Consumismo Caroline Calvett Daniela Castagna Marina Maciel Melanie Pedrón “Eu me utilizo de todos os meios da Sociedade de consumo, penetro no Sistema, mas como um veneno.” (Raul Seixas) RESUMO: O sistema capitalista atual está assentado sobre uma única base: o consumo. Este, por sua vez, é consequência do processo de afirmação do modelo capitalista que vai do fim do feudalismo, passa pela revolução industrial e consagrase na segunda metade do século XX. Uma das mudanças mais visíveis é a transição da produção artesanal para a produção industrial e assalariada. Este novo modelo criou um ciclo: produção-consumo, ou seja, ganhar para poder consumir. O consumismo é movido pela necessidade das pessoas de possuírem qualquer espécie de produto à venda. Este fato não ocorre por uma necessidade natural, mas é despertada por estímulos externos da publicidade e do marketing. Estes estímulos abordam o consumidor em potencial através das novelas, das propagandas e do papel desempenhado pelas celebridades no âmbito do consumo. Palavras-chaves: Capitalismo. Consumismo. Globalização. ABSTRACT: The current capitalist system is seated on a single base: the consumption. This is consequence of the process of statement of the capitalist model which is from the end of the feudalism to the industrial revolution and is consecrated in the second half of the century XX. One of the most visible changes is the transition of the craft production for the industrial and salaried production. This new model created a cycle: production-consumption, in other words, to earn for consuming. The consumerism is moved by the people's need of possessing any kind of sale product. This fact doesn´t happen by a natural need, but it is wakened up by external incentives of the publicity and of the marketing. These incentives approach the consumer in potential through the soap operas, of the advertisement and of the paper carried out by the celebrities in the extent of the consumption the concept of what is basic need intending increased consumption that can become even sickly. Keywords: Capitalism. Consumerism. Globalization. Volume 3, Setembro de 2012. 1 1 INTRODUÇÃO O capitalismo passou a prevalecer no mundo ocidental a partir do século XVI. Foi fruto de uma lenta transição do feudalismo para o capitalismo. Este novo sistema surgiu mais forte na parte ocidental da Europa e mais tênue na parte central e oriental. Ele foi evoluindo, aos poucos, até sua hegemonia no século XIX em sua fase industrial. Entendemos que o capitalismo é um sistema em que a produção maciça de mercadorias repousa sobre a exploração do trabalho assalariado, daquele que nada possui, realizada pelos possuidores dos meios de produção. Com o passar dos anos este sistema foi modificando suas estratégias e se redimensionando. Nesse contexto o consumo emerge como um elemento importante que move o sistema capitalista. O acesso a estes bens de consumo é condicionado por uma trama psicológica elaborada pela publicidade e pelo marketing. Estes buscam “hipnotizar” o público alvo mostrando o lado positivo de cada produto e as formas que o mesmo pode suprir suas necessidades. Enfim, refletiremos sobre o papel do consumo no capitalismo, as estratégias elaboradas para a sua manutenção e os efeitos que o consumismo causa na sociedade atual. 2 A SOCIEDADE INDUSTRIAL E SEU PAPEL NO CONSUMO Com a desintegração do feudalismo surge um novo sistema econômico, social e político: o capitalismo. A característica essencial do capitalismo é o fato de, nele o trabalho ser assalariado. A economia de mercado, as trocas monetárias e as grandes empresas, fazem parte desse sistema. Aos poucos o capitalismo foi se formando e dominando a Europa. Mas só se estabeleceu depois da Revolução Industrial, no século XVIII. Volume 3, Setembro de 2012. 