27 a 30 de Agosto de 2014. TRABALHANDO A MULTIPLICAÇÃO SILVA, Thaís Leal da Cruz Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes - Cachoeiro/SEDU-ES [email protected] Resumo: A experiência trazida nesse relato aconteceu em uma sala de aula de uma turma do ensino fundamental, de uma escola da rede estadual de Cachoeiro de Itapemirim. A atividade que realizamos foi a aplicação de um bingo da tabuada de multiplicação. Os objetivos da atividade foram desenvolver o raciocínio na multiplicação, estimular o cálculo mental, contribuir na melhoraria da relação aluno-professor e com isso incentivar a aprendizagem da tabuada de multiplicação de maneira lúdica e diferenciada de uma aula tradicional. Percebemos que mesmo o bingo sendo uma atividade relativamente simples, esse teve o seu valor nas aulas de matemática e na aprendizagem dos alunos com os quais trabalhamos. Palavras-chave: bingo; tabuada; multiplicação; jogo; aprendizagem matemática. 1. Introdução Trabalhar com a educação é algo desafiador, mas fundamental e gratificante. Muitas dificuldades aparecem nesse trabalho, pois existem diversos fatores que inferem no processo de ensino e aprendizagem, sejam elementos de dentro ou de fora da escola. Com isso, a educação torna-se algo complexo, assim como o ambiente escolar (GUIMARÃES, 1988), em que temos que vencer um desafio a cada aula, a cada ano, pois os contextos são diferentes, os alunos têm suas individualidades, entre outras coisas e quando nos referimos à educação de pessoas com idades e culturas diversificadas o desafio se torna maior. Lorenzato (2010, p. 33), nos ajuda a entender isso quando afirma que: Não existem alunos iguais: há uma diferença entre os alunos de uma mesma série, entre os de uma mesma turma; entre distintos momentos de um mesmo aluno. Cada aluno é um grande complexo de fatores que abrangem as áreas física, afetiva, social e cognitiva; eles estão em desenvolvimento simultâneo com ritmos diferentes. Nesse contexto, sabemos que os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que frequentam nossas escolas é um público variado, com alunos adolescentes, alunos com idades mais avançadas, que ficaram, às vezes, muitos anos sem estudar, além de alunos com dificuldades de aprendizagem, entre outras particularidades que trazem das suas realidades de vida. Algo ainda comum entre esses alunos é o medo da matemática, é o preconceito a respeito da disciplina, isso e entre outros fatores contribuem para as frequentes dificuldades de aprendizagem da matemática. Portanto, é na melhoria da aprendizagem e no estímulo do pensamento matemático que pensamos em atividades a serem trabalhadas em sala de aula que podem contribuir com essa aprendizagem, principalmente quando se trabalha com a EJA, público esse que merece um atendimento diferenciado, em que reconheça suas necessidades e contribua para sua formação. Nesse contexto, a Declaração de Hamburgo (apud MEC/CNE, 2000, p. 12), aponta a seguinte reflexão sobre a EJA: A educação de adultos torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI; é tanto consequência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça (Declaração de Hamburgo sobre a EJA). A atividade que realizamos, em uma sala de aula de uma turma do ensino fundamental, de uma escola da rede estadual de Cachoeiro de Itapemirim, foi a aplicação de um bingo da tabuada de multiplicação. Os objetivos da atividade foram desenvolver o raciocínio na multiplicação, estimular o cálculo mental, contribuir na melhoraria da relação aluno-professor, assim, o objetivo central dessa tarefa foi incentivar a aprendizagem da tabuada de multiplicação de maneira lúdica e diferenciada de uma aula tradicional, com frequente exposição de conteúdos, explicação de exemplos e exercícios de fixação. Segundo os PCNEM (BRASIL, 2006), essa forma de ensino tem a concepção do ensino como transmissão de conhecimentos e a aprendizagem como mera recepção de conteúdos. Os PCN (1998) também salientam que esse ainda é o modelo mais usado nas escolas. Santos (1997) nos ajuda a entender essa concepção