. Bauru: Instituto
Lauro de Souza Lima, 2002.
105
Rev Pat Tocantins
V. 4, n 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
CASE REPORT
IXODÍASE REVELADO PELO EXAME DERMATOSCÓPIO: RELATO DE
CASO
Luciane Prado Silva Tavares1, Osterno Potenciano2, Yasmin Pugliesi3, Joaquim Alberto Lopes
Ferreira Júnior4, Ana Carolina Vicente Araújo2, Daniele Martins de Freitas5, Thayssa Boechat
Tose2, Nathalia Lelitscewa da Bela Cruz Potenciano6, Aline Maria Marques7, Laura Silva
Paixão8, Guilherme Assunção Godinho9
RESUMO
A ixodíase é uma zoodermatose causada pela picada de ixodídeos. Dos
ixodídeos existentes no Brasil, o gênero mais frequente é o Amblyomma, com várias
espécies, sendo a mais encontrada a A.cajennense. Relatamos o caso de um paciente
que, após 2 dias que retornou da fazenda, iniciou com intenso prurido, aparecimento de
inúmeras pápulas eritematosas purpúricas com crosticulas, sendo visualizado à
dermatoscopia o carrapato.
Palavras-chave: Carrapatos. Ixodes. Dermoscopia.
1
Dermatologista do Hospital Geral de Palmas (HGP) e da Clínica Luciane Prado;
Médico assistente da Clínica Luciane Prado;
3
Médica residente em dermatologia do HGP;
4
Médico assistente do Hospital José Soares Hungria;
5
Assitente de dermatologia do HGP e da clínica Luciane Prado;
6
Acadêmica de medicina da Associação Educativa Evangélica;
7
Acadêmico de medicina da Faculdade Alfredo Nasser;
8
Acadêmica de medicina da PUC-Goiás;
9
Acadêmico de medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos.
2
106
Rev Pat Tocantins
V. 4, n 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
IXODIASIS DISCLOSED BY DERMASCOPIC EXAMINATION: CASE
REPORT
ABSTRACT
The ixodíase is a dermatozoonosis caused by the bite of ticks. Existing ticks in
Brazil, the most common genre is Amblyomma, with several species, the most found is
the A.cajennense. We report the case of a patient who, after two days he returned from
the farm, began with intense itching, appearance of numerous erythematous papules
with purpura crosticulas, being viewed by the dermoscopy the tick.
Keywords: Ticks. Ixodes. Dermoscopy.
107
Rev Pat Tocantins
V. 4, n 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
INTRODUÇÃO
aparecimento
de
inúmeras
pápulas
Os ixodídeos ou carrapatos são
eritematosas purpúricas com crosticulas
acarianos ectoparasitos do homem e de
em região de membros inferiores,
vertebrados, que se alimentam do
abdome e dorso (figura 1). Ao exame
sangue e linfa de seus hospedeiros e são
videodermatoscópico
transmissores de numerosas infecções.
presença do parasita causador na pele
Dos ixodídeos existentes no Brasil, o
(figuras 2 e 3).
gênero mais frequente é o Amblyomma,
com várias espécies, sendo a mais
encontrada a A.cajennense, que parasita
desde animais de sangue frio até
mamíferos e o homem. É conhecido
comumente como carrapato estrela ou
carrapato cavalo3.
A evolução completa de um
carrapato ocorre em quatro períodos:
ovo, ninfa hexápode, ninfa octópede e
adulto.
As
infestações
pela
ninfa
hexápodes formam pápulas encimadas
por crostículas, levando a um prurido
intenso3.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo masculino, 49
anos, Engenheiro Agrônomo procedente
de Lagoa da Confusão-TO. Paciente
refere que após 2 dias que retornou da
fazenda iniciou com intenso prurido,
108
visualizamos
a
Rev Pat Tocantins
V. 4, n 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
geralmente localizadas nas pernas e
abdome. Na fase adulta, o parasita
provoca o aparecimento de poucas
lesões
pápulo-eritêmato-purpúricas,
pouco pruriginosas, causando apenas
uma pequena reação local. O carrapato
deve ser retirado com cuidado, puxando
sem força para não deixar o capítulo na
pele do hospedeiro, originando uma
Figura 3
reação granulomatosa, caracterizada por
uma ou mais lesões pápulo-tuberosas
DISCUSSÃO
intensamente pruriginosas¹-³.
A ixodíase é uma zoodermatose
O diagnóstico é feito através do
causada pela picada de ixodídeos, que
se
caracteriza
por
apresentar
exame
três
sendo
com
o
possível
visualizar além das lesões, a presença
longo do ano: nos meses de abril a julho
do hospedeiro1.
há predomínio das larvas conhecidas
como ninfa hexápode ou micuim, nos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
meses de julho a outubro predominam
1. Criado P. R., Criado R.F.J.
as ninfas, chamadas de “vermelhinho”,
Ixodíase
e nos de outubro a março desenvolvem-
revelada
pela
microscopia
se os adultos, chamados de “rodoleiro”
de
epiluminescência sem contato
ou de “carrapato-estrela”¹,3.
com
O quadro clínico dessa afecção
a
pele.
