estudo sobre o desenvolvimento industrial na economia paranaense

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http://revista.famma.br/unifamma/
ISSN printed: 1677-8308
ESTUDO SOBRE O DESENVOLVIMENTO
INDUSTRIAL NA ECONOMIA PARANAENSE
Marcos Eduardo PINTINHA*
RESUMO
O artigo é o resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido e financiado
pela Faculdade Metropolitana de Maringá, que se propôs investigar as razões
do insucesso microempresarial no município de Maringá. Nele, tomou-se por
base um referencial epistemológico que contextualizou a história da economia
paranaense e as relações existentes entre a produção agrícola cafeeira e a
implantação da industrialização no estado do Paraná, afirmando a
interdependência e a sustentação do modelo econômico vinculado à
transformação de produtos agrícolas e ao desenvolvimento da industrialização,
garantindo assim a transformação social da economia paranaense.
PALAVRAS-CHAVE: Economia Paranaense. Desenvolvimento industrial.
História regional.
1 INTRODUÇÃO
A história da economia paranaense é o objeto deste artigo. Nele
analisam-se as origens da industrialização, o surgimento das pequenas e
microempresas no Estado do Paraná, com o propósito de apresentar as
relações existentes entre a economia agrícola cafeeira e a industrialização. O
Paraná tem sido estudado pelos “ciclos econômicos”, principalmente o do café,
período do ouro verde entre 1945 até 1970, grande fonte de riqueza do Estado.
A produção cafeeira, a partir de 1930, tornou a economia paranaense
importante no cenário nacional. E, no final de 1960, teve início, no estado do
Paraná, um intenso processo de modernização nas bases técnicas da
*Graduado em História, Mestre em Fundamentos da Educação pela Universidade Estadual de
Maringá – UEM, professor da Faculdade Metropolitana de Maringá e da Faculdade Ingá –
Maringá/PR.
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produção agrícola, intensificado pela crescente incorporação de novas
máquinas e insumos industriais, que determinou um ritmo crescente no
desenvolvimento das atividades industriais para atender a demanda da
produção agrícola.
O processo de industrialização, desde o início do século, continuava
vinculado à agricultura, beneficiando os produtos oriundos desta atividade, não
significando que a cafeicultura foi a responsável direta pela implantação da
industrialização paranaense. Contudo, o texto aponta a descontinuidade dos
ciclos econômicos no Paraná e como ocorreu o aproveitamento das condições
infraestruturais no favorecimento da transformação e modernização do setor
industrial paranaense,
representando uma grande mudança
na
base
econômica do Estado do Paraná, o rápido crescimento e a diversificação do
setor industrial e a crescente interdependência entre este e o setor agrícola.
2 CAFEICULTURA E INDUSTRIALIZAÇÃO
Retomar e discutir sobre as origens e o desenvolvimento das pequenas
empresas brasileiras é revelar os atores sociais responsáveis pelo processo de
formação cultural e econômica do nosso país e, mais proximamente, do nosso
estado. Todos os que aportavam no Brasil estavam inseridos na dinâmica
mercantilista entre a metrópole portuguesa e a colônia. Em meio a essas
relações, o que caracterizou os primeiros moradores foi à constante conciliação
de duas ou mais atividades: eles eram mercadores e senhores de engenho ou
mercadores, lavradores e senhores de engenho (GUIMARÃES, 2007).
O Brasil nasce como polo exportador de riquezas para todo o continente
europeu, a exploração agrícola, combinada de forma eficiente, gerava o lucro,
centrando-se no binômio propriedade privada e trabalho. Os colonos eram
considerados empreendedores e raramente como trabalhadores, assim, “o
sentido último das ações dos donos das novas terras era o comércio, pois, com
sua realização, obtinha-se o lucro” (LACERDA et al., 2010, p. 7).
Esta nova nação brasileira era considerada um território de exploração.
Segundo a lógica do monopólio colonial, todas as atividades desenvolvidas na
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colônia deveriam atender aos interesses da Metrópole, tendo um caráter
estritamente acessório e secundário apenas no conjunto da economia.
A partir de 1760, na Inglaterra, iniciou-se a Revolução Industrial com a
instalação do sistema fabril e a implantação de um novo modelo de
subsistência da sociedade.
