Quantificar substâncias e actividades enzímicas. Diluição de

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Quantificar_substancias_e_actividades_enzimicas – Rui Fontes
Quantificar substâncias e actividades enzímicas.
Diluição de soluções e problemas.
1.
Introdução................................................................................................................................................................ 1
2.
Grandezas extensivas mais usadas em Bioquímica .............................................................................................. 2
3.
A concentração é uma grandeza intensiva: unidades de concentração .............................................................. 3
4.
A actividade enzímica específica ............................................................................................................................ 4
5.
Breves notas sobre doseamento de substâncias em Bioquímica.......................................................................... 5
6.
Quantificação de actividades enzímicas ................................................................................................................ 6
7.
A actividade enzímica molar .................................................................................................................................. 7
8.
Anexo 1- Determinação de concentrações usando o espectrofotómetro............................................................. 8
9.
Anexo 2- Massa atómica relativa de átomos com grande relevância em Bioquímica ..................................... 10
10. Exemplos de problemas propostos....................................................................................................................... 10
1.1.
Problema 1 .................................................................................................................................................... 10
1.2.
Problema 2 .................................................................................................................................................... 10
1.3.
Problema 3 .................................................................................................................................................... 10
1.4.
Problema 4 .................................................................................................................................................... 10
1.5.
Problema 5 .................................................................................................................................................... 11
1.6.
Problema 6 .................................................................................................................................................... 11
1.7.
Problema 7 .................................................................................................................................................... 11
1.8.
Problema 8 .................................................................................................................................................... 11
1.9.
Problema 9 .................................................................................................................................................... 11
1.10.
Problema 10 .................................................................................................................................................. 11
1.11.
Problema 11 .................................................................................................................................................. 11
1.12.
Problema 12 .................................................................................................................................................. 12
1.13.
Problema 13 .................................................................................................................................................. 12
1.14.
Problema 14 .................................................................................................................................................. 12
1.15.
Problema 15 .................................................................................................................................................. 13
1.16.
Problema 16 .................................................................................................................................................. 13
1.17.
Problema 17 .................................................................................................................................................. 14
1.18.
Problema 18 .................................................................................................................................................. 14
11.
Propostas de resolução dos problemas propostos............................................................................................... 14
1. Introdução
Este documento visa servir de guião duma aula prática a leccionar no ano de 2010, na unidade
curricular de Bioquímica I do Mestrado Integrado em Medicina da FMUP1.
Na primeira parte (Capítulos 2-7) são relembrados e sistematizados alguns conceitos teóricos sobre
algumas grandezas com particular relevância em Bioquímica, que se presumem terem já sido, pelo menos em
parte, apreendidos pelos estudantes na sua formação pré-universitária. No Capítulo 10 são apresentados
exemplos de problemas relacionados com o tema e, no Capítulo 11, propostas de resolução e, sempre que se
1
No ano de 2010 está programada para a semana que se inicia no dia 1 de Novembro.
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considerou útil, uma breve explicação. Os Anexos (Capítulos 8 e 9) são textos de consulta que,
eventualmente, poderão ajudar a compreender melhor alguns aspectos referidos no restante texto ou
apresentar tabelas com dados a usar na resolução dos problemas.
2. Grandezas extensivas mais usadas em Bioquímica
Para quantificar substâncias podemos usar unidades diferentes que medem grandezas também
diferentes embora relacionadas. Podemos falar de massa e usar unidades como o grama e os seus múltiplos e
submúltiplos (kg, mg, g, ng e pg, por exemplo)2 mas também falar de quantidade de substância e usar o
mole (mol) e os seus submúltiplos (mmol, mol e nmol, por exemplo). No caso de substâncias puras, 1 mole
é a quantidade de substância que contém um número de partículas (átomos, moléculas, iões, etc.) igual ao
que existe de átomos de carbono em 12 g de carbono 12 (12C); ou seja, um número de Avogadro de
partículas (6,022  1023). A massa molar de uma substância pode ser calculada conhecendo a sua fórmula
molecular e a massa atómica dos elementos que a compõem e exprime-se em g/mol. A massa molecular da
glicose (C6H12O6) pode, por exemplo, ser calculada (6  12 g + 12  1 g + 6  16 g) e é de 180 g/mol; ou
seja, a massa de um mole de glicose é 180 g. Se pensarmos numa quantidade 1 milhão de vezes inferior será
adequado usar um submúltiplo, neste caso o mol: 1 “micromole” = 10-6 moles = 180 g no caso da glicose.
Quando se trata de líquidos ou de gases (considerando uma dada pressão) podemos usar unidades de volume:
L (= dm3) ou os seus submúltiplos (mL, L, nL, etc.).
Em medicina, nomeadamente em Química Clínica, quando estão em causa iões, também é comum
usar-se o Equivalente (Eq.) ou o seu submúltiplo o miliEquivalente (mEq. = 10-3 Eq.). Embora não seja
expressamente referido a noção de Equivalente refere-se, na esmagadora maioria das vezes, a equivalentes
de carga eléctrica. Por exemplo, em 1 mol de iões Cl- ou de Na+ (iões com carga -1 e +1) há 1 mol de cargas
negativas ou positivas, mas em 1 mole de iões Ca2+ (ião com carga +2) há 2 moles de cargas positivas.
Assim, 1 mol de Cl- = 1 Eq de iões cloreto, 1 mol de Na+ = 1 Eq. de iões Na+, mas 1 mol de Ca2+ = 2 Eq. de
iões Ca2+. Do exposto é obvio concluir que, por exemplo, 1 Eq. de iões sulfato (SO42-) = 0,5 mol de sulfato.
Embora o conceito de equivalente sem outro qualificativo se restrinja, na maioria das situações, ao
caso dos iões poderá, eventualmente, ser útil estendê-lo ao caso dos dímeros e polímeros. Se admitirmos
hidrólise completa da maltose (dímero com dois resíduos de glicose ligados por uma ligação glicosídica 1,4; C12H22O11) no tubo digestivo então 1 mol de maltose equivale a 2 mol de glicose. Porque a massa molar
da maltose é 342 g/mol (= 180  2 – 18) isto significa que 342 g de maltose equivalem a 360 g de glicose (=
180  2).
Quando se tratam problemas de osmolaridade uma unidade usada com frequência é o osmol. Se se
dissolverem 58,5 g de NaCl (massa molar = 58,5 g/mol) num copo com água a quantidade de NaCl
dissolvida nesse copo de água é de 1 mol. No entanto, quando as soluções são diluídas é uma boa
aproximação à realidade admitir que, na solução, todos os átomos de sódio e de cloro estão ionizados e
dissociados uns dos outros e que a quantidade de partículas dissolvidas é de 2 mol, 1 mol de iões Na+ + 1
mol de iões Cl-. Neste caso diríamos que a solução contém 2 osmol de partículas3.
Na quantificação de enzimas, nomeadamente se estivermos a falar de uma enzima que foi purificada,
também se poderá usar os conceitos de massa e de molaridade para a quantificar. No entanto, quando
estamos a falar de uma enzima que está presente numa preparação biológica complexa (homogeneizado de
fígado ou soro sanguíneo, por exemplo) é muito frequente que, na prática, seja impossível quantificar a
enzima usando estas unidades.
