IX SIMPÓSIO DE ESPECIALISTAS EM PLANEJAMENTO DA OPERAÇÃO E EXPANSÃO ELÉTRICA 2 IX SYMPOSIUM OF SPECIALISTS IN ELECTRIC OPERATIONAL AND EXPANSION PLANNING IX SEPOPE SP–138 23 a 27 de maio de 2004 th rd May, 23 to 27 – 2004 Rio de Janeiro (RJ) – Brasil Identificação do Sistema de Origem das Variações de Tensão de Curta Duração Utilizando a Teoria de Área de Vulnerabilidade Através de Simulação Digital Ricardo José Correia da Silva1*, Manoel Afonso de Carvalho1, Antonio Samuel Neto 1, Silvana Cavalcanti de Melo 1, José Júlio Leitão 2 1 Departamento de Engenharia Elétrica e Sistemas de Potência, Universidade Federal de Pernambuco 2 Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF Recife, PE Brazil artigo promove os resultados suprimento dos consumidores. Principalmente Resumo - Este proveniente do projeto realizado entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), ao qual teve como objetivo usar a teoria sobre Área de Vulnerabilidade, para a identificação do sistema em que ocorreu um curto-circuito, originando assim uma Variação de Tensão de Curta Duração (VTCD). A idéia principal consiste em utilizar um programa computacional para gerar um banco de dados que forneça a informação sobre qual provável região se localiza o curto para um determinado nível de tensão de curto-circuito. PALAVRAS-CHAVE Área de Vulnerabilidade, variação de tensão de curta duração, qualidade de energia elétrica. 1. INTRODUÇÃO Com o grande avanço da eletrônica de potência nos últimos anos, a concepção das cargas utilizadas começaram a ter um novo enfoque. Através dos microprocessadores, conversores, fonte chaveadas, dimmers, reatores eletrônicos, dentre outros; as cargas atuais se apresentam de forma mais sensível as VTCD, resultado em sua maioria, por um curtocircuito terminal ou remoto. Portanto o enfoque na Qualidade de Energia Elétrica (QEE) torna-se um importante fator com relação ao *UFPE – CTG – DEESP-LDSP Av. Acadêmico Hélio Ramos, s/n – Cidade Universitária CEP: 50740-530 – Recife – PE – Telefone/Fax: (81) 3271.8739 no que se trata aos prejuízos econômicos. Nesse sentido, diversos são os estudos com o objetivo de identificar prováveis processos de melhora da QEE, tanto por parte de transmissão, como no ponto de consumo. Porém no que se diz respeito ao conhecimento sobre a propagação das Variações de Tensão de Curta Duração ao longo dos diversos sistemas elétricos interligados e mais especificamente de onde ocorreu o curto-circuito causador da VTCD tem tido poucos estudos. Mesmo com equipamentos avançados de monitoração, e com a automação da informação entre as diversas Subestações de um Sistema Elétrico, as empresas responsáveis pela Transmissão e Distribuição, em certos casos, se depara com atuações da proteção cujas as causas são indeterminadas. Nesse sentido, a Chesf realizou, em trabalho conjunto com UFPE, um projeto que viabilizasse a identificação em qual região tinha se originado uma falta a qual tenha sensibilizado seu sistema. O objetivo principal foi desenvolver uma metodologia para conhecimento de qual sistema a falta teria se originado. 2. ÁREA DE VULNERABILIDADE Qualidade de Energia Elétrica pode ser definida como a ausência relativa de variações de tensão, particularmente a ausência de desligamentos, flutuação de tensão, surtos e harmônicos, medidos no ponto de entrega de energia. Porém quando olhamos o problema sob o ponto de vista do consumidor, energia elétrica de boa qualidade, é aquela que garante o funcionamento contínuo, seguro e adequado dos equipamentos elétricos e processos associados, sem afetar o meio ambiente e o bem estar das pessoas [2]. referência, abaixo do patamar considerado [1]. Para cada tipo de defeito pode ser obtida uma Área de Vulnerabilidade. Assim, quando tratamos de uma AV, estamos nos referindo a um certo barramento, a um certo patamar de tensão e a um determinado tipo de defeito.. As variações de tensão de curta duração são provenientes de distúrbios com causas as mais variáveis possíveis: curtos-circuitos na rede elétrica das concessionárias ou do próprio consumidor, partida de grandes cargas, transitórios eletromecânicos associados a oscilações entre geradores e transitórios eletromagnéticos associados a descargas atmosféricas ou chaveamentos (energização / desenergização) de equipamentos da rede elétrica. Porém, os curtoscircuitos são a causa mais freqüente e importante das variações. Em um sistema elétrico trifásico, as tensões em qualquer ponto deveriam ser, em regime permanente, perfeitamente senoidais, equilibradas, e com amplitudes e freqüência constantes. Qualquer desvio, acima de certos limites, na característica desses parâmetros pode ser considerado