do espaco real ao espaco virtual.

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FILIPE BARRETO FRANCHINI
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
[email protected]
O ENSINO DE GEOGRAFIA COM O CIBERESPACO: DO
ESPACO REAL AO ESPACO VIRTUAL.
INTRODUÇÃO
Na primeira década do século XXI a humanidade esteve tão interligada, por meio de uma
técnica que proporcionou profundas transformações na maneira de agir e pensar, que fez do
espaço geográfico uma produção muito mais dinâmica do que fora antes do período
técnico-cientifico-informacional (SANTOS 2008).
A dinamicidade do espaço geográfico adquirida por meio da técnica tem como símbolo a
Internet, que foi capaz de aproximar o mundo por meio da comunicação, do fluxo de
informações e dados, produzindo a espantosa aceleração das transformações no espaço
geográfico.
A internet, nesta concepção, é uma problemática conceitual para a Geografia, visto que se a
ciência geográfica estuda o espaço geográfico, qual ciência estaria encarregada de estudar o
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espaço virtual que surge com a Internet? Como a Geografia estuda o espaço virtual que
emerge com a Internet? O espaço virtual é espaço geográfico?
É nessa perspectiva que a pesquisa que o leitor tem em mãos começa a se delinear. Será
trabalhado, portanto, os motivos que levaram a Geografia escolar a perder autonomia a
ponto dos alunos nem saberem mais o motivo de estudá-la. Também será discutido como e
se a Internet pode se tornar um auxílio, em busca de uma nova proposta de ensino na
Geografia, assim como os conceitos que emergem quando se trabalha com a Internet, haja
vista a preocupação em fundamentar geograficamente os conceitos de ciberespaço, espaço
virtual e espaço real.
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DA GEOGRAFIA ENGESSADA À GEOGRAFIA FLUIDA: DE QUE
GEOGRAFIA ESTAMOS FALANDO...
O saber geográfico é uma forma de leitura e interpretação do espaço - não é somente
descritivo, o seu propósito com a sociedade vai além da descrição. A Geografia submerge
dentro do amalgama que compõe o espaço geográfico e busca trazer conhecimento referente
ao meio.
Todas as formas de pensamento da Geografia são formas de compreender a Geografia de um
dado momento, sob determinadas condições especificas de uma época. Explicar o espaço
geográfico, em 1950, requeria ferramentas, as quais, se fossem utilizadas hoje, não
alcançariam resultados satisfatórios sobre o objeto estudado: daí a necessidade de se buscar
novas formas de instrumentalizar o pensamento, a pesquisa e a ação geográfica.
A questão a ser colocada é: estamos passando por um momento de, novamente, refletir sobre
as nossas bases teóricas para compreender nossa dinâmica espacial atual. Será essa uma
necessidade constante da Geografia? Responder essa questão é tão importante para
compreensão do objeto geográfico quanto para o ensino da Geografia, pois assim podemos
definir que Geografia estamos ensinando e qual Geografia podemos ensinar.
Para compreender qual Geografia que nos desafia, aquela que temos diante de nós,
esperando ou provocando um novo pensar e agir, é preciso entender antes o que nos levou
ao atual estado de dúvida para com o ensino dela. Assim sendo, por definição, a Geografia
estuda a relação do homem com a natureza, dos homens entre si individualmente e
coletivamente, da natureza na dinâmica produção de seus elementos. Esse conjunto de
relações se faz presente num dado espaço geográfico, por esse motivo a Geografia desfruta
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de certos privilégios, afinal, o professor trabalha primeiramente com um saber de descrição de
uma paisagem na qual o aluno faz parte e constrói, sendo assim, esse saber descritivo da
Geografia é:
[...] um saber que olha e fala do mundo por meio da paisagem, e o faz numa tal
correspondência que as pessoas saem das aulas, andam pelos espaços do
mundo, e olhando estes espaços se lembram das lições do professor de
geografia. Era a vantagem de trabalhar com a paisagem. (MOREIRA, 2006, p.
