Fundação Oswaldo Cruz Instituto Fernandes Figueira Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher PERFIL CLÍNICO E LABORATORIAL DE PACIENTES COM SUSPEITA DE IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA ATENDIDOS EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA DO RIO DE JANEIRO Aniela Bonorino Xexéo Castelo Branco Rio de Janeiro Agosto de 2008 Fundação Oswaldo Cruz Instituto Fernandes Figueira Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher PERFIL CLÍNICO E LABORATORIAL DE PACIENTES COM SUSPEITA DE IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA ATENDIDOS EM UM SERVIÇO DE REFERÊNCIA DO RIO DE JANEIRO Aniela Bonorino Xexéo Castelo Branco Dissertação apresentada à PósGraduação em Saúde da Criança e da Mulher, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde Maria Ignez Capella Gaspar Elsas José Marcos Telles da Cunha Rio de Janeiro Agosto de 2008 FICHA CATALOGRÁFICA NA FONTE INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM SAÚDE BIBLIOTECA DA SAÚDE DA MULHER E DA CRIANÇA C348 Castelo Branco, Aniela Bonorino Xexéo Perfil clínico e laboratorial de pacientes com suspeita de imunodeficiência primária atendidos em um serviço de referência do Rio de Janeiro. / Aniela Bonorino Xexéo Castelo Branco. – 2008. 150 f. Dissertação ( Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher ) Instituto Fernandes Figueira , Rio de Janeiro , RJ , 2008 . Orientador : Maria Ignez Cepella Gaspar Elsas Co-orientador: José Marcos Telles da Cunha Bibliografia: f. 107 -111 1. Síndromes de Imunodeficiência. 2. Pediatria. 3. Alergia e Imunologia. 4. Infecção. 5. Saúde Pública. Título. CDD - 22ª ed. 616.979 Dedico ao meu marido Henderson e à minha filha Amanda. AGRADECIMENTOS Ao Instituto Fernandes Figueira, ao Instituto de Puericultura e Pediatria da UFRJ e aos seus respectivos corpos docente e técnico-administrativo, que viabilizaram a obtenção dos dados para esta dissertação de Mestrado. Aos meus orientadores José Marcos e Maria Ignez pela dedicação, paciência ao longo do desenvolvimento deste trabalho. Aos professores e coordenadores da Pós-Graduação em Saúde da Mulher e da Criança do IFF/Fiocruz, pelos ensinamentos prestados. Aos membros da banca examinadora contribuições para a melhoria de nosso trabalho. pela disponibilidade e Aos colegas do Serviço de Pediatria e Alergia do HSE-RJ, pela colaboração indispensável durante a realização deste estudo. Aos meus pais Xexéo e Luana pelo amor e carinho com que me criaram e por tudo que me ensinaram e continuam ensinando todos esses anos. Aos meus amigos e colegas do mestrado, em especial à minha amiga e sócia Fernanda pela ajuda na coleta de dados. Ao meu irmão Geraldo pela ajuda com a análise dos dados e à minha irmã Valéria pela ajuda cuidando da minha filha. Aos meus sogros Castelo e Maria do Carmo pela ajuda cuidando da minha filha. Ao meu marido Henderson pela grande ajuda com a análise dos dados e pelo apoio durante todo o período do mestrado RESUMO Objetivos: descrever o perfil clínico e laboratorial dos pacientes com suspeita de imunodeficiência primária (IDP) atendidos no serviço de alergia e imunologia pediátrica do IPPMG , verificar se o formulário de consulta de primeira vez utilizado no serviço acelera a definição do diagnóstico e propor um novo formato de formulário para a coleta de dados na consulta de primeira vez e no acompanhamento dos pacientes no serviço. Metodologia: estudo transversal descritivo retrospectivo de todas as crianças atendidas no ambulatório de alergia e imunologia do IPPMG/UFRJ, no período de janeiro de 2006 a junho de 2008. A coleta de dados foi realizada através de revisão de prontuário e do formulário de primeira vez do serviço. Foram excluídos pacientes cujos prontuários ou formulários de primeira vez não puderam ser acessados. Resultados: foram incluídos 181 pacientes, 81 pacientes (44,8%) do sexo feminino e 100 pacientes (55,2%) do sexo masculino. Cinco pacientes (3%) relataram consangüinidade e 28% tinham história familiar de IDP positiva. A idade dos primeiros sintomas variou do nascimento a 132 meses com média de 21,8 (+ 30) e mediana de 8 meses. A idade na primeira visita variou de 0,2 a 203,51 meses com média de 67,52 (+49,43) e mediana de 59,21 meses. A ocorrência infecções de repetição foi o principal motivo de encaminhamento com 135 casos (75%). O principal sítio de infecção encontrado foi pneumonia, com 119 casos (66%). Relataram internações 122 pacientes (67%), com média de número de internações de 3.25 (+3.03) e mediana de 2 internações. A média de dias internado foi de 12.65 (+12.37) com mediana de 9,5. Ao todo foram solicitados 978 exames. Destes, 272 (28%) não foram realizados ou o resultado não foi encontrado. A maioria dos diagnósticos pertenceu ao grupo de imunodeficiências predominantemente de anticorpos com 15 casos (19%), seguido de defeitos congênitos de fagócitos com 6 casos (8%), outras síndromes bem definidas com 4 casos (5%), doenças de desregulação imune e imunodeficiências combinadas, ambas com 2 casos (3%) e deficiências de complemento com 1 caso (1%) . O grupo outros totalizou 9 casos (11%) e 3 casos (4%) tiveram diagnóstico de imunodeficiência secundária. A análise comparativa do tempo decorrido desde a primeira visita até o diagnóstico a partir do emprego ou não do formulário de primeira vez não foi estatisticamente significativa (p > 0,93). A antibioticoterapia profilática foi indicada para 58 casos (32%), a conduta foi expectante em 61 casos (34%) e gamaglobulina humana (IVIG) foi indicada para 14 pacientes (8%). Três pacientes fizeram transplante de células-tronco hematopoiéticas. A maioria dos pacientes manteve o seguimento (54%), quatro pacientes (2%) foram à óbito e 15% dos casos não havia registro de consulta de seguimento ou óbito, sendo caracterizado como abandono de acompanhamento. Palavras-chave: síndromes de imunodeficiência, pediatria, alergia e imunologia, infecção, saúde pública. ABSTRACT Objectives: to describe clinical and laboratorial features of patients with suspected primary immunodeficiency disease (PID) attended at the Allergy and Immunology outpatient clinic at IPPMG, to assess if the first evaluation form used at the service accelerates the definition of the diagnosis and propose a new form for data collection at both first-time consultation and follow-up visits of patients at the service. Methodology: Retrospective analysis of all children who have attended the Allergy and Immunology clinic at IPPMG, from January 2006 to June 2008. The study was performed through review of conventional medical records and the form used at the first consultation. Patients whose records or forms could not be reached were excluded. Results: 181 patients were included, 81 patients (44.8%) females and 100 patients (55.2%) males. Five patients (3%) reported consanguinity and 28% had a positive family history of PID. The age of first symptoms ranged from birth 132 months with an average of 21.8 (30) and a median of 8 months. The age at first visit ranged from 0.2 to 203.51 months with an average of 67.52 (49.43) and a median of 59.21 months. The occurrence of repeated infections was the main reason for referral with 135 cases (75%). The primary site of infection was pneumonia, with 119 cases (66%). Admissions were reported for 122 patients (67%), with a mean number of admissions of 3.25 (+3.03) and median of 2 admissions. The average number of hospitalization days was 12.65 (+12.37) with a median of 9.5. Altogether 978 laboratory tests were requested. Among these, 272 (28%) were not performed or the result was not found. Most diagnoses belonged to the group of predominantly antibodies deficiencies with 15 cases (19%), followed by congenital defects of phagocytes with 6 cases (8%), other well-defined immunodeficiency syndromes with 4 cases (5%), diseases of immune dysregulation and combined T-cell and B-cell immunodeficiencies, with 2 cases (3%) each, and complement deficiencies with 1 case (1%). The group “other” comprised nine cases (11%) and 3 cases (4%) had diagnosis of secondary immunodeficiency. The comparative analysis of the time from the first visit to the definition of the diagnosis between patients with or without the fulfilling of first time evaluation form was not statistically significant (p> 0.93). The antibiotic prophylaxis was given to 58 cases (32%), the management was expectant in 61 cases (34%) and human gammaglobulin (IVIG) was given to 14 patients (8%). Hematopoietic stem cell transplantation was performed in three patients. Most patients maintained regular follow-up (54%), four patients (2%) died and in 15% of cases there was no record of either follow-up consultation or death. The latter group was considered as lost to follow-up. LISTA DE SIGLAS AD – Herança autossômica dominante ADA - Adenosina deaminase ALPS - Síndrome Linfoproliferativa Autoimune AR – Herança autossômica recessiva ATM - Ataxia-Telangiectasia Mutado BCG – Bacilo Galmette-Guèrin BAFFr - Receptor de fator ativador de célula B BRAGID – Grupo Brasileiro de Imunodeficiência Btk -Tirosina cinase de Bruton C1INH- Inibidor de C1-esterase CASP - Caspase CD – Cluster de diferenciação CDC – Centro de Controle de Doenças CH- Complemento hemolítico CINCA - Síndrome Neurológica, Cutânea e Articular Crônica Infantil CVID - Imunodeficiência Comum Variável DTH – Hipersensibilidade do tipo tardio (Delayed Type Hypersensitivity) EAS – Exame de urina (uroanálise) EDA-ID - displasia ectodérmica hipoidrótica com imunodeficiência ESID - Sociedade Européia de Imunodeficiências (European Society for Immunodeficiencies) FCAS - Síndrome autoinflamatória ao frio familiar FCUS - Urticária ao frio familiar FMF - Febre Familiar do Mediterrâneo G-CSF - Fator estimulador de colônia de neutrófilos HIDS - Hiperimunoglobulinemia D e síndrome de febre periódica HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana HPN - Hemoglobinúria paroxística noturna HPV- Vírus Papiloma Humano ICOS – Molécula co-estimulatória induzível IDP – Imunodeficiência Primária IFF – Instituto Fernandes Figueira IFN - Interferon Ig- Imunoglobulina IKBA - Potenciador do inibidor de cadeia leve kappa em células B IL- Interleucina IPPMG – Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira IRAK4 - Cinase associada ao receptor IL-1 IVIG – Imunoglobulina intravenosa JAK- Cinase da família Janus LAD – Deficiência de adesão leucocitária LAGID – Grupo Latino Americano Para o Estudo das Imunodeficiências Primárias (Latin American Group for the Study of Primary Immune Deficiencies) LES- Lúpus Eritematoso Sistêmico MAC - Complexo de ataque a membrana MHC – Complexo principal de histocompatibilidade MWS - Síndrome de Muckle-Wells NBT- nitrobluetetrazolium NEMO - Modulador essencial de NF-κB NF-Κb - Fator nuclear κB NK - Natural killer NOMID -Doença Inflamatória Multisistêmica de Início Neonatal PFAPA – Síndrome de Febre Periódica, Adenite Cervical, Faringite e Aftas PPD – derivado proteico purificado RAG - Gene ativador de recombinaseRNA –Ácido ribonucléico RMRP- RNA de endoribonuclease processadora de RNA mitocondrial SCID – Imunodeficiência Combinada Grave (Severe Combined Immune Deficiency) SHU - Síndrome hemolítico-urêmica SUS – Sistema Único de Saúde TACI- transmembrane activator and CAML interactor TC – tomografia computadorizada TCTH – Transplante de células-tronco hematopoiética TLR - Receptor toll-like TNF - Fator de necrose tumoral TRAPS - Síndrome periódica associada ao receptor de fator de necrose tumoral VA- Via alternativa VL - Via das lectinas VP - Via clássica (classical pathway) XL – herança ligada ao X WASP - proteína da Síndrome de Wiskott-Aldrich WHIM - síndrome de verrugas, hipogamaglobulinemia, infecções e mielocatexia SUMÁRIO CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 14 CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO 16 2.1 . Conceito e historico 16 2.2. Epidemiologia 17 2.3. Classificação 19 2.4 Diagnostico 35 CAPÍTULO 3 - JUSTIFICATIVA 42 CAPÍTULO 4 - OBJETIVOS 45 CAPÍTULO 5 - MATERIAL E MÉTODOS 48 5.1. Desenho do estudo 48 5.2. Amostra 48 5.3. Local do estudo 48 5.4. Variáveis 49 5.5. Processamento dos dados 51 5.6. Análise dos dados 51 CAPITULO 6 - ASPECTOS ÉTICOS 52 CAPÍTULO 7 - RESULTADOS 53 7.1. Casuística 53 7.2 . Distribuição por gênero 53 7.3 . Distribuição por raça 55 7.4 . Origem 55 7.5 . Consangüinidade e história familiar 55 7.6 . Idade nos primeiros sintomas 55 7.7 . Idade na primeira visita 57 7.8. Motivo de encaminhamento e origem de encaminhamento 57 7.9. Sítios de infecções 60 7.10 Sinais de alerta 64 7.11 Culturas 66 7.12 Internações 66 7.13 Hemotransfusões 69 7.14 Alterações do desenvolvimento psicomotor 69 7.15 Histórico de reações vacinais 69 7.16 Cicatriz de BCG 69 7.17 Histórico do parto 70 7.18 História alimentar 72 7.19 Hipóteses diagnósticas 72 7.20 Exames solicitados X exames realizados 75 7.21 Diagnóstico final 77 7.22 Meses entre primeiros sintomas e diagnóstico 79 7.23 Meses entre primeira consulta e diagnóstico 79 7.24 Análise comparativa do tempo decorrido até o diagnóstico a partir do emprego ou não do formulário de primeira vez 81 7.25 Seqüelas 85 7.26 Conduta terapêutica 85 7.27 Uso de gamaglobulina 87 7.28 Uso de antibiótico profilático 89 7.29 Uso de citocina terapêutica 91 7.30 Indicação de transplante de células-tronco hematopoiéticas 91 7.31 Desfecho 91 CAPÍTULO 8 - DISCUSSÃO 92 CAPÍTULO 9 - CONCLUSÕES 105 CAPÍTULO 10 - REFERÊNCIAS 107 CAPÍTULO 11 - ANEXOS 112 CAPÍTULO 12 - APÊNDICES 134 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO Crianças com infecções de repetição representam um problema de saúde pública no Brasil. Em um país no qual, além da epidemia de Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA), ainda persistem diversos fatores associados a causas secundárias de imunodeficiência, como desnutrição, más condições de higiene, moradia e saneamento, o grupo de agravos a saúde classificados como imunodeficiências primárias ainda não conquistou seu espaço entre as políticas de saúde públicas. Entretanto, internacionalmente, o impacto que essas desordens representam sobre o sistema de saúde já foi reconhecido (Lindegren et al, 2004; Espanõl, 2005). Com essa preocupação, países de todo o mundo já organizaram políticas de saúde voltadas para o acompanhamento desses pacientes (Lindegren et al, 2004; Zelazco et al, 1998; http://www.imunopediatria.org). No Rio de Janeiro, hospitais terciários como o Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG) ou o Instituto Fernandes Figueira (IFF), com programas consolidados de treinamento em imunologia clínica, ainda têm pouco a oferecer a essas famílias. A proposta desta dissertação iniciou-se a partir da publicação de uma portaria da Secretaria de Atenção a Saúde em dezembro de 2005, estabelecendo o Instituto Fernandes Figueira como Centro de Referência em imunodeficiências primárias, entre outras competências já consolidadas. O objeto de estudo deste trabalho é a descrição do perfil clínico e laboratorial dos pacientes que foram encaminhados para o serviço de alergia e imunologia do Instituto de Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ), entre janeiro de 2006 e junho de 2008, com suspeita de imunodeficiência primária, e de como está sendo realizado o acompanhamento e o diagnóstico desses pacientes. O ambulatório de alergia e imunologia do IPPMG é um serviço terciário de referência no estado do Rio de Janeiro para o atendimento de pacientes com imunodeficiência primária e, portanto, capaz de reunir pacientes com condições ambientais e sócio-econômicas semelhantes, permitindo, dessa forma, uma análise representativa do comportamento dessas desordens em crianças brasileiras. CAPÍTULO 2 - REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. CONCEITO E HISTÓRICO As imunodeficiências primárias (IDP) são desordens do sistema imune caracterizadas por aumento da susceptibilidade à infecções, autoimunidade e neoplasias malignas (Fischer, 2004; Stiehm et al, 2004). Defeitos genéticos e hereditários em um ou mais componentes do sistema imunológico alteram o funcionamento do mesmo, tornando o indivíduo vulnerável à infecções por bactérias, vírus, fungos ou protozoários, com variados graus de gravidade (Rosen et al, 1999). Casos isolados de IDP foram relatados ao final da década de 20 (Stiehm et al, 2004). Na década de 40, com o advento dos antibióticos tornando possível a cura de infecções em indivíduos com o sistema imune preservado, mais casos de imunodeficiências foram reconhecidos (Stiehm et al, 2004). Em 1952, Bruton descreveu um caso de um paciente com agamaglobulinemia que se beneficiou do uso contínuo de gamaglobulina, mas somente na década de 80 a gamaglobulina venosa foi instituída como tratamento para as IDP (Stiehm et al, 2004). Nos últimos 50 anos, um enorme progresso ocorreu nesse campo, com descobertas de novas imunodeficiências e instituição de tratamentos promissores como transplante de medula óssea e terapia gênica (Good e Verjee, 2001; Gaspar et al 2004). Os avanços da genética molecular e o mapeamento do genoma humano permitiram a descrição de mais de 120 tipos de IDP (Shearer et al, 2004; Geha et al, 2007;). 2.2. EPIDEMIOLOGIA Os dados epidemiológicos sobre as IDP ainda são imprecisos devido à falta de um sistema adequado de coleta de dados e registros na maior parte dos países (Lindegren et al, 2004). A freqüência estimada é de 1:10.000 até 1:2.000 nascidos vivos (Bonilla e Geha, 2003; Bonilla et al, 2005). Na infância, há uma predileção pelos meninos de 5:1, devido às síndromes ligadas ao X. Quando o diagnóstico é feito em adultos a freqüência parece ser a mesma em homens e mulheres (Knerr e Grimbacher, 2007). Todos esses dados são, provavelmente, subestimados e imprecisos, em função de, pelo menos, cinco fatores: a) falta de reconhecimento clínico, b) falta de registro ou registro inadequado, c) superrepresentação de alguns centros de referência, d) falta de padronização de definição de caso, e) morte antes do diagnóstico (Lindegren et al, 2004). Diversos países já desenvolveram seus sistemas de registros em nível nacional, com objetivo de adquirir maior conhecimento sobre as IDP e melhorar a qualidade do atendimento aos pacientes (Knerr e Grimbacher, 2007). No Brasil existiram tentativas de implantar um sistema de registros próprio, já que nosso país é um dos membros do LAGID (Latin American Group for the Study of Primary Immune Deficiencies), grupo formado por 14 países, que possui um sistema de registros já com 3321 pacientes (Knerr e Grimbacher, 2007). Porém, esse número não reflete a prevalência atual, devido à capacidade diagnóstica limitada dos países participantes e pelo fato dos dados terem sido obtidos em algumas poucas cidades dos países envolvidos na pesquisa (Knerr e Grimbacher, 2007). A maioria dos países está implementando um sistema on line de registros, semelhante ao utilizado pela Sociedade Européia para Imunodeficiências (ESID-European Society for Immunodeficiencies) (Knerr e Grimbacher, 2007). Em todos os países, as imunodeficiências predominantemente de anticorpos aparecem como as formas mais freqüentes de IDP, com mais de 50% dos casos (Stiehm et al, 2004; Pérez et al, 2007; Knerr e Grimbacher, 2007). Dados do ESID de 2008 mostram as imunodeficiências predominantemente de anticorpos com 55,25% dos casos, seguido de outras imunodeficiências bem definidas (17,75%), deficiência de fagócitos (12,63%), deficiências de células T (7,75%), defeitos do complemento (1,94%), doenças de desregulação autoimune (1,15%) e doenças autoinflamatórias (1,08%) (http://www.esid.org). 2.3. CLASSIFICAÇÃO Por conta do acelerado reconhecimento de novos defeitos genéticos, desde 1970, um comitê de especialistas se reúne a cada dois anos para atualizar a classificação das IDP, baseada nos principais mecanismos imunológicos implicados (Bonilla et al, 2005). A última atualização (anexo 3), publicada em outubro de 2007 divide as imunodeficiências em oito grupos: a) imunodeficiências combinadas T e B, b) deficiências predominantemente de anticorpos, c) outras síndromes bem definidas, d) doenças de desregulação imune, e) defeitos congênitos do número e/ou função de fagócitos, f) defeitos na imunidade inata, g) doenças autoinflamatórias, h) deficiências de complemento (Geha et al, 2007). 2.3.1. IMUNODEFICIÊNCIAS COMBINADAS DE CÉLULAS T E B. Seus principais e mais graves representantes são as imunodeficiências combinadas graves (SCID). Pacientes com SCID apresentam grande comprometimento ou mesmo completa ausência de imunidade específica, sendo susceptíveis à maioria dos patógenos, inclusive patógenos oportunistas (Gaspar et al, 2001; Bonilla et al, 2005). Os sintomas iniciais aparecem nos primeiros meses de vida com infecções graves e recorrentes e desenvolvimento inadequado (Gaspar et al, 2001). Sem a reconstituição imunológica proporcionada pelo transplante de medula, leva ao óbito na infância (Chan e Puck, 2005). Tratamentos envolvendo terapia gênica estão em desenvolvimento e se mostram promissores (Gaspar et al, 2004). Diversas mutações genéticas já foram implicadas na patogenia das diferentes formas de SCID (tabela 1). Tabela 1: Mutações genéticas descritas na patogenia das SCID Doença SCID T- B+ Defeitos genéticos/patogenia defeito de cadeia γ de receptores para IL-2, -4, -7, -9, -15, -21 defeito em JAK 3 defeito na cadeia α de receptor de IL-7 defeito em CD 45 defeito de receptor de antígeno de célula T SCID T- B- defeito completo de RAG 1 ou 2 defeito de proteína recombinase DNA-reparo de Artemis ausência de ADA, metabólitos linfotóxicos elevados maturação defeituosa de células T, B e células mielóides Herança XL AR AR AR AR AR AR AR AR Legenda:JAK cinase da família janus; RAG gene ativador de recombinase; ADA adenosina deaminase. Adaptado de Geha et al, 2007. Mutações missense1 dos genes RAG 1, 2, Artemis, IL-7Rα ou RNA de endorribonuclease processadora de RNA mitocondrial (RMRP) são encontradas na Síndrome de Omenn, que cursa com diarréia protraída, eritrodermia exsudativa, eosinofilia, adenopatia e hepatoesplenomegalia (Roifman et al, 2006; Geha et al, 2007). Deficiência de ZAP-70, MHC classe I e II, deficiência de canais de cálcio entre outras, já foram descritas (Geha et al, 2007). 1.Mutação missense- mutação genética pontual, envolvendo a alteração de um único nucleotídeo, podendo haver uma atividade residual do gene. 2.3.2. IMUNODEFICIÊNCIA PREDOMINANTEMENTE DE ANTICORPOS As imunodeficiências predominantemente de anticorpos (ou humorais) formam um grupo bastante heterogêneo, com um espectro clínico que abrange desde pacientes assintomáticos, até pacientes com graves manifestações de imunodeficiências (Ballow, 2002). As doenças deste grupo resultam da produção inadequada ou na função defeituosa de anticorpos devido à números baixos de linfócitos B ou, ainda, da existência de células B com produção inadequada de anticorpos (Lindegren et al, 2004). Neste grupo de desordens, os pacientes apresentam infecções sinopulmonares por bactérias encapsuladas como Streptococcus pneumoniae ou Haemophilus influenzae tipo b (Ballow, 2002). Dependendo do tipo de defeito, outros germes podem ser mais frequentemente envolvidos, como os enterovírus, encontrados em pacientes com Agamaglobulinemia ligada ao X (Webster, 1994; Ballow, 2002; Shiroma et al, 2004; Stiehm et al, 2004;) e protozoários como a Giardia lamblia, em pacientes com deficiência seletiva de IgA (Ballow, 2002). Os primeiros sintomas se iniciam normalmente após os primeros seis meses a um ano de vida, quando ocorre a produção de imunoglobulina endógena (IgG) em paralelo com a diminuição dos níveis de imunoglobulina (IgG) maternos (Bonilla e Geha, 2003). É o tipo mais comum de imunodeficiência primária, sendo responsável por mais da metade dos casos registrados (Stiehm et al, 2004). Mutações genéticas em moléculas envolvidas na diferenciação e proliferação de células B estão sendo relacionadas como causas da imunodeficiência primária sintomática mais comumente diagnosticada, a imunodeficiência comum variável (CVID). Defeitos em cinco genes diferentes já foram descritos: coestimulador induzível em células T(ICOS), TACI, CD19, BAFF-r e MSH5; mas grande parte dos pacientes com CVID ainda não possui defeito genético identificado ( Yong et al, 2008). Pacientes com CVID apresentam infecções sinopulmonares de repetição e maior tendência a manifestações autoimunes, neoplasias, doença granulomatosa e linfoproliferação (Cunningham-Rundles e Bodian, 1999). O principal marcador diagnóstico é hipogamaglobulinemia (Weller e BankersFulbright, 2005). A deficiência seletiva de IgA pode ser encontrada em indivíduos saudáveis, assintomáticos. Porém, está associada a uma série de desordens como: infecções sinopulmonares e gastrointestinais (giardíase de repetição), autoimunidade e atopia (Cunninghan-Rundles, 2001). Alguns pacientes com diagnóstico inicial de deficiência seletiva de IgA podem evoluir para CVID, sugerindo uma causa comum para as duas doenças, pelo menos nesses casos (Castigli e Geha, 2006). A mutação no gene tirosina cinase de Bruton (Btk) é responsável pela Agamaglobulinemia de Bruton ou deficiência de Btk, síndrome de herança ligada ao X, em que o nível sérico de todos os isotipos de imunoglobulinas e também o número de linfócitos B se encontram profundamente diminuídos (Geha et al, 2007). O tratamento dos defeitos humorais é baseado na administração regular de gamaglobulina, por via intravenosa ou subcutânea, e antibioticoprofilaxia. O uso da gamaglobulina aumenta a expectativa de vida e reduz a freqüência e a gravidade das infecções (Wood et al, 2007). 2.3.3. OUTRAS SÍNDROMES DE IMUNODEFICIÊNCIA BEM DEFINIDAS Este grupo passou a ser usado para englobar uma série de síndromes bem caracterizadas clinicamente, nem todas com defeito gênico identificado, e que não puderam ser enquadradas nos outros grupos já citados. A síndrome de Wiskott-Aldrich é uma imunodeficiência ligada ao X cujo fenótipo inclui trombocitopenia com plaquetas pequenas, eczema, infecções recorrentes e maior incidência de manifestações autoimunes e malignidades (Bonilla et al, 2005; Ochs e Thrasher, 2006). Ocorre por mutações do gene da proteína da Síndrome de Wiskott-Aldrich (WASP). Otites médias recorrentes, infecções sinopulomonares bacterianas e infecções virais são freqüentes, assim como infecções oportunistas como pneumonia por Pneumocystis jiroveci (Bonilla et al, 2005). O sinal clínico mais característico é a trombocitopenia com plaquetas pequenas. O paciente pode apresentar petéquias e sangramentos desde os primeiros meses de vida (Ochs e Thrasher, 2006). As respostas imunológicas dependentes de células B e T estão afetadas, com diminuição de Imunoglobulinas G e M (IgA e IgE podem se encontrar elevadas), defeito de resposta para antígenos polissacarídeos e comprometimento progressivo de linfócitos T (Bonilla et al, 2005; Ochs e Thresher, 2006). Atividade de células NK também se encontra diminuída (Bonilla et al, 2005). Ataxia-Telangiectasia é uma desordem decorrente de uma mutação no gene Ataxia-Telangiectasia Mutado (ATM), localizado no cromossomo 11, de herança autossômica recessiva, que cursa com alterações neurológicas degenerativas, telangiectasias cutâneas e oculares, retardo de crescimento e imunodeficiência (Nowak-Wegrzyn et al, 2004; Bonilla et al, 2005). As síndromes de Hiper-IgE também fazem parte desse grupo, sendo caracterizadas por IgE elevada no soro, dermatite e infecções recorrentes de pele e pulmonares (Freeman e Holland, 2008). Pode ser autossômica dominante (Síndrome de Job), por deficiência de STAT3, ou recessiva, por mutação em TYK2 ou, ainda, por outras mutações ainda desconhecidas (Geha et al, 2007). São incluídas ainda neste grupo: anomalia de DiGeorge, displasias imuno-ósseas, candidíase mucocutânea crônica, doença veno-oclusiva hepática com imunodeficiência e Síndrome de Hoyerall-Hreidarsson (Geha et al, 2007). 