Já a Colônia Brasil, na medida em que sua população crescia e
começava a diversificar suas ocupações, seria alvo de uma
severa política de restrições econômicas por parte da
Metrópole, dentre as quais destacou-se o Alvará de 1785,
mandando fechar as manufaturas – poucas – aqui existentes,
tais como as de fabricação de tecidos e as de construção naval
(MENDONÇA, 2001, p. 9).
Em contrapartida, limitar a industrialização na colônia beneficiava a
entrada dos produtos ingleses no mercado comercial. Esta situação só mudou
com a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808, quando o
príncipe regente D. João revogou as proibições no tocante à industrialização na
colônia através do Alvará de 1º de abril de 1808. No entanto, o cenário ainda
era desfavorável à industrialização no Brasil, porém, algumas manufaturas,
com técnicas de produção pouco mecanizadas, já conseguiram florescer.
Foi o caso da primeira tecelagem no Rio de Janeiro, criada em
1919; de uma outra, em Minas Gerais, no ano de 1824; além
da “primeira fábrica regular de fiação e tecidos de algodão
fundada em Pernambuco logo depois da Independência”, como
assinalou um relatório apresentado pela Comissão de Inquérito
Industrial em 1882 (MENDONÇA, 2001, p. 12).
Para Mendonça (2001), o impulso definitivo para o desenvolvimento
industrial veio da agricultura, da atividade exportadora do café, que propiciou o
investimento nas áreas dos transportes, iluminação e serviços portuários. Em
1850, o Brasil possuía cinquenta estabelecimentos comerciais, entre 1860 e
1880 novas manufaturas foram implantadas desenhando um novo perfil
econômico. “Em função da nova „onda verde‟, uma ampla infraestrutura de
serviços, transportes, casas comerciais e bancárias fez-se presente para
sustentar seu crescimento” (MENDONÇA, 2001, p. 16).
A indústria brasileira crescia subordinada ao capital cafeeiro, período em
que a infraestrutura urbana fora desenvolvida para a produção e exportação do
café, bem como o surgimento da mão de obra e a vinda dos imigrantes
115
estrangeiros. Posteriormente, desenvolveu-se o fluxo de migrantes para as
cidades, como futuros trabalhadores das fábricas e os consumidores dos
produtos industrializados. Os primeiros operários brasileiros surgiram ainda em
plena sociedade escravista. “Muitas de nossas primeiras empresas industriais
caracterizavam-se pelo trabalho conjunto de operários livres e escravos”
(MENDONÇA, 2001, p. 20).
[...] a primeira fábrica que se instalou em São Paulo foi a usina
siderúrgica em Ipanema, fundada em 1810 com um subsídio
real. Em 1811 se construiu a primeira fiação de algodão, na
capital, que empregava energia hidráulica e braço escravo. Em
1836, a primeira usina a utilizar o vapor como força motriz, uma
refinaria de açúcar, iniciou suas operações em Santos. O
relatório oficial do presidente da província em 1852 menciona
apenas cinco fábricas: uma fiação de algodão em Sorocaba,
uma usina de potassa em Bananal, uma fundição, uma fábrica
de vidros (em declínio), e uma fabrica de velas (DEAN, 1971, p.
19).
O período colonial foi cenário de várias revoltas populares, propiciando o
ambiente para o nascimento da República e da indústria brasileira. O início da
República foi marcado pelas crises econômicas, o desemprego, a inflação e
superprodução do café, luta que movimentou os fazendeiros paulistas de café,
a elite econômica brasileira, mas nos livros de história “a proclamação da
república pegou a quase todos de surpresa” (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2001,
p. 265).
Entretanto, a industrialização é um dos assuntos mais polêmicos da
história do Brasil. Na década de 1880, quando começaram a implantar as
primeiras indústrias, na Europa comemorava-se o centenário do sistema fabril
e o desenvolvimento técnico da sociedade. Ao contrário do modelo europeu, a
indústria brasileira “não resultou de um lento e progressivo desenvolvimento do
artesanato e da pequena manufatura, mas sim nasceu „grande‟, na forma de
fábricas modernas” (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2001, p. 296).
No início do século XIX, os estabelecimentos comerciais brasileiros eram
de pequeno porte e tiveram vida efêmera. Somente a partir de 1870 é que
aumentaram em número e importância. Trata-se de um período de mudança
que ficou conhecido como “nosso primeiro surto industrial”, ocorrido entre os
anos de 1885-1895.
