Data de Publicação: 15 de janeiro de 2015 Relatório Investimentos globais em infraestrutura: o momento adequado faz toda a diferença (e o momento é agora) Chief Economist, EUA: Beth Ann Bovino, Nova York, 1 (212) 438-1652, [email protected] Chief Economist, América Latina: Joaquin Cottani, Nova York, 1 (212) 438-0603, [email protected] Chief Economist, Ásia-Pacífico: Paul F Gruenwald, Singapura, (65) 6216-1084, [email protected] Chief Economist, Canadá: Robert Palombi, Toronto, 1 (416) 507-2529, [email protected] Chief Economist, Europa, Oriente Médio e África: Jean-Michel Six, Paris, 33 (1) 4420-6705, [email protected] Economista, Ásia-Pacífico: Vincent R Conti, Singapura, (65) 6216-1188, [email protected] Senior Economist, Europa, Oriente Médio e África: Tatiana Lysenko, Paris, 33 (1) 4420-6748, [email protected] Economista, EUA: Satyam Panday, Nova York, 1 (212) 438-6009, [email protected] Economista, Europa, Oriente Médio e África: Sophie Tahiri, Paris, 33 (1) 4420-6788, [email protected] (Nota do Editor: Na versão original deste artigo, publicada em 13 de janeiro de 2015, as estimativas de novas vagas de empregos na tabela 1 para os países do Ásia-Pacífico estavam incorretas. Publicamos esta versão atualizada.) Com a demanda global por investimentos em infraestrutura atingindo dezenas de trilhões de dólares - valor praticamente incomensurável para a maioria de nós - é fácil considerar o problema insuperável. Assim, frequentemente nos esquecemos de que mesmo um pequeno aumento nos gastos com infraestrutura pode gerar retornos substanciais - principalmente se investidos de forma ponderada e eficaz. Os credores - que em geral desfrutam de baixas taxas de default e rentabilidade mais alta em projetos de infraestrutura do que receberiam de dívidas corporativas com avaliação similar, principalmente nos mercados desenvolvidos - não são os únicos beneficiários desses retornos. As economias também se beneficiarão do chamado "efeito multiplicador" ao incentivarem esses investimentos, com cada dólar investido (novamente, se aplicado adequadamente) se traduzindo em ganhos muito mais elevados em termos de PIB. Resumo z A Standard & Poor's acredita que um aumento nos investimentos públicos em infraestrutura resultaria em importantes vantagens econômicas para os países do G20 - com o chamado "efeito multiplicador" de um aumento de 1% do PIB real nos investimentos alcançando até 2,5x em um período de três anos. z O efeito multiplicador é geralmente maior nas economias em desenvolvimento do que em países mais desenvolvidos. A China, Índia e Brasil, por exemplo, registrariam um incremento no PIB de no mínimo o dobro do aumento nos investimentos. z No caso da Europa, um esforço conjunto na região certamente teria um efeito muito maior do que aumentos em investimentos em países individualmente. z Nos países desenvolvidos, o aumento elevaria significativamente a taxa de emprego criando mais de 700.000 vagas nos EUA e cerca de um milhão na UE. Além do aumento de curto prazo no número de empregos e demanda agregada, investimentos em infraestrutura em geral resultam em benefícios de longo prazo por melhorarem a eficiência, permitindo, por exemplo, o transporte de bens e serviços com maior rapidez a um custo mais baixo. Há inúmeros exemplos em todo o mundo de grandes projetos de infraestrutura resultando em um efeito transformador. O Canal do Panamá, que possui 77 quilômetros de extensão e está na fase final de uma massiva expansão um século após seu início - facilitou imediatamente o comércio marítimo internacional. Similarmente, o Canal da Mancha, inaugurado em 1994 e que liga a França ao Reino Unido, transporta cerca de 20 milhões de passageiros (e praticamente o mesmo número em toneladas de fretes) todo ano entre os dois países. Entretanto, embora exista uma relação evidente entre a dimensão de um projeto e as consequentes vantagens econômicas, o aumento nos investimentos de projetos nem sempre gera efeitos proporcionais, de acordo com um estudo sobre infraestrutura nos EUA realizado em 2011 pelo Economic Development Research Group - EDRG. Além disso, um estudo realizado em 2013 pela consultoria de gestão McKinsey & Co. mostrou que se os projetos de infraestrutura de um determinado país forem avaliados, planejados e executados com mais cuidado, em geral podem ser concluídos a dois terços de seu custo atual - uma economia significativa, principalmente considerando que os governos em todo o mundo buscam maximizar os retornos sobre investimentos. Alguns governos, principalmente no Reino Unido e Austrália, possuem vasta experiência no financiamento de projetos de infraestrutura por meio de parcerias público-privadas (PPPs). A participação do setor privado pode proporcionar aos governos expertise em design e engenharia, permitir que administrem os cronogramas de construção com mais eficiência, reduzam os custos e melhorem a entrega de serviços ao público. Os históricos do Reino Unido e Austrália indicam que projetos PPP normalmente enfrentam menos atrasos nas construções e menores aumentos dos custos de obra (cost overruns). No entanto, esses resultados podem variar, e projetos de menor porte sem possibilidade de economias de escala podem não gerar redução de custo. Contudo, vemos PPPs como uma alternativa eficaz à dependência dos investimentos públicos. De toda forma, em nossa opinião a relação de causalidade entre investimentos prudentes em infraestrutura - sejam estes públicos ou privados - e seus benefícios à economia são indiscutíveis. Em geral, isso vale particularmente para projetos de transporte, que podem estimular uma economia de várias formas, como pela criação de empregos (e não apenas durante a construção de um projeto), aumento da renda e valorização