2.3.4.DOENÇAS DE DESREGULAÇÃO IMUNE O fenômeno de apoptose2 é importante para o equilíbrio da resposta imune. Por conta dele, ocorre eliminação de células T autorreativas e limitação de magnitude e duração de resposta à antigenos externos (Su e Lenardo, 2008). Defeitos em genes responsáveis pela regulação da apoptose de linfócitos causam a Síndrome Linfoproliferativa Autoimune (ALPS)(Bleesing, 2002; Su e Lenardo, 2008). A desregulação da homeostase dos linfócitos gera três conseqüências principais: acúmulo anormal de linfócitos, autoimunidade pela falha de remoção de linfócitos autorreativos e aumento na ocorrência de linfomas pela sobrevivência inapropriada de linfócitos transformados (Bleesing, 2002). As manifestações clínicas são: linfadenomegalias, esplenomegalia, citopenias autoimunes, glomerulonefrite e linfomas (Bleesing, 2002). O achado laboratorial característico é a presença de um número aumentado de linfócitos T (TCR αβ+) duplo negativos (que não expressam CD4 ou CD8) no sangue periférico (Bleesing, 2002). A tabela 2 correlaciona a doença com o defeito genético. 2. Apoptose- morte celular programanda Tabela 2: Defeitos genéticos descritos nas Síndromes Linfoproliferativas Autoimunes (ALPS) Doença ALPS tipo 1a Defeito de CD95(Fas) Defeito genético TNFRSF6 ALPS tipo 1b Defeito de CD95l (FasL) TNFSF6 ALPS tipo 2a Defeito de caspase 10 CASP10 ALPS tipo 2b Defeito de caspase 8 CASP8 ALPS N-Ras Defeito de ativador de N-Ras NRAS Legenda:Casp- caspase; TNF – fator de necrose tumoral Adaptado de Geha et al, 2007. As síndromes de imunodeficiência com hipopigmentação também são classificadas como doenças de desregulação imune. São decorrentes do defeito no gene LYST, no caso da Síndrome de Chediak-Higashi, defeito de RAB27A na Síndrome de Griscelli tipo 2 e defeito de AP3B1 na Síndrome de Hermansky-Pudlak tipo 2 (Geha et al, 2007). Cursam com albinismo parcial e baixa atividade de linfócitos T citotóxicos e células NK (Geha et al, 2007). 2.3.5. DEFEITO CONGÊNITOS DO NÚMERO E/ OU FUNÇÃO DE FAGÓCITOS Grupo caracterizado por apresentar infecções específicas para cada defeito genético, como abscesso hepático na Doença Granulomatosa Crônica e susceptibilidade à infecções por Mycobacterium sp. e Salmonella sp. nos defeitos de interferon γ−interleucina 12 (IFNγ/IL-12/23). Esta doença não costuma estar associada às infecções freqüentes nas outras formas de IDP, particularmente aquelas vistas nos pacientes com imunodeficiência predominantemente de anticorpos (Rosenzweig e Holland, 2004). Defeitos no complexo enzimático responsável pela geração de superóxido, necessário para auxiliar no processo de eliminação de bactérias por fagocitose são a causa da Doença Granulomatosa Crônica (Rosenzweig e Holland, 2004). O principal gene afetado é o gp91phox, de herança recessiva ligada ao X, mas outros três genes autossômicos de herança recessiva podem sofrer mutações, causando a doença (Rosenzweig e Holland, 2004; Seger, 2008). Os principais germes isolados causadores de infecções nesses pacientes são: Staphylococcus aureus, Burkholderia cepacia, Serratia marcescens, Nocardia sp., and Aspergillus sp.; e os sítios de infecção mais frequentes envolvem pulmões, pele, linfonodo e fígado (Rosenzweig e Holland, 2004). Ocorre formação de granulomas, abscessos de pele, abscesso hepático, BCGíte, processo de cicatrização ruim, com eventual formação de fístulas e pneumonia por fungos (Seger, 2008). Deficiências de adesão leucocitária foram descritas e estão resumidas na tabela 3. Tabela 3: Deficiências de Adesão Leucocitária Doença Células afetadas Características clínicas LAD 1 N+M+L+NK retardo na queda do cordão umbilical, úlceras de pele, periodontite e leucocitose LAD 2 N+M retardo na queda do cordão umbilical, úlceras de pele, periodontite e leucocitose, grupo sanguíneo hh e retardo mental LAD 3 L+NK retardo na queda do cordão umbilical, úlceras de pele, periodontite e leucocitose com tendência a sangramento Deficiência de Rac 2 N leucocitose e má cicatrização de feridas Legenda:N- neutrófilos, M- monócitos e macrófagos, L- linfócitos, NK- natural killer, LADdeficiência de adesão leucocitária. Adaptado de Geha et al, 2007. As neutropenias também fazem parte desse grupo. Podem ser graves como a síndrome de Kostmann, que costuma ser fatal nos primeiros meses de vida, ou mais brandas como a neutropenia cíclica (Dror e Sung, 2004). Infecções de repetição são as principais manifestações clínicas, além de gengivite crônica na neutropenia cíclica (Dror e Sung, 2004). O tratamento com fator estimulador de colônia de neutrófilos (G-CSF) e, em casos específicos, o transplante de medula óssea, melhoram a qualidade de vida desses pacientes (Dror e Sung, 2004). 2.3.6. DEFEITOS DA IMUNIDADE INATA A identificação dos receptores da família Toll (toll-like receptors – TLR) permitiu a associação de algumas desordens dermatológicas a esse grupo de imunodeficiências primárias (Kang et al, 2006). Os receptores TLR e as moléculas envolvidas na transdução dos sinais gerados pelo engajamento destes receptores são importantes componentes da imunidade inata. É através desses receptores que a imunidade inata controla com precisão a ativação da resposta adaptativa ( Kang et al, 2006). A tabela 4 sumariza os tipos de imunodeficiências classificadas como defeitos da imunidade inata com os defeitos genéticos descritos e as principais manifestações clínicas. Tabela 4: Defeitos de imunidade inata Doença EDA-ID EDA-ID Deficiência de IRAK4 WHIM Epidermodisplasia verruciforme Encefalite pelo Herpes simplex Encefalite pelo Herpes simplex Defeito genético mutações de NEMO (modulador de ativação de NFκb mutação de IκBA resultando em ativação inadequada de NF−κB mutação de IRAK4 (um componente da via de sinalização de TLR) displasia ectodérmica hipoidrótica+ deficiência de célula T + infecções mutação de CXCR4 (receptor para CXCL12) hipogamaglobulilnemia+níveis de célula B reduzidos+ neutropenia+ verrugas/infecção pelo HPV mutação de EVER1 e EVER2 mutação de UNC93B1 mutação de TLR3 Manifestações clínicas displasia ectodérmica hipoidrótica+ deficiência de anticorpos específicos + infecções infecções piogênicas infecções pelo HPV e câncer de pele meningite e encefalite pelo herpes simplex 1 meningite e encefalite pelo herpes simplex 1 Legenda:EDA- ID- displasia ectodermica hipoidrótica com imunodeficiência; NEMOmodulador essencial de NF−κB ; NF−κB- fator nuclear κB; IκBA- potenciador do inibidor de cadeia leve kappa em células B; IRAK- cinase associada ao receptor IL-1; TLR- receptor toll-like; WHIM – síndrome de verrugas, hipogamaglobulinemia, infecções e mielocatexia. HPV- vírus papiloma humano. Adaptado de Geha et al, 2007. 2.3.7. DESORDENS AUTOINFLAMATÓRIAS Grupo de desordens que não cursa com infecções de repetição, mas com processos inflamatórios espontâneos, sem que haja títulos aumentados de auto-anticorpos para justificar uma doença autoimune. Nove síndromes autoinflamatórias hereditárias já foram identificadas (Padeh e Berkun, 2007). • Febre Familiar do Mediterrâneo (FMF) • Síndrome periódica associada ao receptor de fator de necrose tumoral (TRAPS) • Hiperimunoglobulinemia D e síndrome de febre periódica (HIDS) • Síndrome autoinflamatória ao frio familiar (FCAS)/ urticária ao frio familiar (FCUS) • Síndrome de Muckle-Wells (MWS) • Doença Inflamatória Multisistêmica de Início Neonatal(NOMID)/Síndrome Neurológica, Cutânea e Articular Crônica Infantil (CINCA) • Síndrome Blau • Síndrome PAPA( artrite estéril piogênica, pioderma gangrenoso e acne) • Síndrome de Mageed (osteomielite multifocal recorrente crônica) O principal sinal é a febre recorrente, exceto na Síndrome de MuckleWells, cujos sintomas são urticária, perda auditiva e amiloidose (Geha et al, 2007). A maioria dos pacientes apresenta mutações em genes da família da pirina ou da superfamília do fator de necrose tumoral (TNF) (Padeh e Berkun, 2007). Sintomas da FMF incluem: episódios de febre alta, acompanhados de peritonite, sinovite e pleurite. A dor abdominal pode confundir com apendicite aguda e, às vezes, se associada a vômitos e diarréia. Manifestações cutâneas, mialgia e dor articular também podem estar presentes (Padeh e Berkun, 2007). A síndrome PFAPA, caracterizada por crises episódicas de febre alta, estomatite aftosa, faringite e adenite cervical, ainda não faz parte da classificação de Geha e colaboradores, 2007, mas é considerada uma doença autoinflamatória (Padeh e Berkun, 2007). 2.3.8. DEFEITOS DO COMPLEMENTO Os defeitos do sistema Complemento compreendem um conjunto de deficiências bastante raras, associadas as doenças autoimunes como o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) (Wen et al, 2004). Infecções recorrentes por Neisseria gonorrhoeae ou N. meningitidis devem levantar a suspeita de defeitos do complemento, mas infecções piogênicas também podem ocorrer (Wen et al, 2004). A deficiência de inibidor de C1-esterase (C1INH), um regulador da cascata do complemento, resulta no Angioedema Hereditário, doença de herança autossômica dominante que se caracteriza por crises recorrentes de edema subcutâneo e submucoso em qualquer parte da pele ou dos tratos respiratório e gastrointestinal (Gompels et al, 2005). O edema é indolor, circunscrito e não pruriginoso, sem associação com urticária. Surge espontâneamente ou após traumatismos e involui espontâneamente em 48 a 72 horas (Wen et al, 2004 e Gospels et al, 2005). Outras deficiências e as síndromes associadas estão listadas na tabela 5. Tabela 5: Deficiências de complemento Síndrome Infecções Desordens reumáticas Dano renal HPN Componentes Via Herança C1q, C1r, C1s, C4, C2 VC Autossômica C3 VC, VA,VL Autossômica C5, C6, C7, C8, C9 fator H, fator I Todas (MAC) Autossômica VA (inibidores) Autossômica Properdina ligado ao X MLB VA (estabilizador) VL Autossômica CR3 C1, C2, C4 Receptor VC Autossômica Autossômica MBL C3 VL VC, VA,VL Autossômica Autossômica fator H VA (inibidor) Autossômica CD46 fator acelerador de decaimento, CD59 inibidor de VA inibidor de VA e MAC Autossômica mutação somática do crom X Correlação clínica LES, infecções recurrentes bacterianas glomerulonefrite infecções piogênicas graves infecções por Neisseria infecções piogênicas, Glomerulonefrite SHU infecções por Neisseria infecções piogênicas e sepse em crianças e neonatos, LES LAD LES LES glomerulonefrite membranoprolife rativa e infecções SHU atípico, glomerulonefrite SHU atípico hemólise e trombose Legenda: VA - via clássica, LES - lupus eritematoso sistêmico, VA - via alternativa, VL - via das lectinas (MBL), MAC - complexo de ataque a membrana, LAD - defeito de adesão leucocitária, SHU - síndrome hemolítico-urêmica, HPN – hemoglobinúria paroxística noturna. Adaptado de Wen et al, 2004. 2.4. DIAGNÓSTICO A abordagem do paciente com suspeita de imunodeficiência primária se inicia com a obtenção de história clínica e exame físico (Ballow e O’Neil, 2003) A suspeita de uma imunodeficiência deve ser levada em consideração frente a um paciente com infecções de repetição (Bonilla e Geha, 2003; Bonilla et al, 2005; Stiehm et al, 2004; Rosen et al, 1999). A Fundação Jeffrey Modell, junto com a Cruz Vermelha Norte Americana desenvolveram dez critérios (anexo 1) que indicam a investigação de IDP (http://www.jmfworld.org). Esses critérios já foram adaptados para nosso meio e podem ser verificados na figura 1. Figura 1: Sinais de Alerta para investigação de IDP Os 10 Sinais de Alerta para Imunodeficiência Primária na Criança adaptados para o nosso meio são: 1. Duas ou mais Pneumonias no último ano 2. Quatro ou mais novas Otites no último ano 3. Estomatites de repetição ou Monilíase por mais de dois meses 4. Abscessos de repetição ou ectima 5. Um episódio de infecção sistêmica grave (meningite, osteoartrite, septicemia) 6. Infecções intestinais de repetição / diarréia crônica 7. Asma grave, Doença do colágeno ou Doença auto-imune 8. Efeito adverso ao BCG e/ou infecção por Micobactéria 9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada a Imunodeficiência 10. História familiar de imunodeficiência Adaptado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI) e Grupo Brasileiro de Estudos de Imunodeficiências Primárias (BRAGID) da fundação Jeffrey Modell e Cruz Vermelha Americana. (http://www.imunopediatria.org.br) Algumas infecções são mais relacionadas com determinados tipos de IDP, o que pode ajudar a guiar os testes iniciais (Bonilla e Geha, 2003). Os defeitos de anticorpos cursam com infecções sinopulmonares causadas por bactérias encapsuladas, giardíase de repetição e enteroviroses (Bonilla e Geha, 2003; Verbski et al, 2006). Defeitos combinados de célula T e B podem apresentar qualquer tipo de infecção, inclusive por patógenos oportunistas como P. jiroveci, enquanto que, nos defeitos de complemento, o patógeno mais isolado é a Neisseria sp. (Bonilla e Geha, 2003; Verbski et al, 2006). A tabela 6 sumariza os imunológicos. principais patógenos associados aos principais defeitos Tabela 6: Patógenos associados aos principais defeitos imunológicos Organismo Defeitos de anticorpos Vírus ENTEROVIRUS Bactéria S pneumoniae, H influenzae, S aureus, Pseudomonas aeruginosa, Clostridium fetus, N meninigitidis, Mycoplasma