2 Como tais elementos determinaram essa revolução? Quais transformações, profundas e radicais essa revolução causou na sociedade em geral? Independentemente dessas questões, o certo é que podemos dizer que diversos fatores contribuíram para que a Revolução Industrial acontecesse e dentre eles, podemos citar: o acúmulo contínuo de capitais, as transformações ocorridas no mercado consumidor e no modelo de fornecimento de matérias-primas; o novo mecanismo de exploração da mão de obra disponível; o aumento do mercado consumidor e a afirmação da burguesia. A revolução industrial, então, caracterizada pela evolução tecnológica e por uma verdadeira revolução social, determinou: a passagem da sociedade rural para a sociedade industrial, a mudança do trabalho artesanal para o trabalho assalariado, a utilização de energia a vapor em lugar da energia humana. Conjuntamente, a revolução desencadeou um processo de urbanização e captação de mão de obra, que força um esvaziamento do campo e o aprofundamento deste novo sistema de produção, chamado Capitalismo. No âmbito da Revolução Industrial, podemos destacar três períodos: o da implantação na Inglaterra, o da difusão pela Europa, América e Ásia e o da integração econômica mundial através do capitalismo global. Esta integração em caráter global foi condicionada pela revolução nos transportes, que aceleraram ainda mais o industrialismo. Depois do surgimento da locomotiva a vapor é possível perceber a multiplicação das estradas de ferro, o advento da navegação a vapor, a invenção do motor à combustão, o advento do avião etc. Os avanços verificados nos transportes terrestres, marítimos e, posteriormente, aéreos, provocaram uma redução nos custos dos fretes, vindo a baixar os preços dos produtos. Automaticamente, o consumo aumentou, estimulando a produção. A criação de um poderoso mercado consumidor fez com que a produção dependesse cada vez mais de ampliações do poder aquisitivo do povo, estimulando- Volume 3, Setembro de 2012. 3 se o aumento dos salários e o consumo de seus supérfluos. Forma-se a sociedade de consumo. Com a ampliação da variedade de produtos manufaturados, a moda passa a ter maior influência sobre as pessoas, fator que vira referência na acumulação de capital. Em tempos anteriores, adquiriam-se produtos a partir da escolha pessoal, já nesta nova fase, há alguém que dita o que deve ser usado e qual é o seu tempo de validade, independentemente da real durabilidade. As famílias participam cada vez mais neste novo sistema, que tempos depois, seria denominado capitalismo selvagem. O desejo de consumo passa a sobressair-se sobre a ideia de comprar, o estritamente necessário, para a manutenção da vida. No mundo globalizado esse fenômeno se reflete no padrão de consumo das famílias; hoje, em particular, das brasileiras. As aparentes facilidades de compras e as variadas opções de pagamento - cartão de crédito, talão de cheque, boleto bancário (com ou sem juros) e primeira parcela só após cem dias - destacam-se entre o conjunto de estímulos para o consumo. Nesta ciranda financeira, até as classes menos favorecidas tornaram-se consumidoras ativas. As facilidades de pagamento potencializam a vontade de comprar, se é possível parcelar, então, é muito mais fácil de adquirir. O consumismo gera transtornos pessoais e familiares. A compulsão pelo consumo é um fenômeno atual que sobrecarrega pessoas e famílias, com dívidas expressivas, obrigando-as a comporem uma nova organização financeira, seja pelo aumento de trabalho ou pelo aumento do número de trabalhadores na família. A compulsão pelo consumo torna a pessoa viciada em compras, a exemplo de um viciado em drogas, ou álcool, inclusive, dá a sensação de prazer: o prazer de comprar. Além desse tipo de consumo ainda existem dois outros, o racional e o impulsivo. No racional, as pessoas são objetivas em suas escolhas de consumo, investigam os diferentes preços e a qualidade dos produtos disponíveis. Já, o Volume 3, Setembro de 2012. 