ÍNDICES DE DESVIOS POSTURAIS EM ESCOLARES DO ENSINO

Propaganda
DANIELE
DA COSTA
RODRIGUES
Pró-Reitoria
de Graduação
Curso de Educação Física
Trabalho de Conclusão de Curso
ÍNDICES DE DESVIOS POSTURAIS EM ESCOLARES DO ENSINO
FUNDAMENTAL.
ÍNDICES DE DESVIOS POSTURAIS EM ESCOLARES DO ENSINO
FUNDAMENTAL.
Artigo apresentado ao curso de
graduação em Educação Física da
Universidade Católica de Brasília,
como requisito parcial para obtenção
do Título de Licenciatura em
Educação Física.
Orientador (a): Professor Doutor
Cesar Roberto Silva
Autor: Daniele da Costa Rodrigues
Orientador: Professor doutor César Roberto Silva
Brasília
2010
Brasília - DF
2010
Artigo de autoria de Daniele da Costa Rodrigues, intitulado “ÍNDICES DE
DESVIOS POSTURAIS EM ESCOLARES DO ENSINO FUNDAMENTAL”,
apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciatura em
Educação Física da Universidade Católica de Brasília, em oito de junho de
2010, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada:
_________________________________________________________
Prof. Doutor Cesar Roberto Silva
Orientador
Educação Física – UCB
_________________________________________________________
Prof. Doutor Roberto Nóbrega
Educação Física - UCB
Brasília
2010
3
ÍNDICES DE DESVIOS POSTURAIS EM ESCOLARES DO ENSINO
FUNDAMENTAL.
DANIELE DA COSTA RODRIGUES*
CESAR ROBERTO SILVA**
RESUMO
Este estudo teve como objetivos, avaliar os índices de desvios posturais na
coluna em escolares do ensino fundamental. Participaram da pesquisa 20
estudantes, sendo 10 do sexo feminino e 10 do sexo masculino. Para avaliação
postural foi utilizado um software de livre acesso, o SAPO, que a partir de
fotografias digitalizadas permite a mensuração do alinhamento dos segmentos
corporais dos indivíduos. A análise foi realizada nas vistas anterior, posterior e
lateral esquerda, seguindo o protocolo do software, com adaptações, para a
demarcação dos pontos. Observou-se nos grupos pesquisados, que não houve
diferença significante no resultado de incidências de desvios entre meninos e
meninas.
PALAVRAS-CHAVE
Postura, desvios posturais, coluna, avaliação postural, desvios de
desenvolvimento, fotogrametria, programa SAPO.
INTRODUÇÃO
Diversas são as definições de postura encontradas na literatura, sendo
que algumas salientam aspectos somáticos, enquanto outras salientam
aspectos biomecânicos. Desse modo, entendemos que ao mesmo tempo em
que a postura corporal é uma característica individual e depende da imagem
que o próprio indivíduo faz do seu corpo, é também um arranjo relativo das
partes do corpo na busca do equilíbrio (KNOPLICH, 1985, 1986; KENDALL,
McCREARY & PROVANCE, 1995). A postura é a posição que o corpo assume
no espaço em função do equilíbrio dos quatro constituintes anatômicos da
coluna vertebral: vértebras, discos, articulações e músculos.
Para Kendall, McCreary, Provance (1995) A boa postura é o estado de
equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de suporte do corpo
contra lesão ou deformidade progressiva independente da atitude (ereta,
deitada, agachada, encurvada) nas quais essas estruturas estão trabalhando
ou repousando. Sob tais condições, os músculos funcionam mais
eficientemente e posições ideais são proporcionadas para os órgãos torácicos
e abdominais. Já a má postura é uma relação defeituosa entre várias partes do
corpo, que produz uma maior tensão sobre as estruturas de suporte e onde
ocorre um equilíbrio menos eficiente do corpo sobre sua base de suporte.
E importante observar e identificar os desvios posturais acentuados ou
persistentes no indivíduo em crescimento, bem como é importante reconhecer
que não se espera que as crianças se conformem ao alinhamento padrão do
adulto. Isso é válido por uma série de razões, mas, principalmente, pelo fato do
indivíduo em desenvolvimento exibir uma mobilidade e flexibilidade muito
maiores que as do adulto (KENDALL, McCREARY & PROVANCE, 1995).