hominis, Ureaplasma ureolyticum Micobactéria Fungo INCOMUM NÃO Protozoário Giardia lamblia Deficiência combinada (T e B) VÁRIOS Defeitos de fagócitos INCOMUM INCOMUM Mesmos do defeito de anticorpo + Listeria monocytogenes, Salmonella typhi, microbiota entérica S aureus, microbiota entérica, P aeruginosa, S typhi, Nocardia asteroides Mesmos dos defeito de anticorpo, especialmente N meninigitidis Micobactérias ambientais, incluindo BCG Micobactérias ambientais, incluindo BCG NÃO Candida albicans, Histoplasma capsulatum, Aspergillus fumigatus, Coccidioides immitis A fumigatus, C albicans NÃO P jiroveci, Toxoplasma gondii P jiroveci NÃO Defeitos de complemento Legenda:BCG- Bacilo de Calmette Guérin.Adaptado de Bonilla e Geha, 2003. A idade de início dos sintomas também pode ajudar. Quanto mais cedo surgem os sintomas, mais grave deve ser o defeito (Ballow e O’Neil, 2003). As deficiências combinadas se desenvolvem nos primeiros meses de vida, enquanto que a Imunodeficiência Comum Variável pode surgir na vida adulta. A história familiar pode ser sugestiva, já que muitas IDP são de herança autossômica recessiva ou ligada ao X. Histórias de aborto recorrente, consangüinidade, óbitos na infância por infecções graves ou diagnósticos de imunodeficiência em parentes devem ser valorizadas (Ballow e O’Neil, 2003). O exame físico deve ser completo, com parâmetros de crescimento, procura de linfonodos palpáveis, tonsilas, dismorfismos, lesões de pele como candidíase, úlceras, petéquias, eczema, cicatriz de abscessos, impetigo, entre outras (Ballow e O’Neil, 2003). Em 1999, Conley e colaboradores publicaram critérios para o diagnóstico das principais imunodeficiências primárias (figura 2). São critérios divididos em três categorias: definitivo, provável e possível. Pacientes com critérios de diagnóstico definitivo possuem 98% de probabilidade de ainda ter o mesmo diagnóstico em 20 anos. São os pacientes com a alteração genética documentada. Pacientes sem o diagnóstico genético, mas com os exames laboratoriais e clínicos compatíveis com a síndrome, têm o diagnóstico provável e 85% de chance de manter o diagnóstico em 20 anos. Sem todas as características clínicas e laboratoriais compatíveis com a imunodeficiência, o diagnóstico é considerado possível. Figura 2: Síndromes com critérios diagnósticos estabelecidos IMUNODEFICIÊNCIA COMUM VARIÁVEL DEFICIÊNCIA DE IgA IMUNODEFICIÊNCIA COMBINADA GRAVE SÍNDROME DE DiGEORGE DEFICIÊNCIA DE MHC CLASSE II DEFEITOS DE ADESÃO LEUCOCITÁRIA DOENÇA GRANULOMATOSA CRÔNICA IMUNODEFICIÊNCIA COMBINADA GRAVE LIGADA AO X AGAMAGLOBULINEMIA LIGADA AO X SÍNDROME HIPER IgM LIGADA AO X ATAXIA TELANGIECTASIA SÍNDROME DE WISKOTT-ALDRICH SÍNDROME LINFOPROLIFERATIVA LIGADA AO X Conley et al, 1999 Os testes diagnósticos de triagem dos principais tipos de imunodeficiência podem ser divididos em quatro grupos, a seguir (Folds e Schmitz, 2003; Verbsky et al, 2006; Azar e Ballas, 2007): Suspeita de defeito combinado ou de células T: • Leucograma com diferencial de leucócitos • Subtipos de linfócitos (citometria de fluxo)-CD3, CD4, CD8, CD19, CD56 • Sorologias para antígenos vacinais: tétano, difteria e pneumococo ( se negativos, revacinar e checar novamente em 3-4 semanas) • Imunoglobulinas (IgA, IgG, IgM, IgE) • Testes de linfoproliferação • Considerar testes de hipersensibilidade tardia (testes intradérmicos para candidina, tricofitina, streptoquinase, PPD) Suspeita de defeitos humorais: • Sorologias para antígenos vacinais : tétano, difteria e pneumococo ( se negativos, revacinar e checar novamente em 3-4 semanas) • Imunoglobulinas (IgA, IgG, IgE, IgM) • Considerar teste do suor para excluir fibrose cística e tomografia computadorizada de tórax e/ou seios da face • Avaliação de subtipos de células B por citometria de fluxoCD19, CD20, CD27 • Subclasses de IgG • Ensaio de proliferação de células B • Avaliação de depuração muco-ciliar (excluir Síndrome dos cílios imóveis) Suspeita de defeitos de fagócitos: • Contagem global e diferencial de leucócitos • Teste de nitroblue tetrazolium (NBT) ou diidro-rodamina (citomertria de fluxo) • Ensaio de fagocitose ou ensaio de quimiotaxia Suspeita de defeitos de complemento: • C3, C4 • CH50 • C1INH Causas de imunodeficiência secundária como HIV, desnutrição e neoplasias devem ser excluídas. Abaixo, a figura 3 lista os principais exames. Figura 3: Testes de triagem iniciais para excluir causas secundárias de imunodeficiência • Leucócitos com diferencial • Bioquímica (creatinina, uréia, provas de função hepática, glicemia) • EAS • Proteínas totais e frações • Sorologia anti-HIV • Exames de imagem (radiografia de tórax, tomografia computadorizada de tórax, radiografia de seios da face) • Culturas apropriadas, se indicado Adaptado de Azar e Ballas, 2007 CAPÍTULO 3 - JUSTIFICATIVA A descoberta de mais de 120 tipos de defeitos do sistema imune, devido ao crescimento das pesquisas genéticas (Fleisher e Oliveira, 2004), chamou a atenção de especialistas em todo o mundo, que passaram a considerar essas desordens como um problema de saúde pública (Lindegren et al, 2004). Mesmo raras, as IDP são potencialmente graves, levam a seqüelas debilitantes e a uma maior propensão a neoplasias malignas, gerando um custo elevado de tratamento e acompanhamento (Espanõl et al, 2005). Essa preocupação fez com que diversos países se reunissem em grupos de estudo com os objetivos de conhecer melhor os dados epidemiológicos dessas desordens, difundir conhecimento e proporcionar uma melhor qualidade de vida para esses pacientes, organizando centros especializados para diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos mesmos. O LAGID ( Latin American Group for the study of Primary Immune Deficiencies) realizou sua primeira reunião em 1993 contando com poucos países como Brasil, Chile, Argentina e Colômbia e, já em 2006, contava com a participação de treze países (http://www.imunopediatria.org.br ). Em 2001, baseando-se na premissa de que “as características que definem as imunodeficiências primárias as tornam candidatas para uma abordagem de intervenção de saúde pública” (Lindegren et al, 2004), o Centro de Controle de Doenças (CDC) organizou um encontro entre especialistas em diversas áreas relacionadas à imunodeficiência primária e saúde pública. O resultado foi publicado em 2004 com recomendações para aplicação de estratégias de saúde pública para o melhor atendimento dos pacientes com imunodeficiência primária. No Brasil, as IDP representam um alto custo para o Sistema Único de Saúde (SUS) devido ao grande número de internações, muitas vezes prolongadas ou em unidades de cuidados intensivos; dificuldades diagnósticas com utilização de exames solicitados sem critérios adequados; uso de antibioticoterapia de largo espectro e/ou por tempos prolongados; complicações da própria doença; alto custo do tratamento e risco maior de desenvolvimento de autoimunidade e neoplasias. Durante minha pós-graduação em Alergia e Imunologia, no Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG), pude vivenciar as dificuldades do acompanhamento de pacientes com suspeita de imunodeficiência. Os pacientes chegam ao ambulatório tardiamente, já com seqüelas de difícil recuperação, não têm acesso a todos os exames para o diagnóstico e o tratamento é difícil e oneroso. Diante desse quadro, em 2002, profissionais de saúde envolvidos com esse tema organizaram o Grupo Brasileiro para o Estudo de Imunodeficiências Primárias (BRAGID) com objetivos de ( http://www.imunopediatria.org.br ): 1. Educação de médicos sobre diagnóstico e tratamento das Imunodeficiências Primárias no Brasil 2. Desenvolvimento de uma rede de laboratório por todo o país 3. Estabelecimento de uma rede de comunicação entre os centros de referências para diagnóstico e tratamento de Imunodeficiências Primárias Em 22 de dezembro de 2005, a Secretaria de Atenção à Saúde resolveu, através da Portaria número 745, estabelecer o Instituto Fernandes Figueira como Referência Nacional para o Ministério da Saúde na Área de Saúde da Mulher, Criança e Adolescente para o desenvolvimento de ações de articulação e assessoria à rede nacional para o cuidado dos pacientes de imunodeficiência primária. O estudo do perfil clínico e laboratorial dos pacientes com suspeita de imunodeficiência primária permitirá um melhor conhecimento sobre o comportamento dessas desordens em uma população brasileira e poderá contribuir com novos estudos epidemiológicos necessários para se alcançar os objetivos almejados pelo centro de referência. CAPÍTULO 4 - OBJETIVOS 4.1. GERAL: Descrever o perfil clínico e laboratorial dos pacientes com suspeita de imunodeficiência primária atendidos no ambulatório de alergia e imunologia pediátrica do IPPMG. 4.2. ESPECÍFICOS: 4.2.1. Identificar e classificar os pacientes com diagnóstico de IDP e verificar, sempre que aplicável: a) Gênero b) Raça c) Origem d) Consangüinidade e) História familiar de IDP f) A idade de manifestações dos primeiros sintomas g) Idade na primeira visita h) Motivo de encaminhamento i) Quem está encaminhando j) Quais as principais manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes k) Principais patógenos identificados l) Número de internações em enfermarias e/ou unidades fechadas m) Histórico de hemotransfusões n) Alterações de desenvolvimento psicomotor o) Reações vacinais p) Histórico do parto q) História alimentar r) Hipóteses diagnósticas s) Quais os exames que estão sendo realizados para o diagnóstico t) Quais os principais diagnósticos u) O tempo decorrido entre os primeiros sintomas e o diagnóstico v) O tempo decorrido entre a primeira visita e o diagnóstico w) Principais seqüelas x) Quais os tratamentos que estão sendo instituídos para os pacientes y) Desfecho do paciente 4.2.2. Verificar se o formulário de primeira vez utilizado no serviço acelera a definição do diagnóstico. 4.2.3 Propor um novo formato de formulário para a coleta de dados na consulta de primeira vez e no acompanhamento dos pacientes no serviço. CAPÍTULO 5 - MATERIAL E MÉTODOS 5.1. DESENHO DO ESTUDO Foi realizado um estudo do tipo transversal descritivo retrospectivo através de revisão de prontuários e formulário de primeiro atendimento no serviço. 5.2. AMOSTRA Foram incluídas no estudo todas as crianças com diagnóstico e/ou suspeita de imunodeficiência Imunodeficiências primária Primárias do Serviço atendidas no de Alergia e ambulatório de Imunologia do IPPMG/UFRJ no período de Janeiro de 2006 a Junho de 2008. Os pacientes que permanecem em acompanhamento tiveram a coleta de dados censurada a partir de junho de 2008 ou a partir da data de última consulta. Os criterios de exclusão foram pacientes cujos prontuários ou fichas de primeira vez não puderam ser acessados. 5.3. LOCAL DO ESTUDO O estudo foi realizado no ambulatório de Imunodeficiências Primárias do Serviço de Alergia e Imunologia do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O IPPMG/UFRJ é um hospital pediátrico universitário , terciário, serviço de referência em pediatria no Rio de Janeiro, que realiza cerca de 48.000 atendimentos ambulatoriais/ano, com 1.500 admissões de novos pacientes/ano (dados do serviço do Arquivo Médico do IPPMG). Possui ambulatórios de diversas especialidades que atende crianças com desordens de alta complexidade. O Serviço de Alergia e Imunologia recebe semanalmente pacientes novos, referendados de todo o estado do Rio de Janeiro, e eventualmente de outros estados, para consulta e avaliação alergoimunológica, além de acompanhar regularmente pacientes com diagnóstico comprovado de imunodeficiência primária. Em média são vistos 10 pacientes por semana, em 2 turnos: segunda-feira (tarde) e quarta-feira (manhã), incluindo as avaliaçãoes de primeira vez, as consultas de seguimento e as infusões de gamaglobulina intravenosa. Os pacientes com suspeita de imunodeficiência primária respondem a um formulário de primeiro atendimento criado pelo serviço ( anexo 2 ). 5.4. VARIÁVEIS As informações dos prontuários e dos formulários de primeira vez foram obtidas através de um instrumento de coleta de dados preenchido pelo pesquisador (apêndice 1). Os dados e as variáveis foram as seguintes: • Identificação do paciente • Registro da instituição • Data de nascimento • Data da primeira consulta • Data do início dos sintomas • Gênero • Raça • Município ou estado de origem • Motivo do encaminhamento ao serviço • Origem do encaminhamento • Consangüinidade • História familliar de imunodeficiência, sendo considerada positiva quando algum membro da família tiver o diagnóstico de imunodeficiência primária ou apresentar infecções frequentes, tendo ou não levado a óbito do mesmo • Histórico de infecções com patógenos isolados • História do parto e neonatal com peso de nascimento, comprimento, perímetro cefálico, apgar e intercorrências • Alterações de desenvolvimento neuropsicomotor • Internações em enfermaria e/ou unidades fechadas com tempo médio de internação • Reações vacinais, incluindo reações à BCG e necessidade de tratamento • História de hemotransfusões e possíveis reações • Diagnóstico de doença do refluxo gastroesofágico • Principais exames solicitados • Conduta terapêutica • Acompanhamento do uso de gamaglobulina com dose prescrita, intervalo de doses, regularidade do uso, reações adversas • Acompanhamento do uso de antibiótico profilático com tipo de antibiótico prescrito, regularidade do uso, reações adversas • Hipóteses diagnósticas prováveis • Diagnóstico final • Destino do paciente. Podendo ter alta, óbito ou seguimento 5.5. PROCESSAMENTO DOS DADOS Os dados foram codificados, e transferidos para um banco de dados utilizando o programa Excel®3 e processados utilizando os programas Excel® e Statistica®4. 