a cidade de diamantina-mg, na perspectiva do determinismo

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A CIDADE DE DIAMANTINA-MG, NA PERSPECTIVA DO DETERMINISMO
AMBIENTAL E POSSIBILISMO
Marcos Ferreira de Oliveira
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
[email protected]
Silky Polyane Pereira da Silva Gonçalves
Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
[email protected]
RESUMO
Desde a sistematização da Geografia como ciência, muito tem se discutido da relação
homem natureza, isso possibilitou surgimento de várias correntes de pensamento que
defendem teorias que muitas vezes eram usadas para camuflar reais interesses do
estado, a obtenção de conhecimentos territoriais propiciava vantagens inestimáveis para
qualquer governo que buscava extrair da natureza matérias primas para o
desenvolvimento, porem esta ocupação do espaço estimulou a pesquisa desta interação,
e o aparecimento do Determinismo Ambiental e Possibilismo que surgem com a
necessidade de entender a influência da natureza para o homem e como o mesmo pode
ser agente de alteração do meio natural. O objetivo desta pesquisa é analisar a relação
homem natureza na cidade de Diamantina - MG, na perspectiva do Determinismo
Ambiental e Possibilismo, buscando entender como teorias da Geografia Tradicional
ainda oferecem subsídios relevantes a pesquisas contemporâneas. Analisando a
paisagem do município in loco foi possível compreender os aspectos que levam a
natureza influenciar o homem, e como o homem pode atuar na construção do espaço
geográfico de acordo com as correntes de pensamento supracitados.
Palavras-Chave: Determinismo Ambiental, Possibilismo e Diamantina - MG.
______________________________________________________________________
Relatório de Pesquisa
INTRODUÇÃO
Diversos autores definiram a Geografia como o estudo da relação entre o
homem e a natureza, e buscaram explicar os efeitos deste relacionamento através das
correntes do pensamento geográfico, mas como em todas as ciências, estes conceitos
passam por períodos evolutivos de aprimoramento contínuo, tornando possível o
surgimento de novas opiniões.
O Determinismo Ambiental e o Possibilismo são teorias que buscam
explicar a interação da sociedade com o meio, mas com visões distintas. O
Determinismo Ambiental busca explicar como meio influencia diretamente no
desenvolvimento humano e o Possibilismo declara o homem sendo o principal agente
de mudança da natureza. As duas correntes supracitadas se compõem a base da
Geografia tradicional.
Para melhor compreensão do tema foi realizado um trabalho de campo pela
Professora Msc. Maria das Graças Campolina Cunha, juntamente com os acadêmicos do
1° e 3º período de Geografia da Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES, campus Pirapora – MG, entre as cidades de Pirapora e Diamantina em
Outubro de 2011. Neste percurso foi possível observar e analisar de acordo com a visão
Determinista e Possibilista a Serra do Espinhaço e o município de Diamantina-MG.
Fixando os conhecimentos obtidos em sala de aula pertinente a disciplina História do
Pensamento Geográfico.
ÁREA DE ESTUDO
O município de Diamantina está inserida na mesorregião do Jequitinhonha.
Encontra-se entre as coordenadas 18º 14’ 56’’ W e 43° 36’ 00’’ S, no segmento Alto
Jequitinhonha. Sua população é constituída por 45.880 habitantes sendo 40.064
residentes em meio urbano e 5.816 no rural. Sua extensão territorial é de 3.892 km2 e
uma densidade demográfica de 11,79 hab/km2 (IBGE, 2010).
Geologicamente apresenta principalmente as Formações Galho do Miguel
do proterozóico, Sopa-Brumadinho do mesoproterozóico, Serra do Catuni do
neoproterozóico, Córrego Pereira do mesoproterozóico e Coberturas detrito-lateríticas
ferruginosas do cenozóico (CPRM, 2003). Geomorfologicamente em sua porção SW
encontra-se localizada a Serra do Espinhaço e na parte SE e N observa-se relevo com
cotas altimétricas menos elevadas.
Figura 01: Mapa da localização da área de estudo.
Fonte: Geominas
METODOLOGIA
O procedimento utilizado na pesquisa foi reflexivo sistemático, em que
dados foram obtidos por documentação direta (pesquisa de campo) e indireta (pesquisa
de fontes primárias e bibliografias).
METODOLOGIA E
DESENVOLVIMENTO
2º Etapa – Pesquisa
1º Etapa – Planejamento
exploratória:
do Trabalho: escolha de
Campo; análise da
roteiro,
materiais
e
paisagem.
métodos.