dos preços dos imóveis. A "infraestrutura", porém, compreende muito mais do que o sistema de transporte de um país. Além das rodovias e pontes – além de outros projetos relacionados, como malhas ferroviárias, portos e aeroportos consideramos que a infraestrutura básica de um país deva incluir instalações de fornecimento de água e gestão de resíduos, redes elétricas, redes de telecomunicações, e infraestrutura social, como escolas, fóruns e hospitais. As demandas de infraestrutura variam de forma significativa entre os países, dependendo, entre outros fatores, do progresso de uma economia em seu plano de desenvolvimento. Em economias mais desenvolvidas, cujos sistemas de transporte possuem muitas vezes mais do que um século, a reforma e substituição consumirão uma maior parte do financiamento necessário. Nos países em desenvolvimento, como a China e Índia, os sistemas e redes devem ser construídos do zero de modo a acompanhar o crescimento da população e melhorar a expansão econômica. Considerando a estimativa da ONU de que a população mundial alcançará 9 bilhões até 2050 - a maior parte nos países em desenvolvimento, cuja população poderá aumentar pela metade, chegando a 7,8 bilhões - é evidente a necessidade de altos investimentos em novos projetos de infraestrutura nas áreas de energia, água, transporte, telecomunicações e instalações sociais. Fazendo bem feito A Standard & Poor's acredita que investidores privados globais têm a oportunidade de reduzir a gigante defasagem criada pela falta de recursos públicos (veja "Global Infrastructure: How To Fill A $500 Billion Hole", publicado em 16 de janeiro de 2014 no RatingsDirect). Isso é particularmente verdadeiro pelo fato de as exigências regulatórias limitarem os empréstimos de longo prazo dos bancos e governos enfrentarem restrições orçamentárias. Operações de infraestrutura podem ser atrativas para credores não tradicionais, como seguradoras e fundos de pensão, que precisam do casamento entre ativos e passivos de longo prazo. Além disso, tais projetos em geral oferecem maiores retornos do que os credores receberiam se investissem em ativos mais tradicionais, como dívida soberana e corporativa com grau de investimento. Independentemente de os recursos originarem dos cofres públicos ou participações privadas, é essencial que os investimentos sejam bem administrados. Muitas vezes os principais critérios para que um projeto seja aprovado são apoio político e visibilidade, em vez de análises de custobenefício mais prudentes. Administradores de todo o mundo e em todos os níveis em geral buscam saídas para acúmulos e gargalos por meio de novas construções, em vez de considerar melhorias às obras de infraestrutura existentes. Acreditamos ser fundamental priorizar projetos que ofereçam os retornos mais atrativos. Nessa linha, em uma pesquisa publicada em dezembro, Emil H. Frankel, membro sênior do grupo de estudos não partidário The Eno Center for Transportation e ex-secretário assistente para Políticas de Transporte no governo de George W. Bush, mostra que é essencial que qualquer investimento em infraestrutura de transportes nos EUA seja direcionado a projetos que ofereçam os maiores retornos econômicos. Com este propósito, é fundamental maior liderança no nível federal, diz Frankel, acrescentando que o Congresso poderia melhorar significativamente esse processo exigindo que as agências responsáveis por projetos e programas realizem análises econômicas transparentes como parte dos planos de investimento em transporte estaduais e regionais. Além disso, o Departamento de Transporte deveria dispor de autoridade para rejeitar planos que não sigam este caminho, afirmou. No meio tempo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse em um relatório publicado em outubro que um aumento nos investimentos em infraestrutura poderia proporcionar um necessário estímulo à demanda nas economias desenvolvidas - chamando-os de "uma das poucas alavancas políticas restantes disponíveis para sustentar o crescimento, levando em conta a já acomodativa política monetária". Nas regiões em desenvolvimento, tais investimentos poderiam ajudar a aliviar os gargalos de infraestrutura novos e existentes. E, em todas as economias, eles elevariam a capacidade e o volume de produção no médio prazo. Os ministros de finanças do G20 afirmaram que elevar os investimentos em infraestrutura é crucial para promover o crescimento na economia global. Conforme destacou o relatório do FMI, enquanto o aumento nos investimentos públicos eleva a produção no curto e longo prazo, os efeitos variam de acordo com vários fatores, incluindo o grau de estagnação de uma economia e a eficácia do investimento. Não é de se admirar que uma falha na escolha e execução de um projeto – e se apenas parte do dinheiro gasto fosse convertido em estoque de capital público – limitaria os ganhos com a produção no longo prazo. Melhorar a eficácia dos investimentos é essencial para mitigar a potencial relação entre o aumento da produção e a elevação da dívida pública. O efeito multiplicador Apesar da variação considerável nos dados, os governos têm investido menos em infraestrutura como porcentagem do PIB em geral nos últimos anos. Nos EUA, por exemplo, os gastos públicos com esses projetos como porcentagem do PIB alcançaram o nível mais baixo em duas décadas de cerca de 1,7%, de acordo com o Federal Reserve Bank of St. Louis. Na zona do euro, as medidas de austeridade que muitos governos implementaram em resposta à recente crise da dívida limitaram significativamente os gastos com desenvolvimento e reparos na infraestrutura. Por outro lado, a alocação dos recursos pelo governo é notadamente superior nas economias desenvolvidas da Ásia. A China, por