5.6. ANÁLISE DOS DADOS As variáveis foram descritas através de freqüências absolutas e percentuais para dados qualitativos e, através de médias, desvio padrão e medianas para dados quantitativos. Para testar a hipótese que o formulário de primeira vez utilizado no serviço acelera o processo de definição diagnóstica, foi utilizado o teste não paramétrico de Mann Whitney. A amostra foi dividida em três grupos: Grupo A- pacientes com prontuário revisado Grupo B- pacientes com prontuário e formulário de primeira vez revisados Grupo C – pacientes com formulário de primeira vez revisados 3. Excel é um programa da Microsoft Office para Windows. Foi utilizada a versão para Windows 2007 4. Statistica é um programa da Starsoft , Inc. Foi utilizada a versão 7.0 Os grupos A e B foram comparados em relação ao tempo em meses entre a primeira visita e o diagnóstico. Foi consideredo significativamente estatístico o resultado com valor de p < 0.05. A exploração gráfica foi feita através dos programas Excel® e Statistica®. CAPÍTULO 6 - ASPECTOS ÉTICOS A pesquisa foi feita em consonância com o estabelecido na Resolução no. 196/96 do CONEP/ Ministério da Saúde e suas complementares e com o Código de Ética Médica de 1988. O projeto de pesquisa foi aprovado (Projeto 26/06) pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira/ UFRJ. CAPÍTULO 7 - RESULTADOS: 7.1. Casuística Foram encontrados registros de atendimento de 206 pacientes com suspeita de imunodeficiência primária no ambulatório de Alergia e Imunologia no período de janeiro de 2006 a junho de 2008, nas agendas de marcação do serviço, nos formulários de primeira vez preenchidos e no arquivo nosológico do serviço. Destes, 25 não puderam ser analisados em tempo hábil por estarem passando por um processo de digitalização em uma firma tercerizada ou não terem sido encontrados, e foram excluídos. Foram incluídos 181 pacientes atendidos e que estavam de acordo com os critérios de inclusão estabelecidos. 7.2. Distribuição por gênero Dos 181 pacientes incluídos, 81(44,8%) eram do gênero feminino e 100 (55,2%) masculino, com um predomínio do sexo masculino de 1,23/1 (figura 4). Figura 4: Distribuição percentual de pacientes de acordo com o gênero. 7.3. Distribuição por raça Dados sobre a raça não foram informados em 87% dos pacientes e, dessa forma, não foram analisados. 7.4. Origem A maioria dos pacientes residia no município do Rio de Janeiro, contabilizando 101 casos (55,8%). Havia dois pacientes (1,1%) de fora do estado do Rio de Janeiro e oito pacientes (4,4%) sem a informação sobre o endereço de residência. Dos 70 pacientes (38,7%) de outros municípios dentro do estado do Rio de Janeiro, o município de Duque de Caxias foi a principal origem relatada, com 11casos (6%). 7.5. Consanguinidade e história familiar Apenas cinco pacientes (3%) apresentavam história de consanguinidade e, em 63 casos (35%), o dado não foi coletado. A história familiar de IPD foi positiva em 50 casos(28%) e 18 casos (10%) não continham o dado. 7.6. Idade nos primeiros sintomas A idade de apresentação dos sintomas variou do nascimento a 132 meses, com média de 21,8 + 30 meses e mediana de 8 meses. A figura 5 demonstra o número de ocorrências pelas idades. Número de ocorrências 0 12 24 36 48 60 72 84 Idade (meses) 96 108 120 132 NA Figura 5: Distribuição de pacientes pela idade dos primeiros sintomas. O eixo horizontal (abscissas) corresponde às idades em meses e o eixo vertical (ordenadas) ao número de pacientes. NA- dado não analisado 7.7. Idade na primeira visita A idade na primeira visita variou de 0,2 a 203,51 meses com média de 67,52 +49,43 e mediana de 59,21meses. A curva de idade na primeira visita apresentou dois picos: o primeiro nos primeiros 60 meses de vida e o segundo, um pouco menor, dos 72 aos 120 meses (figura 6). A figura 7 divide os pacientes por faixa etária mostrando a maioria dos pacientes com idade de primeira visita nos primeiros 10 anos de vida. 7.8. Motivo de encaminhamento e origem de encaminhamento A ocorrência de infecções freqüentes foi o motivo de encaminhamento em 135 pacientes (75%) dos casos. Porém, foi impossível analisar se os pacientes se enquadravam entre os sinais de alerta por falta de informações suficientes. O local que mais encaminhou pacientes foi o IPPMG, com 60 pacientes (33%) encaminhados. Os ambulatórios de Pediatria Geral e Hematologia foram os principais serviços que encaminharam com 12 pacientes (6,6%) e 11 pacientes (6%) respectivamente. Em 94 casos (52%), os dados relativos a origem do encaminhamento não puderam ser obtidos. Serviços da rede SUS encaminharam 14 pacientes (8%). Número de pacientes Idade (meses) Figura 6: Distribuição de pacientes pela idade na primeira visita. O eixo das ordenadas corresponde ao número de pacientes e o eixo das abscissas corresponde à idade em meses. Estão destacados pelas linhas em laranja os picos de idade de encaminhamento ao Serviço de Referência. Número de pacientes Faixa etária (meses) Figura 7: Distribuição de pacientes pela idade na primeira visita separados por faixa etária. O eixo das ordenadas corresponde ao número de pacientes e os valores dispostos abaixo de cada coluna correspondem à faixa etária. 7.9. Sítios de infecções A principal infecção encontrada foi Pneumonia5, com 119 casos(66%), totalizando 18% do total de infecções. Noventa e dois pacientes (51%) apresentaram diarréia, 80 pacientes (44%) apresentaram amigdalite, 66 pacientes (36%) apresentaram sinusite, 61 pacientes (34%) apresentaram estomatite, 58 pacientes (32%) apresentaram infecções cutâneas, 53 pacientes (29%) apresentaram candidíase oral e/ou perineal/genital, 50 pacientes (28%) apresentaram otite média, 17 pacientes (9%) apresentaram sepse, 11 pacientes (6%) apresentaram meningite, 3 pacientes (2%) apresentaram osteomielite (tabela 7 ) A figura 8 mostra a distribuição dos sítios de infecções pelo número de pacientes. Em relação ao número de sítios de infecções por paciente, 7 pacientes não apresentaram infecções e 1 paciente apresentou infecções em 9 sítios diferentes. A figura 9 mostra a distribuição de sítios de infecções por pacientes. Número de eventos infecciosos Figura 8: Distribuição de número de eventos infecciosos por sítio. Tabela 7: Distribuição absoluta e percentual de infecções por sítio Infecções Pneumonia Total 119 % 66% Diarréia 92 51% Amigdalite 80 44% Sinusite 66 36% Estomatite 61 34% Outros 60 33% Infecções cutâneas 58 32% Candidíase 53 29% Otite média 50 28% Sepse 17 9% Meningite 11 6% Osteomielite 3 2% Número de pacientes Figura 9: Distribuição de sítios de infecção por paciente. O eixo vertical corresponde ao número de pacientes e o eixo horizontal ao número de sítios de infecção. 7.10. Sinais de alerta Os sinais de alerta referentes ao número de infecções apresentadas no último ano não puderam ser analisadas porque os dados coletados não foram considerados satisfatórios para análise. Os sinais de alerta encontrados podem ser verificados na tabela 8. Asma grave e doenças autoimunes estavam presentes em 4 pacientes respectivamente, efeito adverso ao BCG foi relatado por 3 pacientes, fenótipo sugestivo de síndrome associada a imunodeficiência foi visto em 5 pacientes, infecção por micobactéria em 2 pacientes. Juntos, somam 10% dos casos. Pelo menos 1 episódio de infecção grave foi visto em 28 pacientes (15,5%). Tabela 8: Distribuição absoluta e percentual dos sinais de alerta encontrados No de pacientes % Asma grave 4 0.02% Doença autoimune 4 0.02% Efeito adverso ao BCG 3 0.02% Fenótipo sugestivo de síndrome associada a imunodeficiência 5 0.03% Infecção por micobactéria 2 0.01% 1 episódio de infecção grave (sepse, meningite, osteoartrite) 28 15,5% Sinais de alerta 7.11. Culturas Apenas 26 resultados de exames microbiológicos foram encontrados. Os resultados podem ser vistos na tabela 9. 7.12. Internações Dos 181 casos, 122 (67%) relataram internações. Em 21% dos casos não havia informações sobre o número de internações e, em 68% dos casos não havia relato da quantidade de dias internado. Em relação à unidades fechadas (UTI), 34 casos (19%) relataram internação. Em 2% dos casos não havia informação sobre o número de internações e, em 35% dos casos não havia informação sobre a quantidade de dias internado. Em 15% e 41% dos casos não havia informação alguma referente à internações e internações em unidades fechadas, respectivamente. Os resultados de média, desvio padrão e mediana de internações em enfermaria e unidades fechadas podem ser vistos na tabela 10 e os resultados de média, desvio padrão e mediana de dias internados em enfermaria e unidade fechada podem ser vistos na tabela 11. Tabela 9: Patógenos identificados Patógeno Identificado Acinetobacter Total 2 Bacilo de Koch 2 Campylobacter jejuni 1 Candida Albicans 1 E. Coli 1 Giardia lamblia 2 Herpes simples 2 Micobacteria atípica 1 Neisseria meningitidis 1 Proteus mirabilis 3 Pseudomonas aeruginosa 1 Rotavirus 1 Salmonella sp 2 Serratia 1 Staphylococcus aureus 1 Staphylococcus coagulase - 2 Staphylococcus α hemolítico 2 Total 26 Tabela 10: Número de internações (média, mediana e desvio padrão) em enfermaria ou unidade fechada por paciente. Internações Enfermaria UTI Média (DP) Mediana 3.25 (+3.03) 2 1.34 (+0.70) 1 UTI – unidade de tratamento intensivo, DP- desvio padrão Tabela 11: Duração (média, mediana e desvio padrão) em dias das internações em enfermaria ou unidade fechada Internações Enfermaria UTI média (+DP) Dias internados 12.65 (+12.37) mediana 9.5 19.81 (+15.47) 15 UTI – unidade de tratamento intensivo, DP- desvio padrão 7.13. Hemotransfusões Havia relato de hemotransfusões em 26 casos (14%). Destes, 2 apresentaram reações. Não havia informação a respeito de reação em 4 casos. Não havia relato de hemotransfusões em 26 casos (14%) e o restante (71%) negou hemotransfusão. 7.14. Alterações de desenvolvimento psicomotor Havia relato de desenvolvimento psicomotor alterado em 32 casos (18%). Não havia essa informação em 11 casos (6%). 7.15. Histórico de reações vacinais Houve relato de reações vacinais em 13 pacientes (7%). Em 10 pacientes a reação foi à vacina de BCG e, destes, 5 não necessitaram de tratamento e 1 dado não foi encontrado. 7.16. Cicatriz de BCG Dos 181 pacientes, não havia relato sobre cicatriz de BCG em 171 casos (94%). Três casos (2%) não apresentavam cicatriz e 7 casos (4%) apresentavam. 7.17. Histórico do parto Os pacientes foram divididos em três grupos de acordo com peso de nascimento. • Grupo de pacientes cujos dados não foram obtidos • Grupo pacientes com peso de nascimento < 2,5 Kg • Grupo de pacientes com peso de nascimento > 2,5 Kg A maioria dos pacientes (73%) apresentava peso normal de nascimento, acima de 2,5 Kg. Os resultados se encontram na tabela 12. As médias, desvios padrões e medianas referentes ao peso de nascimento, comprimento de nascimento e perímetro cefálico se encontram na tabela 13. A média de dias de queda do coto umbilical foi de 8,24 (+ 4,6) e mediana de 7 dias. O número de dias variou de 3 a 30 dias. Em 37 (20,4%) casos não havia essa informação. As medidas de Apgar não foram obtidas em 123 casos 68%), sendo insuficiente para análise. O parto ocorreu sem intercorrências em 109 casos (60%) e 21 casos (12%) não apresentavam esse dado. Tabela 12: Distribuição de pacientes pelo peso de nascimento Peso (Kg) Pacientes % <2,500 22 12 >2,500 133 73 Dado não obtido 26 14 Tabela 13: Dados antropométricos (médias, medianas e desvio padrão) mensurados ao nascimento Dados de nascimento Peso (Kg) Comprimento (cm) Perímetro cefálico (cm) Média (+ DP) Mediana 3,133 (+ 0,576) 3.23 48,9 (+ 3,1) 49 33,91 (+ 2,24) 34 Kg- quilograma; cm- centímetros; DP- desvio padrão 7.18. História alimentar Os dados obtidos sobre a história alimentar e os resultados estão resumidos na tabela 14. 