191)
O problema é que há uma dificuldade imensa, por parte dos alunos, em fazer essa relação do
que é falado em sala com o que se consegue observar no espaço geográfico. Dentre um
complexo conjunto de situações, esse é um motivo que leva a Geografia escolar a viver e
enfrentar uma crise de reflexão das suas bases. O que se ensina hoje nas escolas é, ainda, de
modo geral, uma Geografia engessada: com ela se quer explicar a organização espacial atual
sem criar um mínimo de identidade local com o aluno. Assim, o que se verifica nas
materializações de Geografia escolar (como livros didáticos, provas de vestibulares,
exercícios de escola, por exemplo) é um “pacote de conceitos congelados”, no qual a única
relação que o aluno fará é no comando na hora da avaliação: ligue as colunas; enumere a
coluna X com a coluna Y, marque X na resposta correta...
É evidente que essa problemática não ocorre apenas devido a prática do docente. Ela se
torna cada vez mais forte pela busca, por parte dos alunos, da resposta rápida, da explicação
do agora, depressa... O adjunto adverbial de tempo é um dos vocabulários mais intensamente
usado pelos adolescentes.
Devido a esse “engessamento” da Geografia, o seu ensino perde autonomia, uma vez que
explica um espaço que não existe dentro do mundo do aluno. Já tivemos um momento em que
a paisagem era, aparentemente, mais lenta em suas transformações. Atualmente essa mesma
paisagem é mais dinâmica, fugaz, em constante metamorfose. Trabalhar essa fugacidade com
a Geografia “engessada” tornou-se impossível, por isso que:
Muito raramente acontece de quando hoje as pessoas olham a organização
dos espaços se lembrem do seu professor de geografia. Falta a identidade
entre o que ele falou e o que se está vendo [...] a paisagem tornou-se fluida.
(MOREIRA, 2006, p. 171)
Toda essa dinâmica observada no espaço, o principal objeto de estudo da geografia, não faz
com que estejamos sempre repensando o saber geográfico, uma vez que seu objeto está
sempre em constante transformação?
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A Geografia “engessada”, com modelos estabelecidos para facilitar o ensino em sala, não
corresponde mais ao que se vê na paisagem. O resultado desse modelo são alunos
desinteressados pela disciplina, não entendendo, nem mesmo, o sentido de estudá-la. Por
outro lado, o professor, frustrado, não vê seu trabalho atingir o objetivo proposto ou aquele
imposto pela instituição de ensino. Nessa linha de ensino e de aprendizagem, a culpa recai
sobre o aluno, que “não estudou o bastante”. Nesse caso a frustração é de via dupla, tanto do
professor quanto do aluno.
A não identificação do aluno com que o professor fala em sala de aula é reflexo, portanto, de
um objeto dinâmico, com o qual não é possível estabelecer nexo ou relação na e com a
Geografia “engessada” ensinada, daí a necessidade de uma Geografia “fluída”.
Essa fluidez surge das forças dialéticas atuantes no espaço geográfico, onde existe um estado
de re-criação do mesmo é o processo de territorialização – desterritorialização –
reterritorialização. O processo de territorialização e desterritorialização se refere ao conjunto
de movimentos que envolvem a criação e destruição de ordem e desordem que envolve tais
processos. Sendo assim, “[...] a desterritorialização é simplesmente a outra face, sempre
ambivalente da construção de territórios” (HAESBAERT, 2007, p.365) que leva ao processo
de reterritorialização, a reafirmação no território de um constante processo de reconstrução
das identidades em busca da autonomia no espaço.
Moreira (2006) defende a representação e o olhar da Geografia num contexto de espaço
fluido, entrelaçando duas ferramentas fundamentais da ciência geográfica: a paisagem e a
cartografia.
A paisagem como objeto de ação social está constantemente se reafirmando e se
reorganizando dentro de um processo de territorialização – desterritorialização –
reterritorialização, ganhando um caráter fluido. A ótica, portanto, precisa se focar não mais no
fixo e sim no fluxo. A Geografia utiliza-se, então, da cartografia, que deixa de ser só
ferramenta de representação, no modo que apenas transpunha num mapa o seu objeto de
estudo, para se tornar linguagem e raciocínio para representar a dinamicidade da paisagem,
valendo-se, também, da sofisticação de outras linguagens que possam revelar, no mapa, o
fluxo do real.
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Moreira (2006) buscou resgatar a cartografia como ferramenta dentro da Geografia fluida,
tornando-a tão dinâmica quanto o seu objeto. O que é pretendido nesse trabalho, segue por
outro caminho.