exemplo, tornou-se o maior investidor em infraestrutura, com cerca de 8,5% do PIB sendo direcionado a tais projetos (vale notar que grande parte deles está localizada além de suas fronteiras). Enquanto isso, a Índia tem alocado aproximadamente 4,7% do PIB para essas obras nos últimos anos. Além de investirem mais do que os países desenvolvidos, os benefícios de um aumento nos investimentos às economias em franca expansão desses países seriam comparativamente maiores, de acordo com nossas estimativas dos efeitos multiplicadores para a maioria dos países do G20. Em nossa análise, os economistas da Standard & Poor's estimaram o benefício a diversas economias em um período de três anos (2015-2017) de um aumento de 1% do PIB real nos investimentos em infraestrutura no primeiro ano. Como as métricas desagregadas de investimento em infraestrutura não são facilmente disponibilizadas, nossa análise usou como parâmetro os investimentos públicos totais, os quais podem incluir investimentos não relacionados à infraestrutura. Porém, como investimentos em infraestrutura em geral apresentaram mais efeitos de aumento de produtividade do que os demais investimentos públicos, adotamos estimativas de multiplicador conservadoras. Em termos gerais, observamos que o efeito multiplicador é maior nas economias em desenvolvimento do que em países desenvolvidos (com a notável exceção do Reino Unido, que apresentou o maior efeito multiplicador potencial entre os países que analisamos, pelos motivos detalhados abaixo). A China, Índia e Brasil registrariam uma elevação no PIB de no mínimo o dobro do aumento no investimento, comparado a um efeito multiplicador muito inferior em países como Austrália, Alemanha e Canadá (veja a tabela 1). Tabela 1 – Efeitos de um Aumento nos gastos de 1% do PIB (Classificados por efeito multiplicador, do mais alto ao mais baixo) País Estimativas de novas vagas de emprego (máximo acima da linha de base) Efeito multiplicador (2015-2017) Reino Unido 2,5 343.000 Brasil 2,5 418.000 China 2,2 2.400.000 Índia 2,0 1.360.000 Argentina 1,8 68.000 EUA 1,7 730.000 Japão 1,5 211.000 Canadá 1,4 61.000 Itália 1,4 136.000 França 1,3 109.000 México 1,3 193.000 Coreia do Sul 1,3 95.400 Alemanha 1,2 157.000 Indonésia 1,0 320.000 Austrália 1,0 38.680 Zona do euro 1,4 627.000 Observação: A maior parte dos resultados nesta tabela reflete nossas simulações de um aumento de 1% do PIB nos investimentos em infraestrutura em um período de ano, usando o Modelo Econômico Global Oxford Economics. Entretanto, para as projeções de geração de emprego nas regiões emergentes, usamos a regra empírica conhecida como Lei de Okun, a qual afirma que a taxa de desemprego cai 1% quando o PIB aumenta 3%. Especificamente, usamos esta regra para o Ásia-Pacífico (Austrália, China, Índica, Indonésia, Japão e Coreia do Sul) e América Latina (Argentina, Brasil e México), uma vez que a estrutura dos mercados de trabalho nessas regiões são em geral distintas e tornam a maioria das técnicas gerais de modelagem de equilíbrio menos útil. EUA Nos EUA, estimamos que um aumento de 1% do PIB real nos investimentos - ou cerca de US$160 bilhões, distribuídos em quatro trimestres - elevaria a atividade econômica em US$270 bilhões nos próximos três anos. Em outras palavras, para cada US$1 adicional alocado a investimentos públicos em 2015, aproximadamente US$1,70 seria acrescido ao PIB real no período de três anos. Tal projeção está em linha com nossas estimativas de maio, quando observamos que US$1,3 bilhão dos investimentos públicos elevariam o PIB real em US$2 bilhões em 2015. Além disso, esse aumento geraria 29.000 vagas de emprego no setor de construção dos EUA e ainda mais para a economia em geral se incluirmos vagas nas indústrias relacionadas à infraestrutura. Esses números estão em linha com as estimativas do Departamento Federal de Rodovias dos EUA (FHWA - Federal Highway Administration), o qual mostrou que um investimento de US$1,25 bilhão gera 34.779 vagas de emprego relacionadas ao projeto (Veja "U.S. Infrastructure Investment: A Chance To Reap More Than We Sow", 5 de maio de 2014). Em nossas análises mais recentes, estimamos que um aumento de 1% do PIB real nos gastos poderia criar até 730.000 empregos nos EUA em 2015. Em outras palavras, um incremento nos gastos geraria um aumento médio mensal de 61.000 empregos - levando a ganhos mensais gerais com a folha de pagamento a 272.000 (comparado à nossa projeção inicial de 211.000). De fato, o tempo e lugar desempenham papéis fundamentais no número de vagas de fato criadas por um projeto. Em recessões ou recuperações lentas, as atividades de construção privadas são fracas e a taxa de desemprego nos mercados de trabalho relacionados é alta. Assim, muitas das vagas criadas e sustentadas por um projeto de infraestrutura estariam relacionadas a essas áreas. No entanto, a capacidade produtiva e volume de produção da economia também deveriam crescer tão logo as obras fossem concluídas. Assim, o investimento deveria resultar em um número ainda maior de empregos muito tempo após o fim do projeto. Em outras palavras, o crescimento da taxa de emprego resulta da criação de empregos diretos (nos setores de construção e de suporte imediato à construção) e indiretos, após um aumento da demanda e maior concorrência na área. Adicionalmente, um relatório de 2012 do grupo de comércio Associated Equipment Distributors (AED) descobriu que cada dólar investido em rodovias e ruas gera um retorno de cerca de US$0,35 em arrecadação de impostos (dos quais US$0,23 vão para o governo federal). Ainda, os estados norte-americanos se beneficiam dos gastos com infraestrutura - normalmente mais do que por meio de outros gastos do governo. Em um estudo dos efeitos das revisões