Dissertação Final da Mestranda Celsa Ferreira Lustosa

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM ALIMENTOS E NUTRIÇÃO- NÍVEL
MESTRADO
CORRELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ALIMENTOS RICOS EM POLIAMINAS,
TIPO DE CÂNCER E IMC DE PACIENTES ONCOLÓGICOS
Celsa Ferreira Lustosa
Teresina/2011
2
CELSA FERREIRA LUSTOSA
CORRELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ALIMENTOS RICOS EM POLIAMINAS,
TIPO DE CÂNCER E IMC DE PACIENTES ONCOLÓGICOS
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Alimentos e
Nutrição, da Universidade Federal do
Piauí, como requisito parcial para
obtenção do grau de mestre em
Alimentos e Nutrição.
Área de concentração: Alimentos e
Nutrição
Linha de pesquisa: Nutrição e Saúde
Orientadora: Profª Dr ª. Regilda Saraiva dos Reis Moreira-Araújo
Teresina/2011
3
CELSA FERREIRA LUSTOSA
CORRELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ALIMENTOS RICOS EM POLIAMINAS,
TIPO DE CÂNCER E IMC DE PACIENTES ONCOLÓGICOS
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Alimentos e
Nutrição, da Universidade Federal do
Piauí, como requisito parcial para
obtenção do grau de mestre em
Alimentos e Nutrição.
Área de concentração: Alimentos e
Nutrição
Linha de pesquisa: Nutrição e Saúde
Aprovada:
BANCA EXAMINADORA
Prof ª Dr ª. Regilda Saraiva dos Reis Moreira-Araújo
Presidente
Prof ª PhD Maria Beatriz Abreu Glória
1º Examinador
Prof ª Dr ª. Maria Castelo Branco Rocha de Deus
2º Examinador
4
Dedicatória
Aos meus pais ANTÔNIO e LUIZA pela
formação moral e profissional.
Ao meu esposo GLAUSON, principal apoio
para a realização deste trabalho, por sua
ajuda, carinho e amor sempre presentes.
Aos meus filhos ARTUR E BIANCA,
razão de tudo. O amor mais puro e verdadeiro.
5
Agradecimentos
A Deus, por me permitir terminar mais esta etapa de minha vida, iluminando
sempre meu caminho com amor e paciência.
À minha orientadora, Profª. Drª. Regilda Saraiva dos Reis Moreira Araújo,
um agradecimento especial, pelos exemplos de dedicação com que realiza seus
trabalhos, pela grande oportunidade, confiança, orientação, ensinamentos,
competência e sabedoria. Obrigada por tudo!
Ao estatístico Marcos Antônio Mota Araújo, pela disponibilidade e paciência
na analise estatística dos dados desta pesquisa.
Aos professores integrantes da banca examinadora de Qualificação,
pelas considerações no projeto de pesquisa e as Prof ª PhD Maria Beatriz Abreu
Glória e Prof ª Dr ª. Maria Castelo Branco Rocha de Deus pelas sugestões e
correções feitas na pré-banca.
Ao Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição
Universidade Federal do Piauí (UFPI), por ter me recebido como aluna.
da
À Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e
Nutrição, Profª. Drª. Regilda Saraiva dos Reis Moreira Araújo pela organização e
dedicação com que coordenou este mestrado.
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e
Nutrição, pelo apoio, ensino e incentivo.
Aos funcionários e bolsistas do Departamento de Nutrição da UFPI e do
Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição, em especial Sr. Osvaldo,
Sr. Lima, D. Maisa, Jéssica e Laina, pela disponibilidade em sempre nos ajudar com
alegria e paciência.
À Oncoclínica, por autorizar a realização desta pesquisa.
Aos pacientes, que concordaram em fazer parte desta pesquisa
disponibilizando tempo para a coleta de dados e pelo grande aprendizado de força e
coragem.
A todos os funcionários da Oncoclínica, em especial a nutricionista e amiga
Socorrinha Coelho, pela atenção, apoio e colaboração para execução deste
trabalho.
Ao meu esposo Glauson, pelo apoio e compreensão, principalmente nos
momentos que não pude dar a atenção que merecia. Obrigada por fazer parte deste
momento da minha vida.
6
Às minhas companheiras de trabalho e amigas do Hospital de Urgências
de Teresina (HUT), pelo apoio e colaboração para a execução deste trabalho, pois
sem vocês esse sonho não seria possível.
Às amigas Heila e Suely, pela amizade e apoio para não me deixar desistir
deste trabalho nas horas mais difíceis desta caminhada.
Aos meus colegas da turma de Mestrado, em especial a Ana Lina, Marina e
Rosana, pelo carinho, companheirismo e pela amizade que construímos.
A todos que me incentivaram e contribuíram para que este trabalho fosse
realizado e que por ventura não foram mencionados aqui.
Muito obrigada!
7
“De tudo, ficaram três coisas:
a certeza de estar sempre começando,
a certeza de que
é preciso continuar
e a certeza de ser interrompido antes de terminar.
Fazer da interrupção um caminho novo.
Fazer da queda um passo de dança.
Do medo, uma escada.
Do sonho, uma ponte.
Da procura, um encontro.”
(Fernando Sabino)
8
RESUMO
LUSTOSA, C.F. Correlação entre o consumo de alimentos ricos em poliaminas,
tipo de câncer e IMC de pacientes oncológicos.
Dissertação (mestrado) –
Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição, Universidade Federal do
Piauí, Teresina – PI, 2010.
O objetivo deste estudo foi determinar o consumo de alimentos ricos em
poliaminas por pacientes oncológicos e relacionar com o tipo de câncer e IMC. Foi
realizado um estudo observacional, descritivo, analítico e transversal, no qual o
universo foi constituído de 133 pacientes que realizavam tratamento quimioterápico
ou similar em clinica especializada em oncologia, de ambos os sexos, com faixa
etária de 21 a 59 anos. Para registro do consumo alimentar foi aplicado um
Questionário de Frequência de Consumo Alimentar (QFCA), previamente validado.
Para verificação do consumo de alimentos fontes de poliaminas, foi feita uma
identificação, a partir do QFCA, dos alimentos mais consumidos e ricos em
poliaminas. Foi elaborado um banco de dados no software Epi Info versão 6.04b,
sendo aplicados os testes estatísticos t de Student e o qui-quadrado e adotado o
nível
de
significância
de
5%.
Os
resultados mostraram
uma
população
predominantemente feminina (77,4%), com uma media de idade em torno de 51
anos. Quanto ao estado civil a maioria da população era casada (73,7%). A
escolaridade foi em torno de 8 anos de estudo e a maioria trabalhava (57,1%). A
localização do câncer em 54,1% era na mama. Em relação ao IMC, a eutrofia foi a
que apresentou a maior porcentagem com 36,8%, seguida de excesso de peso com
33,8% e da obesidade com 21,1%. O grupo de alimentos com o maior consumo
diário foi o das frutas e vegetais, apresentando diferença estatisticamente
significativa (p<0,05), seguido do de cereais e leguminosas. O consumo médio diário
de poliaminas pelos pacientes oncológicos estudados foi considerado baixo, e o
consumo semanal e a freqüência de consumo total foram moderados. Verificou-se
correlação estatisticamente significativa (p<0,05) entre o câncer de intestino e a
obesidade com o consumo de poliaminas.
Palavras-Chave: Consumo alimentar; Poliaminas; Câncer; Pacientes oncológicos.
9
ABSTRACT
LUSTOSA, C.F. Correlation among consumption of foods rich in polyamines,
cancer type and BMI of cancer patients. Dissertação (mestrado) – Programa de
Pós-graduação em Alimentos e Nutrição, Universidade Federal do Piauí, Teresina –
PI, 2010.
The objective of this study was to determine the consumption of foods rich in
polyamines by cancer patients and correlate it with the type of cancer and BMI. An
observational, descriptive, analytical and cross. Study was conducted with 133
patients of both sexes, 21 to 59 years of age in a clinic specialized in oncology, that
performs chemotherapy. Food intake was investigated by means of a previously
validated questionnaire was applied to food frequency (FFQ). The consumption of
foods rich in polyamines, was identified based on the FFQ applied. A database in Epi
Info version 6.04b was constructed and applied statistical tests, Student t test and
chi-square were applies at significance level of 5%. The results showed a
predominantly female population (77.4%), an average age around 51 years. As to the
civil status the majority were married (73.7%). Schooling was around 8 years of
study. The majority of the individuals worked (57.1%). The location of the cancer in
54.1% of the patients was breast cancer. Regarding the BMI normal weight
individuals were prevalent with 36.8%, followed by excess weight with 33.8% and
21.1% with obesity. The food group with the highest daily consumption was fruits and
vegetables, significant statistically correlation (p<0,05), followed by cereals and
legumes.
The estimated average daily intake of polyamines for cancer patients
studied was considered low, and the weekly consumption and frequency of total
consumption were seen as moderates. There was significant statistically correlation
(p<0,05) among the obesity and the bowel cancer with the consumption of
polyamines.
Keywords:
Food
consumption;
Polyamines;
Cancer;
Oncology
patients.
10
LISTA DE TABELAS
1. Teores de poliaminas obtidos em estudos com alimentos realizados no Brasil
................................................................................................................................... 24
2. Teores de poliaminas obtidos em estudos realizados com alimentos em outros
países ....................................................................................................................... 25
3. Características sócio-demográficas nos pacientes pesquisados. Teresina, 2010
.................................................................................................................................. 41
4. Localização do câncer dos pacientes pesquisados. Teresina, 2010.....................46
5. Tempo em anos de diagnóstico de câncer dos pacientes pesquisados. Teresina,
2010 ......................................................................................................................... 47
6. Tipo de tratamento para o câncer dos pacientes pesquisados. Teresina, 2010
................................................................................................................................... 48
7. Média e desvio-padrão do peso e altura dos pacientes pesquisados. Teresina,
2010 .......................................................................................................................... 49
8. Índice de Massa Corporal segundo o sexo dos pacientes pesquisados. Teresina,
2010 .......................................................................................................................... 50
9. Alimentos ricos em poliaminas mais consumidos pelos pacientes pesquisados.
Teresina, 2010 .......................................................................................................... 62
10. Correlação entre o consumo de alimentos ricos em poliaminas, o tipo de câncer
e índice de massa corporal. Teresina, 2010 ........................................................... 63
11
LISTA DE FIGURAS
1. Estrutura química das poliaminas ........................................................................ 19
2. Vias para síntese de poliaminas........................................................................... 20
3.
Mudança
alimentar
após
diagnóstico
a
doença
instalada.
Teresina,
2010........................................................................................................................... 52
4. Consumo alimentar dos grupos das carnes, ovos e leguminosas dos pacientes
pesquisados. Teresina, 2010 ................................................................................... 57
5. Consumo alimentar do grupo de cereais e massas dos pacientes pesquisados.
Teresina, 2010 ......................................................................................................... 58
6. Consumo alimentar dos grupos das frutas e vegetais dos pacientes pesquisados.
Teresina, 2010 .......................................................................................................... 59
12
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACS
American Cancer Society
ADC
Arginina descarboxilase
ADOMETDC S-adenosilmetionina descarboxilase
AGM
Agmatina
DFMO
Alfa-difluoro-metil-ornitina
DNA
Ácido desoxirribonucleico
DRI
Ingestão dietética de referência
EPD
Espermidina
EPM
Espermina
FDA
Food and Drug Administration
IMC
Índice de Massa Corpórea
INCA
Instituto Nacional do Câncer
ODC
Ornitina descarboxilase
OMS
Organização Mundial de Saúde
PA
Poliaminas
PUT
Putrescina
QFCA
Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
R24
Recordatório de 24 horas
RNA
Ácido ribonucleico
UFPI
Universidade Federal do Piauí
VET
Valor Energético total
WCRF
World Cancer Research Fund
WHO
World Health Organization
13
SUMÁRIO
1.0 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 16
2.0 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 18
2.1 Aminas biotivas................................................................................................ 18
2.2 Poliaminas........................................................................................................ 19
2.2.1 Definição e classificação .............................................................................. 19
2.2.2 Síntese.......................................................................................................... 20
2.2.3 Funções......................................................................................................... 21
2.2.4 Ocorrência nos alimentos.............................................................................. 21
2.3 Câncer............................................................................................................. 26
2.3.1 Definição e etiologia...................................................................................... 26
2.3.2 Processo de formação do câncer.................................................................. 27
2.3.3 Dados epidemiológicos................................................................................. 28
2.3.4 Estado nutricional no câncer ........................................................................ 29
2.4 Consumo alimentar e condições de saúde...................................................... 30
2.5 Consumo de poliaminas e câncer.................................................................... 32
3.0 OBJETIVOS .................................................................................................... 36
3.1 Objetivo geral .................................................................................................. 36
3.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 36
4.0 METODOLOGIA.............................................................................................. 37
4.1 Tipo de estudo.................................................................................................. 37
4.2 Local e período do estudo................................................................................ 37
4.3 Amostra............................................................................................................ 37
4.4 Critérios éticos ................................................................................................. 37
4.4.1 Consentimento livre e esclarecido ................................................................ 37
4.4.2 Inclusão ......................................................................................................... 37
4.5 Caracterização dos pacientes .......................................................................... 38
4.6 Estudo piloto ..................................................................................................... 38
14
4.7 Dados antropométricos (IMC)........................................................................... 39
4.8 Consumo alimentar.......................................................................................... 39
4.9 Consumo de alimentos ricos em poliaminas.................................................... 40
4.10 Valor energético total....................................................................................... 40
4.11 Analises dos dados ......................................................................................... 40
5.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................ 41
5.1 Caracterização da população............................................................................ 41
5.1.1 Idade e sexo .................................................................................................. 42
5.1.2 Estado civil .................................................................................................... 43
5.1.3 Escolaridade .................................................................................................. 43
5.1.4 Trabalho ......................................................................................................... 44
5.2 Variáveis relacionadas ao diagnostico e tratamento do câncer......................... 45
5.2.1 Localização do câncer .................................................................................... 45
5.2.2 Tempo de diagnóstico do câncer .................................................................. 47
5.2.3 Tipo de tratamento do câncer ......................................................................... 48
5.3 Dados antropométricos ...................................................................................... 48
5.3.1 Índice de massa corpórea (IMC) ..................................................................... 49
5.3.2 Mudanças na alimentação após diagnostico da doença ................................ 51
5.4 Consumo alimentar ............................................................................................ 54
5.5 Consumo alimentar de alimentos ricos em poliaminas ...................................... 60
5.6 Correlação entre consumo de alimentos ricos em poliaminas, o tipo de cancer e
o índice de massa corporal ...................................................................................... 63
5.7 Consideraçoes sobre o consumo de poliaminas em pacientes oncológicos
................................................................................................................................... 64
15
6.0 CONLUSÕES..................................................................................................... 62
7.0 SUGESTÕES...................................................................................................... 63
8.0 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 64
ANEXOS .................................................................................................................. 75
APÊNDICES ............................................................................................................. 84
16
1.0 INTRODUÇÃO
Poliaminas (PA) são bases orgânicas alifáticas e não aromáticas pertencentes
ao grupo das aminas bioativas.
Elas compreendem a espermina (EPM) e a
espermidina (EPD). A putrescina (PUT) é uma diamina precursora das poliaminas.
O fornecimento exógeno de poliaminas é obtido pelo consumo dietético e pela
absorção intestinal dos produtos do metabolismo bacteriano. Estas substâncias são
encontradas em quase todas as células e apresentam um papel importante na
regulação do crescimento e proliferação celular, na estabilização de mutações
negativas do ácido desoxirribonucléico (DNA), transcrição do ácido ribonucléico
(RNA), síntese de proteínas, apoptose e regulação da resposta imune (LIMA;
GLÓRIA, 1999; LARQUÉ et al., 2007).