Para Cailliet, Rene (1979), são inúmeros os motivos causadores da má
postura corporal, como a protrusão de ombros, a cabeça anteriorizada e as
escápulas abduzidas, entre outros. Entretanto, em crianças na idade escolar, é
4
na própria escola que a má postura corporal é vivenciada, pois as crianças não
encontram mesa e cadeiras adequadas à sua altura, e carregam mochilas
muito pesadas que acabem contribuindo para um desvio postural. A postura é,
em grande parte, um hábito e, coma repetição de uma ação errada, pode
resultar em uma função cinética viciada, e estes padrões repetidamente
defeituosos podem tornar- se enraizados.
A infância e a adolescência representam dois períodos da vida do ser
humano em que ele se depara com inúmeras descobertas a respeito do mundo
e a respeito de si próprias. Nestas fases as crianças e os adolescentes passam
por uma série de alterações psicológicas, afetivas, sociais e físicas. Em relação
às alterações físicas, assim como existem mudanças na estatura e no peso
corporal, existem também mudanças em relação à postura do indivíduo, de
acordo com as vivências corporais experimentadas por cada um, nas diferentes
fases da vida.
A postura adequada na infância ou a correção precoce de desvios
posturais nessa fase possibilitam padrões posturais corretos na vida adulta,
pois esse período é da maior importância para o desenvolvimento músculoesquelético do indivíduo, com maior probabilidade de prevenção e tratamento
dessas alterações posturais na coluna vertebral. Por outro lado, na maturidade
podem se tornar problemas irreversíveis e sem tratamento específico. Bruschini
(1998) diz que a idade escolar compreende a fase ideal para recuperar
disfunções da coluna de maneira eficaz; após esse período, o prognóstico
torna-se mais difícil e o tratamento mais prolongado.
Para Kavalco (2000), as alterações posturais relacionadas às posturas
inadequadas são distúrbios anátomo-fisiológicos que se manifestam
geralmente na fase de adolescência e préadolescência, pois é o período em
que há o estirão de crescimento.
Bruschini (1998), fala que dados epidemiológicos apontam para uma alta
prevalência de alterações posturais de coluna entre crianças e adolescentes. É
importante a detecção precoce e a prevenção desses problemas, associados
às orientações quanto à postura correta.
Dentre os distúrbios ortopédicos, as alterações posturais da coluna e
dos membros inferiores são os mais incidentes. Este fato é preocupante, pois
na infância e na adolescência o sistema musculoesquelético ainda está se
desenvolvendo, o que torna o corpo mais susceptível a deformações. Sacco et
al. (1997) observaram a associação da obesidade com alterações posturais
pelo excesso de massa corporal, diminuição da estabilidade e aumento das
necessidades mecânicas para adaptação corporal.
Existem basicamente duas formas principais de avaliação postural,
sendo a forma qualitativa a mais tradicional e barata, estando baseada na
prática e olho crítico do terapeuta. E a forma quantitativa, que tem como
recurso a fotogrametria, permite que a foto seja analisada por programas de
computador e as alterações quantificadas, permitindo melhor comparação entre
pacientes e até entre os estágios de evolução de um mesmo paciente (SATO
T.O., VIEIRA E.R., GIL COURY H.J.C., 2003; JEFERRY M. 2001)
O objetivo deste estudo foi avaliar a postura de estudantes do ensino
fundamental, de forma quantitativa.
___________________________________________________________________
* Graduando do Curso de Educação Física da Universidade Católica de Brasília – UCB.
** Prof. Curso de Educação Física. Universidade Católica de Brasília – UCB.
5
METODOLOGIA
Amostra:
A amostra foi composta por 20 jovens, com faixa etária entre 14 e 15
anos, escolares do ensino fundamental, divididos em 2 grupos, sendo G1 (10
jovens do sexo masculino) e G2 (10 jovens do sexo feminino). A seleção da
amostra foi realizada por conveniência na escola C.E.F. 10 do Guará.
Critérios de inclusão:
Foram incluídos na amostra estudantes entre 14 e 15 anos que
voluntariamente se propuseram a participar do estudo e não possuíram
nenhuma restrição à realização dos referidos testes.
Procedimentos
Para avaliação postural foi utilizado o teste de fotogrametria que pode
ser feito através de um software de livre acesso, que começou a ser
desenvolvido em 2003 com apoio do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento) e da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo), o SAPO (Software de Avaliação Postural), que a partir de
fotografias digitalizadas do indivíduo permite a mensuração do comprimento,
posição, ângulo, alinhamento, e outras propriedades dos segmentos corporais
dos indivíduos.
Os materiais necessários para pesquisa incluíram: uma câmera digital
da marca Kodak modelo EasyShare C180 de 10.2 megapixels, um tripé, um fio
de prumo, esferas pequenas de isopor para demarcação dos pontos
anatômicos, 1 metro de tecido preto, um computados para análise das imagens
e um espaço mínimo de 4 x 1 m (para posicionamento e enquadramento
corretos na fotografia).