de subsídios a obras de infraestrutura nos Produtos Estaduais Brutos (PEB) de 1990-2010, os economistas do San Francisco Fed Sylvain Leduc e Daniel Wilson descobriram que, em média, cada dólar de subsídio a obras de rodovias federais se traduz em um aumento no PEB de um estado de no mínimo o dobro desse valor. O estudo indica ainda que os efeitos do aumento nos gastos pode depender da utilização da infraestrutura já existente. Leduc e Wilson observaram em especial se os gastos com rodovias teriam efeitos mais benéficos nos estados com maior taxa de crescimento - e, portanto, com maior probabilidade de sofrerem congestionamentos - do que em estados com taxas de crescimento mais baixas, cuja capacidade das rodovias seja subutilizada. Suas descobertas respaldam a tese de que melhorias na infraestrutura de transportes podem ter efeitos mais benéficos nas regiões em franca expansão - o que implica, em geral, que gastos com infraestrutura podem ser mais eficazes, ao menos no curto prazo, como facilitadores de forte crescimento econômico em vez de um incentivo ao fraco crescimento. De todo modo, destacar os efeitos econômicos benéficos do aumento nos gastos públicos com projetos de infraestrutura é particularmente importante se o país precisar urgentemente de melhorias nesta área. A última análise setorial do grupo American Society of Civil Engineers (ASCE), publicada em 2013, atribuiu a nota D+ aos EUA, marcando a primeira melhora (de D) desde que o grupo começou a avaliar as condições do setor de infraestrutura dos EUA, em 1998. De acordo com as estimativas da ASCE, seriam necessários investimentos de US$3,6 trilhões até 2020. O grupo acrescentou ainda que, a menos que o cenário mude, o backlog de projetos e manutenções diferidas poderia custar US$3.100 ao ano da renda disponível a cada família norteamericana. Confirmando a precariedade do setor de infraestrutura norte-americano, o Relatório de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial (FEM) o classificou em 25º lugar mundialmente (de 144). As rodovias do país ocupam o 20º lugar. Canadá No caso do Canadá (ligeiramente à frente no relatório do FEM, em 15º lugar na classificação geral da infraestrutura), estimamos que cada C$1 gasto pelos governos canadenses em 2015 elevariam o PIB real em C$1,40 até 2017. Com um aumento nos gastos públicos de 1% do PIB real totalizando C$17,3 bilhões (US$14,8 bilhões), isso somaria C$25 ao PIB. Além disso, assumimos que os governos usariam PPPs para parte do aumento, elevando os investimentos fixos dos negócios no período de três anos e intensificando o efeito multiplicador sobre o PIB real. A maior parte do aumento (0,6%) se concretizaria em 2015. Nesse cenário, o crescimento real do PIB para 2015-2017 alcançaria uma média de 2,7% anualmente, contra 2,5% de nosso caso-base, enquanto o aumento cumulativo no PIB real seria de C$141,6 bilhões. Ao mesmo tempo, o aumento nos investimentos geraria 45.000 vagas de emprego, além das 575.000 vagas que estimamos serem criadas na economia canadense ao longo dos anos, enquanto a remuneração por hora trabalhada aumentaria 3%, em média, contra 2,7% em nosso cenário base - o que não representa uma melhora significativa na capacidade dos consumidores de pagarem sua dívida. Notadamente, como os governos canadenses adotaram relativamente cedo a terceirização de investimentos em infraestrutura por meio de PPPs, o aumento dos gastos públicos com infraestrutura também mobiliza investimentos privados - obviamente, um aspecto importante da expansão econômica. Em sua estrutura atual, as três esferas do governo - federal, provincial e municipal - compartilham as responsabilidades para manutenção da infraestrutura pública do país. Após um período de altos investimentos em projetos públicos na década de 1950 e 1960, os governos reduziram os gastos, retomando o foco no financiamento em infraestrutura apenas recentemente, após a recessão de 2008-2009. Embora os investimentos do governo em infraestrutura estejam novamente próximos a 3% do PIB (versus uma baixa de 1,4% em 2000), décadas de subinvestimento levaram a um déficit de investimentos estimado em C$145 bilhões em 2011 pelo Centro Canadense de Políticas Alternativas. Entre as demais estimativas do déficit - por exemplo, da Federação dos Municípios Canadenses - estão o custo de reparos, que aumentam a vida útil da infraestrutura atual, somado aos novos gastos para sustentar o crescimento estimado da população - de acordo com estas medidas, o Canadá precisará investir mais de C$200 bilhões em infraestrutura pública na próxima década. Europa Na Europa, os investimentos fixos não foram totalmente recuperados das quedas observadas durante a crise econômica e financeira global. Na verdade, os investimentos fixos totais como porcentagem do PIB da região agora estão quatro pontos percentuais abaixo do pico pré-crise (veja o gráfico 1). Os investimentos privados declinaram significativamente durante a crise, o que foi parcialmente compensado pela elevação nos investimentos públicos como parte das medidas de incentivo implementadas pelos governos da UE. Desde então, os investimentos públicos têm reduzido rapidamente, à medida que os governos consolidam seus orçamentos. Ainda assim, parte considerável dos gastos públicos - cerca de um terço, em média - é direcionada a projetos de infraestrutura na UE, de acordo com estimativas dos economistas do Banco Europeu de Investimento (BEI). No entanto, na maioria dos países da região, os investimentos (públicos e privados) em infraestrutura de transportes como porcentagem do PIB é inferior a uma década atrás. No meio tempo, a qualidade percebida da infraestrutura geral em alguns países da UE, como a Itália, é baixa. Outros, como a