As poliaminas também estão relacionadas à toxidade e a doenças no homem,
em particular, o câncer (BARDÓCZ, 1998). Segundo Lindemose et al. (2005), a
concentração de poliaminas está aumentada em células cancerosas quando
comparadas com células normais, e conseqüentemente, associada com o processo
de progressão do tumor. A demanda corporal de poliaminas é suprida principalmente
pela dieta e a diminuição da ingestão destas pode vir a reduzir a progressão do
tumor (BARDÓCZ et al., 1995). O controle dietético de poliaminas em humanos foi
pouco testado, mas bem sucedido (CIPOLLA et al., 2007; CIPOLLA et al., 2010), em
animais
experimentais
esse
controle
também
apresentou
bons
resultados
(BARDÓCZ et al., 1995).
A complexidade da dieta humana tem instigado pesquisadores a procurar os
meios mais adequados para avaliar qualitativa e quantitativamente o consumo de
alimentos, a dimensionar a adequação de nutrientes e estudar a relação entre a
dieta e a doença (MATARAZZO, 2006). As pesquisas de consumo alimentar
constituem instrumentos eficazes e de baixo custo, que permitem obter informações
sobre as características da ingestão dietética de grande parte da população. Estas
podem ser realizadas por meio de inquéritos dietéticos, que determinam, de forma
indireta, o estado nutricional de grupos e indivíduos (LIMA et al., 2003).
O índice de massa corporal (IMC) é obtido a partir do peso e da altura, assim,
mudanças nessas medidas, fazem com que este índice também se modifique. O
17
IMC é utilizado principalmente em grupos de pessoas e tem aplicação simples. Sua
importância está bem evidenciada em estudos que o relaciona com a mortalidade.
O aumento do risco de morte por doenças cardiovasculares, câncer e outras
doenças aumentam com o aumento do IMC, enquanto que índices abaixo dos
valores
referenciados
pela
Organização
Mundial
de
Saúde
(2003)
estão
relacionados ao aumento da mortalidade por outras doenças, como: respiratórias e
infecciosas, tanto em homens quanto em mulheres. Esse índice ignora a
composição corporal, mas isso não invalida sua relevância (CALLE et al., 1999).
Câncer é o termo comum para todos os tumores malignos. A falha no
mecanismo normal de regulação do crescimento, proliferação e morte celular é
comum a todas as formas da doença. Segundo o Instituto Nacional do Câncer
(INCA) a incidência de câncer tem aumentado consideravelmente em todo o mundo,
configurando atualmente como um dos mais importantes problemas de saúde
publica mundial (INCA, 2009). A longevidade da população tem aumentado muito. E
este aumento foi acompanhado pela mudança no perfil da mortalidade com
diminuição de doenças infecciosas e aumento concomitante da taxa de doenças
crônico-degenerativas, especialmente as doenças cardiovasculares e o câncer. No
Brasil, o câncer constitui a segunda causa de morte por doença (GUERRA et al.,
2005; GAROFOLO et al., 2006).
Pesquisas sobre o conteúdo de poliaminas em alimentos e acerca da sua
relação com a saúde e a doença, em especial, o câncer, vem sendo realizadas e
despertam grande interesse da comunidade científica e acadêmica. Entretanto, os
dados ainda são escassos. Sabendo-se que não é possível intervir de modo eficaz
sem um embasamento consistente, ressalta-se a relevância da presente pesquisa,
visto que, mediante o conhecimento sobre o consumo alimentar de poliaminas e sua
relação com o câncer, mais facilmente poderão ser definidas estratégias para a
intervenção nutricional. É válido destacar, que os dados gerados com o presente
estudo poderão subsidiar outros estudos e auxiliar a conduta dietoterápica.
Tendo em vista o exposto acima e como uma das fontes de poliaminas é a
dieta, o objetivo deste trabalho foi avaliar o consumo de alimentos ricos em
poliaminas por pacientes oncológicos em Teresina-PI e correlacionar com o tipo de
câncer e o IMC.
18
2.0 REVISÃO DE LITERATURA
2.1
AMINAS BIOATIVAS
As aminas bioativas ou biologicamente ativas são bases orgânicas alifáticas,
aromáticas ou heterocíclicas de baixo peso molecular. São também definidas como
compostos nitrogenados onde um, dois ou três átomos de hidrogênio da amônia
foram substituídos por grupos alquila ou arila. As aminas são formadas por
processos bioquímicos e participam de funções metabólicas e fisiológicas
importantes nos organismos vivos, desempenhando diversas atividades biológicas.
São encontradas em alimentos de origem animal e vegetal, bem como em alimentos
fermentados (BRINK et al., 1990; GLÓRIA, 2003).
As aminas podem ser classificadas de diferentes formas. Quanto ao número
de grupamentos amina na molécula, as aminas são classificadas em monoaminas
(tiramina, feniletilamina), diaminas (histamina, triptamina, serotonina, putrescina e
cadaverina) e poliaminas (espermina, espermidina e agmatina) (BARDÓCZ et al.,
1995). De acordo com a estrutura química, as aminas podem ser classificadas em
alifáticas (putrescina, cadaverina, espermina, espermidina e agmatina), aromáticas
(tiramina, feniletilamina) e heterocíclicas (histamina, triptamina) (SALAZAR et al.,
2000).
Quanto a via biosintética, as aminas se classificam em biogênicas e naturais.
As principais aminas biogênicas são histamina, serotonina, tiramina, feniletilamina,
triptamina,
putrescina,
cadaverina
e
agmatina.
Estas
são
formadas
pela
descarboxilação de aminoácidos por enzimas microbianas. A histamina por estar
armazenada nos mastócitos e basófilos, e pode ser classificada como biogênica e
natural (BARDÓCZ et al., 1995; SALAZAR et al., 2000).
As aminas biogênicas são encontradas em vários alimentos que incluem
pescados, carnes, laticínios, vinhos, cervejas, frutas, nozes, chocolates e outros.
Podem desempenhar função psicoativa (atuação no sistema nervoso central) ou
vasoativa (atuação direta ou indireta no sistema vascular, podendo ser
vasoconstritora ou vasodilatadora). Tiramina, triptamina e feniletilamina são
vasoativas e têm ação vasoconstritora, causando um aumento da pressão
sanguínea por constringir o sistema vascular. A histamina apresenta ação vasoativa,
19
sendo vasodilatadora periférica. Já a cadaverina e a putrescina diminuem a pressão
arterial (LIMA; GLÓRIA, 1999). A serotonina desempenha importante papel no
controle e ingestão alimentar, no sono, na fadiga e no humor (FLORES; GALSTON,
1984; BARDÓCZ et al., 1995).
As aminas biogênicas podem apresentar efeitos fisiológicos relevantes,
entretanto, quando estão em concentrações elevadas na dieta, podem causar
efeitos nocivos à saúde humana. A intoxicação mais frequente causada por aminas
envolve a histamina, como resultado da ingestão de alimentos contendo níveis
elevados deste composto (LIMA; GLÓRIA, 1999). Dores de cabeça, vômito, edema,
diarréia e hipertensão são os sintomas observados, podendo também ocorrer edema
de glote (MOINARD et al., 2005).
2.2 POLIAMINAS
2.2.1 DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO
As poliaminas são substâncias pertencentes ao grupo das aminas bioativas,
presentes em todos os animais e vegetais. Estão em todos os organismos e são
formadas durante processos metabólicos normais (FLORES; GALSTON, 1984;
BARDÓCZ et al., 1995). As poliaminas mais importantes são a espermina [N-3(3aminopropil)-1,4-butano
espermidina
diamina
ou
aminopropil-tetrametileno-diamina]
[N,N´-bis(3-aminopropil)-1,4
butano
diamina
ou
e
a
diaminipropil-
tetrametilenadiamina] e se caracterizam por possuírem mais de dois grupamentos
amino (FIGURA 1). A diamina putrescina [1,4-butano diamina] e a agmatina são
precursoras destas poliaminas (WALLACE; CASLAKE, 2001; MOINARD et al.,
2005).
H2N - (CH2)4 - NH - (CH2)3 - NH2
H2N - (CH2)3 - NH - (CH2)4 - NH- (CH2)3 - NH2
Espermina
Figura 1. Estrutura química das poliaminas.
Fonte: LIMA; GLORIA (1999).
Espermidina
20
Estas substâncias regulam o crescimento e a diferenciação das células dos
eucariotas e procariotas. São componentes indispensáveis de todos os organismos
vivos,
importantes
no
crescimento,
renovação
e
metabolismo
celular
(KAROVIČOVÁ; KOHAJDOVÁ, 2005; SOULET; RIVEST, 2007).
As poliaminas podem ser formadas e degradadas como resultado da
atividade metabólica normal dos animais, vegetais e microrganismos (SALAZAR et
al., 2000). A espermina e espermidina são formadas in situ nas células à medida que
são requeridas, sendo a putrescina um intermediário obrigatório. (BARDÓCZ et al.,
1995; SHALABY, 1996; LIMA; GLÓRIA, 1999).
2.2.2 SÍNTESE
A síntese de poliaminas é um processo complexo e tem seu início em uma
reação de descarboxilação. A biossíntese dessas aminas é regulada por duas
enzimas chave: ornitina descarboxilase (ODC) e S-adenosilmetionina descarboxilase
(AdoMetDC) e são formadas por metionina, agmatina ou arginina. A principal rota
para a formação da putrescina em células de mamíferos é a via da ornitina
descarboxilase (FIGURA 2). Plantas e microrganismos podem também produzir
putrescina através da via arginina descarboxilase (ADC) (FIGURA 2) (KALAC;
KRAUSOVÁ, 2005).
ARGININA
ORNITINA
ARGININA
DESCARBOXILASE
ORNITINA
DESCARBOXILASE
PUTRESCINA
N- CARBAMOIL
PUTRESCINA
AGMATINA
PROPILAMINA
ESPERMIDINA
S- ADENOSIL- METIONINA
DESCARBOXILADO
S-ADENOSILMETIONINA
ESPERMINA
Figura 2. Vias para síntese de poliaminas.
Fonte: ADÃO; GLORIA (2005).
DESCARBOXILASE
METIONINA
21
Os pré-requisitos para a formação das poliaminas em alimentos são a
disponibilidade de aminoácidos livres, a presença de microrganismos descarboxilase
positivos e condições que permitam o crescimento bacteriano e a atividade
descarboxilase (BRINK et al., 1990).
2.2.3 FUNCÕES
As poliaminas estão envolvidas em diversos processos vitais como síntese de
DNA, RNA e proteínas (BARDÓCZ et al., 1995), na proliferação e no crescimento
celular e tumoral (BARDÓCZ et al., 1995; SEILER, 2003), estabilidade da membrana
(SARHAN et al., 1989), resposta ao estresse e retardamento da senescência
(BOUCHERAU et al., 2000; VALERO et al., 2002). Desempenham funções celulares
exclusivas, como iniciação e controle da translação de RNAm para síntese protéica
(BARDÓCZ et al., 1995; SEILER, 2003).
Estudos recentes têm indicado que baixos níveis de poliaminas limitam o
crescimento celular. Por outro lado, excesso de poliaminas livres pode induzir
toxidade e crescimento anormal, incluindo diferenciação celular, promoção e invasão
tumoral, apoptose e necrose (MITCHELL, 2004).
As poliaminas são ainda eficientes seqüestradoras de radicais livres, podendo
inibir a peroxidação lipídica e retardar a senescência (BARDÓCZ, 1998). O estudo
de Bellé et al. (2004) caracteriza o papel antioxidante das poliaminas no cérebro,
sendo a espermina mais potente que a espermidina. Segundo Silla-Santos (1996), o
efeito antioxidante das poliaminas está diretamente relacionado com grupamentos
amino.
2.2.4 OCORRÊNCIA EM ALIMENTOS
A ingestão de aminas bioativas está associada com importantes aspectos da
saúde e da doença. Os dados sobre o conteúdo de poliaminas em alimentos ainda
são limitados e dispersos na literatura. Além disso, os alimentos analisados incluem
22
hábitos específicos de alguns poucos países. Ainda, parte dos dados publicados foi
baseada em duas a três amostras individuais de alimentos, não sendo resultados
estatisticamente significativos (KALAC; KRAUSOVÁ, 2005).
Existem variações nos teores de poliaminas para determinados grupos de
alimentos. Alguns autores demonstraram que a carne vermelha contém maior
quantidade de espermina, assim como a carne de frango. Já a carne de peixe
contém mais putrescina. Em relação ao leite de vaca e ao iogurte, o teor total de
poliaminas foi baixo. Os ovos de galinha também apresentaram baixos teores de
poliaminas totais. Nas frutas e vegetais foi encontrada alta quantidade de
espermidina e putrescina e baixa de espermina. Os pães e cereais não são boas
fontes de poliaminas (BARDÓCZ, 1998; ELIASSEN et al., 2002; KALAC;
KRAUSOVÁ, 2005).
Dentre os estudos brasileiros, segundo Lima et al. (2006), os ovos de galinha,
arroz agulhinha tipo longo (Oryza sativa L.), feijão carioca (Phaseolus vulgaris L.),
alface lisa (Lactuca sativa L.), laranja pêra (Citrus sinensis L.), batata inglesa
(Solanum tuberosum L.), tomate (Licopersicum esculentum Mill.), banana nanica
(Musa sp sub-grupo Cavendish), cebola (Allium cepa L.), alho (Allium sativum L.)
e azeite extra virgem, contribuem com espermidina e espermina para a dieta,
embora os valores possam variar de acordo com a origem e com as formas de
armazenamento ou produção. As maiores fontes de putrescina, dentre estes
alimentos, são: alface, laranja, tomate, banana e batata frita ou cozida.
Segundo Moreira-Araújo (2003), o leite humano tem poliaminas, além das
mais descritas na literatura (espermina, espermidina), possui também a agmatina. A
precursora putrescina também está presente no leite humano. Este contém também
aminas biogênicas em quantidades muito pequenas, que podem ser provenientes da
dieta materna, principalmente de cadaverina e serotonina. As fórmulas infantis
artificiais possuem aminas biogênicas em teor bem mais elevado que o leite
humano.
O leite materno é a principal fonte de poliaminas para recém-nascidos. Os
componentes nutricionais do leite humano podem influenciar no desenvolvimento e
maturação intestinal em recém-nascidos. No entanto, esses componentes ainda não
foram totalmente incorporados às fórmulas infantis porque mais estudos são
necessários para esclarecer o seu papel durante esta fase inicial da vida
(MOREIRA-ARAÚJO, 2003; MOINARD et al., 2005).
23
Os níveis de poliaminas apresentam-se baixos no leite de vaca, iogurtes. No
entanto, o conteúdo das poliaminas pode chegar a um nível extremamente elevado
nos queijos, principalmente naqueles que são maturados. As principais poliaminas
destes produtos são espermidina e espermina (VALE; GLÓRIA, 1997; FARRIOL et
al., 2004).
Freitas (2006) determinou os teores de poliaminas nas formulas de nutrição
enteral utilizadas nos centro de alta complexidade em oncologia de Belo HorizonteMG, no qual avaliou alguns tipos de fórmulas enterais: as nutricionalmente
completas, as infantis e aquelas para situações metabólicas especiais, como
fórmulas para diabetes, para insuficiência renal, para trato gastrointestinal
comprometido e fórmulas para imunossuprimidos.
Freitas (2006) verificou que as fórmulas enterais nutricionalmente completa e
as infantis apresentavam baixos teores de poliaminas e suas precursoras (putrescina
e agmatina), o que favorece a utilização destas em oncologia. Dentre as fórmulas
para situações metabólicas especiais, as dietas para diabetes apresentaram valores
estatisticamente significativos de poliaminas, já aquelas para insuficiência renal
apresentaram valores nulos ou não detectáveis de poliaminas.