116
A partir de 1885 apareceram indústrias em número cada vez
maior. [...] entre 1880 e 1884, foram aqui fundados 150
estabelecimentos industriais; de 1885 a 1889 esse número
sobe para 248, totalizando, no ano da proclamação da
República, 636 estabelecimentos no país todo. Eram aí 54.169
trabalhadores. Nos cinco anos seguintes foram ainda criados
425 estabelecimentos (FOOT; LEONARDI, 1982, p. 44-45).
Destaca Fausto (2006) que o crescimento industrial deve ser visto em
uma perspectiva geográfica, pois em cada região existia uma realidade muito
diferenciada. Em meados do século XIX, poucas fábricas surgiram no Brasil, na
Bahia, foi organizado o primeiro núcleo de atividades voltadas à produção de
tecidos de algodão de baixa qualidade, destinados ao consumo da população
pobre e aos escravos, “[...] reunindo cinco das nove fábricas existentes no país
em 1866” (FAUSTO, 2006, p. 286).
Em São Paulo, o crescimento industrial originou-se devido a dois fatores
interligados: o setor cafeeiro e os imigrantes, que vieram para o Brasil “fazer a
América”. Esses imigrantes se fizeram presentes nas indústrias como operários
e, ao mesmo tempo muitos deles terminaram como donos de empresas. Assim,
muitos membros da burguesia do café tornaram-se investidores.
Os negócios do café lançaram as bases para o primeiro surto
da indústria por várias razões: em primeiro lugar, ao promover
a imigração e os empregos urbanos vinculados ao complexo
cafeeiro, criaram um mercado para produtos manufaturados;
em segundo, ao promover o investimento em estradas de ferro,
ampliaram e integraram esse mercado; em terceiro, ao
desenvolver o comércio de exportação e importação,
contribuíram para a criação de um sistema de distribuição de
produtos manufaturados. Por último, lembremos que as
máquinas industriais eram importadas e a exportação do café
fornecia os recursos em moeda estrangeira para pagá-las
(FAUSTO, 2006, p. 287).
Na transição do século XIX para o século XX, o Brasil passou por
profundas transformações sociais e políticas, em 1888, aconteceu a abolição
da escravatura e a proclamação da República em 1889. Para Herschmann e
Pereira (1994), foi entre 1889 e 1930, período conhecido como a República
Velha, dominado pelas oligarquias regionais e pela fraqueza do poder central,
que teve início o modelo de um Brasil moderno.
117
Ao
longo
do
período
1870-1937,
assistimos
ao
desenvolvimento de várias estratégias de construção de um
novo ordenamento político-cultural nacional, de uma República
capaz de romper com o esquema das oligarquias regionais,
consagrando assim, definitivamente, a emergência de uma
sociedade urbano-industrial. A partir da promulgação da
Constituição republicana de 1891, evidenciam-se ondas de
institucionalização que visavam à implantação de um universo
cognitivo modernizante que, em última instância, libertaria o
Brasil de seus resquícios rurais-coloniais (HERSCHMANN;
PEREIRA, 1994, p.12).
Com a importação de tecnologia, iniciou-se uma nova fase da
industrialização brasileira, custeada pelo setor agrário tradicional. Os primeiros
empresários, “os fazendeiros industriais”, que viam nesse investimento uma
forma de complementar as atividades agrícolas estavam interessados em
diversificar os investimentos e ampliar as fontes de renda familiares. “[...] não
era raro fazendeiros de algodão inaugurar fábricas de fiação e tecelagem,
pecuaristas fundarem fabriquetas de couro e cafeicultores voltarem-se para a
produção de vagões e máquinas que beneficiavam o café” (DEL PRIORE;
VENÂNCIO, 2001, p. 298).
Por volta de 1945, finaliza o primeiro grande ciclo da industrialização, a
produção fabril ultrapassa a agrícola como a principal atividade da economia.
Surge então, à indústria de base, dedicada à produção de máquinas e
ferramentas pesadas (siderurgia, metalurgia e indústria química). Para Lacerda
(2010), a história econômica do Brasil pode ser dividida em duas grandes
etapas: o período mercantil, até 1930, e o período industrial, de 1930 em
diante.