Alemanha, perderam sua forte posição competitiva (veja a tabela 2). Tabela 2 – Qualidade percebida da infraestrutura, Relatório de Competitividade Global, 2014-2015 País Áustria Qualidade Qualidade geral da infraestrutura das rodovias Qualidade da Qualidade da Qualidade da infraestrutura das infraestrutura dos infraestrutura do rodovias portos transporte aéreo 60 Qualidade do fornecimento de eletricidade 7 3 11 33 7 Bélgica 17 27 14 6 15 16 França 10 4 6 32 17 14 Alemanha 11 13 8 14 13 33 Irlanda 36 25 31 29 23 17 Itália 35 56 57 29 55 70 Holanda 6 5 9 1 4 9 Espanha 13 11 4 9 10 21 Suécia 18 20 19 18 21 22 Reino Unido 27 30 16 16 28 12 Fonte: Fórum Econômico Mundial. As demandas de investimento em infraestrutura da UE estão próximas de €1 trilhão (US$1,2 trilhão) para os próximos três anos, de acordo com estimativas da Comissão Europeia (CE), incluindo gastos superiores a €200 bilhões para atender aos objetivos de energia estabelecidos. A CE estima ainda que são necessários investimentos de €1,5 trilhão em infraestrutura de transportes até 2030, com o déficit de financiamento para redes de banda larga próximo a €30 bilhões ao ano até 2020. Os baixos investimentos têm sido uma das principais causas da lenta recuperação da economia da UE. Além disso, os investimentos cronicamente baixos ameaçam o crescimento futuro. Para tratar deste assunto, o Presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker definiu em novembro o Plano de Investimento Europeu que elevaria os gastos em €315 bilhões no período de 2015-2017. A comissão identificou cerca de 2.000 projetos, com investimentos potenciais de €1,3 trilhão, que ajudariam a recuperar a desaceleração da economia da zona do euro por meio de gastos com infraestrutura, financiados principalmente pelos mercados de capitais. Acreditamos que a solução para a arrecadação dos €315 bilhões seja o recém-criado Fundo Europeu para Investimentos Estratégicos (FEIE), que dispõe de €21 bilhões, sendo €8 bilhões em novos recursos de caixa da UE, €8 bilhões de recursos orçamentários da UE já existentes, e €5 bilhões do BEI. Estudos econômicos mostram que investimentos em infraestrutura promovem o crescimento da produção por meio da demanda no curto prazo e da oferta no longo prazo. O efeito impulsionado pela demanda depende da posição da economia no ciclo econômico, sendo mais forte no ponto baixo de um ciclo. Por exemplo, nas depressões de 1837-1842 e 1931-1935, os investimentos em infraestrutura de transportes desempenharam papel fundamental na recuperação das economias da Europa. Ao mesmo tempo, os efeitos causados pela oferta dependem da produtividade dos investimentos, que por sua vez poderiam ser relacionados à sua forma de financiamento. A maioria das economias da região está no ponto baixo de seu ciclo ou próximo a eles, conforme demonstrado pelo déficit de produção de cada país - a diferença entre o PIB potencial e real - e o fato de a zona do euro como um todo ter sofrido duas recessões desde 2008. Contudo, há diferenças entre os países em relação a suas posições no ciclo. De todos os países da zona do euro, a Alemanha é o que está mais próximo do emprego pleno, estimamos que seu déficit de produção seja de cerca de 1,2 ponto percentual do PIB, comparado a 3,8 pontos percentuais da zona do euro como um todo. Outra questão relevante para se refletir são as fortes relações comerciais entre os países da UE. Em média, 60% das exportações/importações europeias ocorrem na própria união. Nosso estudo mostrou que o aumento dos gastos por um país teria pouco efeito em seu crescimento e no de seus vizinhos (Veja "A Stimulus Package From Germany Alone Would Have Little Effect On The Rest Of The Eurozone", publicado em 21 de outubro de 2014). Isso se deve ao fato de fugas por importações reduzirem o impacto direto no PIB da Alemanha, mas serem diluídas entre os principais parceiros comerciais. Nesse contexto, faz mais sentido considerar a região como um todo. Nosso modelo assumiu um aumento de 1% do PIB em investimentos públicos (conjuntos na UE) em 2015. Consideramos ainda que a política monetária na Europa permaneceria acomodativa, sem elevação da taxa de juros acima das estimativas de nosso cenário-base pelo Bank of England, Banco Central Europeu ou pelo sueco Riksbank. Os resultados obtidos contrastaram fortemente com aqueles de nossa simulação de "aumento em um único país". Na verdade, para a zona do euro como um todo, o efeito multiplicador é forte: cada euro adicional gasto com infraestrutura acrescentaria €1,4 ao PIB real em três anos (veja a tabela 3). Tabela 3 – Simulação EU: aumento de 1% nos investimentos públicos em 2015 País Multiplicador Aumento máximo no número de as vagas de empregos Alemanha 1,2 157.000 França 1,3 109.000 Itália 1,4 136.000 Espanha 2,0 107.000 Zona do euro 1,4 627.000 Holanda 1,8 34.000 Áustria 1,3 18.000 Bélgica 1,1 24.000 Irlanda 1,6 12.000 Reino Unido 2,5 343.000 Suécia 1,1 20.000 EU 1.068.000 Ao mesmo tempo, tal aumento geraria em torno de 627.000 vagas de emprego na zona do euro e mais de um milhão de vagas na UE (sendo 343.000 no Reino Unido). Posto isso, um plano conjunto abrangendo a UE como um todo teria um efeito muito mais significativo, em nossa opinião, no crescimento e taxa de emprego do que aumentos pontuais em cada país. Reino Unido Investimentos inadequados em infraestrutura tornaram-se um obstáculo significativo para negócios no Reino Unido. Além disso, o Relatório de Competitividade Global do FEM classifica a infraestrutura geral da região em 27º lugar mundialmente. A produção por hora no Reino Unido é inferior à média das demais economias industrializadas do G7; ano passado, uma hora de trabalho nos EUA produzia 40% do que uma hora de trabalho na Grã Bretanha. Em