Admitamos que uma dada substância A é estável quando dissolvida num meio aquoso a pH 7 e à
temperatura de 30º C. A presença de uma enzima E que cataliza a conversão AB pode ser detectada numa
preparação biológica se, após adicionarmos a preparação biológica à solução acima referida, as moléculas de
A começarem a desaparecer e começarem a aparecer moléculas de B. É fácil intuir que a velocidade com que
A se converte em B dependa da quantidade de enzima E adicionada e que quanto mais enzima for adicionada
maior seja a velocidade de conversão. Embora esta questão seja desenvolvida à frente neste texto (ver
2
Diz-se quilograma (kg = 103 g), miligrama (mg = 10-3 g), micrograma (g = 10-6 g), nanograma (ng = 10-9 g) e
picograma (pg = 10-12g).
3
No caso de uma solução de NaCl 154 mM (soro fisiológico), por exemplo, a dissociação não é completa e, no cálculo
da osmolaridade é introduzido um “factor de correcção” de 0,93.
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Capítulo 6), importa neste momento reter que a velocidade da conversão é uma medida da quantidade de
enzima E adicionada.
De facto, ao quantificar a velocidade da conversão AB catalisada pela enzima E estamos a falar não
propriamente da quantidade de enzima mas da actividade catalítica da enzima4. Uma mesma quantidade de
enzima E pode provocar diferentes velocidades na conversão AB se as condições de ensaio (concentração
de A, volume de ensaio, temperatura, pH, etc.) variarem. No entanto, se não variarmos estas condições,
quando ensaiada em condições adequadas5, existe proporcionalidade directa entre quantidade e actividade e,
consequentemente, a actividade é uma medida da quantidade de enzima. Se admitirmos que a enzima E é
uma enzima presente numa solução E e que ao adicionarmos, por exemplo, 1 L de solução E ao meio de
ensaio a velocidade de conversão AB foi de 1 mol/min podemos deduzir que, se tivéssemos adicionado 2
L da mesma solução E (o dobro da enzima E), a velocidade seria o dobro, 2 mol/min. Estamos, de facto, a
exprimir a quantidade de enzima (medida como actividade) como uma velocidade de conversão: dizemos
que a quantidade de enzima E presente em 1 L de solução E era de 1 mol/min.
Em enzimologia, existe uma unidade designada de UI (unidade internacional) para exprimir a
quantidade de enzima que, adicionada a um meio de ensaio adequado, é capaz de fazer com que a velocidade
de conversão seja 1 mol/min. Esta unidade inclui mesmo submúltiplos como a mUI (= 1 nmol/min) mas, de
facto, é apenas uma unidade de velocidade de conversão e não acrescenta nenhuma ideia nova. Por este
motivo, quando se quer quantificar uma quantidade de enzima, a UI é menos usada que as unidades que
exprimem explicitamente velocidades de conversão: a quantidade de substrato convertido em produto por
unidade de tempo. Será pertinente sublinhar que este modo de quantificar enzimas não tem a mesma
universalidade que as unidades de massa ou de molaridade. Cada experimentador define as condições em
que vai ensaiar a enzima (estudar a sua actividade catalítica) e, como estas condições afectam a velocidade
de conversão, não será de estranhar se se obtiverem disparidades nos resultados6.
3. A concentração é uma grandeza intensiva: unidades de concentração
Quando se realizam experiências em Bioquímica é necessário preparar soluções que contenham as
substâncias que serão usadas no estudo. Os protocolos experimentais para além de definirem os
procedimentos devem também definir de forma clara as soluções que vão ser utilizadas; ou seja, devem
explicitar todas as substâncias contidas nessas soluções e as suas concentrações.
Na maioria dos casos, exprime-se a concentração de um soluto num solvente como o resultado de uma
divisão em que no numerador está a massa do soluto ou o número de moles e, no denominador, o volume da
solução considerada.
Assim podemos, por exemplo, dizer que, numa dada solução, a concentração de glicose é de 180 g/L
(também se pode escrever 180 g L-1) para exprimir a ideia que, em 1 L dessa solução, estão dissolvidas 180 g
de glicose; dado que a massa molar da glicose é 180 g, em termos de molaridade7, a concentração da glicose
nesta solução seria 1 mol/L. Uma expressão corrente com o mesmo significado é escrever que a
concentração é 1 M (diz-se 1 molar) de que também se usam os submúltiplos: mM (diz-se milimolar = 1
mmol/L), M, nM, etc.
4
Em termos quantitativos, a actividade enzímica (ou actividade catalítica da enzima) é o acréscimo de velocidade de
conversão provocado pela adição de E ao sistema de ensaio. Por isso, no texto, tivemos o cuidado de referir que A era
estável no meio de ensaio (sem enzima). Esta situação é muito frequente e por isso, se não se especificar o contrário,
subentende-se, no presente texto, que a velocidade de conversão na presença de enzima corresponde à actividade
enzimática. No entanto, em termos gerais, o valor da actividade enzimática é o que resulta do seguinte cálculo:
velocidade de conversão (enzima presente) - velocidade de conversão (enzima ausente).
5
Uma destas condições é que a razão entre a concentração molar de enzima e a de substrato seja muitíssimo baixa. No
entanto, porque, na prática, esta condição só pode deixar de ser respeitada quando se trabalha com enzimas purificadas
e métodos extremamente sensíveis de detecção (compostos radioactivos) é frequentemente omitida.
6
Quando um laboratório comercial vende uma preparação (um liofilizado, por exemplo) que contém a enzima E e
refere, por exemplo, que 1 mg dessa preparação contém 1 UI da enzima E, não será de esperar que, adicionando 1 mg
dessa preparação a um meio de ensaio com condições diferentes das usadas por esse laboratório, se obtenha uma
velocidade de conversão AB de 1 mol/min. Para obter essa velocidade teríamos de copiar em pormenor as
condições usadas pelo laboratório comercial e é, quase sempre, difícil saber todos esses pormenores.
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Um conceito relacionado com a molaridade é o de molalidade que se exprime em moles / kg de solvente. É pouco
usado.
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Ao contrário das grandezas referidas no Capítulo 2 (grandezas extensivas), a concentração é uma
grandeza intensiva: ou seja, não varia com a quantidade de material considerado. Se adicionarmos 1 L de
solução 1 mM de glicose a 1 L de uma solução idêntica obtemos 2 L de solução e 2 mmol de glicose
dissolvida (o volume e a quantidade de substância são grandeza extensivas) mas a concentração de glicose é
1 mM nas três soluções.
A osmolaridade8 de uma solução de glicose 1 M (a glicose não se dissocia) será 1 osmol/L. No
entanto, se se dissolver, por exemplo, 58,5 mg de NaCl (massa molar do NaCl = 58,5 g/mol) em água, a
concentração molar será 1 mM mas a osmolaridade da solução será de 2 mosmol/L.
Num boletim de análises clínicas podemos, eventualmente, ler que a concentração normal de cálcio no
soro varia entre 4,26 e 5,26 mEq./L. Porque o Ca2+ tem carga 2 isto significa, convertendo para molaridade,
que a variação normal tem como limites 2,13 mM e 2,63 mM.
De forma análoga aos casos referidos acima também nos podemos referir à concentração de uma
enzima exprimindo “actividade enzímica / volume de solução”. Se, por exemplo, a um meio de ensaio com
0,999 mL de volume adicionarmos 1 L de uma preparação enzímica que continha 1 UI de enzima E, a
concentração de enzima E no meio de ensaio será 1 UI/mL (ou 1 mol min-1 mL-1).
