FuNDAMENTOS DA INSTRuMENTAçãO MANuAL PARTE

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parte
1
Fundamentos da instrumentação manual
Capítulo 1
Etapas operatórias do tratamento do sistema de canais radiculares
Mario Roberto Leonardo
Capítulo 2
Preparo biomecânico dos canais radiculares. Definição, conceituação, importância
e finalidades. Recursos convencionais para sua aplicação: meios químicos (soluções
irrigadoras) e meios físicos (irrigação, sucção e inundação)
Mario Roberto Leonardo | Juliane Maria Guerreiro Tanomaru
Capítulo 3
Preparo biomecânico dos canais radiculares. Meios mecânicos: instrumentos
(instrumentação clássica ou convencional)
Mario Roberto Leonardo
Capítulo 4
Desgaste ou limagem anticurvatura no preparo de canais radiculares curvos
de molares
Mario Roberto Leonardo
Capítulo 5
Conceito Buchanan: Lima patência
Mario Roberto Leonardo
Capítulo 6
Detoxificação (neutralização) do conteúdo séptico/tóxico (endotoxinas) no tratamento
de canais radiculares de dentes com necrose pulpar e nítida lesão periapical
(necropulpectomia II)
Mario Roberto Leonardo | Léa Assed Bezerra da Silva
Capítulo 7
Desbridamento foraminal / Instrumento Apical Foraminal (IAF): conceituação e
importância clínica
Mario Roberto Leonardo | Renato de Toledo Leonardo
Capítulo 8
Localizadores eletrônicos foraminais
Carlos Alberto Spironelli Ramos | Clovis Monteiro Bramante
capítulo 1
Etapas operatórias do tratamento
do sistema de canais radiculares
Mario Roberto Leonardo
Sumário
Etapas operatórias do tratamento do sistema de canais radiculares | 16
Biossegurança: controle da infecção em endodontia (assepsia e antissepsia) | 17
Abertura coronária (cirurgia de acesso) | 18
Remoção da polpa radicular | 18
Neutralização do conteúdo séptico/tóxico do canal radicular, no sentido coroa/ápice
sem pressão | 18
Preparo biomecânico dos canais radiculares | 18
Medicação tópica entre sessões: “curativo de demora” | 18
Obturação do canal radicular | 19
Proservação | 20
Considerações finais | 20
A
simplificação da endodontia, com base na evolução tecnológica e, principalmente,
nas exigências biológicas que regem o tratamento de canais radiculares, constitui a
preocupação atual tanto dos pesquisadores, como dos clínicos que se dedicam a tão
importante ramo da odontologia (Fig. 1.1).
Assim sendo, as frases citadas a seguir constituem os princípios que orientam nossa
conduta clínica, diante dos diversos passos do tratamento de canais radiculares.
“Como na cirurgia geral, também na endodontia as influências maléficas dos antissépticos fortes fizeram com que a assepsia tomasse o lugar de importância da
antissepsia.”1
Leonardo & Leonardo
“O respeito à região apical e periapical, nos casos
de biopulpectomia, considerando-se somente o
canal dentinário como o campo de ação do endodontista.”2
“O tratamento endodôntico não é apenas um problema de natureza técnica, mas sim, e principalmente, de natureza biológica.”2
Para que se tenha uma opinião global da aplicação
desses princípios em face das várias etapas do tratamento endodôntico, neste capítulo serão feitas considerações
gerais para cada uma delas.
“Somente as células vivas podem efetuar a reparação, portanto, o êxito da cura do coto pulpar depende da preservação de sua vitalidade.”3
Etapas operatórias do tratamento
do sistema de canais radiculares
“A preservação da vitalidade do coto pulpar, durante a realização de uma biopulpectomia, está diretamente relacionada aos predicados técnicos do
profissional.”2
“A preservação da vitalidade do coto pulpar, durante o tratamento de canal radicular dos dentes com
vitalidade pulpar, utilizando-se soluções irrigadoras, medicamentos tópicos ou mesmo uma substância obturadora, inócuos àquele tecido, constitui
a chave do sucesso na reparação do tecido inflamado apical e periapical.”4
16
“O tratamento endodôntico termina quando a região periapical neutraliza o transtorno produzido
pelo tratamento ou repara uma lesão preexistente.”7
“A região periapical é o centro nervoso, vascular
e linfático de todo o periodonto. Irritada aquela
região, quer química, mecânica ou bacteriologicamente, teremos um reflexo em toda a estrutura
periodontal.”5
“O emprego de desinfetantes fortes foi vencido
pela utilização de uma técnica em que a assepsia
constitui uma das bases mais importantes.”1
“O advento de novos medicamentos ofereceu ao
odontólogo novos horizontes para solucionar seus
problemas, principalmente no que se refere ao
combate à infecção, à inflamação e à dor.”6
“O emprego de uma substância ou solução irrigadora que pelo preparo biomecânico possa nos oferecer as melhores condições bacteriológicas para
a obturação do canal radicular de um dente despulpado e infectado, em sessão única, ainda não
existe.”2
Figura 1.1 Fases do tratamento de canal
radicular, fundamentadas em princípios
técnicos e principalmente biológicos.