nossa visão, a insuficiência de investimentos em infraestrutura tem sido um dos principais fatores por trás do fraco desempenho de produtividade no Reino Unido. As rodovias congestionadas são uma realidade na região, prejudicando a economia e o meio ambiente e piorando a qualidade de vida dos britânicos. De acordo com a INRIX, uma empresa de serviços de tráfego rodoviário e de motorista, o Reino Unido é o terceiro país mais congestionado entre as economias desenvolvidas na Europa e América do Norte. Um motorista médio no Reino Unido gasta cerca de 30 horas por ano em congestionamentos, aumentado para 84 horas na área de deslocamento de Londres. Para tratar a questão, o Primeiro Ministro David Cameron anunciou que o governo direcionará £15 bilhões nos próximos 10 anos para melhorar as principais estradas do país. Ao mesmo tempo, esperamos um aumento nos gastos na próxima década, o que deverá criar grandes oportunidades para investimentos privados no setor. Em nossa visão, isso poderia promover o crescimento econômico do país no curto e longo prazo. (Veja "Building For Growth: Can The U.K. Close Its Infrastructure Investment Deficit?", publicado em 17 de novembro de 2014.) Com um déficit acumulado de investimentos em infraestrutura superior a £60 bilhões (US$95 bilhões), a oportunidade é evidente. Estimamos que um aumento nos gastos públicos em um ano no valor de 1% do PIB (coordenado em toda a UE) resultaria em um efeito multiplicador de 2,5 para o Reino Unido em um período de três anos. Esse efeito é maior comparado a um aumento nos gastos no Reino Unido separadamente, que estimamos em 1,9. O principal motivo é a elevação adicional ao PIB da região em função do aumento da demanda de seus parceiros comerciais europeus. Projetamos ainda que esse investimento geraria mais de 300.000 empregos no mesmo ano que ocorresse o aumento. Alemanha Na Alemanha, a maior economia da região, os gastos totais têm sido baixos em uma comparação internacional, e têm reduzido ao longo do tempo - caindo para ligeiramente acima de 17% do PIB em 2013, contra 21,5% em 2000. Os investimentos públicos reduziram para um nível inferior a 3% do PIB (veja os gráficos 2 e 3). Na verdade, os investimentos públicos no país têm permanecido consistentemente 1 ponto percentual abaixo da média da UE na última década, tendência essa que continuou, mesmo após diversos países europeus cortarem gastos públicos em meio à consolidação fiscal. O subinvestimento em infraestrutura do transporte na Alemanha levou a um déficit acumulado de €60 bilhões desde 2004, de acordo com nossos cálculos. A piora na qualidade das rodovias alemãs é refletida nos rankings do FEM: a Alemanha ficou em 13º lugar no quesito em 2014, comparado ao 4º lugar em 2008. No meio tempo, são necessários investimentos em sistemas de energia renovável para fornecimento de eletricidade e aquecimento, e em redes elétricas. É necessário também recursos significativos para melhorar a eficiência energética - por exemplo, no isolamento de edifícios. Esta transição energética exigirá recursos de €31 bilhões a €38 bilhões ao ano até 2020, de acordo com o Deutsches Institut für Wirtschaftsforschung (Instituto de Pesquisa Econômica Alemão). No lado positivo, estimamos que um aumento nos gastos públicos em um ano no valor de 1% do PIB (coordenado em toda a UE) resultaria em um efeito multiplicador de 1,2 para a Alemanha em um período de três anos. França Na França, os investimentos públicos têm sido comparativamente altos, estáveis em 4% do PIB na última década, apesar das limitações da consolidação fiscal (veja os gráficos 4 e 5). No entanto, uma redução em repasses do Estado aos governos locais e regionais - que representam a maior parte dos investimentos públicos - poderia limitar os gastos com infraestrutura em breve. O país, que possui a segunda maior economia da região, ocupa o quarto e sexto lugares nos rankings de qualidade das rodovias e infraestrutura ferroviária, respectivamente, na avaliação do FME - investindo 0.9% do PIB em infraestrutura do transporte, em linha com a média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Entretanto, mudanças demográficas em algumas regiões metropolitanas, em especial em Paris, têm impossibilitado a adequação da rede de transporte público às crescentes demandas de mobilidade. Enquanto isso, a taxa de cobertura de banda larga de alta velocidade era de apenas 41% na França em 2013, comparado a 62% na Europa em geral. Para alcançar 100% de cobertura, podem ser necessários investimentos pelo país estimados em €20 bilhões até 2022. De todo modo, estimamos que um aumento nos gastos públicos em um ano no valor de 1% do PIB (coordenado em toda a UE) resultaria em um efeito multiplicador de 1,3 para a França em um período de três anos. Itália De modo similar, um aumento nos gastos públicos em um ano no valor de 1% do PIB em toda a UE resultaria em um efeito multiplicador de 1,4 na vizinha Itália. Isso é notável especialmente pelo fato de a infraestrutura do país ser considerada fraca em comparação aos padrões internacionais, ocupando o 56º lugar em qualidade de infraestrutura geral, de acordo com o FEM. Os investimentos públicos na Itália somaram uma média de 3% do PIB na década que precedeu a crise econômica e financeira global. Após um aumento temporário como parte das medidas de incentivo durante a crise, os investimentos públicos têm reduzido, somando apenas 2,4% do PIB em 2013 (veja os gráficos 6 e 7). Ao mesmo tempo, os gastos com infraestrutura do transporte alcançaram uma média de 1,3% do PIB anualmente de 2004 a 2008 (acima da média de 0,9% da OCDE), caindo para 0,5% em 2010, de acordo com o Fórum de Transporte Internacional. No meio tempo, a qualidade percebida da infraestrutura de transportes da Itália é fraca, com a qualidade das rodovias ocupando o 57º lugar no ranking, as ferrovias 29º, portos 55º e transporte aéreo 70º, de acordo com o relatório do FEM. De acordo com a INRIX, a Itália é o quarto país com maior congestionamento entre as economias desenvolvidas na Europa e América do Norte (após a Bélgica, o Reino Unido e a Holanda). Ásia-Pacífico Os seis países do G20 na região do Ásia-Pacífico oferecem uma combinação do efeito multiplicador que estimamos resultar de uma aumento nos gastos com infraestrutura de 1% do PIB. Para esses países cujas economias estão se aproximando do PIB potencial - Austrália e Indonésia - o aumento nos gastos não geraria produção adicional, uma vez que desestimularia outros investimentos e estimularia a inflação. No outro lado da moeda, as economias da China e Índia, que estão em franca expansão, possuem diversas oportunidades de investimento (embora a capacidade de financiamento de crédito da China agora seja mais evidente), o que explica seus multiplicadores de 2,2 e 2,0, respectivamente. O Japão e Coreia do Sul - com respectivos multiplicadores de 1,5 e 1,3 - ficam no centro (veja o gráfico 8). As economias em desenvolvimento estão em vantagem em diversos aspectos, uma vez que seus legados de sistemas e estruturas em ruínas não são tão onerosos quanto em certas áreas desenvolvidas. Ainda, esses países podem desfrutar dos avanços tecnológicos para construção das obras desde o início. Um bom exemplo é a Índia, onde os estimados 1 bilhão de telefones celulares representam aproximadamente 30x o número de linhas fixas em uso - e em franca expansão, sem a necessidade de prestadores de serviços instalarem cabos nas áreas rurais, onde apenas um terço da população tem acesso a serviços de telefonia, de acordo com a empresa de telefonia móvel Telecom India. (Ainda assim, ressaltamos que a Índia ocupa o 116º lugar entre os 144 países em relação a assinaturas de celular per capita; para comparação, os EUA ocupam o 72º lugar). Nesse contexto, os investimentos em infraestrutura são um assunto de destaque na região ÁsiaPacífico, dadas as significativas necessidades de funding e o grande interesse dos investidores. No recente encontro do G20 em Brisbane, Austrália, os participantes demonstraram seu compromisso para alcançar um crescimento do PIB global adicional de 2,1% nos próximos cinco anos, enquanto os líderes afirmaram que um aumento nos investimentos em infraestrutura seria uma das formas de obtê-lo. Para isso, os membros do G20 concordaram em criar um centro de infraestrutura global em Sidnei, reconhecendo a necessidade de melhor coordenação e simplificação. Em outras palavras, tornar mais atrativo o investimento privado em infraestrutura é essencial para atingir esse objetivo. De acordo com as estimativas do grupo, obras de infraestrutura exigiriam recursos privados adicionais de US$2 trilhões nos próximos 15 anos. Com a Ásia tornando-se o agente de crescimento econômico global, apesar de seu significativo déficit de infraestrutura, a região poderia absorver grande parte deste investimento adicional, em nossa visão. Em termos gerais, o objetivo do centro é ajudar a coordenar os planos de infraestrutura dos governos participantes, ajudando a desenvolver conhecimento público e especialização, e a padronizar os processos de licitação dos projetos. A quantificação precisa dos riscos esperados pelos investidores privados permitiria a todos os países estabelecer uma estrutura contratual única para os projetos. Consideramos isso primordial para a obtenção de qualquer montante significativo de recursos privados para a infraestrutura. América Latina Investimentos em infraestrutura como porcentagem do PIB na América Latina são inferiores à média global de 3,8% (veja o gráfico 9). De 2008-2012, a região como um todo alocou 3% do PIB para projetos - ou cerca de US$150 bilhões ao ano, considerando que o PIB ficou em torno de US$5 trilhões no período de cinco anos. A composição dos gastos por país ficou próxima da média na Argentina, Brasil, Colômbia e México, sendo mais baixa no Chile (2% do PIB) e mais alta no Peru (4%). Essas diferenças intrarregionais são o resultado provável do fato de o Chile já ter investido mais agressivamente do que seus vizinhos antes de 2008, e suas demandas de infraestrutura terem sido inferiores, enquanto o Peru enfrentava uma situação oposta. Outro motivo pode ser o fato de o Chile basear-se em critérios mais avançados para avaliar projetos e investir com maior eficiência do que seus pares. Para alcançar países como a Coreia do Sul e China, a América Latina teria de direcionar 6% do PIB para projetos de infraestrutura nos próximos 20 anos, de acordo com estudos do Banco Mundial e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Porém, embora sejam necessários mais investimentos, talvez uma melhor forma de compensar o déficit de infraestrutura seja melhorar a eficiência. Para esclarecer, a América Latina não é a única região a apresentar infraestrutura pública notadamente ineficiente - outras áreas, como Ásia-Pacífico, apresentam o mesmo problema. De acordo com um estudo da McKinsey, o qual indicou que os projetos em andamento poderiam ser construídos com dois terços do custo se avaliados, planejados e executados com maior diligência, isso significa que a América Latina poderia reduzir a diferença entre a infraestrutura existente e as necessidades na mesma velocidade ao dobrar os investimentos para 6% do PIB ou aumentando os investimentos de 3% para 4% e adotando "melhores práticas". Certamente, a segunda alternativa é mais adequada e mais realista do ponto de vista fiscal, uma vez que reduz transferências de renda indesejáveis e perdas sociais líquidas. Com base neste critério, estimamos que o déficit de infraestrutura na América Latina e seis das suas sete maiores economias (excluindo a Venezuela, pela insuficiência de dados) em 1% do PIB – ou cerca de US$336 bilhões em cinco anos. O cálculo do efeito de um aumento nos investimentos regionais dessa magnitude no PIB real desses países até 2017 levou a multiplicadores variando de 1,3 no México a 2,5 no Brasil. Vale notar que estes resultados incorporam apenas o crescimento no PIB resultante de um aumento na demanda efetiva, não refletindo os efeitos colaterais relacionados à oferta que surgiriam mais lentamente à medida que o estoque de capital de infraestrutura aumentasse. Dito isso, o efeito na demanda agregada é fundamental para uma região que enfrente não apenas uma provável queda no potencial crescimento resultante de fatores externos, mas também um hiato do produto crescente e negativo, que levou à estagnação na geração de empregos em algumas áreas. Para calcular o efeito do aumento nos gastos com infraestrutura nos mercados de trabalho, a S&P combinou os multiplicadores do PIB com a Lei de Okun (a qual busca quantificar a relação entre a taxa de emprego e a atividade econômica), e descobriu que um aumento nos gastos com infraestrutura equivalente a 1% do PIB na região geraria 900.000 empregos no Brasil, 250.000 no México e 68.000 na Argentina no período de três anos. No meio tempo, a composição dos investimentos em infraestrutura públicos e privados na América Latina tem mudado significativamente nas últimas três décadas. Na década de 1980, a maior parte - se não toda - das obras de infraestrutura foi construída, financiada e mantida com recursos públicos. Nos anos 90, a participação do setor privado cresceu significativamente por meio de privatizações e concessões - e não apenas em telecomunicações, mas em setores como geração, transmissão e distribuição de energia, sobretudo no Chile e Argentina. Foram realizadas concessões (ou PPPs) para serviços de abastecimento de água e transporte, incluindo rodovias, portos e aeroportos. Ao contrário de uma visão comum, o envolvimento do setor privado com a infraestrutura – tanto por meio de PPPs quanto de privatizações – continuou nos anos 2000, exceto no México e Argentina. No primeiro, problemas relacionados à privatização da Telmex e concessões rodoviárias, nas quais o fraco planejamento e execução pelo governo acarretaram pagamento mais caro por serviços medíocres pelo público, contribuíram para a descontinuidade de seu uso. Na Argentina, porém, a quantidade e qualidade dos serviços de infraestrutura melhoraram em todos os setores em que participa o setor privado. Isso vale para geração, transmissão e distribuição de energia; transporte e distribuição de gás natural; serviços de abastecimento de água e saneamento; e até construção e manutenção de rodovias. Em todos esses setores, os serviços eram adequados, as tarifas acessíveis e os compromissos de investimento honrados. No entanto, durante a crise financeira de 2002, o governo argentino interveio em muitos desses mercados, congelando tarifas e revisando e/ou revogando contratos. Como resultado, o setor privado reduziu investimentos em infraestrutura. Fora do México e Argentina, o setor privado tem participação ativa na América Latina. No Brasil por exemplo, a maior economia da região, a participação do setor privado nos investimentos totais em infraestrutura dobrou para cerca de 60% na década de 1990. Em outras palavras, mais de metade da infraestrutura pública no Brasil representa atualmente participação privada. O setor privado também está ganhando importância na Colômbia, onde um em cada três dólares gastos com infraestrutura vem de investimento privado direto. Enquanto isso, no Chile e Peru, essa porcentagem tem sido praticamente estável, em cerca de 50%. Chave para o sucesso A Standard & Poor’s acredita ser extremamente importante a melhora na qualidade dos investimentos em infraestrutura em vez de apenas aumentar os gastos – independentemente do grau de desenvolvimento da economia do país. Entre outros fatores, isso poderia aprimorar a avaliação e seleção de projetos, talvez por meio de avaliação independente, análises abrangentes de custo-benefício, e execução de projetos com maior eficiência. A questão é particularmente importante, uma vez que os governos estão alocando cada vez menos recursos de seus orçamentos para infraestrutura – principalmente no Ocidente. Nos EUA, os gastos públicos com projetos como porcentagem do PIB atingiram uma baixa histórica em mais de 20 anos, e na zona do euro as medidas de austeridade dos governos consumiram parte significativa dos gastos com desenvolvimento e reforma de infraestrutura. De fato, apesar da relação evidente entre a dimensão de um projeto e seu consequente incentivo à economia, o aumento nos gastos nem sempre resulta em benefícios proporcionais. Nesse sentido, é crucial que os países avaliem, planejem e executem com diligência seus projetos de infraestrutura de modo a gerar economias de custo significativas no curto prazo e maiores incentivos à economia ao longo do tempo. De acordo com as políticas da Standard & Poor's, apenas um Comitê de Rating pode determinar uma Ação de Rating de Crédito (incluindo uma mudança, reafirmação ou retirada de Ratings de Crédito, mudança da Perspectiva de Ratings, ou ação de CreditWatch). Este artigo e seu conteúdo não foram objeto de ação de um Comitê de Rating, não devendo, portanto, ser interpretados como uma mudança ou reafirmação de um Rating de Crédito ou de uma Perspectiva de Rating. Escritor: Joe Maguire Copyright© 2015 pela Standard & Poor's Financial Services LLC (S&P) Todos os direitos reservados. 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