De notar que a grandeza concentração também pode ser expressa usando como divisor não um volume
mas uma massa. Se, por exemplo, em 1 g de tecido hepático houver 100 UI de enzima E, podemos dizer que
a concentração de enzima E no fígado é de 100 UI/g.
Quando se preparam misturas de líquidos diferentes podem usar-se expressões que, à primeira vista,
podem não ter um significado óbvio. Se se escrever que se preparou uma mistura água:etanol:dioxano na
proporção 1:4:2 em volume quer-se dizer que os líquidos foram misturados nestas proporções volumétricas:
por exemplo, 1 L de água + 4 L de etanol + 2 L de dioxano.
4. A actividade enzímica específica
A actividade enzímica numa dada preparação pode ser expressa como uma concentração mas, porque
as enzimas são proteínas, é comum usar uma outra grandeza intensiva designada de “actividade específica”.
A actividade específica é a actividade dividida pela massa de proteína: se numa determinada preparação
enzímica (por exemplo 1 mL de homogeneizado hepático) houver 10 mg de proteína e 10 UI de enzima E a
actividade específica da enzima E nessa preparação será de 1 UI / mg de proteína (1 mol min-1 mg-1).
A grandeza actividade específica é particularmente útil quando se faz purificação de enzimas. O
processo de purificação consiste na eliminação das proteínas presentes na preparação de partida (por
exemplo, homogeneizado hepático) que não são a enzima que se está a isolar. Esta eliminação significa
diminuir o valor do divisor (a massa de proteínas) e, consequentemente, à medida que o processo avança, vai
aumentando a actividade específica da enzima que está a ser purificada.
Quando se fazem estudos enzimáticos em tecidos biológicos mais complexos também se pode usar
uma base semelhante. Se o objectivo de um experimentador for comparar a actividade da enzima hepática E
em dois indivíduos poderá, por exemplo, pesar cuidadosamente os fragmentos de fígado biopsados, tratá-los
de forma idêntica para obter dois homogeneizados, ensaiar a actividade da enzima E nos dois
homogeneizados e exprimir os dois resultados em UI / g de fígado. Se um dos indivíduos fosse suspeito de
um deficit de enzima E e o valor obtido fosse mais baixo que o valor obtido no outro indivíduo (usado como
controlo) poderia ter um dado a apoiar as suspeitas. No entanto, poderia dar-se o caso de o fígado do
indivíduo suspeito ter quantidades muito mais elevadas de glicogénio (e água9) ou de gordura que o controlo
e que a escolha da base “massa de fígado” para expressar o resultado fosse a causa da diferença. O
doseamento paralelo das proteínas e da actividade enzímica poderia permitir calcular as actividades
específicas da enzima E no fígado dos dois indivíduos e comparar os dois valores sem as objecções
apontadas.
8
9
Um conceito relacionado com a osmolaridade é o de osmolalidade que se exprime em moles / kg de solvente.
O glicogénio é uma molécula hidratada. Por cada grama de glicogénio acumulam-se paralelamente 3 gramas de água.
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Quando, em Química Clínica, se mede a actividade da enzima E presente no plasma sanguíneo (uma
enzima sérica10), é comum usar uma medida de concentração em que a base é o volume de plasma ou soro: é
habitual dizer-se que num dado soro a actividade da enzima E é, por exemplo, de 3 UI/mL de soro e que este
valor se encontra (ou não) dentro dos limites do que se considera normal.
5. Breves notas sobre doseamento de substâncias em Bioquímica
O rápido desenvolvimento científico e tecnológico tem trazido extraordinários avanços nos processos
de doseamento de substâncias com interesse bioquímico e médico.
Um exemplo é o aparelho usado pelos diabéticos para monitorizar a sua glicemia. A maioria dos
sistemas usados actualmente para medir a glicemia tiram partido da especificidade de enzimas que catalisam
reacções em que um dos substratos é a glicose (mas não outras substâncias, incluindo outros açucares) e do
facto de as reacções redox gerarem corrente eléctrica (fluxo de electrões) que pode ser medida. Não é
objectivo deste texto explicar o funcionamento destes aparelhos mas apenas sublinhar a ideia que a
especificidade das enzimas está na base de muitos dos sistemas usados para o doseamento de substâncias
com interesse bioquímico e médico.
À semelhança do que acontece no caso dos sistemas de doseamento de outras substâncias, os sistemas
de doseamento da glicose também contêm enzimas. Uma grande parte destes sistemas contém uma enzima
de um bolor (Aspergillus niger) denominada oxídase da glicose que catalisa a oxidação da glicose pelo
oxigénio (glicose + O2  gliconolactona + H2O2). Porque a enzima é específica para a glicose, só a glicose é
que reage e, dependendo do sistema concreto, o sistema mede a quantidade total de H2O2 formado num
período de tempo suficiente para oxidar toda (ou quase toda) a glicose presente na amostra ou a velocidade
de formação de H2O2 num dado instante. No primeiro caso os sistemas são maioritariamente colorimétricos:
o H2O2 formado reage, num segundo passo, com outro reagente oxidando-o; porque o produto desta segunda
reacção tem cor (H2O2 + reagente incolor  H2O + produto oxidado corado), a intensidade da cor no meio
reactivo é uma medida da quantidade de glicose originalmente presente no meio reactivo. No segundo caso o
H2O2 que se vai formando é oxidado numa cadeia de transporte de electrões e um sensor mede a velocidade
desse fluxo electrónico. Quer num caso quer noutro, os sistemas foram optimizados de forma a que, tendo
em consideração as concentrações de glicose que podem existir no sangue ou na urina de indivíduos sãos ou
diabéticos, existe uma proporcionalidade directa entre o resultado (intensidade de cor ou velocidade de fluxo
electrónico) e a concentração de glicose no sangue ou na urina.
Usando o exemplo da glicose, referimos acima que a formação de cor num meio reactivo pode estar na
base de sistemas de doseamento de substâncias. De facto, não é necessário que tenham cor se definirmos
“cor” como uma característica que tem de ser observada pelo olho. Quando uma solução tem cor quer dizer
que é transparente para determinados comprimentos da luz visível e que absorve outros. Algumas
substâncias, como todas as que possuem anéis aromáticos (o NAD+ e o NADH, o ATP, a adenina, a
fenilalanina, etc., por exemplo) absorvem radiação de determinados comprimentos de onda do ultravioleta e
esta característica é explorada quer para o doseamento destas mesmas substâncias quer de muitas outras.
Se uma dada substância X é oxidada pela acção catalítica de uma desidrogénase E (X + NAD+  Y +
NADH) em que o oxidante é o NAD+ pode, em princípio, desenvolver-se um sistema de doseamento da
substância X (ou da Y) baseado nesta característica. Ao contrário do NAD+, o NADH absorve radiação
ultravioleta de 350 nm de comprimento de onda: se, a um sistema reactivo que contenha a enzima E e NAD+,
adicionarmos X, X converte-se em Y e, concomitantemente, o NAD+ em NADH. A solução que era
transparente para a radiação de 350 nm de comprimento passa a ficar mais ou menos opaca para este
comprimento de onda e um sensor adequado pode medir esta modificação. As técnicas que se baseiam na
absorção de radiação visível ou ultravioleta designam-se, habitualmente, de espectrofotométricas e são muito
frequentemente usadas em Bioquímica e em Química Clínica. A espectrofotometria foi, por este motivo,
escolhida para ser melhor explicada num anexo deste texto (ver Capítulo 8).