No estudo de Freitas (2006), as formulações para trato intestinal
comprometido destacaram-se com valores significativos maiores de poliaminas
totais. Segundo Deloyer et al. (2001), o desenvolvimento do trato gastrintestinal é
dependente da atividade da ornitina descarboxilase e do conteúdo de poliaminas na
mucosa. Isto poderia justificar a maior presença de espermina e espermidina nas
fórmulas para o desenvolvimento do trato gastrintestinal. Os teores de poliaminas
nas fórmulas para imunossuprimidos foram baixos, mas a escolha deste tipo de dieta
deve ser feita com cautela em câncer, pois algumas formulações são enriquecidas
com L-arginina, que pode ser precursora na biossíntese das poliaminas.
Batista (2007), analisando dietas enterais artesanais quanto aos teores de
poliaminas em centros de alta complexidade oncológica em Belo Horizonte-MG,
detectou que a espermina e espermidina foram as poliaminas mais frequentemente
encontradas nos alimentos estudados. São fontes significativas de espermina e
espermidina as carnes cozidas (músculo bovino e peito de frango) e o maracujá.
Dentre os estudos brasileiros, é possível verificar alguns dados sobre os tipos
e teores de poliaminas em alguns alimentos. Estes dados estão apresentados na
TABELA 1.
24
Tabela 1 - Teores de poliaminas obtidos em estudos com alimentos realizados
no Brasil.
Alimentos
Abacaxi
1
1
Açucar
Alcaparras2
Alface7
Arroz cozido1
EPD
Total
0,31 - 1,63
0,07 - 0,44
nd - 0,34
nd - 0,25
0,38 - 2,07
nd
0,19 - 0,57
0,42 - 1,03
nd
nd
nd
nd - 0,18
nd
nd
nd - 0,20
0,03
nd
nd
0,13 - 0,24
0,12 - 0,73
nd
nd
0,32 - 1,01
0,54 - 1,97
nd
nd
nd
0,12 - 0,90
0,03 - 0,09
0,02 - 0,03
nd - 0,60
0,31
0,02 - 0,08
0,06 - 0,11
0,38
nd- 1,29
0,06 - 0,19
0,04 - 0,27
0,72 - 2,15
0,03
0,26 - 0,75
nd - 0,01
nd
0,02 - 6,65
0,07 - 0,15
0,02 - 0,04
nd
nd - 0,24
0,15 - 0,34
3,02 - 3,54
nd
2,74 - 4,58
0,03 - 0,03
5,93 - 7,97
0,07 - 1,31
nd
nd
nd
nd
nd
0,72
0,18
nd
nd
0,24
nd - 1,89
0,35 - 1,22
0,05 - 0,07
nd - 0,04
nd
nd
0,03 - 0,04
nd
0,01 - 4,56
nd
nd
nd
nd - 0,20
nd
0,11 - 0,13
nd
nd
nd
0,28 - 1,41
nd - 0,13
nd
0,03 - 0,13
1,24 - 4,04
0,12 - 0,54
nd
0,34 - 3,17
nd
0,13 - 0,27
0,27 - 0,49
0,67
0,13 - 0,89
0,11 - 0,80
nd
nd
0,07
0,04 - 0,18
3,35 - 7,05
0,05 - 1,28
0,01 - 0,92
0,04 - 0,08
0,12 - 0,20
nd - 0,24
0,53 - 1,93
nd - 0,27
0,63 - 1,96
0,08 - 0,61
nd - 0,09
nd
nd
nd - 1,37
nd
1,03 - 1,33
2,02 - 6,09
0,26 - 1,05
0,18 - 0,26
2,32 - 19,69
0.66
0,26 - 0,56
0,59 - 0,97
3,57
0,6 - 8,00
1,27 - 3,82
0,34 - 0,79
0,94 - 2,71
0,17
0,41 - 1,45
3,77 - 7,23
0,07 - 2,66
0,07 - 15,92
0,16 - 0,36
0,19 - 0,33
0,16 - 0,54
0,91 - 3,13
0,35 - 1,37
6,07 - 9,16
0,24 - 0,88
3,00 - 5,12
0,03 - 0,03
6,65 - 10,55
0,07 - 3,87
nd - 0,14
nd
0,19 - 12,20
0,35 - 13,04
Azeite de oliva e.v1
nd
3
Banana
1,0 - 1,2
Berinjela2
0,66 - 1,15
Beterraba in natura1
0,11 - 0,42
1
Beterraba cozida
0,16 - 0,23
2
Brócolis
1,98 - 15,20
Café 5
0,17
1
Cenoura in natura
0,11 - 0,21
1
Cenoura cozida
0,26 - 0,37
8
Couve
2,28
Couve - flor2
0,47 - 3,93
Espinafre2
0,75 - 1,61
1
Extrato de soja
0,25 - 0,45
1
Feijão cozido
0,22 - 0,52
FIASs9
0,07
1
Goiaba
0,11 - 0,52
1
Laranja
0,06 - 0,13
1
Leite em pó integral
0,01 - 1,38
Leite humano 9
0,03 - 3,79
4
Leite UHT
0,05 - 0,13
1
Limão
0,05 - 0,09
1
Maça
0,16 -0,30
Mamão1
0,38 - 0,76
Manga1
0,20 - 0,76
1
Maracujá
2,31 - 3,53
2
Mandioca
0,16 - 0,27
Músculo moído cozido1 0,26 - 0,45
Ovo cozido1
nd
1
Peito de frango cozido
0,44 - 1,17
6
Queijo mussarela
nd -1,06
Tomate2
Poliaminas (mg/100g)
EPM
AGM
PUT*
0,16 - 0,70
EPD=espermidina, EPM=espermina, AGM= agmatina, PUT= putrescina.
*Diamina precursora de poliaminas.
Valores mínimos e máximos; nd: valores não detectados; FIAs: fórmulas infantis artificiais.
Referências: 1 - BATISTA (2007); 2- STARLING (1998); 3- ADÃO; GLÓRIA (2005); 4 - ALMEIDA et al., (2003); 5- SILVEIRA
(2008); 6- VALE; GLÓRIA (1997); 7- COELHO (2001); 8- VIEIRA (2003).
25
Comparando-se o percentual de contribuição das poliaminas para pacientes
oncológicos no estudo de Freitas (2006), os teores médios de poliaminas variou de
0,04 a 3,50 mg/dia e no de Batista (2007), os teores médios de poliaminas variou de
0,86 a 10,05 mg/dia. Diante destes estudos observa-se que as dietas enterais
artesanais apresentam maior teor de poliaminas do que as industrializadas.
Os teores de poliaminas de alguns alimentos também são verificados em
pesquisas realizadas em outros países. Estes dados estão apresentados na Tabela
2.
Tabela 2 - Teores de poliaminas obtidos em estudos realizados com alimentos
em outros países.
Alimentos
Abacate4
Aface 2
Aveia4
Batata doce4
Batata inglesa1
Chá verde2
Chocolate4
Fígado2
Iogurte 1
Kiwi4
Leite semi desnatado2
Melão 4
Pão integral1
Peixe 2
Pepino2
Pêra4
Presunto4
Tangerina3
Tomate 1, 2
Uva4
Poliaminas (nmol/g)
EPD
EPM
AGM
12,7
6,6
nd
51 - 71
0-9
nd
65,4
12,6
nd
12 - 55
1 - 14
nd
57 - 94
4 - 20
nd
nd
nd
nd
15 - 17
4 -11
nd
48,8
130
nd
nd - 9
nd - 11
nd
37,3
7,4
nd
0,03 - 0,06 0,02 - 0,04
nd
77,7
4,2
nd
70 - 102
17 - 43
nd
0 - 26
0 - 11
nd
37 - 71
0 -14
nd
18,4
0,2
nd
8,1
63,4
nd
1 - 16
0-1
nd
22 - 37
0-7
nd
15,2
0,01
nd
PUT*
3,1
51 - 83
22,1
7 - 76
66 -145
nd
0 - 10
nd - 10
13,3
0,09 - 0,18
22,7
28 - 46
6 - 35
62 - 99
0,4
nd
118 - 468
108 - 375
34,2
Total
22,40
102,0 - 163,0
100,10
20,00 - 145,0
127,0 - 259,0
nd
19,00 - 38,00
178,8
nd - 30,00
58,00
0,14 - 0,19
104,60
115,0 - 191,0
6,00 - 72,00
99,00 - 184,0
19,00
71,50
119,0 - 484,0
130,0 - 419,0
49,41
EPD=espermidina EPM=espermina
AGM= agmatina PUT= putrescina.
*Diamina precursora de poliaminas.
Valores mínimos e máximos; nd: valores não detectados.
Referências: 1 - OKAMOTO et al., (1997); 2- BARDÓCZ et al., (1995); 3- NISHIBORI et al. (2007); 4 -CIPOLLA et al., (2007); 5
- KOZOVÁ et al., (2009).
As poliaminas espermina e a diamina putrescina são praticamente
onipresentes em todos os vegetais frescos (KALAC; KRAUSOVÁ, 2005).
26
Quantidades significativas de PUT podem ser uma característica das frutas citricas,
como laranja, assim como sucos de laranja (BARDÓCZ et al., 1995; ELIASSEN et
al., 2002). Foi relatado por Shalaby (1996) que a PUT foi a amina predominante na
maioria das amostras de suco de fruta incluindo framboesas, limões, tangerinas,
morangos e uvas.
No estudo de Saaid et al. (2009), foi verificado que pequenas quantidades de
EPD foram encontradas na maioria das amostras de peixe, principalmente devido ao
fato de que essa amina desempenha um papel importante no metabolismo de peixes
vivos e no crescimento celular (SHALABY, 1996). Hernandez-Jover et al. (1997)
salientaram que a EPD é detectada em carne e em produtos de carne e pode
ocorrer naturalmente na carne bovina “in natura”, acrescentando-se que sua
formação não é devida à deterioração de alimentos ou de processos de
fermentação.
Kozová et al. (2009) pesquisaram os teores de poliaminas
em carne de
frango, fígado e coração após o abate e suas alterações durante o armazenamento
e cozimento. A carne fresca de frango foi classificada como um alimento com altos
níveis poliaminas, principalmente espermina, mas os maiores teores foram obtidos
nas vísceras, principalmente no fígado. Foi observado também por Kozová et al.
(2009) que após 06(seis) meses de congelamento os teores de espermina e
espermidina são aumentados.
Kozová et al. (2009) pesquisaram ainda as mudanças no conteúdo de
espermina e espermidina, na carne de frango, sobre os diferentes tratamento de
cozimento, verificando que assar, fritar ou grelhar o peito de frango parece causar
perdas maiores destas poliaminas do que cozinhar (fervura). Segundo Eliassen et
al., (2002) tal perda não é relevante estatisticamente.
2.3 CÂNCER
2.3.1- DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA
O câncer é a designação genérica de qualquer tumor maligno. As células
malignas mostram variadas alterações bioquímicas, morfológicas e funcionais. O
27
câncer usualmente tem crescimento rápido uma vez que a taxa de multiplicação das
células malignas é elevada. Há, ainda, perda da diferenciação celular resultando em
atipias que vão de discretas até muito intensas. As atipias extremas e a perda
completa das características morfológicas de uma célula são chamadas de
anaplasia (WHO, 2002).
De acordo com a American Cancer Society (ACS, 2002), o câncer pode ser
causado por fatores externos (tabaco, químicos, radiação e organismos infectantes)
e fatores internos (hormônios, condições imunológicas e mutação) que ocorrem no
metabolismo. Certos vírus foram também implicados como agentes produtores de
câncer (ALMEIDA et al., 2005; RIVOIRE et al., 2006). Segundo MEYENFELDT
(2005), cerca de 5% de todos os cânceres são resultados de mutações genéticas
herdadas, e 95% definidos como “esporádicos”, o que significa a combinação da
genética, de fatores ambientais e oportunistas.
2.3.2 PROCESSO DE FORMAÇÃO DO CÂNCER
Oncogênese ou carcinogênese são termos utilizados para caracterizar todo o
processo de desenvolvimento dos tumores. Ao longo do tempo descobriu-se que o
organismo humano encontra-se exposto a múltiplos fatores carcinogênicos. Sabe-se
hoje também que a predisposição individual tem um papel decisivo na resposta final,
porém a relação dose/tempo/efeitos é impossível definir (ALMEIDA et al., 2005;
RIVOIRE et al., 2006).
A carcinogênese pode iniciar-se de forma espontânea ou ser provocada pela
ação de agentes carcinogênicos (químicos, físicos ou biológicos), ocorrendo a
modificação genética do DNA, o que caracteriza a fase denominada de iniciação. A
segunda fase, conhecida como promoção é o momento em que a exposição
repetida aos agentes promotores provoca a expressão de informações genéticas
anormais ou mutantes, mesmo após longos períodos de latência. A progressão é a
terceira etapa da carcinogênese celular, na qual as alterações celulares já exibem
comportamento maligno aumentado. Nesta fase as células apresentam propensão
para invadir tecidos adjacentes e gerar metástases (ALMEIDA et al., 2005; RIVOIRE
et al., 2006).
28
As células humanas estão equipadas com mecanismos de controle da divisão
celular. Mutações no conteúdo genético destas células podem superar este controle
e contribuir para a formação do câncer. Um desses mecanismos de ação é a
apoptose, que ocorre quando componentes essenciais estão lesados ou o controle
do sistema desregulado. O desenvolvimento de células tumorais implica escape a
esse mecanismo (ALMEIDA et al., 2005).
2.3.3 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
Câncer é um importante problema de saúde pública em países desenvolvidos
e em desenvolvimento, sendo responsável por mais de seis milhões de óbitos a
cada ano, representando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo.
Embora as maiores taxas de incidência de câncer ainda sejam encontradas em
países desenvolvidos, dos dez milhões de novos casos anuais de câncer, quase que
50% são diagnosticados nos países em desenvolvimento (WHO, 2004).
O número de casos de câncer tem aumentado consideravelmente em todo
mundo, principalmente a partir do século XX, configurando-se como um dos mais
importantes problemas de saúde pública mundial na atualidade. A frequência de
distribuição dos diferentes tipos de câncer apresenta-se variável em função das
características de cada região. O processo de reorganização global ou transição
epidemiológica determinou grande modificação nos padrões saúde-doença no
mundo (WHO, 2004; INCA, 2009).
A distribuição dos casos novos de câncer, segundo localização primária,
mostra-se heterogênea entre os estados e capitais do Brasil. As taxas brutas de
incidência mostram que as regiões Sul e Sudeste, de maneira geral, apresentam as
maiores taxas, enquanto que as regiões Norte e Nordeste mostram as menores
taxas. As taxas da região Centro-Oeste apresentam um padrão intermediário (INCA,
2009).
As estimativas no Brasil para o ano de 2010 serão válidas também para o ano
de 2011, apontando para a ocorrência de 489.270 casos novos de câncer, sendo
236.240 casos novos para o sexo masculino e 253.030 para sexo feminino. Estima-
29
se que o câncer de pele do tipo não melanoma (114 mil casos novos) será o mais
incidente na população brasileira, seguido pelos tumores de próstata (52 mil), mama
feminina (49 mil), cólon e reto (28 mil), pulmão (28 mil), estômago (21 mil) e colo do
útero (18 mil) (INCA, 2009). Em 2002, 20 milhões de pessoas conviviam com o
câncer e em 2020 provavelmente serão 30 milhões (WHO, 2002).