Anais
Bras
Dermatol. 2010;85(3):389-90.
varia de acordo com a fase parasitária,
2. SAMPAIO, S.A.P.; RIVITTI,
as infestações mais intensas ocorrem na
E.A. Dermatologia. 3. ed. rev. e
fase larvária e caracterizam-se pelo
ampl. São Paulo: Artes Médicas,
aparecimento de pequenas e numerosas
intensamente
meticuloso
dermatoscópio,
estágios parasitários distribuídos ao
pápulas
físico
2008. 771p.
pruriginosas,
109
Rev Pat Tocantins
V. 4, n 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
3. Vasconcelos W. Dermatozoíases
em um imenso país tropical.
Anais Bras Dermatol. 1979;
54:87-103.
110
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
CASE REPORT
PACIENTE COM MENINGITE INESPECÍFICA EVOLUINDO A ÓBITO:
RELATO DE CASO
Arthur Alves Borges de Carvalho1; Daniela Mascarenhas Matos2; Monick Piton Pereira2,3;
Jivago Chaib Martins Lima2
RESUMO
Apresenta-se aqui um relato de caso de uma paciente do gênero feminino que
evoluiu a óbito numa unidade hospitalar sem causa definida, sendo encaminhada ao
Serviço de Verificação de Óbito (SVO) para exame necroscópico, com diagnóstico final
de meningite inespecífica.
Palavras-chave: Meningite. Necrópsia.
1
Mestre. Médico patologista e docente do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto (ITPAC/FAPAC); Departamento
de patologia e medicina legal da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Secretaria de saúde do estado do Tocantins;
2
Graduandos do curso de medicina do ITPAC/FAPAC;
3
Graduada em enfermagem pela Faculdade de Tecnologia e Ciências; Pós-graduação em urgência e emergência pela Universidade
Federal da Bahia.
111
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
necroscópico e as características de cada
INTRODUÇÃO
De acordo com Robbins e
tipo
(2005),
todo
relevância, pois, a partir disso, pode-se
das
sugerir a etiologia da meningite.Em
leptomeninges e do LCR, que podem ter
seguida, faz-se uma revisão de literatura
origem infecciosa ou de outras causas,
acerca da epidemiologia, quadro clínico,
como químicas. Podem ser classificadas
relevância dos exames complementares,
em
conduta terapêutica e prognóstico da
Cotran
processo
meningite
é
inflamatório
piogênica
asséptica
(viral
aguda
aguda)
(bacteriana),
e
crônica
de
meningite
possui
grande
meningite.
(geralmente tuberculosa).
O Sistema de Agravos de
RELATO DO CASO
Notificação do Brasil afirma que, nos
Paciente do gênero feminino,
anos de 2007 a 2010 a mortalidade foi
10
de 5,8%, representando 65.000 casos de
Atendimento,
meningite
cefaléiaintensa, associado à febre e
em
crianças,
totalizando
3.770 óbitos(PRATS, et al. 2012).
anos,
deu
entrada
com
no
Pronto
quadro
de
torpor. Evoluiu rapidamente com crise
O objetivo deste relato é
convulsiva e parada cardiorrespiratória,
descrever o caso de uma paciente que
em 16.05.13 às 03:45 horas. Os
evoluiu para óbito sem causa definida,
medicamentos
na qual o corpo foi enviado ao serviço
hospitalar
de verificação de óbito para definição
Dexametasona. Os exames realizados
da causa e foi constatada uma meningite
não
de etiologia desconhecida.
hospital.
Devido a isto, uma comparação
foram
administrados
foram
intra-
Ceftriaxona
disponibilizados
e
pelo
Deu entrada no serviço de
entre a clínica do paciente, o exame
verificação
112
de
óbito
(SVO)
do
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
município de Palmas - TO em 16/05/13,
congestas e opacificadas. Saída de
exame
sangue da cavidade medulo-espinhal.
necroscópico
realizado
às
10h30min horas. F.S.A. possuía cor
Cerebelo
com
parda, era estudante, cursando ensino
vasocongestão.
leve
edema
e
fundamental, solteira. Paciente livre de
comorbidades (SIC), normolínea, 120
cm de altura, pesando 35 kg, trajando
fraldão. Ao exame externo: crânio
simétrico, ausente de lesões, cabelos
encarapinhados e negros, pálpebras
entreabertas, pupilas midriáticas, íris
castanhas,
córneas
transparentes,
Figura 1- Exame necroscópico evidenciando
conjuntiva anictérica e transparente,
edema,
vasocongestão
cerebral,
meninge
fluindo secreção sanguinolenta pelo
congesta e opacificada.
nariz; tórax simétrico, ausente de lesões;
abdome
plano,
sem
lesões;
dorso
ausente de lesões; genitália feminina,
normoinserida,
pêlos
normoimplantados; membros superiores
e inferiores amarrados por faixa.
Realizada incisão em crânio
bimastóide vertical e afastados os
Figura
planos cutâneos do couro cabeludo,
vasocongestão à necrópsia.
observou-se cérebro com edema e vaso
congestão
acentuada;
meninges
113
2
-
Cerebelo
apresentando
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Foi
na
cavidade
incisão
fúrculo-
congesto com aumento de volume
pubiana ao nível da linha mediana
discreto; baço congesto com tamanho
anterior, dissecados os planos músculo-
habitual; pâncreas com leve edema;
cutâneos e desarticulado o plastrão
estômago com pangastrite erosiva e
condro-esternal.
pulmões
presença de hemorragia luminal (HDA),
encontraram-se congestos e com áreas
ausente de ulcerações; alças intestinais
de hemorragia, porém ausência de
congestas;
rins
derrame pleural.
congestão
e
realizada
tóraco-abdominal,
Os
pericárdico;
timo
habitual;
com
fígado
acentuada
suprarrenais
com
hiperplasia; aparelho genitourinário sem
particularidades.
