TUMOR DE ARCO AÓRTICO EM CÃO (Canis familiaris)

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ISSN 0102-5716
Vet e Zootec. 2012; 19(1 Supl 1):
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TUMOR DE ARCO AÓRTICO EM CÃO (Canis familiaris) - RELATO DE CASO
AORTIC BODY TUMOR IN A DOG (Canis familiaris) - CASE REPORT
TUMOR DE CUERPO AÓRTICA EN UN PERRO (Canis familiaris) INFORME DE CASO
Márcia Carolina Salomão1
Aline Silva de Mattos2
Alessandra Ribeiro Lucena3
Juliana da Silva Leite1
Marcela Freire Vallim de Mello1
Ana Maria Reis Ferreira1
INTRODUÇÃO
O tumor do arco aórtico, também citado na literatura veterinária como tumor da base
do coração, quimiodectoma ou paraganglioma (5,7), se origina de quimiorreceptores situados
na adventícia da aorta. Os quimiorreceptores são estruturas especializadas na manutenção da
homeostase do sistema cardiorrespiratório, funcionando tanto como barorreceptores, quando
promovem o aumento ou a diminuição da freqüência cardíaca, da pressão arterial, do tônus
vasomotor, da atividade do córtex cerebral e da liberação de adrenalina, como também agem
como quimiorreceptores, detectando variações do pH sangüíneo, pressão de oxigênio (PO2) e
de dióxido de carbono (PCO2) (2). Embora incomuns, os quimiodectomas podem acometer
cães e raramente gatos e bovinos. Cães idosos e de raças braquiocefálicas como boxer,
bulldog e boston terrier apresentam maior predisposição ao desenvolvimento deste tipo de
neoplasia (3,5). Os quimiodectomas são afuncionais, frequentemente benignos, de
crescimento lento e os sinais clínicos resultam da obstrução mecânica nos vasos da base do
coração (5,6). Os animais apresentam história clínica de dificuldade respiratória, tosse e
intolerância ao exercício e sinais associados a insuficiência do coração direito como distensão
da jugular, efusão pleural, efusão abdominal e edema periférico (2). O diagnóstico do tumor e
da efusão pericárdica baseia-se nos achados clínicos e de imagem, sendo o diagnóstico
definitivo obtido por meio do exame histopatológico. O objetivo do presente trabalho é
descrever as características clínicas de um cão da raça Poodle com quimiodectoma, visto que
é incomum o acometimento de cães de pequeno porte por essa neoplasia.
Palavras-chave: quimiodectoma, cão, coração
1
. Profs. Depto Patologia e Clínica Veterinária – Faculdade de Veterinária – Universidade Federal Fluminense
(UFF). Rua Vital Brasil Filho, 64 – Niterói - RJ - Brasil– CEP: 24.230-340 – e-mail: [email protected]
2
. Médica veterinária plantonista do HUVET - UFF
3
. Médica veterinária colaboradora voluntária do HUVET-UFF
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I Simpósio Internacional de Ultrassonografia em Pequenos Animais, 01 a 03 de julho de 2011, Botucatu, SP, Brasil.
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RELATO DO CASO
Um cão da raça Poodle, com 10 anos de idade, castrado, foi atendido no setor de
Clínica Geral do Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor Firmino Mársico
Filho (HUVET) da Universidade Federal Fluminense (UFF), apresentando como queixa
principal a presença de edema na região cervical. Ao exame clínico, foi constatada a presença
de sopro à ausculta cardíaca e aumento dos linfonodos submandibulares. O animal foi
encaminhado para
a realização de exame radiográfico da região torácica, ultrassonografia da cavidade abdominal
e da região cervical e exame ecocardiográfico. A radiografia da região torácica revelou
aumento global da silhueta cardíaca sugestivo de cardiomegalia acentuada, efusão pericárdica
ou neoplasia. O exame ultrassonográfico da cavidade abdominal acusou congestão hepática e
atrofia esplênica, enquanto que o da região cervical demonstrou a presença de edema difuso,
aumento discreto dos linfonodos submandibulares e dilatação da veia jugular. Foi realizado
um exame ecodopplercardiográfico que evidenciou endocardiose mitral discreta e a presença
de uma massa tumoral heterogênea de grandes dimensões (9 X 6cm) com íntima relação com
a parede da aorta e que invadia o átrio esquerdo sugestivo de neoplasia cardíaca. Considerouse que o procedimento cirúrgico seria inviável devido à extensão da formação tumoral e foi
estabelecido tratamento paliativo que objetivou minimizar os distúrbios cardiorrespiratórios.
Após seis meses o animal veio a óbito e foi feita a necrópsia. O exame histopatológico da
massa da base do coração revelou proliferação de células quimioreceptoras neoplásicas,
quimiodectoma, e nódulo metastático em pulmão.