2.3.4 ESTADO NUTRICIONAL NO CÂNCER
A desnutrição é definida como um estado nutricional no qual as deficiências
de energia, de proteínas e de outros nutrientes causam efeitos adversos na
formação, função e características clínicas nos tecidos corporais. Ela pode ser
revertida com aporte de nutrientes. A caquexia, por outro lado, é uma síndrome de
origem
multifatorial, decorrente
de alterações metabólicas, inflamatórias e
imunológicas estimuladas pelo tumor. Esta manifesta-se por grau variável de
anorexia, alterações de sensibilidade do paladar, saciedade precoce, fraqueza e
perda de peso, resultando em atrofia muscular esquelética, miopatia, perda rápida
de tecido gorduroso e atrofia de órgãos e vísceras. A caquexia é raramente revertida
com oferta isolada de nutrientes (CUSTEM; ARENDS, 2005; SILVA, 2006).
As alterações metabólicas desencadeadas pela presença de um tumor são
bem conhecidas, porém algumas de suas etapas precisam ser melhor investigadas.
Sabe-se que estas alterações afetam o metabolismo de proteínas, lipídios e
carboidratos. Este processo inclui aumento no turnover protéico, com redução da
síntese muscular de proteínas e aumento da síntese hepática de proteínas na fase
aguda.
A produção hepática de glicose é também aumentada em pacientes com
câncer. Além disso, esses pacientes apresentam resistência insulínica, o que
aumenta a intolerância a glicose, tornado-a mal utilizada pelos tecidos periféricos. O
aumento na mobilização de gordura periférica e a excessiva oxidação de ácidos
graxos são observados. O desarranjo no metabolismo lipídico pode conduzir a
depleção dos estoques de gordura e perda de peso (CUSTEM; ARENDS, 2005;
UNSAL, 2006).
Muitos agentes produzidos diretamente pelo tumor ou pela resposta sistêmica
30
da presença do tumor, como a produção de citocinas pró-inflamatórias, como IL-1,
IL-6, TNF-α e hormônios, têm sido implicados na patogênese da caquexia. Estas
citocinas iniciam a cascata de eventos, incluindo efeitos diretos no metabolismo e
supressão do apetite e também efeitos indiretos, associados ao aumento da taxa
metabólica basal (TMB) e diminuição do IMC (CUSTEM; ARENDS, 2005).
A prevalência de desnutrição e/ou da caquexia acomete de 8% a 84% dos
pacientes com câncer, a depender do método usado para avaliação. Acima de 20%
dos pacientes com câncer morrem devido aos efeitos da desnutrição, mais do que
pela doença propriamente dita (UNSAL, 2006). Tanto a desnutrição como a
caquexia podem estar associadas ao aumento de morbidade e mortalidade pósoperatória e menor tolerância à quimioterapia e radioterapia (CUSTEM; ARENDS,
2005; MARTIN et al., 2007).
2.4 CONSUMO ALIMENTAR E CONDIÇÕES DE SAÚDE
As sociedades industrializadas, imersas no contexto da “ocidentalização” dos
hábitos de vida, caracterizados por práticas alimentares inadequadas associadas à
redução na prática de atividades físicas, estão inseridas em um processo de
transição nutricional, manifestando crescente prevalência da obesidade e,
conseqüentemente, alta da incidência de morbi-mortalidade, por complicações
metabólicas e doenças crônicas e degenerativas (BARBOSA 2006; MONTEIRO,
2006).
As condições de saúde e nutrição de uma população constituem um reflexo
de seu consumo alimentar, principalmente para as crianças, cuja alimentação
adequada é condição fundamental para o pleno crescimento e desenvolvimento. O
estado nutricional, representado pelo equilíbrio entre o consumo alimentar e as
necessidades metabólicas diárias específicas do organismo, indica em que
proporção as necessidades fisiológicas de nutrientes estão sendo supridas
(SIGULEM, 2000). Uma deficiência quantitativa e/ou qualitativa do consumo de
nutrientes e as sucessivas infecções constituem uma das causas imediatas mais
significativas dos problemas de saúde e nutrição.
31
Estudos epidemiológicos têm fornecido evidências sobre a importância da
dieta na identificação dos fatores de risco para doenças cardiovasculares,
cerebrovasculares, diabetes mellitus e vários tipos de neoplasias malignas. Vários
alimentos e nutrientes têm sido relacionados à ocorrência, ou prevenção, de
doenças crônicas em diferentes populações (TOMITA, 2002).
Conhecer o padrão de consumo alimentar de uma população é essencial para
o planejamento de políticas públicas de prevenção e controle de carências
nutricionais. Apesar da importância dos estudos de consumo alimentar na
identificação dos principais problemas nutricionais, existem grandes lacunas de
informações relacionadas às questões de alimentação devido à escassez desses
estudos (MENEZES, 2007).
É de interesse das pesquisas de caráter populacional o conhecimento da
proporção de indivíduos que apresentam ingestão acima ou abaixo das
recomendações dietéticas, uma vez que o planejamento de ações de saúde, o seu
monitoramento, a intervenção ou a regulamentação de atividades comerciais
requerem o conhecimento prévio do consumo de nutrientes pela população
(HARRISON, 2004; COSTA et al., 2006).
Os dados sobre o consumo alimentar integrados com outros indicadores do
estado nutricional, segurança alimentar, morbidade e risco de doenças, são as
bases para o monitoramento das tendências dietéticas e a definição de políticas
para agricultura, economia e saúde. Paralelamente a isso, esses dados podem
auxiliar no desenvolvimento de guias dietéticos e material para educação nutricional,
que são fundamentais para o desenvolvimento e a condução de pesquisas
científicas, contribuindo para a produção de novos estudos sobre consumo alimentar
(SLATER et al., 2003; VOCI et al., 2008).
Segundo Harrison (2004), os estudos de consumo alimentar em países em
desenvolvimento devem considerar também: a integração do consumo alimentar
com outros dados, como saúde, estado nutricional e/ou despesas domésticas; o
tamanho e a distribuição geográfica da amostra, a variação sazonal da ingestão
alimentar, o desenvolvimento adequado do protocolo de estudo, a utilização dos
instrumentos dietéticos adequados, a variação intrapessoal e interpessoal da
ingestão dietética, os aspectos culturais específicos e a comparação dos dados com
os de outros países ou regiões.
32
Os inquéritos dietéticos são os mais adequados para detectar a deficiência
nutricional em seu estágio inicial, sendo, por isso, utilizados em estudos
epidemiológicos de associação entre exposição ao fator e desfecho da deficiência
(LOPES et al., 2003). O Questionário de Frequência de Consumo Alimentar (QFCA)
e recordatório de 24 horas (R24h) são métodos de inquérito de consumo alimentar,
classificados como retrospectivos, que avaliam o consumo passado (recente e
remoto). O QFCA deve ser específico para a população que se deseja estudar, uma
vez que a lista dos alimentos deve ser baseada no consumo habitual dessa
população.
É importante destacar as limitações inerentes às ferramentas de aplicação de
um inquérito alimentar, pois é sabido que os perfis socioeconômico, cultural e clínico
influenciam fortemente a ingestão alimentar do paciente. Associada a essas
variáveis, destacam-se outros fatores, como o sexo, a idade e o nível educacional
que afetam o processo cognitivo de lembrar e descrever os alimentos, mesmo
aqueles habitualmente consumidos (SILVA et al., 2010).
Segundo Queiroz et al. (2007), citado por Campos (2010), o conhecimento da
prática alimentar é uma variável indispensável para desenvolver atividade ligada ao
estado nutricional de populações, seja de diagnóstico, de intervenção ou de controle.
Para a caracterização da dieta habitual de indivíduos são necessários instrumentos
que avaliem de forma fácil e com baixos custos o hábito alimentar. Dessa forma, os
questionários de freqüência alimentar têm sido particularmente úteis em estudos
populacionais sobre dieta e enfermidades crônicas (MATARAZZO, 2006).
2.5 CONSUMO DE POLIAMINAS E CÂNCER
A maior parte do conteúdo de poliaminas é proveniente da dieta,
principalmente quando essas aminas são digeridas, absorvidas pelo intestino
delgado e transportada pela circulação sistêmica aos tecidos e órgãos (BARDÓCZ et
al., 1995). Alguns alimentos possuem baixos níveis de poliaminas, assim não são
considerados um sério risco para a saúde. No entanto, quando consumidos em
quantidades excessivas, como parte de uma dieta base regular, podem causar
efeitos tóxicos e doenças como o câncer (SAAID et al., 2009).
33
Segundo Bardócz et al. (1995) e Eliassen et al., (2002), um mecanismo
regulador da concentração de poliaminas é a sua captação pelas células intestinais
e, essas, quando capturadas, são levadas preferencialmente até os tumores e
tecidos em proliferação. As poliaminas podem estar relacionadas a algumas
doenças no homem, em particular, o câncer.
Concentrações substanciais de poliaminas são também encontradas no
lúmen intestinal em condições de jejum, sugerindo que são secretadas
endogenamente, e tem sido mostrado que são produzidas a partir de secreções
gastrintestinais, descamação dos enterócitos e síntese bacteriana. As poliaminas
provenientes dos alimentos são totalmente absorvidas e assim a dieta pode ser uma
fonte útil destas substâncias. Além disso, estas poliaminas exógenas são
preferencialmente dirigidas e utilizadas pelos tecidos em crescimento (MOINARD et
al., 2005; LARQUÈ et al., 2007). No entanto, antes de fazer qualquer recomendação
sobre o uso de suplementos ou produtos enriquecidos com essas substâncias, mais
estudos sobre sua terapêutica e efeitos nutricionais são necessários (LARQUÈ et al.,
2007).
Em adultos saudáveis, as poliaminas são necessárias para a renovação
celular e mediação da ação de hormônios ou fatores de crescimento. Órgãos que
apresentam um alto turnover celular (trato gastrintestinal, pâncreas e baço) são
especialmente dependentes de poliaminas dietéticas. A concentração intracelular
dessas moléculas é altamente regulada pela via metabólica, a qual é influenciada
pela síntese, degradação, ingestão, e excreção dos cátions. Sabe-se que alta
atividade da ornitina descarboxilase (ODC) e aumento dos níveis de poliaminas
intracelulares ocorrem em células de rápida proliferação e diferenciação. A demanda
por poliaminas se encontra significativamente aumentada em casos de cânceres,
quando são requeridas para o crescimento e desenvolvimento de tumores. Esta
demanda é suprida principalmente pela dieta (BARDÓCZ et al., 1995).
A dieta do adulto normal prevê um fornecimento diário de poliaminas. O
conteúdo de poliaminas nos alimentos varia muito, vai desde alguns nanomoles a
micromoles por grama, além disso, as proporções de poliaminas variam de acordo
com diferentes tipos de alimentos (BARDÓCZ et al., 1995; FARRIOL et al., 2004).
No entanto, os níveis ótimos de ingestão ainda não foram esclarecidos.
De acordo com o estudo de Bardócz et al., (1995), foi possível determinar a
ingestão diária média de poliaminas pela alimentação de adultos do Reino Unido e
34
do Sul da Itália. Foi observado que, no Reino Unido, a ingestão diária média de
putrescina era em torno de 1.938 mg, 1.450 mg de espermidina e 1.416 mg de
espermina. No sul da Itália a dieta continha cerca de duas vezes mais putrescina
(3.965 mg) e espermidina 2.610 mg, mas a quantidade de espermina não variou
(1.416 mg). A ingestão de alimentos ricos em poliaminas pelo japonês foi estimado
em 200 mol / dia / pessoa, cerca de metade deste consumo foi de putrescina
(NISHIBORI et al., 2007). Este valor é significativamente inferior aos relatados para
países europeus.
Vários autores têm ressaltado a importância das poliaminas no crescimento
de tumores uma vez que estão diretamente envolvidas nas etapas de síntese de
RNA, DNA e proteínas (BARDÓCZ et al., 1995; MEDINA et al., 2003; KALAC;
KRAUSOVÁ, 2005). A inibição da biossíntese de poliaminas em tecidos cancerosos
encontra-se entre os principais objetivos de pesquisas que envolvem estas aminas.
Dessa forma, a nova prática que vem sendo adotada para inibir o crescimento de
tumores consiste em limitar a ingestão de poliaminas em pacientes com câncer
(ELIASSEN et al., 2002).
A depleção intracelular de poliaminas, pela inibição direta da biossíntese, está
associada com a diminuição da proliferação celular e foi foco de estudos sobre
antiproliferação (BARDACÓZ et al., 1995). Muitos inibidores do metabolismo de
aminas têm sido identificados recentemente no intuito de inibir os tumores
cancerígenos. Alguns são produtos naturais e outros são sintetizados quimicamente.
Um bom exemplo de inibidor do metabolismo de poliaminas é o alfadifluorometilornitina (DFMO).
O DFMO foi sintetizado em 1970 por Merrell Dow na Alemanha e foi
designado como inibidor suicida da primeira enzima da via biossintética de
poliaminas, a ornitina descarboxilase. O DFMO, considerado potente agente anticâncer in vitro, foi altamente efetivo, com significativa inibição do crescimento do
tumor. No entanto, in vivo, não mostrou resposta positiva, devido a presença de uma
mecanismo compensatório na produção de poliaminas, quando a biossíntese é
inibida (WALLACE, 2004).
Depois do desapontamento com os estudos dos inibidores do metabolismo de
aminas, foram desenvolvidos os análogos de poliaminas, como novos e potentes
agentes anti-câncer. A teoria seria que os análogos poderiam competir com as
poliaminas ingeridas. Dentro das células, eles poderiam prevenir a biossíntese de
35
poliaminas pelo mecanismo feedback negativo e inibir o crescimento de células
tumorais. Entretanto, foi observada uma baixa atividade desses análogos, e a sua
toxicidade para o organismo. Com isso, os estudos envolvendo estes compostos
foram deixados de lado (WALLACE, 2004), mas os estudos para inibição da
biossíntese de poliaminas em tecidos cancerosos encontram-se entre os principais
objetivos de pesquisas envolvendo poliaminas (BARDÓCZ et al., 1995).
Levêque et al. (2000) analisaram poliaminas em eritrócitos, urina e tecido
mamários de pacientes com câncer de mama, encontrando um aumento significativo
de poliaminas no tecido canceroso. O estudo de Srinath e Mcquarrie (2002) valida
futuros planos para uso de poliaminas, principalmente espermina e espermidina,
como possíveis marcadores para imagem em tomografia de carcinoma prostático
metastático, já que observaram um aumento significativo na concentração dessas
poliaminas dentro das células do carcinoma prostático.
Cipolla et al. (2010) reduziram o consumo de poliaminas, selecionando
alimentos com baixo conteúdo de poliaminas e
reduziram também a produção
bacteriana intestinal de poliaminas, através da descontaminação parcial do trato
gastrintestinal com antibióticos. Observaram que poderiam melhorar o desempenho
do tratamento e o controle da dor em pacientes com câncer de próstata, além de ser
benéfico também para a sobrevida dos pacientes, especialmente se iniciada nas
primeiras fases da doença (CIPOLLA et al., 2010).
De acordo com Bardócz (1998), pode-se reduzir a ingestão de poliaminas
para diminuir a progressão do tumor. Diante disso, a nova prática que vem sendo
adotada para inibir o crescimento de tumores consiste em limitar a ingestão de
poliaminas por pacientes com câncer (ELIASSEN et al., 2002).
Devido ao importante papel das poliaminas na saúde e aos seus efeitos no
crescimento de tumores cancerígenos, esta pesquisa teve por finalidade diagnosticar
o consumo de alimentos ricos em poliaminas em pacientes com câncer e
correlacionar com o IMC e o tipo de câncer, visando contribuir para futuras ações
preventivas.