de ensino tradicional e incentiva o trabalho em sala de aula com equilíbrio e ponderação entre um ensino tradicional e um ensino inovador. A concepção de educação e ensino de matemática mais tradicional privilegia, muitas vezes, o formalismo, o rigor e o produto final (a resposta correta). [...] Em contrapartida, uma concepção de educação e ensino de matemática mais inovadora, que valorize a criatividade, a intuição e os processos de raciocínio e de aquisição de conceitos tanto quanto o formalismo e o produto final, tende a incorporar uma prática pedagógica mais dinâmica (SANTOS, 1997, p. 5). Quanto ao objetivo de construir esse relato, temos em mente divulgar e incentivar práticas no ensino de matemática que tragam benefícios para a aprendizagem dos alunos. Produzimos esse relato de experiência baseado em pesquisas/trabalhos que trazem reflexões sobre o ensino e a aprendizagem de matemática, educação de jovens e adultos, jogos e atividades lúdicas. Muito se discute a respeito do uso de jogos em sala de sala como metodologia incentivadora e não apenas como recurso para “passar o tempo” ou preencher um espaço da uma aula. Seu uso deve ser feito com objetivo e reflexão. Nesse contexto, os PCN afirmam que: Os jogos podem contribuir para um trabalho de formação de atitudes - enfrentar desafios, lançar-se à busca de soluções, desenvolvimento da crítica, da intuição, da criação de estratégias e da possibilidade de alterá-las quando o resultado não é satisfatório - necessárias para aprendizagem da Matemática. [...] Além de ser um objeto sociocultural em que a Matemática está presente, o jogo é uma atividade natural no desenvolvimento dos processos psicológicos básicos; supõe um fazer sem obrigação externa e imposta, embora demande exigências, normas e controle (PCN, 1998, p. 47). Assim, vimos o jogo como algo que muito pode contribuir para o ensino de matemática, desde que trabalhado de forma séria. Por isso, escolhemos o bingo, como o jogo a ser realizado em nossa sala de aula. A pesquisa de Maccari (2009) faz uma abordagem sobre o ensino de conceitos algébricos por meio da interação professor-aluno, em um processo de negociação de significados e trocas de experiências. O recurso usado para a aplicação das atividades de campo teve como uma das ideias centrais a ludicidade, o que consideramos interessante de ser trabalhado nos mais variados assuntos matemáticos e/ou disciplinas. Por isso, a atividade que pensamos para explorar a tabuada também passa por essa ludicidade. Ao trabalharem com atividades lúdicas, os alunos se sentem mais motivados e desenvolvem iniciativa, interesse, curiosidade, capacidade de análise e reflexão, e melhor integração entre os colegas. Para aqueles alunos com maiores dificuldades no aprendizado, o lúdico propicia uma situação favorável ao interesse e, consequentemente, à aprendizagem. [...] Nesse sentido, seria interessante que cada vez mais professores buscassem a criatividade como recurso e a ludicidade como uma ferramenta básica para promover, com sucesso, o processo ensino-aprendizagem (MACCARI, 2009, p. 16). 2. Desenvolvimento O trabalho que realizamos teve uma abordagem metodológica qualitativa, cuja intenção não era testar ou provar algo, mas sim descrever, analisar e refletir sobre a atividade aplicada e a realidade da sala de aula. O bingo foi realizado no início do ano letivo, em 2014, em uma turma de EJA de ensino fundamental de uma escola pública de Cachoeiro de Itapemirim, no turno noturno. A referida atividade foi feita depois de um período de aulas destinadas ao diagnóstico da turma. Nesse período, percebemos, após várias atividades e exercícios matemáticos, que muitos alunos não sabiam a tabuada de multiplicação, conhecimento que é fundamental e elementar para a disciplina. Então, encontramos no bingo, uma forma de trabalhar essa dificuldade e incentivar a aprendizagem desse assunto. Para tanto, relembramos, em aulas expositivas, o conceito da multiplicação para depois, em aula posterior, realizar o bingo, que teria uma premiação. Durante as aulas incentivamos