A Escolástica: as primeiras teorizações da ratio em

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Texto 11 - A Escolástica: “as primeiras teorizações da ratio em favor da fides”
“....Comecemos, portanto, perguntando se houve mesmo uma
idade média e se houve filosofia nessa tal de Idade Média”
(Carlos Arthur Nascimento)
a. a Escolástica designa a filosofia cristã da Idade Média, cujo objetivo é compreender a verdade já
dada na Revelação.
b. “scholasticus” é aquele que ensina as artes liberais: o trivium e o quadrivium.
c. fases:
 séculos VIII e IX - identidade entre razão e fé
 séculos XI e XII - antítese entre razão e fé
 século XIII - organização dos grandes sistemas
 século XIV - dissolução da Escolástica - reconhecida a insolubilidade do problema que foi seu
fundamento
d. escolas monacais, catedralícias, palatinas - papel fundamental na elaboração e transmissão da
cultura
e. “A Filosofia na Idade Média conexiona-se com o seu ensino”
Leituras complementares:
DE BONI, Luis Alberto (org.) A ciência e a organização dos saberes na Idade Média. Porto Alegre:
EdipucRS, 2000.
GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média. Sâo Paulo: Martins Fontes, 1995.
GILSON, Etienne. O espírito da filosofia medieval. São Paulo: Martins Fontes, 2006 (leitura
indispensável!)
KOBUSCH, Theo (org,) Filósofos da Idade Média. São Leopoldo: Unisinos, 2003.
LAUAND, Luiz Jean (org.) Cultura e Educação na Idade Média. São Paulo: Martins Fontes, 1998
LAUAND, Luiz Jean. Educação, Teatro e Matemática Medievais. São Paulo: Perspectiva, 1986
LE GOFF, Jacques.;SCHIMIT, Jean-Claude. Dicionário Temático Medieval. São Paulo: Edusc, 2002.
2v.
LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2005.
NASCIMENTO, Carlos Arthur R. O que é a Filosofia Medieval. São Paulo: Brasiliense, 1990.
STORCK, Alfredo. Filosofia Medieval. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003 (Passo-a –Passo, 30)
ULLMANN, Reinholdo Aloysio. A universidade medieval. 2.ed. Porto Alegre: Edipucrs,2000.
VERGER, Jacques. Homens e saber na Idade Média. 2.ed.Bauru: Edusc, 1999.
VERGER, Jacques. Cultura, Ensino e Sociedade no Ocidente, nos séculos XII e XIII. Bauru: Edusc,
2001.
Texto
- Scoto Erígena (ca. 810 - 877)
“Ninguém pode entrar no céu a não ser passando pela Filosofia”
Há uma outra razão, que nos faz ver mui claramente que toda criatura visível e invisível é luz,
e tira sua origem do Pai das luzes. Com efeito, o Sumo Bem, ou Deus, - que é em si mesmo luz
invisível e inacessível, e superior a todo sentido e intelecto, - fez todas as coisas que quis, com o fim
de dar-se a conhecer à criatura intelectual e racional, através das coisas por Ele criadas, e comparáveis
a uma luz que refulge nas trevas; o mesmo ensina o Apóstolo, dizendo que “ o que nele há de invisível
contempla-o a inteligência em suas obras desde a criação do mundo” (Rom 1,20); que há pois de
estranhável em que tudo quanto comunica de algum modo a luz inacessível aos puros espíritos, a fim
de torná-la acessível a eles, seja interpretado muito apropriadamente como uma luz que ilustra os
ânimos e os reconduz ao conhecimento do seu Criador
Tomemos um exemplo tirado da esfera mais (ínfima) da natureza. Esta pedra ou este lenho
representa para mim uma luz; e, se perguntares: como, a razão me exorta a responder-te que a
consideração desta ou daquela pedra me sugere muitas coisas que iluminam o espírito. Com efeito,
verifico que ela existe como algo de bom e belo; dispõe de uma relação própria; distingui-se dos
demais gêneros e espécies em virtude da sua diferença genérica e específica; é limitada pelo número
que lhe dá unidade; não se subtrai à sua ordem; tende ao seu lugar de acordo com a qualidade do seu
peso. Estas e outras coisas semelhantes, que observo na pedra, se me apresentam como outras tantas
luzes ou iluminações.
Pois começo a refletir sobre a origem de tais coisas, e reconheço que a pedra não as possui
naturalmente, por participação de qualquer criatura visível ou invisível; e a razão, pela qual me deixo
conduzir, não tarda a ultrapassar todas as coisas e me introduz à causa de todas, que lhes assinala o
lugar, a ordem e o número, a espécie e o gênero, a bondade, a beleza e a essência, assim como todos
os demais dons e dádivas. Coisa semelhante se dá com toda criatura, desde a mais excelsa até a mais
ínfima, ou seja, desde a intelectual até à corporal; para os que referem as criaturas e a si mesmos ao
louvor do Criador, para os que buscam zelosamente a Deus, e para os que ardentemente O procuram
em tudo quanto existe, e se comprazem em louvá-lo acima de tudo, ela (a criatura) é uma luz
introdutiva suposto que uma clara intuição do espírito lhes oriente e esclareça a razão.
E assim sucede que todo o maquinismo deste mundo se converte numa luz gigantesca,
composta de muitas partes e pôr assim dizer, de inúmeras lâmpadas, para revelar as formas puras das
coisas inteligíveis e torná-las visíveis à agudeza do espírito, pela operação conjunta da graça divina e
da energia da razão nos corações dos sábios fiéis.”
Extraído de:
BOENER,P.;GILSON,E. História da Filosofia Cristã. Petrópolis: Vozes, p.246-7.
Leituras complementares
DE BONI, Luis Alberto. João Scotus Eriúgena.In: _____. Filosofia Medieval. Textos. Porto Alegre:
Edipucrs, 2000, p. 75-83
DE BONI, Luis Alberto.(org.) A ciência e a organização dos saberes na Idade Média. Porto Alegre:
EdipucRS, 2000
REALE, G.;ANTISERI, D. História da Filosofia. Patrística e Escolástica. São Paulo: Paulus, 2003.
cap.7, p.119-143.
ZILLES, Urbano. Fé e razão na Idade Média. Porto Alegre: Edpuccrs, 1993.
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