7.19. Hipóteses diagnósticas As hipóteses diagnósticas foram agrupadas de acordo com a classificação de IDP publicada por Geha et al 2007 (anexo 3). As imunodeficiências predominantemente de anticorpos foram as principais hipóteses encontradas, com 47 casos (21%), seguidas por defeitos congênitos de fagócitos com 32 casos (15%), outras síndromes de imunodeficiência bem definidas com 17 casos (8%), desordens autoinflamatórias com 15 casos (7%), imunodeficiências combinadas com 10 casos (5%), doenças de desregulação imune com 7 casos (3%), defeitos do complemento com 3 casos (1%) e defeitos de imunidade inata com 2 casos (1%). Hipótese diagnóstica de afecção não pertencente ao grupo das IDP (não imunodeficiência) foi encontrada em 27 casos (12%) e outras hipóteses diagnósticas bem definidas em 11 casos (5%). Em 3 casos (1%) foram encontradas hipóteses de imunodeficiências secundárias e em 46 casos (21%), esse dado não foi obtido. A figura 10 ilustra os resultados acima citados. Tabela 14: distribuição de pacientes pela história alimentar (aleitamento materno exclusivo por 6 meses, reação à proteína heteróloga e refluxo gastroesofágico Dados Sim (%) Não (%) ND (%) 43 (24) 115 (64) 23 (13) Reação à ptn heteróloga 18 (10) 141 (78) 22 (12) RGE* 16 (9) 104 (57) 60 (33) AME * Um paciente apresentou o dado de RGE possível; AMEaleitamento materno exclusivo; RGE- refluxo gastroesofágico ND- não divulgado Figura 10: Distribuição percentual de hipóteses diagnósticas dos pacientes encaminhados ao serviço, no momento da chegada, por grupo de Imunodeficiência 7.20. Exames solicitados X exames realizados Ao todo foram solicitados 978 exames. Destes 272 (28%) não foram realizados ou o resultado não foi encontrado. A tabela 15 relaciona os exames e a freqüência com que foram solicitados e realizados. Os hemogramas, imunoglobulinas, autoanticorpos, teste de Coombs, sorologia anti-HIV, e teste cutâneo de leitura imediata (puntura) foram realizados em mais de 80% dos casos. Testes intradérmicos para avaliação de hipersensibilidade tardia (DTH), teste do suor, tomografia computadorizada (TC) de tórax, foram realizados em 70 a 75% dos casos. Subclasses de IgG, Diidro-rodamina (DHR), imunofenotipagem (contagem de células T, B e NK), avaliação do complemento (C3, C4 e complemento hemolítico total), pesquisa de deficiência de G-6PD, dosagem de iso-hemaglutininas, mielograma ou biópsia de medula óssea, radiografia de tórax e radiografia de cavum foram realizados em menos de 70% dos casos. A avaliação da resposta imune contra antígenos polissacarídicos através da dosagem de anticorpos específicos após vacina anti-pneumocóccica não-conjugada (23-valente) não foi realizada em mais da metade dos casos em que foram solicitadas (59%). Não foi encontrado relato de solicitação de teste de imunoproliferação. Tabela 15: Ocorrências de exames solicitados e realizados por tipo de exame Exames Solicitados Realizados (%) Hemograma 178 147 (83%) Imunoglobulinas 179 146 (82%) Sub-classes de IgG 49 25 (51%) DHR 37 25 (68%) Imunofenotipagem 93 48 (52%) Avaliação de complemtento 104 66 (63%) G-6PD 21 12 (57%) Autoanticorpos 14 12 (86%) Iso-hemaglutininas 25 17 (68%) Mielograma/BMO 8 5 (63%) Resposta à vacina antipneumocóccica 22 9 (41%) Teste de Coombs 3 3 (100%) Teste de linfoproliferação 0 0 Teste do suor 32 24 (75%) Teste ID 33 23 (70%) Sorologia anti-HIV 73 67 (92%) Teste de puntura 23 20 (87%) Radiografia de tórax 38 25 (66%) TC de tórax 20 14 (70%) Radiografia de cavum 26 17 (65%) IgG- Imunoglobulina G; DHR- diidrorodamina; G6PD- glicose 6 fosfato desidrogenase; BMO- biópsia de medula óssea; ID- intradérmico; HIV- vírus da imunodeficiência humana; TC- tomografia computadorizada 7.21. Diagnóstico final O diagnóstico foi definido em 78 (43,1%) casos, sendo 36 (46%) não imunodeficiências. Os diagnósticos foram distribuídos conforme o grupo da classificação publicada por Geha et al em 2007. A maioria dos diagnósticos pertenceu ao grupo de imunodeficiências predominantemente de anticorpos com 15 casos (19%), seguido de defeitos congênitos de fagócitos com 6 casos (8%), outras síndromes bem definidas com 4 casos (5%), doenças de desregulação imune e imunodeficiências combinadas, ambas com 2 casos (3%) e deficiências de complemento com 1 caso (1%) . O grupo outros totalizou 9 casos (11%) e 3 casos (4%) tiveram diagnóstico de imunodeficiência secundária. A figura 11 ilustra os percentuais de diagnósticos de imunodeficiência, excluindo os casos de não imunodeficiência e imunodeficiência secundária. Figura 11: distribuição percentual de diagnósticos definidos excluindo casos de não imunodeficiência e imunodeficiência secundária 7.22. Meses entre primeiros sintomas e diagnóstico A média de meses entre os primeiros sintomas e o diagnóstico foi de 41,17 (+40,74), variando de 0,43 a 192,17 meses, com mediana de 27,33. 7.23. Meses entre primeira consulta e diagnóstico Para análise dessa variavél a amostra foi dividida em três grupos: • Grupo A – pacientes com prontuário revisado • Grupo B – pacientes com prontuário e formulário de primeira vez preenchido • Grupo C- pacientes com formulário de primeira vez preenchido No grupo A o tempo variou de 5,98 antes de chegar ao ambulatório (pacientes que já foram encaminhados com diagnóstico) a 112,31 meses, com média de 15,04 (+ 33,25) e mediana de 4,47. No grupo B o tempo variou de 7,5 meses antes de chegar ao ambulatório a 78,02 meses com média de 8,31 (+ 14,92) e mediana de 3,72. No grupo C o tempo variou de 0 a 16,87 meses, com média de 4,98 (+ 6,65) e mediana de 0,46. No total o tempo variou de 7,5 meses antes de chegar ao ambulatório a 112,31 meses, com média de 9,22 (+ 19,11) e mediana de 3,72 (tabela 16). Tabela 16: Duração em meses (média, mediana, desvio padrão, mínimo e máximo) entre primeira consulta e diagnóstico Grupos Média (DP) Mínimo Máximo Mediana Grupo A 15,04 (+33,25) (5,98) 11,.31 4,47 Grupo B 8,31 (+14,92) (7,50) 78,02 3,72 Grupo C 4,98 (+6,65) 0 16,87 0,46 Total 9,22 (+19,11) (7,50) 112,31 3,72 7.24. Análise comparativa do tempo decorrido até o diagnóstico à partir do emprego ou não do formulário de primeira vez Para saber se o formulário de primeira vez ajuda a acelerar o diagnóstico foi utilizada a variável meses entre primeira consulta e diagnóstico e comparados os grupos A e B. A fim de tornar a amostra mais homogênea foram excluídos os casos com valores dois desvios padrão acima da média e os pacientes que já chegaram ao ambulatório com diagnóstico. A tabela 17 demonstra os valores mínimos, máximos, médias, desvios padrão e medianas dos grupos após a exclusão dos pacientes. O método utilizado para a análise foi de Mann Whitney para variáveis não paramétricas e o resultado de p valor foi de 0.93, não significativo. Na figura 12 pode-se observar um gráfico em p-plot com os valores de cada caso por grupo No histograma apresentado na figura 13 podem ser observados os números de observações pelos meses dos dois grupos sobrepostos. Tabela 17: Duração em meses (mínimo, máximo, média, desvio padrão e mediana) do tempo entre primeira consulta e diagnóstico, excluindo os casos com valores dois desvios padrão acima da média e os pacientes que já chegaram ao ambulatório com diagnóstico Grupos Grupo A Grupo B Mínimo Máximo Média (+ DP) Mediana 0 22.26 6.57 ( + 7.97) 4.47 0 39.06 7.62 (+ 9.32) 4.14 2.5 2.0 Expected Normal Value Desvio-padrão 1.5 1.0 0.5 0.0 -0.5 -1.0 -1.5 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Value Tempo (meses) Figura 12: Distribuição de casos pelo tempo em meses entre a primeira consulta e o diagnóstico e o desvio padrão dos grupos A e B. Os pontos em branco são referentes aos casos do grupo A e os pontos em vermelho são referentes aos casos do grupo B. O eixo horizontal corresponde ao tempo em meses e o eixo vertical ao desvio padrão. 11 10 9 Número de obsrevações 8 7 6 5 4 3 2 1 0 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Tempo (meses) Figura 13: Distribuição de casos pelo tempo entre a primeira consulta e o diagnóstico dos grupos A e B. O grupo A está representado pela cor vermelha e o grupo B pela cor azul. O eixo vertical corresponde ao número de observações e o eixo horizontal corresponde ao tempo em meses. 7.25. Seqüelas Seqüelas foram relatadas em 14 casos (8%), sendo 11 pulmonares, 2 múltiplas e 1 neurológica. 7.26. Conduta terapêutica A antibióticoterapia profilática foi indicada para 58 casos (32%), um paciente (1%) fez tratamento com antibiótico, a conduta foi expectante em 61 casos (34%) e gamaglobulina humana (IVIG) foi indicada para 14 pacientes (8%). Em 45 casos (25%) foram instituídas outras condutas e, em 24 casos (13%), o dado não foi informado. (tabela 18). Tabela 18: Distribuição absoluta e percentual por conduta terapêutica Total % Antibioticoterapia profilática 58 32% Antibioticoterapia tratamento 1 1% IVIG 14 8% Expectante 61 34% Dado não obtido 24 13% Outros 45 25% Conduta terapêutica 7.27. Uso de gamaglobulina Todos os pacientes com indicação de gamaglobulina iniciaram o tratamento. Dos 14 pacientes em uso de IVIG, 8 pacientes (57%) tiveram o tratamento suspenso por conta de desabastecimento da gamaglobulina humana no SUS e 4 pacientes (29%) fizeram o tratamento regular. Não havia o dado informado em 2 casos (14%) (tabela 19). Foram relatadas reações adversas em 3 pacientes (21,4%), não havia informação em 5 casos (35,7%) e 6 casos (42,9%) não apresentaram reações (tabela 19). Tabela 19: Distribuição absoluta e percentual de irregularidade do uso de gamaglobulina e reações adversas Uso de IVIG Sim (%) Não(%) ND(%) Irregularidade do tratamento 8 (57) 4(29) 2(14) Reação adversa 3(21,4) 6(42,9) IVIG- imunoglobulina venosa; ND- não divulgado 5(35,7) 7.28. Uso de antibiótico profilático Dos 58 pacientes em uso de antibiótico profilático, usaram regularmente 31 pacientes (53%), o uso irregular foi relatado em 9 casos (16%) e 18 casos (31%) não informaram. Apenas 1 relatou reação adversa. A tabela 20 mostra os resultados relacionados ao uso de antibiótico profilático. Tabela 20: Distribuição absoluta e percentual de antibioticoprofilaxia por tipo de antibiótico Tipo de ATB Total % 27 47% SMX-TMP 13 22% SMX-TMP + amoxicilina* 6 10% Associações 5 9% Macrolídeo 1 2% Outros 3 5% Dado não obtido 3 5% Amoxicilina SMX-TMP- sulfametoxazol + trimetropim. *SMX-TMP + amoxicilina- rodízio entre antibióticos uso de 7.29. Uso de citocina terapêutica Apenas 2 pacientes tinham indicação de citocina terapêutica. Os 2 fizeram uso regular de G-CSF e 1 paciente apresentou reação. 7.30. Indicação de Transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) A indicação de TCTH foi relatada em 10 pacientes. Três pacientes fizeram o transplante fora do Rio de Janeiro. O TCTH realizado em 2 pacientes foi com progenitores obtidos de sangue de cordão umbilical e placentário (SCUP). O outro paciente submetido a TCTH não apresentou esse dado registrado em prontuário. 7.31. Desfecho A maioria dos pacientes manteve o seguimento, com 54% dos casos (97 pacientes). Tiveram alta 28 pacientes (15%), e, em 28 casos, não foi encontrado registro de consulta de seguimento ou óbito, sendo estes casos caracterizados como abandono de acompanhamento (15%). Quatro pacientes (2%) foram à óbito. O dado do desfecho não foi divulgado em 22 casos (12%) e 2 pacientes (1%) foram encaminhados para outra especialidade por se tratarem de casos de imunodeficiência secundária (HIV positivos). CAPÍTULO 8 - DISCUSSÃO Este trabalho apresenta um retrato dos aspectos clínicos e laboratoriais de pacientes atendidos com suspeita de imunodeficiência primária em um serviço de referência no Rio de Janeiro. Outros trabalhos que apresentam aspectos semelhantes na literatura são específicos para um tipo de diagnóstico (Kokron et al, 2004; CunninghamRundles e Bodian, 1999). Rodrigues, em 1981, mostra um estudo retrospectivo de 11 pacientes com suspeita de imunodeficiência primária e Grumach e colaboradores, em 1997 publicaram um artigo mostrando 15 anos de follow up de 166 casos de imunodeficiência primária. A Fundação de Imunodeficiência Norte Americana (Immune Deficiency Foundation) publicou, em 1995, um estudo observacional sobre imunodeficiências primárias em todo o território norte-americano, mas apenas para pacientes com o diagnóstico definido para imunodeficiência primária (http://www.primaryimmune.org). Não foram encontrados artigos mais recentes de perfil clínico de pacientes com suspeita de imunodeficiência primária. A fonte dos casos escolhida foi o Ambulatório de Imunodeficiência do IPPMG, iniciado em janeiro de 2006 como uma extensão do ambulatório de Alergia, que atendia e acompanhava pacientes com suspeita e/ou diagnóstico de imunodeficiência primária. Com o aumento da demanda e a necessidade de organizar melhor o serviço, foi criado um ambulatório específico para esses casos, a partir de janeiro de 2006. O serviço atende pacientes de todo o estado do Rio de Janeiro, como visto no estudo, e de outros estados do Brasil. A coleta de dados foi censurada em junho de 2008 e, por isso, pacientes ainda sem diagnóstico nesse período foram classificados como “sem diagnóstico fechado”, pela data da última consulta. Em relação a amostra estudada, a distribuição entre homens e mulheres se mostrou bem semelhante, de 1,3:1, com um leve predomínio do gênero masculino, como descrito por Stiehm e colaboradores, 2004; porém um pouco menor do que o descrito por Knerr e Grimbacher, 2007, de 5:1. A história familiar positiva para IDP foi de 28%, semelhante à encontrada na literatura (Stiehm, 2004) e deve ser levada em consideração durante a investigação (Lindegren et al, 2004). Consangüinidade dos pais não foi muito freqüente na amostra estudada. Em relação à idade dos primeiros sintomas, na amostra estudada foi encontrada uma grande variação, do nascimento aos 132 meses. Stiehm, em 2004, refere que a idade dos primeiros sintomas varia de síndrome para síndrome, o que pode ser a causa da variação encontrada no estudo. Apesar da grande variação, a maioria dos pacientes da amostra iniciou os sintomas nos primeiros meses de vida, conforme descrito por Stiehm, em 2004. A idade na primeira visita apresentou dois picos, o primeiro nos primeiros 60 meses de vida, quando é feito a maioria dos diagnósticos (Stiehm, 2004) e o segundo dos 72 aos 120 meses. Esse segundo pico, que vai até 10 anos de idade mostra um atraso no encaminhamento dos pacientes, provavelmente por falta de conhecimento sobre as imunodeficiências (CostaCarvalho et al, 2005). Vale ressaltar que o hospital é pediátrico e sua rotina permite a entrada de pacientes novos até 12 anos e o acompanhamento de crianças até os 18 anos de idade, e as imunodeficiências primárias não podem mais ser consideradas doenças apenas da infância (http://www.primaryimmune.org)). A principal causa de encaminhamento encontrada na amostra estudada foram as infecções de repetição. Segundo recomendações de Lindegren e colaboradores, em 2004, o primeiro indício para o diagnóstico de IDP são as infecções de repetição, persistentes, recorrentes e de difícil tratamento. Os sítios de infecção encontrados seguiram o padrão descrito internacionalmente (Ballow e O’Neil, 2003). Em relação ao foco de infecção, foi impossível uma análise mais detalhada dos casos do estudo, e uma correlação com os sinais de alerta já descritos no capítulo de referencial teórico (http://www.imunopediatria.org). A amostra estudada não continha dados sobre as infecções no último ano, com foco, organismo identificado e resposta ao tratamento, como orientado por Bonilla e colaboradores, em 2005. A freqüência de cada sítio de infecção relatado