Pesquisa
bibliográfica.
DETERMINISMO AMBIENTAL
3º
Etapa:
Processamento
e
interpretação
de
dados e elaboração
do relatório final.
O Determinismo Ambiental foi uma teoria formulada por Friedrich Ratzel,
autor alemão que publicou obras como Antropogeografia fundamentos da aplicação da
Geografia à História. “Pode-se dizer que esta obra funda a Geografia Humana. Nela,
Ratzel definiu o objeto geográfico como o estudo da influência que as condições
naturais exercem sobre a humanidade.” (MORAIS, 2003, p.18).
Para Ratzel o homem precisa do meio para sobreviver, porque é da natureza
que se retira a matéria prima para a vida. Quanto maior o território mais recursos estarão
disponíveis e melhor será a capacidade de desenvolvimento social.
O homem precisaria utilizar os recursos da natureza, para conquistar sua
liberdade, que, em suas palavras, “é um dom conquistado a duras penas”. O
progresso significaria um maior uso dos recursos do meio, logo, uma relação
mais íntima com a natureza. Quanto maior o vínculo com o solo, tanto maior
seria para a sociedade a necessidade de manter sua posse. É por esta razão
que a sociedade cria o Estado, nas palavras de Ratzel: “Quando a sociedade
se organiza para defender o território, transforma-se em Estado”.
(MORAIS, 2003, p.19).
Analisado a paisagem da cidade de Diamantina - MG de acordo com a visão
Determinista, observa-se a influência do meio natural sobre o homem na região. A
geologia da Serra do Espinhaço geológicamente propiciou o surgimento de minerais
preciosos, atraindo exploradores e consequentemente moradores a um lugar nada
convencional, forçando o homem a se adaptar e a viver em um ambiente de
geomorfologia bastante irregular (figura 2).
Figura 02: Geomorfologia da cidade de Diamantina.
Fonte: OLIVEIRA, M.F. (2011)
A geração de renda ocorrida através da exploração do minério, propiciou
condições para a população se estabelecer e evoluir. Sua tradição e cultura foram
moldadas a partir das situações favorecidas pela natureza. O meio forneceu requisitos
para o progresso social que se tornou sustentável através da exploração material, um
exemplo é o calçamento das ruas do centro histórico, são de rochas quartziticas
extraídas da própria Serra do Espinhaço (figura 3).
Figura 03: Passadiço - Diamantina – MG.
Fonte: OLIVEIRA, M.F. (2011)
Centro histórico encontra-se preservado, vários museus de diversos temas
estão situados pela cidade. O determinismo ambiental foi à chave para a evolução do
homem na região, forneceu o espaço, condições climáticas favoráveis e os recursos
necessários, para que o mesmo busca-se formas de se manter nas condições impostas
pela Serra do Espinhaço.
VISÃO POSSIBILISTA
O Possibilismo é uma teoria criada pelo autor Frances Vidal de La Blache,
esta corrente defende a ideia que o “homem como um ser ativo, que sofre a influência
do meio, porém que atua sobre este, transformando-o” (MORAES, 2003, p.24). Existe
uma troca em que o homem altera a natureza extraindo da mesma suas necessidades.
Neste processo, de trocas mútuas com a natureza, o homem transforma a
matéria natural, cria formas sobre a superfície terrestre: para Vidal, é aí que
começa a “obra geográfica do homem”. Assim, na perspectiva vidalina, a
natureza passou a ser vista como possibilidades para a ação humana; daí o
nome de Possibilismo dado a esta corrente por Lucien Febvre.
(MORAES, 2003, p.25)
Observando a paisagem antrópica do município de Diamantina é possível
descrever como o homem tem grande poder de modificar o meio ambiente. A
urbanização é um processo rápido se comparado com o tempo de desenvolvimento da
natureza. Grande impacto é gerado com a extração de matérias primas para a construção
e manutenção de uma sociedade.
Figura 04: Área Urbanizada de Diamantina e ao fundo uma serra sendo
ocupada aos poucos.
Fonte: OLIVEIRA, M.F. (2011)
Figura 05: Observa-se a quase nula a presença dos aspectos físicos naturais
na área urbana.
Fonte: OLIVEIRA, M.F. (2011)
Descrevendo de forma Possibilista o município de Diamantina, o homem foi
o principal agente de mudança na paisagem, porque utilizou seus conhecimentos para
manejar o solo e retirar dele suas necessidades de sobrevivência e evolução.