O período mercantil foi caracterizado como primário-exportador, quando
começou a acumulação primitiva de capital na economia brasileira, com a
formação de uma burguesia cafeeira. Assim, o primeiro surto industrial
brasileiro aconteceu como fruto da expansão cafeeira, e, no final do século XIX,
com a crise de 1930, o processo de industrialização se acelera devido à
necessidade de substituição das importações.
O
governo
brasileiro,
em
1844,
estabeleceu
uma
nova
tarifa
alfandegária, bem mais alta, caracterizando o efeito protecionista, e em 1846, o
governo baixou vários decretos concedendo subsídios à produção local de
118
artigos têxteis que estimularam alguns brasileiros ricos a criar empresas
industriais. Eram pequenas fábricas, com poucas máquinas e muito caras,
[...] Contudo, a maior parte das empresas criadas depois da
reforma de tarifas de 1844 não conseguiu sobreviver, devido à
falta de mão-de-obra qualificada, à concorrência por parte de
esferas mais lucrativas de aplicação do capital e,
especialmente, ao enfraquecimento do protecionismo
alfandegário a partir de 1857. Em particular, em 1858 foram
fechadas muitas fábricas têxteis da capital, mesmo as que
recebiam ajuda do governo (LACERDA et al., 2010, p. 50).
A formação dos primeiros focos de produção industrial começou no
Brasil só no último quartel do século XIX, especialmente a partir de 1885. No
primeiro governo republicano, do Marechal Floriano Peixoto (1891-1894), foram
tomadas medidas mais enérgicas em defesa da indústria. O então Ministro da
Fazenda, Ruy Barbosa, estabeleceu impostos protecionistas para os produtos
manufaturados nacionais, tendo diminuído consideravelmente as taxas
cobradas sobre a importação de equipamentos e de matérias-primas.
[...] Nessa mesma época, foi promulgada a lei da proteção à
indústria, que estabeleceu privilégios adicionais. Essas
decisões foram anuladas depois da tomada do poder pelo
governo de Prudente de Morais (1894-1898), o primeiro
presidente a representar, na época da República Velha (18891930), os interesses da oligarquia do café de São Paulo. A
política do Estado foi especialmente pró-oligárquica e
antiindustrial na época dos presidentes Campos Salles (18981902) e Rodrigues Alves (1902-1906). Em particular, a tarifa
alfandegária de 1900, que continuou em vigor até 1934, levava
em consideração, sobretudo, os interesses dos ramos da
agricultura que se orientavam para a exportação e dos grupos
sociais ligados a esses ramos (LACERDA et al., 2010, p. 52).
No recenseamento de 1920, ficou registrado que 55% da capacidade
instalada da indústria surgiram durante o período de 1905-1919 e,
aproximadamente, um quarto dela em 1884-1894. Apenas 9,6% foram criadas
até 1884. Os principais ramos industriais da época foram o têxtil, em primeiro
lugar, e a seguir a alimentação, incluindo bebidas e o vestuário.
119
Em 1884, havia no Brasil apenas 200 empresas industriais. Em
1889, o número aumentou para 600 (60% das quais eram
têxteis). Mais de 450 empresas industriais foram fundadas em
1890-1895. Em 1907, o número de empresas registradas como
industriais chegou a 3,2 mil, e em 1920, a 13,3 mil. Aumentava
paralelamente o número de operários ocupados na indústria.
Em 1890, havia no país entre 50 e 60 mil; cerca de 152 mil em
1907 e 297 mil em 1920. Cumpre assinalar que esses dados,
retirados dos recenseamentos oficiais, indicam números um
tanto exagerados de operários industriais (LACERDA et al.,
2010, p. 52).
Os resultados analisados demonstram que a principal preocupação do
Estado brasileiro não estava voltada para a indústria, mas para os interesses
agroexportadores. Não sendo considerado como adversário da indústria,
entretanto, o Estado “[...] esteve longe de promover uma política de
desenvolvimento industrial” (BORIS, 2006, p. 289).
