Perfil dos pacientes do ambulatório de clinica médica. Estudo

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ARTIGO ORIGINAL
Rev Bras Clin Med, 2010;8:33-36
Perfil dos pacientes do ambulatório de clinica médica. Estudo
preliminar*
Profile of clinical outpatients. Preliminary study
Maria Paula Rua Rodriguez Rochedo1, Maria Angélica Bello Guedes2
*Recebido do Serviço de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, RJ.
RESUMO
SUMMARY
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O objetivo deste estudo foi avaliar o perfil dos pacientes encaminhados à
área de clínica médica de um hospital terciário da rede
federal.
MÉTODO: Realizou estudo retrospectivo, em que se elaborou um questionário com 40 itens, preenchido a partir de
revisão dos 212 prontuários. Foram computados todos os casos acompanhados por uma residente do serviço no período
de dois anos, de fevereiro de 2007 a janeiro de 2009.
RESULTADOS: As principais queixas que levaram ao
encaminhamento dos pacientes à clínica médica foram:
dor abdominal, queixas cardiológicas e hematológicas As
principais comorbidades identificadas foram: hipertensão
(47%), dislipidemia (21%) e varizes (18%), ultrapassando
a prevalência de diabéticos (13%).
CONCLUSÃO: Observou-se que a maioria dos encaminhamentos era proveniente de outras clínicas do próprio
hospital, oferecendo abertura apenas de 21,3% para outras
unidades de atendimento médico. Esta é apenas uma análise parcial do perfil dos pacientes encaminhados ao ambulatório de clínica médica do hospital, sendo necessária a
participação dos demais médicos desta especialidade para
futura formação de uma base de dados mais fidedigna.
Descritores: ambulatório, estatísticas, perfil dos pacientes.
BACKGROUND AND OBJECTIVES: The main objective of this study was to verify the profile of patients that are
referred to the medical clinic of a tertiary hospital.
METHOD: Retrospective study, using a questionnaire was
made and filled by revision of the 212 charts. The data analyzed are related to the work of one doctor in the period of
two years, from February, 2007 to January, 2009.
RESULTS: The main complains of patients were related to
abdominal pain, cardiological and hematological disorders.
The main diseases identified were hypertension (47%),
dyslipidemia (21%) e varicose veins (18%), exceeding the
prevalence of diabetes (13%).
CONCLUSION: It was observed that most patients have
been referred from the other clinics of the same hospital,
leaving only about 21.3% of its capacity to be referred by
other units. This is only a partial analysis, being necessary
the participation of all the doctors of this sector to a future
and more reliable analysis.
Keywords: Clinic, profiles of patients, statistics.
1. Residente (R3) Serviço de Clínica Médica do Hospital dos Servidores
do Estado do Rio de Janeiro; Título de Especialista em Clínica Médica
2. Preceptora de Serviço de Clínica Médica do Hospital Souza Aguiar;
Preceptora do Ambulatório de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro; Título de Especialista em Clínica
Médica
Apresentado em 18 de dezembro de 2009
Aceito para publicação em 02 de fevereiro de 2010
Endereço para correspondência:
Dra. Maria Paula Rua Rodriguez Rochedo
Rua Domingos Azevedo, 40 – Barra da Tijuca
22793-200 Rio de Janeiro, RJ.
E-mail: [email protected]
© Sociedade Brasileira de Clínica Médica
INTRODUÇÃO
O Hospital dos Servidores do Estado (HSE) é um hospital
da rede pública federal, de alta complexidade, que se situa
na cidade do Rio de Janeiro. O complexo hospitalar HSE
foi inaugurado em 28 de outubro de 1947, e está instalado
em 107.000 m2 de área construída, com 450 leitos de internação e centro cirúrgico com 20 salas em funcionamento. A
Unidade Ambulatorial conta com 186 salas de atendimento,
além de um centro cirúrgico geral e um oftalmológico.
O objetivo deste estudo foi determinar o perfil dos pacientes que são encaminhados ao setor de Clínica Médica para
esta unidade de saúde.
MÉTODO
Estudo retrospectivo, elaborado através de um questionário com 40 itens, incluindo informações pessoais, motivo
e origem do encaminhamento, doenças, hábitos pessoais
e desfecho dos casos, preenchidos a partir de revisão dos
33
Rochedo MPRR, Guedes MAB
212 prontuários. Os dados foram obtidos por um único
médico, no período de dois anos, com uma média de 10
horas semanais de atendimento. Foram organizadas tabelas,
a partir das informações contidas no questionário, de forma
a ser possível efetuar a avaliação percentual do perfil dos pacientes atendidos, das comorbidades referidas e observadas,
bem como o desfecho dos casos.
gia foram responsáveis por 10% cada uma dos encaminhamentos (Gráfico 3).
RESULTADOS
Os pacientes do ambulatório incluíam 72% de mulheres,
destas 48% casadas e 60% do lar; dos homens 60% eram
casados, 52% empregados e 28% aposentados. Esta proporção confirmou a tendência apontada pelo estudo de Lachne e col. 1, que também apresentou 72% dos pacientes
sendo do sexo feminino. Metade dos pacientes era proveniente do Rio de Janeiro, os demais de outros estados do
Brasil, sendo 16% vindos de estados da região nordeste e
2% de Portugal.
A idade média observada entre as mulheres foi de 53
anos e, entre os homens, a idade média foi de 57 anos.
Diferente da amostra citada por Pizzol2, a população estudada não incluiu crianças, incluindo apenas um paciente com idade inferior a 20 anos, e apresentou 60%
de idosos (pacientes com mais de 60 anos de idade). A
idade média, incluindo todos os pacientes foi de 54,5
anos, superior àquela observada no estudo de Moreno
e col.3, que foi de 48,3 anos. A distribuição percentual
do numero de pacientes de acordo com o sexo e a faixa
etária está apresentada no gráfico 1.
Gráfico 2 – Origem do encaminhamento
Gráfico 3 – Clínica de origem dos encaminhamentos
ORL = Otorrinolaringologia
O motivo principal do encaminhamento foi dor abdominal, seguido por queixas cardiológicas, sendo a principal a
hipertensão arterial. A terceira queixa mais frequente foi
hematológica, sendo representada principalmente pelas
anemias, a quarta queixa mais frequente foi osteoarticular e
quinta foram solicitações de consulta de rotina (Gráfico 4).
Estes resultados também são semelhantes àqueles observados por Lachne e col. 1.
Gráfico 1 – Distribuição percentual dos pacientes por faixa etária
Cerca de 20% dos pacientes nunca estudou, a grande maioria de homens e mulheres cursou o ensino fundamental,
sendo que metade destes não o completou. Apenas cinco
pacientes tiveram acesso ao ensino superior, e destes, apenas três o completaram.
Oitenta e dois por cento dos pacientes analisados eram
de primeira consulta, sendo 78,7% destes encaminhados
à clínica médica por outras clínicas do próprio hospital e
19,7% foram encaminhados de outro hospital ou posto de
saúde (Gráfico 2). A clínica que mais encaminhou à clínica
médica foi a Cardiologia (17%), Neurologia e Dermatolo34
Gráfico 4 – Queixas principais dos encaminhamentos à clínica
médica
Perfil dos pacientes do ambulatório de clinica médica. Estudo preliminar
O número médio de consultas por paciente foi de 2,2,
sendo que 35% tiveram apenas uma consulta e os demais
65% compareceram a mais de uma consulta, sendo que o
numero de consultas por paciente foi de 1 a 7 no período
de avaliação.
A comorbidade mais apresentada pelos pacientes foi hipertensão arterial sistêmica (HAS), seguida por dislipidemia,
varizes, diabetes e obesidade (Gráfico 5), sem que estas sejam implicadas no motivo principal do acompanhamento.
Cerca de 14% dos pacientes fumam, destes, 9% mulheres,
e cerca de 36% são ex-fumantes. 39% dos pacientes declararam ser etilistas.
retornaram para consulta, 19% não retornaram, interrompendo o diagnóstico/tratamento; 13% receberam alta sem
necessidade de seguimento por outra clínica ou unidade e
65% foram encaminhados para outras áreas ou postos de
saúde (Gráfico 7).
Gráfico 7 – Encaminhamentos efetuados pela Clínica Médica
Gráfico 5 – Comorbidades mais frequentes
HAS = hipertensão arterial sistêmica; DAC = doença arterial coronariana, ICC = isquemia congestiva cardíaca; IRC = insuficiência renal crônica; DPOC = doença pulmonar obstrutiva crônica.
As associações entre diferentes comorbidades nos mesmos pacientes observadas estão apresentadas no gráfico
6, sendo as principais associações hipertensão arterial
sistêmica (HAS) com dislipidemia, observada em 31%
dos casos de HAS, e com diabetes, observada em 29%
dos casos de HAS.
Foram detectados dois casos de câncer em pacientes do sexo
masculino.
Dos 42 pacientes que não retornaram para finalizar o tratamento, cerca de 20% do total de pacientes atendidos, 86%
eram mulheres (24% do total de mulheres) e 14% eram
homens (10% do total de homens); este resultado é um
pouco superior ao valor de 15,8% de pacientes que não
retornaram, observados por Lehmann e col.4 na Suiça.
Dos seis pacientes do sexo masculino que não retornaram
para continuidade de tratamento, apenas um havia sido encaminhado por outra clínica. Apenas dois não retornaram
após a primeira consulta; os demais mantiveram continuidade por 2 a 4 consultas, sendo 3 deles encaminhados para
outras áreas clínicas. As principais queixas tinham origem
hematológica e apenas um havia procurado a clínica para
exames de rotina.
Entre as mulheres, oito pacientes haviam sido encaminhadas por outra clínica. Aquelas não encaminhadas por outras
clinicas (28) tinham como principal queixa dor abdominal,
cefaleia, queriam realizar exames de rotina ou perder peso.
Das 36 mulheres que não retornaram; 17 não chegaram a
ser encaminhadas para outra clínica; 21 das mulheres que
abandonaram o tratamento compareceram a apenas a uma
consulta, sendo que nove delas haviam sido encaminhadas
para outra área clínica. As demais compareceram a 2 a 4
consultas, sendo que 10 delas chegaram a ser encaminhadas
para outra clínica.
Gráfico 6 – Associações entre diferentes comorbidades
CONCLUSÃO
As principais áreas de encaminhamentos efetuados pela
Clínica Médica foram: Cardiologia (20%), Ortopedia
(14%) e Oftalmologia (13%). Apenas 49% dos pacientes
Esta é apenas uma análise parcial, efetuada com os pacientes
atendidos por uma única médica na área de clínica do hospital, sendo necessária a participação dos demais médicos do se35
Rochedo MPRR, Guedes MAB
tor para formação de um banco de dados mais fidedigno, mas
que mostrou um perfil interessante do atendimento em um
hospital publico federal terciário na cidade do Rio de Janeiro.
No presente estudo observou-se que a maioria dos encaminhamentos era proveniente de outras clínicas do próprio
hospital, oferecendo abertura apenas de 21,3% para outras
unidades de atendimento médico. Outro dado interessante
é o abandono dos pacientes, tendo sido observado que 20%
deles não retornaram para dar continuidade ao tratamento.
O numero médio de consultas por paciente foi de 2,2, variando de 1 a 7 consultas por paciente.
Observou-se maior prevalência no atendimento às mulheres (72%) em relação aos homens (28%), sendo que destes, 10% não deram continuidade ao acompanhamento, e
os dois casos de câncer identificados, em estágio já avançado foram em pacientes do sexo masculino, confirmando
a preocupação do ministério da saúde em estabelecer uma
política nacional de atenção integral a saúde do homem6.
36
REFERÊNCIAS
1. Lachne M, Azambuja MB, Almeida MS, et al. Perfil dos pacientes no ambulatório de Clínica Médica. Rev Med Hosp
São Vicente de Paulo, 1999;11:27-29.
2. Pizzol JL. Estatísticas do ambulatório de Dermatologia da
Policlínica da Polícia Militar do Espírito Santo (1980). An
Bras Dermatol, 1983;58:85-90.
3. Moreno AC, Mateos L, Larrégola, MM, et al. �����������
Socio-demographic profile of out-patient clinic first assessment, Eur Psychiatry J, 2009;24:(Suppl1):S943.
4. Lehmann TN, Aebi A, Lehmann D, et al. Missed appointments at a Swiss university outpatient clinic. Public Health,
2007;121:790-799.
5. Pellicer CC. Changes
��������������������������������������������������
in patient profiles at a regional respiratory medicine clinic over a 10-year period. ���������������
Arch Bronconeumol, 2006;42:516-521.
6. Ministério da Saúde; Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde do Homem, Brasília agosto de 2008.
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