A SERRA DO ESPINHAÇO
A palavra, geomorfologia é derivada de três raízes do grego: geo (Terra);
morfologia (Forma); logia (Estudo). Segundo Gonçaves (2011,) esta ciência estuda as
formas e processos formadores do relevo. As formas representam a expressão espacial
de uma superfície, compondo as diferentes configurações da paisagem. A
geomorfologia do município de Diamantina é proveniente de uma série de eventos
geológicos que transformaram a paisagem de todos os municípios inseridos no
Supergrupo Espinhaço.
A Serra do Espinhaço, termo introduzido por Eschwege (1822), representa a
faixa orogênica precambriana mais extensa e contínua do território brasileiro.
Alonga-se por cerca de 1200 km na direção N-S desde a região de Belo
Horizonte até os limites norte da Bahia com os Estados de Pernambuco e
Piauí. (ABREU, 2002, p.01)
A maior parte da Serra do Espinhaço é formada por rochas metamórficassedimentares. Sua evolução é resultado de uma sequência de eventos geotectônicos,
pontuados a seguir (Almeida Abreu & Pflug, 1994 apud Saadi, 1995): a) rifteamento em
torno de 1.752 Ma. (final do Paleoproterozóico), dando início à formação de uma bacia
onde se acumularam mais de 5.000 m de sedimentos predominantemente areníticos do
Supergrupo Espinhaço; b) fechamento da bacia por esforços compressivos com
transporte de E para W, gerando o Orógeno Espinhaço em torno de 1.250 Ma
(Mesoproterozóico); c) durante os 250 Ma seguintes, processou-se a sedimentação do
Grupo Macaúbas, parcialmente glaciogênica e mais desenvolvida na parte setentrional;
d) em torno de 900 Ma (Neoproterozóico), um evento distensivo foi responsável por
intenso magmatismo basáltico e a subsequente subsidência do Cráton do São Francisco,
que permitiu a formação da bacia que acolheu os sedimentos pelítico-carbonáticos do
Grupo Bambuí; e) ao final do Neoproterozóico, o amalgamento do Supercontinente
Gondwana induz uma reativação das estruturas nucleadas anteriormente, resultando em
empurrões de E para W, impondo a superposição das sequências do Supergrupo
Espinhaço às dos grupos Macaúbas e Bambuí.
Figura 06: Afloramento de rocha quartzitica da Serra do Espinhaço.
Fonte: OLIVEIRA, M.F. (2011)
Figura 07: Paisagem Antrópica do Município de Diamantina.
Fonte: OLIVEIRA, M.F. (2011)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho de campo contribuiu para uma melhor assimilação do conteúdo
trabalhado em sala de aula, analisando a paisagem do município de Diamantina foi
possível compreender os aspectos que levam a natureza influenciar o desenvolvimento
antrópico e como o homem pode atuar na construção do espaço geográfico, nas visões
do Determinismo e Possibilismo e as observações mostraram que ambas correntes de
pensamento apesar de tradicionais ainda são necessárias para uma melhor análise
evolucionista de uma sociedade.
REFERÊNCIAS
ABREU, P. A. A.; RENGER, F. E. Serra do Espinhaço Meridional: Um Orógeno de
Colisão do Mesoproterozóico. Revista Brasileira de Geociências, v. 32, 2002.
Disponível em: <http://sbgeo.org.br/pub_sbg/rbg/vol32_down/3201/1139.pdf> >.
Acesso em: 19 nov. 2011.
ABREU, A. P. A.. O Supergrupo Espinhaço da Serra do Espinhaço
Meridional(Minas Gerais): o rifte, a bacia e orogéno. Geonomos. 3;1.1995,p.1-18.
Disponível http://www.igc.ufmg.br/geonomos/PDFs/3_1_01_18_Abreu.pdf
Acesso 29/10/2009
GONÇALVES, S. P. P. S.; MENDONÇA, D. S.; SILVA, S. A. P. Paralelo
Geomorfológico: Pirapora e Diamantina o Grupo Bambuí e Super Grupo Espinhaço. In
ENCONTRO REGIONAL POVOS DO CERRADO DE PIRAPORA. Pirapora, 6.;
Pirapora, 2011.
MORAES, A. C. R. Geografia Pequena História Crítica. 20ª ed. São Paulo:
Annablume, 2003.
SAAD, A. A Geomorfologia da serra do Espinhaço de Minas Gerais e suas
margens. Geonomos. 3;1.1995. Disponível em: < http://www.igc.fmg.br/geonomos/3_
1_41_63_Saad.pdf >. Acesso em: 20 nov. 2011.
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