como uma perda da qualidade de energia. Em outras palavras, existe um problema de QEE sempre que ocorre um desvio na forma de onda da tensão de alimentação. Os curtos-circuitos resultam, de forma geral, em afundamentos de tensão nas fases envolvidas e em algumas situações, dependendo do grau de aterramento do sistema envolvido, em elevação de tensão nas fases não envolvidas. A duração do fenômeno depende do tempo de atuação da proteção encarregados de isolar o trecho em falta. A forma mais simples de se caracterizar uma variação momentânea é através da magnitude e duração do evento, segundo definições já bem conhecidas que já foram incorporadas nos procedimentos de rede [3]. Existe, entretanto, um reconhecimento de que esta forma simples deve ser aperfeiçoada para acomodar situações onde os valores RMS de tensão apresentam formas bastante distintas das usuais em formato de “U”, para as quais a duração e a magnitude da VTCD é bem definida. Neste sentido podemos definir Área de Vulnerabilidade (AV) [1], [4] e [5] como a área associada a um barramento de referência e a um certo patamar de tensão que representa a área geográfica do sistema elétrico dentro da qual, a ocorrência de defeitos resulta em valores de tensão (em qualquer das fases) no barramento de Figura 1 - Exemplo de Área de Vulnerabilidade Com o resultado das simulações é possível estabelecer uma estimação do estado do sistema elétrico (níveis de tensão residuais) relativos a todos os tipos de curto-circuito ao longo de todo o sistema elétrico. Desta forma é possível mapear toda a rede elétrica em função do tipo e local do curto, calculando-se a VTCD vista de um ponto de monitoração. A superposição das áreas de vulnerabilidade, como mostrado na figura 1, para diversos pontos de monitoração permite uma estimação do local da rede em que o curto-circuito deve ter ocorrido. Ou seja, tomando-se uma área decorrente da intercessão de dois sistemas que apresentam o mesmo nível de tensão residual, para uma VTCD de mesma característica (tipo de curto-circuito: monofásico, bifásico e trifásico), pode-se perceber quais são os pontos do sistema elétrico em que a ocorrência de curtos-circuitos, de mesma característica, faz com que a tensão na barra de referência, situe-se dentro dos limites estabelecidos pelo estudo. Generalizando-se este método, para uma quantidade de áreas maiores, levando-se em consideração todos os tipos de falta, podemos estimar a região em que ocorreu o curto-circuito. Assim podemos verificar quais foram os possíveis pontos que causaram uma falta, em determinada barra de referência, e que se encontram abaixo do patamar de tensão considerado dentre os pontos do sistema Chesf. Além do mais, para uma dada pesquisa pode-se utilizar a rede de qualimetria da 2 própria companhia, reconhecida pela sua dimensão e automatização, para concretizar as informações fornecidas pela analise teórica. Comprovando se dentre as opções, quais foram as que realmente sensibilizaram os equipamentos do sistema e assim saber se a falta ocorreu dentro do sistema da Chesf. Este procedimento representa uma estimativa conservadora, pois não considera os efeitos de decaimento lento da tensão, nem as tolerâncias de tempo da carga sensível, como indicado, por exemplo, nas curvas CBEMA ou ITIC. Por outro lado, a não consideração das falhas em equipamentos de subestações, pode levar a resultados falsamente otimistas. Apesar disto, esta é uma prática comum uma vez que as falhas em equipamentos são bem menos freqüentes do que em linhas. 3. que o curto realizado era sempre franco. De modo que estas características devem ser levadas em consideração ao se interpretar o resultado de uma busca. Entretanto, na prática esta características não tiram qualquer precisão de análise, do contrário, estabelece um limite máximo de referência para comparação com o valor registrado em campo. TRABALHO REALIZADO No trabalho realizado pela UFPE, foi desenvolvido um conjunto de procedimentos adotados a fazer o monitoramento nas barras de interesse, para se ter conhecimento de como elas são afetada pelos curtos-circuitos nas demais linhas e barras do sistema Chesf e de determinadas Concessionárias, que neste estudo, são constituídas principalmente pela rede da região metropolitana das capitais que fazem parte da Chesf. Um dos principais motivos deste estudo e da elaboração do banco de dados deve-se a uma série de ocorrências nas barras em análise, as quais não se estava identificado em qual sistema tinha ocorrido. Pode-se considerar como principais motivos desse fato, em quase sua totalidade, por conta de faltas ocorridas fora do sistema da companhia, ou por conta de curtos rápidos. Este