pode ser analisada. Pneumonia foi o principal sítio, com 66% dos casos. A sinusite, com 36% de casos, foi observada com uma freqüência maior que a otite média aguda, com 28% dos casos. A sinusite não faz parte dos dez sinais de alerta adaptados para o nosso meio (http://www.imunopediatria.org), mas está entre os sinais originais, da Fundação Jeffrey Modell e a Cruz Vermelha Norte Americana (anexo 1) (http://www.jmfworld.org). Outras infecções vistas com freqüência e que não são associadas a imunodeficiência primária são as infecções urinárias (no resultado do estudo entrou como outras) e as amigdalites (44%), também relatadas por Kokron et al, em 2004, nos casos de imunodeficiência comum variável. Outros sinais de alerta como doença autoimune, fenótipo sugestivo de imunodeficiência e efeito adverso ao BCG foram encontrados com uma frequência baixa na amostra estudada (10%). Um episódio de infecção sistêmica grave foi encontrado em 15,5% dos casos. Em relação aos patógenos identificados, a amostra foi pequena, não havendo registro suficiente para análise. Em relação às internações, um número considerável de casos havia o relato de internação (67%), com resultado semelhante ao encontrado pela Fundação de Imunodeficiência Norte Americana, que foi de 70% (http://www.primaryimmune.org). A média de internações por caso foi de 3, 25 internações, um caso apresentou 15 internações. A média de dias internado também foi alta (12,65 dias) comparando com a média de permanência em internações hospitalares em pediatria do SUS no Rio de Janeiro no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007, que foi de 9,4 (http://w3.datasus.gov.br). As internações em unidades fechadas foram relatadas em 19% dos casos com uma média de dias internado de 19,81 dias. O custo dessas internações múltiplas para a saúde pública é enorme, o valor médio de uma internação hospitalar em pediatria nos anos de 2006 e 2007 no município do Rio de janeiro foi de R$596,50 (http://w3.datasus.gov.br) e o gasto total em internações em pediatria nesse mesmo período foi de R$26.961.286,10. O impacto do diagnóstico precoce desses pacientes para os recursos do SUS é significativo. Em relação a hemotransfusões, alterações do desenvolvimento psicomotor e reações vacinais a freqüência de pacientes com relato positivo foi baixa. Vale ressaltar que, dos 13 pacientes que relataram reações vacinais, 10 (77%) foram relacionadas à BCG. Um paciente com agamaglobulinemia ligada ao X apresentou quadro compatível com pólio associado ao vírus vacinal, reação relatada em pacientes com defeitos de anticorpos (Ballow e O’Neil, 2003). Na amostra estudada apenas um paciente, com diagnóstico de osteopetrose, referiu reação transfusional. As reações transfusionais estão associadas a defeitos de célula B, por exemplo as reações anafiláticas em pacientes com deficiência de IgA, ou defeitos combinados B e T nos quais pode acontecer doença enxerto-contra-hospedeiro (Ballow e O’Neil, 2003). Dados antropométricos e avaliação do grau de desnutrição não foram suficientes para análise. O formulário de primeira vez possui um espaço para peso e altura da criança, porém não são realizadas medidas sistemáticas e anotadas em um gráfico. Um bom exame físico é essencial para iniciar uma investigação diagnóstica (Ballow e O’Neil, 2003). Os dados antropométricos e grau de nutrição não só são necessários para toda e qualquer criança que esteja sendo avaliada, visto que algumas dessas crianças deixam de ir às consultas de pediatria geral, como também fazem parte dos sinais de alerta já citados anteriormente (anexo 1) (http://www.jmfworld.org). Além disso, a desnutrição pode ser uma causa de imunodeficiência secundária, fazendo parte do diagnóstico diferencial (Stiehm et al, 2004). Quanto à presença de cicatriz de BCG, um dado de exame físico importante para avaliar resposta à vacinação, quase a totalidade dos casos não tinha registro desta informação (94%). O histórico do parto não apresentou alterações significativas. A maioria dos pacientes nasceu com peso normal (73%) e apenas 28% dos casos apresentou alguma intercorrência neonatal. A queda do coto umbilical tardia (6 a 8 semanas) é um sinal visto em pacientes com defeitos de adesão de leucócitos.( Ballow e O’Neil, 2003). Na amostra estudada a média informada de dias de queda foi normal (8,24 dias). Em relação as hipóteses diagnósticas, a maior freqüência foi de deficiência de anticorpos (21%). Em segundo lugar ficaram os defeitos de fagócitos (15%), seguido de outras síndromes bem definidas com 8%. Entretanto, 56,9% de pacientes ainda não têm diagnóstico definido. As causas da indefinição dos diagnósticos podem ser: 1. Pacientes novos no ambulatório, com apenas uma ou poucas consultas no serviço 2. Testes diagnósticos indisponíveis no próprio Serviço ou em outra unidade da rede do SUS 3. Dificuldade diagnóstica inerente às próprias doenças (IDPs) Após a criação de um ambulatório específico para imunodeficiências, a demanda aumentou e muitos pacientes iniciaram seu acompanhamento recentemente. Desde o início do ano de 2008, 34(18,8%) pacientes iniciaram acompanhamento e desde 2007, 99 (54,7%) pacientes procuraram o serviço. Os testes de triagem mais simples como hemograma com diferencial de leucócitos estão disponíveis facilmente, entretanto, exames considerados essenciais para uma investigação inicial, muitas vezes não são encontrados no SUS. Os testes de imunoglobulinas e imunofenotipagem de linfócitos são extremamente irregulares, muitas vezes se encontrando em falta; subclasses de imunoglobulinas e testes para anticorpos específicos contra pneumococos não são disponíveis no Rio de Janeiro, exceto em laboratórios privados. O teste de oxidação da diidrorodamina 123, para o diagnóstico de defeito de fagócitos está sendo regularmente realizado pelo Laboratório de Fisiopatologia Humana do IFF/Fiocruz desde o segundo semestre de 2007. Outros exames de maior complexidade, como testes genéticos e moleculares ainda não estão disponíveis no Brasil ou somente à titulo de pesquisa em alguns centros. As causas de muitas imunodeficiências ainda não foram descobertas e, portanto, não existem protocolos. Na amostra estudada, foram solicitados 978 exames, dos quais 28% não foram realizados ou não foram encontrados resultados em prontuário. Como discutido acima, os exames necesários para diagnóstico muitas vezes não estão disponíveis. Dessa forma, duas situações podem ocorrer: o médico assistente pode não solicitar o exame que já sabe que não poderá ser feito, como no caso dos testes de linfoproliferação; ou, quando o exame é feito de maneira irregular, o médico assistente solicita e nem sempre é realizado como é o caso da resposta à vacina antipneumocóccica, com apenas 41% dos testes realizados, nem sempre nos prazos adequados ao diagnóstico. Dos 20 exames analisados, só o teste de Coombs teve retorno de resultados em 100% dos casos em que houve solicitação. Lindegren e colaboradores, em 2004, sugerem ferramentas para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde. As ferramentas são: • estudos observacionais para coleta, análise e interpretação de dados relacionados às IDP; • pesquisa epidemiológica com o estudo de distribuição das doenças, relações entre fenótipo-genótipo e estudos que contribuam com o conhecimento mais aprofundado do curso clínico e história natural dessas desordens; • ciência e capacitação laboratorial em conjunto com as ferramentas acima para diagnóstico, caracterização fenotípica, elaboração de testes de triagem e testes diagnósticos. A capacitação laboratorial da rede de Saúde Pública parece ser um dos pontos principais para a melhoria da assistência à esses pacientes. Dentre os diagnósticos definidos, excluindo os casos de não imunodeficiência, a freqüência maior foi de defeitos de anticorpos, compatível com a literatura. Dados do ESID (http://www.esid.org) demonstram uma freqüência de 54,36% de pacientes com diagnóstico de deficiência de anticorpos. Na amostra estudada a freqüência foi menor (39%). Em segundo lugar, ainda de acordo com os dados do ESID, estão as outras imunodeficiências bem definidas com 17,68%. Na amostra estudada esse diagnóstico representou 10% dos casos, ficando em quarto lugar. Desordens de fagócitos têm uma freqüência pelo ESID de 12,57% e na amostra estudada a freqüência foi de 15%. As deficiências de célula T apresentam freqüência de 8,35% enquanto que, na amostra estudada, foi de 5%. Deficiências do complemento apresentam freqüência de 2,07% no ESID e 3% na amostra. Doenças de desrregulação imune apresentam freqüência de 1,31% no ESID e 5% na amostra. Doenças autoinflamatórias aparecem com 1,06% no ESID e não aparecem na amostra, apesar de a amostra ter um diagnóstico de PFAPA, que é considerado uma desordem autoinflamatória, mas ainda não está na classificação mais recente disponível na literatura, sendo incluída como outros diagnósticos. Outras imunodeficiências não classificadas apresenta freqüência de 2,6% enquanto que na amostra estudada são responsáveis por 23% dos casos. Essas diferenças encontradas podem se dever ao fato de a amostra ser pequena e do ambulatório acompanhar alguns pacientes com diagnósticos de doenças tradicionalmente vistas por algumas outras especialidades, como o serviço de Hematologia, que concentra casos de Osteopetrose, síndrome de Wiskott-Aldrich e síndrome de Chediak-Higashi. O tempo entre os primeiros sintomas e o diagnóstico, medido em meses, apresentou uma grande variação, de 0,43 a 192,17 meses, com média de 41,17 e mediana de 27,33 meses. Essa variação provavelmente se deve ao fato de que os pacientes podem ser encaminhados com muito atraso para o serviço, passando antes por diversas especialidades e diversas internações antes de chegarem ao ambulatório, gerando muitos custos desnecessários para a Saúde Pública. O segundo pico de idade da primeira visita verificado na figura 6 pode demonstrar esse atraso na chegada do paciente. Segundo Stiehm, 2004, 40% dos diagnósticos são feitos no primeiro ano de vida e 40% nos primeiros 5 anos de vida. A curva tem o seu segundo pico dos 6 aos 10 anos de vida. Mesmo depois de encaminhados, esses pacientes ainda podem demorar a fazer o diagnóstico como pode ser visto no tempo entre primeira visita e diagnóstico. A variação foi de 0 (excluindo-se os pacientes que já chegaram com diagnóstico) a 112,31 meses, com média de 9,22 e mediana de 3,72. A diferença entre a média e a mediana e o desvio padrão alto encontrado devese ao fato da amostra ser bastante heterogênea. O Ambulatório de Imunodeficiências Primárias utiliza um formulário de primeira vez (anexo 2) para tentar padronizar uma coleta de dados dos pacientes que acelere o processo de diagnóstico. Esse formulário, em conjunto com o prontuário, foram as fontes de informação do presente estudo. A análise estatística feita para verificar a hipótese de que o formulário de primeira vez utilizado acelera o processo do diagnóstico não mostrou significado estatístico, ou seja, não parece ajudar. A variável utilizada foi o tempo entre a primeira visita e o diagnóstico em meses. Para tornar as amostras mais homogêneas foram excluídos os resultados dois desvios padrões acima da média e os pacientes que já iniciaram o acompanhamento com o diagnóstico definido. Quando dispostas nas figuras 12 e 13 demonstrados no capítulo de resultados, as amostras analisadas se sobrepõem, mostrando sua semelhança. As possíveis causas desse resultado são: 1. amostra pequena, não tendo dados suficientes para um resultado significativo; 2. o formulário de primeira vez não atende ao objetivo proposto, não há campos para informações mais detalhadas sobre infecções no último ano, internações, outros sinais de alerta associados, hipóteses diagnósticas; 3. coleta de dados imprecisa pelo atendente no momento da coleta, resultando em dados insuficientes para análise; Dessa forma, o presente estudo se propõe a sugerir um novo formulário de primeira vez, com campos mais detalhados para informações já presentes no formulário antigo e campos novos para as perguntas não contidas previamente. (apêndice 2) Também é sugerido um formulário de seguimento do paciente para padronizar as consultas e melhorar a coleta de dados durante a assistência (apêndice 2). Outra variável dificilmente encontrada na revisão dos casos foi em relação às seqüelas. A maioria não tinha essa informação. Foram encontradas seqüelas em 14 (8%) pacientes, a maioria sendo pulmonares. Em relação ao tratamento, o serviço tem como rotina iniciar antibioticoprofilaxia para todos os pacientes com evidências fortes de imunodeficiência e infecções de repetição antes do diagnóstico definitivo. Os principais antibióticos prescritos são a amoxicilina e o sulfametoxazoltrimetropim. É de consenso geral que a profilaxia com antibiótico para determinadas imunodeficiências é benéfica (Stiehm, 2004; Wood et al, 2007). O uso de gamaglobulina humana (IVIG) foi indicado para 14 pacientes e iniciado por todos eles. Entretanto, não houve regularidade no tratamento de 8 (57%) pacientes devido à falta do medicamento no SUS. A IVIG é o tratamento de escolha para pacientes com defeitos de anticorpo e infecções de repetição. Comprovadamente, a IVIG diminui o número e a gravidade das infecções, melhorando a qualidade de vida e o prognóstico do paciente (Wood et al, 2007). O uso de citocina terapêutica foi indicado para dois pacientes , um com neutropenia crônica associada a glicogenose do tipo 1b e outro com neutropenia cíclica, sem maiores intercorrências. Em 10 casos houve indicação de transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) e 5 realizaram o procedimento, dois pacientes foram à óbito pós transplante e os outros 3 estão em seguimento e em bom estado de saúde. Houve 1 caso de perda do seguimento e 3 óbitos antes do transplante. Ainda em seguimento estão 2 pacientes aguardando transplante. Esses dados diferem dos apresentados na seção de resultados pois refletem informações recebidas das instituições nas quais os transplantes foram realizados, porém não constam dos prontuários, que cessam de registrar as consultas a partir da data de encaminhamento ao centro de transplante. A freqüência de perda de seguimento foi de 15%, talvez um outro fator que impeça mais diagnósticos. A demora no diagnóstico e o baixo poder aquisitivo da amostra podem ser causas da taxa de abandono. Os dois pacientes encaminhados para outro serviço tiveram diagnóstico sorológico de infecção pelo HIV e encaminhados para o serviço de Infectologia do hospital. Os quatro pacientes que foram à óbito, já referidos acima, dois tinham diagnóstico de imunodeficiência combinada grave, um apresentava doença granulomatosa crônica e o outro apresentava osteopetrose. CAPÍTULO 9 - CONCLUSÕES 9.1. O estudo presente fez uma descrição do perfil clínico e laboratorial de pacientes com suspeita ou diagnóstico de imunodeficiência primária acompanhados em um serviço de referência de Rio de Janeiro e encontrou um total de 39 pacientes com diagnóstico confirmado dentro de um universo de 181 pacientes avaliados. Os diagnósticos observados, a distribuição dos casos de acordo com o mecanismo imunitário comprometido e os protocolos de investigação empregados no serviço de referência foram semelhantes aos observados em outras séries de pacientes descritas na literatura. 