O Lobo de Wall Street

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Reflexões de Cinema
A ideia desta coluna não é uma crítica cinematográfica, mas trabalhar sobre os temas tratados
por filmes para convidar a algumas reflexões. Recomendamos ao leitor ver o filme para melhor
desfrutar dos aspectos aqui tratados.
O Lobo de Wall Street
Por Myrthes Gonzalez
O Lobo de Wall Street é um filme baseado na biografia de Jordan Belfort, especulador da bolsa
de valores. Não é um filme fácil de assistir já que o diretor Martin Scorsese expõe ao longo de
três horas de exibição cenas que revelam a que ponto a ambição pode transformar um ser
humano em algo execrável.
Belfort inicia o filme enumerando seus vícios, que são muitos, todos os que uma posição social
privilegiada pode manter. Mas ele mesmo afirma que seu principal vicio é o dinheiro.
É esta a genialidade da reflexão proposta por Scorsese: O dinheiro como um vício.
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A filosofia do protagonista é viver com intensidade cada momento, mas seu equivoco central é
“coisificar” e esvaziar de sentido tudo o que vive. O viver intensamente de Belfort significa
utilizar e destruir tudo o que o cerca, em especial a qualidade humana das pessoas que são
seus “colaboradores” e vínculos afetivos. À medida que corrompe, corrói a si próprio.
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É interessante perceber o que é o dinheiro. Uma moeda de troca que em si não tem nenhuma
utilidade ou significado, mas em nossa cultura funciona como um meio de acesso a tudo. Este
tudo tem uma propriedade tão imensa e infindável que acaba por causar um processo de
despersonalização profundo e avassalador.
A metáfora do lobo surge como símbolo desta degradação, onde o homem é o lobo do próprio
homem. O dinheiro que está a serviço do próprio dinheiro constrói uma vida sem sentido ou
direção, onde a alma se corrompe e do espaço ao que há de mais sombrio no ser humano.
Mas a reflexão mais profunda está na percepção de que esta corrupção não reside somente
em Belfort, pois ele representa a própria economia globalizada devorando e manipulando os
sonhos do homem comum. Passando como um rolo compressor sobre os mais nobres
princípios de dignidade, honestidade e afeto.
Assistir o Lobo de Wall Street pode ser incômodo e chocante; Ele funciona como uma espécie
de espelho de uma sociedade vazia, que perde seus valores em nome de um vicio coletivo, de
uma busca que vai a lugar nenhum.
É um alerta de que sentido tem as nossas ambições.
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Proibida reprodução total ou parcial do texto, sem expressa autorização. © Myrthes Gonzalez 2014
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