estudo torna possível obter a região onde se originou o defeito, o qual pode ocorrer no sistema CHESF ou na rede da Concessionária. Esta situação surge com maior freqüência nas subestações que alimentam as concessionárias na região metropolitana, por este motivo é que foram escolhidas as seguintes subestações do sistema da Chesf para análise: Matatu, Rio Largo II, Fortaleza, Teresina, Bongi, Natal II, Mussuré II e Jardim. Foi elaborado um banco de dados para auxiliar na busca da origem do defeito ocorrido através do cruzamento de informações retiradas do sistema no instante do defeito, por exemplo, a hora da ocorrência e o nível de tensão residual na barra. Vale a pena salientar que nas simulações realizadas, levou-se sempre em consideração o caso mais severo, seja para o curto-circuito monofásico, bifásico, bifásico-terra ou trifásico, e Figura 2 - Fluxograma do processo realizado Foram feitas as simulações dos casos de curtocircuito monofásico, bifásico, bifásico-terra e trifásico nas barras de 230kV e 69kV nas subestações citadas acima, e para cada curto-circuito no sistema foi verificada a influência em cada barra de interesse. Os curtos foram simulados em dez segmentos de cada linha de transmissão do sistema, inclusive nas barras, usando o programa Anaquali, desenvolvido pelo CEPEL, que utiliza para execução dos cálculos o programa Anafas. Neste processo foi usado um arquivo com os dados do sistema Chesf que posteriormente foi incrementado com os dados típicos do sistema de 69 kV, levando-se em consideração a topologia do sistema das Concessionárias, localizadas na região metropolitana e alimentadas pelas barras de 69kV das subestações citadas. Basicamente estes arquivos são constituídos de “cartões” que se destinam a conter seqüências, sejam elas dos números, ou códigos de cada barra , origem e destino de cada barra, impedâncias de seqüência das linhas e defasamentos dos transformadores. 3 Após a geração de um arquivo de dados com correntes de curto-circuito e tensões pós-falta nos barramentos e ao longo das linhas de transmissão, foi realizado o processamento desses dados com a finalidade de reduzir a quantidade de dados apenas ao que era de interesse do estudo (tensões pós-falta abaixo de 0,9 pu, correspondentes a afundamentos maiores que 10%, e sem considerar elevação de tensão). O processo consistia em converter os arquivo de dados a uma planilha de dados para uso no programa Excel, da Microsoft. O cronograma desse processo é detalhado na figura 2. Para um melhor detalhamento das informações fornecidas, o resultado era apresentado em forma de um gráfico, ao qual continha as principais informações para a analise. Os gráficos têm a função de dar uma idéia visual dos efeitos de cada curto em determinada barra de interesse. Para a elaboração dos gráficos foram adotadas características que são bem visíveis na figura 3, onde temos um exemplo de um dos gráficos obtidos. Para que fosse facilitada a leitura dos efeitos na barra de interesse os gráficos foram elaborados com um padrão de cores para cada faixa de tensão residual que será descrito à seguir: § 90% a 100% - Azul § 80% a 90% - Azul-Céu § 60% a 80% - Verde § 40% a 60% - Amarelo § 20% a 40% - Vermelho 4. § 10% a 20% - Violeta § 0% a 10% - Preto PROGRAMA DESENVOLVIDO Com a realização dos curtos-circuitos no sistema da Chesf juntamente com as primeiras subestações das Concessionárias ligadas a mesma, foi elaborado um banco de dados, ao qual foi agrupado em M.S. Access. Sendo assim, foi desenvolvido um programa em M.S. Access denominado “A.I.VTCD”, cuja finalidade é localizar defeitos independentes de sua origem em todo o sistema Chesf e nos barramentos de 69kV das subestações das áreas metropolitanas de Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza e Teresina e as regionais das Concessionárias derivadas destes barramentos, a partir de uma faixa de tensões, para as fases A, B e C, na barra de interesse. O programa é constituindo basicamente de três formulários. O formulário de abertura apresenta as seguintes opções: “Analisar Subestação”, na qual todo o estudo é realizado, e “Cadastrar Subestação”, possibilitando a inserção de uma nova subestação para a analise. O segundo formulário (Localizador de Faltas), que é acessado através da opção “Analisar Subestação”, é a parte mais importante do programa, no qual será feita toda a análise, baseada em intervalos de tensões, para as três fases, na barra de interesse. Figura 3 - Gráfico do perfil de tensão 4 Na figura 4 é apresentado a tela do formulário do Localizador de Faltas. Os seus principais tópicos, de acordo com a figura 4, são: 1- Seleciona a barra de interesse. 