9.2. A inexistência de alguns exames complementares ou a irregularidade de sua oferta na rede do SUS foi observada para a maioria dos pacientes atendidos e teve impacto negativo sobre a agilidade do diagnóstico, com consequente prejuízo na qualidade da assistência prestada. 9.3. O tratamento dos pacientes com diagnóstico firmado de IDP ou suspeita de IDP foi conduzido de acordo de acordo com as diretrizes internacionais e as especificidades de cada caso, e consistiu majoritariamente de: antibioticoterapia profilática, imunoglobulina intravenosa e hematopoiéticas. indicação de transplante de células-tronco 9.4. O formulário de consulta de primeira vez em uso no Serviço de Referência (anexo 2) não se mostrou superior ao registro convencional em prontuário médico em termos de acelerar o diagnóstico dos casos encaminhados com suspeita de IDP, embora a imprecisão no preenchimento ou a ausência de dados registrados possa ter interferido na análise desta hipótese. 9.5. Os dados obtidos neste estudo permitem a proposição de um novo instrumento de avaliação clínica, para registro de anamnese, exame físico e resultados de exames complementares, tanto de consulta de primeira vez quanto de consultas de seguimento (apêndice 2). É recomendável que este novo instrumento seja validado em escala piloto, como estratégia de aprimoramento. CAPÍTULO 10 - REFERÊNCIAS • Azar A, Ballas Z. Evaluation of the adult with suspected immunodeficiency. The American Journal of Medicine 2007; 120:764768. • Ballow M, O’Neil K. Approach to the Patient with Recurrent Infections. 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FERRAMENTA DE COLETA Instrumento de coleta de dados: PERFIL CLÍNICO E LABORATORIAL DE CRIANÇAS COM SUSPEITA DE IMUNODEFICIÊNCIA PRIMÁRIA ATENDIDAS EM UM serviço DE REFERÊNCIA DO RIO DE JANEIRO Nome:________________________________________________ Registro:________________ Número:________ Data de nascimento: ___/___/___ GÊNERO ( MASC Data de admissão no ambulatório de imunodeficiência: ___/___/___ Data dos primeiros sintomas:___/___/___ (ou idade_________) Origem: ( ) RJ – Capital ( ) RJ – Município _______________ ( ) Outro Estado – Qual? ________ ( ) Outro País – Especificar ________________________________ ) FEM ( ) Motivo do encaminhamento:_____________________________________________________ ______________________________________________________________________ _______ ______________________________________________________________________ _______ Origem do encaminhamento: ( ) interno - IPPMG- especialidade_______________________ ( ) ambulatório ( ) Enfermaria ( ) externo (rede SUS) Especificar___________________________________ ( ) externo (Hospital Privado) ( ) externo (Consultório Privado) ( )outros Pais Consangüíneos : ( ) sim ( ) não ( ) desconhecido História familiar de imunodeficiência, óbitos prematuros ou familiares com infeções de repetição: ( )sim ( ) não HPP: 1. Infecções: Tipo Pneumonia Sinusite Otite Média Diarréia Meningite Sepse Osteomielite Outros: Número de vezes 2. Internações: ( )sim ( )não Média________ 3. Internações em CTI : ( )sim ________ Patógeno quantas:____________ Duração ( )não quantas:_______Duração Média 4. Reação à vacinação BCG: ( )sim ( )não qual:__________ 5. Necessidade de tratamento específico após reação adversa ao BCG? ( )sim ( )não 6. Cicatriz de BCG: ( ) presente ( registrado ) ausente ( ) não verificado/não HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS A) ________________________________________________________ B) ________________________________________________________ C) ________________________________________________________ CONDUTA DIAGNÓSTICA (INICIAL) Hemograma CH50 IgA C1INH IgG G6PD IgE ADA IgM ANA Sub-classes de IgG FR DHR Isohemaglutininas CD4 Mielograma/BMO Res. à vacina antiCD8 pneumococo CD19 Teste de Coombs CD56 Teste de Linfoproliferação C3 Teste do Suor C4 Teste ID REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICO – ( ) sim ( ) não Sorologia Anti-HIV Teste de Puntura Raio-X de Tórax TC de Tórax Raio-X de Cavum ( ) possível CONDUTA TERAPÊUTICA INICIAL IVIG ATB profilático Expectante Outros* Qual______________________ * quais:_________________________________ ACOMPANHAMENTO 1. USO DE IVIG: • Dose Prescrita: _________________________________________ • Intervalo de Administração Prescrito:_______semanas • Regularidade ( ) sim ( ) não causa___________________________ • Reações adversas ( )sim TIPO________________________ ( ) não • Infecções após início de IVIG TIPO patógenos isolados Pneumonia Otite Média Sinusite Diarréia Sepse Meningite • Internações ( ) sim ( ) não Média________ quantas:________ Duração • Internações em CTI ( ) sim ( ) não Média________ quantas:________ Duração 2. ATB profilático: • Regularidade ( ) sim ( ) não causa _____________________________ • Efeito Adverso ( ) sim qual?_____________________ (não) • Infecções após início de ATB TIPO patógenos isolados Pneumonia Otite Sinusite Diarréia Sepse Meningite • Internações ( ) sim ( ) não quantas:________ Duração Média________ • Internações em CTI ( ) sim ( ) não Média________ quantas:________ Duração 3. PRINCIPAIS RESULTADOS DE EXAMES: Exame Hemácias Hemoglobina Hematócrito Leucócitos Neutrófilos Linfócitos Plaquetas IgA IgG IgE IgM IgG1 IgG2 IgG3 Resultado (Data/Idade) Exame Isohemaglotinina Mielograma/BMO Resp. à vacina antipneumococo Teste de Linfoproliferação Raio-X de Tórax TC de Tórax Raio-X de Cavum NO - Normal AN - Anormal NR - Não realizado NO AN NR Exame IgG4 CD4 (abs) CD4 (%) CD8 (abs) CD8 (%) CD4/CD8 CD19 (abs) CD19 (%) CD56 (abs) CD56 (%) C3 C4 CH50 C1INH Resultado (Data/Idade) Exame POS NEG NR G6PD ADA ANA FR Teste de Coombs Teste do Suor Sorologia AntiHIV Teste ID Teste de Puntura POS - Positivo NEG - Negativo NR - Não realizado 4. SEQUELAS: Pulmonares Desnutrição neurológicas Ósseas 5. Indicação de citocina terapêutica ( ) sim ( ) não qual __________________________ 6. Uso de citocina terapêutica ( ) sim ( ) não qual __________________________ 7. Motivo de Impossilibidade/Irregularidade de uso de citocina/fator de crescimento prescrito : ( ) alto custo ( ( ) Outro 8. TMO • Indicação )efeito adverso grave ( ) indisponível no Brasil ( ) sim ( ) não • Realizou ( ) sim ( ) não • Tipo _________________________________ DIAGNÓSTICO FINAL: DATA DO DIAGNÓSTICO: ____/_____/______ APÊNDICE 2 FORMULÁRIO DE PRIMEIRA VEZ PROPOSTO DATA: NOME: REGISTRO: ENDEREÇO: CIDADE: TELEFONE: DATA DE NASCIMENTO: IDADE: SETOR DE ENCAMINHAMENTO: conta própria IPPMG (enfermaria) IPPMG (amb) ___________________ rede SUS ___________________ consultório privado hospital privado __________ MOTIVO DE ENCAMINHAMENTO: IDADE DO INÍCIO DOS SINTOMAS: • • HDA: INFECÇÕES NO ULTIMO ANO: TIPO Pneumonia ( )sim ( )não NUMERO DE VEZES PATÓGENO ISOLADO ( )sim ( )não Sinusite ( )sim ( )não ( )sim ( )não Otite média aguda ( )sim ( )não ( )sim ( )não Meningite bacteriana ( )sim ( )não Meningite viral (encefalite) ( )sim ( )não Osteomielite ( )sim ( )não ( )sim ( )não Artrite séptica ( )sim ( )não ( )sim ( )não Tuberculose ( )sim ( )não ( )sim ( )não ITU ( )sim ( )não ( )sim ( )não ( )sim ( )não ( )sim ( )não TRATAMENTO Amigdalite ( )sim ( )não ( )sim ( )não Estomatite ( )sim ( )não ( )sim ( )não Monilíase ( )sim ( )não ( )sim ( )não Abscessos ( )sim ( )não ( )sim ( )não Celulites ( )sim ( )não ( )sim ( )não Outras infecções cutâneas ( )sim ( )não ( )sim ( )não Diarréia viral ( )sim ( )não ( )sim ( )não Diarréia parasitária ( )sim ( )não ( )sim ( )não Diarréia bacteriana ( )sim ( )não ( )sim ( )não Sepse ( )sim ( )não ( )sim ( )não Outras infecções virais ( )sim ( )não ( )sim ( )não Outras infecções ( )sim ( )não ( )sim ( )não • • OUTROS SINTOMAS: (febre, artrites, artralgias, vomitos, sintomas neurológicos, ...) HPP: 1. Comorbidades(doenças diagnosticadas previamente ou em investigação): - doença autoimune : ( ) sim ( ) não Qual ______________ - neoplasia: ( )sim ( )não Qual: _______________________ -doenças genéticas: ( ) sim ( )não Qual:________________________________________ - outras: ( )sim ( )não Quais: _______________________________________________________ 2. Infecções anteriores: TIPO Pneumonia ( )sim ( )não NUMERO DE VEZES PATÓGENO ISOLADO ( )sim ( )não Sinusite ( )sim ( )não ( )sim ( )não Otite média aguda ( )sim ( )não ( )sim ( )não Meningite bacteriana ( )sim ( )não ( )sim ( )não Meningite viral (encefalite) ( )sim ( )não ( )sim ( )não Osteomielite ( )sim ( )não ( )sim ( )não Artrite séptica ( )sim ( )não ( )sim ( )não Tuberculose ( )sim ( )não ( )sim ( )não ITU ( )sim ( )não ( )sim ( )não Amigdalite ( )sim ( )não ( )sim ( )não Monilíase ( )sim ( )não ( )sim ( )não TRATAMENTO Abscessos ( )sim ( )não ( )sim ( )não Celulites ( )sim ( )não ( )sim ( )não Outras infecções cutâneas ( )sim ( )não ( )sim ( )não Diarréia viral ( )sim ( )não ( )sim ( )não Diarréia parasitária ( )sim ( )não ( )sim ( )não Diarréia bacteriana ( )sim ( )não ( )sim ( )não Sepse ( )sim ( )não ( )sim ( )não Outras infecções virais ( )sim ( )não ( )sim ( )não Outras infecções ( )sim ( )não ( )sim ( )não 3. Internações: ( )sim ( )não quantas: internação em CTI: ( )sim ( )não Histórico de internações (tempo de internação, motivo e tratamento): 4. Hemotransfusão: ( )sim ( )não reação transfusional: ( )sim ( )não Hemoderivado ____________________________ ( )deleucotizado ( ) outros 5. Alergia respiratória: ( )sim ( )não qual: Classificação: 6. Dermatite atópica: ) irradiado ( )filtrado ( ( )sim ( )não classificação: • HG/HP: G___ P___A___ Gestação ( ) sem intercorrências ( )com intercorrências – quais ___________________________________________________________________ __________ Parto ( ) normal ( )cesáreo /( )a termo ( )pre-termo ( ) pós-termo/ Apgar __/__ ( )sem intercorrências ( )com intercorrências – quais ___________________________ ________________________________ ________________________________ PESO DE NASCIMENTO: COMPRIMENTO: PERÍMETRO CEFÁLICO: • HF: Consanguinidade ( )confirmada ( )não ( )suspeita ( )desconhecido História sugestiva de imunodeficiência ( )sim ( )não Outras : • HA: Aleitamento materno exclusivo até 6 meses : ( )sim ( )não Reação à ptn heteróloga: ( )sim ( )não Alimentação no momento: Desnutrição: ( )sim ( )não Grau: _____________________________ • HD: Adequado ( )sim ( )não _________________________________________ _________________________________________ _________________________________________ • HV: Cartão em dia: ( )sim ( )não- faltam__________________________________________ Vacinas especiais: ( )não ( )sim- quais_______________________________________ Reações vacinais: ( )não ( )sim – quais______________________________________ EXAME FÍSICO: PESO: percentil CP: CICATRIZ DE BCG: ( )PRESENTE ( )AUSENTE ECTOSCOPIA: PELE E FÂNEROS: Quantas : ACV: AR: ABDOMEN: MEMBROS/OSTEOARTICULAR: URO-GENITAL: NEUROLÓGICO: LINFONODOS: OROFARINGE (dentição, tonsilas, mucosa oral e jugal): OTOSCOPIA: EXAMES TRAZIDOS PREVIAMENTE (especificar tipo, data e resultados): IMPRESSÃO DIAGNÓSTICA: cid 10CONDUTA (diagnóstica e terapêutica): RETORNO: REVISÃO DE SINAIS DE ALERTA: Duas ou mais pneumonias no último ano quatro ou mais otites no último ano estomatites de repetição ou minilíase por mais de 2 meses abscessos de repetição ou ectima 1 episódio de infecção sistêmica grave infecções intestinais de repetição/diarréia crônica asma grave, doença do colágeno oudoença autoimune efeito adverso ao BCG e/ou infecçao por micobactéria fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada a imunodeficiência história familiar de imunodeficiência 2 ou mais sinusites graves no último ano dois ou mais meses de uso de antibióticos sem efeito desenvolvimento pondero estatural inadequado necessidade de antibióticoterapia venosa para cura de infecções SEGUIMENTO DATA: NOME: HIPÓTESE DIAGNÓSTICA EM INVESTIGAÇÃO: cid 10MEDICAÇÕES EM USO (quais e regularidade do uso): INTERCORRÊNCIAS (infecções, tratamentos, internações): EXAMES REALIZADOS COM RESULTADOS: EXAME FÍSICO: PesoCompPercentilDesnutrição: ( )sim ( )não Grau: IMPRESSÃO DIAGNÓSTICA: CONDUTA: RETORNO REGISTRO: IDADE: