Estudo experimental do lançamento de projéteis com um jato de água R.S. Bárbara1, N. Dyskin2, A.M. Araújo2, A.A. Soares3,4, M. Duarte Naia3,4,5 1Escola Secundária de Fafe, Avenida da Liberdade, 4820-118 Fafe 2Colégio Campo de Flores , 2829-514 Vila Nova da Caparica 3Departamento de Física - ECT/UTAD, Apartado 1013, 5001-801 Vila Real 4CITAB/UTAD, Quinta de Prados, Apartado 1013, 5001-801 Vila Real 5CEMUC®, Dep. Eng. Mecânica - Pinhal de Marrocos, 3030-788 Coimbra [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] RESUMO A utilização de modelos físicos para análise de situações experimentais permite aprofundar o conhecimento da física envolvida, mas exige também o domínio das restrições impostas pela montagem experimental. Neste trabalho apresentam-se os resultados obtidos para o estudo experimental, do ponto de vista didático, do lançamento de projéteis com recurso a um jato de água. A velocidade inicial do lançamento é controlada a partir do caudal do jato. Os dados experimentais, para as variáveis estudadas, são comparados com os resultados previstos com modelos físicos aplicáveis às situações criadas. Os modelos experimentais obtidos para as leis do movimento de projéteis são comparados com alguns modelos teóricos. A comparação é feita com recurso à ferramenta informática Modellus. O trabalho foi desenvolvido com a participação ativa de alunos do ensino secundário no âmbito do programa Ocupação Cientifica no Verão proposto pela Ciência Viva. TRABALHO EXPERIMENTAL Montagem experimental consiste num dispositivo que permite o lançamento de um jato de água, com controlo do ângulo e do caudal, Fig.1. Estabilizado a jato de água são medidas as coordenadas (x,y) em diferentes posições da trajetória seguida pelo jato de água. Valores obtidos do ajuste Ângulo de lançamento Aceleração gravidade (m/s2) Fig 1. Montagem experimental: lançamento oblíquo. ANÁLISE DE DADOS Da observação da trajetória do jato de água para os diferentes ângulos de lançamento foram levantadas duas questão às quais se procurou dar resposta: (1) Porque razão a distância medida na vertical entre os pontos (x,y) sobre a trajetória da água e os pontos sobre a reta que define a direção da velocidade inicial se mantém igual para os diferentes ângulos de lançamento?; (2) Existe alguma relação entre o espaço percorrido pela água para os diferentes ângulos no mesmo intervalo de tempo? x Fig 2. Jato de água com representação das distância x e d. A resposta à primeira questão pode ser dada com base na fig. 2. Verificou-se que a distancia d para cada uma das barras verticais é independente do ângulo de lançamento. Este comportamento pode ser explicado se pensarmos que a distância x é a distância percorrida, num dado intervalo de tempo, pelo projéctil na ausência de gravidade e portanto independente do ângulo de lançamento. Assim, na presença de gravidade, durante o mesmo intervalo de tempo o jato de água sofre sempre o mesmo deslocamento d na vertical, d = 1 gt 2. 2 10 Y =− 15º 30º g 2 X + X tan α 2 2 2 v0 cos α 0º 15º 30º -0,33º 14,98º 30,85º Ângulo de lançamento -0,33 14,98 30,85 10,20 10,05 Vel. inicial (m/s) 1,91 1,90 1,87 10,27 Tab 2. Valores obtidos do ajuste experimental por comparação com o modelo teórico. g = 9,802 m/s2 A diferença entre as velocidades iniciais poderá dever-se ao facto de o fluxo da água na canalização, durante a realização da experiência, não permanecer estável. Na determinação da velocidade inicial e da aceleração da gravidade foram usados os valores experimentais obtidos para os respetivos ângulos de lançamento. Para responder à segunda questão, calcularam-se os espaços percorridos por um projétil ao fim de 1 s em função do ângulo de lançamento para as velocidades iniciais de 2, 4 e 8 m/s. Uma vez que os alunos ainda não conhecem o cálculo integral, os percursos foram calculados numericamente com recurso à folha de cálculo Excel. Para este fim usou-se o modelo teórico da trajetória de um projétil e dividiu-se o tempo (1s) em 600 intervalos iguais, de seguida determinaram-se as posições (x,y) ao fim de cada um desses intervalos de tempo. A partir das posições (x,y) calculouse a distância percorrida em cada intervalo de tempo. O espaço percorrido em 1s é a soma das distâncias percorridas em cada intervalo de tempo. vo = 2 m/s 14 vo = 4 m/s vo = 8 m/s 12 10 8 6 4 2 0 -90 -60 -30 0 30 60 90 ângulo (º) Fig4. Espaço percorrido pelo projétil ao fim de 1 segundo em função do ângulo de lançamento para as velocidades iniciais de 2,4 e 8 m/s. Da análise da fig. 4 não foi possível chegar a uma relação entre os espaços percorridos que permitisse responder à questão (2). 2 R = 0,999 0 0 20 40 Y/cm) -10 Fig 3. Ajuste quadrático da trajectória do jato de água para três ângulos de lançamento α = 0, 15 e 30. ângulos SIMULAÇÃO 2 y = -0,0183x + 0,5667x Modelo teórico da trajectória de um projéctil na ausência de resistência do ar e de movimento de rotação da Terra: 0º Valores obtidos do ajuste Tab 1. Valores obtidos do ajuste experimental por comparação com o modelo teórico. v = 1,95 m/s Fig 2. Fluxómetro. d ângulos S (m)YY A montagem experimental tem incorporada um fluxómetro (fig. 2) que permite fixar a velocidade inicial regulando o caudal. Neste estudo escolheu-se um caudal de 800 ± 10 cm3/min através de um bico com diâmetro de 2,95 ± 0,05 mm o que corresponde à velocidade inicial de 1,95 ± 0,09 m/s. Nestas condições foram feitas as leituras das coordenadas (x,y), ao longo da trajectória seguida pelo jato de água, para vários ângulos de lançamento. Ao conjunto de pontos experimentais (x,y) foi ajustada uma curva quadrática no Excel (Fig.3). Os coeficientes quadrático e linear foram depois comparados com o modelo teórico para retirar os valores da velocidade inicial, da aceleração da gravidade e do ângulo de lançamento representados nas tabelas 1 e 2. 60 α = 30 -20 2 y = -0,0141x + 0,2557x 2 y = -0,0134x - 0,0054x -30 2 R = 0,9997 2 R = 0,9999 α = 15 -40 -50 α= 0 X /cm A simulação do lançamento de projéteis com o Modellus permitiu a visualização dos modelos teóricos e a comparação com os resultados observados experimentalmente através do controlo das variáveis que foram estudadas na experiência. Fig 5. Exemplo de uma simulação do lançamento de projéteis com o Modellus. CONCLUSÕES - Foi usado um jato de água para estudar o lançamento de projéteis. A visualização da trajetória em tempo real em função do ângulo de lançamento e da velocidade inicial permite uma abordagem diferenciada deste problema relativamente à abordagens frequentemente apresentadas nos manuais escolares; - Os valores experimentais obtidos para a aceleração da gravidade, velocidade inicial e ângulo de lançamento apresentam desvios menores do que 5% relativamente aos valores esperados. -Da comparação dos resultados experimentais com as simulações infere-se que os efeitos da resistência do ar no movimentos do jato de água não são significativos para as velocidades adquiridas nas condições em que foram realizadas as experiências. Contudo, o modelo experimental da trajetória do jato de água sugere um caudal (velocidade inicial) menor do que o valor lido.