Os dentes, com relação à polpa, apresentam-se para
o tratamento do sistema de canais radiculares sob dois
aspectos:
a. com vitalidade pulpar;
b. sem vitalidade pulpar.
O tratamento de canais radiculares na primeira alternativa é denominado por nós, didaticamente, por biopulpectomia, e a segunda, ou seja, nos casos de tratamentos
de dentes despulpados e/ou infectados, designamos por
necropulpectomia.
Biopulpectomia
Classificamos como biopulpectomia o tratamento de
canais radiculares de um dente com vitalidade pulpar, o
qual é caracterizado por apresentar uma polpa macroscopicamente vital, ou seja:
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
com estrutura (corpo);
resistente ao corte;
com hemorragia suave;
com sangue de coloração vermelho-rutilante.
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
Pulpites agudas irreversíveis.
Exposições patológicas da polpa.
Exposições acidentais da polpa (operatórias).
Fraturas coronárias com exposição pulpar (acidentais).
Reabsorções internas.
Tratamento endodôntico por finalidade protética ou
cirúrgica.
Necropulpectomia (conceituação)
Existem diferenças fundamentais entre os casos de
tratamento de dentes despulpados com e sem lesão periapical evidenciável radiograficamente. Considerando-se
que essas diferenças exigem uma orientação terapêutica
específica para cada caso, não somente com relação às
soluções irrigadoras e à medicação tópica, mas também
com relação ao material obturador e ao limite apical de
obturação, didaticamente classificamos as necropulpectomias em:
Necropulpectomia I
Denominação didática para o tratamento de canais
radiculares de dentes com necrose pulpar, sem lesão periapical detectada radiograficamente. Assim, os seguintes
casos clínico-radiográficos podem ser classificados nesse grupo:
ƒƒ Necroses pulpares.
ƒƒ Gangrenas pulpares.
ƒƒ Periodontites apicais agudas de origem bacteriana
que requerem tratamento endodôntico radical.
ƒƒ Abscessos dentoalveolares agudos, levados à cronicidade.
Necropulpectomia II
Denominação didática para designar o tratamento do
sistema de canais radiculares de dentes com necrose pulpar e nítida lesão periapical visível radiograficamente. Assim, os seguintes casos clínico-radiográficos podem ser
classificados nesse grupo:
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
ƒƒ
Abscessos dentoalveolares crônicos.
Granulomas periapicais.
Cistos apicais (radiográficos).
Abscessos Fênix (Flare-up), levados à cronicidade.
Reintervenção ou retratamento de canais radiculares
de dentes com lesão periapical crônica
O tratamento de canal radicular deve ser encarado
como uma sucessão de atos operatórios, uma verdadeira
corrente, em que o desprezo de um de seus elos poderá
levar esse tratamento ao fracasso.
Esses atos operatórios, denominados por nós etapas
operatórias do tratamento de canais radiculares, são, didaticamente, os seguintes:
1. Biossegurança: controle da infecção em endodontia
(assepsia e antissepsia).
2. Abertura coronária (cirurgia de acesso).
3. Remoção da polpa radicular (biopulpectomias).
4. “Neutralização” do conteúdo séptico/tóxico do canal
radicular no sentido coroa/ápice sem pressão (necropulpectomias).
5. Preparo biomecânico dos canais radiculares.
6. Medicação tópica entre sessões “curativo de demora”
(quando indicado).
7. Obturação do canal radicular.
8. Proservação (Follow-up).
Tratamento de canais radiculares
Assim, os seguintes casos poderão ser classificados
nesse grupo:
Biossegurança: controle da infecção em
endodontia (assepsia e antissepsia)
A assepsia e antissepsia é um conjunto de procedimentos que visa destruir os microrganismos de nosso
campo operatório, como também, e principalmente, tem
por objetivo impedir que levemos germes, inadvertidamente, a um local que não os contenha.
