INSTITUTO FILHAS DE MARIA AUXILIADORA fundado por São João Bosco e Santa Maria Domingas Mazzarello N. 908 Reconciliados e unificados pelo amor, anunciemos Jesus aos jovens Queridas Irmãs, por ocasião da Festa da Gratidão em nível mundial, desejo expressar a minha gratidão a cada uma de vocês, pelo dom de sua vida entregue ao Senhor no Instituto, e pela caminhada contínua de santidade, em que cada uma está empenhada. Proponho a vocês uma partilha sobre o tema da festa que será realizada em Madagascar, no dia 26 de abril. O logo, como Irmã Emilia Musatti explicou, na carta enviada às Inspetoras no dia 31 de janeiro, faz lembrar conteúdos evangélicos e carismáticos cheios de significado: da barca, ao balanceiro, à vela, à figura da pastorinha do sonho de Dom Bosco expressando muito bem toda a riqueza da nossa tradição de família. No seu último sonho missionário, entre os dias 9 e 10 de abril de 1886, Dom Bosco tinha visto uma jovem que lhe indicava os lugares das futuras missões salesianas na América, Ásia e África. É o famoso sonho da pastorinha que lhe manda traçar idealmente uma linha, de Pequim a Santiago, passando pelo centro da África. Entre os Países do sonho está também Madagascar. Cem anos mais tarde, em 1986, se abria a nossa primeira presença educativa na Ilha vermelha de Madagascar. As FMA haviam chegado alguns meses antes, para aprender a língua. Desde então, o desenvolvimento do carisma não parou. Os Bispos continuam a pedir a nossa presença naquela terra rica de jovens, de recursos naturais, de futuro. À distância de vinte e cinco anos da nossa primeira chegada ao País, a festa da Gratidão é ação de graças a Deus pelo caminho percorrido e, ao mesmo tempo, pedido de novas bênçãos sobre o futuro que se abre diante de nós. Ele será fecundo também para todas as presenças FMA do mundo, se vivermos a reconciliação do coração, a comunhão no Espírito, o impulso para as fronteiras antigas e novas da missão, onde fazer o anúncio explícito de Jesus. Reconciliados pelo amor Deixar-se reconciliar pelo amor de Deus é um passo fundamental do itinerário de conversão, estreitamente ligado ao fascínio da relação pessoal com Jesus, e ao empenho de ser discípulas-missionárias da Palavra (cf Atos XXII CG 37,1-3). A via da 1 reconciliação foi proposta também no Sínodo especial para África/Madagascar, como percurso para garantir a justiça e a paz, e ser, como cristãos, sal e luz da terra. A reconciliação é uma proposta evangélica que diz respeito a todos. Situações de injustiça, violência, guerra, conflito, também nas famílias, nas escolas e em outros ambientes da vida humana, pedem com urgência caminhos de reconciliação. A violência se propaga não só entre adultos, mas também entre as bandas jovens e as gangues. Nas fileiras da perversão, não são poucas as crianças recrutadas. A violência cria redes, se difunde, gera medo, e o medo ativa um mecanismo de reação em cadeia: os meios de comunicação nos mostram todos os dias episódios de violência, situações que atentam contra a paz e minam a comunhão fraterna. Mas, é verdadeira e real também a experiência contrária. Existem ilhas de paz, de harmonia, de solidariedade, também em contextos de violência, lá onde as pessoas erguem muros para se defender. Eu mesma, visitando as Inspetorias, posso constatar isso, com alegria e gratidão. Penso muitas vezes que seria bonito espalhar essas notícias, pois seriam capazes de contagiar. No mundo há muitos artífices de paz: no silêncio e na discrição, eles tecem a trama de uma outra história, que não faz barulho, mas tem raízes mais sólidas e vitais que mergulham no coração da pessoa, no amor de Deus acolhido com gratidão. Esse amor fundamenta a dignidade da pessoa na sua unicidade e inviolabilidade, e se manifesta em assumir o cuidado dela, valorizá-la, defendê-la, abrir-lhe caminhos de esperança. A forma mais elevada do amor de Deus se manifestou em Jesus. Por isso, Paulo exorta: «No nome de Cristo, nossa paz, deixai-vos reconciliar por Deus» (2 Cor 5,20). Nele foi derrubado o muro de divisão e de separação, para fazer de todos nós um só povo (cf Ef 2,14). Paulo sabe que, muitas vezes, não basta a boa vontade ou o propósito pessoal de produzir mudanças significativas; e invoca a máxima autoridade: no nome de Cristo, deixai-vos reconciliar. Mesmo os corações mais endurecidos, os joelhos mais calejados encontram força para se dobrar diante dele. Creio que a incapacidade de perdoar que às vezes sentimos, esteja ligada ao pouco acolhimento da misericórdia de Deus na nossa vida. A reconciliação é, de fato, amor recebido e doado. Não podemos ser profetas de reconciliação e de paz, se o nosso coração não está reconciliado, se não mora em nós a paz que o Senhor mesmo nos dá: «Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz» (Jo 14,27). No Cenáculo