SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS REVISTA DE PATOLOGIA DO TOCANTINS ISSN 2446-6492 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Vol. 4, Nº 01 Rev Pat Tocantins V.4, n. 01, 2017 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS CONTEÚDO MORTALIDADE PRECOCE POR DIABETES MELLITUS E FATORES DE RISCO EM PALMAS, TOCANTINS................................................................................................................1 RECORTE BIBLIOGRÁFICO DA PREVALÊNCIA E DIAGNÓSTICO DA ANEMIA FALCIFORME ...........................................................................................................................23 BRCA1, BRCA2, FAMÍLIA ALDH E ADH: GENES RELACIONADOS AO ETILISMO E AO CÂNCER DE MAMA FEMININO........................................................................................39 DESCRIÇÃO COMPARATIVA E ADAPTAÇÃO HISTOLÓGICA DOS FIOS CIRÚRGICOS: REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................65 NEOPLASIA MALIGNA "OSTEOSSARCOMA": UM ARTIGO DE REVISÃO................81 O MITO DA GASTRITE NERVOSA.....................................................................................89 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE HANSENÍASE TUBERCULOIDE NODULAR NA INFÂNCIA E LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA EM PACIENTE PEDIÁTRICO: UM CASO BREVE........................................................................................99 IXODÍASE REVELADO PELO EXAME DERMATOSCÓPIO: RELATO DE CASO......................................................................................................................................106 PACIENTE COM MENINGITE INESPECÍFICA EVOLUINDO A ÓBITO: RELATO DE CASO......................................................................................................................................111 RELATO DE CASO: TROMBOEMBOLISMO PULMONAR............................................120 Rev Pat Tocantins V.4, n. 01, 2017 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS APRESENTAÇÃO Criada em 2013, a Revista de patologia do Tocantins é um periódico quadrimestral, que publica resultados de investigação na área da saúde, artigos originais, revisões de literatura, casos clínicos ou relatos de casos, comunicações breves, cartas ao editor, editoriais, sobre uma grande variedade de temas de importância para ciência da saúde. EXPEDIENTE REVISTA DE PATOLOGIA DO TOCANTINS SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS (SPT) Editor Dr. Virgilio Ribeiro Guedes, Universidade Federal do Tocantins, Brasil Comissão editorial • Ana Maria Castro Morillo, Faculdade de Medicina Matanza, Cuba • Ângela MaríaCastañedaMuñoz, Faculdade de Medicina Matanza, Cuba • Arthur Alves Borges de Carvalho, ITPAC - Porto Nacional, Brasil • Danielle Rosa Evangelista, UFT - Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Edson de Garcia Soares, FMRP-USP – Universidade de São Paulo, Brasil • Gessi Carvalho de Araujo Santos, UFT - Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Guilherme Nobre Nascimento, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Jaqueline das Dores Dias Oliveira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • José Gerley Díaz Castro, UFT, Brasil • Kelly Cristina Gomes Alves, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Leila Rute O. Gurgel do Amaral, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Leonardo Rodrigo Baldaçara, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Maria Cristina da Silva Pranchevicius, Universidade Federal de São Carlos, Brasil • Marta Azevedo dos Santos, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • NeiltonAraujo de Olivera, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Poliana GuerrinoMarsonAscêncio, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Renata Junqueira Pereira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Sandra Maria Botelho Pinheiro, Universidade Federal do Tocantins, Brasil Rev Pat Tocantins V.4, n. 01, 2017 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS • Tales Alexandre Aversi-Ferreira, Universidade Federal do Tocantins, Brasil • Virgilio Ribeiro Guedes, Universidade Federal do Tocantins, Brasil SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS (SPT) Dr. Virgilio Ribeiro Guedes Presidente Dr. Mário de Souza Netto Vice-Presidente Dr. Arthur Alves Borges de Carvalho Tesoureiro Dra. Rosangela Francisco Alves Secretária NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista de Patologia do Tocantins é uma revista publicada quadrimenstralmente pela Sociedade de Patologia do Tocantins. A revista publica artigos originais, comunicações breves/short communications artigos de revisão/artigos de atualização (quando solicitados pelo Conselho Editorial), cartas ao editor e ensaios clínicos, em português, espanhol e inglês. A submissão de um manuscrito requer que este seja conciso e consistente no estilo, não tenha sido publicado anteriormente (exceto na forma de resumo) e que não esteja sendo considerado para publicação em outra revista. As idéias, os conceitos emitidos, a veracidade das informações e das citações são de responsabilidade exclusiva dos autores. Os manuscritos serão analisados por pelo menos dois pareceristas; a aprovação dos trabalhos será baseada no conteúdo científico e na apresentação. Os manuscritos que não estiverem de acordo com estas instruções serão devolvidos. O manuscrito (incluindo tabelas e referências) deve ser preparado em um software para edição de textos, com espaçamento duplo entre linhas, fonte Times New Roman tamanho 12 e paginado. As margens devem ser de pelo menos 3 cm e o tamanho do papel, A4 (210 mm x 297 mm). Para serem submetidos aos consultores, os artigos deverão ser enviados pelo email da revista [email protected]. Os autores devem apresentar também as tabelas, ilustrações e folha de rosto sob forma de documentos suplementares na mesma submissão. A folha de rosto deve apresentar o título em Rev Pat Tocantins V.4, n. 01, 2017 SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS português, o título em inglês, o nome completo de todos os autores, suas respectivas filiações institucionais, além de e-mail e endereço do autor para contato. O manuscrito deve conter título (com até 250 caracteres), título em inglês, resumo (com até 250 palavras), palavras-chave (entre três e seis, separadas por ponto), abstract e keywords. Os tópicos variam de acordo com o tipo do trabalho (artigo de revisão, artigo original e caso breve). Todos os tópicos devem conter texto, mesmo aqueles que se dividem em subtópicos. As palavras-chaves e seus respectivos keywords devem ser descritores existentes no DeCS-Bireme. As referências citadas no texto deverão ser apresentadas no último tópico, organizadas em ordem alfabética, segundo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a NBR 6023. Tabelas e ilustrações deverão ser inseridos no texto, sendo que os arquivos destes dois últimos devem ser enviados também como documentos suplementares no formato em que foram criados. Todas as ilustrações devem possuir legenda, citação no texto e estar em formato tiff ou jpg com resolução mínima 300dpi. As tabelas deverão seguir as normas do IBGE, ter preferencialmente 7,65 cm de largura e não deverão ultrapassar 16 cm. Ilustrações em cores podem ser submetidas, entretanto, caso publicadas, estas serão em tons de cinza. Mais informações, entrar em contato com: Prof. Virgílio Ribeiro Guedes (Editor) Plano Diretor Sul – Setor Sudoeste Quadra 306 Sul (ACSV- SE 32), Av. LO 05, Lote – 23, Loja Comercial, nº 01 Centro - Palmas – TO CEP: 77021-026. Tel. (63) 3213 2322 e-mail: [email protected]. Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] ORIGINAL ARTICLE MORTALIDADE PRECOCE POR DIABETES MELLITUS E FATORES DE RISCO EM PALMAS, TOCANTINS Larissa Moreira Galvão Bello1, Adélia Mascarenhas de Sousa Lima1, Kelly Cristina Gomes Alves1, Silvely Tiemi Kojo Sousa2, Andreza Domingos da Silva2 RESUMO Objetivos: Identificar os óbitos por Diabetes Mellitus e investigar os fatores de risco a partir dos prontuários de usuários das Unidades Básicas de Saúde de Palmas, Tocantins, no período de 2011 a 2013. Métodos: Trata-se de um estudo transversal e descritivo. Os dados foram coletados dos relatórios de óbitos por Diabetes Mellitus da Secretaria Municipal de Saúde ocorridos em 2011 a 2013 e dos prontuários. As variáveis utilizadas foram causa básica de óbito, idade, raça/cor, estado civil, escolaridade e sexo, realização de consulta médica no ano do óbito, índice de massa corporal, pressão arterial sistêmica, uso de medicamentos, exame físico e laboratorial, tabagismo, etilismo, sedentarismo, alimentação, visita domiciliar e ocupação. Foram determinadas a taxa de mortalidade e os fatores de riscos através do programa estatístico EpiInfo versão 7.0. Resultados: A taxa de mortalidade por Diabetes Mellitus aumentou 16,0% no período de estudo, com média no triênio de 7,6 óbitos por 100.000 habitantes, com 86,7% dos óbitos ocorridos na faixa etária entre 51 a 69 anos e a maioria em pessoas do sexo feminino, pardas, casadas e com 4 a 7 anos de estudos. Dos 21 prontuários dos óbitos ocorridos em 2013, apenas 7 foram recuperados, porém com falta de informações sobre os fatores de 1 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] risco. Conclusão: A mortalidade por Diabetes Mellitus apresentou incremento positivo no período e a falta de registro dos fatores de risco em prontuários requer a qualificação da longitudinalidade e a coordenação da atenção primária para o planejamento de ações preventivas e de promoção da saúde. Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Doenças crônicas. Atenção Primária à Saúde. Registros médicos. 2 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] EARLY MORTALITY FOR DIABETES MELLITUS AND RISK FACTORS IN PALMAS, TOCANTINS ABSTRACT Objective: To identify deaths from Diabetes mellitus and investigate the risk factors from the medical records of patients of the Basic Health Units of Palmas, Tocantins, in the period from 2011 to 2013. Methods: This is a cross-sectional descriptive study. Data were collected from death reports by Diabetes Mellitus of the Health Department that took place in 2011-2013 and its records. The variables used were the basic cause of death, age, race/color, marital status, education and gender, medical visits in the year of death, body mass index, blood pressure, medications, physical and laboratory examination, smoking, alcohol consumption, sedentary lifestyle, food, home visits and occupation. The mortality rate and risk factors were determined through the statistical program EpiInfo version 7.0. Results: The mortality rate for Diabetes mellitus increased 16.0% during the study period, with an average in the three years to 7.6 deaths per 100,000 inhabitants, with 86.7% of all deaths in the age group between 51-69 years and the majority in females, brown-skinned, married with 4 to 7 years of education. Of the 21 medical records with death occurrences in 2013, only 7 have been recovered, but with lack of information about the risk factors. Conclusion: Mortality from diabetes mellitus showed a positive growth during the study period and the lack of registration of risk factors in medical records requires longitudinal qualitative research and primary care coordination for planning of preventive actions and of health promotion. Keywords: Diabetes mellitus. chronic diseases. Primary Health Care. medical record. 3 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] INTRODUÇÃO Para o DM tipo 2, a idade e o O Brasil passou por uma transição histórico familiar patológico são os epidemiológica tardia, de natureza não- principais unidirecional modificáveis. Já o sobrepeso, o aumento denominada contra- fatores de não transição, na qual há coexistência de da doenças Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), as transmissíveis e crônico- circunferência risco degenerativas1. Observa-se o crescimento dislipidemias, das últimas devido o abdominal, sedentarismo a e o à urbanização, tabagismo são os fatores de risco sedentarismo, obesidade, alimentação modificáveis3. hipercalórica e hiperlipídica Para a prevenção e ("junk controle do DM tipo 2, são necessárias food"), estresse e envelhecimento, tendo mudanças no estilo de vida, como maior prevalência na população acima de nutrição adequada e prática de exercícios 40 anos, sendo estes os principais fatores físicos, a fim de que o índice de de risco para o Diabetes Mellitus (DM) sobrepeso decaia4. tipo 2. O DM tipo 2 é uma doença Quanto à epidemiologia do DM, a multifatorial, havendo o envolvimento de Federação Internacional do Diabetes5 fatores ambientais, indica que a prevalência mundial da efeitos doença em 2014 era de 387 milhões, metabólicos: resistência dos tecidos à correspondente a 8,3% da população ação da insulina e disfunção das células β mundial, sendo a China, Índia, Estados pancreática2. Unidos e Brasil os primeiros no ranking genéticos caracterizada por e dois dos 4 países com maior número de Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] diabéticos. Outro dado alarmante é que atribuindo essa queda à disponibilização 179 milhões ou quase metade do total de gratuita de medicação pelo SUS, o que pessoas com diabetes ainda não são não deve ser visto com tranquilidade, já diagnosticadas, sendo, portanto, maior o que o índice de mortalidade da doença risco de desenvolver complicações com continua alto. De acordo com a Federação maiores custos5,6. De acordo com a Internacional de Diabetes5, em 2014 Sociedade Brasileira de Diabetes7, em ocorreram 4,9 milhões de mortes no 2014, eram mundo, ocorrendo uma morte a cada sete diabéticos, totalizando 133,8 milhões de segundos em decorrência do diabetes. O adultos (20 a 79 anos), dos quais 11,6 número de óbitos no Brasil em 2013, foi milhões possuem a doença. Segundo A de 124.687 entre 20 e 79 anos. Nessa Política Nacional da Atenção Básica mesma faixa etária, a morte por diabetes (PNAB) do Ministério da Saúde8, o maior em percentual de diabéticos está na cidade de corresponde a um decréscimo de 6,65%7. 8,7% dos brasileiros São Paulo (9,3%), seguido de Curitiba 2014 foi de 116.383, o que É importante ressaltar que o DM (8,4%), Natal (8%) e Porto Alegre (8%), não com os menores índices em Palmas morbidades, tais como: complicações (4,3%), Macapá (4,9%), Manaus (4,9%) e macrovasculares (infarto do miocárdio, Porto Velho (5%). Ainda, aponta que o insuficiência vascular renal, acidentes número de internações por diabetes no vasculares SUS caiu 17,4%, passando de 172,1 mil retinopatia2. O estudo epidemiológico do em 2010, para 142,1 mil em 2012, DM é indispensável para se criar políticas 5 tratado pode encefálicos), gerar severas nefropatia e Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] de saúde pública eficazes, tendo em vista Tendo em vista a necessidade de o alarmante crescimento do DM tipo 2, realização de análises da situação de correspondendo a mais de 90% do total saúde, vigilância e monitoramento dos de diabetes9, que atinge populações cada fatores de risco das Doenças Crônicas vez mais jovens, fazendo-se necessário Não Transmissíveis (DCNT), bem como preveni-lo10. o planejamento das ações de promoção da Palmas foi planejada para ser a saúde e fortalecimento das Redes de capital do Tocantins e é a mais nova do Atenção à Saúde (RAS), o objetivo deste país11. Possui 90 estabelecimentos de estudo é identificar os óbitos por DM e saúde do SUS e de acordo com o Sistema investigar os fatores de risco a partir de de Informação da Atenção Básica (SIAB), análises em prontuários das Unidades Básicas de 2013, 36.963 cadastrados, porém, diabéticos foram apenas 32.943 dos registros contidos nos Saúde (UBS) de Palmas, Tocantins. possuem acompanhamento médico. Em 2013, houve 16.889 pessoas com DM MÉTODOS atendidas nos estabelecimentos do SUS, Trata-se de um estudo transversal, com registros de 76 internações por descritivo, de casos de mortalidade complicações do diabetes no município prematura por DM e seus fatores de risco de Palmas nesse período. Em 2011, que ocorreram no município de Palmas, apenas Tocantins, no triênio de 2011 a 2013. Faz 56 internações foram contabilizadas12. parte do projeto intitulado “Mortalidade por 6 Doenças Crônicas Não Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Transmissíveis e seus Determinantes dos relatórios de óbitos da Secretaria Sociais de Saúde em Palmas, Tocantins, Municipal de Saúde de Palmas, após as no período de 2011 a 2013”, financiado Declarações de Óbito (DO) terem sido com bolsas de estudo e pesquisa pelo previamente digitadas na base nacional do Ministério da Saúde, em parceria com o SIM13. Foram selecionados os casos de Ministério da Educação, por meio do óbitos por Diabetes Mellitus (E10-E14), Programa de Educação pelo Trabalho conforme a 10ª Revisão da Classificação para a Saúde – Vigilância em Saúde Internacional (PET-SAÚDE/VS). No projeto macro descritos no campo “Causa Básica” do foram de relatório de óbitos. Os dados sobre a mortalidade pelos quatro grandes grupos anamnese dos usuários dos serviços de causas de óbito por DCNT: Doenças do saúde Aparelho Circulatório, Diabetes Mellitus, coletados dos prontuários cujos óbitos Doenças do Aparelho Respiratório e ocorreram apenas em 2013. Prontuários Neoplasias. Este estudo é um recorte do não localizados ou com informações em projeto, onde foram investigados os branco foram excluídos da análise. pesquisados os índices óbitos por DM a partir da análise do Sistema de Informações das ofertados As Doenças pela variáveis (CID-10) UBS coletadas foram dos sobre relatórios dos óbitos para a análise foram: Mortalidade (SIM) e dos prontuários de causa básica de óbito, idade, raça/cor, Unidades Básicas de Saúde (UBS). estado civil, escolaridade e sexo. As Os dados sobre os óbitos por DM variáveis e fatores de risco foram coletados a partir coletadas dos prontuários foram: realização de consulta médica no 7 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] ano do óbito, índice de massa corporal sendo as prováveis causas: o fato da UBS (IMC), pressão arterial sistêmica (PA), estar em reforma e os prontuários estarem registros sobre uso de medicamentos para em outro local provisório; o usuário DM, laboratorial, escolheu uma UBS mais longe de sua sedentarismo, casa, mudou de endereço ou não utiliza os alimentação, visita domiciliar e ocupação. serviços da UBS; construção de uma UBS Para determinar a taxa de mortalidade foi nova em outra área de abrangência; utilizado por transição de prontuário físico para o DM/população residente em Palmas, eletrônico, acarretando o arquivamento do multiplicado por 100.000 habitantes, e a prontuário e impossibilitando o acesso média do triênio. Para as demais variáveis dos pesquisadores. foi determinada a frequência e a média do O presente projeto foi aprovado pelo Comitê triênio. de Ética em Pesquisa da Universidade exame tabagismo, físico e etilismo, o Foi número de utilizado óbitos o programa Federal do Tocantins sob o parecer nº estatístico EpiInfo versão 7.014. 016/2015 e foi financiado com bolsas de Os prontuários selecionados de estudo e pesquisa pelo Ministério da todos os casos de óbitos por DM Saúde, em parceria com o Ministério da ocorridos em 2013 foram localizados pelo Educação, por meio do Programa de endereço da UBS mais próxima ao Educação pelo Trabalho para a Saúde – endereço descrito no relatório de óbitos Vigilância em Saúde (PET-SAÚDE/VS). para cada caso. Durante a coleta dessas informações, foi constatado que alguns RESULTADOS prontuários não puderam ser localizados, 8 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] O número absoluto de óbitos por 44,6%, seguido de viúvo com 16,1%. A DM ocorridos no período de estudo foi de escolaridade mais frequente foi entre 4 a 16, 19 e 21, com taxas de mortalidade 7 anos de estudos com média de 26,8% e crescentes iguais a 6,8, 7,8 e 8,1 a menos frequente foi nenhuma e 12 anos óbitos/100.000 habitantes, e mais de estudos com médias iguais de respectivamente, e com média de 7,6 5,4%. O número de óbitos segundo o óbitos/100.000 habitantes, como descrito sexo apresentou maior prevalência no na tabela 1. feminino correspondendo Conforme resultados da Tabela 2, e 73,7% tomando novo a média para o triênio apresentou 42,9% entre 30 a 50 anos, 40,6% entre 51 a 60 para o sexo masculino e 57,1% para o anos e 46,1% em maiores de 61 anos de feminino. idade. Em relação a raça/cor dos óbitos, a Os dados encontrados através da designação parda e branca obtiveram e 62,5% 2012, foi mais prevalente, chegando a 61,9%. Já a análise por faixa etária igual a 13,4% 55,4% a e panorama em 2013, quando o masculino ocorridos no triênio foi de 56 anos, sendo de 2011 respectivamente, a média de idade de todos óbitos médias em investigação 21,4%, dos prontuários (representado pela letra P) para os fatores respectivamente, sendo que 14% dos de risco dos usuários/pacientes dos casos não possuíam informação sobre serviços essa variável. O estado civil casado foi o demonstram mais frequente e correspondeu a média de ofertados que pelas um número UBS de prontuários encontrados foi extremamente 9 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] baixo. Dos 21 óbitos ocorridos em 2013, quanto aos hábitos e estilo de vida do apenas 7 prontuários foram encontrados paciente ao tabagismo, nas UBS, o que corresponde a 33,3%. sedentarismo e alimentação. Dentre os Nota-se prontuários analisados, todos continham que dos 7 prontuários em relação encontrados, 100% continham algum tipo algumas informações de registro de saúde, ou seja, não havia anamnese, com 42,8% informando a prontuários em branco, conforme Tabela ocupação profissional do paciente, 28,5% 3. Ainda, dos 7 prontuários, dois (28,5%) com registro de visitas domiciliares por continham registros de IMC, sendo um profissionais da UBS e 85,7% continham com peso normal e os demais com informações pertinentes sobre outras co- sobrepeso. Mesmo não havendo o registro morbidades (hipertensão, do IMC em cinco prontuários, dois desses nefrolitíase, broncopneumonia, (P5 e P6) continham a descrição de que o diabético, cegueira, e deficiente função paciente era obeso. Além disso, 85,7% renal), bem como registro de alergias, dos prontuários continham o registro de vacinas, PA, 85,7% relatavam os medicamentos dependência de insulina e obesidade. amputação colhidas de na dengue, pé pododáctilo, prescritos e de uso do usuário, 71,4% dos Na tabela 4, em 85,7% dos prontuários continham a anotação dos prontuários foi identificado o registro da exames solicitados com seus respectivos PA, 57,1% dos pacientes diabéticos que resultados, de foram a óbito em 2013 possuíam HAS e consulta no ano do óbito (2013). Não apenas 14,2% possuíam registro de havia histórico familiar. 