Esse princípio assume um papel relevante na endodontia atual, não só por razões locais, inerentes ao próprio tratamento, como também no aspecto geral, uma
vez que a insignificância de 0,0001 mL de sangue contaminado com vírus de hepatite sérica, permanecendo no
instrumental endodôntico, poderá transformá-lo em um
veículo de transmissão dessa infecção virótica entre nossos pacientes.
Embora menos contagioso que a hepatite B, o vírus
da Aids/Sida, o chamado HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), é transmitido também pela inoculação.
Considerando-se que o cirurgião-dentista não tem como
identificar se o paciente em atendimento é ou não portador do vírus HIV, é importante que todos os cuidados
sejam tomados para evitar que o vírus seja contraído no
consultório, ou que o profissional seja um veículo de sua
transmissão. Assim, as recomendações aceitas hoje para
os cuidados com o manejo de pacientes infectados com
o HIV são semelhantes àquelas recomendadas para a infecção pelo vírus da hepatite B.
Quanto aos aspectos locais inerentes, portanto, ao
próprio tratamento, sabemos que, nos casos de biopulpectomia, não existem microrganismos no interior do canal radicular a serem combatidos, de acordo com os achados histopatológicos e microbiológicos. Nesses casos, o
canal radicular é estéril. Assim sendo, não se justificam o
emprego de substâncias bactericidas como soluções irrigadoras, as quais, além de desnecessárias, destruiriam
o coto pulpar que, como sabemos, é o responsável pela
mineralização do tecido localizado no forame apical. Também toda substância bactericida, além de destruir os microrganismos, destrói também as células vivas.
17
Leonardo & Leonardo
Esse fato, de não se empregar substâncias bactericidas no interior do canal radicular nos casos de biopulpectomia, faz que todo esforço deva ser feito para
evitarmos uma contaminação do nosso campo de ação,
assumindo assim a assepsia um papel fundamental nesse tratamento.
Assim, a esterilização e desinfecção do instrumental e
do material endodônticos, em autoclave ou forno, a atomização da cavidade bucal com soluções antissépticas,
o preparo do dente para receber o isolamento absoluto
durante o tratamento e a antissepsia do campo operatório
constituem princípios fundamentais para se atingir o sucesso nas biopulpectomias.
Da mesma forma, esses princípios assumem grande
importância também nas necropulpectomias, pois não
somos responsáveis pelos microrganismos que determinaram a lesão, mas sim altamente responsáveis e
culpados pelos germes que, inadvertidamente, possamos levar ao nosso campo operatório.
Essa etapa operatória assumiu hoje fundamental
importância não só com relação ao próprio tratamento,
mas também no aspecto de saúde geral dos nossos pacientes.
Abertura coronária (cirurgia de acesso)
18
A abertura coronária é o ato operatório com o qual
abrimos a câmara pulpar, obtendo-se, assim, um acesso
direto à entrada dos canais radiculares. Nessa etapa, devemos relembrar a importância do conhecimento preciso
da morfologia interna da câmara pulpar, uma vez que a
abertura coronária nada mais é do que a projeção mecânica da anatomia interna do dente sobre a sua superfície.
É também de extrema importância o conhecimento dos
princípios fundamentais que regem esse ato operatório.
Uma abertura coronária realizada de acordo com os
princípios atuais deverá incluir o desgaste compensatório, que, nos dentes anteriores superiores, é representado
pela remoção do “ombro palatino”, ao passo que, nos molares, é representado pela remoção da convexidade das
paredes da câmara pulpar, principalmente das mesiais;
além disso, deverá incluir a “forma de conveniência”.
Remoção da polpa radicular
No tratamento de canal radicular de dentes com vitalidade pulpar, chamado “biopulpectomia”, após a abertura coronária, a realização do desgaste compensatório, a
formação de conveniência, a exploração e/ou cateterismo
dos canais radiculares, e após a obtenção do comprimento real de trabalho por meio da odontometria, segue-se a
remoção da polpa radicular. Em casos de canais radiculares amplos e/ou relativamente amplos e retos, essa remoção é feita por exerese, empregando-se uma lima tipo
Hedströen de diâmetro imediatamente anterior à lima tipo
K usada na exploração. Em casos de canais radiculares
atresiados, retos e/ou curvos, a remoção da polpa se faz
por fragmentação, pela própria instrumentação manual
ou por meio de instrumentos de níquel/titânio acionados
a motor, levados até o comprimento real de trabalho, obtido por meio de localizadores eletrônicos foraminais da
terceira geração.