Os procedimentos de coleta da imagem seguiram o protocolo proposto
pelo programa SAPO, que é descrito da seguinte maneira: o fio de prumo deve
estar preso ao teto e paralelo ao indivíduo e ambos perpendicularmente ao eixo
da câmera, sendo que a mesma deve ser posicionada a mais ou menos 3
metros de distância e a uma altura correspondente a metade da estatura do
indivíduo. O fio de prumo deve aparecer ao lado do indivíduo na foto. Após
registrar no programa os pontos anatômicos demarcados no indivíduo, o
programa SAPO realizou uma análise desses pontos, gerando um relatório
postural.
As fotos para analise foram tiradas em vista anterior, vista posterior e
lateral esquerda. Para este estudo, buscando evidenciar desvios encontrados,
foram selecionadas para análise as seguintes incidências de desvios: na vista
anterior a posição da cabeça, ombros e crista ilíaca, na vista posterior os pés,
escapulas e gibosidades e na vista lateral a região abdominal, região torácica e
a região lombar.
ESTATÍSTICA
Para a caracterização da amostra foi utilizado a estatística descritiva
com média e desvio padrão (±DP). Para avaliar possíveis diferenças entre os
grupos G1 e G2 foi utilizado o teste “t”. O nível de significância adotado foi de
p< 0,05.
6
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o resultado apresentado nas Tabelas 1 e 2, não houve
diferença significante no resultado de incidências de desvios entre meninos e
meninas (p=0,374) (Tabela 1).
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Tabela 1. Incidências de Desvios
G1 (meninos)
G2 (meninas)
5
3
4
6
5
3
6
2
7
6
3
4
4
1
2
6
8
7
4
2
P= 0,374
Tabela 2. Média e Desvio-padrão entre G1 e G2
Meninos
Meninas
Média
4,8
4,072
Desvio-padrão
1,81
2,0
No presente estudo foram avaliados nove tipos diferentes de desvios,
estando pelo menos um tipo deles presente nos avaliados.
Magee (2002) acredita que, para que uma postura seja considerada
adequada, a cabeça é mantida ereta, os braços ficam relaxados com as
palmas das mãos voltadas para o corpo, cotovelos levemente flexionados, os
ombros estão no mesmo nível nos planos sagital e coronal, as escápulas estão
de encontro à caixa torácica, o abdômen deve ser plano, à frente da pelve e as
coxas estão numa linha reta, os glúteos não são proeminentes, o peso corporal
é suportado uniformemente sobre ambos os pés e o quadril está no mesmo
nível, as pernas são retas para cima e para baixo, o arco longitudinal medial do
pé tem a forma de uma semi-cúpula e os dedos dos pés devem estender-se
para frente em linha com o pé.
Segundo Ferreira, o padrão de alinhamento postural adotado
internacionalmente como referência é discutível, pois, após realizar uma
avaliação postural quantitativa utilizando o software SAPO em 115 indivíduos,
ela concluiu que foi encontrado um padrão de similaridade.
Robergs, Roberts (2002) salientam que pode haver diferenças de
prevalência de alterações posturais entre escolares de mesma idade, sexo,
peso e altura em decorrência do nível de maturação dos padrões de
crescimento e desenvolvimento. Em decorrência da inadequada ergonomia
escolar, os escolares em fase de crescimento e desenvolvimento, a despeito
do peso e altura, tendem a apresentar alterações posturais após alguns anos
de freqüência à escola.
Considerando que as crianças permanecem por um longo período de
tempo nas instituições escolares e que estas podem não apresentar condições
ergonômicas adequadas, torna-se conveniente realizar estudos sobre
7
alterações posturais, sobretudo as da coluna vertebral, por entender que as
mesmas possam gerar agravos futuros e também pelo elevado número de
adultos incapacitados para uma vida social ativa por problemas nesse
segmento (LUCA, 1999).
Segundo Souchard (1985), a postura incorreta, infelizmente, não dá
sinais. Mesmo se olhando no espelho, as pessoas não percebem que estão
“tortas”. Apenas quando surge a dor é que se percebe que algo vai mal. É por
isso que não se deve deixar passar uma dor sem investigar a sua causa, pois a
dor é o sinal de alarme do corpo para mostrar que há alguma coisa errada.
Grande parte das dores é resultado de má postura.