28,5% nehuma com registro informação registrada 10 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Foi identificado um incremento de 16,0% na taxa de mortalidade por DM em DISCUSSÃO Este estudo apresenta algumas 2013 em relação à 2011, o que identifica limitações em relação à análise dos a necessidade de medidas de prevenção prontuários, em decorrência da baixa da doença e de promoção da saúde para qualidade de informações registradas nos controle e redução destes índices na mesmos de população do município de Palmas, informações incompletas dos usuários, Tocantins. Todos os óbitos ocorreram letras ilegíveis dos profissionais em geral, precocemente, antes da pessoa completar dificuldades de encontrar prontuários nas 70 anos de idade, desses, 86,7% na faixa UBS, do etária entre 51 a 69 anos e 13,3% entre 30 cadastro do paciente quando há mudança e 50 anos de idade, e a maioria ocorreu de endereço e transferência para outra em pessoas do sexo feminino, pardas, UBS, poucos registros de fatores de risco casadas, seguidas das pessoas viúvas, e para DCNT, falta de registro daqueles com 4 a 7 anos de estudos. como: problemas preenchimento de localização com DM que não utilizam os serviços da Considerando que em Palmas há UBS. Além disso, o recorte metodológico poucos estudos que avaliam o perfil do estudo impossibilitou descobrir se os sócio-econômico casos de óbitos utilizavam somente os usários/pacientes com DCNT, há estudos serviços do SUS ou algum serviço realizados privado de assistência à saúde, resultando corroboram com os resultados do perfil na não existência do prontuário na UBS. dos óbitos por diabetes mellitus neste 11 em e demográfico outras capitais dos que Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] estudo. Um estudo com residentes de predominantemente no sexo feminino, Cuiabá, Mato Grosso, apresentou uma com média de 59 anos, sendo 71,4% prevalência de 58,8% para DM tipo 2, dessas sedentárias. Ainda, 25,3% dos dentre os quais, mais de 80% eram usuários possuiam mais de 45 anos de hipertensos, a maior proporção era de idade, 53,7% não comiam frutas/verduras mulheres, nascidas no Estado, com baixa diariamente, 59,7% estavam acima do escolaridade e idade igual e maior de 40 peso anos. Os fatores de risco mais relatados hipertensivos, 83,3% eram sedentários e foram 47% apresentaram história familiar de sobrepeso, sedentarismo antecedentes e familiares 12,9% diabetes. Os faziam uso autores de anti- encontraram cardiovasculares15. Semelhante a estudo associação significante entre o risco para realizado em Cuba, com dados da desenvolver DM como IMC, alimentação, Atenção Primária à Saúde, os fatores de uso risco mais prevalentes no DM foram familiar, sexo feminino e idade. de anti-hipertensivos, história alimentação inadequada (86,1%), seguida Nesta pesquisa constatou-se que de peso elevado (80,2%), circunferência 57,1% dos pacientes diabéticos que foram abdominal aumentada (74,8%) e falta de a óbito em 2013 possuíam HAS e 85,7% atividade física (66,3%)23. dos prontuários continham a anotação da Marinho et. al.18, em estudo PA denotando um maior cuidado por realizado entre os usuários da Estratégia parte Saúde da Família na Região Nordeste do monitoramento desse dado nos pacientes Brasil, identificou a prevalência de DM diabéticos. Rodrigues et. al.4 constatou 12 dos médicos em relação ao Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] que a HAS ocorreu em 77,1% dos chances para desenvolver DM tipo 2 entre usuários cadastradas com DM tipo 2, indivíduos com sobrepeso foram 1,35 desses, (p<0,001) e obesos 2,5 (p<0,016)20. o tratamento medicamentoso predominou em 95,7%, e 74,3% informou É inegável que o sedentarismo é realizar dieta. O registro mais frequente diretamente proporcional ao risco de de co-morbidade ou de fator de risco no desenvolver DM tipo 2. De acordo com o DM tipo 2 é a HAS identificada como a estudo de Rodrigues et. al.4 um número principal afecção associada ao Diabetes. significativo dos entrevistados portadores O IMC é um parâmetro que de DM tipo 2 (71,4%) declararam-se verifica se o indivíduo possui um peso sedentários, sendo que a alta prevalência adequado, assim como sobrepeso ou do sedentarismo está relacionada aos obesidade. É de grande relevância que tempos modernos e segue uma tendência tanto o IMC quanto a circunferência mundial. Segundo Hu et. al.21, apenas abdominal, a qual não consta em nenhum 40% da população global obedecem à dos prontuários encontrados neste estudo, recomendação mínima de 30 minutos estejam diários de atividade física de intensidade devidamente principalmente diabético, comprovam se o visto que registrados paciente que o moderada. for Para a qualidade de vida futura, é pesquisas aumento importante a modificação de hábitos da de pacientes diabéticos4. prevalência daqueles com alto risco para alimentares DM foi diretamente proporcional ao Pesquisas em relação à alimentação, aumento do IMC19. Além disso, as afirmam que elevada ingestão de cereais 13 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] com fibra e gorduras poliinsaturadas está tipo 2 visando a prevenção da doença e vinculada a um risco remoto de diabetes, alteração de fatores de risco modificáveis. enquanto o consumo de gorduras trans e Wilson e Meigs20, constatam que a carboidratos refinados estão associados a associação de um fator de risco não uma maior chance de desenvolver a modificável a um modificável, como o doença22. excesso de peso concomitante com história familiar de DM, teve 1,76 vezes O registro do histórico familiar mais chance de desenvolver a doença. encontrado nesta pesquisa se deu em 14% dos prontuários. No único prontuário em Outro estudo16 coletou dados a que havia os antecedentes familiares foi partir de consulta direta dos prontuários relatado que a mãe da paciente possuía dos pacientes de registros para cuidados diabetes. A literatura aponta que os prestados em quatro municípios do indivíduos com história familiar de DM Estado do Rio de Janeiro, onde verificou- tipo de se a complexidade de atributos relativos à apresentar desordens metabólicas, dentre identificação dos usuários atendidos e as elas o próprio Diabetes23. O estudo de características Rodrigues et. al.4, mostra que quase atendimento (como peso, pressão arterial, metade colpocitologia e glicemia) nos prontuários 2 apresentam dos maior entrevistados risco (42,9%) de Esse resultado indica que é necessário hipertensas realizar um acompanhamento de todos os também baixa presença de atributos membros da família com casos de DM sociais e apenas metade dos prontuários diabéticas. 19 de de e acima processo referiram história familiar de DM tipo 2. 14 mulheres do anos, Identificou Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] possuía registros da data de abertura da relacionados às DCNT e ao óbito primeira de prematuro por essas causas, implicando, de possivelmente, na falta de planejamento atendimento em mulheres, hipertensas e adequado de ações que possibilitem a diabéticas, ficaram longe das proposições redução do Ministério da Saúde. Donabedian17 promoção da saúde. Assim, é possível assevera que os registros médicos são identificar a precariedade da coordenação essenciais para indicar como se dá o da atenção através dos registros da processo de trabalho e a qualidade desses história clinica dos usuários/pacientes nos registros devem ser representações da prontuários, que é um atributo essencial qualidade da assistência prestada. A baixa da Atenção Primária à Saúde (APS), em presença de registro de características do especial, à prática clínica e ao cuidado processo de atendimento, como peso, prestado pelas UBS, o que coaduna com o altura, IMC, pressão arterial ou glicemia documento da OPAS para os Cuidados indica dificuldades na continuidade da Inovadores para as Condições Crônicas24. consulta. características Os do registros processo desses fatores de risco e prestação do cuidado. Nesta pesquisa, a falta de registros dos fatores de dos O diabetes por ser considerado algo uma das principais doenças crônicas que os afetam o mundo moderno instiga o profissionais de saúde das UBS não conhecimento de sua magnitude, em que evidenciam se faz necessário um maior investimento usuários/pacientes problemático, com pois tais risco CONCLUSÃO DM sugere fatores é que como 15 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] em serviços de APS, além de informação de promoção da saúde para a redução das e educação em saúde. co-morbidades e da morbi-mortalidade A taxa de mortalidade por DM em Palmas por DCNT, em especial o DM tipo 2 em teve incremento de 16,0% em 2013 em Palmas, Tocantins. relação à 2011 e o registro dos fatores de risco nos prontuários recuperados dos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS casos de óbitos é precário. Isso é motivo 1. Frenk J et al. 1991. La transición de alerta e cabe aos serviços de APS epidemiológica maiores investimentos na qualificação da Latina. Boletín de la Oficina Sanitaria informação, no levantamento e registro Panamericana 111(6):485-496. dos fatores de risco para o planejamento das ações, com intensificação do Patológicas das doenças; 8ª Edição. 3. Cercato C, Mancini MC, Arguello tratamento adequado da doença, a fim de AMC, Passos VQ, Villares SMF, evitar crônicas, Halpern A, Systemic Hypertension, fortalecendo a longitudinalidade e a Diabetes Mellitus, And Dyslipidemia coordenação da atenção para aumentar a in relation to Body Mass Index: sobrevida e melhorar a qualidade de vida evaluation of a brazilian population, do diabético. Rev.Hosp. Clín. Fac. Med. S. Paulo, complicações manejo Rio de Janeiro: Elsevie, 2010. e as alimentar, América 2. Robbins & Cotran; Patologia: Bases incentivo a prática de atividade física, reeducação en Diante disso, esta pesquisa aponta 59(3):113-118, 2004. para a necessidade de ações preventivas e 4. Rodrigues DF, Brito GEG, Sousa 16 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] NM, Rufino TMS, Carvalho TD. abr. 15. Prevalence of Risk Factors and 8. Brasil. Ministério da Saúde. Política Complications of Type 2 Diabetes Nacional Mellitus in Users of a Family Health Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Unit. R bras ci Saúde 15(3):277-286, 9. Coronho 2011. de V Atenção et al. Básica. Tratado de endocrinologia e cirurgia endócrina. 5. International Diabetes Federation. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, IDF Diabetes Atlas, sixth edition, 2014. Disponível 2001. em: 10. Pinhas- Hamiel O, Zeitler P: Acute http://www.idf.org/diabetesatlas. and chronic complications of type 2 Acesso em: 16 abr. 15. diabetes mellitus in children and 6. Kruk, Margaret E.; Nigenda, Gustavo; Knaul, Felicia Redesigning 11. Instituto Brasileiro de Geografia e Primary Care to Tackle the Global Estatística. Situação de saúde em Epidemic Noncommunicable Palmas–TO, 2010. Disponível em: Disease. American Journal of Public <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/tema Health, Vol 105, No. 3. March 2015. s.php?lang=&codmun=172100&idte of M. adolescents. Lancet 369:1823, 2007 7. Sociedade Brasileira de Diabetes. ma=5&search=tocantins|palmas|servic Atlas do diabetes 2014- atualização, os-de-saude-2009>. 6ª 16abr.2015. edição. Disponível em: Acesso em http://www.diabetes.org.br/images/pd 12. Sistema de Informação da Atenção f/Atlas-IDF-2014.pdf. Acesso em: 16 Básica. Informações estatísticas de 17 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Palmas –TO, 2013 e 2011. Disponível 14. Centers for Disease Control and em: Prevention (CDC). Epi Info™ 7.1.5. http://www2.datasus.gov.br/SIAB/ind Disponível ex.php?area=04. Acesso em 16 abr. http://wwwn.cdc.gov/epiinfo/7/ >. 15. 15. Ferreira 13. Palmas. Secretaria da Saúde, Diretoria em: CLR Características A, < Ferreira epidemiológicas MG. de de Vigilância em Saúde, Gerência de pacientes diabéticos da rede pública Vigilância Epidemiológica, Sistema de saúde – análise a partir do sistema de Informação de Mortalidade (SIM), HiperDia. Arq Bras endocrinol metab. 2014. 2009;53/1. 16. Vasconcellos MM et al. Registros em 74, 2013. saúde: avaliação da qualidade do 19. Wilson PWF, Meigs JB. Risk of type prontuário do paciente na atenção 2 diabetes mellitus and coronary heart básica, Rio de Janeiro, Brasil. Cad. disease: a pivotal role for metabolic Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24 Sup factors. Eur Heart J. 2008; 10 Suppl 1:S173-S182, 2008. B: 11-5. 20. Organização 17. Donabedian A. The quality of care. Pan- Americana How can it be assessed? JAMA 1988; Saúde. 260:1743-8. degenerativas e obesidade: estratégia mellitus and crônico- mundial sobre alimentação saudável, 18. Marinho N et al. Risk for type 2 diabetes Doenças de associated atividade física e saúde - Brasília: factors. Acta Paul Enferm; 26(6):569- 2003. 18 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] 21. Hu FB, Manson JE, Stampfer MJ, ambulatorial. Rev Assoc Med Bras, Colditz E, Liu S, Solomon CG, 50(3): 663-667, 2004. Willett WC. Diet, lifestyle, and the 23. Naranjo AA, Rodriguez AY, Llera risk of type 2 Diabetes Mellitus in RE, Aroche R. Diabetes risk in a women. N Engl J Med, 345(11):790- cuban primary care setting in persons 797, 2001. with no known glucose abnormalities. Medicc Review. 2013;15(2):16 22. Scheffel RS, Bortolanza D, Weber CS, Costa LA, Canani LH, Santos 24. Organización Panamericana de la KG, Crispim D, Roisenberg I, Lisbôa Salud (OPAS). Cuidados innovadores HRK, Tres GS, Tschiede B, Gross JL, para Prevalência de complicações micro e Organización y prestación de atención macrovasculares e de seus fatores de de alta calidad a las enfermedades risco em pacientes com Diabetes crónicas no transmisibles en las Melito do tipo 2 em atendimento Américas. Washington, DC. 2013. 19 las condiciones crónicas: Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] TABELAS Tabela 1: Taxa de mortalidade por Diabetes Mellitus, Palmas, Tocantins, 2011 a 2013. Variáveis 2011 2012 2013 Média do Triênio Número de óbitos 16 19 21 18,7 Taxa de mortalidade* 6,8 7,8 8,1 7,6 Fonte: Relatórios de óbitos da Secretaria Municipal de Saúde de Palmas, Sistema de Informações sobre Mortalidade. (*) Taxa de mortalidade calculada por 100.000 habitantes. 20 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Tabela 2: Mortalidade por Diabetes Mellitus e fatores de risco em Palmas, Tocantins, 2011 a 2013. Variáveis 2011 2012 2013 Média Sexo n % n % n % n % Masculino 6 37,5 5 26,3 13 61,9 8,0 42,9 Feminino 10 62,5 14 73,7 8 38,1 10,7 57,1 Faixa Etária 30 a 50 anos 1 6,3 1 5,3 6 28,6 2,7 13,3 51 a 60 anos 10 62,5 4 21,1 8 38,1 7,3 40,6 61 anos e mais 5 31,3 14 73,7 7 33,3 8,7 46,1 Raça/Cor Branca 3 18,8 6 31,6 3 14,3 4,0 21,4 Preta 2 12,5 3 15,8 1 4,8 2,0 10,7 Amarela 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0,0 0,0 Parda 9 56,3 8 42,1 14 66,7 10,3 55,4 Indígena 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0,0 0,0 Missing* 2 12,5 2 10,5 3 14,3 2,3 12,5 Estado Civil Solteiro 1 6,3 2 10,5 5 23,8 2,7 14,3 Casado 6 37,5 8 42,1 11 52,4 8,3 44,6 Viúvo 4 25,0 4 21,1 1 4,8 3,0 16,1 Separado/Divorciado 1 6,3 0 0,0 1 4,8 0,7 3,6 União Estável 1 6,3 5 26,3 1 4,8 2,3 12,5 Ignorado 0 0,0 0 0,0 1 4,8 0,3 1,8 Missing* 3 18,8 0 0,0 1 4,8 1,3 7,1 Escolaridade Nenhuma 3 18,8 0 0,0 0 0,0 1,0 5,4 1 a 3 anos de estudos 0 0,0 7 36,8 4 19,0 3,7 19,6 4 a 7 anos de estudos 3 18,8 5 26,3 7 33,3 5,0 26,8 8 a 11 anos de estudos 4 25,0 3 15,8 2 9,5 3,0 16,1 12 anos e mais de estudos 1 6,3 1 5,3 1 4,8 1,0 5,4 Ignorado 0 0,0 1 5,3 0 0,0 0,3 1,8 Missing* 5 31,3 2 10,5 7 33,3 4,7 25,0 16 28,6 19 33,9 21 37,5 18,7 100 Total de óbitos Fonte: Relatórios de óbitos da Secretaria Municipal de Saúde de Palmas, Sistema de Informações sobre Mortalidade. (*) Missing: dados em branco. 21 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Tabela 3: Investigação das informações registradas nos prontuários das Unidades Básicas de Saúde dos casos de óbitos por Diabetes Mellitus em Palmas, Tocantins, 2013. Variáveis Total de óbitos ocorridos em 2013 Prontuários encontrados Prontuários preenchidos Registro de informações IMC PA Exames Medicamento Consultas em 2013 Etilista Tabagista Sedentarismo Alimentação Anamnese Visita domiciliar Ocupação Outros Total de prontuários analisados Fonte: Prontuários de usuários das UBS. n 21 7 7 % 37,5 33,3 100 2 6 5 6 2 Não há registro Não há registro Não há registro Não há registro 7 2 3 6 7 28,6 85,7 71,4 85,7 28,6 0 0 0 0 100 28,6 42,9 85,7 100 Tabela 4: Análise dos registros de PA e histórico familiar nos prontuários encontrados nas UBS dos casos de óbito por Diabetes Mellitus em Palmas, Tocantins, 2013. Prontuários PA 1 110x70 2 180x120 3 110x80 4 180x90 5 200x 160 6 170x100 7 Não há registro Fonte: Prontuários de usuários das UBS. Histórico familiar Mãe diabética e hipertensa Não há registro Não há registro Não há registro Não há registro Não há registro Não há registro 22 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] REVIEW ARTICLE RECORTE BIBLIOGRÁFICO DA PREVALÊNCIA E DIAGNÓSTICO DA ANEMIA FALCIFORME DOUGLAS DANTAS RODRIGUES1, KARYNA FERNANDES DE FREITAS2, LIBERTA LAMARTA FAVORITO1, 2, RODRIGO SOARES SILVA2 RESUMO A anemia falciforme é uma doença hereditária predominante em negros, caracterizada por uma mutação que ocorre no sexto códon do cromossomo onze da cadeia beta. Nesse processo ocorre uma troca das bases nitrogenadas do DNA, onde a Adenina e substituída pela Timina. Esta patologia está relacionada em duas partes, a primeira envolve a anemia falciforme, e a outra se refere ao traço falcêmico. Como método de pesquisa foi utilizado revistas, artigos e livros. O objetivo desse trabalho é informar a população sobre a patologia através de um recorte bibliográfico da prevalência e o diagnóstico da anemia falciforme. Palavras-chaves: Anemia Falciforme. Diagnósticos Laboratoriais. Prevalência. 1 professor adjunto do curso de biomedicina IESC-FAG; 2 aluno do curso de biomedicina IESC-FAG 23 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] BIBLIOGRAPHIC CUTTING OF PREVALENCE AND DIAGNOSTICS OF SICKLE CELL ANEMIA ABSTRACT Sickle cell disease is a hereditary disease prevalent among black people, characterized by a mutation that occurs in the sixth codon of chromosome eleven. In this process, there is an exchange of nitrogenous bases of DNA, where one thymine was replaced by adenine. This disease is relate in two parts, the first is involve with a sickle cell disease, and the other refers to the sickle cell trait. As a research method, it was used journals, articles and books. The objective was to inform the population about the disease through a bibliographic cut the prevalence and diagnosis of sickle cell anemia. Keywords: sickle cell disease, Laboratory diagnostics, Prevalence 24 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] A AF pode ser encontrada em INTRODUÇÃO A anemia falciforme (AF) é uma todos os continentes, com um destaque doença hereditária predominante em para negros caracterizada por uma mutação falciforme é prevalente no Brasil devido de sentido trocado no sexto códon do à alta prevalência de afro descendente gene da hemoglobina presente no que cromossomo onze, onde o códon GAG (SILVA; GIOVELLI, 2010) é substituído pelo códon GTG, o que África e constitui Um Índia. parte dos A da população. primeiros relacionados pela valina na molécula de hemoglobina foram descritos por Herrick em 1910. beta, resultando em uma hemoglobina Ao estudar o sangue periférico de um com físico-química estudante negro proveniente da Jamaica, alterada conhecida como hemoglobina S que era portador de uma anemia severa (HbS). (FERRAZ et al., 2007) com complicações pulmonares, icterícia A AF ocorre quando uma pessoa e úlcera nos os estudos leva a uma troca do ácido glutâmico propriedades sobre anemia drepanócitos membros inferiores, é homozigota para o gene da HbS, o que observou a presença de eritrócitos em leva a uma anemia crônica e grave. forma de foice. (ANDRADE, 2013) Indivíduos que apresentam somente um O presente artigo tem como gene HbS (heterozigoto) apresentam o objetivo abordar sobre o diagnóstico traço laboratorial falciforme, e raramente da anemia falciforme apresentam alguma manifestação clínica enfatizando as técnicas de identificação ou hematológica significante, sendo de hemoglobina e mostrar a prevalência assim uma condição de caráter benigno. dessa anemia nos principais estados A HbS, quando em baixa concentração brasileiros. Justifica-se em função da de oxigênio, sofre uma modificação sua tridimensional uma acadêmica e social. Os universitários deformação do eritrócito, que assume poderão utilizá-lo para melhorar a uma forma semelhante a uma foice elaboração de seus trabalhos dentro do (drepanócitos), a mesmo tema, com uma visão mais das síndromes ampliada e melhorada. A sociedade (PAVIA; RAMALHO; também poderá ser beneficiada, pois o levando o fisiopatologia falciformes. a que leva CASSARLA, 1993) relevância para a pesquisa, mesmo ficará disponível como acervo 25 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] da biblioteca, podendo contribuir para o natal), estudo das pessoas que buscam resposta crianças/anos portadoras da AF e para ampliar seus conhecimentos. 180.000 crianças anos que apresentam o traço Brasil, falciforme aproximadamente METODOLOGIA cunho nascem 3.000 (prevalência 0,25% e de 3% respectivamente). (MINISTÉRIO DA Trata-se de um estudo de revisão de no SAÚDE, 2009) teórico-conceitual bibliográfico, no qual serão analisados A prevalência da AF está dados referentes à anemia falciforme, relacionada com a miscigenação da dando população afro-descente. Entretanto, a ênfase no diagnóstico e população brasileira é constituída de prevalência da doença. O presente estudo contou como grupos raciais e bastante diversificada. estratégia de pesquisa, o levantamento Os estados de Minas Gerais, Rio de eletrônico de artigos indexados na base Janeiro de apresentam dados Scielo, Lilacs, CAPES, e o litoral nordestino uma forma maior BIREME, Google acadêmico, pubmed, miscigenação livros de estados do Amazonas, Pará e parte do publicação científica (Biblioteca digital Maranhão a miscigenação é branco- de Universidades). As palavras chaves indígena, bem como os estados de Mato pesquisadas foram: Anemia Falciforme, Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Diagnósticos Laboratoriais, Prevalência. No Sul há uma visível predominância Foram pesquisados 32 artigos, no do indivíduo branco causada pelo período de agosto a outubro de 2015. processo de colonização influenciado e em sites específicos branco-negra. Já de nos pelos europeus. (IBGE, 2011) PREVALÊNCIA DA No Brasil, a prevalência de ANEMIA heterozigotos para a Hemoglobina S FALCIFORME entre A AF é uma doença prevalente os afros regiões Norte é no mundo, considerada um problema de significante saúde pública no Brasil em virtude de Nordeste, acometendo de 6% a 10% da suas características população, enquanto nas regiões Sul e Com base epidemiológicas. nas descendentes e PNTN Sudeste essa prevalência é menor (2% a (programa nacional de triagem pré- 3%). O Estado do Tocantins é um nos dados da 26 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] exemplo de um estado, onde há uma Minas gerais é um exemplo de forte influência negra na população, o estado, onde a prevalência da AF é bem que dessa heterogenia entre suas cidades. Para se patologia. Segundo dados do IBGE ter uma ideia de janeiro de 1998 a (2011), dezembro aumenta a prevalência aproximadamente 72% da de 2007, segundo nasceram o população que habita as diversas áreas DATASUS, 210.696 urbanas e rurais do Estado se declaram indivíduos nas 34 cidades que fazem negras ou pardas. (CANÇADO; JESUS, alusão ao HRJF (Hemocentro Regional 2007) de Juiz de Fora), sendo que 136 Entre os estados brasileiros o receberam diagnóstico de doença que apresenta maior incidência de AF é falciforme. A com maior a Bahia, onde há uma prevalência de incidência da doença foi Faria Lemos 0,1% de crianças com AF entre os (100%) uma vez que a única criança nascidos vivos e 5,8% de crianças com nascida na cidade neste período foi traço falciforme entre os nascidos vivos. diagnosticada com hemoglobinopatia. Outros estados que apresentam uma Outras cidades com alta incidência grande prevalência são o Rio de janeiro, devido ao baixo número de nascimentos Minas gerias, Maranhão e Pernambuco foram Barão de Monte Alto (50%), (Figura 1). (MINISTÉRIO DA SAÚDE, Itamarati 2009) Candido (12,5%) e Bias Fortes (3,13%). Figura 1 – prevalência de crianças nascidas Considerando as cidades com mais de com doença falciforme em alguns estados 30.000 habitantes, temos as seguintes brasileiros incidências: Juiz de Fora (0,07%), Ubá (0,06%), de cidade Minas Santos Cataguases (67%), Dumont (0,04%), Além Paula (0,05%), Paraíba (0,04%), Barbacena (0,03%), Muriaé (0,02%), Visconde do Rio Branco (0,01%) e Leopoldina (0,01%). (DATASUS, 2009) Apesar do esforço dos governos, muitos estados e cidades não Fonte: Ministério da saúde, 2009. apresentam 27 dados fidedignos da Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] prevalência da AF. Algumas cidades e A ocorrência hereditária da estados que tem alguns dados de hemoglobina fetal está associada à HbS nascidos citar que diminui a gravidade clínica da Fortaleza (0,2%), Paraná (0, 002%), anemia falciforme. A hemoglobina fetal Rondônia (0,03%), Distrito Federal é predominante nos primeiros meses de (0,09%), Natal (0,05%), Mato Grosso vida, mas declina rapidamente após o 6° do Sul (0, 0042%), Rio de Janeiro mês de vida e representa em adultos (0,08%), Santa Catarina (0, 006%), Rio menos de 1%, mas essa proporção pode Grande do Norte (0,05%). O Tocantins ser maior em indivíduos falcêmicos não tem dados oficiais, mas conforme a para auxiliar no transporte de oxigênio associação (STEINBERG, 2006) com AF, pode-se tocantinense de doença falciforme existe aproximadamente 500 O quadro clínico que os pacientes pessoas em tratamento da doença no falcêmicos apresentarão no decorrer da estado. (DINIZ; GUEDES; BARBOSA, vida 2004; progressivamente os diversos tecidos e PINHEIRO et al., 2006; terminam assim por o lesar HOLSBACH et al., 2008; ARAÚJO et órgãos, acompanhamento al., 2004; WATANABE et al., 2008; ambulatorial LOBO et al., 2003). periodicamente os diversos órgãos e visa avaliar sistemas, a fim de que precocemente sejam detectadas alterações. Devendo