36
3.0 OBJETIVOS
3.1 GERAL
Determinar o consumo de alimentos ricos em poliaminas por pacientes
oncológicos e correlacionar com o IMC e o tipo de câncer.
3.2 ESPECÍFICOS
Caracterizar os pacientes quanto ao sexo, idade, IMC, tipo de câncer, tempo
de diagnóstico e tipo de tratamento.
Diagnosticar o consumo alimentar destes pacientes.
Calcular o Valor Energético Total (VET) e o conteúdo de macronutrientes da
dieta ingerida pelos pacientes.
Verificar quais são os alimentos fontes de poliaminas consumidos pelo grupo
estudado.
Correlacionar o consumo de poliaminas nos pacientes estudados com o IMC
e o tipo de câncer.
37
4.0 METODOLOGIA
4.1
TIPO DE ESTUDO
Este estudo foi observacional, descritivo, analítico e transversal.
4.2 LOCAL E PERIODO DE ESTUDO
A pesquisa foi realizada em uma Clínica Oncológica de Teresina (PI), no
período de março a junho de 2010.
4.3 AMOSTRA
A amostra foi determinada mediante a estimativa da freqüência de pacientes
atendidos nos últimos 03 meses. O numero amostral foi de 133 pacientes calculados
utilizando-se o programa Epi-Info versão 6.0 (DEAN, 1996).
4.4 CRITÉRIOS ÉTICOS
4.4.1 CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Os pacientes que aceitaram a inclusão na pesquisa, ou seja, assinaram um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi assegurada a confidencialidade
das informações (ANEXO A). A instituição foi esclarecida sobre o estudo e, uma vez
concordando
em
participar
do
mesmo,
também
assinou
um
Termo
de
Consentimento Institucional, conforme a Resolução 196/96 (BRASIL, 1996) (ANEXO
A).
38
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Piauí (UFPI), conforme CAAE 0255.0.045.000-10 (ANEXO
C).
4.4.2 INCLUSÃO
Foram incluídos indivíduos não internados, de ambos os sexos, com faixa
etária de 21 a 59 anos, que realizavam tratamento quimioterápico ou outro tipo de
tratamento (hormonioterapia e imunoterapia).
4.5 CARACTERIZAÇÃO DOS PACIENTES
Os pacientes foram caracterizados quanto ao sexo, idade, tipo de câncer,
tempo de diagnóstico e tipo de tratamento, mediante preenchimento de questionário
pela nutricionista responsável pela pesquisa (APÊNDICE B).
4.6 ESTUDO PILOTO
Realizou-se um estudo piloto com 10% da amostra da população, para testar
os instrumentos da coleta de dados e validar um Questionário de Freqüência de
Consumo Alimentar (QFCA) adaptado, tendo como base um QFCA validado por
Moreira-Araújo (2003), em estudo anterior. Inicialmente foi aplicado um recordatório
de 24 horas (R24) em três momentos (duas vezes na semana e uma no fim de
semana). A partir daí, validou-se (WILLETT, 1990) o QFCA adaptado, sendo então
aplicado à amostra total.
39
4.7 DADOS ANTROPOMÉTRICOS (IMC)
O Índice de Massa Corporal (IMC) é obtido pela divisão do peso em
quilogramas pela altura em metros elevada ao quadrado. O IMC reflete a proporção
do tecido adiposo na massa corporal, independente de localização desta gordura
corporal (DAVIES, 2005).
Para avaliação do IMC foram tomadas as medidas de peso e altura. A
classificação do IMC foi feita segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde
(2003). O peso atual foi obtido no momento da avaliação, através da medição em
balança Welmy®, de capacidade de 150 kg, com divisões de 100 g, com o indivíduo
em posição ereta com o mínimo de roupa possível ou com roupas leves, descalço ou
com meias. A calibração foi realizada manualmente, antes de cada pesagem. A
balança utilizada foi a mesma durante todo o período. A altura foi aferida através do
estadiômetro da própria balança Welmy®, com o indivíduo em posição ereta, de
costas para a balança, olhando para frente.
4.8 CONSUMO ALIMENTAR
Para avaliação do consumo dos pesquisados foi utilizado o QFCA, adaptado
e validado no estudo piloto. Para cada item alimentar do QFCA, os participantes
referiram a freqüência média habitual de consumo de cada item à respectiva unidade
de tempo [diária (5 a 7 vezes/semana), semanal (1 a 3 vezes/semana), quinzenal (1
vez/15 dias), mensal (1 vez/mês) ou não consome].
O QFCA proposto neste estudo incluiu os alimentos mais citados nos registros
alimentares, obtidos utilizando-se o R24h. Os resultados do QFCA da população
estudada foram alocados por grupo de alimentos para uma melhor compreensão.
40
4.9 CONSUMO DE ALIMENTOS RICOS EM POLIAMINAS
O consumo de alimentos ricos em poliaminas foi obtido a partir da frequência
de consumo de alimentos da maioria da população pesquisada, isto, associado aos
teores de poliaminas dos alimentos na literatura pesquisada, verificando-se assim a
estimativa do consumo médio de alimentos ricos em poliaminas mais consumidos
pelos pacientes pesquisados. Foi obtida a frequência de consumo como variável
contínua e não categórica.
4.10 VALOR ENERGÉTICO TOTAL (VET)
O VET e os macronutrientes foram calculados com auxílio do programa
NUTWIN®. Com relação aos alimentos inexistentes no banco de dados deste
programa, foram então utilizados os alimentos da Tabela Brasileira de Composição
de Alimentos-TACO (UNICAMP, 2006). Foram verificadas ainda informações
nutricionais obtidas nos rótulos de alimentos, quando se tratavam de alimentos
regionais e de marcas especificas.
4.11 ANÁLISE DOS DADOS
Foi elaborado um banco de dados no software Epi Info versão 6.04b (DEAN,
1996). Foram aplicados testes estatísticos, t de Student no caso de comparação de
duas médias e o 2 para variáveis categóricas e o teste de correlação de Pearson
(EBRAIM, 1995), de acordo com a especificidade dos resultados obtidos. O nível de
significância adotado foi de 5%.
41
5.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
As variáveis sócio-demográficas que foram abordadas neste estudo foram:
sexo, idade, estado civil, escolaridade e ocupação (TABELA 3). Estas variáveis
foram escolhidas por serem frequentemente associadas aos fatores de risco para o
câncer.
Tabela 3. Características sócio-demográficas dos pacientes pesquisados.
Teresina, 2010.
Características
Numero de pacientes
Frequência (%)
Sexo
Feminino
Masculino
103
30
77,4
22,6
Média de idade (anos)
Homens
Mulheres
53
51
Estado Civil
Solteiro
Casado
Separado
17
98
18
12,8
73,7
13,5
Escolaridade em anos
0-3
4-7
8-10
> 10
5
49
49
30
3,8
36,8
36,8
22,6
Trabalha
Sim
Não
76
57
57,1
42,9
42
5.1.1 IDADE E SEXO
Foi aplicado o teste de Bartlett`s (EBRAIN, 1995) para verificar a
homogeneidade dos indivíduos que participaram do estudo, com relação a idade,
constatou-se que a população era homogênea, p = 0,118.
Das 133 pessoas que participaram do trabalho, a grande maioria 77,4% (103),
era composta por mulheres e 22,6% (30) pertenciam ao sexo masculino (TABELA
3). A média geral da idade ficou em torno de 51 anos. A média de idade dos homens
foi de 53 anos e das mulheres de 51 anos.
No estudo de Marques (2006) com pacientes do ambulatório de quimioterapia
de um hospital privado em São Paulo, a maioria dos participantes também era do
sexo feminino (63%). Na pesquisa de Tartari et al., (2010), 68% também eram
mulheres. A média de idade (51 anos) dos indivíduos foi semelhante à de Tartari et
al., (2010), 52,9 anos. Entretanto foi menor do que os valores obtidos por Marques
(2006), 54,8 anos e por Batista (2007), 59,3, e maior do que a de Verde (2007), 46
anos.
Muitos fatores estão relacionados com a incidência, distribuição geográfica e
o comportamento de tipos específicos de cânceres. Alguns desses fatores são: sexo,
idade, raça, predisposição genética e a exposição carcinógenos ambientais
(ALMEIDA et al., 2005). Em relação ao gênero e faixa etária, o câncer de mama
raramente ocorre em mulheres com menos de 35 anos; o câncer de próstata atinge
os homens da terceira idade e maior incidência de câncer de colón e reto ocorre na
faixa etária de 50 a 70 anos, tais fatos ilustram os resultados deste estudo.
No Brasil, o câncer constitui a segunda causa de morte por doença, sendo a
primeira causa, as doenças cardiovasculares. A maior prevalência de casos de
câncer em homens encontra-se em São Paulo, correspondendo a 391 casos em 100
mil habitantes; e em mulheres no Distrito Federal, 374,9 casos em 100 mil
habitantes. Os tumores mais frequentes na população masculina são de próstata, de
pulmão, de estômago, de cólon e de reto e de esôfago. Em mulheres, predomina o
câncer de mama, seguido do de colo uterino, cólon e reto, pulmão e estômago
(INCA, 2006).
No mundo, no ano 2000, ocorreram 5,3 milhões de casos novos de câncer em
homens e 4,7 milhões em mulheres. Nesse mesmo ano, cerca de 6,2 milhões de
43
pessoas morreram por essa causa. O principal fator que contribui para essa projeção
aumentada é o envelhecimento da população, já que o câncer ocorre mais
frequentemente na faixa etária mais elevada (WHO, 2002).
5.1.2 ESTADO CIVIL
A maioria da população estudada 73,7% (98) respondeu que era casada,
enquanto a porcentagem de solteiros correspondeu a 12,8% (17) e separados,
13,5% (18) (TABELA 3).
Em relação ao estado civil, a maioria (73,7%) dos
pacientes eram casados, fato esperado em função da faixa de idade dos mesmos,
em torno da quinta década e que já constituíam família. Estes dados coincidem com
os obtidos por Marques (2006).
Um estudo americano avaliou a relação entre testes de câncer de mama e
câncer cervical em uma variedade de grupos étnicos e verificou que mulheres
brancas não hispânicas casadas relataram melhor estado de saúde (SELVIN
;BRETT, 2003).
King et al., (2000) analisando a qualidade de vida em mulheres com câncer
de mama verificaram que mulheres casadas ou que têm uma relação conjugal
estável apresentam melhores escores de qualidade de vida global do que mulheres
solteiras.
5.1.3 ESCOLARIDADE
A média da escolaridade ficou em torno de 8 anos de estudo. Na Tabela 3,
descreve-se a frequência dos estratos da escolaridade. Entre 4 a 10 anos de
estudos não houve diferença estatisticamente significativa, enquanto o intervalo de 0
a 3 anos de escola foi o que mostrou a menor porcentagem (TABELA 3). O grau de
instrução (em anos de estudo) é provavelmente o critério mais utilizado no Brasil
para separar as pessoas por nível sócio-econômico.
44
Neste estudo, a escolaridade foi utilizada no modelo estatístico como variável
de controle, para ajustar os possíveis efeitos de confusão, como a habilidade do
entrevistado em informar corretamente o consumo. Também foi utilizada como um
termo associado a fatores de risco para o câncer, pois o menor acesso a informação
sobre cuidados de saúde está associado ao baixo nível de escolaridade. 80% dos
casos novos de câncer de colo do útero ocorrem em países em desenvolvimento
(INCA, 2009).
De acordo com Filho et al. (2008), vários estudos mostram que os hábitos
alimentares saudáveis, tais como a inclusão de frutas e vegetais podem refletir a
posição sócio-econômica e nível educacional. De acordo com os resultados do
Inquérito Domiciliar do Instituto Nacional do Câncer as pessoas com maior
escolaridade consomem mais frutas, vegetais e fazem leitura dos rótulos dos
alimentos (INCA, 2005).
Um estudo realizado na Espanha com 403 pacientes de câncer colón retal
acompanhados no período de 6 anos, mostrou que mulheres reinternaram menos
que os homens, e que o nível educacional mais alto foi associado com o maior
números de reinternações (GONZALEZ et al., 2005).
O nível de escolaridade foi considerado por King et al. (2000)
um fator
positivo sobre a qualidade de vida, pois mulheres com maior escolaridade
apresentaram melhor função física, função emocional, menos dor e poucos sintomas
na mama, em relação a mulheres com baixa escolaridade
5.1.4 TRABALHO
Dos indivíduos pesquisados 57,1% (76) respondeu que tinham trabalho
remunerado e 42,9% (57), não tinha nenhum tipo de trabalho (TABELA 3).
Dentre a freqüência das atividades profissionais citadas pela população do
estudo, a maior porcentagem foi a de professor (15,2%), apresentada no Apêndice
B. Vale ressaltar que 33% dos pesquisados eram inativos (aposentados), a grande
maioria destes encontravam-se nesta categoria não pela idade, e sim devido à
neoplasia maligna (invalidez).
45
Analisando o estudo de King et al., (2000) percebe-se que estratos sociais
mais favorecidos tem maior acesso a qualidade das informações acerca da
prevenção secundaria e tratamento eficaz do câncer. Pode se dizer também, um
maior acesso aos alimentos, principalmente aqueles ricos em poliaminas, que são
alimentos mais dispendiosos financeiramente, como: carnes, queijos, leguminosas,
frutas e vegetais.
5.2 VARIAVEIS RELACIONADAS AO DIAGNOSTICO E TRATAMENTO DO
CÂNCER
5.2.1 LOCALIZAÇÃO DO CÂNCER
Constatou-se que em 54,1% do total, o câncer estava localizado na mama,
ficando em segundo lugar o câncer de intestino, com 15,0% e em terceiro o de
próstata, 6,8%, os demais tipos de câncer, estão apresentados na Tabela 4.
Tartari et al. (2010) relataram resultados semelhantes, nos quais o câncer de
intestino (26%) e mama (22%) foram os mais incidentes, diferenciando-se que nesta
pesquisa a porcentagem de câncer de mama foi bem maior que o de intestino. Já
Marques (2006) obteve os mesmos resultados, sendo o câncer de mama,
isoladamente, o mais freqüente (27,8%), porém os pacientes com câncer de cólon,
reto, pâncreas e estomago (trato gastrintestinal) foram reunidos por pertencerem ao
mesmo sistema, totalizando a maior parte (34,4%).
Em termos de prevalência, o câncer de mama é o segundo tipo de câncer
mais freqüente no mundo e o mais comum entre as mulheres. O câncer de intestino
configura-se como a terceira causa mais comum de câncer no mundo em ambos os
sexos, apesar deste ser de 20% a 50% maior em homens na maioria das
populações (INCA, 2009).
46
Tabela 4. Localização do câncer dos pacientes pesquisados. Teresina, 2010.
Localização
Número
%
Mama
72
54,1
Intestino
20
15,0
Próstata
09
6,8
Fígado
06
4,5
Ovário
05
3,8
Pulmão
05
3,8
Faringe
02
1,5
Osso
02
1,5
Tireóide
02
1,5
Bexiga
01
0,8
Cabeça
01
0,8
Estômago
01
0,8
Fêmur
01
0,8
Laringe
01
0,8
Língua
01
0,8
Pâncreas
01
0,8
Pele
01
0,8
Rim
01
0,8
Útero
01
0,8
Total
133
100,0
Considerando que a maioria da população estudada foi do sexo feminino
(77,4%), os resultados deste estudo referentes à localização do câncer, mamário
(54,1%), foram justificados. Segundo as estimativas do INCA para 2011, o câncer
mais prevalente nas mulheres do Brasil, da região Nordeste, do Piauí e de Teresina
(capital do Estado do Piauí) será o de mama (INCA, 2009). A segunda maior
porcentagem verificada neste estudo, o câncer de intestino (15%), ocupará em 2011
a quarta posição no Brasil, no Nordeste e no Piauí e a terceira em Teresina (PI)
(INCA, 2009).