A verdade é que a classificação de uma dada técnica como espectrofotométrica é apenas uma
designação entre muitas outras possíveis: quase todas as técnicas actuais de doseamento de substâncias se
10
O soro sanguíneo obtém-se a partir do sangue que foi deixado coagular. Distingue-se do plasma sanguíneo porque já
não contém as enzimas e proteínas que foram transformadas durante o processo de coagulação e ficaram encarceradas
no coágulo.
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baseiam em muitas sub-técnicas. Eventualmente a que parece mais relevante aos olhos de um determinado
observador pode ser a espectrofotometria mas a espectrofotometria é apenas uma técnica de detecção da
variação de uma característica da solução em análise: a absorvância para a radiação de um (ou vários)
comprimentos de onda.
O HPLC (high performance liquid chromatography) é uma técnica muito usada em investigação
bioquímica. Baseia-se na utilização de colunas contendo materiais (escolhidos de acordo com o objectivo)
com maior ou menor afinidade para determinadas substâncias. Se, por exemplo, uma determinada substância
X tem grande afinidade para o material contido numa coluna e que as outras substâncias da mistura que se
quer analisar têm menor afinidade, essa coluna poderá ser usada para separar a substância X das outras
substâncias. Se a mistura em análise for introduzida na coluna e a seguir se fizer passar um líquido (chama-se
eluente) através da coluna as outras substâncias vão sair da coluna antes da substância X. Esta sairá separada
das outras substâncias e um sistema de detecção adequado colocado a jusante da coluna detectará a sua
passagem. Se a substância X absorver radiação de um ou vários comprimentos de onda, eventualmente, uma
técnica espectofotométrica pode ser adequada para detectar a sua passagem e fazer o seu doseamento.
6. Quantificação de actividades enzímicas
Para dosear a actividade de uma enzima E que catalisa a interconversão AB é necessário dispor de
um meio de ensaio onde essa enzima seja capaz de catalisar a reacção. Assim, se sabemos que a enzima E
actua numa determinada faixa de valores de pHs será adequado escolher um pH de ensaio dentro dessa faixa
e um tampão de pH que seja eficaz nesse pH. Algo semelhante pode ser dito relativamente à temperatura de
ensaio: se sabemos que a enzima E não se desnatura entre determinados limites de temperatura será sensato
escolher uma temperatura de ensaio que se situe dentro desses limites. Se a constante de equilíbrio da
reacção AB for maior que 1 será conveniente utilizar A como substrato: se, sendo este o caso, usássemos
B como substrato a reacção entraria em equilíbrio químico em fases precoces do processo reactivo e haveria
uma desaceleração precoce da velocidade de reacção.
Consideremos um sistema reactivo simples: um tubo de ensaio contendo 0,999 mL de solução de A
(na concentração 1,001 mM, por exemplo) em tampão T (pH 7) e temperatura de 30º C. Admitamos que, no
momento zero, adicionamos 1 L de uma preparação (homogeneizado hepático) que contém a enzima E
(AB), que temos uma forma de ir seguindo as concentrações de A e de B ao longo do tempo e que o
resultado foi o que se mostra na Fig. 1. O gráfico mostra que no tempo zero, [A] = 1 mM, [B] = 0 e que, ao
longo do tempo de ensaio, a concentração do substrato foi diminuindo e a do produto aumentando. A
velocidade média de reacção durante o primeiro minuto foi de 0,2 mM/min mas foi diminuindo ao longo do
tempo11; entre o min 4 ([B] = 0,55 mM) e o min 5 ([B] = 0,61 mM), por exemplo, a velocidade média de
reacção já foi apenas de 0,06 mM/min. É de realçar que enquanto no Capítulo 2, quando tratamos de
grandezas extensivas, escrevemos que a actividade enzímica era a “velocidade de conversão”, usamos
unidades (UI = mol/min) que são medidas da variação da quantidade substância (grandeza extensiva) por
unidade de tempo. Aqui, estamos a usar uma quantidade intensiva, a variação de concentração (uma
grandeza intensiva) por unidade de tempo, a unidade utilizada foi mM/min e em vez de “velocidade de
conversão” escrevemos “velocidade de reacção”. Embora estas duas expressões sejam normalmente usadas
como sinónimas, se seguirmos à risca as orientações do Comité de Nomenclatura da União Internacional de
Bioquímica (NC-IUB)12 há uma pequena diferença entre elas: para obter a velocidade de conversão
(actividade enzímica) a partir da velocidade de reacção há que multiplicar o valor desta última pelo volume
do meio de ensaio. Assim, no exemplo em análise, a actividade enzímica (velocidade de conversão) foi de
0,2 mol/min (0,2  10-3 mol L-1 min-1  1  10-3 L) no primeiro minuto e, durante o segundo (entre o min 1 e
o min 2) já tinha baixado para 0,15 mol/min.
Se nos pedissem para dizer qual foi a quantidade de enzima adicionada ao meio de ensaio teríamos um
problema: teriam sido 0,2 UI, 0,15 UI ou 0,12 UI (a velocidade média nos 5 min de ensaio; 0,61 mol / 5
min = 0,12 mol/min)? E qual foi a concentração de substrato utilizada? 1 mM (início do ensaio), 0,9 mM (a
média durante o 1º minuto) ou outro qualquer valor entre 1 e 0,4 mM (ver Fig. 1)?
11
Entre os motivos que podem causar desaceleração nas reacções enzímicas destacam-se a diminuição da concentração
de substrato e o aumento da concentração do produto (que pode aumentar a velocidade da reacção inversa ou/e inibir a
reacção directa) mas não é esta questão que queremos enfatizar neste momento.
12
http://www.chem.qmul.ac.uk/iubmb/kinetics/
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Se nos pedissem para enunciar as condições de ensaio que utilizamos não teríamos dúvidas em afirmar
que, no início do ensaio, a concentração de substrato era 1 mM. Com rigor matemático também poderíamos
dizer que a velocidade de conversão quando a concentração de substrato era 1 mM (a condição de ensaio
definida) corresponde ao declive da curva a cheio na Fig. 1 no minuto zero e que o seu valor seria algo acima
de 0,2 mol/min. Se o experimentador achasse que devia ser extremamente rigoroso poderia calcular uma
estimativa para o declive da recta tangente à curva no ponto 0,0 e dizer que era essa a actividade enzímica
nas condições em que o ensaio se iniciou. Esse valor, que se costume representar por v0 ou vinicial, é o que em
rigor chamaríamos actividade enzímica nas condições de ensaio definidas (pH 7, 30º C, [A] = 1 mM). No
entanto, assumindo que estava a cometer o que considerava ser um pequeno erro, também poderia considerar
sensato que a velocidade média no primeiro minuto era uma razoável estimativa da actividade enzímica para
as condições do início do ensaio. Neste caso, o experimentador poderia escrever no seu relatório que a
actividade da enzima E contida em 1 L do homogeneizado hepático que lhe foi fornecido, ensaiada a pH 7,
30º C com 1 mM de A era de 0,2 UI (0,2 mol/min). Se num estudo de doseamento de proteínas no
homogeneizado hepático em questão concluísse que em 1 L desse homogeneizado havia 0,01 mg de
proteína escreveria também que a actividade específica da enzima E nesse homogeneizado era de 20 UI/mg
de proteína (0,2 mol min-1 / 0,01 mg = 20 mol min-1 mg-1).