SINTOMATOLOGIA A manifestação clínica da doença ser ressaltado junto ao paciente e seus apresenta grande variabilidade e ocorre familiares sobre a necessidade da desde o primeiro ano de vida, e se realização dos exames de rotina, uma estende durante toda a vida. As vez que essas alterações podem se hemácias são instalar falciformes menos de modo insidioso, sem flexíveis que as hemácias normais. As expressão clínica exuberante (BRAGA; manifestações clínicas mais frequentes PELLEGRINI, 2007). incluem crises dolorosas vaso-oclusivo, síndrome torácica aguda e infecções DIAGNÓSTICO DA ANEMIA bacterianas que levam a internações FALCIFORME hospitalares e morte. (LOUREIRO; O diagnóstico se baseia na ROSENFELD, 2005) falcização dos eritrócitos e, a seguir na 28 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 eletroforese da [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] hemoglobina para do pezinho, e o teste de falcização e o comprovar se a anormalidade consiste teste de solubilidade. (NOGUEIRA et em doença SS ou em alguma outra al., 2013) hemoglobina com o gene S (RAVEL, 2014) 5.2. Teste do pezinho O diagnóstico dessa O teste do pezinho ou triagem hemoglobinopatia é dividida em testes neonatal como também é chamado, é de triagem, que são utilizados para fazer feito a partir do sangue coletado do um pré-diagnóstico desta patologia, calcanhar do recém-nascido e detecta hemograma, teste de falcização, teste de precocemente suspeitas das seguintes solubilidade, doenças e o diagnóstico congênitas: fenilcetonúria, confirmatório da doença falciforme é hipotireoidismo realizado de falciforme e outras hemoglobinopatias e al., fibrose cística. O teste do pezinho deve pela hemoglobina eletroforese (NOGUEIRA et 2013). congênito, doença ser realizado entre o 2° ao 30° dia de vida 5.1. Teste de triagem do recém-nascido e preferencialmente entre o 2° e 7° dia de Teste de triagem são testes vida antes desse período pode ocorre simples e de rápida execução que falhas no diagnóstico, o sangue deve permitem fazer um diagnóstico rápido, preencher toda a área reservada do porém cartão do exame. (ARAGÃO, 2010) não definitivo, de alguma patologia de importância clínica e Esse procedimento é importante social. Os testes de triagem são muitos para um diagnóstico preciso à análise do utilizados sangue para ser aplicados em é feita em laboratórios campanhas de saúdes públicas. Os testes especializados e o resultado sai em de triagem positivo são poucos dias. É dividido em três fases: encaminhados para realizar exames Fase I teste para hipotireoidismo e mais específicos para o diagnóstico Fenilcetonuria; o estado do Tocantins só definitivo da patologia. (NOGUEIRA et realiza a fase I. Fase II, testes da fase I + al., 2013) hemoglobinopatias doença falciforme e que tão Entre os testes de triagem para o Fase III Fase I +Fase II + Fibrose diagnóstico da AF pode-se citar o teste Cística. No Brasil, 12 estados já 29 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] realizam os testes da Fase II (RS, RJ, desoxigenação da hemoglobina por SP, MG, BA, AL, PE, MA, AC, RO, agente redutor, como por exemplo, o GO e MS) e 4 estados aqueles da fase metabissulfito de sódio a 2% em um III (SC, PR,MG,ES) . Assim há 16 microambiente formado no espaço ente estados que já fazem triagem neonatal, lâmina e lamínula. O teste tem baixo mais o Distrito Federal. A Figura 2 grau mostra a situação atual do PNTN nos sensibilidade depende do tipo de agente estados brasileiros e quais fases do redutor, do tempo de reação, da programa umidade de temperatura de vedação e cada um realizam. (ARAGÃO, 2010) de resolução, pois sua da quantidade de hemoglobina fetal. A hemoglobina fetal funciona como Figura 2: Situação atual das fases do diluidor da hemoglobina S, o que pode PNTN nos Estados Brasileiros. resultar como falso negativo. (RAVEL, 2014) Em situação de diminuição de oxigênio as hemácias que apresentam HbS apresentam-se falcizadas (Figura 3) o que leva aos aparecimentos dos sinais e sintomas da AF. Figura 3: Hemácias em formato de foice Fonte: Relatórios anuais enviados pela Hemácias em formato de foice SES, 2010. Fonte: 5.3. Teste de falcização Hemácia hipocrômica Disponível em: O teste de falcização consiste em <http://www.hemoglobinopatias.com.br avaliar qualitativamente a presença ou /d-falciforme/intro.htm>. Acesso em: 20 ausência de Agosto de 2015. de hemoglobina S nos eritrócitos. Seu princípio baseia-se na indução da falcização por meio da 30 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] 5.4. Teste de eletroforese alterações presentes na doença, A eletroforese de hemoglobina inclusive a mobilidade eletroforética (Hb) é o teste confirmatório mais útil mais lenta da HbS, facilitando o para diagnóstico. separação hemoglobinas e medição normais Há dois tipos de algumas Eletroforese Alcalina de Hemoglobina anormais. Por meio da carga elétrica, que são usados com maior frequência são separados diferentes tipos de Hb em laboratórios o Acetato de Celulose e formando a Agarose. (SANTOS, 2014) uma e de série de bandas pigmentadas em um meio (acetato de celulose ou gel de amido). Os resultados 5.4.2. Eletroforese de hemoglobina em são então comparados com aqueles de fita de acetato de celulose uma amostra normal. (NAOUM, 2000) A eletroforese de hemoglobina em fita de acetato de celulose ou em 5.4.1. Eletroforese alcalina de filme de agarose é um teste amplamente hemoglobina conhecido, A Eletroforese Alcalina é assim qualitativo podendo quanto ser tanto quantitativo. A denominada, pois o tampão utilizado eletroforese se baseia na diferente para esse fim tem pH variável entre 8,0 mobilidade e 9,0, o ácido glutâmico é um hemoglobinas carregadas eletricamente aminoácido que tem sua cadeia lateral permitindo a separação das bandas de carregada negativamente, com ponto migração de hemoglobinas. Como a isoelétrico de 2,77. A valina tem o hemoglobina é uma proteína carregada ponto isoelétrico de 5,97, sendo assim negativamente, as proteínas migram classificada aminoácido para o pólo positivo. As diversas neutro. Essa troca de aminoácidos hemoglobinas com defeitos estruturais envolvendo a saída de um aminoácido causados com carga negativa e a entrada de outro aminoácidos neutro resulta na perda de cargas isoelétricos resultam na migração de negativas da HbS em relação à Hb A, diferentes mobilidades eletroforéticas. fato de Como demonstra a Figura 4 essa análise da permite a separação dos principais as genótipos de hemoglobinas variantes e que como modifica propriedades hemoglobina, um uma série físico-químicas levando a todas 31 eletroforética por de substituições diferentes das de pontos Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] talassemias que determina que a fração linhas ao olhar através da solução. O de teste hemoglobina esteja elevada. (NAOUM, 2004) de solubilidade positiva é confirmado com eletroforese alcalina de hemoglobina, como de mostrado a Figura 4: Eletroforese em gel PH seguir na Figura 5. (ETTRE, 2000) alcalina Figura 5: Teste de solubilidade em tubo formação de anel de precipitado de HbS. Fonte: Melo & Silveira, 2015 5.5. Teste de solubilidade A prova de solubilidade com ditionito de sódio é um teste seletivo para detectar hemoglobina S, que se *(setas) HbAS (1), HbSS(2) , Hb Sc (3) caracterizam pela sua insolubilidade e Hb AA (4) quando induzida ao estado reduzido. O Fonte: Melo & Silveira ,2015 teste é realizado da seguinte forma prepara-se o tampão fosfato e 5.6. Técnica de cromatografia acrescenta-se o redutor ditionito de A cromatografia é uma técnica sódio a 1% em tubos de ensaio que foi relatada cientificamente há pequenos. Pipetar 1 ml do tampão e pouco mais de cem anos e baseia-se na adicionar 10 microlitros do concentrado migração de componentes de uma de hemácias. A transparência dessa solução é analisada contra mistura traços ao total fases: a fase fase móvel que conduz a mistura por branco. Esse teste apresenta como negativo duas estacionária que retém elementos e a horizontais de linha preta em papel resultado entre meio de um soluto através da fase de estacionária. Pode ser utilizada para visualizações das linhas negras através purificação e detecção de substâncias ou da solução e o resultado positivo, auxiliar na separação de substâncias quando não se é capaz de distinguir as indesejáveis. 32 (DEGANI; CASE; Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] VIERA, 1998; RABB; GRANDINSON; Figura 6: modelo do método da técnica MASON, 2009) de cromatografia O papel de cromatografia é composto por moléculas de celulose que possuem afinidade pela água, mas muito pouca afinidade pela fase orgânica, atuando como suporte inerte contendo a fase estacionária aquosa (polar). À medida que o solvente contendo o soluto flui ao longo do papel, uma Fonte:http://www.engquimicasantossp.c partição deste composto ocorre entre a om.br/cromatografia-em-papel.html. fase móvel pouco polar e a fase estacionária. Com o fluxo contínuo de solvente, o efeito desta partição entre as TRATAMENTO fases móvel e estacionária possibilita a O tratamento com o paciente transferência do soluto do seu ponto de deve ser iniciado desde os primeiros aplicação no papel para outro ponto meses de vida. A educação dos pais ou localizado a alguma distância do local responsáveis sobre a doença é de suma de aplicação no sentido do fluxo de importância, desde a primeira consulta, solvente. A cromatografia em papel é devem uma das técnicas mais simples e requer importância de manter hidratação e menos sua nutrição adequadas e conhecer os níveis realização, sendo muito útil para a de hemoglobina e sinais de palidez. Os separação polares, familiares devem ser alertados sobre a (Figura 6). Devido à alta precisão e importância da prevenção das infecções, confiabilidade dessas técnicas, elas são através das vacinações e do uso da muito utilizadas na detecção ou na penicilina profilática e encorajados a separação de substâncias que estão em reconhecer as intercorrências da doença. pequenas quantidades em uma mistura. O aconselhamento genético poderá ser (RABB; oferecido casos pais assim o desejarem. instrumentos de para compostos GRANDINSON; a MASON, 2009) ser orientados (SILVA; SHIMAUTI, 2006) 33 quanto à Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Deve ser ressaltada a importância realizado ainda polêmico. Até então, a de uma nutrição adequada por meio do técnica era realizada no Brasil como aconselhamento nutricional. O ácido pesquisa experimental com a publicação fólico deverá ser prescrito, uma vez que de uma nova portaria no Diário Oficial as aumentadas, desta quarta-feira passa a fazer parte das sobretudo no período de crescimento e opções de terapia pelo sistema de saúde durante a gestação. A deficiência de SUS. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE zinco tem sido sugerida, podendo ser TRANSPLANTE uma ÓSSEA, 2015) necessidades das estão causas do atraso do DE MEDULA crescimento e das úlceras presentes nas pernas desses pacientes. (BRAGA, CONSIDERAÇÕES FINAIS 2007) Neste artigo apresentamos um Atualmente, opções eficazes de recorte bibliográfico sobre o diagnóstico tratamento relativamente disponíveis e prevalência da anemia falciforme. De para o tratamento da anemia falciforme uma forma geral, a anemia falciforme é é o transplante de medula óssea (TMO) uma e a hidroxiuréia (HU), que ativa a predominante síntese de HbF, reduzindo o número de considerando-se os países como África crises álgicas e melhorando assim o e Índia demonstrados neste estudo, prognóstico com percebeu-se sua influência na doença no O Brasil, devida o processo migratório de disfunção dos pacientes orgânica progressiva. Transplante de medula óssea é uma doença hereditária em de negros modo e afrodescendente. medida curativa, quando se tem um Este trabalho não pretende doador compatível, mas é considerado esgotar a discussão sobre o diagnóstico de alto risco por apresentar grande e prevalência da Anemia Falciforme. índice de complicações e mortalidade. Pelo contrário, é um levantamento (BELISÁRIO, 2010) bibliográfico inicial que abre novos De acordo com a Portaria n° 30, rumos para a discussão do tema publicada em 1 de julho de 2015, no proposto, com o surgimento de novas Diário Oficial da União a única questões. possibilidade de cura é o transplante de medula óssea um Por isso, um estudo nesse procedimento sentido é de suma importância. Por fim, 34 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] esperam-se que este estudo sirva de Federal de Minas Gerais. Faculdade de suporte para o desenvolvimento da área Medicina Belo Horizonte, 2010. em estudo, apontando possíveis assim políticas Braga J; Pellegrini A. Medidas gerais públicas devem se concentrar para no tratamento das doenças falciformes. minimizar Revista consequências, os efeitos as da anemia falciforme. Brasileira de Hematologia Hemoterapia. São Paulo, v.29 n.3, p.233 238, 2007. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Braga, J.A.P. Medidas gerais no Andrade SP. 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DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA atenção Resultados Preliminares do universo do Educação em Saúde, linha de cuidado 36 Departamento de especializado; Manual de Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] em Doença Falciforme Brasília - DF , Rabb LM; Grandinson Y; Mason K et. vol. 2 2009. al. A trial of folate supplementation in children with homozygous sickle cell Naoum PC, Naoum F.A. Doença das disease. Br. J. Hematol. 1983. n. 54: células falciformes. São Paulo: Sarvier, 589-94.2009 2004. Ravel R. Laboratório clinico aplicações Naoum. Interferentes eritrocitários e clinicas ambientais falciforme. Revisores técnicos Mario Hiroyuki Revista Brasileira de Hematologia e Hirata, Rosário Dominguez Crespo Hemoterapia, 2000 n. 22(1): 05-22. Hirata na anemia dos 6 dados °Ed laboratoriais Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2014. Nogueira KDA et. al . Diagnóstico Laboratorial da Anemia Falciforme. Ravel R. 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Revista Hematologia e Hemoterapia. n. 28(2): 144-148 , 2006 . 37 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea http://www.sbtmo.org.br/noticia.php?id =366 acessado em 02 de set. de 2015 às 20h59min. Steinberg, MH. Pathophysiologic ally based drug treatment of sickle cell disease. Trends in Pharmacological Sciences. v. 27, n.4, p. 204-210, 2006. Watanabe, AM et al. Prevalência da hemoglobina S no Estado do Paraná, Brasil, obtida pela triagem neonatal. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, vol.24 p993-1000, maio, 2008. 38 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] REVIEW ARTICLE BRCA1, BRCA2, FAMÍLIA ALDH e ADH: GENES RELACIONADOS AO ETILISMO E AO CÂNCER DE MAMA FEMININO Ikaro Alves de Andrade¹, Igor Romeiro dos Santos¹, Danielly Batista Borges Camargo¹, Thays Teixeira Linhares¹, Danebe Fernandes de Araújo² RESUMO INTRODUÇÃO: O câncer de mama é a patologia que mais acomete mulheres no mundo. Sabe-se que o consumo de bebidas alcoólicas e os fatores genéticos são os principais envolvidos no desenvolvimento da doença. OBJETIVO: Reunir informações relevantes sobre a relação do consumo de bebidas alcoólicas, expressão gênica e ocâncer de mama. METODOLOGIA: Trata-se de um artigo de revisão, em que procurou-se obter informações sobre os genes que participam da carcinogênese mamária e a influência da ingestão de álcool sobre o organismo da mulher. Ao todo foram selecionados 50 trabalhos nos bancos de dados: PubMed, Scielo e Google Acadêmico. CONCLUSÕES: O etanol é reconhecido como um carcinógeno humano. Diversos achados mencionam que suas vias de ação ainda seguem em estudo para melhor esclarecimento e que as alterações genéticas influenciam no desenvolvimento de formas mais graves de câncer de mama. Palavras-chave: Neoplasia. Mama. Álcool. Genes. ¹Graduandos do curso de Bacharelado em Biomedicina da Faculdade Anhanguera de Anápolis (FAA). ²Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Professora da Faculdade Anhanguera de Anápolis, Brasil. E-mail: [email protected] 39 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] BRCA1, BRCA2, AND ADH ALDH FAMILY: GENES RELATED TO ALCOHOL CONSUMPTION AND BREAST CANCER IN WOMEN ABSTRACT INTRODUCTION: Breast cancer is a disease that affects more women worldwide. It is known that alcohol consumption and genetic factors are the main involved in the development of the disease. OBJECTIVE: To gather relevant information on the relationship of alcohol consumption, gene expression and breast cancer. METHODOLOGY: This is a review article, in which we tried to get information about the genes involved in breast carcinogenesis and the influence of alcohol consumption on the body of the woman. In all, 50 works selected in the databases PubMed, Scielo and Google Scholar. CONCLUSIONS: The ethanol is recognized as a human carcinogen. Several findings mention that their courses of action still follow under study for further clarification and that the genetic influence in the development of more serious forms of breast cancer. Keywords: Neoplasm. Breast Alcohol. Genes. 40 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] álcool sem haver alterações relevantes INTRODUÇÃO Ao analisar a história do no organismo, mas o risco se torna consumo de bebidas alcoólicas na diretamente antiguidade percebe-se que os gregos e Os as mulheres não havia restrição, no reservado a ingeridas (ARAÚJO, 2013). noite para estimular a sociabilidade,para ficava-lhes com quantidade e frequência de bebidas romanos consumiam vinho somente à entanto, proporcional dados evidenciam que, mulheres que ingerem cerca de 3 a 6 o copos de vinho por semana podem consumo discreto (SELLERS et al., adquirir problemas a níveis hormonais, 2002). como alterações na via de estrogênio, O consumo discreto de álcool modificou-se ao longo estimulando a proliferação de células do tempo, cancerígenas. O riscoaumenta quando promovendo que o etanol de um simples há registros de casos anteriores na agente socializador fosse classificado família. Não foram relatadas diferenças como um carcinógeno humano pela significativas entre os tipos de bebidas Agência Internacional de Pesquisa sobre alcoólicas, no entanto, o acetaldeído, Câncer (IARC). Em decorrência disto, metabólito do etanol, é o principal centralizamos nosso estudo nas relações agente mutagênico da doença (KROPP existentes entre a ingestão alcoólica e a neoplasia mamária feminina, et al., 2001; CHEN et al., 2011). não O câncer de mama é o segundo excluindo que os efeitos adversos se manifestam também na tumormais frequente entre as mulheres, população apresentando 53 mil casos (INCA, masculina. Analisando as referências 2011). Os estudos dos fatores que selecionadas, não foi encontrado um influenciam na incidência da doença são limite seguro quanto à ingestão de 41 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] importantes para melhor compreender o quanto às suas contribuições para esta mecanismo carcinogênico. Ressalta-se análise. que o consumo de etanol não apresenta riscos apenas cancerígenos, mas,afetao FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA sistema nervoso central; o aparelho reprodutor e promove a má formação do Metabolismo do álcool no organismo feto caso amãe consuma etanol durante O álcool etílico ou etanol está a gravidez (MARTINS, 2013). presente em diversos tipos de bebidas, O presente trabalho trata-se de comocervejas e vinhos. A molécula uma revisão literária,no qual objetivou- penetra nas membranas celulares e se investigar informações sobre as eventualmente causa prejuízo à célula. relações entre o consumo de álcool e Boa parte do etanol é absorvido pelo expressões gênicas relacionadas com o trato gastrointestinal, e o restantepela surgimento de carcinoma mamário. mucosa Para isso, realizou-se pesquisa nos seguintes bancos de como (VIEIRA, 2012; MARTINS, 2013).Por tratar-se de uma artigos: molécula hidrofílica, o etanol entra no PubMed, Scielo e Google Acadêmico. Utilizou-se oral sistema palavras-chave circulatório distribuindo-se e pelos tecidos que dispõe de água, como ‘‘Genes’’ e foram obtidos 50 artigos coração, cérebro e mamas, entretanto ‘‘Neoplasia’’, ‘‘Mama’’,‘‘Álcool’’ devido sua toxicidade, não se deve com o tema relacionado, com data de acumularesta 2000 a 2016. Os materiais selecionados substância no organismo(TAKAMORI, 2012). em português e inglês foram analisados Aos ser absorvido cerca de 5 a 10% do álcool é eliminado pelos rins, 42 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] pulmões e saliva e o restante é oxidado pela enzima ALDH (aldeído destinado ao fígado onde sofre oxidação desidrogenase). A reação necessita do (TAKAMORI, a NADH devido ao consumo energético, desintoxicação e eliminação decorrem todavia, a NAD é necessária em outras das sistema reações e a sua regeneração no fígado é desidrogenase limitada.Assim, o sistema é restrito a (ADH); o sistema mitocondrial de bebedores moderados por conta da oxidação do etanol (MEOS) e a disponibilidade de NAD e a atividade catalase. As três vias produzem o mitocondrial. acetaldeído grandes quantidades de etanol altera a vias 2012).No metabólicas: enzimático álcool (AA), um fígado, potente carcinógeno que inibe os mecanismos relação de metabolização reparação do DNA; desnatura A metabolização NADH/NAD, de inibindo ácidos de a graxos, proteínas; altera o procedimento de comprometendo a respiração celular exocitose; aumenta o efeito tóxico de (MARTINS, 2013). radicais livres e altera a estrutura da mitocôndria (VIEIRA, O sistema MEOS presente no 2012; retículo MARTINS, 2013). endoplasmáticolisodos hepatócitos degrada 20% do álcool O sistema ADH ocorre no ingerido no consumo excessivo. Os citoplasma e é a via direta durante o componentes presentes são a NADPH consumo moderado de álcool. A enzima (nicotinamida ADH juntamente com a coenzima dinucleotideofosfato hidrogenado), o NADH citocromo P-450 (CYP3E1), a NADPH (nicotinamida dinucleotídeo reduzida) adenina forma adenina o citocromoredutase e os fosfolipídeos.No acetilaldeído que em sequência será MEOS, o aumento na ingestão de álcool 43 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] desencadeia a indução enzimática, que é peroxissomoscom o retículo peróxido de hidrogênio. O sistema consequências responde por menos 2% da oxidação do restringem-se a eficiência na eliminação etanol e é um recurso tóxico uma vez do etanol e ativação acelerada de que o peróxido modifica a estrutura dos metabólitos tóxicos.A terceira via ácidos metabólica, Catalase, ocorre nos 2012;MARTINS, crescimento endoplasmático. do As produção nucleicos agentes Correlação entre gene, etilismo e a físicos sucedendoem de (VIEIRA, 2013). ou químicos, disfunçõesde funções câncer de mama básicas, como a auto-renovação. A O início de qualquer tumor auto-renovação é o processo em que as segue a hipótese da importância das células tronco tumorais células (câncer estaminais (células tronco) geram descendentes idênticos a ele. stemcells - CSC) proposta inicialmente Além deste procedimento, as células no século XX. Somente anos mais tarde, estaminais com os recentes avanços na área de originam progenitores multipotentes, que por sua vez, formam biologia molecular, a função deste células diferenciadas (AMENDOLA, grupo celular passa a ser esclarecida e a VIEIRA, teoria solidificada (GINESTIERet al., 2005;GINESTIERet al., 2007). 