Figura 3 – Exame necroscópico evidenciando
congestão pulmonar, com focos hemorrágicos,
porém ausência de derrame pleural.
O coração com hipertrofia
ventricular esquerda leve, petéquias em
Figura 4 –Paciente apresentando ao exame
epicárdio
necroscópico, hipertrofia ventricular leve, com
e
presença
de
derrame
114
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
focos de petéquias em epicárdio e derrame
pericárdico.
Figura 7 -Paciente apresentando ao exame
necroscópico, fígado congesto com aumento de
volume discreto.
Figura 5 e 6 - Exame necroscópico
evidenciando estômago com pangastrite e
hemorragia.
Figura 8–Paciente apresentando
ao exame necroscópico,rim com
acentuada congestão.
115
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Por fim, paciente apresentou
Foram coletadas amostras para
quadro de óbito súbito com clínica
histopatológico do coração, cérebro,
sugestiva de meningite. Ao exame
cerebelo, rim direito, rim esquerdo,
necroscópico evidenciou-se na anatomia
fígado,
pâncreas,
patológica presença de gastrite com
estômago, meninges, sangue e líquido
hemorragia gástrica. Na histopatologia,
pericárdico. Ao exame histopatológico
confirmou-se presença de processo
realizado em 17/05/13 os resultados
inflamatório gástrico e presença de
obtidos foram: coração sem alterações
inflamação
histopatológicas significativa; cérebro
linfoplasmocitário nas meninges de
com
etiologia
pulmão,
meningite
baço,
linfoplasmocitária
com
infiltrado
inespecífica.
testes
dengue
foram
inespecífica; cerebelo com parênquima
sorológicos
cerebelar preservado; parênquima renal
negativos e exames de cultura e
e adrenal sem alterações significativas;
citologia
pulmão com congestão e edema; baço
negativos para crescimento microbiano.
congesto;
parênquima
preservado;
gastrite
estômago
crônica
para
Os
do
liquido
pericárdico
pancreático
apresentando
pesquisa
Segundo Robbins e Cotran
Helicobacterpylori negativa; ao líquido
(2005), a meningite piogênica aguda
pericárdico
e
diferencia-se de acordo com a idade.
crescimento
microbiano
mononucleares
leve,
DISCUSSÃO
soro
ausente
à
+++
de
cultura;
Em
e
recém-nascidos
organismos
são
a
os
E.
principais
Coli
e
o
polimorfonucleares ++; sorologia para
Estreptococos do grupo B. Já em idosos
dengue, IgM não reagente.
o Streptococcus pneumoniae e Listeria
monocytogenes são agentes etiológicos
116
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
mais
comuns.
Em
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
adolescentes
e
fundamentais que vêm reduzindo os
adultos jovens, Neisseria Meningitidis
riscos de mortalidade.
representa o patógeno mais comum,
SCHOSSLER, et al. (2013)
sendo causa frequente de problemas de
expõe que, a meningite bacteriana é
saúde pública.
causada por Haemophilus influenzae
O
LCR
se
apresenta,
entre
20%
a
60%
dos
casos,
normalmente, limpo. No entanto, um
apresentando uma taxa de letalidade que
dos sinais de meningite bacteriana é a
atinge 40%.
presença do LCR turvo e purulento.
Além
disso,
tem-se
exsudato
SHIEH, etal. (2012) diz que,
na
alguns fatores como: idade, gravidade,
superfície do cérebro (ROBINS E
agente causal, duração da doença
CONTRAN, 2005).
durante
sua
apresentação
aguda,
Com a introdução da vacinação
condições de base do paciente e atraso
contra Haemophilus influenzae, houve
no início de terapia antimicrobiana
uma redução significativa de casos
efetiva, aumentam o risco de óbito ou
relacionados a este patógeno. Tornando,
desenvolvimento de complicações.
desta forma, o Streptoccus pneumoniae
Meningite asséptica aguda é
o microrganismo de maior relevância
uma patologia geralmente causada por
(ROBBINS E CONTRAN 2005).
vírus,
PRATS, et al. (2012) afirma
sendo
autolimitadas.
Em
aproximadamente 70% dos casos pode
que, ameningite bacteriana (MB) ocorre
ser
mais em crianças sendo uma infecção
geralmente é o enterovírus. O não
grave do sistema nervoso central (SNC).
reconhecimento de organismos nessa
A
patologia designa sua nomenclatura,
vacinação,
antibioticoterapia
e
cuidado hospitalar adequado são fatores
identificado
sendo,
117
desta
o
patógeno,
forma,
um
que
termo
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
inadequado, porém clínico (ROBBINS
paciente
a
óbito,
E COTRAN, 2005).
hemorragia gástrica, em se tratando de
meningite
as
maior
Contudo a etiologia da meningite não
probabilidade em menores de cinco
pode ser especificada por exames
anos,
microbiológicos.
idades,
geralmente
benigno,
sendo
com
tem
seu
caracterizada
curso
etiologia
pela
A meningite viral ocorre em
todas
de
passando
bacteriana.
por
alterações neurológicas. Os surtos são
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
comuns, entretanto ocorrem também de
1. FAUSTO;
forma
os
Patologia – Bases Patológicas das
microorganismos que se destacam no
Doenças. Editora Elsevier, 5ª ed. Rio de
grupo de Enterovirus são Poliovírus,
Janeiro, 2005.
Echovírus
2. SHIEH, Huei H.; RAGAZZI, Selma
isolada,
e
no
os
qual
Coxsackievírus
(VRANJAC, 2006).
ABAS
e
KUMAR.
L. B. and GILIO, Alfredo E..Fatores
de risco para complicações neurológicas
e sequelas em meningite bacteriana
CONCLUSÃO
Conclui-se tratar de óbito natural
aguda em crianças. J. Pediatr. (Rio
por choque hipovolêmico em virtude da
J.) [online]. 2012, vol.88, n.2, pp. 184-
perda
186.
volumosa
de
sangue
pelo
estômago associada à presença de
3. PRATS,
inflamação. A meningite pode ser tanto
etal.Revisão sistemática do uso da
concomitante ao quadro de hemorragia
dexametasona como terapia adjuvante
gástrica, se tratando de meningite de
na
etiologia viral ou mesmo pode ser fator
crianças. Rev. paul. pediatr. [online].
precipitante de todo quadro que levou a
118
João
meningite
Antonio
bacteriana
G.
G.
em
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
2012, vol.30, n.4, pp. 586- 593. ISSN
0103-0582.
4. SCHOSSLER,
João
Stadler;
Sandra
BECK,
Guilherme
Trevisan;
CAMPOS, Marli MatikoAnraku de
and
FARINHA,
Lourdes
Boufleur.Incidência de meningite por
Haemophilus influenzae no RS 19992010:
impacto
da
cobertura
vacinal. Ciênc. saúde coletiva [online].
5. SECRETARIA DE ESTADO DA
SAUDE DE SAO PAULO. Divisão de
Doenças de Transmissão Respiratória,
do Centro de Vigilância Epidemiológica
"Prof.
Alexandre
Coordenadoria
Doenças e
LUTZ.
de
Vranjac",
Controle
INSTITUTO
Laboratório
de
ADOLFO
de
Vírus
Entéricos.Meningites virais. Rev. Saúde
Pública [online]. 2006, vol 4. pp. 748750. ISSN 0034-8910.
119
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
CASE REPORT
RELATO DE CASO: TROMBOEMBOLISMO PULMONAR
Izadora Fonseca Zaiden Soares1,Pedro Manuel Gonzalez Cuellar2
RESUMO
No presente relato, os autores descrevem um caso detromboembolismo
pulmonar em uma jovem de 26 anos com manifestações clínicas pulmonares e
cardiocirculatórias progressivas após desenvolver sinais e sintomas compatíveis com
trombose venosa profunda.A embolia pulmonar é a terceira causa de morte de etiologia
vascular no mundo. Apresenta espectro clínico variável, com casos assintomáticos e
casos com taquidispneia, taquicardia, dor torácica, hipotensão, síncope, choque e morte,
podendo simular várias doenças. Os casos suspeitos devem ser avaliados por escores de
probabilidade pré-teste que orientarão a investigação diagnóstica e a decisão
terapêutica. A anticoagulação é a pedra angular do tratamento. Em casos mais severos e
selecionados pode ser indicado trombólise.
Palavras-chave: Embolia Pulmonar. Tromboembolia Venosa. Trombose Venosa.
1
Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Tocantins. Email: [email protected]. Endereço: Quadra 204 Sul,
Alameda 03, Número 02, Plano Diretor Sul, CEP: 77020-502, Palmas, TO.
2
Médico Cirurgião Geral, Professor de Medicina na Universidade Federal do Tocantins.
120
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
CASE REPORT: PULMONARY EMBOLISM
ABSTRACT
In the present case report, the authors describe a case of pulmonary thromboembolism
in a 26-year-old girl with pulmonary and cardiocirculatory progressive clinical
manifestations after developing signs and symptoms compatible with deep venous
thrombosis. Pulmonary embolism is the third cause of death of vascular etiology in the
world. It presents variable clinical spectrum, with asymptomatic cases and cases with
tachydyspnea, tachycardia, chest pain, hypotension, syncope, shock and death, and can
simulate various diseases. Suspected cases should be evaluated by pre-test probability
scores that will guide the diagnostic investigation and the therapeutic decision.
Anticoagulation is the cornerstone of treatment. In more severe and selected cases
thrombolysis may be indicated.
Key-words:Pulmonary Embolism. Venous thromboembolism. Venous thrombosis.
121
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
do miocárdio (IAM) e do acidente
INTRODUÇÃO
vascular cerebral (AVC), e lidera as
Em condições fisiológicas, todo
causas de morte evitáveis em pacientes
o sangue corporal passa pela circulação
hospitalizados5. No Brasil, segundo o
pulmonar para ser oxigenado antes de
DataSus, computa-se cerca de 5 a 6 mil
atingir a circulação sistêmica. Desse
óbitos anuais por TEP. Sem tratamento,
modo, a malha vascular pulmonar
a
funciona como uma espécie de filtro
arterial
insolúvel,
por
atingir
30%,
mortalidade hospitalar média é de 7%6.
material
ocasionando
pode
enquanto que com anticoagulação a
que está susceptível a impactação e
obstrução
mortalidade
embolia
A ocorrência do primeiro
pulmonar. Na maioria dos casos, o
episódio de TEP apresenta frequência
material
trombo
similar no sexo masculino e feminino,
formado no sistema venoso profundo
exceto por um aumento na incidência
dos
(trombose
em mulheres jovens associada ao uso
venosa profunda – TVP), que se
de anticoncepção com estrogênio. Em
destaca de sua origem evoluindo com
relação a faixa etária, a incidência de
tromboembolismo
TEP dobra a cada década de vida.
insolúvel
membros
é
um
inferiores
pulmonar
(TEP)
quando o êmbolo atinge a circulação
Considerando
arterial pulmonar3. O TEP possui um
diferentes
espectro
clínicas
com brancos, ela é 20% maior em
variáveis de acordo com a carga
afrodescendentes e 33% menor em
embólica
asiáticos5.
de
manifestações
e
com
a
função
cardiorrespiratória basal do indivíduo,
podendo
ser
assintomático
sua
etnias,
Cerca
ou
pacientes
oligossintomático, ter sintomas severos
incidência
em
comparativamente
de
apresentam
25%
dos
TEP
não
provocado ou idiopático (sem fatores
ou até levar a morte súbita5. Por poder
de risco aparentes), 50% apresentam
simular várias doenças, seu diagnóstico
TEP provocado secundário a fatores de
pode passar despercebido, resultando
risco
em consequências nefastas.
temporários,
como
cirurgia
recente ou estrogenioterapia, 25% têm
O TEP é a terceira causa de
câncer e 50% dos episódios de TEP
estão associados com hospitalização5.
morte de etiologia vascular no mundo,
estando atrás apenas de infarto agudo
122
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Quando existe suspeita de TEP,
é
de
importância
magna
atendimento apresentou dor de início
avaliar
súbito em panturrilha direita seguida de
inicialmente a probabilidade pré-teste
formação de edema em pé direito, com
desse diagnóstico, o que irá orientar a
melhora em alguns dias após realizar
investigação complementar e a decisão
massagens
terapêutica6.
inflamatório não esteroidal. Depois,
pulmonares
jovem
e
com
uso
de
progressivamente
sintomas
apresentam um relato de caso de TEP
uma
fazer
desenvolveu
No presente artigo, os autores
em
e
respiratórios
anti-
os
e
cardiovasculares descritos.
sintomas
cardiocirculatórios
Referia ser previamente hígida,
progressivos após desenvolver sinais e
fazia
sintomas compatíveis com TVP. O caso
combinado oral (ACO) há 14 meses,
é
clínica,
praticava atividade física regularmente,
diversidade de sinais e sintomas e pelos
negava tabagismo, etilismo e outras
achados
comorbidades.
relevante
pela
história
significativos
nos
exames
complementares.
uso
de
anticoncepcional
Ao exame físico, apresentava-se
em regular estado geral, com fáceis de
ansiedade,
RELATO DO CASO
mucosas
hipocoradas
(1+/4+) e tinha sobrepeso (IMC= 28,36
Paciente,
CRC,
26
anos,
Kg/m2). Sinais Vitais: pressão arterial
feminino, branca, residente na zona
(PA)=
urbana de Paraíso do Tocantins (TO).
cardíaca (FC)= 125 bpm; frequência
Em outubro de 2016 foi admitida na
respiratória (FR)= 37 irpm; saturação de
Sala Vermelha do Hospital Geral de
oxigênio ao ar ambiente (SatO2)= 90% .
Palmas
(HGP)
com
queixa
de
110/70
Ao
mmHg;
exame
do
frequência
aparelho
taquidispneia, tosse seca, palpitação,
respiratório,
taquicardia, dor retroesternal e dor em
tiragem subcostal e retração de fúrcula.
queimação em face medial de coxa
Os murmúrios vesiculares estavam
direita há cerca de 30 dias, com piora
presentes bilateralmente na projeção
dos sintomas há 5 dias, quando iniciou
dos pulmões, sem ruídos adventícios.
também hipotensão postural e síncope.
Ao exame cardiovascular, apresentava
Relatava que há cerca de 30 dias do
taquicardia. Semiologia abdominal sem
123
apresentava
taquipneia,
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
alterações.
Os
simétricos,
sem
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
membrosestavam
edemas,
revelou presença de trombo em artérias
com
pulmonares bilateralmente (central e
panturrilhas livres. Apresentava dor à
segmentar), aumento de área cardíaca,
palpação de face medial de coxa direita,
aumento de ventrículo direito (VD) e
mais intensa em 1/3 superior, com
provável infarto pulmonar à esquerda
palpação de cordão venoso no local.
(figura
diagnóstica
foi
de
foi
profunda direita aumentado, paredes
parcialmente
pelo escore de Wells (7,5 pontos).
iniciado
também
evidenciou calibre de veia femoral
com alta probabilidade clínica de TEP
foi
TVP
venoso de membros inferiores que
TEP
secundário a TVP em membro inferior,
Assim,
A
confirmada pelo exame de ecodoppler
Diante do quadro, a principal
hipótese
1).
compressíveis,
eco
intraluminal parcialmente ecogênico,
imediato
trombo aderido à parede e fluxo
anticoagulação plena com heparina
diminuído.
não-fracionada (HNF, dose de ataque
de 80 U/Kg IV em bolus e manutenção
com 18 U/Kg/h) em bomba de infusão
contínua (BIC), controle de TTPA de
6/6h, oxigenioterapia com máscara
facial, e outras medidas de suporte,
Figura 1. Imagens de angio-TC de tórax da
como analgesia e hidratação venosa.
paciente, em corte axial, evidenciando falha de
enchimento
Ao eletrocardiograma (ECG),
em
artérias
pulmonares
bilateralmente e aumento de VD.
apresentava taquicardia sinusal, eixo
normal, inversão de onda T de V1-V4 e
em DIII e aVF, e padrão S1Q3T3. Na
O ecocardiograma transtorácico
radiografia de tórax a única alteração
mostrou insuficiência discreta de valva
identificada
tricúspide, aumento moderado de VD,
foi
aumento
de
área
pressão de VD de 75 mmHg e
cardíaca.
hipertensão pulmonar importante.
O diagnóstico de TEP foi
A paciente foi transferida para a
confirmado no 2o dia de internação com
Unidade de Terapia Intensiva. Foi
exame de tomografia computadorizada
cogitada a indicação de trombólise se
helicoidal (angio-TC) de tórax que
em nova reavaliação após 12 horas do
124
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
início da heparinização plena ela
suscita grande suspeição de um quadro
apresentasse
de TVP com sua principal, mais grave e
instabilidade
hemodinâmica.
paciente
Na
havia
reavaliação,
evoluído
intercorrências,
a
mais temida complicação, o TEP.
sem
O desenvolvimento da TVP
estava
requer a satisfação de uma tríade de
hemodinamicamente estável e os sinais
condições descrita pelo patologista
vitais haviam retornado aos limites
alemão Rudolf Virchow no século XIX.
fisiológicos.
Os componentes da tríade de Virchow
No 3o dia de internação, foi
adicionado
ao
tratamento
são: 1. lesão endotelial, 2. alteração do
um
fluxo
sanguíneo
e
anticoagulante via oral (warfarina 5
3.hipercoagulabilidade4. A gênese dos
mg/dia). A heparinização foi realizada
êmbolos que alcançam a circulação
até o 8o dia de internação, quando o
pulmonar são em cerca de 90% dos
INR
Normatizada
casos as veias profundas dos membros
Internacional) foi mantido entre 2-3.
inferiores, sendo que o risco de TEP é
Como a paciente apresentou melhora
maior quanto mais proximal for a
clínica progressiva, foi transferida para
topografia da TVP5. A paciente do caso
enfermaria e recebeu alta no 10o dia de
apresentava TVP proximal em membro
internação, com prescrição de warfarina
inferior
por
portanto, elevado risco de TEP. A
(Relação
no
mínimo
encaminhamento
6
para
meses,
e
seguimento
palpação
ambulatorial.
(veia
de
femoral
um
profunda),
cordão
venoso
endurecido na face medial da coxa
direita da paciente é um sinal clínico de
TVP e deve-se a tromboflebite6.
A dor torácica da paciente com
localização subesternal, simulando até
DISCUSSÃO DO CASO
A história de dor e edema em
uma síndrome coronariana aguda, é
membro inferior sucedida ao longo do
compatível com a presença de êmbolos
tempo por dispneia, taquipneia, tosse,
maiores e mais centrais na vasculatura
taquicardia, dor torácica e síncope em
pulmonar, como foi confirmado pela
uma paciente do sexo feminino em uso
angio-TC. Por outro lado, quando os
de ACO, como no caso em questão,
êmbolos pulmonares são pequenos, os
125
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
vasos ocluídos são menores, mais
culminando com aumento de fatores
periféricos e próximos a pleura, o que
pró-coagulantes, e redução de fatores
faz com que a dor torácica tenha
anticoagulantes.
característica pleurística. O sintoma de
dosagem de etinilestradiol no ACO,
síncope no contexto do TEP está
maior o risco de hipercoagulabilidade.
geralmente associado a disfunção de
Além do estrogênio, os progestágenos
VD, trombos proximais e/ou mais
são
extensos, e está relacionado a um maior
tromboembólicos, o que é influenciado
risco de morte precoce6.
também pelo tipo de progestágeno
causal
instalação súbita de oligoemia no
e
com
suspeita clínica de embolia pulmonar é
preciso estimar a probabilidade pré-teste
causar disfunção de VD. A grande
desse diagnóstico antes de solicitar
causa de óbito no TEP é o cor
exames
pulmonale agudo3. O ecocardiograma
de
VD
para
sua
investigação . Um dos escores mais
utilizado para esse fim é o Escore de
importante,
e
complementares
6
da paciente mostrou alterações como
disfunção
considera-se
Diante de qualquer paciente com
consequente
pulmonar
conhecido,
doenças autoimunes6.
hipertensão pulmonar aguda, que pode
hipertensão
eventos
inclui, por exemplo, trombofilias e
hipoperfundidas,
shunt direita esquerda intrapulmonar e
vasoespasmo,
nos
a
tromboembolia “não provocada”, o que
parênquima pulmonar originando áreas
ventiladas
corresponsáveis
maior
utilizado1. Quando não existe um fator
O êmbolo impactado provoca
bem
Quanto
Wells para TEP2 (tabela 1). Uma
insuficiência
pontuação de 0 a 1 significa baixa
tricúspide.
