Maria do Socorro Lopes Teles, Claire Anne Viana Sousa

Propaganda
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
Saneamento Ambiental na periferia da cidade de Santana do Cariri/CE
– Brasil
AUTORES: TELES, Maria do Socorro Lopes (1); SOUSA, Claire Anne Viana (2)
INSTITUIÇÃO(ÕES): (1) Universidade Regional do Cariri - URCA); (2) Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos - COGERH
Email dos AUTORES: [email protected]; [email protected];
RESUMO
A partir da década de setenta os municípios brasileiros enfrentam um processo
rápido de urbanização que prejudica a qualidade e quantidade de água para a
demanda urbana. Atualmente, cerca de 90% da população urbana brasileira é atendida
com água potável e 60% com redes coletoras de esgoto. O déficit, ainda existe, e está
localizado basicamente nos bolsões de pobreza, ou seja, nas favelas, nas periferias das
cidades, na zona rural e no interior dos estados. Nesse contexto a periferia da cidade
de Santana do Cariri no sul do estado do Ceará – Brasil não difere dessa realidade. Esta
cidade se distância aproximadamente 400 km da capital do estado. O município é
constituído por duas unidades ambientais: a Chapada do Araripe e a Superfície
Sertaneja, com um contraste altimétrico nítido entre os dois macro-compartimentos
de relevo predominantes. Os recursos hídricos da área em destaque dependem, de
modo significativo, das influências morfoestruturais e climáticas sendo o Rio Cariús a
principal drenagem superficial no município. Próximo às nascentes, o rio encontra-se
relativamente preservado, no entanto, nas áreas de expansão da cidade por onde
passa, sofre constantes agressões no seu leito, com lixo, esgoto, desmatamento e
assoreamento. Partindo dessa perspectiva, esta pesquisa tem por objetivo enfocar o
saneamento ambiental na periferia da cidade de Santana do Cariri. Como
procedimento metodológico da pesquisa utilizou-se de consulta bibliográfica
relacionado com o tema, trabalho de campo com aplicações de questionários e
entrevistas informais para saber a total realidade do saneamento nessa cidade. O
resultado referente a esta pesquisa, revelou que a periferia vive em condições
sanitárias e ambientais precárias expostas de forma endêmicas a doenças infectocontagiosas e parasitárias.
Palavras-chave: saneamento ambiental – recursos hídricos – planejamento ambiental
1
Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
INTRODUÇÃO
A partir da década de setenta os municípios brasileiros enfrentam um processo
rápido de urbanização, que prejudica a qualidade e quantidade de água para a
demanda urbana.
No Brasil, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), 20% da
população brasileira não tem acesso à água tratada. Por outro lado, 50% não tem
coleta de esgoto. Pior ainda, aproximadamente 80% do esgoto coletado vai para os
rios sem nenhum tipo de tratamento. Somando-se o esgoto urbano às contaminações
que vêm dos agrotóxicos, a OPAS afirma que 40% de nossa água, mesmo sendo
encanada, não é confiável.
O déficit ainda existe, e está localizado basicamente nos bolsões de pobreza, ou
seja, nas favelas, nas periferias das cidades, na zona rural e no interior dos estados.
Nesse contexto, a periferia da cidade de Santana do Cariri no sul do estado do
Ceará, na região Nordeste do Brasil, não difere dessa realidade. (Figura 1)
Partindo dessa perspectiva, esta pesquisa tem por objetivo enfocar o saneamento
ambiental na periferia da cidade de Santana do Cariri.
2
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
Figura 1: MAPA DE LOCALIZAÇÂO DO MUNICÍPIO DE SANTANA DO
CARIRI/CE
3
Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Como procedimento metodológico da pesquisa utilizou-se de consulta bibliográfica
relacionada com o tema, trabalho de campo com GPS, registro fotográfico, aplicação
de questionários e entrevistas informais com os moradores da comunidade, seguida de
organização e análise dos dados.
ASPECTOS GEOAMBIENTAIS DO MUNICIPIO DE SANTANA DO
CARIRI/CE
O município de Santana do Cariri é constituído por duas unidades ambientais: a
Chapada do Araripe e a Superfície Sertaneja. Há, com efeito, um contraste altimétrico
nítido entre os dois macrocompartimentos de relevo predominantes: o da superfície
de cimeira da chapada do Araripe, com cota altimétrica entre 800 -900 m e a
depressão periférica sertaneja de 350 - 450 m. Mont’Alverne et al. (1996 ), conforme
figura 2 abaixo.
Figura 2: Vista panorâmica da Chapado do Araripe e do Vale do Cariri/CE
As características hidrográficas do Estado do Ceará são condicionadas
principalmente pelo regime de chuvas e pelas formações geológicas. No período
4
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
chuvoso, os rios contam com um volume de água considerável. Entretanto, logo após o
final das chuvas ocorre o esgotamento total das águas principalmente nos cursos
localizados sobre rochas cristalinas, dando a eles um caráter intermitente.
Nas áreas onde dominam rochas sedimentares, os rios contêm água por um período
mais prolongado, devido a capacidade de infiltração e armazenamento destas rochas,
que proporcionam a alimentação dos canais fluviais através da água acumulada em
seu subsolo.
A área da bacia do Araripe expõe a chapada de denominação homônima, que
possui níveis de 800 a 900 m e têm os arenitos Cretáceos da Formação Exu como
mantenedora do relevo. A Chapada é divisor de águas das bacias hidrográficas dos rios
Jaguaribe, São Francisco e Parnaíba. Possui extensão leste – oeste com cerca de 180
km e largura em torno de 50 – 70 km em sentido sul – norte.