2007). As células tronco cancerosas Este arquétipo esclarece que compartilhamda auto-renovação e de qualquer tumor inicia a partir de células outras características fenotípicas das progenitoras ou de células-tronco de células de origem, contribuindo para a tecidos, que possuem alterações em seu lenta material genético devido influências de 44 condução das características Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 tumorais e [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] desenvolvimento de diagnóstico e prognóstico coerente, metástases. Tal grupo celular possui além do correto tratamento terapêutico também a capacidade de diferenciação, para originando uma população heterogênea heterogeneidade, de células aberrantes (GINESTIERet épriorizar al., 2007). destinadas aos marcadores (subtipos) da estrutura, as pelas atual medidas tal tendência terapêuticas 2013). células A mama (glândula mamária) é estaminais cancerosas. Observa-se que uma estrutura constituída por um durante sistema o formada a de al., 2008; GOBBI, 2012; ARAÚJO, sua maior parte e uma pequena parcela é as Apesar 2005; DENT et al., 2007; SCHMITT et células diferenciadas passam a constituí-lo em restante paciente. moleculares (AMENDOLA, VIEIRA, Conforme o desenvolvimento anormal o processo, as células de ductos categorias: os separados perdem a capacidade de auto-renovação grandes ductos e a unidade terminal do (GINESTIERet al., 2007). ducto lobular (UTDL), proporcionando a criação de um microambiente peculiar O carcinoma mamário é a responsável neoplasia mais recorrente em mulheres proporcionando componentes consegue-se uma celulares. esclarecer fisiologia e deste órgão, e apresenta-se pela união maneiras, de uma única camada de células alteraçãodos Quando tais sua conhecida por ser a unidade funcional crescente. A sua expressão decorre a várias pela desenvolvimento.Sabe-se que a UTDL é e apresenta uma incidência mundial de duas e componentes da maior parte do tumor partir em ramificados vias luminais (células realizam absorção colunares e secreção que de substâncias) e uma camada única de modificantes, existe a elaboração de um 45 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 células [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] no (ZANETTI, mioepiteliais desenvolvimento (ZANETTI, OLIVEIRA, RIBEIRO-SILVA, 2011). OLIVEIRA, neoplasias RIBEIRO- SILVA, 2011). As células luminais evidenciamse pelo respectivo fenótipo epitelial e a Os principais fatores (vias) que expressão principal de citoqueratinas de influenciam no aparecimento do câncer baixo peso molecular (7, 8, 18), consistem proteínas relacionadas ao leite, antígeno receptores de estrógeno, problemas na epitelial de membrana (EMA), antígeno correção do ciclo celular, atividade epitelial específico (ESA) e mucinas gênica (ativação dos oncogenes e (MUC1). consequente Enquanto as células na desregulação silenciamento dos dos mioepiteliais manifestam citoqueratinas supressores tumorais) e erros nas vias de alto peso molecular (5 e 14), α-6 de integrina, actina muscular lisa α (α- OLIVEIRA, RIBEIRO-SILVA, 2011). SMA) e metaloproteinases (ZANETTI, OLIVEIRA, (CD10) apoptose As RIBEIRO- celular manifestações (ZANETTI, tumorais, independentemente da via, implicam em SILVA, 2011). consequentes tipos de classificações. O microambiente deste órgão é Quanto ao local da célula na região, resultante da interação das células e as categoriza-se em carcinoma ductal e proteínas expressas. lobular aqueles que se desenvolvem na normais, as Em proteínas condições regulam as unidade do ducto lobular, estrutura com atividades celulares básicas, dentre elas: células cuboides luminais secretoras e proliferação, polaridade, sobrevivência mioepiteliais. Percebe-se também a e diferenciação. Qualquer desequilíbrio caracterização em não invasivo (in situ) neste microambiente ao decorrer do e desenvolvimento é um fator primordial compreende o limite da unidade do 46 invasivo. No primeiro,o tumor Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 ducto, enquanto em Os subtipo Luminal A apresenta contrapartida, dissemina-se para outros receptor de estrógeno (RE) positivo e tecidos próximos, por intermédio da HER2 negativo, o fenótipo é associado membrana basal e apresenta tendência a um melhor prognóstico e a resposta em terapêutica com antiestrogênicos por proporcionar o [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] segundo, metástase celular (SCHMITT et al., 2008; ARAÚJO, possuir 2013). direcionada proliferação celular. quando comparados às pacientes com humano, são desenvolvidos métodos de carcinomas Luminais B (SCHMITT et alta tecnologia para a análise da al., expressão do genoma. A partir do ZANETTI, 2008; RIBEIRO-SILVA, datécnica por gênica possuem melhores taxas de sobrevida esclarecimento da sequência de DNA cDNAmicrorray, a expressão Pacientes com neoplasias Luminais A Com as recentes pesquisas e o desenvolvimento baixa OLIVEIRA, 2011; ARAÚJO, 2013). exemplo, ocorreram mudanças significativas e O Luminal B detém o receptor estratégicas nas pesquisas destinadas a hormonal de estrógeno positivo, e análise genômica do câncer (SCHMITT HER2 positivo, sendo este caracterizado et al., 2008). por um pior reaparecimento Em detrimento dos avanços prognóstico do tumor, e em decorrência da alta proliferação celular conquistados, é possível diferenciar os e à similaridade com os tumores (RE) subtipos tumorais, resultando noatual negativos parâmetro de classificação molecular: (HER2 e basal like).O tratamento comum para estes tipos Luminal A, Luminal B, Her-2 e basal- Luminal like (SCHMITT et al., 2008; ARAÚJO, A e B permitem a administração da droga tamoxifeno, 2013). 47 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] uma espécie de modulador que bloqueia sua agressividade é atrelada ao fato de a atividade de RE (SCHMITT et al., não possuir um alvo terapêutico como 2008; ARAÚJO, 2013). os como monoclonal cujo fenótipo é RE negativo e HER2 ou o seja, anticorpo anti-HER2 antiestrogênicos positivo, é desencadeado pela expressão demasia subtipos, medicamentos A variação molecular HER2 em demais são e ineficientes (SCHMITT et al., 2008; ARAÚJO, dooncogeneHER2, 2013). apresentando grande atividade mitótica e alto grau de pleomorfismo nuclear. As expressões dos subtipos do Independente do grau do tumor, este carcinoma mamário, em sua maioria, subtipo é associado a um péssimo são resultantes de alterações genéticas e prognóstico e o tratamento com o epigenéticas, no entanto, este fato não anticorpo descaracteriza monoclonal (trastuzumab) é o anti-HER2 mais indicado, desencadeadores porproporcionar melhora aos pacientes fatores (POLYAK & KALLURI, 2010). (SCHMITT et al., 2008;ZANETTI, OLIVEIRA, outros Aliado aos quatros subtipos RIBEIRO-SILVA, moleculares comumente estabelecidos, 2011;ARAÚJO, 2013). não existe um consenso na literatura Obasal likeé a variação mais referente a uma subdivisão adicional agressiva do câncer de mama. O conhecida como triplo negativo, na qual fenótipo expresso é RE negativo e os HER2 negativo e esta denominação progesterona decorre da expressão de genética de negativos. Isto pode ser verificado em algumas achados moléculas, como as receptores de de (RP) Dentet estrógeno e (RE), HER2 al (2007) são e Nalwogaet al (2010). O primeiro afirma citoqueratinas de alto peso molecular. A 48 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] que a variação triplo negativo constitui genéticas do câncer e três grupos boa parte do grupo tumoral basal like, influentes enquanto o segundo menciona que as patologia. subdivisões são diferentes, no entanto, podem ser confundidas entre si. Carcinomas triplo-negativos (TN)são mais agressivos, semelhante ao fenótipo basallike e comumente afetam mulheres com idade inferior aos 50 anos e afrodescendentes. Os recentes achados referentes a este subtipo, esclarecem que medicamentos do grupo taxanos apresentam baixa sensibilidade no tratamento e que aspectos étnicos influenciam na manifestação do tumor (CORRÊAet al., 2010). A caracterização das mutações em genes que relacionam-se com o desenvolvimento da mama é alvo de diversos estudos bibliográficos nos últimos anos. Mediante o exposto, a tabela seguinte descreve os principais genes observados em estudos que retratam o estudo das características 49 na manifestação desta Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] DISCUSSÃO Tabela 1 - Principais genes relacionados ao câncer de mama Família Gene ALDH1A1 Nome Aldehyde Dehydrogenase 1 Family Member A1 Localização Autor Ano Relação GINISTIER et al (17) 2007 Demonstra que o gene auxilia na degradação de substâncias tóxicas e toxinas que se formam no interior das células. Além de ser considerado um biomarcador em células estaminais cancerosas. KAWASE et al(24) 2009 Mutações nos genes pertencentes a família ADH e ALDH representam uma via consistente para desencadear o câncer de mama. NALWOGA et al(35) 2009 Associa que mutações no gene ALDH1A1 estão correlacionadas com o surgimento de tumores basallike. CARNEIRO (7) 2013 Aponta o papel do ALDH1 como fator adaptativo ao estresse oxidativo. LIU JIN-FANG et al(29) 2015 Expressa que a manifestação do gene ALDH1A1 possibilita a identificação de células cancerosas. LIU YAN et al (30) 2015 Associa que a alta expressão do mRNA do gene ALDH1A1 favorece a um resultado favorável de câncer de mama. RODRIGUEZTORRES, ALLAN (37) 2015 Descreve que células estaminais que expressam este gene em alta quantidade originam tumores mais agressivos e que além de maiores chances de desenvolver metástases, o gene também participa no processo de resistência tumoral. 9q21.13 ALDH ALDH1A3 ALDH2 ADH1A ADH1B ADH Aldehyde Dehydrogenase 1 Family Member A3 Aldehyde Dehydrogenase 2 Family Member A2 Alcohol Dehydrogenase 1A (Class I), Alpha Polypeptide Alcohol Dehydrogenase 1A (Class I), Beta Polypeptide RODRIGUEZTORRES, ALLAN (37) 15q26.3 2015 Associa a expressão deste gene em células estaminais com a promoção de metástases para tecidos subjacentes. SUZUKI et al (41) 2010 Relaciona o acúmulo de acetaldeído em razão de mutações no gene ALDH2. MARTINS (33) 2013 Síntese de enzimas atuantes no metabolismo. LIU JIN-FANG et al(29) 2015 Elucida a relação entre o ALDHIA1 e o câncer. KAWASE et al(24) 2009 MC DONALD (34) 2012 Demonstra que mutações no ADH1C são comuns em caucasianos. MARTINS (33) 2013 Remonta a influência na oxidação alcoólica ao gene ADH1A. 12q24.2 4q23 4q23 50 O Polimorfismo do ADH1B resulta no acúmulo de acetaldeído em tecidos. Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 ADH1C [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Alcohol Dehydrogenase 1A (Class I), Gamma Polypeptide MARTINS (33) 2013 Apresenta que alterações no gene desencadeia metabolismo não funcional. 4q23 Tabela 1 - Principais genes relacionados ao câncer de mama Família Gene Nome Localização GREB1 GREB1 Growth Regulation By Estrogen In Breast Cancer 1 2p25.1 RNF FANC BRCA1 BRCA2 BreastCancer 1 BreastCancer 2 Autor Ano Relação FAN (15) 2000 Elucida duas possíveis ligações do álcool com o câncer de mama. CANDELARIAet al (6) 2015 A ação molecular do álcool promove o acréscimo de fatores de sinalização, com atividade do gene GREB1. DUFLOTH (14) 2004 Descreve que mulheres portadoras de mutações neste gene apresentam 80% de desenvolver câncer de mama. AMENDOLA (01) 2005 SCHMITTet al (38) 2008 DENNISet al (11) 2010 Menciona o consumo exclusivo de vinho como fator de baixa incidência patológica. ARAÚJO (02) 2013 Caracteriza alterações no gene BRCA1 a registros hereditários de câncer de mama. MAJEEDet al(28) 2014 Relaciona os processos de apoptose, ciclo celular e supressão tumoral ao gene BRCA1 SHAPIRO; MILLERPINSLER; WELLS (31) 2016 Direciona ao BRCA1 a atuação em outras vias de transcrição gênica. DUFLOTH (14) 2004 Descreve que mutações gene BRCA2 conferem menores chances de desenvolver o câncer de mama (60%), quando comparados ao BRCA1. AMENDOLA (01) 2005 Relata que mutações no gene BRCA2 elevam os ricos para o desenvolvimento de câncer de mama em ambos os sexos. DENNISet al (11) 2010 Risco de câncer de mama proporcional à idade. ARAÚJO (02) 2013 Discorre sobre alterações hereditárias no gene BRCA2 com relação a neoplasia mamária. 17q21 13q12.3 51 Esclarece que existe uma fraca associação entre mutações no gene BRCA1 e o desenvolvimento de carcinoma ductalin situ. Associa que mutações no gene BRCA1 está ligado ao desenvolvimento do tumor mamário do tipo HER2. Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] auxilia na degradação de substâncias FamíliaALDH Os genes pertencentes à família tóxicas, como os metabólitos do álcool, ALDHapresentam informações para a poluentes e toxinas que se formam no síntese interior de enzimas atuantes no das células; regulação da células. homeostase e o crescimento celular, por Atualmente foram identificados em meio da oxidação do retinol para ácido seres humanos dezenove variações, retinóicoe sendo adaptação da célula perante ao estresse metabolismo as de diversas principais: ALDH1A1, por fim, contribui na e promovido pelo ambiente (GINESTIER ALDH4A1 (LIU et al., 2015).Para et al., 2007; CARNEIRO, 2013; LIU et Martins (2013), as formas da ALDH al., 2015). ALDH1A3, ALDH2, ALDH3A1, podem ser agrupadas em quatro classes: Mutações nos genes da ALDH1 isoenzimas de classe I e II (ALDH1 e e ALDH2podem alterar a via de ALDH2) e de classe III e IV (ALDH3 e metabolização ALDH4). As ALDH1 e ALDH3 estão e ALDH4 situam-se sistema ADH, causando o acúmulo de substâncias dispostas no citoplasma, enquanto a ALDH2 do como o AA nas células (MC DONALD nas et al., 2013). A expressão em alta mitocôndrias. quantidade do ALDH1 tem sido A ALDH1 (ou ALDH1A1) é a considerada como um importante fator variação mais estudada nos últimos prognóstico para a neoplasia mamária, anos. A enzima resultante se faz sendo sugerido inclusive como um presente em células estaminais e em marcador diversos a estaminais, por apresentar uma relação concentração mais elevada no fígado com o grau do tumor; a progressão do (LIU et al., 2015). O referido composto câncer; a recorrência de tumor local; o tecidos humanos, com 52 da doença em células Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] risco de metástases à distância e atividade apresentam maior capacidade inativação de agentes quimioterápicos de migração para tecidos subjacentes, (GINESTIER 2007; por mecanismos ainda não esclarecidos NALWOGAet al., 2010; LIU et al., (DENT et al., 2007; LIU et al., 2015; 2015). RODRIGUES-TORREZ, et al., ALLAN, 2015). A expressão do gene ALDH1A1 é comum tanto a células estaminais normais, quanto para as tumorais. A partir do momento que existe Família ADH a A família de manifestação do tumor por influência responsável deste gene, a neoplasia poderá se agressivo e mal que álcoois alifáticos, hidroxiesteróidese em tumores relacionados com a expressão apresentam fígado, substratos, dentre eles etanol, retinol, GINESTIER et al., 2007), ou seja, gene, no metabolizam uma ampla variedade de triplo negativo (DENT et al., 2007; deste ADHé por sintetizar enzimas, primordialmente diferenciar apenas nos tipos basal like e genes segundo caráter plano elimina o álcool resultante de fermentação bacteriana. A prognóstico atividade da ADH parece ser o principal (NALWOGAet al., 2010). fator da oxidação do álcool etílicoem Dentre conhecidas, todas as alterações isofromas nos ácido genes classificadas tumores do tipo triplo negativo. Além em em (MARTINS, 2013). disso, células estaminais cancerosas que formas intermédio da ADHsão codificadas por oito genes e associados com o estabelecimento de estas Por literatura sabe-se que as variações de ALDH1A1 e ALDH1A3 estão mais expressam acético. alta 53 seis classes Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 As [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] isoenzimas (ADH1A/ADH1, ADH1C/ADH3) de classe I e ADH1B/ADH2, dispõem de comporta-se como formaldeído desidrogenase. A classe IV (ADH6) está maior disposta na região do trato afinidade pelo etanol e são formadas por gastrointestinal e córnea, representando associações uma das subunidades barreira metabólica contra a polipeptídicas,e ,respectivamente. A entrada de álcoois e aldeídos externos. enzima três Por fim, as ADH de classe V (ADH7) e subunidades diferentes, enquanto a VI (ADH8) não apresentam papel ADH1C explícito na metabolização do etanol até ADH1B codifica diferentes, codifica duas subunidades apresentando o momento (MARTINS, 2013). assim Mutações polimorfia. Os alelos estão distribuídos nos genes ADH caracteristicamente por grupos raciais: representam uma via consistente a 1 predomina em brancos e negros, 2 respeito do risco para desencadear o em japoneses e chineses e 3 aparece câncer de mama, todavia, o mecanismo carcinogênico e os possíveis subtipos em uma pequena parcela da população desencadeados não são bem elucidados negra. A polimorfia interfere no hábito de ingerir bebidas alcoólicas (DENNIS et al., 2010; MARTINS, e 2013). desenvolver doenças hepáticas. O pressuposto parte do polimorfismo dos genes ADH1B em A ADH de classe II (ADH4) consonância comADLH2provocando o apresenta uma subunidade , a enzima acúmulo do acetaldeído, metabólito resultante tem baixa atividade em tóxico para as células (KAWASEet al., baixas concentrações de etanol. A ADH 2009;MC DONALD et al., 2013). de classe III (ADH5)apresenta uma subunidade e oxida álcoois de cadeia longa, exibe baixa afinidade por etanol 54 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] impedirem BRCA1e BRCA2 a evolução carcinogênese ao da codificarem O BRCA1 (BreastCancer 1) proteínas que auxiliam na manutenção pertence à família de genes do genoma, enquanto os denominadaRNFRingFingerProteins),r gatekeeperssão aqueles que regulam de esponsáveis pela codificação de forma positiva a apoptose, bloqueando enzimas com sólida estabilidade para crescimento desordenado da célula ligações químicas. As mutações do (AMENDOLA, VIEIRA, 2005). gene BRCA1 têm sido muito O BRCA1 apresenta duas relacionadas ao desenvolvimento de regiões importantes, a N-terminal câncer de mama (hereditários) e na interage com proteínas do ciclo celular região dos ovários em mulheres, e na e a C-terminal responde pela ativação próstata, em homens. Ao gene são transcricional. A primeira é voltada atribuídas as funções de manutenção para atividade da enzima na informação genética; reparo do ubiquitinaligase E3, enquanto a DNA; regulação de vias de transcrição segunda é importante por suprimir gênica; administração de apoptose, tumores e recrutar enzimas de reparo ciclo celular e supressão tumoral do DNA. Quando existem alterações (SCHMITT et al., 2008; MAJEED et no C-terminal, o risco de câncer al., 2014; SHAPIRO, MILLERaumenta (SHAPIRO, MILLER- PINSLER, WELLS, 2016). PINSLER, WELLS, 2016). A supressão neoplásica decorre O etanol regula de forma de genes que apresentam duas indireta o RNAm da proteína BRCA1a subdivisões: caretakerse gatekeepers. nível celular, admitindo-se um Os genes BRCA1 e BRCA2 são mecanismo de regulação negativa do classificados comocaretakers, por 55 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] gene supressor de tumor BRCA1. A circulante, o que é associado com as diminuição formas de manifestação do tumor. da gênicapossibilita expressão células O BRCA1 realiza, em adição a cancerígenas escapem do controle de estabilização do material genético, o supressão tumoral (FAN et al., 2000). controleda Em famílias que apresentam registros relacionados com uma variação de RE, de câncer de mama, as mutaçõesnos o receptor de estrogênio a (REa). Em genes BRCA1 e BRCA2 são descritos períodos de intensa atividade mitótica, na maioria dos casos (ARAÚJO, existe a redução de sinais iniciados 2013). hereditárias, pela ativação do respectivo receptor, representam 5-10% dos casos mundiais caracterizando uma forma de proteção e conferem um risco proporcional à para a mama contra a instabilidade idade. Mulheres de até 70 anos que induzida apresentam mutação no gene BRCA1 estrogênio. apresentam risco de 65% e para o níveis de estrogênio é extremamente BRCA2 cerca de 45% (DENNIS et al., necessário, pois este hormônio induz o 2010; MAJEED et al., 2014). crescimento das células mamárias e As queas alterações Devido ao carcinogênese não processo ser de qualquer claramente câncer se que a ligação do álcool com o 2005). formas, pode ocorrerdentre através da outras resposta pela O alta de genes atividade balanceamento alteração do dos hormonal potencializa o desenvolvimento de compreendido até o momento, sugere- câncer expressão (AMENDOLA, VIEIRA, Os carcinomas que possuem de alterações no gene BRCA1 em sua estrogênio em função do BRCA1. O maioria são receptores de estrogênio e álcool aumentaos níveis de estrogênio progesterona negativos e recentemente, 56 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] comprovou-se que em tumores basal ao longo dos anos e ainda existe um like existe a supressão do gene pelo grande caminho a ser percorrido. processo de metilação (DENT et al., 2007; SCHIMITT et al., 2008), REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS tumores ductais in situ são pouco 1. AMENDOLA, Luis Cláudio frequentes em portadores mutação. Entretanto, desta Belo; VIEIRA, Roberto. A contribuição neoplasias dos genes BRCA na predisposição promovidas pelo gene BRCA2 hereditária ao câncer de mama. possuem RE positivo (FAN et al., RevBrasCancerol, v. 51, n. 4, p. 325-30, 2000; AMENDOLA, VIEIRA, 2005; 2005. DENNIS et al., 2010; ARAÚJO, 2013; 2. ARAÚJO, Danebe Fernandes MAJEED et al., 2014). de. Avaliação de polimorfismos em genes CONCLUSÕES anos como fatores substância CD28 e suas e características / Danebe Fernandes de Araújo – São mama. Estudos comprovando seu efeito Paulo, 2013. xxi, 96f. na proliferação de células neoplásicas; metabólicas risco de mulheres do Centro-Oeste brasileiro que atua em especial no câncer de gênicas; de clinicopatológicas em uma população carcinogênica, em razão do acetaldeído alterações família associações com o câncer de mama, O etanol é reconhecido há quase dez da 3. ARONSON K. Alcohol: a e recently identified risk factor for breast hormonais têm sido cada vez mais cancer. Canadian Medical Association explanados. Porém, a compreensão das Journal. 2003 Apr 29;168(9):1147–8. suas interações em diferentes vias 4. ALLEN, Naomi E., et al. metabólicas continuagerando avanços "Moderate alcohol intake and cancer 57 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] incidence in women." 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Resultados: Os fios de sutura podem ser classificados em absorvíveis ou inabsoviveis, considerando sua degradação pelo organismo; orgânicos, sintéticos ou minerais quanto o seu material de origem; e multifilamentados ou monofilamentado, considerando o número de filamentos. As várias classificações de fios se tornam necessárias para atender a diversidade de tecidos existentes. Conclusão: Muitos critérios podem ser utilizados para escolher o fio de sutura a ser usado e depende da habilidade e conhecimento do profissional de saúde, considerando todo o processo de cicatrização, optar pelo fio ideal para cada procedimento. Palavras chave: fios cirúrgicos, adaptação histológica, sutura Acadêmica do Curso de Medicina – Fundação Universidade do Tocantins – UFT campus Palmas- Tocantins , Brasil Acadêmico do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antonio Carlos – ITPAC Porto Nacional- Tocantins , Brasil Especialista em Farmacologia e Pós-Graduado em Docência no Ensino Superior - ITPAC Porto Nacional - Tocantins, Brasil. 4 Doutora em Ciência Animal e Pós-Doutora em Medicina Veterinária Preventiva pela Universidade Federal de Goiás, - Goiás , Brasil 1 2 3 65 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] COMPARATIVE DESCRIPTION AND HISTOLOGICAL ADAPTATION OF SURGICAL SUTURES: LITERATURE REVIEW ABSTRACT Objective: Show the different surgical sutures and their ratings, analyzing and comparing their use considering the specificity of each tissue. Methods: Systematic review of literature based on published scientific articles and selected through electronic SciELO database. Results: surgical sutures can be classified into absorbable or non absorbable considering its degradation by the body; organic, synthetic or mineral as their source material; and multifilament or monofilament, considering the number of filaments. The various kind of surgical sutures become necessary to meet the diversity of tissues. Conclusion: Many criteria can be used to pick suture material to be used and depends on the skill and knowledge of the health care professional, considering the whole healing process, choose the ideal thread for each procedure. Key words: surgical sutures, histological adaptation, suture 66 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] INTRODUÇÃO em consideração quão diversificada e No inicio do desenvolvimento da complexa é a histologia dos tecidos medicina um dos grandes desafios era humanos. Cada região histologia conta como conter hemorragias e unir tecidos com uma gama de especificidades que a fim de evitar infecções e auxiliar o varia processo Nesse espessuras, até a vascularização e contexto foram criados os primeiros fios inervação. A partir daí há a necessidade cirúrgicos, com funções de ligar e de avaliar quais os fios e qual será a suturar. reação do tecido em questão. Devem-se de cicatrização. Muitos experimentos foram desde observar as tipo celular, fibras, propriedades de feitos na busca dos melhores materiais absorbância, reabsorção e regeneração para a formação desses fios, como, por para a escolha do melhor fio. exemplo, fibras vegetais, vísceras, Seja um cirurgião geral ou dentre outros. qualquer outro profissional que seja Assim como os materiais, a responsável pela prática de síntese, utilização dos fios cirúrgicos foi se realizam escolhas baseados em critérios aprimorando diversificados, dentre os quais podemos com o tempo. Foi observado que o mesmo material tinha citar: ações diferentes em partes diferentes do composição histológica do material/fio, corpo: Um fio que era muito útil em um extensão tecido e não supria a necessidade de resistência outro. adversas Quando se aborda sobre o ser preferências da das do ferida individuais, ou sínteses, cliente, incisão, condições ou ainda peculiaridades como faixa etária, massa humano e sua anatomia deve ser levado 67 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] corporal, outras patologias ou fatores na escolha da melhor opção que se desfavoráveis. adapte de forma satisfatória a cada tipo Os fios cirúrgicos classificam-se de acordo pelotecido com sua em absorvíveis de tecido, e descrever os tipos de fios degradação cirúrgicos ou utilizados relacionando-os orgânicos, sintéticos, mistos/minerais; aspectos histológicos. aos seus filamentos suturas considerando as suas especificidades e inabsorvíveis; por seu material em quanto em com os diversos em multifilamentados ou monofilamentados METODOLOGIA e pelo seu diâmetro, (SANTOS et al., Trata- se de uma de um artigo 2009). de revisão de literatura descritivo, Cabe ao cirurgião ter o qualitativo, realizado a partir de artigos conhecimento sobre fios cirúrgicos selecionados disponíveis e as características de cada eletrônico SciELO (ScientificElectrocic tecido para poder relaciona-los da Library Online), com estratégia de melhor forma e alcançar êxito nos busca definida sobre a temática de fios procedimentos É cirúrgicos e sua analise histológica. os Aplicou se a combinação dos seguintes profissionais de saúde conhecer os descritores “Fios cirúrgicos”,“Fios de materiais que serão utilizados nos sutura”, procedimentos cotidianos. “Cirurgia”, “Catgut” , “Feridas”, “Fios extremamente Esse de suturas. importante artigo de para banco “Suturas”, Absorvíveis”, revisão no de dados “Cicatrização”, “multifilamentos “Materiais dentários”, sistemática visa apresentar os variados sintéticos”, tipos de fios cirúrgicos e assim auxiliar “Propriedades físicas”, “Fios de aço”, 68 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 “Fios de [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] poliéster”, “Nylon”, condiliana “Polipropileno”, “Tipos de fio” e “Fios de úmero e estudo multicêntrico. inabsorvíveis”. Ainda foram descartados os Foram considerados os seguintes artigos que estavam em outras línguas critérios de seleção: artigos relacionados como o inglês e o espanhol, bem como com sua houve descarte daqueles artigos cujas origem, datas de publicação são anteriores aos composição e características; artigos considerados na pesquisa (1999) e que abordassem o metabolismo celular posteriores a 2012. No banco de dados e a absorção e não absorção dos fios; SciELO foram selecionados dezesseis considerando os artigos de revistas (16), dos quais foram utilizados oito científicas de publicações entre os anos (08) para o estudo descritivo. fios cirúrgicos histofisiologia, e a morfologia, de 1999 a 2012. Por, nem todos os artigos pesquisados abordarem os RESULTADO E DISCUSSÃO assuntos pertinentes à pesquisa dos fios e a sua foram serão apresentados os fios de sutura descartados aqueles tangenciavam do mais citados durante a revisão de tema. Foram eliminados primariamente literatura, classificados primeiramente aqueles que abordavam temas como pelas suas características de absorção e ligadura entre suas características serão citados do histofisiologia, Devido a grande diversidade, canal arterial, fios ortodônticos, nervo sensitivo radial, fio os de kirschner, manguito rotador, lesão pertinentes ao fio. abdominal, fio de Kirschner transfixando artéria aorta, fratura supra 69 outros tipos de classificação Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] 1. Características gerais decorrência de sua não degradação. As características dos fios de Quanto à sua origem são eles, orgânicos sutura a (fio de algodão), mistos ou minerais (fio classificação dos fios que, dentre outras de aço), e sintéticos (como o fio de formas, pode ser classificado de acordo nylon). Quanto ao diâmetro os fios são com sua degradação pelo organismo em subdivididos em calibres variados em absorvíveis e inabsorvíveis, quanto a números sua origem em orgânicos, sintéticos, determinam a sua resistência tênsil, e mistos pelo quanto maior a quantidade de zeros sendo mais delgado é o fio (SANTOS, et al. número são trabalhadas ou minerais, de como também filamentos multifilamentados ou monofilamentado de zero, cujos zeros 2009). (que também pode ser sugerido como a De acordo com cada uma de sua capilaridade), e ainda quanto ao seu suas diâmetro (que geralmente é evidenciado profissionais pelas numerações), (FOSSUM, 2002). escolhem os fios a serem utilizados, o No aspecto da degradação os características que é realizam que os suturas qual deve se adequado ao órgão ou fios cirúrgicos podem ser absorvíveis de tecido curta ou longa duração, de acordo com multifilamentado o tempo que levam para que o aderência organismo através de suas reações monofilamentado, metabólicas degrade completamente o desprezível seu uso em tecidos com alto fio. Já os fios inabsorvíveis não são índice de contaminação. Outro exemplo divididos quanto à sua duração, uma é o caso de tecidos que sofrem grandes vez que eles devem ser removidos, em cargas de tração, como aponeuroses, 70 a sofrer síntese. Um possui bacteriana o do que fio maior que um torna-se Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] esses devem ser suturados com fios de (BENICEWICZ E HOPPER, 1990), alta força tênsil. Fios que contam com a Apud (RIBEIRO E GRAZIANO, 2003). característica desvantajosa de grande Na execução da sutura ou síntese memoria, isto é, de voltarem a seu devemos contar com todo um arranjo, estado prévio à sutura, como dobram-se, que pode ser definido como “um ideal”. espiralarem-se, não oferecem vantagem. As Bem como aqueles que têm alta segurança no nó, adequada resistência à pliabilidade, que é a dificuldade de dar tração, nós, unida a à característica anterior reação tecidual, de reação carcinogênica oferecem ausente, não possuir a capacidade de dificuldades em suturas delicadas. (SANTOS, et al. 2009). características fácil ideais manipulação, seriam mínima desencadear ou mesmo de manter Os cirurgiões escolhem o fio de infecção, proporcionar a união das sutura influenciados por vários fatores, bordas da ferida unidas até pelo menos dentre ou a fase proliferativa da cicatrização, preferência individual, a característica possuir resistência no meio a qual atue e biológica do material, se absorvível ou ainda por cima ter um custo baixo, inabsorvível; a resistência à tensão de (HUMBERTO, et al. 2007). eles: seu treinamento uma sutura, que influencia no tipo e Nessa margem de discussão, diâmetro do fio a ser escolhido; a torna-se necessário trazer a baila, as localização e o tamanho da incisão ou fases de cicatrização da ferida, e assim do campo operatório e as condições situar melhor os apontamentos quanto particulares do paciente, tais como: às reações fisiológicas teciduais em idade, peso corporal, outras doenças ou presença condições clínicas desfavoráveis, Para necessidade é afirmada, pela capacidade 71 do fio cirúrgico. Essa Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] que os fios de sutura tem de causar Fase proliferativa - decorre do irritação aos tecidos e de determinar quinto dia até a quarta semana uma resposta inflamatória de baixa após intensidade predominando nessa fase os e curta duração. , (HUMBERTO, et al. 2007). ferida tecidual, se proliferação dos fibroblastos, procede com concomitante formação de inicialmente após o seu encerramento matriz extracelular. Fase em que primário e se subdivide em três fases: ocorre também o alinhamento „fase inflamatória‟, „fase proliferativa‟, das fibras colágenas e aumento e „fase de maturação e remodelação‟: da força tensil nas bordas da de lesão fenômenos da angiogênese e Dessa forma o processo de cicatrização a Fase inflamatória - inicia-se ferida e conseguinte redução do após a lesão tecidual, sendo tamanho da ferida. (BARROS, sobre et al., 2011). tudo evidenciados fenômenos relacionados com a Fase de remodelação- inicia-se formação do coágulo de fibrina na 3ª semana e pode prolongar- com se por mais de um ano. Barros agregação ativação de salienta que durante este tempo coagulação, e migração celular dá-se a maturação e renovação de das fibras de colágeno, formação macrófagos, da plaquetária, cascata polimorfonucleado, linfócitos e de novos capilares de maior fibroblastos. (BARROS, et al., calibre, 2011). epitélio e remodelação das fibras formação de novo de colágeno. A força de tensão 72 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 máxima é [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] atingida às 12 2. semanas mas não ultrapassa 7080% da força Fios inabsorvíveis Para que se tenha uma análise pré-lesão. mais detalhada e concomitante, uma (BARROS, et al., 2011). visão mais apreensível e entendível, Retomando a caracterização dos faremos uma abordagem do fio não- fios cirúrgicos, podemos fazer uma absorvível /inabsorvível, definindo suas consideração quanto aos diâmetros dos características peculiares, tais como: fios, pois conforme Santos, et al. origem do material, composição, (2009), os fios são enumerados pelo capilaridade, indicação, diâmetro sistema USP (Farmacopéia dos Estados aplicabilidade(SANTOS, et al. 2009). Unidos) como 2- 0, 3-0, 4-0, dentre Mediante outros. caracterizações todas anteriores, e as torna-se Sendo diversificadas e variáveis necessário apresentar alguns exemplos as relações entre a numeração do fio e de fios inabsorvíveis, os quais se seu seguem representados na Tabela 1: diâmetro correspondente em milímetros. Sendo que existe um valor (TABELA 1) mínimo e um máximo na dependência do numero, como por exemplo: o numero 0 varia de 0,35mm até 0,40mm de diâmetro do fio, (HUMBERTO, et al. 2007). 73 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 2.1.Fios [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] inabsorvíveis capacidade de potencializar infecções de por origem animal aderência bacteriana. Suas cirurgia geral, Seda: multifilamento entrançado, muito indicações fácil de manusear. Trata-se de um fio ginecológica, barato que permite dar nós seguros mas urológica, associa-se a tempo de suporte errático (GOFFI e TOLOSA, 1996). (força tênsil pequena e com perda total Linho: É um fio multifilamentado, ao fim de 1 a 2 anos). Sendo um fio inabsorvível, mas biodegradável assim orgânico acarreta maior reação tecidual como o algodão. Este material é e, por se tratar de um multifilamento, produzido a partir de fibras pericíclicas maior risco de infecção (SANTOS et do caule do linho. Possui boa resistência al., 2009). tênsil, é flexível, permite boa segurança 2.2.Fios inabsorvíveis obstétrica, oftálmica ortopédica, e neurológica, na formação dos nós e baixo atrito de quando implantado nos tecidos (GOFFI origem vegetal Algodão: É um fio multifilamentado, considerado são: inabsorvível, e TOLOSA, 1996). mas 2.3.Fios inabsorvíveis de biodegradável, composto de longas origem sintética fibras de algodão torcidas, com boa Poliamida (nylon): Possuem elevada flexibilidade e resistência. O algodão força ganha em resistência à tensão e em deslizamento e memória a reacção segurança dos nós, quando umedecido. tecidual De acordo com Goffi e Tolosa, as memória faz requerer 3 a 4 nós, desvantagens enquanto a sua hidrólise lenta faz perder do algodão é sua capilaridade, reatividade nos tecidos e 74 tênsil, mínima. elasticidade, A sua fácil elevada Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 15-20% da força [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] tênsil por ano ortopédicas e vasculares. Tem (HUMBERTO et al., 2007). aindacomo características ser um fio Polipropileno: esse fio tem elevada maleável força tênsil e elasticidade, e daí a memória, o queminimiza a irritação facilidade em distribuir a tensão em causada suturas contínuas, requer a realização de cirurgias cardiovasculares,hernioplastias 4 nós, desperta pouca reação de corpo e cirurgias orais (SILVA, 2009). estranho e é fácil de remover. Dá pouco e elástico, pelos 2.4. Fios traumatismo por arrastamento e difere nós. não possuir Indicado inabsorvíveis para de origem mineral dos restantes monofilamentos pela sua Aço inoxidável: Trata-se de um fio maior flexibilidade (HUMBERTO et inabsorvível al., 2007). materialbiologicamente Poliéster: foi o primeiro fio sintético capilar e facilmente esterilizável por não absorvível a ser produzido.Permite autoclave, (SILVA,2009). com inerte, não bom manuseamento, realização segura de nó, desperta pouca reaçãotecidual e 3. Fios absorvíveis apresenta De acordo com Silva os fios de força tênsil elevada e constante (HUMBERTO et al., 2007). Politetrafluoretileno: de Tabela 2, são fios quesão absorvidos um pelo organismo durante o processo de monofilamentomicroporoso constituído cicatrização. Isso evita anecessidade de de um polímero de cadeia de carbono um retorno do paciente para retirada dos com átomos de flúorem torno dele, pontos em locais queseriam inacessíveis tendo para a sua retirada sem uma nova politetrafluoretileno sido utilizado O fio sutura absorvíveis, apresentados na é em cirurgias 75 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] incisão, como, por exemplo,vísceras. Entre os de origem animal, o (SILVA, 2009). catgut Eles têm origem animal ou simples e sãoclassificados cromado também que como sintética e sua absorção varia de 1 a 3 monofilamtentos torcidos e entre os meses,logo, eles devem ser utilizados sintéticos nas suturas em que o fio deve multifilamentos sintéticos (Poliglatina, permanecer por poucotempo, ou seja, Ácido Poliglicólico) emonofilamentos tecidos de rápida regeneração, (Santos, sintéticos et al. 2009). Poliglecaprone Os fios absorvíveis são citatambém os (Polidioxanona, e Gliconato). (SLATER,1998). utilizados de acordo com o tipo de TABELA 2 tecido animal,por exemplo, eles podem ser usados na pele e subcutâneo, mas na pele devem serremovidos porque a absorção requer contato com fluidos corporais. Alguns outrosexemplos são músculo e órgãos parenquimatosos e vasos, tais como fígado, baçoou rim que 3.1.Fios absorvíveis de origem são geralmente suturados com fios monofilamentares animal absorvíveis. Fio catgut simples e cromado: A Emórgãos ocos recomendam-se fios camada serosa do intestino delgado de absorvíveis para prevenir retenção de bovinos materialestranho na cicatrização da sadios. longitudinais ferida. (SLATER, 1998). de Possui origem fibras proteica revestida de colágeno formando um 76 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] multifilamento que proporcionam maior aderências e não desencadeia reação resistência ao fio. A absorção do catgut inflamatória significativa ao seuredor. é um processo que envolve fagocitose, Pode ser bem empregado em suturas principalmente dos macrófagos. Ainda delicadas ou que requer menor tempode envolve dois estágios, um em que as permanência, (SLATER (1998). ligações moleculares são quebradas por Ácido Poliglicólico: Trata-se de um fio hidrolise acida e outra a colagenólise, sintético absorvível composto deum (SILVA, 2009). Em seguida há a monopolímero de ácido glicólico (ácido digestão e a absorção por enzimas hidroxiacético) proteolíticas. O catgut cromado possui a emmultifilamentos, com boa resistência, mesma composição do simples, só que bom manuseio na confecção dos nós e para aumentar sua resistência ele é boafixação. Seu material é considerado tratado com uma solução salina de inerte, não antigênico e não piogênico e cromo, (SLATER, 1998). suaabsorção ocorre por hidrólise de moldado forma uniforme e previsível, conforme 3.2.Fios absorvíveis de origem estudos de, (SILVA, 2009). sintética Poliglatina: confeccionado a partir de Polidioxanona: Esse fio é útil quando polímeros que são inerteis,antigênicos e se não piogenicos. Esse é um fio trançado eresistência prolongada. As suturas com bem estirado e tem absorçãode 60 a 80 esse dias. Possui boa resistência a tração e de tecidosmoles, fácil manuseio. Tem sido considerado oftalmológicas, exceto a córnea e a um material excelente para qualquer esclera, e cirurgiascardiovasculares, não tipo de sutura, por que nãofavorece sendo recomendada para tecido neural. 77 quer uma material sutura são absorvível indicadas em para cirurgias Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 É definido [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] comomonofilamento de bactérias. A suaboa maleabilidade dá poliéster, não alergênico e que durante a segurança aos nós de sutura. Possui absorção sofre ligeirareação tecidual, ainda a capacidade deser absorvido até (SILVA, 2009). 60 dias, sendo que em 14 dias após sua Poliglecaprone: é um fio implantação ocorre 50%de sua monofilamentar sintético à base de degradação pelos tecidos. É indicado blocossegmentados de copolímeros de para épsilon coprolactona e glicolida que são eobstétricas, urológicas, sutura de pele e absorvidospor hidrólise quando em ligadura de vasos, (SILVA, 2009) contato e(SLATER, 1998). com organismos vivos. cirurgias gastrointestinais Apresenta excelenteresistência tênsil, reduzida memória maleabilidade. e grande Devido CONSIDERAÇÕES FINAIS a Na área médica são de extrema essascaracterísticas pode ser aplicado importância as produções científicas, não somente nas suturas internas, mas tambémem suturas superficiais umavez que essas tendem a melhorar a de atuação dos profissionais, seja através mucosa e externas cutâneas, (SILVA, depráticas 2009). é desenvolvido, a fim de, trazer para o gliconato. Possui baixo coeficiente de superfície lisa ou que estetrabalho de revisão sistemática monofilamento, produzido a partirdo contem cirúrgicas, clínicas investigativas. É neste intuito Gliconato: É um fio classificado como atrito, médicas, campo damedicina conhecimentos sobre que a estrutura e propriedades dos fios de favoreceusá-lo em suturas delicadas e sutura bemcomo sua utilização de acaba minimizando a aderência de acordo 78 com o tecido/órgão, Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] metabolismo celular e reaçãotissular REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS que os fios podem desencadear. Observa-se, que apesar BARROS, M. et al. Princípios básicos das em cirurgia: fios de sutura. Acta Med múltiplas características dos fios de Port. V.24, n. S4, p. 1051-1056 sutura, como absorvíveis, inabsorvíveis, vegetais ou CASTRO, H. L.; DELLA BONA, A.; sintéticos, ÁVILA, V. J. B. Propriedades físicas multifilamentados oumonofilametos, a dos sua escolha leva em consideração principalmente as peculiaridades FOSSUM, utilizados na T, W. Cirúrgia de Pequenos Animais. 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Acomete principalmente a metáfise de ossos longos como o fêmur distal, tíbia proximal e úmero proximal. Osteosarcoma, ou sarcoma osteogênico, é de difícil diagnóstico precoce devido a forma insidiosa com que aparece.Seu tratamento inclui diversas abordagens terapêuticas dependentes de variáveis como volume, localização e estadiamento. Palavras chave: Tumor ósseo, osteosarcoma, diagnóstico, estadiamento. 1 2 Acadêmico de Medicina da UFT; Orientador e docente do curso de Medicina da UFT. 81 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] INTRODUÇÃO METODOLOGIA De acordo com a Sociedade A pesquisa foi fundamentada na Brasileira de Cancerologia, surgem no revisão de literatura, análises científicas Brasil 2.700 novos casos de câncer ósseo de pesquisa latino-americana e norte e estes são percebidos como raros. americana sobre a temática Tumor Tumores ósseos Ósseo. O processo de seleção de artigos malignossão classificados em primários secundários. Tumores teve como período determinante o e lapsoentre os anos de 2011 a 2016. primários Foram configuram-se como os originados do utilizados materiais com disponibilidade na íntegra do texto. osso, enquanto os secundários são Ocorreram provenientes de partes distintas do buscas pela Biblioteca Virtual de Saúde (BVS); American organismo e migram para a estrutura CancerSociety;PubMed; óssea, denominando a metástase. Scielo; Sociedade Brasileira de Cancerologia, Temos como tumores malignos mais frequentes (também o chamado revistas Osteosarcoma de Norte Americanas e Latino Americanas atualizadas. sarcoma osteogênico), apresentado como tumor exclusivo do osso, categoria primária. ETIOLOGIA O presente artigo de revisãotem como objetivo atualização A causa dos tumores ósseos é médica desconhecida, porém, hereditários revelando as características clínicas e mutações genéticas.Ocorrem com índice epidemiológicas do Osteosarcoma, bem elevado em áreas de desenvolvimento como sobre ósseo rápido e, apesar de numerosas negligência dos sintomas basais comoa alterações moleculares e genéticas dor, aumento de volume local, fratura e serem associados a patogênese para o impotência funcional, tendo em vista a desenvolvimento facilidade em erro ao discernir essas (OS), sua simplesdores com o surgimento de obscura1. atenção tumores ósseos. A causados do por ser quanto ao tumor ósseo mais comum, introduzir e parecem certas osteossarcoma progressão permanece Sociedade Brasileira de Oncologia identifica que a prevalência é 82 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] maior no sexo masculino, com uma admitem relação de 1,5 a 2,1: 1, ocorrendo neoplasias malignas podem ter origem geralmente entre a segunda e terceira na inflamação crônica e em agentes décadas uma infecciosos, um exemplo é a Doença de distribuição bimodal, com um pico Paget do osso5. Foi identificado que inicial no período da adolescência e portadores dessa doença crônica têm adultos jovens,e um segundo pico após a maiores 6ª década de vida2. osteossarcoma na vida adulta, pois a de vida, seguindo que mais chances desestruturação Outros fatores de risco para de de da 25% das apresentar arquitetura o nos tecidos ósseos acometidos, promovida osteossarcoma incluem: Idade: o risco de por reabsorção óssea aumentada e reparo osteossarcoma é o mais alto durante o ósseo surto de crescimento na adolescência; desorganizado, resulta em aumento de volume e maior fragilidade Altura: pode haver alta conexão entre óssea, podendo haver transformação crianças altas e osteossarcoma; Etnia: O neoplásica das lesões, especialmente o osteossarcoma é um pouco mais comum osteossarcoma6. em afro-americanos do que em brancos3. Apesar desta tumorogênese não ter procedência absolutamente definida, DIAGNÓSTICO as pesquisas identificaram outros fatores que promovem incidências Neoplasias ósseas apresentam dessa uma patologia. Alguns procedimentos para diagnosticar ao aparecimento de um osteossarcoma, diagnóstico Crianças que tiveram retinoblastoma ligação ao modo pode ser confuso e imitar Histiocitoma Fibroso Maligno, para o osteossarcoma, particularmente se Fibrossarcoma ou Tumores de Células eles são tratados com radiação4. Gigantes. estar a A radiografia averigua o estado subestimar a associação entre infecção o têm histológico, pois o osteossarcoma pode hereditário apresentam risco aumentado e comportamentos insidioso com que a doença surge. O como a intervenção por radioterapia. crônica de genéticos. A demora e a dificuldade em diagnósticos e tratamento podem induzir Atualmente podemos variedade desenvolvimento ósseo e se existe algum tecido mais de denso. Geralmente é o primeiro exame neoplasias malignas. Alguns autores 83 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] feito quando há suspeita de tumor ósseo. cirúrgicos que visam preservação do O exame por raios X pode mostrar a membro. A RNM é o procedimento mais destruição do córtex, a elevação do preciso para a avaliação da extensão periósteo e a extensão extra-óssea com intra e extramedular de um tumor ósseo. ossificação dos tecidos moles adjacentes, O contraste marcante entre os sinais da mas gordura e do tecido neoplásico torna a muitas vezes são necessários exames complementares para fechar o RNM excelente diagnóstico7. estudo9. método para este Os três locais onde a metástase se A tomografia por emissão de instala preferencialmente são pulmão, pósitrons (PET) é um exame que fígado e osso. O diagnóstico é realizado monitora a atividade metabólica no por meio de diversas ferramentas, entre corpo todo e consegue detectar tumores elas exames laboratoriais que mostra se que se