DISCUSSÃO
O presente relato contrasta com as informações da literatura que refere uma
predisposição de cães braquicefálicos no desenvolvimento dessa neoplasia, uma vez que foi
encontrado um quimiodectoma em um cão de porte pequeno da raça Poodle. A queixa clínica
principal desse animal foi o edema na região cervical, confirmado pela ultrassonografia que
acusou também a dilatação da veia jugular, achados possivelmente associados a invasão ou
aumento de pressão na veia cava cranial (4). Por outro lado, não foram relatados dificuldade
respiratória, tosse ou intolerância ao exercício relacionados a insuficiência cardíaca (2). Ao
exame físico, o cão apresentou sopro sistólico e pensou-se em endocardiose de mitral,
comumente encontrado em animais desse porte, o que foi confirmado posteriormente pelo
exame ecodopplercardiográfico. O exame radiográfico revelou aumento global da silhueta
cardíaca sugestivo de cardiomegalia acentuada, efusão pericárdica ou neoplasia. Cabe
ressaltar que nesse ponto a hipótese de um tumor cardíaco pareceu menos provável que a de
efusão pericárdica por outras causas. Isso devido ao fato dos tumores cardíacos serem de
ocorrência rara, especialmente nessa raça. Por sua vez, o exame ecodopplercardiográfico foi
fundamental para se estabelecer o diagnóstico e para se aferir a repercussão hemodinâmica do
tumor, mesmo não sendo capaz de indicar a etiologia tumoral (1). Notou-se a presença de
uma massa tumoral heterogênea de grandes dimensões situada na aorta e no átrio esquerdo,
além de espessamento da valva mitral (degeneração mixomatosa) e aumento biatrial, sem
alterações significativas na função sisto-diastólica. Efusão pericárdica não foi encontrada no
animal em questão o que poderia agravar a insuficiência cardíaca (2). Meses depois quando o
animal veio a óbito e foi realizado o exame necroscópico, a massa já havia invadido o
ventrículo esquerdo. É possível que a massa tenha evoluído durante este período até obstruir o
átrio esquerdo e levar ao colapso cardíaco. Foram notados à necrópsia nódulos mestastáticos
em pulmão, o que pode ocorrer em 22% dos animais com quimiodectoma que também devem
ter se desenvolvido no período posterior ao diagnóstico por imagem (8).
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CONCLUSÃO
O tumor do arco aórtico, tumor da base do coração, quimiodectoma ou paraganglioma
é uma neoplasia de ocorrência incomum, sendo relatada a predisposição de cães
braquicefálicos. No presente relato, descreve-se o caso de um cão da raça Poodle acometido
por essa neoplasia. As principais alterações clínicas observadas no animal estudado foram o
edema da região cervical e o sopro sistólico, porém cabe ressaltar que manifestação clínica
dessa neoplasia é variada, uma vez que está associada a localização e a extensão da massa
tumoral. Apesar do quimiodectoma ser de crescimento lento e comportamento
frequentemente benigno, chama a atenção o fato do animal ter desenvolvido metástase
pulmonar seis meses após o diagnóstico da neoplasia. Isso reforça a necessidade de uma
ampla investigação semiológica e pelos exames de imagem. Estes foram fundamentais para a
conclusão diagnóstica, destacando-se o papel do exame ecodopplercardiográfico na detecção
da formação tumoral e de seus efeitos deletérios na hemodinâmica. Os exames radiográfico e
ultrassonográfico foram importantes para o estadiamento das lesões e pesquisa de
complicações. As informações obtidas por meio dos exames de imagem utilizados permitiram
concluir que a ressecção cirúrgica não seria possível e auxiliaram na conduta terapêutica. O
tratamento foi paliativo e objetivou minimizar os distúrbios cardiorrespiratórios. Concluiu-se
que apesar da ocorrência incomum, o presente relato demonstrou a importância de incluir o
quimiodectoma na lista de diagnósticos diferenciais de cardiopatias em cães.
REFERÊNCIAS
1. Abduch, MCD. Ecocardiografia. In: Carvalho, CF. Ultrassonografia Doppler em Pequenos
Animais. São Paulo: Roca; 2009:201-268.
2. Ehrhart N, Ehrhart EJ, Willis J, Sisson D, Constable P, Greenfield C, Manfra-Maretta S,
Hintermeister J. Analysis of factors affecting survival in dogs with aortic body tumors. Vet
Surg. 2002;31:44-48.
3. Jark PC, Grandi F, Doiche DP, Machado LHA, Lourenço MLG, Sequeira JL.
Quimiodectoma de corpo aórtico em cão. Clín Vet. 2011;90:54-60.
4. Kealy KJ, McAllister H. The thorax. In: Diagnostic Radiology and Ultrasonography of the
Dog and Cat. 4th. Missouri: Elsevier Inc; 2005:173-295.
5. Meuten, DJ. Tumors in domestic animals. 4th. Iowa: Iowa State Press, 2002:800.
6. Moura VMBD, Goiozo PFI, Thomé HE, Caldeira CP; Bandarra E. Quimiodectoma como
causa de morte súbita em cão – relato de caso. Vet Not. 2006;12(1):95-99.
7. Santos, JA. Patologia Especial dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro: Instituto
Interamericano de Ciências Agrárias; 1975:661.
8. Yates WDG, Lester SJ, Mills JHL. Chemoreceptor Tumors Diagnosed at the Western
College of Veterinary Medicine 1967-1979. Can Vet J. 1980;21:124-129.
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