A coluna litoestratigráfica da bacia é constituída pelo embasamento cristalino PréCambriano, Formação Mauriti; Grupo Vale do Cariri composto pelas Formações Brejo
Santo , Missão Velha e Abaiara; Grupo Araripe: Formações Rio da Batateira, Santana,
Arajara e Exu; e os Depósitos Cenozóicos Tércio/Quaternários. Apresenta uma
diversidade litológica caracterizada por sequências alternadas de arenitos, siltitos,
calcários, argilitos e folhelhos, podendo alcançar uma espessura total da ordem de
1600m. Ponte ( 1992 ) .
O Rio Cariús constitui a principal drenagem superficial no município de Santana do
Cariri. A população utiliza-se de suas águas para os mais diversos usos como consumo
doméstico, comercial, de irrigação, dentre outros. Sua bacia hidrográfica engloba os
municípios de Santana do Cariri, Nova Olinda, Farias Brito e Jucás. Nasce na encosta da
Chapada do Araripe, nas nascentes Buriti, Azedos e Roncador, localizada no Sítio
Azedos, Vale do Buriti, em Santana do Cariri.
Próximo às nascentes, o rio encontra-se relativamente preservado, no entanto, nas
áreas de expansão da cidade por onde passa, sofre constantes agressões no seu leito
com lançamentos de dejetos e excrementos, resíduos sólidos, assoreamento e
desmatamento dentre outros. ( Figuras 3 e 4 )
5
Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Figura 3: Rio Cariús próximo a sua nascente/ Vale do Buriti
Figura 4: Vista do Rio Cariús na Periferia de Santana do Cariri, mostrando a falta de
Saneamento Básico no município
6
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
A falta de planejamento ambiental e a conscientização ecológica por parte de toda
a comunidade, faz com que o lançamento desses dejetos e excrementos, bem como o
lixo, contribua cada vez mais para a sua contaminação.
A necessidade de infra-estrutura em saneamento básico é um fator preponderante
para qualquer cidade. A periferia da cidade de Santana do Cariri apresenta um quadro
preocupante, essencialmente em relação à qualidade de vida da população e à
degradação ambiental.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O trabalho de campo foi realizado junto aos moradores da periferia da cidade de
Santana do Cariri, onde os questionários aplicados e entrevistas informais, tiveram o
propósito de conhecer a realidade social, econômica, cultural e ambiental desses
moradores, percebendo-se a situação em que os mesmos se encontram.
A periferia da cidade é ocupada basicamente por famílias de baixa renda e baixo
nível de escolaridade conforme figuras 04 e 05 abaixo.
Amostragem da Renda Familiar em
Santana do Cariri/CE
23
25
20
15
10
5
0
< 1 Salário
Mínimo
8
1
1
2
1 a 2 salários
Mínimos
> 2 Salários
Mínimos
Figura 05: Gráfico de amostragem da renda familiar na periferia da cidade de Santana
do Cariri/CE
7
Tema 3 – Geodinâmicas: entre os processos naturais e socioambientais
Amostragem do Grau de Escolaridade
da População de Santana do
Cariri/CE
20%
4%
27%
Analfabeto
Fundamental
Médio
49%
Superior
Figura 06: Gráfico da amostragem do Grau de Escolaridade da População da periferia da
cidade de Santana do Cariri/CE
Com relação ao tratamento de água para consumo, verificou-se que apenas 50%
dos entrevistados utilizam a filtragem, e o restante não faz tratamento algum. No que
diz respeito ao destino dos dejetos e excrementos, 90% utilizam esgoto a céu aberto,
os quais são lançados diretamente no rio Cariús.
CONCLUSÃO
Com base na pesquisa realizada na periferia da cidade de Santana do Cariri,
verificou-se claramente que há uma deficiência no que se refere não somente a falta
de saneamento ambiental, como também em outros fatores que tornam essas pessoas
carentes e desassistidas. O abastecimento de água potável não chega regularmente
nas casas, comprometendo seriamente a higiene, conseqüentemente a saúde das
mesmas.
A inexistência da rede de esgoto em quase toda periferia e a destinação
adequado do lixo propiciou o aparecimento de doenças, principalmente as de
veiculação hídrica.
Nesse contexto, foi possível observar que esses moradores, sem educação
básica, desconhecem ou ignoram o que seja desenvolvimento sustentável e
preservação ambiental, devastando a mata ciliar e utilizando o rio como esgoto a céu
aberto.
8
VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
REFERÊNCIAS
BRASIL. Fundação Nacional de Saúde. 2004, Manual de Saneamento, 3.ed. rev.
IPECE. 2002, Mapa Básico do Estado do Ceará.
MONT’ALVERNE, A. A. F.; PONTE, F. C.; COSTA, W. C; DANTAS, J. R. A; LOPES, C. F.; MELO
JUNIOR, A. H.; PONTE, J. S. A.; FILGUEIRA, J. B. M.; SOUZA, S. do R.; SILVA, E. C. C. da.
1996, Projeto Avaliação hidrogeológica da bacia sedimentar do Araripe. Ministério das
Minas e Energia. Departamento Nacional da Produção Mineral. Programa Nacional de
Estudos dos Distritos Mineiros. – Fase I. Recife.
MMA – Ministério do meio Ambiente. Secretaria dos Recursos Hídricos. 2003. Plano
Nacional de Recursos Hídricos: Documento de Introdução. Brasília: MMA.
PONTE, F. C. 1992, Origem e evolução das pequenas bacias cretácicas do interior do
Nordeste do Brasil. 2º Simpósio sobre as Bacias Cretácicas Brasileiras. Resumos
expandidos. Rio Claro – UNESP.
9
Download