disseminaram para os linfonodos há no sangue algumas substâncias que, ou outras estruturas e órgãos do corpo10. em elevados títulos, indicam a presença A de tumor em estágio avançado, tais como medicina nuclear utiliza radiação em mínima quantidade, uma fosfatase alcalina e lactato desidrogenase das ferramentas que utilizam esse tipo de 7 (LDH) . estrutura nuclear é a Cintilografia. Sua Tomografia computadorizada utilização em conjunto com agentes (TC) reproduz imagens em distintos buscadores de tumores pode oferecer ângulos, útil para diagnosticar se o tumor informações adicionais invadiu aumentando a estruturas como tendões, importantes, especificidade do músculos ou tecido gorduroso7. A TC é diagnóstico, em comparação com as mais precisa no diagnóstico de doenças técnicas metastáticas do tórax do que os raios-x8. morfológicas. Isto para o acompanhamento de tumores visualização envolvidos, preciosas propicia de tecidos fornecendo para uma auxiliar imagens das maiores ela permite a pesquisa de todo o corpo. (RNM) deve ser usada com freqüência pois Uma de vantagens da cintilografia óssea é que Ressonância Nuclear magnética malignos, convencionais é importante aproximadamente boa metastáticas moles 13% ocorrem porque das no lesões esqueleto apendicular em regiões que usualmente informações tratamentos 84 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] não são incluídas na pesquisa mostrará 11 esquelética . dinâmica correta do tratamento. No entanto, é necessário exames de imagem para um correto A Biopsia também é um exame importante, pois confirmação do determinará diagnóstico estadiamento, incluindo uma varredura a isótopo de indicada pelo médico colabora conduzir o descartar metástases pulmonares12. a investigação padrão em cenário de biopsia para tórax e tomografia computadorizada para que fará o tratamento, sendo que a biópsia aberta é A óssea tratamento, bem como radiografia de osteossarcoma. A biópsia deve ser dúvida. a Sabe-se que na década de 60 o em volume de amputações de pacientes com determinar a melhor opção de tratamento câncer era bastante expressivo, porém e deve ser um procedimento de absoluta com atenção, pois biópsias realizadas de procedimentos a expectativa e qualidade maneira inadequada são responsáveis de vida aumentaram. A amputação pode por modificações no plano terapêutico2. acarretar necrose, infecção, crescimento a intervenção de novos excessivo do osso em crianças, neuroma, dor do membro fantasma, dentre outros CONDUTA TERAPÊUTICA As opções tratamento Atualmente há diversidade de responderão a especificidade do tumor. procedimentos justapostos ao sarcoma Volume, localização e estadiamento são ósseo que respondem com êxito a: fatores quimioterapia, procedimento sistêmico, que de fatores. direcionam qual procedimento executar. radioterapia e ressecção do osso. De acordo com a Sociedade Algumas referências Americana Muscoesquelética, o sistema esclarecemque os procedimentos padrão de estadiamento dos tumores é feito em para a terapêutica de osteossarcoma três informações: o grau do tumor (I = incluem quimioterapia, cirurgia de ponta baixa qualidade; II = alto grau); A combinada e inovadora estratégia de extensão do tumor (A = envolvimento fortalecimentodroga imunitário, o que intra-; B = intra e extra ósseos extensão); pode diminuir a quantidade de 30 a 40% Presença de metástases à distância (III). pacientes de risco com a recidiva da Através do estadiamento é que se doença 85 com metástases Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] pulmonares13.Porém,mesmo as Radioterapia é um método em técnicas de quimioterapia e cirúrgicas potencial para destruir células tumorais, melhoradas, muitos pacientes portadores porém no caso de osteosarcoma há de ressalvas. O tratamento por radioterapia OS não com conseguem atingir a sobrevida livre de doença a longo prazo, no devido radiorresistente, não é aplicado como ao desenvolvimento de 1 resistência a intervenções terapêuticas . Os procedimentos osteossarcoma inacessível, paliativa. com cisplatina, ifosfamida e etoposido são mais utilizados em regiões Portanto, esse procedimento não é utilizado em todos os pacientes compostos metotrexato, doxorrubicina, os geralmente ou coluna e pélvis como uma opção terapia endócrina) antes ou após a cirurgia. Os atualmente irressecável axiais, incluindo a cabeça, pescoço, radioterapia com a terapia antineoplásica ou relativamente indicado apenas em pacientes com sistêmicos sendo possível e se viável associado a (quimioterapia tumor uma primeira escolha, sendo comumente levam a uma conjunção de tratamento, sistêmica OS, câncer; vai depender do estadiamento e evolução do tumor no maligno16. combate a esta patologia, no entanto apresentam elevada citotoxicidade e A ressecção a ser no caso de quando administrados em longo prazo procedimento são a causa de efeitos secundários neoplasias malignas. adversos, tais como falência renal, cirurgia continua a ser uma parte mielossupressão indispensável de tratamento osteossarcoma em conjunto e problemas cardíacos14. comum tende Atualmente, a de com Mas provavelmente apenas o quimioterapia. O objetivo da cirurgia procedimento sistêmico não é suficiente, deve ser uma remoção completa do há dados que indicam que nem todos os tumor, com uma ampla margem de pacientes tecido normal, a fim de evitar locais de com diagnóstico de osteossarcoma com um alto grau (grau recorrência, 3) sebeneficiariam com o tratamento segurança do paciente16. sistémico, já que altas taxas de prezando sempre . sobrevivência só pode ser conseguida por meio da ressecção CONSIDERAÇÕES FINAIS cirúrgica completa15. 86 pela Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] É notória a importância do diagnóstico 2. SAMAL B.P., et al; Calcaneal precoce do osteossarcoma, fato que osteosarcoma, a challenge for diagnosis: diagnosticado em tempo prematuro a rare case report and literature review. condiciona melhor qualidade de vida ao Oncology Discovery. Vol. 3. Article 2. paciente, proporcionando a preservação 2-3. Outubro 2015. do membro, bem como a sua função 3. MANDAL A. Causas y sintomas Del mais fisiológica possível. cáncer Além do cenário palpável a de hueso. Disponível em: <http://www.news- respeito do diagnóstico e tratamento, é medical.net/health/Causes-and- conveniente lembrar que o paciente symptoms-of-bone-cancer- vítima de câncer deve ser compreendido (Spanish).aspx>. Acesso em 05.08.2016 no contexto multidisciplinar, cujo 4. tratamento e chance de sobrevida são Actualización imprecisos, tendendo deste modo o paciente a disfuncionais. enfrentamento ter As Asoc. pensamentos estratégias psicológico MUSCOLO, en Argent. D. Luis et al . osteosarcoma. Rev. Ortop. Traumatol., Ciudad Autónoma de Buenos Aires , v. de 74, n. 1, p. 86-101, março sãos 2009 . Disponível principais meios que possibilitam a em <http://www.scielo.org.ar/scielo.php?scr minimização do sofrimento advindos da ipt=sci_arttext&pid=S1852- doença, bem como manter o paciente 74342009000100015&lng=es&nrm=iso informado sobre descobertas atuais de >. Acesso em 10.09.2016 tratamento. 5. FERNANDO FONSECA et al, Transformação maligna da osteomielite REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS crônica. Disponível em <http://rihuc.huc.min- 1. LI, Y., et al. The Calcium-Binding saude.pt/bitstream/10400.4/1850/1/Trans Protein S100A6 Accelerates Human forma%C3%A7%C3%A3o%20maligna Osteosarcoma Growth by Promoting %20da%20osteomielite%20cr%C3%B3 Cell Proliferation and Inhibiting nica%20- Osteogenic Differentiation. Cellular %20Revis%C3%A3o%20da%20literatur Physiology and Biochemistry. Vol. 37. a%20e%20casos.pdf>. No. 6. 2375-2392. Dezembro 2015. 07.08.2016 87 Acesso em Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] de Exames de Imagem e Radioterapia. 6. Protocolo Clínico e Diretrizes Coord. geral Aldemir Humberto Soares. Terapêuticas, Doença De Paget – Osteíte 1 ed, vol. 2, São Paulo, 2005. Deformante. Disponível em: 12. KHAN, N., et al. 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No caso específico da gastrite, estudos recentes mostram a relação estreita entre a doença e a bactéria Helicobacter pylori. No entanto, a história natural das doenças esclarece que praticamente todas as patologias possui diversos aspectos relacionados a sua gênese, um deles é o aspecto psicossocial com destaque para o estresse. O estresse pode estar presente no aparecimento da gastrite, principalmente nos casos graves de pacientes internados. Aspectos emocionais parecem não possuir estreita associação, de maneira isolada, com a origem das gastrites. Outro importante fato é que a gastrite em algumas ocasiões é relatada como um sintoma. A literatura mostra que gastrite é uma doença e seu conceito passa necessariamente por uma injúria no tecido do ambiente gástrico, cujo diagnóstico definitivo necessita da verificação de achados histopatológicos específica. A presente revisão comparara aspectos orgânicos e psicológicos relacionados com a gastrite para avaliar o mito conhecido como “gastrite nervosa”, examinando sua aproximação com a nosologia propriamente dita. Palavras- chave: Mito. Gastrite. Saúde. Doença. Aspectos orgânicos. Aspectos psicossociais. 1 Acadêmicas do 12º período de Medicina do Instituto Tocantinense Antônio Carlos Porto - ITPAC. e-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]. 2 Gastroenterologista e Professor auxiliar de Saúde do Adulto na Universidade Federal do Tocantins – UFT e Instituto Presidente Antônio Carlos Porto – ITPAC. email: [email protected]. 89 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] THE MYTH OF GASTRITE NERVOUS ABSTRACT Recent scientific advances are further illuminating the genesis of health problems. In the specific case of gastritis, recent studies show the close relationship between the disease and the bacterium Helicobacter pylori. However, the natural history of the diseases explains that practically all the pathologies have several aspects related to its genesis, one of them is the psychosocial aspect emphasizing the stress. Stress may be present in the onset of gastritis, especially in severe cases of hospitalized patients. Emotional aspects do not seem to have close association, in an isolated way, with the origin of gastritis. Another important fact is that gastritis on some occasions is reported as a symptom. The literature shows that gastritis is a disease and its concept necessarily passes through an injury in the tissue of the gastric environment, whose definitive diagnosis necessitates the verification of specific histopathological findings. The present review compared organic and psychological aspects related to gastritis to evaluate the myth known as "gastritis nervosa", examining its approach to the nosology itself. Keywords: Myth. Gastritis. Health. Disease. Organic aspects. Psychosocial Aspects. 90 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] gastroduodenal, veremos que conflitos INTRODUÇÃO O presente estudo destina-se a uma comuns ligados ao seu trabalho, ou à vida aproximação do entendimento do mito da familiar “gastrite nervosa”, um problema de saúde suficientes rotineiro no contexto da atenção básica. O sintomatologia primeiro 2005). No entanto, a literatura específica entendimento desta revisão área e afetiva, para são desencadear dolorosa.” médica elementos (FERRAZ, bibliográfica, no entanto, fica por conta da da conceituação de “mito”, tendo em vista a considera frágil a participação de fatores não ocorrência de registros científicos da psicogênicos nosologia Gastrite Nervosa. Podemos observar em DANI (2011), que na de a gastroenterologia gênese da gastrite. as classificações das gastrites considerando O mito é uma Personagem, fato ou particularidade que, não tendo sido real, simboliza não obstante uma generalidade que devemos admitir coisa que não existe, mas que se supõe real, só possível por hipótese quimera. Um mito é um conjunto de símbolos que procuram falar daquilo que não se pode falar, não por ser um ser um segredo misterioso e proibido aos não iniciados, mas por estar situado radicalmente fora da linguagem. (JABOUILLE, 1986). sua etiologia não contemplam os fatores emocionais, mas sim aquele ligado as injuria da mucosa. “O termo gastrite deve ficar restrito aos casos em que coexistem lesão celular, processo regenerativo e infiltração Esta conceituação básica nos gástrica”. existir a doença em estudo, no entanto a 1995). dá conta de acrescida da presença de folículos linfóides na mucosa permite entender que parece mesmo não literatura inflamatória, (CARPENTER; TALLEY, ocorrências psicossomáticas como o “nervosismo” APRESENTAÇÃO como um dos fatores presentes na gastrite. As pré-condições que condicionam “Se atentarmos para o histórico do paciente a produção de doença, seja em indivíduos, com sejam em coletividades humanas, estão de gastrite ou com úlcera 91 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] tal forma interligadas e, na sua tessitura, agressores físicos, químicos e biológicos. são tão interdependentes, que seu conjunto Os forma uma estrutura reconhecida pela componente social podem ser agrupados, denominação de estrutura epidemiológica. didaticamente, com vistas a uma melhor Por estrutura epidemiológica, que tem compreensão, em quatro tipos gerais cujos funcionamento sistêmico, entende-se o limites não se pretendem que sejam claros conjunto formado pelos fatores vinculados ou finamente definidos: Fatores sócio- ao suscetível e ao ambiente, incluindo aí o econômicos, fatores sócio-políticos, fatores agente etiológico conjunto este dotado de sócio-culturais e fatores psicossociais. uma organização interna que define as (ROUQUARYOL, 2013). fatores que constituem esse suas interações e também é responsável O termo gastrite foi usado pela pela produção da doença. É, na realidade, primeira vez por Sthal em 1728. Vale um sistema epidemiológico. Cada vez que salientar um alguma tecnológica ocorrida, ainda não existe um alteração, está repercutirá, e atingirá os conhecimento completo desta afecção. demais, num processo em que o sistema Exatamente por não ter um busca novo equilíbrio. Um novo equilíbrio etiológico definido, muitas denominações trará consigo uma maior ou menor foram utilizadas, resultando sempre em incidência de doenças, modificações na grande dificuldade na interpretação dos variação cíclica e no seu caráter, epidêmico dados da literatura. Às vezes, situações ou endêmico. O componente social na pré- emocionais de conflito, de depressão ou patogênese poderia ser definido como uma angústia com manifestações digestivas categoria residual: conjunto de todos os eram referidas como “gastrite nervosa”. O fatores que não podem ser classificados diagnóstico de gastrite deve ficar restrito como aos casos em que coexistem lesão celular, dos componentes componentes sofrer genéticos ou 92 que, apesar da evolução agente Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] processo regenerativo e infiltração METODOLOGIA inflamatória com folículos linfóides na mucosa gástrica. O presente Trabalho constitui-se de (CARPENTER; uma pesquisa em literatura utilizando-se TALLEY, 1995). tanto os textos clássicos quanto trabalhos de investigação publicados. A pesquisa bibliográfica OBJETIVOS O trabalho visa contribuir com o entendimento adequado de serviu inicialmente para embasamento teórico do estudo. Foram uma realizadas pesquisas em literatura determinada doença para orientar de forma específica, artigos segura sobre prevenção e tratamento desta dissertações em doença. Estabelecer o conceito de Gastrite pesquisa buscou ainda confrontar aspectos em detrimento do entendimento popular de orgânicos “gastrite de entendimento do tema. Busca e análise maneira mais adequada sobre os aspectos seletiva de livros técnicos e publicações que dão origem a doença, incluindo os em base de dados - BVS-LILACS BVS- aspectos psicossociais. O termo “gastrite IBECS; nervosa” SCOPUS-Elsevier freqüência nervosa” é para utilizado pela informar com população, alguma mas e científicos, acervos psicológicos teses e virtuais. para Pubmed/Medline-NLM - com seleção A o e de não referências científicas de relevância no encontra escopo na literatura médica. período de fevereiro a novembro de 2016. Considerando que o adoecer é quase Para a efetivação da busca de artigos foram sempre um evento multifatorial, a gastrite utilizados os apesar de estar acompanhada de fatores Gastrite, mito, psicossociais, não possui estes fatores sociedade. como origem exclusiva da doença. psicossomática, cultura, saúde e doença. 93 seguintes sintoma, descritores: psicologia, gastroenterologia, Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] “Várias situações estressantes resultam em FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Inicialmente, uma abordagem do lesões agudas da mucosa gástrica. As ponto de vista orgânico faz-se necessária. causas mais comuns de erosões gástricas Gastrite significa inflamação gástrica. Este incluem termo é utilizado atualmente para indicar a queimaduras, septicemia, choque e presença de um infiltrado leucocitário insuficiência respiratória, renal ou inflamatório na mucosa do estômago, que hepática.” (DANI, 2011). Vale ressalta, pode ou não se associar a alterações do para complementar a associação entre aspecto endoscópico. A gastrite causada erosão e gastrite que o achado que mais se pela bactéria Helicobacter pylori e a correlaciona com gastrite na endoscopia é gastrite auto-imune são os dois principais a presença de erosões na mucosa (gastrite representantes. erosiva Segundo publicação da Federação trauma, ou cirurgia extensa, gastropatia erosiva). Observamos que ocorre envolvimento de Brasileira de Gastroeneterologia (2016), eventos não-orgânicos específicos classificamos as gastrites e gastropatias origem das lesões da mucosa gástrica e que baseando-se em (1) tempo de instalação praticamente as situações envolvem o (aguda ou crônica), (2) histopatologia ambiente hospitalar. No entanto os eventos (gastrite superficial ou gastrite atrófica ou emocionais do gastropatia e (3) etiologia - Gastrite antral abordados. Por por H. pylori, Pangastrite (atrófica ou não) observar a seguir motivos psicológicos que por H. pylor, Gastrite atrófica auto-imune e podem estar associados as gastrites. É Gastrite crônica de tipo indeterminado. importante cotidiano este também não motivo, o registro na são vamos da Os casos de gastrite que possuem existência de uma entidade nosológica que relação direta com o estado emocional do acomete o aparelho digestório alto e que paciente dão conta de situações extemas. possui fraca relação com eventos orgânicos 94 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] e ao mesmo tempo pode evidenciar pois aqui se concentram os chamados aspectos emocionais, conhecida como “fatores psicossociais”. Os determinantes dispepsia funcional. sociais de saúde (DSS) são os fatores Uma análise de revisão de literatura revela claramente uma sociais, associação entre farores psicossociais e étnicos/raciais, dispepsia comportamentais funcional. (FELDMAN; FRIEDMAN; BRANDT, 2014). distanciam da a psicológicos que e influenciam a fatores de risco na população. (CNDSS, gastrite que se abordagem culturais, ocorrência de problemas de saúde e seus É importante salientar aspectos relacionados com econômicos, 2006). puramente Uma importante literatura específica da área de epidemiologia nos orgânica. Nesse sentido, cabem aqui ajuda a entender considerações gerais e iniciais sobre o psicossociais: estes fatores adoecimento, ou sobre a doença. “O termo doença” (illness), utilizado para o paciente, Dentre os fatores psicossociais aos quais pode ser imputada a característica de prépatogênese, encontram-se: marginalidade, ausência de relações parentais estáveis, desconexão em relação à cultura de origem, falta de apoio no contexto social em que se vive, condições de trabalho extenuantes ou estressantes, promiscuidade, transtornos econômicos, sociais ou pessoais, falta de cuidados maternos na infância, carência afetiva de ordem geral, competição desenfreada, agressividade vigente nos grandes centros urbanos e desemprego. Estes estímulos têm influência direta sobre o psiquismo humano, com conseqüências somáticas e mentais danosas”. (ROUQUARYOL, 2013). denota o que este sente quando procura auxílio médico. Trata-se de uma interpretação subjetiva dele e de todos os que o cercam, incluindo a importância atribuída ao agravo, bem como suas conseqüências. A pessoa entra no consultório com uma doença (illness) e sai com uma enfermidade (disease). Uma emoção é antes uma reação (HELMAN, 2009). Para esclarecer sobre aguda, que envolve pronunciadas os fatores psicológicos devemos considerar alterações somáticas, experimentadas os determinantes sociais do adoecimento, como uma sensação mais ou menos 95 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] agitada. A sensação e o comportamento como sintoma e não exatamente como uma que a expressam, bem como a resposta doença. Isso ocorre com alguma freqüência fisiológica interna à situação-estímulo, no consultório, quando o paciente se refere constituem a um todo intimamente um sintoma com relativo ao “gastrite”. aparelho relacionado, que é a emoção propriamente digestório dita. Assim, emoção tem ao mesmo tempo encontrada outra fonte bibliográfica que componentes fisiológicos, psicológicos e cita a palavra gastrite como sintoma. Não foi sociais – desde que as outras pessoas constituem estímulos geralmente emotivos os em maiores nosso CONCLUSÃO meio Parece seguro concluir-se que a civilizado. (MARINO, 2013). expressão conhecida popularmente como “gastrite nervosa” não encontra lugar na A relação da gastrite com o estresse já foi comentada anteriormente, literatura científica. Ainda assim o termo é principalmente em situações de maior usado com alguma freqüência inclusive gravidade e relacionadas com o ambiente entre profissionais da área de saúde. Como nosocomial. Vale considerar ainda o praticamente em todas as doenças, os ambiente do consultório. Um dos mais fatores conhecidos como psicossociais importantes de estão presentes também nas gastrites, estresse em nosso meio é o “Teste de raramente como o agente principal e quase Lipp”. (LIPP, 2014). Observamos que no sempre inventário de sintomas do referido teste, a participam das condições favoráveis para o autora elenca o “aparecimento de gastrite aparecimento de uma alteração no estado prolongada” na fase de resistência do de saúde. testes para avaliação como um dos fatores que estresse. Aqui então observamos uma A literatura médica é clara ao publicação científica que trata a gastrite considerar a gastrite como um diagnóstico 96 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] histológico ou no máximo endoscópico se razoável admitir que realmente a “gastrite os achados macroscópicos no ambiente nervosa” está inserida neste contexto, pelo gástrico forem sugestivos. Os estudos fato de ligar-se muito mais ao imaginário atuais dão conta de que quase totalidades do que a ciência das nosologias. das gastrites estão ligadas a presença da bactéria Helicobacter pylori. Ocorre que REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARPENTER, H. A; TALLEY, N. J. Gastrocopy is incomplete without biopsy: clinical relevance of distinguishing gastropathy from gastritis. Gastroenterology, v. 108, ed. 3, p. 917924, mar. 1995. esta ligação somente ficou estabelecida recentemente. Isso pode, no passado, ter desencadeado sugestões de aspectos psicológicos fortemente envolvidos com a COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE (CNDSS). Carta aberta aos candidatos à Presidência da República.São Paulo: Fiocruz, 2006. Disponível em: <www.determinantes.fiocruz.br>. Acesso em: 09 fev. 2017. gastrite. A presente revisão aponta fatores estressantes ligados a quadros graves em pacientes internados como intensamente relacionados com o aparecimento da DANI, R.; CASTRO, L.P. Gastroenterologia clínica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2011. gastrite. Mas estes aspectos seguramente não seriam os envolvidos no aparecimento FELDMAN, Mark; FRIEDMAN, Lawrence S; BRANDT, Lawrence. Sleisenger & Fordtran: tratado gastrointestinal e doenças do fígado. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. do termo “gastrite nervosa”. Apenas uma publicação científica das revisadas nesta pesquisa apresenta o termo “gastrite” FERRAZ, Flávio Carvalho. Psicossoma: psicanálise e psicossomática. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005. sugerindo ser o mesmo um sintoma. Em todas as outras publicações o entendimento HELMAN, C. G. Cultura, saúde e doença. 5. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2009. do termo esta relacionado com a doença propriamente dita. Considerando-se os elementos JABOUILLE, Victor. Iniciação à ciência dos mitos. Lisboa: Inquérito, 1986. Cadernos Culturais n. 120. 119 p. que justificam a existência dos mitos, parece 97 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] LAKATOS, E.M; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed.São Paulo: Atlas, 2010. LIPP, M. N. Stress e suas implicações. Estudos de Psicologia, 2014. MARINO Jr., R. Fisiologia das emoções. São Paulo: Sarvier, 2013. OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de metodologia científica: projetos de pesquisa, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira, 2002. ROUQUAYROL, Maria Zélia; SILVA, Marcelo Gurgel. Epidemiologia & saúde. 7. ed. Rio de Janeiro: MedBooks, 2013. 98 Rev Pat Tocantins V 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] CASE REPORT DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE HANSENÍASE TUBERCULOIDE NODULAR DA INFÂNCIA E LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA EM PACIENTE PEDIÁTRICO: UM CASO BREVE Giovana Trevizani Toigo1, Renata de Paula Mendonça1, Cibele Rezende Borba1, Fabiana Ribeiro Queiroz de Oliveira Fagundes2 RESUMO A hanseníase nodular da infância é uma variedade da hanseníase tuberculoide que acomete crianças de 1 a 4 anos de idade. O caso relatado baseia-se em um paciente de 4 anos, sexo masculino, que apresentou uma lesão nodular em região infra orbital com um ano de evolução e foi inicialmente diagnosticado com leishmaniose tegumentar americana através de uma primeira análise histopatológica. Porém, devido à clínica pouco compatível com a leishmaniose tegumentar americana, associada à morfologia da lesão característica de hanseníase tuberculoide do tipo nodular da infância, aventou-se esta hipótese como diagnóstico diferencial. A hipótese foi confirmada após uma nova biópsia e iniciou-se o tratamento para hanseníase tuberculoide. Dessa forma, destacamos a relevância da compatibilidade entre a clínica e o estudo histopatológico e do conhecimento das variedades de hanseníase, uma patologia com alta prevalência no Tocantins, que também pode ser diagnóstico diferencial para doenças dermatológicas também prevalentes, como a leishmaniose tegumentar americana. Palavras-chave: Hanseníase tuberculoide. Leishmaniose Cutânea. Biópsia. Pediatria. 1 Discente do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Campus Palmas, TO. 2 Docente do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Campus Palmas, TO. E-mail para contato: [email protected]. Endereço: 110 sul, alameda 5, lote 05A. Palmas - TO, CEP: 77020-138. 99 Rev Pat Tocantins V 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] DIFFERENTIAL DIAGNOSIS OF NODULAR TUBERCULOID LEPROSY OF CHILDHOOD AND AMERICAN TEGUMENTARY LEISHMANIASIS IN PEDIATRIC PATIENT: A BRIEF CASE ABSTRACT Nodular tuberculoidleprosy of childhood is a variety of tuberculoid leprosy affecting children between 1 and 4 years of age. The case reported is based on a 4-yearold male patient who presented a nodular lesion in an infra-orbital region with one year of evolution and was initially diagnosed with American tegumentaryleishmaniasis through a first histopathological analysis. However, due to the clinic that is not compatible with American cutaneous leishmaniasis, associated with the morphology of the lesion characteristic of nodular tuberculoid leprosy of childhood, that was proposed as a differential diagnosis. The hypothesis was confirmed after a new biopsy and treatment for tuberculoid leprosy was started. Thus, we highlight the relevance of the compatibility between the clinical and the histopathological study and the knowledge of the varieties of leprosy, a pathology with high prevalence in Tocantins, which can also be differential diagnosis for dermatological diseases also prevalent, such as American tegumentaryleishmaniasis. Keywords:Leprosy. Leishmaniasis, Cutaneous. Biopsy. Pediatrics. 100 Rev Pat Tocantins V 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] INTRODUÇÃO A centímetros. Geralmente, a lesão de da inoculação é única, sendo a úlcera a infância é uma variedade da hanseníase apresentação mais comum. Esta se tuberculoide (HT) que acomete crianças localiza de 1 a 4 anos de idade.5 As lesões são membros inferiores e superiores.1 pápulas, hanseníase pequenos nodular tubérculos ou com mais frequência em O presente relato aborda um nódulos, únicos ou em pequeno número, caso de tonalidade marrom-avermelhada e pretende discutir a dúvida diagnóstica sem lesão aparente de nervo periférico. nas manifestações dermatológicas de Não doenças se encontram bacilos nos característico infecciosas esfregaços de rotina e a histopatologia incidência mostra hanseníase. um quadro histológico desta local, forma com como e elevada LTA e tuberculoide. A reação de Mitsuda é RELATO DE CASO positiva e os casos têm tendência à cura Paciente K. F. S., quatro anos, espontânea.6 pardo, masculino, natural de Palmas A leishmaniose tegumentar TO, procedente de Taquaralto - TO. americana (LTA) cursa com alterações Refere contato íntimo e prolongado com histopatológicas na pele ou mucosas bisavô portador de hanseníase, que variam de inflamação exsudativa diagnosticado há três anos e meio. aguda até granuloma tuberculoide. Em Mãe relata aparecimento de relação à morfologia, a lesão observada lesão eritematosa de aproximadamente pode ser eritema com edema e 0,5 cm na face do paciente, há um ano, infiltração, pápula, tubérculo, com crescimento progressivo. Desde verrucosidade ou úlcera, com tamanho então, em um período de oito meses, foi aproximado de poucos milímetros a 101 Rev Pat Tocantins V 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] consultado por cinco médicos (clínico, (BAAR) negativa, compatível com pediatras LTA. e dermatologista), não obtendo hipótese diagnóstica até a O paciente foi observado na primeira biópsia. espera para internação do Hospital Ao exame físico, lesão em placa Infantil de Palmas-TO, há dois meses, eritemato-infiltrada com centro claro, por uma dermatologista, quando se nodular única, em região infra orbital decidiu continuar a investigação. esquerda, crescimento centrípeto, não Frente à dúvida diagnóstica de pruriginosa, indolor, sem secreções, LTA, uma revisão do caso foi solicitada sem em sinais flogísticos, de 16/05/2014, indicando a aproximadamente 2 cm no seu maior possibilidade de hanseníase do tipo diâmetro (Imagem 1). tuberculoide, apesar da presença de A primeira biópsia foi realizada granulomas e em 12/03/2014, revelando a presença de pseudoepiteliomatosa granulomas com indicadores de LTA. Estes Para tuberculoides histiócitosepitelioides. da hiperplasia serem confirmação fortes da nova granulomas acompanham os anexos, hipótese, uma segunda biópsia foi infiltram os músculos eretores dos realizada em 10/06/2014, evidenciando, pelos, destruindo filetes nervosos e na derme, infiltrado granulomatoso com glândulas sudoríparas. A conclusão da histiócitosepitelioides, análise estruturas anexiais, sugestivo de HT foi dermatite crônica granulomatosa associada à hiperplasia com BAAR negativo. pseudoepiteliomatosa com pesquisa de Bacilos álcool-ácido circundando Intradermorreação resistentes Montenegro (26/06/2014) de negativa. Baciloscopia e Mitsuda não realizadas. 102 Rev Pat Tocantins V 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] As lesões apresentam-se, geralmente, como pápulas ou placas, sendo estas hipocrômicas ou discretamente eritematosas, com poucas lesões em áreas de contato (face, membros, abdome).1 A hanseníase é mais rara em crianças, principalmente devido ao seu longo período de incubação, mas deve ser considerada em diferentes contextos e locais, como no estado do Tocantins, no qual a incidência em menores de 15 Imagem 1: Lesão em placa, eritemato- anos é elevada, chegando a 81/100.000 infiltrada, em região infraorbital habitantes/ano esquerda. devemos não só conhecer os aspectos em 20123.Portanto, básicos da doença, como também COMENTÁRIOS dominar suas peculiaridades para que O presente caso ressalta a importância complementada da clínica sendo pelo exame casos de formas não clássicas, como a nodular da infância, sejam identificados precocemente e notificados. histopatológico, uma vez que a análise Um número significativo de macroscópica da lesão foi fundamental casos registrados de hanseníase na para a suspeita de hanseníase nodular da infância tem estreita relação com a infância, instigando a revisão do caso endemia regional, sendo, portanto, um com a solicitação de uma nova biópsia. indicador de alta prevalência, o que 103 Rev Pat Tocantins V 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] evidencia a relevância destes casos para REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS a vigilância epidemiológica local. Como a HT na infância é 1. AZULAY, R. D. AZULAY, D. R. incomum e a incidência de LTA no Dermatologia. 6ª. edição. Rio de Tocantins é alta4, a histologia da lesão, Janeiro: Ed. Guanabara Koogan; 2013. ao apresentar granuloma tuberculoide e 2. FARHAT, C. K. CARVALHO, L. H. hiperplasia pseudoepiteliomatosa, F. R. SUCCI, R. C. M. Infectologia direcionou o diagnóstico para LTA. pediátrica. São Paulo: Editora Atheneu, Além disso, a lesão da HT pode se 2008. assemelhar macroscopicamente a lesão 3. primária DATASUS. da geralmente, LTA, única, sendo em esta, MINISTÉRIO Indicadores de Hanseníase, 1990-2012. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.e Considerando a demora para definição diagnóstica, ressaltamos a xe?idb2012/d0206.def. importância 15/07/2014. conhecimento SAÚDE. morbidade. Taxa de incidência de pápula eritematosa, que evolui para nódulo.2 do DA das 4. sejam feitos diagnósticos mais precoces DATASUS. e da forma mais precisa possível, morbidade. Taxa de incidência de evitando Leishmaniose Tegumentar Americana, tratamentos DA em: variedades de hanseníase para que assim MINISTÉRIO Acesso Indicadores de desnecessários. Lembrando que quanto 1990-2012. mais precoce for o diagnóstico, mais http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.e evitamos incapacidades e portadores xe?idb2012/d0204.def . Acesso em: assintomáticos, diminuindo, assim, a 15/07/2014. incidência dessa patologia. 104 Disponível SAÚDE. em: Rev Pat Tocantins V 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] 5. OLIVEIRA, Z. N. P. D. et al. Dermatologia Pediátrica. Coleção Pediatria: Instituto da criança, HCFMUSP. Barueri, SP: Manole, 2009. 6. OPROMOLLA, D. V. A. URA, S. Atlas de Hanseníase. Bauru: Instituto Lauro de Souza Lima, 2002. 105 Rev Pat Tocantins V. 4, n 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] CASE REPORT IXODÍASE REVELADO PELO EXAME DERMATOSCÓPIO: RELATO DE CASO Luciane Prado Silva Tavares1, Osterno Potenciano2, Yasmin Pugliesi3, Joaquim Alberto Lopes Ferreira Júnior4, Ana Carolina Vicente Araújo2, Daniele Martins de Freitas5, Thayssa Boechat Tose2, Nathalia Lelitscewa da Bela Cruz Potenciano6, Aline Maria Marques7, Laura Silva Paixão8, Guilherme Assunção Godinho9 RESUMO A ixodíase é uma zoodermatose causada pela picada de ixodídeos. Dos ixodídeos existentes no Brasil, o gênero mais frequente é o Amblyomma, com várias espécies, sendo a mais encontrada a A.cajennense. Relatamos o caso de um paciente que, após 2 dias que retornou da fazenda, iniciou com intenso prurido, aparecimento de inúmeras pápulas eritematosas purpúricas com crosticulas, sendo visualizado à dermatoscopia o carrapato. Palavras-chave: Carrapatos. Ixodes. Dermoscopia. 1 Dermatologista do Hospital Geral de Palmas (HGP) e da Clínica Luciane Prado; Médico assistente da Clínica Luciane Prado; 3 Médica residente em dermatologia do HGP; 4 Médico assistente do Hospital José Soares Hungria; 5 Assitente de dermatologia do HGP e da clínica Luciane Prado; 6 Acadêmica de medicina da Associação Educativa Evangélica; 7 Acadêmico de medicina da Faculdade Alfredo Nasser; 8 Acadêmica de medicina da PUC-Goiás; 9 Acadêmico de medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos. 2 106 Rev Pat Tocantins V. 4, n 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] IXODIASIS DISCLOSED BY DERMASCOPIC EXAMINATION: CASE REPORT ABSTRACT The ixodíase is a dermatozoonosis caused by the bite of ticks. Existing ticks in Brazil, the most common genre is Amblyomma, with several species, the most found is the A.cajennense. We report the case of a patient who, after two days he returned from the farm, began with intense itching, appearance of numerous erythematous papules with purpura crosticulas, being viewed by the dermoscopy the tick. Keywords: Ticks. Ixodes. Dermoscopy. 107 Rev Pat Tocantins V. 4, n 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] INTRODUÇÃO aparecimento de inúmeras pápulas Os ixodídeos ou carrapatos são eritematosas purpúricas com crosticulas acarianos ectoparasitos do homem e de em região de membros inferiores, vertebrados, que se alimentam do abdome e dorso (figura 1). Ao exame sangue e linfa de seus hospedeiros e são videodermatoscópico transmissores de numerosas infecções. presença do parasita causador na pele Dos ixodídeos existentes no Brasil, o (figuras 2 e 3). gênero mais frequente é o Amblyomma, com várias espécies, sendo a mais encontrada a A.cajennense, que parasita desde animais de sangue frio até mamíferos e o homem. É conhecido comumente como carrapato estrela ou carrapato cavalo3. A evolução completa de um carrapato ocorre em quatro períodos: ovo, ninfa hexápode, ninfa octópede e adulto. As infestações pela ninfa hexápodes formam pápulas encimadas por crostículas, levando a um prurido intenso3. RELATO DE CASO Paciente do sexo masculino, 49 anos, Engenheiro Agrônomo procedente de Lagoa da Confusão-TO. Paciente refere que após 2 dias que retornou da fazenda iniciou com intenso prurido, 108 visualizamos a Rev Pat Tocantins V. 4, n 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] geralmente localizadas nas pernas e abdome. Na fase adulta, o parasita provoca o aparecimento de poucas lesões pápulo-eritêmato-purpúricas, pouco pruriginosas, causando apenas uma pequena reação local. O carrapato deve ser retirado com cuidado, puxando sem força para não deixar o capítulo na pele do hospedeiro, originando uma Figura 3 reação granulomatosa, caracterizada por uma ou mais lesões pápulo-tuberosas DISCUSSÃO intensamente pruriginosas¹-³. A ixodíase é uma zoodermatose O diagnóstico é feito através do causada pela picada de ixodídeos, que se caracteriza por apresentar exame três sendo com o possível visualizar além das lesões, a presença longo do ano: nos meses de abril a julho do hospedeiro1. há predomínio das larvas conhecidas como ninfa hexápode ou micuim, nos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS meses de julho a outubro predominam 1. Criado P. R., Criado R.F.J. as ninfas, chamadas de “vermelhinho”, Ixodíase e nos de outubro a março desenvolvem- revelada pela microscopia se os adultos, chamados de “rodoleiro” de epiluminescência sem contato ou de “carrapato-estrela”¹,3. com O quadro clínico dessa afecção a pele. Anais Bras Dermatol. 2010;85(3):389-90. varia de acordo com a fase parasitária, 2. SAMPAIO, S.A.P.; RIVITTI, as infestações mais intensas ocorrem na E.A. Dermatologia. 3. ed. rev. e fase larvária e caracterizam-se pelo ampl. São Paulo: Artes Médicas, aparecimento de pequenas e numerosas intensamente meticuloso dermatoscópio, estágios parasitários distribuídos ao pápulas físico 2008. 771p. pruriginosas, 109 Rev Pat Tocantins V. 4, n 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] 3. Vasconcelos W. Dermatozoíases em um imenso país tropical. Anais Bras Dermatol. 1979; 54:87-103. 110 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] CASE REPORT PACIENTE COM MENINGITE INESPECÍFICA EVOLUINDO A ÓBITO: RELATO DE CASO Arthur Alves Borges de Carvalho1; Daniela Mascarenhas Matos2; Monick Piton Pereira2,3; Jivago Chaib Martins Lima2 RESUMO Apresenta-se aqui um relato de caso de uma paciente do gênero feminino que evoluiu a óbito numa unidade hospitalar sem causa definida, sendo encaminhada ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO) para exame necroscópico, com diagnóstico final de meningite inespecífica. Palavras-chave: Meningite. Necrópsia. 1 Mestre. Médico patologista e docente do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto (ITPAC/FAPAC); Departamento de patologia e medicina legal da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Secretaria de saúde do estado do Tocantins; 2 Graduandos do curso de medicina do ITPAC/FAPAC; 3 Graduada em enfermagem pela Faculdade de Tecnologia e Ciências; Pós-graduação em urgência e emergência pela Universidade Federal da Bahia. 111 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] necroscópico e as características de cada INTRODUÇÃO De acordo com Robbins e tipo (2005), todo relevância, pois, a partir disso, pode-se das sugerir a etiologia da meningite.Em leptomeninges e do LCR, que podem ter seguida, faz-se uma revisão de literatura origem infecciosa ou de outras causas, acerca da epidemiologia, quadro clínico, como químicas. Podem ser classificadas relevância dos exames complementares, em conduta terapêutica e prognóstico da Cotran processo meningite é inflamatório piogênica asséptica (viral aguda aguda) (bacteriana), e crônica de meningite possui grande meningite. (geralmente tuberculosa). O Sistema de Agravos de RELATO DO CASO Notificação do Brasil afirma que, nos Paciente do gênero feminino, anos de 2007 a 2010 a mortalidade foi 10 de 5,8%, representando 65.000 casos de Atendimento, meningite cefaléiaintensa, associado à febre e em crianças, totalizando 3.770 óbitos(PRATS, et al. 2012). anos, deu entrada com no Pronto quadro de torpor. Evoluiu rapidamente com crise O objetivo deste relato é convulsiva e parada cardiorrespiratória, descrever o caso de uma paciente que em 16.05.13 às 03:45 horas. Os evoluiu para óbito sem causa definida, medicamentos na qual o corpo foi enviado ao serviço hospitalar de verificação de óbito para definição Dexametasona. Os exames realizados da causa e foi constatada uma meningite não de etiologia desconhecida. hospital. Devido a isto, uma comparação foram administrados foram intra- Ceftriaxona disponibilizados e pelo Deu entrada no serviço de entre a clínica do paciente, o exame verificação 112 de óbito (SVO) do Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] município de Palmas - TO em 16/05/13, congestas e opacificadas. Saída de exame sangue da cavidade medulo-espinhal. necroscópico realizado às 10h30min horas. F.S.A. possuía cor Cerebelo com parda, era estudante, cursando ensino vasocongestão. leve edema e fundamental, solteira. Paciente livre de comorbidades (SIC), normolínea, 120 cm de altura, pesando 35 kg, trajando fraldão. Ao exame externo: crânio simétrico, ausente de lesões, cabelos encarapinhados e negros, pálpebras entreabertas, pupilas midriáticas, íris castanhas, córneas transparentes, Figura 1- Exame necroscópico evidenciando conjuntiva anictérica e transparente, edema, vasocongestão cerebral, meninge fluindo secreção sanguinolenta pelo congesta e opacificada. nariz; tórax simétrico, ausente de lesões; abdome plano, sem lesões; dorso ausente de lesões; genitália feminina, normoinserida, pêlos normoimplantados; membros superiores e inferiores amarrados por faixa. Realizada incisão em crânio bimastóide vertical e afastados os Figura planos cutâneos do couro cabeludo, vasocongestão à necrópsia. observou-se cérebro com edema e vaso congestão acentuada; meninges 113 2 - Cerebelo apresentando Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Foi na cavidade incisão fúrculo- congesto com aumento de volume pubiana ao nível da linha mediana discreto; baço congesto com tamanho anterior, dissecados os planos músculo- habitual; pâncreas com leve edema; cutâneos e desarticulado o plastrão estômago com pangastrite erosiva e condro-esternal. pulmões presença de hemorragia luminal (HDA), encontraram-se congestos e com áreas ausente de ulcerações; alças intestinais de hemorragia, porém ausência de congestas; rins derrame pleural. congestão e realizada tóraco-abdominal, Os pericárdico; timo habitual; com fígado acentuada suprarrenais com hiperplasia; aparelho genitourinário sem particularidades. Figura 3 – Exame necroscópico evidenciando congestão pulmonar, com focos hemorrágicos, porém ausência de derrame pleural. O coração com hipertrofia ventricular esquerda leve, petéquias em Figura 4 –Paciente apresentando ao exame epicárdio necroscópico, hipertrofia ventricular leve, com e presença de derrame 114 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] focos de petéquias em epicárdio e derrame pericárdico. Figura 7 -Paciente apresentando ao exame necroscópico, fígado congesto com aumento de volume discreto. Figura 5 e 6 - Exame necroscópico evidenciando estômago com pangastrite e hemorragia. Figura 8–Paciente apresentando ao exame necroscópico,rim com acentuada congestão. 115 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Por fim, paciente apresentou Foram coletadas amostras para quadro de óbito súbito com clínica histopatológico do coração, cérebro, sugestiva de meningite. Ao exame cerebelo, rim direito, rim esquerdo, necroscópico evidenciou-se na anatomia fígado, pâncreas, patológica presença de gastrite com estômago, meninges, sangue e líquido hemorragia gástrica. Na histopatologia, pericárdico. Ao exame histopatológico confirmou-se presença de processo realizado em 17/05/13 os resultados inflamatório gástrico e presença de obtidos foram: coração sem alterações inflamação histopatológicas significativa; cérebro linfoplasmocitário nas meninges de com etiologia pulmão, meningite baço, linfoplasmocitária com infiltrado inespecífica. testes dengue foram inespecífica; cerebelo com parênquima sorológicos cerebelar preservado; parênquima renal negativos e exames de cultura e e adrenal sem alterações significativas; citologia pulmão com congestão e edema; baço negativos para crescimento microbiano. congesto; parênquima preservado; gastrite estômago crônica para Os do liquido pericárdico pancreático apresentando pesquisa Segundo Robbins e Cotran Helicobacterpylori negativa; ao líquido (2005), a meningite piogênica aguda pericárdico e diferencia-se de acordo com a idade. crescimento microbiano mononucleares leve, DISCUSSÃO soro ausente à +++ de cultura; Em e recém-nascidos organismos são a os E. principais Coli e o polimorfonucleares ++; sorologia para Estreptococos do grupo B. Já em idosos dengue, IgM não reagente. o Streptococcus pneumoniae e Listeria monocytogenes são agentes etiológicos 116 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 mais comuns. Em [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] adolescentes e fundamentais que vêm reduzindo os adultos jovens, Neisseria Meningitidis riscos de mortalidade. representa o patógeno mais comum, SCHOSSLER, et al. (2013) sendo causa frequente de problemas de expõe que, a meningite bacteriana é saúde pública. causada por Haemophilus influenzae O LCR se apresenta, entre 20% a 60% dos casos, normalmente, limpo. No entanto, um apresentando uma taxa de letalidade que dos sinais de meningite bacteriana é a atinge 40%. presença do LCR turvo e purulento. Além disso, tem-se exsudato SHIEH, etal. (2012) diz que, na alguns fatores como: idade, gravidade, superfície do cérebro (ROBINS E agente causal, duração da doença CONTRAN, 2005). durante sua apresentação aguda, Com a introdução da vacinação condições de base do paciente e atraso contra Haemophilus influenzae, houve no início de terapia antimicrobiana uma redução significativa de casos efetiva, aumentam o risco de óbito ou relacionados a este patógeno. Tornando, desenvolvimento de complicações. desta forma, o Streptoccus pneumoniae Meningite asséptica aguda é o microrganismo de maior relevância uma patologia geralmente causada por (ROBBINS E CONTRAN 2005). vírus, PRATS, et al. (2012) afirma sendo autolimitadas. Em aproximadamente 70% dos casos pode que, ameningite bacteriana (MB) ocorre ser mais em crianças sendo uma infecção geralmente é o enterovírus. O não grave do sistema nervoso central (SNC). reconhecimento de organismos nessa A patologia designa sua nomenclatura, vacinação, antibioticoterapia e cuidado hospitalar adequado são fatores identificado sendo, 117 desta o patógeno, forma, um que termo Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] inadequado, porém clínico (ROBBINS paciente a óbito, E COTRAN, 2005). hemorragia gástrica, em se tratando de meningite as maior Contudo a etiologia da meningite não probabilidade em menores de cinco pode ser especificada por exames anos, microbiológicos. idades, geralmente benigno, sendo com tem seu caracterizada curso etiologia pela A meningite viral ocorre em todas de passando bacteriana. por alterações neurológicas. Os surtos são REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS comuns, entretanto ocorrem também de 1. FAUSTO; forma os Patologia – Bases Patológicas das microorganismos que se destacam no Doenças. Editora Elsevier, 5ª ed. Rio de grupo de Enterovirus são Poliovírus, Janeiro, 2005. Echovírus 2. SHIEH, Huei H.; RAGAZZI, Selma isolada, e no os qual Coxsackievírus (VRANJAC, 2006). ABAS e KUMAR. L. B. and GILIO, Alfredo E..Fatores de risco para complicações neurológicas e sequelas em meningite bacteriana CONCLUSÃO Conclui-se tratar de óbito natural aguda em crianças. J. Pediatr. (Rio por choque hipovolêmico em virtude da J.) [online]. 