4 impulsivo, compra para ter um ganho emocional, por exemplo, para diminuir o stress e as tensões do dia-a-dia. 3 O PAPEL DO MARKETING NO CONSUMISMO O marketing induz o consumismo. Produtos como celulares, tênis, cosméticos, joias, roupas, acessórios, entre outros, passam a ser mais vendidos a partir da publicidade e do marketing. São mostrados o positivo, o bom e o belo de cada produto e como ele pode suprir as necessidades do público alvo. Muitas vezes, até aquele momento, a pessoa não sentia a falta de algum desses produtos ou serviços oferecidos pelo mercado, porém, o publicitário faz despertar uma repentina falta ou desejo de obtê-lo. O marketing atua de maneira discreta para que não seja percebida a clara influência que exerce sobre o público. Sua estratégia é adentrar ao pensamento dos consumidores, dificultando o discernimento entre os produtos essenciais para a sua sobrevivência e aqueles que são fúteis e desnecessários. O consumismo é atiçado pela maneira como os produtos são apresentados, auxiliado pela variedade de produtos e serviços. Por exemplo, quando alguém vai a uma simples loja de sapatos, depara-se com uma diversidade de modelos, cores e adereços, que vão além da simples funcionalidade do calçado. Esta gama de opções acaba confundindo o consumidor e, muitas vezes, leva-o a comprar mais do que o pretendido, pelo simples fato dele não conseguir escolher o que mais gosta. Outro fator, que influencia o consumismo, é a divulgação de produtos pelas celebridades. Esta estratégia nada complexa induz as pessoas normais a comprarem todo o tipo de mercadorias, além de ditar o que deve ser usado. Quando uma atriz ou um ator que gostamos usa uma bolsa bonita, já vamos logo procurando saber onde podemos adquirir um modelo igual ou parecido. Volume 3, Setembro de 2012. 5 Outro elemento, utilizado como apelo ao consumo, é o poder simbólico associado a determinada marca registrada. Ao adquirirmos um objeto, roupa ou qualquer outro produto, levamos mais em consideração, na maioria das vezes, a sua marca. Deixamos de lado a sua qualidade, durabilidade ou conforto. Há uma preocupação com o status social e financeiro, elementos que a marca do produto pode proporcionar. O papel do marketing é o de criar uma contínua necessidade de consumo. Tal fato pode ser, ainda comprovado, pelo uso publicitário das, chamadas, datas comemorativas: Dia das Mães, Páscoa, Dia dos Namorados, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Natal etc. Esta estratégia além de ser eficaz, é uma garantia anual de consumo. Uma estratégia muito utilizada pelo marketing de produtos são as mensagens visuais que as propagandas transmitem aos telespectadores. Como nas propagandas de Natal, que o Papai Noel procura saber se as crianças se comportaram bem para merecerem os presentes, ou nas do Dias das Mães, onde é muito salientado que nossas mães carregaram-nos por nove meses durante a gestação, acordaram inúmeras vezes de madrugada para amamentar ou trocar nossas fraldas, mostrando o esforço que fizeram desde que nascemos. Por isso, merecem ser recompensadas com “coisas”, no caso, um bom presente. Em síntese, a publicidade e o marketing são responsáveis pela padronização do consumo e, por conseguinte, pelo consumo desenfreado. 4 COMO A MÍDIA INFLUENCIA NO PADRÃO DE CONSUMO ATUAL? Vivemos num tempo onde a aparência externa é muito valorizada. Nesta ótica, existem alguns aspectos que parecem supervalorizar o cliente e o produto consumido: roupa, sapato, acessório dentre outros. Quem agrega valor a estas mercadorias é o marketing. Ele é o responsável pelo produto estar na “vitrine”. A Volume 3, Setembro de 2012. 