Neutralização do conteúdo séptico/
tóxico do canal radicular, no sentido
coroa/ápice sem pressão
No tratamento de canal radicular de dentes com necrose pulpar – principalmente se apresentarem nítida lesão
periapical crônica e evidenciável radiograficamente –, a
neutralização prévia do conteúdo séptico/tóxico do espaço
endodôntico antes da realização do preparo biomecânico
é de fundamental importância para evitar possíveis alterações no aspecto sistêmico, principalmente em pacientes
com problemas cardiovasculares. Outro aspecto a evitar
são os acidentes infecciosos pós-operatórios, conse­quên­
cia da exacerbação de processos crônicos periapicais.
As técnicas que empregam o princípio coroa-ápice
sem pressão ("crown-down pressureless technique") têm
a nossa preferência. Os sistemas que empregam limas
de níquel-titânio com “Radial Land” acionadas a motor,
como Profile (Dentsply/Maillefer), K3 ENDO (SybronEndo) e RaCe (FKG e SMD), promovem a neutralização com
muita segurança e rapidez. A irrigação com soluções concentradas de hipoclorito de sódio a 5,25% é de grande
importância para essa neutralização.
Preparo biomecânico dos
canais radiculares
O preparo biomecânico consiste em procurar obter
um acesso direto ao limite CDC através da câmara pulpar
e do canal dentinário, preparando os canais radiculares
para perfeita desinfecção e simples obturação, o que resulta no sucesso do tratamento.
Essa etapa é realizada empregando-se diferentes métodos de instrumentação, como:
ƒƒ Métodos clássicos (convencionais)
ƒƒ Métodos não convencionais:
a.Métodos que aplicam o princípio coroa/ápice sem
pressão.
b. Métodos que incluem instrumentos rotatórios.
c. Métodos com instrumentação ultrassônica.
d. Métodos com instrumentação oscilatória e recíproca.
Medicação tópica entre sessões:
“curativo de demora”
Esse passo do tratamento endodôntico consiste em
tornar o sistema de canais radiculares um local inapropriado para desenvolvimento e proliferação bacteriana, destruindo ou inibindo os microrganismos que escaparam à
ação do preparo biomecânico. Pela própria definição,
Hidróxido de cálcio .............................................. 2,5 g
Óxido de zinco p.a ............................................... 0,5 g
Colofônia ............................................................ 0,05 g
Polietilenoglicol 400 ........................................ 1,75 mL
p-monoclorofenol canforado (2,5:7,5) ............ 0,15 mL
Observação: nessa fórmula, o p-monoclorofenol canforado não pode ser considerado veículo do hidróxido de
cálcio, uma vez que aquele antisséptico representa apenas 3% da formulação. Nessa fórmula, o veículo é o polietileno glicol 400.
Obturação do canal radicular
A obturação do canal radicular consiste na substituição do conteúdo da cavidade pulpar por substâncias
que, além de permitirem um selamento o mais hermético
possível, deverão ser inertes ou antissépticas, bem toleradas pelo organismo e que, de preferência, estimulem a
reparação apical e periapical.
Essa etapa operatória, apesar de ser considerada ainda um campo aberto para melhorias,18 constitui o fecho
de segurança de um tratamento endodôntico bem realizado e conduzido.
O canal radicular, bem obturado, representa um
reflexo dos predicados técnicos do profissional e,
* Calen com PMCC. S. S. White Artigos Dentários Ltda. Rio de Janeiro, RJ.
** Dentsply/DeTrey – Suíça.
*** Dentsply/Maillefer – Suíça.
**** Ultradent Products, Inc. – Estados Unidos.
***** Dentsply Ind. e Com. Ltda. – Petrópolis, RJ, Brasil.
****** S.S.White Artigos Dentários Ltda. – Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
consequentemente, a comprovação do sucesso obtido
em todos os atos operatórios anteriores a essa etapa
operatória.
Para a obturação do canal radicular, de acordo com
os aspectos técnicos e biológicos, são recomendadas as
seguintes opções:
1. Técnica clássica com emprego de cimentos, complementada com condensação lateral ativa de cones de
guta-percha auxiliares.