Se a dinamicidade que a paisagem adquiriu, provocou uma quebra no modelo engessado da
Geografia escolar e se essa fluidez foi resultado de um processo de territorialização –
desterritorialização – reterritorialização, é inegável que esse caráter fluído foi intensificado por
outra ferramenta cujo uso está cada vez mais disseminado: a rede mundial de comunicação
eletrônica, a internet.
No entanto, ao estabelecermos essa compreensão, esbarramos em outra problemática
conceitual: como relacionar o espaço real, onde todas as representações humanas se
estabelecem num espaço físico, com um espaço virtual, de fácil acesso, o qual inclusive se faz
presente dentro de todo o ecúmeno do espaço geográfico e o ensino de geografia?
O ciberespaço é um conceito utilizado por Pierre Levy, (2000) com o qual o autor se refere
a todo o espaço virtual, possível com a Internet. O ciberespaço pode, assim, ser explicado
como uma rede onipresente, que se imiscui e que abarca o espaço geográfico construído pela
sociedade humana. No espaço geográfico, invenção social, as ações humanas acontecem
numa perspectiva que o caracteriza como dinâmico, fluido. Nesse sentido, a nova cartografia
é uma ferramenta muito mais útil e geográfica, que tenta apreender, problematizar e explicar o
espaço onde ocorre todas as transformações, onde a materialização das mudanças torna
possível uma cartografia nova para essa nova Geografia fluida.
Entretanto, se podemos justificar a fluidez do espaço geográfico também pelo uso do
ciberespaço, cujo fluxo de informação e de comunicação se torna cada vez mais dinâmico e
veloz, admitiremos que o ciberespaço é um agente intensificador das mudanças no espaço
geográfico. Nesse sentido, agregar a Internet ao ensino pode potencializar um espaço de
diálogo e de desenvolvimento cognitivo para alunos de Geografia escolar, visto que esta é
uma ferramenta amplamente utilizada, inclusive pelos alunos, que se tornam também agentes
causadores de mudanças no espaço geográfico através do espaço virtual. Sendo assim a
relação espaço real, espaço virtual e ensino de geografia se faz possível. E importante. E
necessária.
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ESPAÇO REAL E ESPAÇO VIRTUAL: DA VIRTUALIDADE AO REAL
OU DA REALIDADE AO O VIRTUAL?
A discussão, neste segmento do trabalho, orbita sobre a virtualidade e a realidade. Na
perspectiva em que foram e que serão utilizados tais conceitos, eles exigem alguns
esclarecimentos sobre o seu emprego
Nesta pesquisa, como a linha de raciocínio é calcada no saber geográfico, o espaço real e o
espaço geográfico se tornam similares, considerando-se, ambos, uma invenção social. Os
agentes sociais, no processo de construção do espaço geográfico, simultaneamente, o
modelam, alterando concomitantemente o que constroem e o que re-constroem, uma vez que
o fazem intencionalmente, isto é, planejando o que vão fazer, inventando-o antes mesmo de
que ele se configure como tal. Ora, essa idéia do espaço a ser construído, planejado, não o
constituiria, no dado momento em que é pensado, como um espaço virtual?
Moreira, afirma que
[...] a idéia não é uma invenção pura e simples de nosso pensamento, uma
especulação sem mais nem menos de nosso intelecto. A idéia é o que resulta
da nossa relação intelectual com a realidade sensível, o real sensível traduzido
como construção do intelecto através do conceito. Daí dizermos que é uma
representação. (MOREIRA, 2007, p. 106)
Nessa linha de raciocínio, é possível afirmar, então que partir do estado real das coisas para
criar a representação na forma das idéias, acionando a sensibilidade, permite que se possa
captar
[...] as coisas da realidade circundante e as transportamos na forma de
sensações até dentro de nós, à nossa mente. Em nossa mente, essas
sensações são reunidas na reprodução dos objetos do mundo externo na
forma de imagem. (MOREIRA, 2007, p. 107).
Assim, é possível considerar, que partir da realidade para criar a virtualidade das coisas ou
partir do virtual para criar o real se constitui em um retorno permanente, tal qual a tentativa de
apreender o conhecimento; como rede: ele desliza para mais adiante, retoma o que já foi dito,
vaza em vácuos e se articula novamente em nós temporários ou definitivos.