probabilidade
de
TEP,
2
a
6,
Quanto a etiopatogenia do TEP
probabilidade intermediária e ≥ 7, alta
no caso da paciente, o uso de ACO é
probabilidade. A paciente apresenta 7,5
considerado um fator de risco moderado
pontos nesse escore (FC > 100 bpm,
6
para embolia pulmonar , logo, poderia
sinais clínicos de TVP e diagnóstico
ser
trombofilia
alternativo menos provável que TEP),
adquirida pela terapia combinada de
portanto, foi classificada como alta
secundário
a
uma
5
estrogênio e progesterona . Sabe-se que
o
etinilestradiol
induz
probabilidade de TEP.
alterações
significativas no sistema de coagulação,
126
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
Na abordagem inicial, o Escore
Frequência cardíaca > 100/min
+1,
de Wells pode ser dicotomizado em
5
TEP improvável: escore ≤ 4; ou TEP
provável: escore > 4.
Cirurgia recente (últimas 4
Pacientes com
semanas) ou imobilização≥ 3 dias
escore ≤ 4 deverão ser submetidos à
dosagem do D-dímero, um produto da
degradação da fibrina do coágulo pela
enzima
plasmina,
componente
+1,
do
5
Sinais clínicos de TVP
+3
Diagnóstico alternativo menos
+3
provável que TEP
sistema fibrinolítico endógeno, que está
Hemoptise
+1
trombo no interior do organismo. Se o
Câncer (ativo ou término do
+1
D-dímero estiver abaixo do valor
tratamento < 6 meses)
normal no paciente com escore ≤ 4,
Baixa probabilidade
elevado todas as vezes que houver um
0a
TEP pode ser excluída com segurança e
1
sem a necessidade de realização de
Intermediária probabilidade
2a
exames de imagem adicionais. Em
pacientes com escore > 4 (suspeita
intermediária
ou
alta),
não
há
6
Alta probabilidade
≥7
a
necessidade de se solicitar a dosagem de
dímeros D, pois um valor normal não
Os
exclui TEP, sendo necessário prosseguir
a investigação2.
principais
exames
para
diagnóstico confirmatório de TEP são a
angio-TC de tórax com multidetectores,
exame de eleição para a maioria dos
Tabela 1 Escore de Wells para
pacientes; a cintilografia pulmonar
Tromboembolismo Pulmonar
ventilação-perfusão, útil no paciente
Critérios
Po
que não pode usar contraste na TC6; a
nto
ultrassonografia de veias de membros
s
inferiores, já que a presença de
trombose
TVP ou TEP prévios
nesse
local
permite
o
+1,
diagnóstico nosológico de TEP e o
5
respectivo tratamento2; e a arteriografia
127
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
pulmonar, a qual é o método padrão-
em razão da presença de um grande
ouro para o diagnóstico de TEP, porém
coágulo)3.
é um exame invasivo, com risco de
O ECG pode ser absolutamente
complicações graves6. A angio-TC da
normal ou apresentar alterações como:
paciente confirmou o diagnóstico de
TEP
com
envolvimento
taquicardia sinusal; inversão de onda T
arterial
anterosseptal (V1-V3 ou V4, mostrando
pulmonar bilateral, e a ultrassonografia
estresse de VD), inversão de onda T em
de veias de membros inferiores mostrou
DII, DIII e aVF; bloqueio de ramo
TVP em segmento femoral proximal.
Exames
inespecíficos
direito e/ou sobrecarga de câmaras
fazem
cardíacas; padrão S1Q3T3 (não é um
parte da rotina de avaliação geral de
achado
pacientes
atriais, sobretudo fibrilação atrial. O
com
queixas
patognomônico);
arritmias
cardiorrespiratórias. Eles não servem
ecocardiograma
para confirmar o diagnóstico de TEP,
anormalidades funcionais e estruturais
embora
ou
principalmente nas câmaras cardíacas
na
direitas e hipertensão pulmonar7.
possam
enfraquecer
medida
a
que
fortalecer
suspeita
apontam
clínica
para
outras
A
etiologias. A radiografia de tórax pode
hipoxemia
clínico-radiológica) ou pode mostrar
como
cardiomegalia. Achados clássicos de
embora
raramente
prática
clínica,
são:
Sinal
Corcova
de
o
proBNT,
na
sangue
arterial
e
D-dímero,
são
troponinas
BNP ou NT-
muito
úteis
na
estratificação de risco dos pacientes
de
com
Westermark (oligoemia focal distal ao
êmbolo),
no
cardioespecíficas e
exame,
observados
está
taquipneia)6. Marcadores bioquímicos
elevação de cúpula diafragmática e
nesse
arterial
hipocapnia (alcalose respiratória pela
atelectasias laminares, derrame pleural,
pulmonar
gasometria
revelar
normal em 40% dos casos. Pode haver
ser completamente normal (dissociação
embolia
pode
TEP
definido,
contudo,
são
insensíveis e inespecíficos
Hampton
Os
(consolidação em forma de cunha se
exames
complementares
estendendo até a pleura, que sugere
inespecíficos realizados pela paciente
infarto pulmonar), Sinal de Palla
fortaleceram a hipótese de TEP, com
(dilatação da artéria pulmonar direita
aumento de área cardíaca na radiografia
128
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
de tórax, ECG com taquicardia sinusal,
dose de 90 UI/kg a cada 12 h ou 190
inversão de onda T anterosseptal e em
UI/kg a cada 24 h, e a dalteparina na
DIII
dose de 120 UI/kg a cada 12 h ou 200
e
aVF,
padrão
S1Q3T3,
e
UI/kg a cada 24 h2.
ecocardiograma com dilatação de VD,
insuficiência tricúspide e hipertensão
O anticoagulante oral apenas
pulmonar.