É com base nos resultados apresentados acima, mesmo não aparecendo
diferença significante entre os dois grupos, os desvios posturais estão
presentes em todos os indivíduos avaliados. O que se ressalta o papel da
escola como local ideal para atuação do profissional de Educação Física não
só para jogos, esportes, danças e recreação, mas também, como protagonista
na educação corporal dos escolares, prevenindo e orientando os desequilíbrios
corporais. Como descreve Pinto e Lopes (2001), a avaliação postural previne
problemas maiores para os jovens no futuro, pois quanto mais precocemente
se trabalhar no sentido de reeducação postural, com uma ação eficaz junto
àqueles que apresentam alterações maiores os índices e possibilidades de
sucesso.
CONCLUSÃO
Ficou evidenciado no presente estudo um alto índice de desvios, como
pode ser observado, em 100% das crianças analisadas pelo menos uma
alteração postural foi encontrada, chegando a serem detectados em uma única
criança oito tipos diferentes. A média encontrada para os meninos ficou em 4,8
e para as meninas 4,072. Dentro de um total de nove pontos analisados o ideal
seria não encontrarmos nenhum desvio. Ficou constatado que mais de 50%
dos meninos apresentaram alterações, já no grupo das meninas o resultado
encontrado foi pouco menos da metade. Não apresentando diferença
significativa entre meninos e meninas no resultado de incidências de desvios.
8
REFERÊNCIAS
BRUSCHINI S. Ortopedia Pediátrica. 2ª ed., São Paulo: Atheneu; 1998.
CAILLIET, RENE M.
Paulo:Manole, 1979.
D.
Lombalgias:
Síndromes
Dolorosas.
São
DETSCH C, LUZ AMH, CANDOTTI CT, SCOTTO DE OLIVEIRA D, LAZARON
F, GUIMARÃES LK, et al. Prevalência de alterações posturais em escolares
do ensino médio em uma cidade no Sul do Brasil. Rev Panam Salud
Publica. 2007; 21(4): 231–8.
FERRONATTO, A., CANDOTTI, C. T., SILVEIRA, R. P. A incidência de
alterações do equilíbrio estático da cintura escapular em crianças entre 7
a 14 anos. Movimento - Ano V - Nº 9 - 1998/2.
JEFERRY M. Using digital image processing for the assessment of
postural changes and movement patterns in bodywork clients. Journal of
bodywork and movement therapies. 2001; 5(1):11-20.
KAVALCO TF. A manifestação de alterações posturais em crianças de
primeira a quarta séries do ensino fundamental e sua relação coma
ergonomia escolar. Ver Bras Fisioterapia 2000; 2(4).
KENDALL FP, McCREARY EK, PROVANCE PG. Músculos provas e
funções. 4ª ed. São Paulo: Manole; 1995.
KNOPLICH, José. A Coluna Vertebral da Criança e do Adolescente. São
Paulo: Panamed, 1985.
KUSSURI, M.O.M; CUNHA, A.C.P; AMADO, S. M. Caracterização postural
da c oluna de crianças obesas de 7 a 10 anos. Fisioterapia em Movimento,
Curitiba, v. 20, n. 1, p. 77-84, jan./mar., 2007.
LUCA, M. C. Z. Prevenção e tratamento das lombalgias. Revista Fisioterapia
em Movimento, 13 (1): abr/set. 1999.
MAGEE, D. Avaliação musculoesquelética. São Paulo: Manole, 2002.
MARTELLI, R.C; TRAEBERT, J. Estudo descritivo das alterações posturais
de coluna vertebral em escolares de 10 a 16 anos de idade. Tangará-SC,
2004. Rev Bras Epidemiol 2006; 9(1): 87-93.
PINTO, H. C.; LOPES, R. F. Problemas posturais em alunos do centro de
ensino médio 01 Paraná – Brasília DF. EFDeportes.com, Buenos Aires, año
7, n. 42, noviembre, 2001.
ROBERGS R, ROBERTS SO. Princípios fundamentais de fisiologia do
exercício para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo: Phorte; 2002.
9
SACCO ICN, COSTA PHL, DENADAI RC, AMADIO AC. Avaliação
biomecânica de parâmetros antropométricos e dinâmicos durante a
marcha em crianças obesas. Congresso Brasileiro de Biomecânica; 1997;
Campinas. Anais. Campinas: Unicamp/SBB; 1997. p. 447-452
SATO TO, VIEIRA ER, GIL COURY HJC. Análise da confiabilidade de
técnicas fotométricas para medir a flexão anterior do tronco. Revista
brasileira de fisioterapia. 2003, 5(1):53-59.
SOUCHARD, P. E. Ginástica postural global. São Paulo: Martins Fontes,
1985.
Download