Nota-se, também, que a virtualidade, neste sentido, é um virtual no plano das idéias. Nesse
conceito pode ser virtual o espaço vivido que não se vive mais, a não ser na memória por
aqueles que o viveram, conectando passado e presente, modificando-se a cada nova “visita”.
O virtual também se refere ao momento vivido, que não é resgatado no cotidiano, ficando
somente nas lembranças, não sendo motriz de novas ações: só quando se o resgata ele se
projeta na memória e ganha dinamicidade. No dizer de Bosi (apud VALLADARES, 2009) e
de Valladares (2009) o virtual se retira para o esquecimento, quando então é lembrança, só
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lembrado se resgatado pela memória. O virtual também é a projeção mental do que se deseja
viver, espaço invenção mental: é uma vontade que ainda não se tornou real. O que é
formulado, portanto, se constitui como um modelo de virtualidade ligado a abstração daquilo
que se pretende viver ou que se vivenciou no espaço real: contudo essa é uma virtualidade no
plano das idéias, mental, não tátil. A virtualidade com a qual se trabalha nesta pesquisa
envolve um virtual proporcionado pelo uso da técnica que permite ao virtual do plano das
idéias e mental, sair desse locus e compor o ciberespaço. Todavia, continua sendo não tátil:
característica da virtualidade. Esse modelo de virtualidade coloca exposta uma idéia que antes
era tida inicialmente na consciência do mentor.
O ciberespaço, portanto, é composto por um conjunto de idéias permitidas por aqueles
que constroem e usufruem o ciberespaço em diferentes localidades do espaço geográfico. É
também um espaço virtual que precisa do espaço real para existir. Nesse caso, o virtual ganha
outra denominação:
É virtual toda entidade desterritorializada, capaz de gerar diversas
manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem
contudo estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular. (LEVY,
2000, p. 47)
Sendo assim, as características virtualizante e desterritorializante do ciberespaço fazem dele o
vetor de um universo aberto (LEVY, 2000, p 50) tornando-o uma ferramenta poderosa na
transformação do espaço real. O caráter desterritorializado do ciberespaço coloca-o como
uma ferramenta onipresente dentro do espaço geográfico, dessa maneira, se consegue acesso
ao ciberespaço de qualquer parte daquele espaço, seja por meio do computador ou até
mesmo o celular. Portanto, “ainda que não possamos fixá-lo em nenhuma coordenada
espaço-temporal, o virtual é real”. (LEVY, 2000, p 48). Todavia, o uso da técnica para ter
acesso ao ciberespaço é imprescindível.
São as idéias expostas no ciberespaço, colocadas por aqueles que o utilizam, dentro de suas
intencionalidades, que o tornam uma ferramenta de elevado potencial transformador. Em
ambos os casos de virtualidades fica evidente a impossibilidade de
[...] separar o humano de seu ambiente material, assim como dos signos e das
imagens por meio dos quais ele atribui sentido à vida e ao mundo. Da mesma
forma, não podemos separar o mundo material das idéias por meio das quais
os objetos técnicos são concebidos e utilizados, nem dos humanos que os
inventaram, produzem e utilizam. (LEVY, 2000, p. 22)
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Considerando toda essa complexidade, a preopucapação pertinente é como o ciberespaço se
torna uma ferramenta com potencial transformador tão acentuado e o que o diferencia
particularmente dos outros agentes transformadores do espaço geográfico?
Para compreender tais questões é preciso buscar entender profundamente o que é o espaço
geográfico. Pode-se iniciar sua compreensão pela análise de sua composição, na qual estão
presentes as categorias de Paisagens, Lugares, Regiões e Territórios. SANTOS (2008)
afirma que, além disso, no espaço geográfico existem formas, representadas pelas estruturas.