No
deve ser começado após a confirmação
tratamento
a
diagnóstica de TEP. A dose inicial deve
não
ser de warfarina 5-10 mg/dia nos
fracionada (HNF) ou heparina de baixo
primeiros 3 dias, seguindo-se o ajuste
peso
é
de acordo com a RNI. Pode ser iniciado
recomendada para todos os pacientes,
em conjunto com as heparinas (HNF ou
se não houver contraindicações, com o
HBPM)
propósito de prevenir a extensão da
suspensasquando o RNI atingir o alvo
embolia, reduzir o risco de morte
entre 2 e 3, por pelo menos 24 h, e o
precoce e evitar a recorrência. Deve ter
tempo de sobreposição entre heparinas
início imediato para os pacientes
e anticoagulante oral for no mínimo 5
classificados como intermediária ou
dias2. A paciente do caso iniciou a
alta probabilidade clínica de TEP pelos
warfarina no 3o dia de tratamento,
escores de Wells, mesmo antes da
apenas após a confirmação de TEP. Ela
anticoagulação
do
TEP,
comheparina
molecular
(HBPM)
2
as
quais
poderão
ser
confirmação por um exame específico .
atingiu o INR alvo no 8o dia de
A HNF foi o tratamento escolhido para
internação, com 5 dias se sobreposição
a paciente do caso, ela deve ser
da HNF e da warfarina, quando então a
administrada em dose de ataque de 80
HNF foi suspensa.
UI/kg e dose de manutenção de 18
No paciente com alto risco de
UI/kg IV., preferencialmente em BIC,
morte precoce (hipotensão ou choque
ajustada a cada 6 h de acordo com o
por disfunção aguda grave de VD), a
valor de TTPa, visando atingir os
trombólise restaura a perfusão mais
valores alvos de TTPa entre 1,5 e 2,3
rapidamente do que a anticoagulação
vezes o controle. As HBPM mais
isoladamente. O Δt ideal para início do
utilizadas são enoxaparina na dose de 1
trombolítico é dentro de 48 horas do
mg/kg de peso a cada 12 h ou 1,5
início dos sintomas, mas a janela
mg/kg a cada 24 h, a nadroparina na
terapêutica é de até 14 dias. Os
129
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
[SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS]
principais trombolíticos disponíveis são
a causa reversível (ACO), foi orientada
o ativador plasminogênio tecidual (t-
a manter anticoagulação por no mínimo
PA), a estreptoquinase, a tenecteplase
6 meses.
(TNK) e a uroquinase6.
Para
Novos
pacientes
com
alternativos
anticoagulantes
à
warfarina
que
orais
não
contraindicação à anticoagulação plena,
necessitam de ajuste de dose de acordo
nos casos de falha terapêutica e como
com o coagulograma são os inibidores
profilaxia em pacientes de alto risco
do fator Xa, como o Endoxaban,
estão indicados os filtros de veia cava
Rivaroxaban e o Apixaban. Os dois
inferior6.
últimos
podem
ser
usados
em
monoterapia, sem a necessidade de
O tratamento anticoagulante de
anticoagulantes parenterais6.
longa duração com objetivo de impedir
a recorrência de TEP e a ocorrência de
TEP fatal é realizado na maioria dos
CONCLUSÃO
pacientes com o uso de warfarina,um
O caso apresentado ilustra a
inibidor dos fatores dependente de
vitamina
K,
sendo
necessária
importância
à
do
diagnóstico
e
dosagem repetida de RNI a fim de
tratamento precoce do TEP, oqual deve
manter o alvo de 2,5 (entre 2,0 e 3,0). O
ser sempre cogitado em pacientes com
tempo de anticoagulação deve ser
dispneia, taquipneia, dor torácica ou
sempre
hipotensão/choque. Os fatores de risco
individualizado
diante
do
contexto do paciente2. No TEP de causa
para
reversível
de
elementos da tríade de Virchow: lesão
anticoagulação deve ser de no mínimo
endotelial, alteração do fluxo sanguíneo
3 meses, no TEP idiopático o tempo
e hipercoagulabilidade.
corrigida
o
tempo
TVP/TEP
corroboram
os
também é no mínimo de 3 meses,
Todos os pacientes com suspeita
devendo ser avaliado a manutenção por
de TEP devem ser avaliados por
tempo
com
escores de probabilidade pré-teste. Os
TEP/TVP recorrentes ou associado a
exames complementares inespecíficos e
câncer ativo devem ser anticoagulados
específicos devem ser solicitados como
indefinido.
Pacientes
6
indefinidamente . A paciente do caso,
que poderia ter sofrido TEP secundário
130
Rev Pat Tocantins
V. 4, n. 01, 2017
estratégia
diagnóstica
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risco de morte, e em casos selecionados
3.
de paciente com risco intermediário-
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