2012, vol.88, n.2, pp. 184- perda 186. volumosa de sangue pelo estômago associada à presença de 3. PRATS, inflamação. A meningite pode ser tanto etal.Revisão sistemática do uso da concomitante ao quadro de hemorragia dexametasona como terapia adjuvante gástrica, se tratando de meningite de na etiologia viral ou mesmo pode ser fator crianças. Rev. paul. pediatr. [online]. precipitante de todo quadro que levou a 118 João meningite Antonio bacteriana G. G. em Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] 2012, vol.30, n.4, pp. 586- 593. ISSN 0103-0582. 4. SCHOSSLER, João Stadler; Sandra BECK, Guilherme Trevisan; CAMPOS, Marli MatikoAnraku de and FARINHA, Lourdes Boufleur.Incidência de meningite por Haemophilus influenzae no RS 19992010: impacto da cobertura vacinal. Ciênc. saúde coletiva [online]. 5. SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDE DE SAO PAULO. Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória, do Centro de Vigilância Epidemiológica "Prof. Alexandre Coordenadoria Doenças e LUTZ. de Vranjac", Controle INSTITUTO Laboratório de ADOLFO de Vírus Entéricos.Meningites virais. Rev. Saúde Pública [online]. 2006, vol 4. pp. 748750. ISSN 0034-8910. 119 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] CASE REPORT RELATO DE CASO: TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Izadora Fonseca Zaiden Soares1,Pedro Manuel Gonzalez Cuellar2 RESUMO No presente relato, os autores descrevem um caso detromboembolismo pulmonar em uma jovem de 26 anos com manifestações clínicas pulmonares e cardiocirculatórias progressivas após desenvolver sinais e sintomas compatíveis com trombose venosa profunda.A embolia pulmonar é a terceira causa de morte de etiologia vascular no mundo. Apresenta espectro clínico variável, com casos assintomáticos e casos com taquidispneia, taquicardia, dor torácica, hipotensão, síncope, choque e morte, podendo simular várias doenças. Os casos suspeitos devem ser avaliados por escores de probabilidade pré-teste que orientarão a investigação diagnóstica e a decisão terapêutica. A anticoagulação é a pedra angular do tratamento. Em casos mais severos e selecionados pode ser indicado trombólise. Palavras-chave: Embolia Pulmonar. Tromboembolia Venosa. Trombose Venosa. 1 Acadêmica de Medicina da Universidade Federal do Tocantins. Email: [email protected]. Endereço: Quadra 204 Sul, Alameda 03, Número 02, Plano Diretor Sul, CEP: 77020-502, Palmas, TO. 2 Médico Cirurgião Geral, Professor de Medicina na Universidade Federal do Tocantins. 120 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] CASE REPORT: PULMONARY EMBOLISM ABSTRACT In the present case report, the authors describe a case of pulmonary thromboembolism in a 26-year-old girl with pulmonary and cardiocirculatory progressive clinical manifestations after developing signs and symptoms compatible with deep venous thrombosis. Pulmonary embolism is the third cause of death of vascular etiology in the world. It presents variable clinical spectrum, with asymptomatic cases and cases with tachydyspnea, tachycardia, chest pain, hypotension, syncope, shock and death, and can simulate various diseases. Suspected cases should be evaluated by pre-test probability scores that will guide the diagnostic investigation and the therapeutic decision. Anticoagulation is the cornerstone of treatment. In more severe and selected cases thrombolysis may be indicated. Key-words:Pulmonary Embolism. Venous thromboembolism. Venous thrombosis. 121 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] do miocárdio (IAM) e do acidente INTRODUÇÃO vascular cerebral (AVC), e lidera as Em condições fisiológicas, todo causas de morte evitáveis em pacientes o sangue corporal passa pela circulação hospitalizados5. No Brasil, segundo o pulmonar para ser oxigenado antes de DataSus, computa-se cerca de 5 a 6 mil atingir a circulação sistêmica. Desse óbitos anuais por TEP. Sem tratamento, modo, a malha vascular pulmonar a funciona como uma espécie de filtro arterial insolúvel, por atingir 30%, mortalidade hospitalar média é de 7%6. material ocasionando pode enquanto que com anticoagulação a que está susceptível a impactação e obstrução mortalidade embolia A ocorrência do primeiro pulmonar. Na maioria dos casos, o episódio de TEP apresenta frequência material trombo similar no sexo masculino e feminino, formado no sistema venoso profundo exceto por um aumento na incidência dos (trombose em mulheres jovens associada ao uso venosa profunda – TVP), que se de anticoncepção com estrogênio. Em destaca de sua origem evoluindo com relação a faixa etária, a incidência de tromboembolismo TEP dobra a cada década de vida. insolúvel membros é um inferiores pulmonar (TEP) quando o êmbolo atinge a circulação Considerando arterial pulmonar3. O TEP possui um diferentes espectro clínicas com brancos, ela é 20% maior em variáveis de acordo com a carga afrodescendentes e 33% menor em embólica asiáticos5. de manifestações e com a função cardiorrespiratória basal do indivíduo, podendo ser assintomático sua etnias, Cerca ou pacientes oligossintomático, ter sintomas severos incidência em comparativamente de apresentam 25% dos TEP não provocado ou idiopático (sem fatores ou até levar a morte súbita5. Por poder de risco aparentes), 50% apresentam simular várias doenças, seu diagnóstico TEP provocado secundário a fatores de pode passar despercebido, resultando risco em consequências nefastas. temporários, como cirurgia recente ou estrogenioterapia, 25% têm O TEP é a terceira causa de câncer e 50% dos episódios de TEP estão associados com hospitalização5. morte de etiologia vascular no mundo, estando atrás apenas de infarto agudo 122 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Quando existe suspeita de TEP, é de importância magna atendimento apresentou dor de início avaliar súbito em panturrilha direita seguida de inicialmente a probabilidade pré-teste formação de edema em pé direito, com desse diagnóstico, o que irá orientar a melhora em alguns dias após realizar investigação complementar e a decisão massagens terapêutica6. inflamatório não esteroidal. Depois, pulmonares jovem e com uso de progressivamente sintomas apresentam um relato de caso de TEP uma fazer desenvolveu No presente artigo, os autores em e respiratórios anti- os e cardiovasculares descritos. sintomas cardiocirculatórios Referia ser previamente hígida, progressivos após desenvolver sinais e fazia sintomas compatíveis com TVP. O caso combinado oral (ACO) há 14 meses, é clínica, praticava atividade física regularmente, diversidade de sinais e sintomas e pelos negava tabagismo, etilismo e outras achados comorbidades. relevante pela história significativos nos exames complementares. uso de anticoncepcional Ao exame físico, apresentava-se em regular estado geral, com fáceis de ansiedade, RELATO DO CASO mucosas hipocoradas (1+/4+) e tinha sobrepeso (IMC= 28,36 Paciente, CRC, 26 anos, Kg/m2). Sinais Vitais: pressão arterial feminino, branca, residente na zona (PA)= urbana de Paraíso do Tocantins (TO). cardíaca (FC)= 125 bpm; frequência Em outubro de 2016 foi admitida na respiratória (FR)= 37 irpm; saturação de Sala Vermelha do Hospital Geral de oxigênio ao ar ambiente (SatO2)= 90% . Palmas (HGP) com queixa de 110/70 Ao mmHg; exame do frequência aparelho taquidispneia, tosse seca, palpitação, respiratório, taquicardia, dor retroesternal e dor em tiragem subcostal e retração de fúrcula. queimação em face medial de coxa Os murmúrios vesiculares estavam direita há cerca de 30 dias, com piora presentes bilateralmente na projeção dos sintomas há 5 dias, quando iniciou dos pulmões, sem ruídos adventícios. também hipotensão postural e síncope. Ao exame cardiovascular, apresentava Relatava que há cerca de 30 dias do taquicardia. Semiologia abdominal sem 123 apresentava taquipneia, Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 alterações. Os simétricos, sem [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] membrosestavam edemas, revelou presença de trombo em artérias com pulmonares bilateralmente (central e panturrilhas livres. Apresentava dor à segmentar), aumento de área cardíaca, palpação de face medial de coxa direita, aumento de ventrículo direito (VD) e mais intensa em 1/3 superior, com provável infarto pulmonar à esquerda palpação de cordão venoso no local. (figura diagnóstica foi de foi profunda direita aumentado, paredes parcialmente pelo escore de Wells (7,5 pontos). iniciado também evidenciou calibre de veia femoral com alta probabilidade clínica de TEP foi TVP venoso de membros inferiores que TEP secundário a TVP em membro inferior, Assim, A confirmada pelo exame de ecodoppler Diante do quadro, a principal hipótese 1). compressíveis, eco intraluminal parcialmente ecogênico, imediato trombo aderido à parede e fluxo anticoagulação plena com heparina diminuído. não-fracionada (HNF, dose de ataque de 80 U/Kg IV em bolus e manutenção com 18 U/Kg/h) em bomba de infusão contínua (BIC), controle de TTPA de 6/6h, oxigenioterapia com máscara facial, e outras medidas de suporte, Figura 1. Imagens de angio-TC de tórax da como analgesia e hidratação venosa. paciente, em corte axial, evidenciando falha de enchimento Ao eletrocardiograma (ECG), em artérias pulmonares bilateralmente e aumento de VD. apresentava taquicardia sinusal, eixo normal, inversão de onda T de V1-V4 e em DIII e aVF, e padrão S1Q3T3. Na O ecocardiograma transtorácico radiografia de tórax a única alteração mostrou insuficiência discreta de valva identificada tricúspide, aumento moderado de VD, foi aumento de área pressão de VD de 75 mmHg e cardíaca. hipertensão pulmonar importante. O diagnóstico de TEP foi A paciente foi transferida para a confirmado no 2o dia de internação com Unidade de Terapia Intensiva. Foi exame de tomografia computadorizada cogitada a indicação de trombólise se helicoidal (angio-TC) de tórax que em nova reavaliação após 12 horas do 124 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] início da heparinização plena ela suscita grande suspeição de um quadro apresentasse de TVP com sua principal, mais grave e instabilidade hemodinâmica. paciente Na havia reavaliação, evoluído intercorrências, a mais temida complicação, o TEP. sem O desenvolvimento da TVP estava requer a satisfação de uma tríade de hemodinamicamente estável e os sinais condições descrita pelo patologista vitais haviam retornado aos limites alemão Rudolf Virchow no século XIX. fisiológicos. Os componentes da tríade de Virchow No 3o dia de internação, foi adicionado ao tratamento são: 1. lesão endotelial, 2. alteração do um fluxo sanguíneo e anticoagulante via oral (warfarina 5 3.hipercoagulabilidade4. A gênese dos mg/dia). A heparinização foi realizada êmbolos que alcançam a circulação até o 8o dia de internação, quando o pulmonar são em cerca de 90% dos INR Normatizada casos as veias profundas dos membros Internacional) foi mantido entre 2-3. inferiores, sendo que o risco de TEP é Como a paciente apresentou melhora maior quanto mais proximal for a clínica progressiva, foi transferida para topografia da TVP5. A paciente do caso enfermaria e recebeu alta no 10o dia de apresentava TVP proximal em membro internação, com prescrição de warfarina inferior por portanto, elevado risco de TEP. A (Relação no mínimo encaminhamento 6 para meses, e seguimento palpação ambulatorial. (veia de femoral um profunda), cordão venoso endurecido na face medial da coxa direita da paciente é um sinal clínico de TVP e deve-se a tromboflebite6. A dor torácica da paciente com localização subesternal, simulando até DISCUSSÃO DO CASO A história de dor e edema em uma síndrome coronariana aguda, é membro inferior sucedida ao longo do compatível com a presença de êmbolos tempo por dispneia, taquipneia, tosse, maiores e mais centrais na vasculatura taquicardia, dor torácica e síncope em pulmonar, como foi confirmado pela uma paciente do sexo feminino em uso angio-TC. Por outro lado, quando os de ACO, como no caso em questão, êmbolos pulmonares são pequenos, os 125 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] vasos ocluídos são menores, mais culminando com aumento de fatores periféricos e próximos a pleura, o que pró-coagulantes, e redução de fatores faz com que a dor torácica tenha anticoagulantes. característica pleurística. O sintoma de dosagem de etinilestradiol no ACO, síncope no contexto do TEP está maior o risco de hipercoagulabilidade. geralmente associado a disfunção de Além do estrogênio, os progestágenos VD, trombos proximais e/ou mais são extensos, e está relacionado a um maior tromboembólicos, o que é influenciado risco de morte precoce6. também pelo tipo de progestágeno causal instalação súbita de oligoemia no e com suspeita clínica de embolia pulmonar é preciso estimar a probabilidade pré-teste causar disfunção de VD. A grande desse diagnóstico antes de solicitar causa de óbito no TEP é o cor exames pulmonale agudo3. O ecocardiograma de VD para sua investigação . Um dos escores mais utilizado para esse fim é o Escore de importante, e complementares 6 da paciente mostrou alterações como disfunção considera-se Diante de qualquer paciente com consequente pulmonar conhecido, doenças autoimunes6. hipertensão pulmonar aguda, que pode hipertensão eventos inclui, por exemplo, trombofilias e hipoperfundidas, shunt direita esquerda intrapulmonar e vasoespasmo, nos a tromboembolia “não provocada”, o que parênquima pulmonar originando áreas ventiladas corresponsáveis maior utilizado1. Quando não existe um fator O êmbolo impactado provoca bem Quanto Wells para TEP2 (tabela 1). Uma insuficiência pontuação de 0 a 1 significa baixa tricúspide. probabilidade de TEP, 2 a 6, Quanto a etiopatogenia do TEP probabilidade intermediária e ≥ 7, alta no caso da paciente, o uso de ACO é probabilidade. A paciente apresenta 7,5 considerado um fator de risco moderado pontos nesse escore (FC > 100 bpm, 6 para embolia pulmonar , logo, poderia sinais clínicos de TVP e diagnóstico ser trombofilia alternativo menos provável que TEP), adquirida pela terapia combinada de portanto, foi classificada como alta secundário a uma 5 estrogênio e progesterona . Sabe-se que o etinilestradiol induz probabilidade de TEP. alterações significativas no sistema de coagulação, 126 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] Na abordagem inicial, o Escore Frequência cardíaca > 100/min +1, de Wells pode ser dicotomizado em 5 TEP improvável: escore ≤ 4; ou TEP provável: escore > 4. Cirurgia recente (últimas 4 Pacientes com semanas) ou imobilização≥ 3 dias escore ≤ 4 deverão ser submetidos à dosagem do D-dímero, um produto da degradação da fibrina do coágulo pela enzima plasmina, componente +1, do 5 Sinais clínicos de TVP +3 Diagnóstico alternativo menos +3 provável que TEP sistema fibrinolítico endógeno, que está Hemoptise +1 trombo no interior do organismo. Se o Câncer (ativo ou término do +1 D-dímero estiver abaixo do valor tratamento < 6 meses) normal no paciente com escore ≤ 4, Baixa probabilidade elevado todas as vezes que houver um 0a TEP pode ser excluída com segurança e 1 sem a necessidade de realização de Intermediária probabilidade 2a exames de imagem adicionais. Em pacientes com escore > 4 (suspeita intermediária ou alta), não há 6 Alta probabilidade ≥7 a necessidade de se solicitar a dosagem de dímeros D, pois um valor normal não Os exclui TEP, sendo necessário prosseguir a investigação2. principais exames para diagnóstico confirmatório de TEP são a angio-TC de tórax com multidetectores, exame de eleição para a maioria dos Tabela 1 Escore de Wells para pacientes; a cintilografia pulmonar Tromboembolismo Pulmonar ventilação-perfusão, útil no paciente Critérios Po que não pode usar contraste na TC6; a nto ultrassonografia de veias de membros s inferiores, já que a presença de trombose TVP ou TEP prévios nesse local permite o +1, diagnóstico nosológico de TEP e o 5 respectivo tratamento2; e a arteriografia 127 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] pulmonar, a qual é o método padrão- em razão da presença de um grande ouro para o diagnóstico de TEP, porém coágulo)3. é um exame invasivo, com risco de O ECG pode ser absolutamente complicações graves6. A angio-TC da normal ou apresentar alterações como: paciente confirmou o diagnóstico de TEP com envolvimento taquicardia sinusal; inversão de onda T arterial anterosseptal (V1-V3 ou V4, mostrando pulmonar bilateral, e a ultrassonografia estresse de VD), inversão de onda T em de veias de membros inferiores mostrou DII, DIII e aVF; bloqueio de ramo TVP em segmento femoral proximal. Exames inespecíficos direito e/ou sobrecarga de câmaras fazem cardíacas; padrão S1Q3T3 (não é um parte da rotina de avaliação geral de achado pacientes atriais, sobretudo fibrilação atrial. O com queixas patognomônico); arritmias cardiorrespiratórias. Eles não servem ecocardiograma para confirmar o diagnóstico de TEP, anormalidades funcionais e estruturais embora ou principalmente nas câmaras cardíacas na direitas e hipertensão pulmonar7. possam enfraquecer medida a que fortalecer suspeita apontam clínica para outras A etiologias. A radiografia de tórax pode hipoxemia clínico-radiológica) ou pode mostrar como cardiomegalia. Achados clássicos de embora raramente prática clínica, são: Sinal Corcova de o proBNT, na sangue arterial e D-dímero, são troponinas BNP ou NT- muito úteis na estratificação de risco dos pacientes de com Westermark (oligoemia focal distal ao êmbolo), no cardioespecíficas e exame, observados está taquipneia)6. Marcadores bioquímicos elevação de cúpula diafragmática e nesse arterial hipocapnia (alcalose respiratória pela atelectasias laminares, derrame pleural, pulmonar gasometria revelar normal em 40% dos casos. Pode haver ser completamente normal (dissociação embolia pode TEP definido, contudo, são insensíveis e inespecíficos Hampton Os (consolidação em forma de cunha se exames complementares estendendo até a pleura, que sugere inespecíficos realizados pela paciente infarto pulmonar), Sinal de Palla fortaleceram a hipótese de TEP, com (dilatação da artéria pulmonar direita aumento de área cardíaca na radiografia 128 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] de tórax, ECG com taquicardia sinusal, dose de 90 UI/kg a cada 12 h ou 190 inversão de onda T anterosseptal e em UI/kg a cada 24 h, e a dalteparina na DIII dose de 120 UI/kg a cada 12 h ou 200 e aVF, padrão S1Q3T3, e UI/kg a cada 24 h2. ecocardiograma com dilatação de VD, insuficiência tricúspide e hipertensão O anticoagulante oral apenas pulmonar. No deve ser começado após a confirmação tratamento a diagnóstica de TEP. A dose inicial deve não ser de warfarina 5-10 mg/dia nos fracionada (HNF) ou heparina de baixo primeiros 3 dias, seguindo-se o ajuste peso é de acordo com a RNI. Pode ser iniciado recomendada para todos os pacientes, em conjunto com as heparinas (HNF ou se não houver contraindicações, com o HBPM) propósito de prevenir a extensão da suspensasquando o RNI atingir o alvo embolia, reduzir o risco de morte entre 2 e 3, por pelo menos 24 h, e o precoce e evitar a recorrência. Deve ter tempo de sobreposição entre heparinas início imediato para os pacientes e anticoagulante oral for no mínimo 5 classificados como intermediária ou dias2. A paciente do caso iniciou a alta probabilidade clínica de TEP pelos warfarina no 3o dia de tratamento, escores de Wells, mesmo antes da apenas após a confirmação de TEP. Ela anticoagulação do TEP, comheparina molecular (HBPM) 2 as quais poderão ser confirmação por um exame específico . atingiu o INR alvo no 8o dia de A HNF foi o tratamento escolhido para internação, com 5 dias se sobreposição a paciente do caso, ela deve ser da HNF e da warfarina, quando então a administrada em dose de ataque de 80 HNF foi suspensa. UI/kg e dose de manutenção de 18 No paciente com alto risco de UI/kg IV., preferencialmente em BIC, morte precoce (hipotensão ou choque ajustada a cada 6 h de acordo com o por disfunção aguda grave de VD), a valor de TTPa, visando atingir os trombólise restaura a perfusão mais valores alvos de TTPa entre 1,5 e 2,3 rapidamente do que a anticoagulação vezes o controle. As HBPM mais isoladamente. O Δt ideal para início do utilizadas são enoxaparina na dose de 1 trombolítico é dentro de 48 horas do mg/kg de peso a cada 12 h ou 1,5 início dos sintomas, mas a janela mg/kg a cada 24 h, a nadroparina na terapêutica é de até 14 dias. Os 129 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] principais trombolíticos disponíveis são a causa reversível (ACO), foi orientada o ativador plasminogênio tecidual (t- a manter anticoagulação por no mínimo PA), a estreptoquinase, a tenecteplase 6 meses. (TNK) e a uroquinase6. Para Novos pacientes com alternativos anticoagulantes à warfarina que orais não contraindicação à anticoagulação plena, necessitam de ajuste de dose de acordo nos casos de falha terapêutica e como com o coagulograma são os inibidores profilaxia em pacientes de alto risco do fator Xa, como o Endoxaban, estão indicados os filtros de veia cava Rivaroxaban e o Apixaban. Os dois inferior6. últimos podem ser usados em monoterapia, sem a necessidade de O tratamento anticoagulante de anticoagulantes parenterais6. longa duração com objetivo de impedir a recorrência de TEP e a ocorrência de TEP fatal é realizado na maioria dos CONCLUSÃO pacientes com o uso de warfarina,um O caso apresentado ilustra a inibidor dos fatores dependente de vitamina K, sendo necessária importância à do diagnóstico e dosagem repetida de RNI a fim de tratamento precoce do TEP, oqual deve manter o alvo de 2,5 (entre 2,0 e 3,0). O ser sempre cogitado em pacientes com tempo de anticoagulação deve ser dispneia, taquipneia, dor torácica ou sempre hipotensão/choque. Os fatores de risco individualizado diante do contexto do paciente2. No TEP de causa para reversível de elementos da tríade de Virchow: lesão anticoagulação deve ser de no mínimo endotelial, alteração do fluxo sanguíneo 3 meses, no TEP idiopático o tempo e hipercoagulabilidade. corrigida o tempo TVP/TEP corroboram os também é no mínimo de 3 meses, Todos os pacientes com suspeita devendo ser avaliado a manutenção por de TEP devem ser avaliados por tempo com escores de probabilidade pré-teste. Os TEP/TVP recorrentes ou associado a exames complementares inespecíficos e câncer ativo devem ser anticoagulados específicos devem ser solicitados como indefinido. Pacientes 6 indefinidamente . A paciente do caso, que poderia ter sofrido TEP secundário 130 Rev Pat Tocantins V. 4, n. 01, 2017 estratégia diagnóstica [SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS] e avaliação pulmonar. Brasília, DF: Cubo, 2010. v. prognóstica. A 36, n. supl 1, p, S1-S68. Disponível em: anticoagulação deve <http://itarget.com.br/newclients/sbpt.or ser g.br/2011/downloads/arquivos/Suple_1 prescrita para todos os pacientes, se não 84_60_5_ProvEnv_v36nSupl_1554.pdf existir contraindicação. A trombólise >. Acesso em: 13 fev. 2017. está indicada nos pacientes com alto risco de morte, e em casos selecionados 3. de paciente com risco intermediário- fundamental e deve Dennis L. et al. Harrison´s Principles of Internal alto. A anticoagulação de longa duração é KASPAR, Medicine. 19. ed. New York: McGraw- ser Hill, 2015. 3000 p. individualizada. 4. KUMAR, Vinay ; ABBAS, Abul REFERÊNCIAS K.; ASTER, BIBLIOGRÁFICAS Cotran Patologia : Bases Patológicas das 1. BORGES, Tiago Ferreira Campos Jon C. Doenças. 9. . Robbins ed. Rio & de Janeiro:Elsevier, 2013. 928 p. ; TAMAZATO, Ana Paula da Silva ; FERREIRA, Maria Silvana Cardoso . Terapia com Femininos Hormônios e 5. LAPNER, S. Takach ; KEARON, C. Sexuais . Diagnosis Fenômenos University, Literatura. 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