3 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO ESTADO DO PARANÁ
A primeira História do Paraná, obra escrita por Romário Martins, foi
publicada em 1899, em 14 capítulos. Após muitas revisões, ela foi
incorporando informes, relataram as novas pesquisas e revisões até a edição
de 1937. Martins apresenta as origens das atividades econômicas no Paraná,
afirmando que a região oferecia condições favoráveis à criação de animais que,
na época, eram denominados domésticos:
O comércio e a criação de gado tiveram, pois uma influência
decisiva no povoamento do território paranaense, muito maior
certamente que a mineração do ouro, que não fixava
populações senão muito excepcionalmente como são os casos
de Paranaguá no litoral e Curitiba e São José dos Pinhais no
planalto (MARTINS, 1995, p. 270).
Os ciclos de povoamento do Paraná acompanharam o desenvolvimento
social e econômico da mineração, a criação e o comércio de gado e da lavoura.
Porém, a criação e o transporte do gado contribuíram significativamente para a
construção de locais de pouso, currais, formação de roças e fazendas. Este
ciclo da criação pastoril propiciou o início da “[...] vida doméstica, a atividade
120
prática, o estabelecimento da ordem nos nossos turbulentos e instáveis
„arraiais‟ de mineradores” (MARTINS, 1995, p. 274).
Graças à influência das correntes imigratórias, o Paraná cresceu como
um dos estados de melhor padrão do país. Pierre Denis, viajando pelo sul do
Brasil, observava que no sul:
[...] a única parte da população verdadeiramente urbana é
constituída por estrangeiros, comerciantes de todos os gêneros
que se encontram no Rio, em São Paulo e em algumas outras
grandes cidades. A maior parte dos negócios está nas suas
mãos. Sucede isto exatamente porque o Brasil, como país
colonial, não teve uma população urbana indígena senão
depois do seu desenvolvimento, que foi quando o número de
comerciantes estrangeiros se elevou rapidamente (MARTINS,
1955, p. 77).
O desempenho da economia paranaense nas últimas décadas supera o
crescimento das outras regiões do Brasil, a partir da colonização do Norte do
Estado surge um caráter moderno, dinâmico e diversificado. No setor agrícola
“o Paraná salta de um marasmo secular para tornar-se um dos estados mais
dinâmicos da Federação” (IPARDES, 2006, p. 19). Como escreveu Martins
(1995, p. 351),
São numerosas as fábricas e oficinas paranaenses, algumas
das mais importantes do país, quase todas de propriedade e
direção de nacionais de origens alemã e italiana. O comércio
importador, tradicionalmente de portugueses e seus
descendentes, passou aos alemães e destes aos teutobrasileiros. O comércio de fazendas e armarinhos está
vastamente dominado pelos sírios e o de comestíveis pelos
poloneses.
Segundo o ponto de vista histórico, desde o período da Independência
do Brasil, o processo de desenvolvimento do capital comercial nacional
acelerou e, progressivamente, foi dirigido à produção do café. Assim, de acordo
com os dados do IPARDES (2006, p. 21),
Assim, avançam a divisão social do trabalho, a mercantilização
da economia nacional e a acumulação dos capitais produtivo e
comercial ligado ao café, conformando um processo que
imprime alterações profundas nas estruturas econômicas e
121
sociais herdadas da colônia. Esse processo culminará em fins
do século XIX com a libertação dos escravos e a progressiva
introdução do trabalho assalariado, partindo de São Paulo.
Nos estudos do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e
social – IPARDES, fica claro que a economia do café não pode ser definida
apenas pelo caráter primário exportador. Por ser capitalista, dinâmica e
modernizante, ela visava lucros que eram reinvestidos e imprimiam uma
tendência expansiva para novas áreas: bancos, indústrias, construção civil,
serviços, transportes entre outros. A economia cafeeira incorporou os
progressos técnicos, que garantiram a redução de custos e contribuíram para a
diversificação da economia e da sociedade paranaense.
A agricultura do Norte do Paraná sempre foi mercantil e parte integrante
do núcleo capitalista da economia nacional. As ligações ferroviárias ou
rodoviárias com os centros consumidores e exportadores descreviam a
extrema rapidez da colonização, marcada pela utilização das pequenas
propriedades e a relativa organização vinculada estreitamente ao mercado,
permitindo ao Paraná, em todo o estado, “acolher entre 1940 e 1965, cerca de
2.744.000 migrantes” (IPARDES, 2006, p. 23). Os registros do IPARDES
(2006, p. 25) bem demonstram o que ora se afirma. Vejamos:
Em virtude de ser mercantil e por visar lucros, essa agricultura
é extremamente sensível aos preços de mercado e às
condições de financiamento. E é por aí que se explica seu
caráter diversificado – reage aos estímulos do financiamento
ou dos preços, dedicando-se às culturas mais rentáveis. A
região Norte do Paraná, por exemplo, respondeu rapidamente
aos estímulos de erradicação do café introduzindo novas
culturas, e o produto foi perdendo sua importância relativa.