47
5.2.2 TEMPO DE DIAGNÓSTICO DO CÂNCER
O tempo médio de diagnóstico do câncer ficou em torno de um ano. Observase na Tabela 5, que o diagnóstico que foi feito em menos de um ano da doença
apresentou a maior percentagem, 51,9%, enquanto o estrato de 1 a 2 anos ficou em
segundo lugar com 22,6%. Diferentemente dos resultados desta pesquisa, Marques
(2006) descreveu em seu estudo que o tempo médio de diagnóstico da doença ficou
em torno de 3 anos. As dificuldades psicológicas persistem no período de 15 meses
após o tratamento (MARQUES, 2006).
Tabela 5. Tempo em anos de diagnóstico de câncer dos pacientes
pesquisados. Teresina, 2010.
Tempo em anos
Número
%
<1
69
51,9
1–2
30
22,6
3–4
21
15,7
5–6
07
5,3
>6
06
4,5
133
100,0
Total
O diagnóstico do câncer, de maneira geral, é feito mais precocemente nos
países desenvolvidos do que naqueles em desenvolvimento, assim também como o
acesso aos exames diagnósticos ocorre mais tardiamente nos Estados das regiões
menos desenvolvidas (Norte e Nordeste) do que nas demais regiões do Brasil
(ARREGI, 2000).
48
5.2.3 TIPO DE TRATAMENTO DO CÂNCER
Com relação ao tipo de tratamento, a grande maioria dos indivíduos
pesquisados, utilizava a quimioterapia (75,2%) e os outros tipos de tratamentos
(hormonioterapia e imunoterapia) representaram 24,8% (TABELA 6). Marques
(2006) e Tartari et al. (2010) verificaram valores semelhantes, no qual 72% e 60%,
respectivamente, dos pesquisados estavam em tratamento quimioterápico.
Tabela 6. Tipo de tratamento para o câncer dos pacientes pesquisados.
Teresina, 2010.
Tipo
Número
%
Quimioterapia
100
75,2
Outros
33
24,8
133
100,0
Total
Quimioterapia e o tratamento anti-neoplásico sistêmico. Sua inserção no
tratamento cancerígeno pode ser feita de varias formas: terapêutica (exclusiva),
como neoadjuvante (tratamento pré-operatório) e adjuvante (pós-tratamento
cirúrgico) (VERDE, 2007). A maioria dos pesquisados se encontravam em
tratamento quimioterápico (75,2%) e com menos de um ano do diagnóstico da
doença (51,9%), resultado esperado, pois a quimioterapia é o tratamento inicial do
câncer.
5.3 DADOS ANTROPOMÉTRICOS
Apresenta-se na Tabela 7 o peso e a altura nos valores médios e os desvios
padrão dos pacientes oncológicos. A média de peso foi em torno de 63,7 Kg e da
49
altura foi 1,60 m. Tanto para o peso quanto para a altura, o teste t mostrou diferença
estatisticamente significativa. No paciente oncológico a avaliação antropométrica é
fundamental, pois constitui ferramenta objetiva para conduta clínica (VERDE, 2007).
Tabela 7. Média e desvio-padrão do peso e altura dos pacientes pesquisados.
Teresina, 2010.
Variáveis
Masculino
Média
DP
Feminino
Média
DP
Peso (Kg)
72,7
15,0
61,1
12,3
Altura(m)
1,64
1,0
1,55
1,0
Estatística
t = 4,32
p = 0,001
t = 6,34
p = 0,001
Há uma maior associação entre o excesso de peso e o risco de câncer
colorretal em homens quando comparado com as mulheres, sugerindo que a
distribuição abdominal ou central de adiposidade corpórea (tipicamente masculina),
é o principal componente do aumento desse risco, uma vez que está associada
fortemente com a resistência à insulina e à hiperinsulinemia (DAVIES, 2005).
5.3.1 ÍNDICE DE MASSA CORPÓREA (IMC)
Em relação ao IMC, a eutrofia foi a que apresentou a maior porcentagem com
36,8%, seguida de excesso de peso com 33,8% e da obesidade com 21,1%,
respectivamente (TABELA 8). Não foi observada diferença estatisticamente
significativa entre as variáveis IMC e sexo.
Segundo DAVIES (2005), o IMC identifica o risco nutricional e se relaciona
com algumas doenças e suas complicações. O excesso de peso é classificado como
um fator de risco para o aparecimento de diferentes tipos de câncer, como os
cânceres de mama, ovário, cólon e reto (intestino) e próstata (DIVISI et al., 2006).
Uma ingestão excessiva de alimentos é um dos principais fatores de risco
neoplásico. A obesidade está presente em 14% das mortes por câncer nos homens
e 20% nas mulheres (DIVISI et al., 2006).
50
Tabela 8. Índice de Massa Corporal segundo o sexo dos pacientes
pesquisados. Teresina, 2010.
Masculino
No
%
Feminino
N
%
N
%
Magreza
02
6,7
09
8,7
11
8,3
Eutrófia
11
36,7
38
36,9
49
36,8
Pré-obesidade
09
30,0
36
34,9
45
33,8
Obesidade
08
26,6
20
19,5
28
21,1
Total
30
100,0
103
100,0
133
100,0
IMC
o
Total
o
X2 = 1,87 p = 0,832.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2004), o câncer é a
segunda maior causa de morte por doenças na maioria dos países, incluindo o
Brasil. Muitos fatores de riscos estão ligados com o surgimento do câncer, tais como
exposições a radiação solar, o consumo de álcool, deficiências e distúrbios
nutricionais, o tabagismo, o sedentarismo e a má higiene oral.
Os pacientes obesos apresentam uma sobrecarga oxidante, e os radicais
livres em excesso podem levar ao surgimento do câncer ((DIVISI et al., 2006;
KOLLING et al., 2009). Portanto, a avaliação do estado nutricional do paciente com
câncer é muito importante, pois ele pode ser considerado como um fator de risco
para um aumento do desenvolvimento da doença e também pode ser um indicador
de mau prognóstico para pacientes oncológicos (KOLLING et al., 2009).
No presente estudo foi observada uma prevalência de excesso de peso, em
torno de 54,9% (pré-obesos e obesos), em ambos os sexos. O IMC esteve diminuído
só em 7% dos pacientes (TABELA 8). Resultados similares foram verificados por
Verde (2007) e Tartari et al. (2010).
Apesar da diferença amostral em cada tipo de tumor, pode-se observar que
correlacionando o IMC aos tipos de câncer mais incidentes, mama, cólon e reto, os
dados na literatura consultada estavam concordantes com os resultados obtidos,
uma vez que não é freqüente a desnutrição em pacientes com câncer de cólon e
reto e nem em neoplasia mamária. Isto pode ser explicado devido ao menor
51
comprometimento da ingestão alimentar, ausência de distúrbios nutricionais
absortivos, alterações metabólicas mínimas e inexistência de fatores obstrutivos ou
efeito hormonal para a caquexia por estas neoplasias (CONTINENTE et al., 2002).
O excesso de peso é considerado um fator de risco para o câncer de mama.
As mulheres em tratamento quimioterápico apresentam tendência progressiva ao
ganho de peso (HARVIL, 2004) e, segundo KUTYNEC et al. (1999), a causa desse
ganho de peso ainda não é clara, mas pode ser associado com ingestão alimentar,
decréscimo da atividade física, alteração da taxa metabólica basal ou menopausa.
Deve-se analisar com cautela esse grande percentual de excesso de peso
observado nestes pacientes, pois sabe-se que o IMC em pacientes com câncer
possui valor limitado. Esses indivíduos podem apresentar aumento de mediadores
inflamatórios como as citocinas, o que pode acarretar, além de degradação protéica,
expansão de líquido extracelular, ocasionando retenção hídrica e mascarando o real
estado nutricional (HARVIL, 2004).
Além disso, o tipo de protocolo quimioterápico também pode influenciar na
composição corpórea das pacientes. Algumas drogas utilizadas nesse tipo de
tratamento ou em conjunto, como os glicocorticóides e a terapia hormonal,
promovem retenção hídrica, diminuição da massa magra e aumento da gordura
corporal (VERDE, 2007).
Outra hipótese relacionada ao ganho ponderal é a de que o câncer é uma
doença que freqüentemente leva à desnutrição. Por isso muitos pacientes modificam
suas dietas de forma inadequada, forçando uma alta ingestão calórica que os
acabam levando a esse ganho ponderal, ou seja, aumentam a ingestão alimentar,
na tentativa de evitar a depleção nutricional, supondo que isto poderia ajuda-los,
impedindo a perda de peso e consequentemente o agravamento da doença.
5.3.3 MUDANÇAS NA ALIMENTAÇÃO APÓS DIAGNOSTICO DA DOENÇA
Foi perguntado aos participantes do estudo se após a doença mudou algo em
sua alimentação, a resposta afirmativa representou 70,7% (94), enquanto os que
não tiveram mudança foram 29,3% (39). Vale lembrar que, das 94 pessoas que
disseram que houve mudanças no hábito alimentar, 80% desses indivíduos referiram
52
que aumentaram o consumo de frutas e hortaliças, outros 10% diminuíram o
consumo de carne vermelha e, outros 10% afirmaram a diminuição ou a exclusão na
alimentação de qualquer tipo de gordura (FIGURA 3).
Figura 3. Mudança alimentar após
diagnóstico da doença.
Teresina, 2010.
O consumo de frutas, legumes e verduras tem sido descrito como fator de
proteção na ocorrência de diferentes tipos de câncer (FORTES et al., 2007). 80%
dos pesquisados deste estudo referem acreditar nesta proteção. Estudos de casocontrole comprovam que há uma relação inversa entre a diversidade dietética, por
meio do aumento da ingestão de hortaliças e frutas, e o risco de desenvolvimento de
câncer, demonstrando que esses alimentos exercem um papel crucial na etiologia
dessa neoplasia (FORTES et al., 2007).
As frutas são fontes de vitaminas, minerais, fibras, fitoterápicos, betacaroteno, ácido linoléico conjugado, genisteína, indóis, isotiocianatos, flavonoides.
Apesar de todos esses componentes, o determinante anticarcinogênico das frutas
ainda não está totalmente esclarecido. Estas substâncias presentes nas frutas
exercem efeito protetor contra o câncer, capazes de estimular enzimas de
desintoxicação ou redutoras da atividade de enzimas hepáticas, que convertem
compostos químicos ambientais em potentes carcinógenos, aumentando a
solubilidade aquosa de toxinas corpóreas e sua consequente eliminação (MICHELS
et al., 2007).
53
Muitas vezes, informações errôneas ou não conclusivas fazem com que a
população diminua a ingestão ou mesmo faça restrição total ao consumo de carne
vermelha. Conforme A análise de alimentos ou de grupos de alimentos, em
detrimento da análise de nutrientes possibilita avaliar o comportamento alimentar e
assim propor, mais facilmente, modificações de consumo, em busca de hábitos de
vida saudáveis (CARDOSO, 2010).
Os requerimentos energéticos dos pacientes com câncer variam de acordo
com o grau de desnutrição, estresse metabólico, gasto energético e nível de
atividade física. Por isso é recomendável que o cálculo de energia seja
individualizado, podendo utilizar fórmulas, como a equação de Harris Benedict, sem
deixar de considerar os fatores relacionados à variação de peso e do processo
patológico (VAN BOKHORST-DE VAN DER SCHUEREN, 2005).
Pode-se observar no presente trabalho, que 10% da população estudada
diminui o consumo de carne, presumindo que este alimento seria o desencadeador
da doença, só que esta posição pode agravar outras patologias associadas ao
câncer, como anemia.
Na literatura, não há consenso quanto à relação entre o consumo de carne e
seus derivados e o desenvolvimento de câncer. Evidências epidemiológicas
sugerem que dietas com alto teor de carne vermelha e de gordura, associada a um
baixo teor fibras, aumentam o risco de câncer de cólon (DEMARINI et al., 1998;
MARQUES-VIDAL et al., 2006).
Um dos mecanismos que pode explicar a associação entre o câncer, mais
especificamente o colorretal e a carne vermelha, é o aumento do metabolismo de
proteínas no cólon. Pesquisas realizadas em laboratórios têm identificado muitos
carcinógenos presentes na carne, como as nitrosaminas, hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos, aminas heterocíclicas, entre outros. Acredita-se que um dos
principais mecanismos que pode estar implicado na gênese do câncer esteja
relacionado aos processos de preparo e cocção da carne (WCR, 1997; DEMARINI et
al., 1998; FORTES et al., 2007).
No estudo de Mattes et al. (1992), 26,4% dos pacientes com câncer em
tratamento quimioterápico apresentavam diminuição da ingestão de carne vermelha.
Já no estudo de Verde (2007), só 7% fizeram referência a diminuição deste alimento,
considerando que neste ultimo estudo foi analisado só pacientes com câncer de
mama.
54
Os pesquisados (10%) diminuíram ou excluíram a gordura de sua
alimentação supondo que a gordura seria a causadora do câncer. Existe uma
relação positiva entre a incidência de câncer e a média percentual de calorias
provenientes das gorduras, tanto para homens quanto para mulheres (GARAFÓLO
et al., 2004).
O World Cancer Research Fund (WCRF) e American Institute for Cancer
Research (1997) sugerem haver evidências consistentes de que as dietas ricas em
gorduras podem aumentar o risco de câncer. O papel das gorduras na
carcinogênese pode variar de acordo com a sua origem e composição (GARAFÓLO
et al., 2004; MICHELS et al., 2007). Acredita-se que a elevada ingestão de gordura
total promove aumento na produção de ácidos biliares, que são mutagênicos e
citotóxicos (GARAFÓLO et al., 2004).
5.4 CONSUMO ALIMENTAR
Com os avanços no diagnóstico e nas terapias, o câncer tem sido identificado
em estágios iniciais e os tratamentos anti-neoplásicos se tornaram mais específicos.
Assim, o número de sobreviventes e o tempo de sobrevida pós-diagnóstico têm
aumentado. Diante disso, a atenção ao paciente com neoplasia, visando minimizar o
risco de recidiva e promover uma sobrevida livre da doença e com boa qualidade de
vida, tem merecido atenção especial (VERDE 2007).
De acordo com DeMarini (1998), a dieta é a principal fonte de exposição
humana
aos
carcinógenos/mutágenos
e
anticarcinógenos/antimutágenos
ambientais, sendo que alguns tipos de câncer associados à alimentação, assim
como algumas intervenções dietéticas, podem reduzir os biomarcadores ou a
incidência das neoplasias.
A média do consumo energético foi de 1.520 ± 392 kcal/dia, enquanto que a
necessidade foi em torno de 1.716 kcal/dia. No presente estudo, a ingestão calórica
foi considerada baixa, quando comparada com as recomendações nutricionais para
esta faixa etária. Em estudos recentes, não foi observado aumento significativo no
consumo de calorias durante o tratamento quimioterápico (VERDE, 2007).
55
Quanto à proporção de carboidratos ingerida pelos pesquisados, foi
observado que era em torno de 55% do valor energético total (VET) da dieta. De
acordo com Nitemberg e Raynard (2000), ainda não existem recomendações para a
ingestão de carboidratos em câncer, mas por se tratar de uma importante fonte
energética, deve corresponder entre 50 a 60% do VET da dieta de indivíduos adultos
saudáveis.
Com relação às proteínas, os pesquisados relataram utilizar 4,9 g/kg/dia.
Nitemberg e Raynard (2000) estimaram requerimentos protéicos em câncer entre 1,2
a 2,0 g/kg/dia. Apesar das necessidades dietéticas de proteínas para estes
pacientes serem hiperproteicas, a ingestão dietética se encontra muito acima das
recomendações acima citadas.