Concentração de substrato A ou de
produto B (mM)
1
0,9
B (mM)
0,8
A (mM)
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0
1
2
3
4
5
tempo de ensaio (min)
Fig. 1: Evolução das concentrações de A e de B na reacção catalisada pela enzima hepática E.
7. A actividade enzímica molar
Uma outra grandeza intensiva usada em estudos com enzimas purificadas é a actividade molar de uma
enzima: a “actividade molar” de uma enzima é a actividade enzímica dividida pela molaridade dessa enzima
(ou a molaridade dos centros activos se cada molécula de enzima contiver mais de um centro activo).
Admitamos que num dado meio de ensaio havia 10 nmol da enzima E (com 1 centro activo / molécula) e que
a actividade enzímica medida foi de 10 mol min-1 (10 UI): teríamos, neste caso, de concluir que a
actividade molar era de 1000 min-1 (=10 000 nmol min-1 / 10 nmol de E). Isto significaria que, num minuto,
cada molécula de enzima converteu 1000 moléculas de A em B (ou 167 por segundo). Este valor é a
actividade catalítica molar; quando se usam, como foi o caso, as mesmas unidades para o número de moles
de enzima e para o número de moles de substrato convertido por unidade de tempo também se chama, ao
valor obtido, turnover number. O turnover number tem dimensões de tempo-1 e representa o número de
ciclos catalíticos que uma molécula de enzima operou por unidade de tempo.
Quando se usa a equação de Michaelis-Menten para expressar a actividade catalítica de uma enzima
podemos escrever a equação 1.
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v inicial  Vmax
A
K m  A 
(1)
O Km é uma medida da afinidade da enzima para o substrato A e a razão
A traduz apenas a
Km  A 
fracção (adimensional) de moléculas de enzimas ligadas ao substrato (e, consequentemente, envolvidas no
processo catalítico num dado momento) quando a concentração do substrato tem o valor [A]. Se
considerarmos uma concentração saturante de substrato (ou seja, [A]>> Km), vinicial = Vmax e todas as
moléculas de enzimas presentes no meio de ensaio estão, num dado momento, envolvidas no processo
catalítico (
A
Km  A 
1). Para tornar mais fácil o que tencionamos explicar a seguir será esta a condição
considerada: as condições de ensaio são tais que a enzima está saturada e todas as moléculas de enzima
presentes no meio de ensaio estão envolvidas no processo catalítico.
Admitamos agora que no meio de ensaio há 0,001 mol de moléculas da enzima E e que o turnover
number = 1000 min-1. Será óbvio concluir que a actividade enzímica nesse ensaio era de 1 mol min-1 (1UI).
Se escrevermos a expressão de Michaelis-Menten como na equação 2 em que Etotal representa o
número de moles de enzima no meio de ensaio compreenderemos que Kcat (também designada por constante
catalítica de uma enzima) não é mais que o turnover number.
v inicial  k cat E total
A
Km  A 
(2)
Se dividirmos ambos os termos da equação 2 pelo volume do meio de ensaio obtemos uma equação
que habitualmente se escreve como a equação 3.
v inicial  k cat E total 
A
Km  A 
(3)
Na equação 3, a quantidade de enzima Etotal presente na equação 2 foi substituída pela concentração de
enzima no meio de ensaio [Etotal] e, obviamente, que embora esteja representada pelo mesmo símbolo (vinicial)
os termos da esquerda nas equações 2 e 3 não têm exactamente o mesmo significado. Na equação 2, tal como
na equação 1, a actividade enzímica é uma quantidade extensiva que pode ser expressa em quantidade de
substância convertida por min (mol / min, por exemplo); na equação 3 vinicial é uma velocidade de reacção
(1 mM/min, por exemplo) em que a variação de concentração se expressa nas mesmas unidades em que se
exprimiu [Etotal] (mM, por exemplo).
8. Anexo 1- Determinação de concentrações usando o espectrofotómetro
Não é objectivo deste texto explicar porque é que algumas substâncias quando dissolvidas conferem
cor às soluções. No entanto, importa sublinhar que a cor dessas soluções resulta da capacidade das moléculas
dissolvidas para absorver luz de determinados comprimentos de onda da gama do visível e não interferir com
os outros. Se, ao compararmos duas soluções coradas de uma mesma substância X, observarmos que a cor é
mais intensa na solução A que na solução B podemos concluir que a solução A é mais concentrada que a B.
Se tivermos uma série de tubos transparentes com igual diâmetro em que colocamos concentrações
conhecidas da mesma substância X e colocarmos em mais um tubo idêntico um pouco de solução A (ou B)
podemos mesmo, comparando as intensidades de cor, estimar a sua concentração. Numa aproximação algo
grosseira, é este princípio que é usado quando se fazem doseamentos espectrofotométricos.
O espectrofotómetro usado com mais frequência em estudos de Bioquímica é um aparelho que, numa
descrição simplificada, contém em sequência, uma lâmpada, um dispositivo capaz de separar os diversos
comprimentos de onda da luz emitida, um sistema capaz de seleccionar a radiação electromagnética de
comprimento de onda que se deseja (que pode ser da luz visível ou do ultravioleta), um compartimento onde
colocar uma cuvete (feita com material transparente ao comprimento de onda seleccionado) contendo a
solução em estudo, um detector da intensidade de luz que atravessou a solução e um sistema de leitura.
Admitamos que a cuvete é, num primeiro passo, cheia com água (sem soluto) e se seleccionou luz de
comprimento de onda de 570 nm (=570 nm). O espectrofotómetro também contém um dispositivo que
permite ao experimentador introduzir a informação de que a intensidade de luz medida pelo sensor nestas
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condições é a luz que pode ser medida na ausência de soluto (a substância cuja concentração se quer medir).
Chamemos a esta intensidade de luz I0 e à àgua “branco”. Se agora repetirmos a operação colocando na
cuvete, não água, mas uma solução em que o solvente é água e o soluto uma substância A que absorve luz de
570 nm observar-se-á que a intensidade de luz que atinge o sensor é menor. Se chamarmos a esta intensidade
I, a razão I/I0 designa-se de transmitância. É intuitivo pensar que quanto maior for a concentração de A mais
baixa será a transmitância medida. Por exemplo, se a concentração for nula (uso de água pura, o branco neste
caso) a transmitância será, por definição, 1 (ou 100%); se a solução for de tal forma concentrada que
praticamente nenhuma luz atravessa a solução o valor da transmitância aproximar-se-á de zero.
No entanto, o gráfico que descreve a relação entre a concentração e a transmitância é uma curva pouco
usada na prática diária. Se, em vez de transmitância, usarmos uma outra medida que é calculada a partir desta
(a Absorvância) observa-se uma relação muito mais útil porque, em condições adequadas, existe uma
proporcionalidade directa entre a concentração e esta medida derivada.
A Absorvância (Abs) é o simétrico do logaritmo da transmitância (ver equação 4) e a lei que descreve
a existência de proporcionalidade directa entre Abs e concentração designa-se lei de Beer (ver equação 5;
onde k é uma constante de proporcionalidade que depende da substância em análise e do comprimento de
onda utilizado e [A] é a concentração).