A modernização da agricultura paranaense chegou ao auge durante os
anos 70, apresentando uma tendência de concentração da propriedade, de
racionalização da produção e organização em cooperativas para defesa da
agricultura em suas relações com o comércio e a indústria, o que “pode ser
confirmado, por exemplo, pelo fato de que entre 1971 e 1978 foram vendidos
no Estado 63.024 tratores” (IPARDES, 2006, p. 26).
Em contrapartida, a indústria não alcançou o mesmo dinamismo da
agricultura. Nos anos 60, este setor era bastante rudimentar. Economicamente
falando, existiam dois “Paranás”: o do norte cafeeiro e o resto do Estado. O
122
Norte, articulado à economia paulista, não vai apresentar condições para um
vigoroso crescimento industrial,
[...] em primeiro lugar, pelas facilidades de transporte, teria que
enfrentar a concorrência da indústria paulista. Em segundo
lugar, todo sistema bancário e comercial atrelado ao café
paranaense tinha sua sede em São Paulo e seus possíveis
excedentes financeiros, que pudessem ser investidos na
indústria, o seriam em São Paulo; isto porque a região não
apresentava a infra-estrutura adequada à indústria (carência de
energia elétrica etc.). Por outro lado, a economia de pequenos
produtores apresentava poupanças atomizadas, as quais muito
provavelmente dirigiam-se para a construção civil, ou outras
atividades urbanas não-industriais (IPARDES, 2006, p. 28).
A industrialização do estado de São Paulo fez com que todas as regiões
econômicas do país ficassem atreladas e passassem a contribuir com o centro
dinâmico da economia brasileira, reduzindo assim a autonomia econômica do
Paraná e gerando dependência. Entretanto, existia um projeto paranaense de
desenvolvimento que começou a ganhar força, a partir de 1960, impulsionado
por uma nova apreensão das funções do Estado e criação de numerosas
sociedades de economia mista que iriam fazer parte da estrutura administrativa
estadual. Foram criadas:
[...] Companhia Agropecuária de Fomento Econômico do
Paraná – CAFÉ do Paraná – em agosto de 1961, paralela à
Secretaria de Agricultura; Fundação Educacional do Paraná –
FUNDEPAR – em julho de 1962, paralela à Secretaria de
Educação; Companhia de Saneamento do Paraná – SANEPAR
– em janeiro de 1963, paralela ao Departamento de Águas e
Esgotos; Companhia de Telecomunicações do Paraná –
TELEPAR – em março de 1963; Centro Eletrônico de
Processamento de Dados – CELEPAR – em outubro de 1964
(MAGALHÃES FILHO, 2006, p. 171).
Durante este período, não havia um sistema de financiamento de
investimentos industriais ou qualquer política de incentivo do Governo, assim, a
indústria vai estar ligada à produção primária do beneficiamento do café e a
indústria de madeira.
Para Padis (2006), a cafeicultura paranaense, ao mesmo tempo em que
foi a maior responsável pela rápida transformação econômica registrada no
Estado, em razão da forma como se desenvolveu e se estruturou, criou
123
barreiras e limitações ao aparecimento de outras atividades econômicas,
especialmente industriais. A cafeicultura não representou uma monocultura, na
mesma região onde se cultivava o café, intercalado ou não, também se
produzia o milho, o feijão e o arroz, já existia no Paraná uma diversificação
agrícola. Com a decadência da cafeicultura, ocorreu a ascensão das culturas
de soja e trigo, num sistema de rodízio, ocupando o lugar dos principais
produtos agrícolas do Estado.