se forma o coração novo. É o mesmo Espírito de Jesus que derrama em nossos corações o amor preveniente do Pai, faz com que nos sintamos filhas e filhos, amados e perdoados por Ele. A sua força permite realizar a passagem de um coração cheio de temores, desprovido de esperança, para um coração que sabe amar, perdoar, servir. Precisamos voltar a esse Cenáculo, também através do sacramento da Reconciliação, celebrado com assiduidade. Confiante encontro com a fidelidade e a misericórdia do Pai, ele renova a nossa inserção no mistério de morte e ressurreição de Cristo, reconcilia-nos com as pessoas, ajuda-nos a aceitar a nossa pobreza e a fazer una caminhada decidida de libertação do pecado. Busquemos esse sacramento em atitude de fé, reconhecendo sua importância para o crescimento pessoal e comunitário, em Cristo (cf Const. 41). Fazendo a experiência do perdão que Deus nos oferece gratuitamente, podemos desarmar o coração, aprender a perdoar também, e caminhar mais rapidamente rumo à unidade do amor. Faço votos de que, em cada comunidade nossa, a experiência do perdão recíproco e da reconciliação seja cotidiana e sempre renovada. 2 Unificados pelo amor A imagem da barca que sulca o mar aberto em direção à meta me parece exprimir a ação unificante do amor, não só dentro de cada coração, mas dentro de um projeto de comunidade que se abre para horizontes sempre mais amplos e alcança objetivos de comunhão e de esperança. A reconciliação do coração unifica a nossa história pessoal, algumas vezes fragmentada e dispersa, dispõe a sair de eventuais imaturidades que impedem de prosseguir, libera energias, para fazê-las convergir para a meta, animadas pelo vento do Espírito que dá entusiasmo e vigor. Sulcar o mar do amor, tanto em nível pessoal quanto comunitário, não é um percurso retilíneo. Exige a purificação contínua da memória - às vezes machucada por feridas e raciocínios puramente humanos - para entrar na dimensão unificante e festiva da presença de Deus. Ele confere eficácia aos nossos esforços, qualidade às nossas relações, significado ao nosso agir. O balanceiro, que faz parte da barca malgaxe, pode ser interpretado como empenho de encontrar o ponto de equilíbrio do nosso coração e das nossas comunidades, para ir em frente com olhar evangélico, disponibilidade para deixar que caiba à palavra de Jesus o julgamento de tudo, e para abrir-nos confiantes ao discernimento que dela provém. O Cenáculo, o aposento no andar superior onde os apóstolos, juntamente com Maria, receberam o Espírito Santo, era provavelmente o lugar em que fora celebrada a Eucaristia, onde Jesus manifestara aos seus a amizade mais íntima, e pedira que vivessem no amor fraterno, na unidade. Ali, os apóstolos haviam escutado o testamento de Jesus e acolhido a sua palavra de ordem: «Fazei isso em memória de mim» (Lc 22,19). Talvez todos ainda revissem o Mestre ajoelhado a seus pés, revestido com o avental, e ouvissem o eco de suas exigentes palavras: «Como eu vos fiz, fazei também vós» (Jo 13,15). De fato, naquela casa, Jesus «havia deixado um sinal de amor humilde, no serviço de lavar os pés de seus discípulos; havia entregado o memorial do seu amor por nós, do seu agradecimento ao Pai, dando-se a si mesmo como comida e bebida na Eucaristia (cf Atos XXII CG 27). O Cenáculo é o lugar da lembrança, da narrativa, da ressonância cheia de admiração. Também para nós «estar no Cenáculo quer dizer ser sensíveis ao amor, saber ver com maravilhado espanto - os modos diferentes e sempre novos com os quais Deus manifesta amor infinito por suas criaturas; quer dizer ter um coração repleto de gratidão exultante» (Atos XXII CG 27). Queridas Irmãs, eu lhes garanto que isso acontece neste momento no meu coração, cheio de gratidão para com cada uma de vocês e com as comunidades educativas. O Obrigada! assume significado na Eucaristia, onde Jesus amou os seus até o fim (cf Jo 13,1). Nesse Cenáculo do amor e da doação, eu ouso pedir-lhes o empenho de manter viva a graça da unidade: unidade da nossa vocação, unidade da nossa comunidade, unidade da missão carismática. Peço-lhes que mantenham aceso o fogo do amor fraterno, reavivando o espírito de família, expressão de comunhão. Jesus deu testemunho de qual é o preço da unidade: o sofrimento e a cruz, sinal de um amor maior; o serviço recíproco, que abre o coração para a colaboração com as nossas Irmãs, as leigas e os leigos, as novas gerações. 