 I
Abs   log 
 I0 
(4)
Abs = k [A]
(5)
Dado que os limites dos valores de transmitância são [0, 1], é imediato concluir que, teoricamente, a
Abs varia entre + e zero.
Como se pode deduzir da equação 5, teoricamente, o gráfico Abs versus [A] é uma recta que passa
pela origem e em que o declive é k13. Na prática, dependendo da substância em análise e da gama de
concentrações utilizadas, o gráfico só pode ser considerado uma recta (uma recta ser uma aproximação
sensata à realidade) até um valor de concentração que há que definir experimentalmente para cada situação
concreta. Como regra prática, porque o erro da leitura do próprio espectrofotómetro aumenta quando os
valores de Abs aumentam, geralmente não se consideram aceitáveis valores de Abs maiores que 1, mas a
construção do gráfico Abs versus [A] a partir de dados experimentais obtidos com soluções de A de
concentrações conhecidas poderá impor um limite inferior como mais sensato.
A escolha do comprimento de onda para dosear uma substância não é uma escolha aleatória. Se, por
exemplo, a solução for incolor serão inúteis todos os comprimentos de onda da luz visível. No entanto,
eventualmente, a substância absorve uma faixa de comprimentos de onda na zona do luz ultravioleta e, neste
caso, um comprimento de onda dessa faixa poderá ser adequado.
Na Fig. 2 são mostrados os espectros de Absorvância de duas substâncias A e B que absorvem luz
ultravioleta: gráficos que relacionam a Absorvância com o comprimento de onda da radiação
electromagnética utilizada. Admitamos que para construir estes gráficos usámos em ambos os casos (A e B)
uma mesma concentração (100 M, por exemplo). Se, para estudar a actividade da enzima E (que catalisa a
conversão AB) usássemos luz de 250 nm de comprimento para seguir o processo não observaríamos
qualquer mudança mas, a simples observação dos dois espectros (ver Fig. 2) permite concluir que os valores
de comprimento de onda entre 285 e 290 nm seriam boas escolhas. Neste caso, quando, antes da adição de
enzima, o meio de ensaio ainda não continha moléculas de B a Abs. seria nula e, após a adição da enzima E,
aumentaria à medida que se fossem formando moléculas de B.
13
Se [A] estiver expresso em mol/L o valor de k designa-se de coeficiente de extinção molar; ou seja, o valor de Abs
que, teoricamente, seria medido se a concentração [A] fosse 1 M.
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Espectros de Absorvância
1
0,9
A
0,8
B
Absorvância
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
230
240
250
260
270
280
290
300
Comprimento de onda (nm)
Fig. 2: Espectros de Absorvância de soluções aquosas das substâncias A e B.
9. Anexo 2- Massa atómica relativa de átomos com grande relevância em
Bioquímica
Embora as massas atómicas de todos os elementos possam ser consultados em qualquer Tabela
Periódica porque o grau de erro aceitável em Bioquímica é, normalmente, muito maior que em Química, para
efeitos da resolução dos problemas que se apresentam nos capítulos seguintes apresentamos a seguir uma
pequena Tabela com algumas massas atómicas aproximadas.
Símbolo
H
C
N
O
Na
10.
Massa atómica
1
12
14
16
23
Símbolo
Mg
P
S
Cl
K
Massa atómica
24,3
31
32
35,5
39,1
Símbolo
Ca
Mn
Fe
Se
Cu
Massa atómica
40,1
54,9
55,8
79
63,5
Exemplos de problemas propostos
1.1.
Problema 1
Que massa de cloreto de sódio tem de pesar para preparar 100 mL de soro fisiológico (solução aquosa
de cloreto de sódio para uma concentração de 9 g/L)?
1.2.
Problema 2
a) Que massa de ácido sulfúrico devo adicionar a 100 mL de uma solução de hidróxido de sódio 500
mM para que ocorra neutralização total?
b) Se a densidade do ácido sulfúrico for 1,84 qual o volume de ácido sulfúrico adicionado?
1.3.
Problema 3
Tem preparada uma solução (solução 1) da substância A (10 g/L) dissolvida em tampão T. O tampão
T contém Tris-base 200 mM e MgCl2 1 mM e o seu pH é 10,4 e também já foi preparado. Como procederia,
sem utilizar a balança, para preparar 2 mL de uma solução (solução 2) da substância A na concentração de 2
g/L em tampão T.
1.4.
Problema 4
Com o objectivo de fazer uma série de experiências foi feita uma solução stock de lactose 100 mM.
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Para fazer uma experiência específica havia que diluir a solução stock 10 vezes e fazer 11 mL desta
solução diluída.
a) Como procederia?
b) Qual a concentração de lactose na solução diluída expresso em termos de molaridade e em
massa/volume?
1.5.
Problema 5
Preparou-se uma solução stock de glicose dissolvendo 30 g de glicose em água para um volume final
de 2 dL. Que volume desta solução stock há que adicionar a 100 mL de água para que a concentração final
seja de 5 mM (uma concentração semelhante à do plasma sanguíneo de um indivíduo normal em jejum)?
1.6.
Problema 6
Tem 2 soluções de MgCl2: 10 mL de solução A (1 mM de MgCl2 em tampão T) e 1 mL solução B
(95,3 g /L em água). Além disso dispõe de 30 mL de tampão T. Precisa de 20 mL de solução de MgCl2 em
tampão T mas em que a concentração de MgCl2 seja 2 mM. Além disso quer aproveitar toda a solução A já
feita e não o preocupa que o tampão T fique ligeiramente mais diluído na solução final que na solução A.
a) Como procederia?
b) De acordo com o seu procedimento qual a razão entre a concentração do Tampão T na solução final
relativamente à original?
1.7.
Problema 7
Num boletim de análises clínicas lê-se que a concentração de bicarbonato sérico era de 25 mEq./L. Se
todo o bicarbonato contido em 100 mL de soro for convertido (pela adição de ácido clorídrico) em CO2 que
massa de CO2 se obtém?
1.8.
Problema 8
Num tanque existem dois compartimentos iguais separados por uma membrana semipermeável ideal
(que deixa passar água mas não os solutos). No compartimento A há 100 L de NaCl na concentração de 15
mM e, no compartimento B, um volume idêntico de uma solução de sacarose na concentração de 3,42 g /L.
Admitindo que ambas as soluções são suficientemente diluídas para se admitir que a concentração de
partículas é uma boa medida da osmolaridade, que massa de glicose devo adicionar à solução B para que
haja equilíbrio osmótico (não haja, no balanço global, passagem de água entre os dois compartimentos).
1.9.
Problema 9
A massa molar da glicose é de 180 g e um indivíduo A ingeriu 90 g de glicose.
a) Pressupondo hidrólise de 100% que massa de amido deve um individuo B ingerir para que a
quantidade de glicose formada no intestino seja igual à ingerida pelo indivíduo A?
b) A farinha “Maizena” é amido de milho mas, em condições de armazenamento normal, 10% da sua
massa é água. Que massa de farinha “Maizena” deveria, nos mesmos pressupostos, ingerir o indivíduo B?
1.10. Problema 10
Num volume final de 2,5 mL o meio de ensaio continha Hepes (100 mM, pH 7,5), ATP (1 mM),
MgCl2 (2 mM) e homozeneizado hepático (1 g de proteína/mL). Sabendo que as soluções stock de cada um
dos componentes utilizados eram os que se especificam na tabela calcule para cada caso o volume que foi
adicionado ao meio de ensaio assim como a quantidade de água.