Os
primeiros
passos
do
Estado
do
Paraná
no
caminho
da
industrialização foi tentando imitar o processo de industrialização nacional, que
buscava substituir as importações, processo que havia se esgotado no início da
década de 1960. Nesse sentido, em sua obra Formação de uma economia
periférica, Padis explica:
[...] no caso paranaense, o fenômeno foi ainda mais acentuado,
pois a maior parte das indústrias instaladas era do ramo
alimentício, cujo mercado, como se viu, já há cerca de quinze
anos era suficientemente atendido pela produção nacional. Não
é preciso buscar outra explicação para se compreender a razão
pela qual várias das indústrias de óleos vegetais e frigoríficas
encerraram as atividades pouco depois de iniciá-las. Em apoio
do que se afirma, observa-se que diferentes foram os
comportamentos das indústrias de café solúvel e de papel,
instaladas no Estado que, malgrado algumas dificuldades
criadas por importadores estrangeiros (no caso solúvel)
conseguiram, não só manter-se, como prosperar (PADIS, 2006,
p. 266).
O discurso pela “modernização” do Paraná foi assumido pelos
governadores Ney Aminthas de Barros Braga (1961-65) e Paulo Cruz Pimentel
(1966-71). Ambos construíram a imagem de homens públicos comprometidos
com o progresso, desligando-se das administrações anteriores, incorporando o
tema da industrialização e criando vários órgãos públicos.
Em março de 1962, foi criada a Companhia de Desenvolvimento do
Paraná (CODEPAR), transformada depois em Banco de Desenvolvimento
(BADEP), responsável por implantar a política de industrialização no Paraná.
Apesar das falas relativas à industrialização, continuava inexistindo uma
Secretaria de Estado específica ao setor, que somente foi criada em 1967,
tendo sido denominada Secretaria de Indústria e Comércio.
124
É, pois, no período compreendido entre 1960 e 1970, que surge a nova
indústria do Paraná, competitiva e atuante em todo território nacional, “[...]
empresas de grande porte voltadas para o mercado nacional e internacional,
com tecnologia moderna e escalas de produção de grandes dimensões”
(IPARDES, 2006, p. 32).
A modernização da agricultura acaba por desenvolver a principal
vertente da industrialização paranaense, voltada para o mercado de fabricação,
comércio de máquinas e equipamentos agrícolas, de fertilizantes e diversos
insumos para o setor da agricultura. Isto provocou a substituição da mão de
obra por máquinas e equipamentos, ocasionando uma violenta queda na taxa
de crescimento da população paranaense, um processo de emigração do
Paraná para outros estados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho trata das origens da economia paranaense, da integração dos
elementos sociais e econômicos do campo e da cidade, da atividade agrícola e
da atividade industrial nascente em algumas regiões do Estado do Paraná.
Nesse sentido, reúne elementos que contribuem para revelar os primórdios das
atividades comerciais e industriais, como também as origens dos primeiros
empreendedores imigrantes no Estado do Paraná.
Dos estudos efetuados até o momento, depreende-se que as
transformações da indústria e a modernização da agricultura provocaram as
grandes transformações pelas quais passam o Paraná. A cultura do café foi
responsável por gerar os recursos direcionados para o início da atividade
industrial e, contraditoriamente, também pela demora nos investimentos e
planejamento de uma política de industrialização e desenvolvimento.
Diferente do que aconteceu nos principais centros econômicos no país,
o Paraná permaneceu mais tempo na atividade agrícola cafeeira, retardando os
investimentos no setor de industrialização. Contudo, na medida em que a
industrialização vai avançando, a agricultura vai estabelecendo relações cada
vez mais estreitas com a indústria, processo que se acelerou rapidamente em
1970, impulsionado pelo funcionamento dos setores agroindustriais.
125
STUDY ABOUT THE INDUSTRIAL DEVELOPMENT IN PARANA
ECONOMY
ABSTRACT
The article is the result of a research project developed and maintained by
Faculdade Metropolitana de Maringá, which aim was to investigate the reasons
of failure for microenterprise in the city of Maringá. In this text, we based on
epistemological referential that contextualized the history of Paraná economy
and the relationships between agricultural production of coffee and the
establishment of coffee industrialization in the State of Paraná, stating the
interdependence and support economic model linked to the processing of
agricultural products and the development of industrialization, guaranteeing the
social transformation of the Paraná economy.
KEYWORDS: Paraná Economy. Industrial development. Regional history.
REFERÊNCIAS
DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo: 1880-1945. 3. ed., São
Paulo: DIFEL, 1971.
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