Estas estruturas são construções que se apresentam impressas no espaço geográfico,
desempenhando determinadas funções sujeitas a transformações ao longo do tempo. Sendo
assim, as formas que, num tempo passado, desempenhavam no espaço geográfico uma
determinada função, hoje, quando uma outra divisão social e territorial do trabalho reorganiza
o espaço geográfico, podem nele persistirem, permanecerem presentes, mas, talvez, não com
a mesma função: daí se criar o conceito de rugosidades. Sendo assim
O espaço é a síntese, sempre provisória, entre o conteúdo social e as formas
espaciais. Mas a contradição principal é entre sociedade e espaço, entre um
presente invasor e ubíquo que nunca se realiza completamente, e um
presente localizado, que também é passado objetivado nas formas sociais e
nas formas geográficas encontradas. (SANTOS, 2008, p. 109)
O que dá função à forma é a ação social sobre a mesma. SANTOS (2008) se refere, na
citação anterior, a “um presente invasor e ubíquo que nunca se realiza completamente”,
aludindo à sociedade, propriamente dita, pelo fato desta nunca se realizar por completo,
induzindo uma constante transformação do meio em que se vive. A essência de mudança e de
melhoria é algo imanente ao homem, sempre em busca da realização, portanto
Quando a sociedade age sobre o espaço, ela não o faz sobre os objetos como
realidade física, mas como realidade social, formas-conteúdo. Isto é, objetos
sociais já valorizados aos quais ela (a sociedade) busca oferecer ou impor um
novo valor. A ação se dá sobre objetos já agidos, isto é, portadores de ações
concluídas mas ainda presentes. Esses objetos da ação são, desse modo,
dotados de uma presença humana e por ela qualificados. (SANTOS, 2008, p
109)
O ciberespaço, colocado como uma ferramenta que abarca toda a totalidade do espaço
geográfico, possui suas particularidades. Uma delas é o ineditismo: pela primeira vez na
história, se coloca disponível para a sociedade, a qual nunca se encontra completamente
realizada, estando sempre em busca da realização, uma ferramenta, com tamanho potencial
aglutinador de informações e de idéias. Sendo assim, “o ciberespaço encoraja um estilo de
relacionamento quase independente dos lugares geográficos e da coincidência dos tempos.”
(LEVY, 2000, p 44). Talvez, seguindo esse raciocínio, a Internet se apresente como
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ferramenta para suprir uma necessidade inerente ao ser humano, qual seja a de se comunicar,
de obter e fornecer informação. Esse fenômeno que agora efetua a comunicação e a
informação, ambas vindo e circulando de/por todos os lugares do globo, surgiu e acontece
num momento histórico tão favorável que potencializa e multiplica sua eficácia nos processos
globalizatórios que se intensificam. Considerando o seu caráter desterritorizado, é possível
buscar, por seu intermédio, diferentes transformações – inclusive, aquelas tão almejadas, do
real estado de realização social doloroso e perverso, para outro, no qual estejam presentes
justiça, igualdade e solidariedade, compreendendo-se que tal luta se justifica, inclusive, pelo
reconhecimento que “começamos a nos conceber como humanidade há 50 anos” (MORIN,
2003, p 72)
É nessa perspectiva que surge a idéia de um cidadão planetário, com consciência global. Por
tal motivo é que a Internet se torna uma ferramenta tão única na história. Com um conjunto
imenso de informações proporcionado por meio do ciberespaço criam-se
“[...] possibilidades que ficam por aí, vagando, até que, chamadas a se
realizar, transformam-se em extenso, isto é, em qualidades e quantidades. Tais
essências seriam, então, o Real Possível, possibilidades reais, e não ideais.
Esse Real se dá como configuração viável da natureza e do espírito, em um
dado momento: uma técnica nova ainda não historicizada, uma nova ação
apenas pensada.” (SANTOS, 2008, p 123)
BIBLIOGRAFIA
COSTA, Rogério H. da. O Mito da Desterritorialização: do “fim dos territórios” à
multiterritorializade. -3ª Ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. - São Paulo: Editora 34, 2000. 260p.
MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em geografia: ensaios de história, epistemologia e ontologia
do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2007. 188 p
_________2006, Para onde vai o pensamento geográfico? Por uma epistemologia
crítica. São Paulo: Contexto, 191 p.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de
Janeiro, Bertrand Brasil, 2003.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:
Edusp, 2008. 384 p.
VALLADARES, M. T. R. Vivências em zonas de fronteiras...as narrativas se fazem
travessias (um estudo com cotidianos e narrativas no estágio curricular da licenciatura de
Geografia na UFES), 2009.
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