Hepes, pH 7,5
ATP
MgCl2
Homogenizado hepático
500 mM
5 mM
10 mM
50 g de proteína/mL
1.11. Problema 11
A partir de fígado de rato foi preparado um homogeneizado que contém a enzima E que catalisa a
conversão AB. A actividade enzímica foi previamente determinada em condições especificadas (Hepes 50
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mM, pH 7; 25º C; [A]= 1 mM) tendo o valor de 200 UI/ mL de homogeneizado. Temos num tubo de ensaio
10 mL de meio de ensaio semelhante e vamos incubá-lo à mesma temperatura.
Que volume de homogeneizado deve ser adicionado para que, em 5 min, haja conversão de 10% do
substrato?
1.12. Problema 12
Tirando partido da sua experiência prévia com um dado homogeneizado de mucosa intestinal de rato
que contém a enzima E (que catalisa a conversão AB), o experimentador já sabia que, nas condições que
usava habitualmente ([A] = 1 mM; tampão Hepes 50 mM, pH 7,0; 30 ºC), era sensato admitir que a
velocidade inicial de reacção se mantinha constante se a percentagem de conversão de substrato não
excedesse os 10%. O experimentador informou um colega que a actividade específica da enzima no referido
homogeneizado era de 1 UI/mg de proteína e que a concentração de proteínas era de 10 mg / mL. Será que,
se este colega adicionar, nas mesmas condições de ensaio, 1 L de homogeneizado a 1 mL de meio de ensaio
e incubar durante 1 hora é sensato admitir que a velocidade inicial se mantenha constante durante todo o
ensaio?
1.13. Problema 13
Foi comprada uma solução (500 L) de enzima E purificada (A  B) e, de acordo com o laboratório
comercial que a vendeu, a concentração da enzima E é de 1 M. Sabendo-se que em condições especificadas
(Hepes 100 mM, pH 7,5; 30º C e [A] = 10 mM) o Kcat é 10 000 s-1 quanto tempo será necessário esperar
para que, usando um meio de ensaio idêntico com 1 mL e adicionando 1 L da solução de enzima E, 1% do
substrato seja convertido em produto?
1.14. Problema 14
Uma enzima E catalisa a transformação AP. Num tubo de ensaio colocou-se A, tampão e ao minuto
zero adicionou-se uma determinada quantidade de enzima E. Na figura representou-se a quantidade de P que
se foi acumulando no tubo de ensaio ao longo do tempo. De notar que, na ausência de adição de E, a
formação de P durante 30 min de incubação foi imperceptível.
a) Qual a actividade da enzima E adicionada ao tubo de ensaio? Explique os cálculos e as opções que
fez.
b) Considerando que a enzima E é hepática, que a fonte de enzima usada na experiência era
homogeneizado hepático e que a quantidade de homogeneizado adicionada ao tubo de ensaio correspondia a
2 mg de fígado calcule a actividade da enzima expressando o resultado em UI / mg de fígado.
c) Admitindo que a percentagem de proteína no fígado é de 20%, calcule a actividade específica da
enzima E.
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1.15. Problema 15
A enzima E está presente no soro sanguíneo e catalisa a reacção XY. Um tubo de ensaio A continha
1 ml de solução (contendo X, tampão a pH adequado e cofactores essenciais para a actividade da enzima E)
e, no tempo zero, adicionou-se 1 l de soro sanguíneo. Ao longo do tempo de ensaio foi-se medindo a
concentração de X no meio de ensaio (ver Figura). No caso do ensaio B, excepto no que se refere ao volume
de soro sanguíneo adicionado, as condições foram as mesmas.
a) Qual a actividade da enzima E no soro em análise?
b) Qual foi, no ensaio B, o volume do mesmo soro adicionado ao tubo de ensaio?
1.16. Problema 16
Tabela I Absorvância
min
A
0
0,1
2
0,2
4
0,3
6
0,38
8
0,45
10
0,52
12
0,58
14
0,64
B
0,05
0,05
0,05
0,05
0,05
0,10
0,20
0,30
A substância P é o produto de uma reacção enzímica catalisada pela enzima E presente no fígado
(SP). A substância P absorve luz do comprimento de onda que foi usado para fazer a curva de calibração
que a Figura representa. Esta curva de calibração foi realizada com o objectivo de dosear a enzima E e, por
isso, as condições usadas (nomeadamente o pH do meio) eram semelhantes às que se usaram quando se fez a
leitura espectrofotométrica dos ensaios enzímicos. No estudo enzímico usaram-se 2 cuvetes (A e B). Na
cuvete A, a mistura reactiva (1 mL) continha S, tampão e homogeneizado hepático (correspondente a 2,5 mg
de fígado) medindo-se a Absorvância ao longo do tempo. De notar que, na cuvete A, o tempo zero
correspondia à adição do homogeneizado hepático ao restantes componentes da mistura. Na cuvete B o
ensaio decorreu na ausência de homogeneizado hepático e, no minuto 10, adicionou-se homogeneizado
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hepático correspondente a 2,5 mg de fígado fazendo logo de seguida a leitura correspondente. A tabela I
representam-se as leituras de Absorvância em diferentes tempos de ensaio nas cuvetes A e B.
a) Qual a velocidade da reacção na ausência de homogeneizado hepático?
b) Calcule a actividade da enzima E expressando o resultado na base massa de fígado.
c) Admitindo que a actividade específica foi também calculada e era de 0,6 mol min-1 mg de
proteína-1, calcule a percentagem de proteína no fígado (massa/massa).
1.17. Problema 17
Sabe-se que, em determinadas condições (Tampão MES 100 mM, pH 6,5, 37ºC) o Vmax da enzima
sérica E (A + H2O B + C) é 100 nmol min-1 mL de soro-1, que o Km de A é 10 M e que o gráfico
actividade versus [A] é uma clássica hipérbole rectangular.
a) Calcule, nas condições especificadas, a actividade da enzima E se [A] = 10 M.
b) Calcule, nas condições especificadas, a actividade da enzima E se [A] = 2 M.
c) Calcule, nas condições especificadas, a quantidade de B formado quando a [A] = 2 M, admitindo
também que a quantidade de soro adicionada ao meio de ensaio foi 2 L e o tempo de ensaio 1 min.
d) Calcule a percentagem de A que se converte em B nas condições especificadas na alínea c) se o
volume de ensaio for de 1 mL.
e) Comente se considera plausível que, durante 1 min de ensaio, se tenham mantido condições de
vinicial.
f) E se em vez de 1 min fossem 30 min?
1.18. Problema 18
Um investigador estava a estudar a actividade de uma hidrólase E que catalisa a hidrólise de A que se
converte em B + C com o objectivo de determinar o Km de A. Depois de ter concluído que a enzima E era
estável a 30 ºC mas desnaturava quando incubada a 100 ºC durante 30 s e que o tampão Hepes 50 mM (pH
6,5) era adequado para o estudo da sua actividade catalítica descreveu o seu estudo nos seguintes termos.