O percentual lipídios ingeridos pelos pacientes estudados ficou em torno de
de 21%. De acordo com as DRI, a variação da proporção dos lipídios para adultos
saudáveis deve ser entre 20 e 35% do VET dietético (IOM, 2003).
No grupo de carnes e ovos (FIGURA 4), a maior porcentagem de consumo
verificada foi a semanal, de carne bovina (69,9%), seguida pelo consumo de carne
de frango/peixe (59,9%), em contrapartida o consumo diário da carne bovina (12%) e
de frango/peixe (11,2%) foi menor que o semanal e não apresentaram diferença
estatisticamente significativa entres os tipos de carnes.
A frequência diária do consumo de ovos foi baixa (2,3%), a freqüência
semanal (35,3%) e a quinzenal (32,4%) foram consideradas estatisticamente iguais.
No grupo de carnes e ovos, 10,9% e 10,4%, respectivamente, não consumiam estes
alimentos (FIGURA 4). Os grupos de carne, ovos e leguminosas foram os únicos
grupos deste estudo que se verificou a presença da categoria não consome
(FIGURA 4). Com relação ao grupo das leguminosas a maior frequência foi a do
consumo diário, 57,9%, (FIGURA 4) e o alimento mais consumido foi o feijão
(APÊNDICE C).
A amostra pesquisada (133) neste estudo apresentava um grande consumo
do grupo dos cereais e massas (FIGURA 5), sendo que a maior frequência de
consumo observado foi a de arroz (88%), diariamente. A segunda maior
porcentagem deste grupo foi o consumo semanal de farinha de milho (49,8%), na
forma de cuscuz (APÊNDICE C) e de pães, bolos e biscoito (41,8%). O biscoito foi
mais consumido do que os pães e bolos (APÊNDICE C).
56
Como pode ser observado na Figura 6, o grupo de frutas e hortaliças foi o que
mostrou maior frequência de consumo, dentre os grupos de alimentos. O consumo
diário de frutas e vegetais foi de 63,3% e 61,8%, respectivamente, já o consumo
semanal deste grupo foi de 32,1% e 31,4%, respectivamente. Dentre as frutas
citadas, as mais consumidas diariamente foram banana (51,1%), laranja (46,6%),
maçã (25,6%) e mamão (25,1%), e as menos consumidas foram maracujá (6,0%),
uva (3,0%) e melancia (2,2%). Os vegetais mais ingeridos diariamente foram: tomate
(51,1%), alface (39,1%), cenoura (28,6%), pepino (27,8%) e batata (25,6%) e os
menos consumidos pelos pesquisados foram: couve (12,0%) e beterraba (12,8%)
(APÊNDICE C). O elevado consumo dos grupos de frutas e vegetais foi relevante,
pois estes alimentos são ricos em antioxidantes e fibras, substâncias importantes na
prevenção de neoplasias.
57
Figura 4. Consumo alimentar dos grupos das carnes, ovos e leguminosas por pacientes pesquisados. Teresina,
2010.
58
57
Arroz
Pães,biscoitos e
bolos
Farinha de milho
88
11,2
8,2
Diário
12
41,8
39,4
49,8
Semanal
39,5
Quinzenal
Mensal
4,2
25
Não consome
Figura 5. Consumo alimentar do grupo de cereais e massas por pacientes pesquisados. Teresina, 2010.
57
59
Vegetais
61,8
Frutas
31,4
63,3
Diário
Semanal
32,1
Quinzenal
Mensal
Não consome
Figura 6. Consumo alimentar dos grupos das frutas e vegetais por pacientes pesquisados. Teresina, 2010.
6,8
4,6
60
5.5 CONSUMO ALIMENTAR DE ALIMENTOS RICOS EM POLIAMINAS
Entre os grupos de alimentos consumidos neste trabalho, o das frutas e
vegetais foi consumido por 100% dos pesquisados (FIGURA 6). Este grupo contêm
poliaminas, principalmente espermidina. Assim, o consumo de poliaminas por estes
pacientes oncológicos em relação ao grupo de frutas e vegetais foi alto. A variação
do conteúdo de aminas em amostra do mesmo tipo de hortaliça pode estar
associada à variedade, o cultivar, grau de maturidade e condições de cultivo. E
ainda a concentração original de aminas em alimentos pode mudar durante o
processamento, armazenamento e ser influenciada por condições higiênicas
sanitárias (STARLING, 1998).
Diante da literatura consultada, a quantidades de poliaminas no grupo de
carnes é maior em relação aos outros grupos, principalmente da espermina. A
ingestão diária deste grupo pelos indivíduos pesquisados apresentou-se baixa, em
torno de 12%, em contrapartida o consumo semanal apresentou se maior, 59,9%
para carne de frango e peixe e 69,9% para a carne bovina (FIGURA 4). Em se
tratando deste grupo, pode-se dizer que esta população teve um consumo alimentar
médio de poliaminas, isto a partir da média da ingestão diária com a ingestão
semanal.
O consumo diário de ovos pela população foi baixo, e como quantidade de
poliaminas nos ovos é proporcionalmente menor, o consumo de poliaminas em
relação a este alimento foi pequeno. Os teores totais detectados por Freitas (2007)
nos grupos de carnes e ovos variaram de não detectado a 7,85 mg/100 g, sendo os
menores teores nos ovos e os maiores nos produtos cárneos. Bardócz (1995)
determinou valores similares a Freitas (2006). Oliveira (2006) também encontrou
valores baixos de poliaminas no ovo (gema), sendo que na clara de ovo não
encontrou nenhuma poliamina.
Lima et al. (2006) verificaram no feijão cozido valores menores de espermina
(0,23 mg/100g) e espermidina (0,09 mg/100 g) que Batista (2007) 0,34 e 1,26
mg/100 g, respectivamente. No presente estudo foi verificada uma frequência de
consumo total de leguminosas em torno de 95% (FIGURA 4), sendo o feijão o
alimento mais consumido, 99,3% (APÊNDICE C). O consumo de poliaminas no
grupo das leguminosas foi considerado moderado, pois apesar dos teores de
61
poliaminas no alimento mais consumido deste grupo, o feijão, não serem tão altos,
conforme demonstrado pelos autores acima citados, a porcentagem de consumo
total foi elevada, ou seja, uma alta ingestão diária do feijão como parte de uma dieta
base regular, pode ser relevante. A soja é uma importante fonte de poliaminas,
principalmente espermidina. Nos estudos de Gloria et al. (2005), os teores de
espermidina na soja variaram entre 9,92 e 38,89 mg/100 g. A soja foi pouco
consumida, menos de 20%, pelos pesquisados (APÊNDICE C).
Em relação ao grupo dos cereais, o arroz foi alimento mais consumido
diariamente (88%), e consumo total foi de 100% (FIGURA 5), mas a frequência de
consumo de poliaminas foi baixa, pois este grupo, em especial o arroz, apresenta
porcentagens pequenas de poliaminas, como mostrado por Lima et al, (2006), em
que arroz cozido tem teores baixo de espermidina e espermina, 0,19 e 0,16
mg/100g, respectivamente. Freitas (2007) não detectou nenhuma poliamina no arroz
cozido.
Comparando-se os percentuais de poliaminas em alimentos verificados na
literatura consultada, observou-se que o maior teor de poliaminas está no grupo de
carnes, frutas e vegetais, seguido do grupo de leguminosas. O grupo que
apresentou menor teor total de poliaminas foi o grupo dos cereais.
O grupo de alimentos mais consumidos diariamente pela população deste
estudo foi o grupo de frutas e vegetais, seguido do de cereais e leguminosas. E o
menos consumido diariamente foi o grupo de carnes e ovos, sendo que o consumo
semanal deste grupo (1 a 3 vezes/semana) foi estatisticamente significativo em
relação aos outros grupos de alimentos. A estimativa de consumo médio diário de
poliaminas por estes pacientes oncológicos diariamente foi considerado baixa. O
consumo semanal e o total foram verificados como moderados.
No tocante ao consumo de alimentos ricos em poliaminas, a média de
consumo para cada individuo, ficou em torno de 3,56 mg/100 g.
Todos esses
cálculos de estimativas de consumo foram feitos considerando os teores totais
médios de poliaminas nos alimentos da literatura pesquisada e o QFCA da
população pesquisada.
62
Tabela 9 – Alimentos ricos em poliaminas mais consumidos pelos pacientes
pesquisados. Teresina, 2010.
Alimentos
Abacaxi*
Alface*
Consumo total de poliaminas (%)
1
88,7
2
98,5
Banana*3
97,7
Batata inglesa**4
Beterraba*
Café*
1
93,2
90,3
5
90,9
Carne bovina*1
95,5
Cenoura*1
97,0
Couve*
6
85,0
Couve-flor*
7
85,0
Feijão*1
99,3
Fígado**8
81,2
4
91,7
1
96,3
Iogurte**
Laranja*
Leite UHT*9
85,7
Leite semi desnatado**10
72,2
Maça*
1
98,5
Mamão*
1
95,5
Mandioca*7
72,2
Maracujá*1
75,9
Melão **
11
Pão integral**
85,0
1
66,2
Peito de frango*1
95,5
10
91,6
Peixe**
Pepino**
10
89,5
Presunto**11
84,2
Queijo*12
93,2
7
93,2
Tomate*
*Estudos com alimentos realizados no Brasil
** Estudos com alimentos realizados em outros países
Referências: 1 - BATISTA (2007); 2- COELHO (2001); 3- ADÃO; GLÓRIA (2005); 4 - OKAMOTO et al., (1997); 5SILVEIRA (2008); 6 - VIEIRA (2003); 7 - STARLING (1998) ; 8 - KOZOVÁ et al., (2009); 9 - ALMEIDA et al.,
(2003); 10 - BARDÓCZ et al., (1995); 11 - CIPOLLA et al., (2007); 12- VALE; GLÓRIA (1997).
63
5.6
CORRELAÇÃO
ENTRE
CONSUMO
DE
ALIMENTOS
RICOS
EM
POLIAMINAS, O TIPO DE CÂNCER E O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL
A análise de correlação demonstrou correlaçao positiva entre o consumo de
poliaminas em relação aos tipos de câncer e o IMC. Vale ressaltar que o câncer de
intestino foi o que apresentou maior correlação (TABELA 10). Portanto, houve
correlação estatisticamente significativa (p< 0,05) entre o consumo de poliaminas e o
câncer de intestino.
Tabela 10. Correlação entre consumo de alimentos ricos em poliaminas, o tipo
de câncer e índice de massa corporal. Teresina, 2010.
N° amostras
Pearson’s R
Significância
Mama
72
0,416
0,234
Intestino
20
0,616
0,037
Próstata
09
0,318
0,189
Fígado
06
0,278
0,451
Ovário
05
0,512
0,278
Pulmão
05
0,512
0,278
Outros tipos
16
0,214
0,631
Geral
133
0,725
0,003
Eutrofia *
60
0,345
0,467
Excesso de Peso
45
0,512
0,219
Obesidade
28
0,734
0,001
Tipo de Câncer
IMC
*inclui eutrofia e magreza.
Linsalata et al. (2008) observaram que as poliaminas e as enzimas do seu
metabolismo estão intimamente relacionados com a proliferação neoplásica no trato
gastrintestinal. A privação de poliaminas exógenas, modulações da via metabólica
de poliaminas, produção endógena insuficiente, por conseguinte uma captação
insuficiente das mesmas em células neoplásicas poderia ser uma maneira de
prevenir e tratar o câncer de cólon e reto (LINSALATA et al., 2008).
64
Segundo Linslata et al. (2008) os componentes nutricionais, como
flavonóides, resveratrol ou probióticos podem modular o conteúdo de poliaminas,
através da inibição de sua síntese, pela redução da atividade da ODC (ornitina
descarboxilase) e/ou aumentando seu catabolismo em células de câncer intestinal,
inibindo a proliferação do câncer de colón e reto. Paproski et al., (2002) relataram
altas concentrações de poliaminas em células de câncer de mama e cólon, dados
que respaldam os resultados obtidos.
Quanto ao IMC, a obesidade foi a que mostrou correlação mais
estatiscamente significativa (p<0,05), ou seja, os pacientes obesos consumiam
alimentos com maior teor de poliaminas (TABELA 10).
5.7 CONSIDERAÇOES SOBRE O CONSUMO DE POLIAMINAS EM PACIENTES
ONCOLÓGICOS
Diante dos resultados obtidos e dos dados disponiveis na literatura consultada
verificou-se que as poliaminas possuem efeitos beneficos, no entanto em alguns
estados patológicos, esses efeitos podem ser inversos, como no caso do câncer,
que é caracterizado pelo crescimento e diferenciação celular. As poliaminas podem
contribuir para o crescimento do tumor, pois são fatores tróficos.
Como a maioria dos pacientes estavam com menos de um ano de diagnóstico
da doença (51,9%) e em tratatamento quimioterápico (75,2%). Frente a isso seria
destaca-se a necessidade de diminuição da ingestão de alimentos ricos em
poliaminas no câncer, principalmente durante o tratamento quimioterápico, no qual
se objetiva diminuir o crescimento do tumor e evitar a sua proliferação. Assim, é
relevante o estabelecimento de limites mínimo e máximo de ingestão de poliaminas
afim de que se possa fazer uma prescrição dietoterápica adequada, em relação do
ponto de vista da ingestão de alimentos ricos em poliaminas, para tratamento do
câncer.
Na literatura consultada nao foram obtidos dados referentes aos limites de
ingestão de espermina e espermidina para o tratamento oncológico. Entretanto, o
teor elevado destas poliaminas na dieta consumida diariamente por pacientes em
tratamento para o câncer, pode ser relevante, visto que muitos autores têm
65
demonstrado a importância da poliaminas no crescimento de tumores, as quais
estão diretamente envolvidas no processo de proliferação celular (KALAC;
KRAUSOVÁ, 2005).
A nova prática que vem sendo adotada para inibir o crescimento de tumores
consiste em limitar a ingestão de poliminas por pacientes oncológicos (ELIASSEN et
al., 2002; FREITAS, 2006; BATISTA, 2007; LINSALATA et al., 2008; CIPOLLA et
al., 2010). Portanto, recomenda-se um acompanhamento destes pacientes no
tocante ao consumo de alimentos ricos em poliaminas, para controlar esta ingestão
e verificar seu efeito sobre o câncer.
66
6.0 CONCLUSÕES
Nas condições que foi realizado este estudo pode-se concluir que:
A população pesquisada era predominantemente do sexo feminino (77,4%), a média
de idade foi de 51 anos, o tipo de câncer mais frequente foi o de mama (54,1%), o
diagnóstico que foi feito em menos de um ano da doença apresentou a maior
percentagem (51,9%), e o tipo de tratamento mais realizado foi a quimioterapia
(75,2%).
Os pacientes apresentaram uma porcentagem elevada de excesso de peso (33,8%)
e obesidade (21,1%), totalizando 54,9%.
O valor energético total consumido pelos pesquisados foi de 1520 Kcal/dia, abaixo
da necessidade diária adequada para estes pacientes. O consumo de carboidratos
foi em torno de 55%, o de lipídeos 21% e o de proteínas 24%. Destacando-se, as
proteínas com um valor superior ao recomendado para pacientes com câncer.
O consumo total de alimentos ricos em poliaminas por pacientes oncológicos foi
considerado moderado, destacando-se a alface, banana, batata inglesa, cenoura,
laranja, maça, mamão, tomate, carne bovina, frango, feijão e queijo.
Houve correlação estatisticamente significativa (p<0,05) entre o consumo de
poliaminas, o câncer de intestino e a obesidade.