3 A comunhão em formar «um só coração e uma só alma» nunca se alcança a baixo custo, e não se alimenta só de sentimentos, mas de mangas arregaçadas, de joelhos prontos para o serviço, de corações abertos e disponíveis a fazer o que Jesus nos pede. Ela se constroi na escuta assídua da Palavra, na união fraterna, na fração do Pão e na oração (cf At 2,42). A comunidade animada por Maria Domingas Mazzarello realizava esse estilo eucarístico de comunhão, onde se vivia e se respirava a presença de Deus. Na base da mútua valorização, Maria Domingas colocava a motivação evangélica: «Agi de modo que Jesus possa estar muito à vontade no meio de vós» (C 49,3). Se Jesus está entre nós, é mais fácil ser memória vivente dele e construir a comunidade como verdadeira casa do amor de Deus. Anunciemos Jesus aos jovens Ao enviar a proposta para a festa da gratidão, as Irmãs da Inspetoria malgaxe evidenciam a audácia missionária presente no nosso Instituto, desde os inícios. Ela nos interpela ainda hoje a entregar de novo a Deus nossa vida, pela missão entre as novas gerações. A barca e o ícone de Maria desenhado sobre a vela indicam a experiência de uma vida reconciliada, unificada no amor, totalmente orientada para o anúncio missionário. Se, com ardor e coragem, nos entregarmos a Maria, também hoje - apesar da pobreza de pessoas e de recursos - a barca irá para longe, deixando para trás os temores e abrindo-se a um novo sopro de missionariedade, fonte de vitalidade para todo o Instituto. Para as pessoas reconciliadas em Cristo, que procuram viver a comunhão, a urgência de evangelizar não é uma ordem que vem de fora, mas necessidade intrínseca. Se somos de Cristo, recebemos o seu Espírito e compartilhamos sua missão de salvação até os confins do mundo. Reconheço com alegria que esse elã está largamente presente no coração das FMA e também dos jovens que encontramos na nossa missão. Quando a paixão do da mihi animas incendeia o nosso coração, a chama necessariamente se eleva, abre espaço, contagia outras pessoas. O amor é a maior força de transformação de que o mundo dispõe. O importante é não deixar que se apague, mas alimentá-lo continuamente na sua fonte autêntica. Anunciamos o mesmo amor que Jesus veio testemunhar, tornando-se pão partido para os outros: «Na Eucaristia, fonte e cume da existência e da ação apostólica, está a fonte da nossa comunhão e da paixão pela vida» (Atos XXII CG 28). Essa paixão nos leva a achar as estradas adequadas para entrar em sintonia com o coração dos jovens, de modo a suscitar suas melhores energias. A nossa vida deve ser um contínuo chamado: “Levanta-te, e vai aos teus irmãos e irmãs ”. Hoje em dia, há necessidade de uma renovada paixão carismática por um anúncio explícito de Jesus, superando um falso senso de pudor e de respeito e comunicando com alegria e convicção que o seu amor renova e transforma, dá felicidade e gosto de viver. Aos jovens que educamos, ofereçamos não só acompanhamento e amizade num clima de “amorevolezza”, mas façamos fulgurar algo de grande, pelo qual vale a pena viver e empenhar a própria vida. Procuremos fazer com que eles vejam Jesus. 4 O nosso testemunho às vezes poderia ser ofuscado pelo cansaço ou pela falta de resultados imediatos. Como operárias na vinha do Senhor, sabemos que cabe a Ele dar fecundidade, como e quando quiser. Somos chamadas a - incansavelmente semear amor nas antigas e novas fronteiras da missão ad gentes e inter gentes. A esta altura, toda terra se tornou terra de missão e, de certo modo, de primeiro anúncio da palavra de Jesus. Juntamente com Maria, a pastorinha do sonho, recuperemos entusiasmo e paixão, acolhendo a palavra de ordem “Eu as confio a você” com coração novo e confiante. A barca do Instituto, das nossas comunidades, da nossa própria vida, não pode ficar imóvel: ela é feita para sulcar o mar aberto, impelida pelo Espírito que traça sulcos de amor preveniente também neste nosso tempo, sedento de verdade e de motivos para viver. Com esta barca iremos a Ambaja, em Madagascar, onde será aberta uma nova comunidade de FMA, em resposta ao pedido do Bispo do lugar, e como sinal dos vinte e cinco anos de presença em Madagascar. Tínhamos pensado de repassar para essa nova obra as ofertas da festa da gratidão; mas, em vista da emergência Haiti, a Inspetora, Irmã Círi Hernández, num gesto de generosidade e confiança na Providência, propôs - com o seu Conselho - repassá-las à Inspetoria haitiana, duramente provada pelo terremoto, como eu mesma constatei há poucos dias. Também o Chile, atingido pelo gravíssimo terremoto e pela tsunâmi, precisará de nossa partilha solidária. Cada uma de vocês sinta o agradecimento do coração pela disponibilidade a encontrar Jesus na barca da própria existência, para depois levá-lo pelas estradas do mundo. Agradeço aos grupos da Família Salesiana, de modo particular aos Salesianos, às comunidades educativas, os amigos e benfeitores. Agradeço especialmente aos jovens: por eles e com eles enfrentamos a aventura em mar aberto, em companhia de Maria que nos orienta para Jesus. A todos, de coração, votos de Santa Páscoa: nossa vida seja, sempre mais, um sinal luminoso da Ressurreição. Roma, 24 de março de 2010 Af.ma Madre 5