nossos alunos a estudarem a tabuada, não apenas na escola, mesmo sabendo que na realidade de alunos da EJA o tempo para tarefas e estudos fora da escola é bem reduzido. Os procedimentos para o jogo são: Joga-se como um bingo comum. O professor vai tirando de uma sacola as “pedras ”(peças com as operações de multiplicação) e falando em voz alta, por exemplo, “5 vezes 6”. Os alunos realizam o cálculo mental e vão marcando os resultados que houver em sua cartela, que continham os produtos das multiplicações. O professor marca no quadro da sala os resultados sorteados para posterior conferência. O vencedor do jogo é aquele que preencher a cartela primeiro. Notamos que a atividade realizada teve seu objetivo alcançado. Pois, em uma turma onde as faltas dos alunos são constantes, a frequência deles no dia do bingo foi maior, a turma estava quase cheia (cerca de 20 alunos), ou seja, a atividade serviu de incentivo. Além disso, percebemos, por meio de observações em sala, que alguns alunos estavam estudando a tabuada antes do bingo acontecer. Assim, entendemos que eles estavam valorizando a atividade e tentando ter um bom desempenho na mesma. No final do jogo (bingo), observamos que alguns alunos erraram algumas multiplicações, outros tiveram um desempenho melhor e houve apenas um ganhador, que recebeu como prêmio uma caixa de bombons. Durante o bingo, os alunos faziam comentários, denunciaram um aluno que tentava usar calculadora, sorriam com acertos e ficavam tristes com os erros. Pareceu-nos que a aula foi interessante para eles e que gostaram da mesma. A atividade contribuiu para o exercício do cálculo mental, pois para vencer os alunos precisavam preencher a cartela com os números sorteados fazendo a multiplicação mentalmente. Percebemos uma melhora no aspecto disciplinar, pois eles queriam ouvir atentos o sorteio e pediam silêncio aos colegas. Essa experiência também contribuiu para a relação aluno - professor porque no momento do jogo os alunos me consideraram como amiga e não apenas como professora. 3. Considerações finais Com a realização do bingo, notamos que os alunos ficaram alegres, mas ao refletirmos sobre essa atividade, vimos que falhamos em não ter pensando numa forma de verificar, de fato, qual foi a impressão dos alunos diante da atividade. Além disso, como pensamos na aprendizagem como algo contínuo, entendemos que não podemos usar apenas esse recorte de momentos para expor a realidade de alunos na sala de aula. Pois, percebemos em aulas posteriores que alguns alunos ainda estavam com dificuldades com a tabuada de multiplicação. Isso nos fez entender que o trabalho com esse assunto deve ser constante durante o ano para conseguirmos que a aprendizagem seja alcançada. Portanto, concluímos que mesmo o bingo sendo uma atividade relativamente simples, esse teve o seu valor nas aulas de matemática e na aprendizagem dos alunos com os quais trabalhamos. 4. Referências Bibliográficas BRASIL. Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias / Secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 135 p. (Orientações curriculares para o ensino médio; volume 2) (PCNEM). ________. Parâmetros curriculares nacionais: matemática. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC /SEF, 1998. ________. Parecer CNE/ CEB 11/2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/eja/legislacao/parecer_11_2000.pdf>. Acesso em 10 jul. 2014. GUIMARÃES, H. M. A. da C. Ensinar matemática: concepções e práticas. 1988. 290f. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Lisboa, Lisboa. LORENZATO. S. Para aprender matemática. 3ª ed. Campinas: Autores Associados, 2010 (Coleção Formação de Professores). MACCARI, M. Z. Álgebra na sala de aula: produzindo significados aos diversos usos das variáveis e incógnitas. 2009. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/830-4.pdf >. Acesso em 10 jul. 2014. SANTOS, V. M. P. dos (org.). Avaliação de aprendizagem e raciocínio em matemática: métodos alternativos. Rio de Janeiro: UFRJ – Projeto Fundão, 1997. PARECER CNE/CEB 11parece/2000 - HOMOLOGADO