A limitação do consumo de alimentos ricos em poliaminas durante o tratamento do
câncer, principalmente aqueles em tratamento quimioterápico, faz-se necessária,
assim como o aprofundamento das pesquisas para se estabelecer os valores
mínimos e máximos de sua ingestão para pacientes oncológicos.
67
7.0 SUGESTÕES
São necessários mais estudos sobre teores de poliaminas nos alimentos
brasileiros, esclarecendo os níveis ótimos da ingestão diária de poliaminas, assim
como a obtenção de mais dados sobre a influência das poliaminas no
desenvolvimento do câncer, que poderão representar uma abordagem inovadora e
interessante para novas estratégias terapêuticas e preventivas no manejo de
pacientes com neoplasias.
68
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for malnourisched cancer patients. European Journal of Oncology Nursing, v. 9, p.
74-83, 2005.
VALERO, D.; MARTINEZ-ROMERO, D.; SERRANO, M. The role of polyamines in
the improvement of the shelf life of fruit. Trends in Food Science and Technology. v.
13, p. 228-234, 2002.
VERDE, S.M.M.L. Impacto do tratamento quimioterápico no estado nutricional e no
comportamento alimentar de pacientes com neoplasia mamária e suas
79
conseqüências na qualidade de vida.138 f Dissertação de Mestrado. Universidade
de São Paulo, 2007.
VIEIRA, V.S. Aminas bioativas, atividade enzimática e influência de 1metilciclopropeno e benziladenina em couve minimamente processada . 94 f.
Dissertação de mestrado (Ciências de Alimentos) - Faculdade de Farmácia.
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
VOCI, S.M.; ENES, C.C.; SLATER, B. Validação do Questionário de Freqüência
Alimentar para Adolescentes (QFAA) por grupos de alimentos em uma população de
escolares. Revista Brasileira de Epidemiologia, n. 4, p. 561-572, 2008.
WALLACE, H.M.; CASLAKE, N. Polyamines and colon câncer. European Journal of
Gastroenterology & Hepatology, v. 13, p. 1033-1039, 2001.
WALLACE, H.M. Nutritional and metabolic intervention in amine metabolism: the
issue for work Package 2b. Cost action 922 – Health implications of dietary amines.
European Communities, v.1, p. 82-88, 2004.
WCR (World Cancer Research) Fund. Food, nutrition and prevention of cancer: a
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WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION) Expert Consultation. Diet, nutrition and
the prevention of chronic diseases. (Technical report series ; 916), 2003.
WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION). Policies and managerial guidelines for
national cancer control programs, 2004.
WHO (WORLD HEALTH ORGANIZATION). National Cancer Control Programs.
Polices
and
managerial
guidelines,
2002.
Disponivel
em
<http.
www.who.int/cancer/nccp/en/ > acesso em 15 de setembro 2009.
WILLETT, W. Foods and Nutrients. In: Nutritional epidemiology, v. 2, p. 20-33, 1990.
80
ANEXOS
81
ANEXO A - Termo de consentimento livre e esclarecido
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa.
Você precisa decidir se quer participar ou não. Por favor, não se apresse em tomar a
decisão. Leia cuidadosamente o que se segue e pergunte ao responsável pelo
estudo qualquer dúvida que você tiver. Este estudo está sendo conduzido por Dra.
Regilda Saraiva dos Reis Moreira Araújo. Após ser esclarecido(a) sobre as
informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste
documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador
responsável. Em caso de recusa você não será penalizado (a) de forma alguma.
ESCLARECIMENTOS SOBRE A PESQUISA:
Título do projeto: “CORRELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ALIMENTOS RICOS
EM POLIAMINAS, TIPO DE CÂNCER E IMC DE PACIENTES ONCOLÓGICOS”.
Pesquisador responsável: Dra. Regilda Saraiva dos Reis Moreira Araújo
Instituição/Departamento: Campus Universitário Ministro Petrônio Portella –
Departamento de Nutrição SG 13. Bairro Ininga.Teresina-PI.
Telefone para contato: 3215-5863/ 3237 2062
Pesquisadores participantes: Celsa Ferreira Lustosa
Telefone para contato: 9992 3926
OBJETIVO DO ESTUDO
Investigar o consumo de alimentos ricos em poliaminas e realizar intervenção por
meio de orientação nutricional em pacientes oncológicos de uma clinica particular .
PROCEDIMENTOS
Será realizada por meio de será aplicação de um Questionário de Freqüência de
Consumo de Alimentos ricos em poliaminas (QFCA), na sala de aplicação de
quimioterapia da clinica, de janeiro a março de 2010.
BENEFÍCIOS
Os benefícios estão relacionados à construção de subsídios para orientar a
construção de políticas públicas em saúde na área de coletividade enferma.
DESPESAS DO VOLUNTÁRIO
82
Todos os sujeitos nesta pesquisa estão isentos de qualquer custo.
PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA
A sua participação neste estudo é voluntária e você terá plena e total liberdade para
desistir do estudo a qualquer momento, sem que isso acarrete qualquer prejuízo ou
constrangimento para você.
GARANTIA DE SIGILO E PRIVACIDADE
As informações relacionadas ao estudo são confidenciais e qualquer informação
divulgada em relatório ou publicação será feita sob forma codificada, para que a
confidencialidade seja mantida. O pesquisador garante que seu nome não será
divulgado sob hipótese alguma.
ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS
Você pode e deve fazer todas as perguntas que julgar necessária antes de
concordar em participar do estudo.
COMITÊ DE ÉTICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Fui informado (a) que esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da
Universidade Federal do Piauí e que no caso de qualquer problema ou reclamação
em relação à conduta dos pesquisadores desta pesquisa, poderei procurar o referido
Comitê.
CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO
Eu________________________________________________,RG:______________
_______CPF:___________________ abaixo assinado, concordo em participar do
estudo, “CORRELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ALIMENTOS RICOS EM
POLIAMINAS, TIPO DE CÂNCER E IMC DE PACIENTES ONCOLÓGICOS” como
sujeito. Fui suficientemente informado a respeito das informações que li ou que
foram lidas para mim. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo,
os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de
confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Concordo voluntariamente em
participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento,
antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízos ou perda de qualquer
benefício que eu possa ter adquirido.
Local e data_____________________________________________________
Nome e assinatura do sujeito ou responsável:
________________________________________________________
Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a
pesquisa e aceite do sujeito em participar
Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores):
83
Nome:__________________________________________________________
RG:_____________________________Assinatura:______________________
Nome:__________________________________________________________
RG:____________________________Assinatura:_______________________
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e
Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação
neste estudo.
Teresina, ____ de janeiro de 2010
-------------------------------------------------------------------Assinatura do pesquisador responsável
Observações complementares
Se você tiver alguma consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em
contato:
Comitê de Ética em Pesquisa – UFPI - Campus Universitário Ministro Petrônio
Portella - Bairro Ininga
Centro de Convivência L09 e 10 - CEP: 64.049-550 - Teresina - PI
tel.: (86) 3215-5734 - email: [email protected] web: www.ufpi.br/cep
84
ANEXO B - Termo de Consentimento Institucional
85
ANEXO C - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Federal do Piauí
86
ANEXO D - Recordatório de 24 Horas
REFEIÇÃO
DESJEJUM
LANCHE
MANHA
ALMOÇO
LANCHE TARDE
JANTAR
CEIA
ALIMENTO OU PREPARACÂO
87
ANEXO E - Questionário de Frequência de Consumo Alimentar (Adaptado)
Frequência
Diária
Semanal
Quinzenal
Alimentos
Arroz
Biscoito
Fubá de milho (cuscuz)
Goma (beiju)
Pão / Torrada
Pão integral/Torrada I.
Farinha
Feijão
Leite integral
Leite semidesnatado
Leite desnatado
Leite de soja
Iogurte
Carne bovina
Frango
Peixe
Ovo
Fígado
Queijo
Presunto
Alface
Repolho
Pepino
Tomate
Couve (folha)
Cenoura
Batata
Beterraba
Abóbora
Abacaxi
Banana
Laranja
Maça
Mamão
Maracujá
Melão
Café
Margarina
Legenda: Diária: 5 a 7 vezes/semana
Semanal: 1 a 3 vezes/semana
Quinzenal: 1 vez/15 dias
Mensal: 1 vez/mês
Não consome
Mensal
Não consome
88
APÊNDICES
89
APÊNDICE A – Questionário aplicado
1- NOME:______________________________________________________
2- IDADE: _______ anos
NASC. _____/_____/______
3- DIAGNOSTICO________________________________________________
4- SEXO: Masculino ( )
Feminino ( )
5-ESTADO CIVIL:
1 ( ) solteiro
2 ( ) casado 3 ( ) separado
4 ( ) outros
6- ESCOLARIDADE ( em anos):
1( ) 0- 3 2 ( ) 4 -7
3 ( ) 8-10
4 ( ) 11- +
7- TRABALHA? 1 ( ) Não 2 ( ) Sim
8- PROFISSÃO: __________________
9- TEMPO DE DIAGNÓSTICO DO CÂNCER:
1( ) < de 1a ( )1 – 2a
3( ) 3-4a
4( ) 5-6a
5( )6 e+
10- TIPO DE TRATAMENTO:
1( ) Quimioterapia 2 ( )Zometa 3( )Heparinização do cateter 4 ( )GranuloKine ( )
Outros
11- PESO: _____ kg
12-ALTURA: ______cm.
13 - DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL – IMC:
1 ( ) 17,0-18,4 magreza I 2( ) 18,5-24,9 eutrófia 3( ) 25,0-29,9 pré- obesidade
4
( ) 30,0-34,9 obes. I 5 ( ) 35,0-39,9 obes.II 6( ) ≥ 40,00 obes. III
14- APÓS A DOENÇA MUDOU ALGO EM SUA ALIMENTAÇÃO?
1( ) Não 2( ) Sim.
15-QUAIS AS PRINCIPAIS MUDANÇAS?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________
90
APÊNDICE B - Atividades profissionais citadas pela população do estudo.
Profissão
Advogado(a)
Agente Penitenciário
Agente de Saúde
Agronômo
Agropecuário
Aposentado(a)
Artesão
Assistente Social
Auditor Fiscal
Auxiliar Administrativo
Bancário(a)
Comerciante
Contadora
Costureira
Dentista
Do lar
Educadora fisica
Enfermeira(o)
Estudante
Farmacêutico(a)
Fisioterapêuta
Funcionário Público(a)
Geológo
Meânico
Médico(a)
Merendeira
Pedagôga
Procuradora de Justiça
Professora(or)
Recepcionista
Secretaria
Técnica de Enfermagem
Veterinário
Total
Número
03
01
01
01
01
44
01
02
01
01
02
11
01
02
02
11
01
03
02
02
01
11
01
01
02
01
03
01
20
01
01
03
01
133
%
2,3
0,8
0,8
0,8
0,8
33,3
0,8
1,5
0,8
0,8
1,5
8,3
0,8
1,5
1,5
8,3
0,8
2,3
1,5
1,5
0,8
8,3
0,8
0,8
1,5
0,8
2,3
0,8
15,2
0,8
0,8
2,3
0,8
100,0
91
APÊNDICE C - Frequência do Consumo Alimentar.
Frequência
Alimentos
Diária
Semanal
Quinzenal
Mensal
Não
Consome
Arroz
88,0
12,0
-
-
-
Biscoito
8,3
57,9
16,5
12,0
5,3
Fubá de milho (cuscuz)
6,0
31,6
18,8
20,3
23,3
Goma (beiju)
3,8
31,6
27,8
20,3
16,5
Pão/Torrada
27,1
24,1
17,2
18,8
12,8
Pão /Torrada integral
12,8
17,3
17,3
18,8
33,8
Farinha
8,3
10,5
20,3
28,6
32,3
Feijão
57,9
30,1
8,3
3,0
0,7
Leite integral
27,8
26,3
18,1
13,5
14,3
Leite semi desnatado
17,3
21,8
12,0
21,1
27,8
Leite desnatado
43,6
26,3
18,1
7,5
4,5
Leite de soja
3,8
4,5
4,5
7,5
79,7
Iogurte
23,3
36,1
18,0
14,3
8,3
Carne bovina
12,0
69,9
8,3
5,3
4,5
Frango
18,0
62,4
12,8
2,3
4,5
Peixe
4,5
57,1
19,5
10,5
8,4
Ovo
2,3
35,3
32,4
19,5
10,5
Fígado
1,5
16,5
21,8
41,4
18,8
Queijo
11,3
42,1
21,8
18,0
6,8
Presunto
9,0
23,3
29,3
22,6
15,8
Alface
39,1
44,4
13,5
1,5
1,5
Repolho
15,8
45,9
15,0
15,0
8,3
Pepino
27,8
38,8
13,6
9,8
10,5
Tomate
51,1
27,8
7,5
6,8
6,8
Couve
12,0
30,1
21,8
21,1
15,0
Cenoura
28,6
49,6
9,8
9,0
3,0
Batata inglesa
25,6
57,8
6,8
6,0
6,8
Beterraba
12,8
45,1
21,1
11,3
9,7
Abóbora
21,1
48,9
12,8
12,8
4,4
Abacaxi
12,0
21,8
26,3
28,6
11,3
Banana
51,1
38,3
5,3
3,0
2,3
92
APÊNDICE C - Frequência do Consumo Alimentar (continuação).
Frequência
Alimentos
Diária
Semanal
Quinzenal
Mensal
Não
Consome
Laranja
46,6
36,1
8,3
5,3
3,7
Maçã
25,6
51,9
10,5
10,5
1,5
Mamão
21,1
57,1
12,0
5,3
4,5
Maracujá
6,0
30,8
13,5
23,6
24,1
Melão
14,4
30,8
24,8
15,0
15,0
Café
62,4
13,5
7,5
7,5
9,1
Margarina
21,8
18,8
9,8
11,3
38,3
Abacate
-
-
3,6
0,7
95,7
Água de coco
-
-
-
3,0
97,0
Ameixa
-
-
1,5
6,0
92,5
Aveia
-
6,0
6,0
-
88,0
0,7
5,2
-
94,1
Cajuína
Castanha do Pará
-
-
0,7
1,5
97,8
Chá verde
-
2,2
1,5
-
96,3
Goiaba
-
0,7
-
-
99,3
0,7
0,7
-
98,6
Kiwi
Limão doce
-
-
0,7
0,7
98,6
Linhaça
-
3,7
3,7
-
92,6
Manga
-
-
3,7
1,5
94,8
2,2
19,5
9,7
2,2
66,4
Pêra
-
4,5
8,2
-
87,3
Quiabo
-
1,5
-
-
98,5
Requeijão
-
1,5
0,7
-
97,8
Soja
-
-
0,7
-
99,3
Uva
3,0
19,5
15,7
-
61,8
Batata doce
-
-
1,5
-
98,5
Caqui
-
-
1,5
-
98,5
Maxixe
-
0,7
-
-
99,3
Melancia
93
APÊNDICE C - Frequência do Consumo Alimentar (continuação).
Frequência
Alimentos
Diária
Semanal
Quinzenal
Mensal
Não
Consome
Sapoti
-
-
0,7
-
99,3
Tangerina
-
0,7
0,7
-
98,6
Azeite Oliva
-
0,7
-
-
99,3
Bolo
-
2,2
0,7
-
97,1
Graviola
-
-
-
0,7
99,3
Abacaxi
-
0,7
-
-
99,3
Acerola
-
0,7
-
-
99,3
Refrigerante
-
0,7
-
-
99,3
Sorvete
-
0,7
-
-
99,3
Chocolate
-
-
0,7
-
99,3
Coalhada
-
0,7
-
-
99,3
Barra cereal
-
0,7
-
-
99,3
Download