11- Seleciona-se o número de pesquisas para a interseção. 12- Fornece o resultado da interseção de dados. 13- Mostra as barra armazenadas. 2- Selecionar o nível de tensão da barra de interesse. 3- Insere o intervalo de tensões em estudo, fases A, B e C, da barra de interesse. 4- Este ícone nos dá o resultado da pesquisa, a qual pode ser vista no tópico em 5. O resultado será todos os possíveis curtos-circuitos que levariam a barra de interesse para as tensões informadas no item 3. 5- Neste espaço é mostrado o resultado da pesquisa. 6- Informa a quantidade de ocorrências. 7- Mostra a tensão na barra de interesse, nas fases A, B e C, para o defeito mostrado no tópico 5. 8- Com este ícone é possível selecionarmos, para a impressão, apenas alguns resultados da pesquisa. 14- Visualização da impressão 15- Imprime apenas os casos selecionados em 8. 16- Salva em arquivo (tipo documento) 17- Sai do banco de dados. 18- Informa o percentual de possibilidade pertencente a Chesf e a Concessionária. No segundo formulário o usuário indica qual a barra de referência que se deseja estudar a Área de Vulnerabilidade, indicando qual a subestação e o seu respectivo nível de tensão. Além do mais é de fundamental importância que o usuário ao cadastrar os limites de tensão, para o estudo, forneça um intervalo confiável, porém em uma faixa restrita, com um pequeno desvio com relação a um valor desejado. Isso irá fazer com que o número de informação seja reduzido, consequentemente a analise é facilitada e o processo se torna mais eficiente. 9- Percorrer todos os resultados da pesquisa. 10- Armazena o resultado da pesquisa para futura interseção de dados. Figura 4 - Programa A.I.VTCD 5 Além do mais, o segundo formulário também fornece a possibilidade de uma consulta estatística, onde pode-se verificar dentre todas as opções encontradas em uma dada busca, qual o percentual das alternativas que corresponde ao sistema da CHESF e qual o percentual que se originou fora do mesmo. O terceiro formulário (Interseção), é acessado através da opção “Interseção dos Dados” do segundo formulário. Esse formulário é resultado da possibilidade de verificar a interseção das AV de duas até quatro barras de referência. A tela apresenta todos os possíveis pontos que causam uma VTCD, dentro dos limites considerados no formulário dois, e que atingiu as barras de referência selecionadas. Isso nos dá um estudo mais completo, no qual podemos visualizar o reflexo de um determinado curto-circuito em duas ou mais barras ao mesmo tempo. 5. CONCLUSÃO 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] A.lvaro J. P. Ramos – “Avaliação da Qualidade da Energia Elétrica – Estado da Arte e Proposição de Indicadores” – Relatório Final 3 para a ANEEL – Set. 2000; [2] Bronzeado H.S., Á. J. P. Ramos, J. C. de Oliveira, J. P. G. de Abreu, A. A. C. Arruda, A. C. Brandão– “Uma Proposta de Nomeclatura Nacional de Termos e Definições” –– II SBQEE – 1997-1; [3] Procedimentos de Rede, submódulo 2.8 “Gerência dos Indicadores de Desempenho da Rede Básica”, ONS, Fev. 2003; [4] Ricardo Penido Ross, Tatiana M. L. Assis, Raul B. Sollero, Antonio G. G. Lima – “Análise de Afundamentos de Tensão” – III SBQEE – Outubro 1999; [5] Ricardo Penido Ross, Antonio G. G. Lima, Raul B. Sollero, Luiz Felipe W. de Souza – “Afundamentos de Tensão de Curta Duração – Análise Através da Área de Vulnerabilidade” – III CONLADIS – Setembro 1998; O projeto desenvolvido teve como resultado possibilitar a Chesf a identificar as possíveis regiões onde uma determinada falta tenha ocorrido e que tenha de alguma forma sensibilizado seu sistema. Para isso foi feito a monitoração de determinadas barra de interesse, através da simulação de curtos-circuitos no sistema Chesf e na regional de certas distribuidoras. Tendo em mãos o resultado destes curtos, foi possível obtermos gráficos que indicam a tensão residual nas barras de interesse, ao qual juntamente com a rede de qualimetria da empresa, é possível verificar as informações e chegar a conclusão de qual região se originou a falta. Além do mais, foi elaborado um banco de dados, que posteriormente foi transformado em programa, que tornou mais rápida e precisa a localização de curtos não identificados pelo sistema Chesf. Esperamos que num futuro próximo possamos expandir o estudo, incluindo todos os barramentos Chesf que têm cargas diretamente conectadas com instrumentos de monitoração de afundamentos de tensão, juntamente com a atualização dos dados reais do sistema das Concessionárias. Além de ter um sistema de automatização de captação dos níveis de tensão e, com isto, obter a localização e o tipo do curto-circuito de maneira rápida e precisa em tempo real. 6