6 mídia, neste ponto, é o mecanismo que legitima este valor agregado ao produto expondo-o a exaustão. O simples uso de um xampu, em uma novela, envolve milhares de reais investidos. O objetivo é “bombardear” o espectador com estímulos que o façam adquirir todo o produto veiculado, seja explorando o consciente ou o subconsciente. Mesmo que muitas vezes passe despercebido, são essas as situações que pesam na hora do consumidor comprar determinado produto. Na estratégia de marketing, é importante que o produto anunciado fale a mesma língua do público alvo. Na televisão, por exemplo, não é possível especificar a faixa etária. Para ser totalmente proveitoso, o produto deverá atingir todas as idades ou ambos os sexos, já que alcança 95% da população em suas transmissões. Em contrapartida, a rádio, torna-se interessante para empresas pequenas e locais. É um veículo barato para anunciar e, de acordo com o horário, pode atingir um público mais específico. Na imprensa escrita, jornais ou revistas, o tempo de vida do anúncio é maior. A propaganda em jornal é normalmente bem mais barata do que na revista. Em ambas, o argumento para o consumo é elaborado através da conjunção da imagem e da palavra escrita. Para finalizar, a publicidade ao ar livre precisa ter uma abordagem mais ampla, já que é vista por um público muito mais amplo. Sua mensagem precisa ser curta e objetiva, pois as pessoas tem um curto espaço de tempo para captá-la. Em síntese, assim como há propaganda explícita na mídia, também há a chamada mensagem subliminar. Por trás do que, aparentemente, parecem ser sons, mensagens, desenhos, existem um conjunto de indicadores e estímulos que direcionam o indivíduo a determinados padrões de comportamento, inclusive de consumo. Volume 3, Setembro de 2012. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, este trabalho foi baseado em estudos e pesquisas realizados, a partir de fatos, sobre o desenvolvimento do capitalismo e o surgimento da sociedade de consumo. Ele mostra a influência da sociedade industrial na instauração do que chamamos consumismo. Apresenta a Revolução Industrial, as transformações nos modelos de produção e de exploração do trabalho. O artigo também tratou das influências que o marketing exerce sobre a sociedade consumista, fazendo com que as pessoas sejam, de certa forma, “hipnotizadas” pelas propagandas positivas que são elaboradas para cada produto. Igualmente, estas abordagens aguçam a vontade do indivíduo em obter determinadas mercadorias, fato que, por vezes, beira a obsessão. A mídia exerce fortíssima influência sobre o padrão de consumo atual, pois, ela acaba estabelecendo um modelo de vida que se torna referência para as pessoas. Associado a isso, tem-se o acesso aos bens de consumo estimulado pela: facilidade de obtenção de crédito, flexibilidade do pagamento e uma gama de estratégias que agregam valor aos produtos disponíveis no mercado. Concluindo, esse trabalho foi realizado também para mostrar que o marketing é capaz de criar falsas necessidades de consumo com o objetivo de estimular a compulsão por mercadorias. Estas, na quase totalidade das vezes, mostram-se alheias a nossa real necessidade de sobrevivência. Enfim, é importante para o marketing convencer o público consumidor de que o ato de comprar é a porta de entrada para a felicidade e o bem estar. REFERÊNCIAS Brasil escola. Disponível em:< www.brasilescola.com>. Acesso em: 03 ago. 2012. FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995. Volume 3, Setembro de 2012. 8 A influência do marketing. Tudo sobre consumismo. p.60-67, Dez. 2007. Disponível em: <http://tudosobreoconsumismo.blogspot.com.br/2008/06/influncia-domarketing.html>. Acesso em: 31 jul. 2012. Marketing: sociedade de consumo. Disponível em: <: http://pt.shvoong.com/humanities/1798236-marketing-sociedade-consumo>. Acesso em: 15 jul. 2012. MESQUITA, Dilma. Shopping Center: a cultura sob controle. Rio de Janeiro: Editora Ágora da Ilha, 2002. SANTOS, Lucinéia Juriatti. Influência do marketing na sociedade consumista. Ágora revista eletrônica. Disponível em: <http://www.ceedo.com.br/agora/agora5/ainfluenciadomarketingnaatualsociedadeco nsumista_LucineiaJuriattidosSantos.pdf >. Acesso em: 05 ago. 2012. Volume 3, Setembro de 2012. 9