Essa técnica é indicada, sempre que possível, nos
casos de biopulpectomias e, principalmente, no tratamento de canais radiculares de dentes com lesão periapical crônica (necropulpectomia II).
2. Técnica biológica controlada, complementada com
condensação lateral ativa de cones de guta-percha
auxiliares.
Nessa técnica, a guta-percha limita a obturação ao nível apical e é indicada para canais radiculares amplos
e retos, e quando o “batente apical” foi dilatado pelo
menos até o instrumento nº 35.
3. Técnica com emprego de cimentos à base de resina
epóxica (AH Plus** e ou Top Seal***) e/ou à base de
resina plástica (Endo-Rez).****
Essa técnica é biologicamente indicada sempre que
houver condições técnicas de emprego quer em biopulpectomias, quer em necropulpectomias.
4. Técnica de condensação lateral ativa com emprego de
cimentos à base de óxido de zinco e eugenol, como o
Endofill***** e o Intrafill.******
Essa técnica é indicada como segunda opção, pois
deve ser indicada apenas em casos de tratamentos
endodônticos, onde seja possível controlar o limite
apical de obturação, não havendo riscos de extravasamento do material obturador para a região periapical.
5. Técnica do cone único, oferecida pelos sistemas rotátórios
6. Técnica de termoplastificação de guta-percha
Essa técnica, associada a um cimento obturador, é
indicada quando não há possibilidade de extravasamentos.
Proservação
O controle clínico e radiográfico pós-tratamento têm
recebido, entre nós, as mais diversas denominações, inclusive a expressão inglesa follow up. Preferimos, também
na endodontia, o termo proservação (pro = adiante; servação = observação) criado por Roxo Nobre,19 que substituiu, com muita propriedade, as demais expressões.
Tratamento de canais radiculares
podemos concluir que essa fase é peculiar às necropulpectomias II e vem completar o combate aos microrganismos sediados na luz do canal radicular, e, principalmente,
nas suas ramificações, nas reabsorções apicais (infecção
extrarradicular) no biofilme bacteriano apical, iniciado
pela ação do preparo biomecânico.
Assim, podemos concluir que a desinfecção ou a descontaminação do sistema de canais radiculares nos casos de necropulpectomias II será obtida pela aplicação
conjunta do “preparo biomecânico” e do “curativo de demora”.
Com o aprimoramento de técnicas para a colheita de
microrganismos anaeróbios obrigatórios do canal radicular, vários trabalhos demonstraram a grande incidência
desses germes, principalmente em dentes com lesão periapical crônica.8-17
Considerando que o p-monoclorofenol canforado é relativamente eficaz contra os anaeróbios, porém altamente
ativo sobre os aeróbios mais resistentes ao tratamento,
ao passo que o hidróxido de cálcio é pouco eficaz sobre
os aeróbios estritos, mas acentuadamente ativo sobre os
anaeróbios Gram-negativos, recomendamos, como curativo de demora nas necropulpectomias II, a associação
de ambos.*
19
Leonardo & Leonardo
“Podemos dizer que o tratamento endodôntico termina quando a região periapical neutraliza o transtorno produzido por esse tratamento ou quando repara uma lesão
preexistente.”7
Assim, é dever do profissional realizar um controle clínico e radiográfico (proservação) após o tratamento endodôntico para não só avaliar o sucesso ou o fracasso,
mas principalmente para aquilatar a eficiência da técnica
empregada.
Será que essa técnica estará oferecendo ao profissional uma elevada porcentagem de sucesso?
Essa resposta será oferecida ao profissional aplicando-se essa última etapa do tratamento, a proservação.
De acordo com a maioria dos autores, a proservação
deverá ser realizada por um período mínimo de seis meses para os casos de biopulpectomias e de um a dois
anos após as necropulpectomias I e em até quatro anos
após as necropulpectomias II.
Considerações finais
A nosso ver, o sucesso do tratamento endodôntico representa, afora os fatores sistêmicos, a somatória da correta execução de todas as intervenções endodônticas, razão pela qual enquadramos todas as etapas operatórias
anteriormente citadas em um mesmo plano de igualdade
quanto à importância, considerando-as interdependentes
e fundamentais para a obtenção desse sucesso.
ƒƒ Referências
20
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1955.
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University Odontologick; 1976. p. 1-94.
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