“ Foi preparada uma série de 6 tubos de ensaio contendo cada um deles num volume final de 1 mL,
Hepes 50 mM (pH 6,5) e diferentes concentrações de A (0, 1 M, 2 M, 4 M, 8 M e 16 M). Os ensaios
foram iniciados com a adição de E (1 mg de proteína/ensaio) e incubados a 30 ºC durante 10 min. A reacção
foi terminada transferindo os tubos para um banho a 100 ºC durante 2 min. A concentração de B no final do
processo foi determinada usando o método já descrito na secção anterior.”
No capítulo Resultados foi escrito o seguinte:
“Usando o método descrito em Métodos o Km de A e o Vmax de E foram calculados em 4 M e 1
nmol min-1 mg de proteína-1, respectivamente. O gráfico actividade versus [A] era uma hipérbole
rectangular”
O arbitro 1 (referre 1) que apreciou o artigo rejeitou-o por considerar que o método descrito e os
resultados eram incompatíveis. Diga se concorda ou não com o referee 1 e explique a sua opinião.
11.
Propostas de resolução dos problemas propostos
Problema 1
Concentração = massa / volume; 100 mL = 0,1 L
9 g/L = X / 0,1 L
X = 0,9 g
Problema 2
a) Concentração = quantidade substância / volume 
substância.
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Concentração  volume = quantidade
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Em 100 mL de uma solução de hidróxido de sódio 500 mM existem 50 mmol de iões OH- (0,1 L  0,5
mol L ).
A reacção do ácido sulfúrico com o hidróxido de sódio decorre de acordo com a estequiometria:
H2SO4 + 2 NaOH  Na2SO4 + 2 H2O
Para fazer reagir 50 mmol de NaOH consumo 25 mmol de H2SO4.
A massa molecular do H2SO4 é 98 g: donde 25 mmol correspondem a 2,45 g.
1 mol
------ 98 g
0,025 mol ------ X
X = 2,45 g
-1
b) O volume de ácido sulfúrico adicionado seria 1,33 mL.
1,84 g ------ 1 mL
2,45 g ------ X
X = 1,33 mL
Problema 3
Se, ao fazer uma diluição de uma solução contendo a substância A, o solvente adicionado não contém
a substância A, a quantidade de substância A é igual na solução original e na solução diluída (conc.1  vol.1
= conc.2  vol.2).
Para preparar 2 mL de solução 2 a partir da solução 1 tem de usar-se 0,4 mL desta solução e
acrescentar tampão T (o solvente neste caso) até perfazer o volume final.
10 g/L  X = 2 g/L  2 mL
X = 0,4 mL
Nota 1: Quando se misturam dois líquidos de natureza diferente (por exemplo água e metanol) a soma
das partes pode não coincidir com o volume final mas não é este o caso. Neste caso, quer a solução de onde
se parte (substância A, 10 g/L) quer “o solvente” (a solução tampão T) são soluções aquosas. Assim para
calcular o volume de tampão T a adicionar aos 0,4 mL da solução original há apenas que fazer a subtracção:
2 mL - 0,4 mL = 1,6 mL.
Nota 2: Um experimentador com alguma experiência talvez racionasse de forma diferente
identificando a situação como um caso em que era necessário diluir a solução original 5 vezes (2g/L é 5
vezes menos concentrado que 10g/L). Assim dividiria mentalmente 2 mL por 5 e obteria o volume de
solução original a utilizar (os 0,4 mL); para calcular o volume de tampão faria a subtracção já referida.
Problema 4
a) Para fazer 11 mL de solução diluída, diluindo 10 vezes a solução stock havia que adicionar num
tubo 1,1 mL (11 mL / 10 = 1,1 mL) e acrescentar com água até perfazer os 11 mL (ou seja adicionar 9,9 mL
de água).
b) A concentração na solução final era 10 mM (100 mM/10) ou, tendo em conta a massa molar da
lactose (C12H22O11  342 g/mol), 3,42 g L-1.
Problema 5
A concentração de glicose na solução stock é 150 g/L (30 g / 0,2 L) ou 0,8333 M (150 g/L / 180
g/mol). (Esta solução é 166,66 vezes mais concentrada que a que queremos preparar (833,3 mM / 5 mM)). O
volume a adicionar pode ser calculado tirando partido da ideia que prevê constância na quantidade de
substância nas duas soluções:
5 mM  (100 mL + X) = 833,3 mM  X
X = 0,6036 mL
Problema 6
Em 10 mL de solução A há 10 mol de MgCl2 (10  10-3 L x 1  10-3 mol L-1 = 10  10-6 mol).
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A quantidade de MgCl2 na solução final deve ser 40 mol (2  10-3 mol L-1 x 20  10-3 L-1) e preciso,
portanto, de adicionar 30 mol de MgCl2 à solução A.
A massa molar de MgCl2 é 95,3 g/mol (24,3 + 35,5  2), donde a concentração molar na solução B é
de 1 M (1 mol L-1). 30 mol de MgCl2 estão contidos em 30 L da solução B.
1 mol
------- 1 L
-6
30  10 mol ------- X
X= 30  10-6 L
Assim para preparar a solução que pretendo adiciono:
10 mL de solução A + 0,03 mL de solução B + 9.97 mL de tampão T.
b) Porque a solução B não contém tampão T, a solução final contém apenas 19,97 mL de tampão T. A
concentração de tampão na solução final era 99,85 % da concentração original (19,97 / 20 = 0,9985).
Problema 7
O HCO3- é um ião monovalente e, portanto, 25 mEq./L equivalem a 25 mM. Em 100 mL de soro há
2,5  10-3 moles de HCO3- (25 mmol L-1  0,1 L = 2,5 mmol).
Pela adição de HCl, 2,5 mmol de HCO3- convertem-se estequimetricamente em 2,5 mmol de CO2.
(H+ + HCO3-  H2CO3  CO2 + H2O)
A massa de 2,5 mmol de CO2 é 0,11g (0,0025 mol  44 g mol-1).
Problema 8
A osmolaridade da solução 15 mM de NaCl é de 30 mosmol L-1 (0,03 osmol L-1).
A massa molar da sacarose (C12H22O11) é 342 g/mol (ou, no caso da sacarose, 342 g/osmol). Logo, a
osmolaridade da sacarose no compartimento B é de 0,01 osmol L-1 (3,42 g L-1/ 342 g osmol-1).
Para aumentar a osmolaridade no compartimento B usando glicose há que adicionar glicose até que a
osmolaridade seja 0,03 osmol L-1; ou seja, aumentá-la em 0,02 osmol L-1.
Tendo o compartimento B 100 L há que adicionar 2 osmol de glicose; ou seja, 2 moles de glicose. A
massa molar da glicose (C6H12O6) é 180 g/mol e 2 moles são 360 g de glicose (2  180 g).
Problema 9
a) Uma molécula de amido contém vários milhares de resíduos de glicose ligados por ligações
glicosídicas. A massa molecular da glicose (C6H12O6) é de 180 g/mol mas, à excepção de 1 resíduo (o “1º da
cadeia” em que o seu carbono anomérico está livre), a massa molecular dos resíduos (C6H10O5) é de 162
g/mol. Este valor é uma excelente aproximação à massa molar dos resíduos de glicose do amido.
90 g ------- 180 g
X ------- 162 g
X= 81 g
b)
81 g --------- 90%
X --------- 100%
X = 90 g
Problema 10
Volume de Hepes = 100 mM/ 500 mM X 2,5 mL = 0,5 mL
Volume de ATP = 1 mM/ 5 mM X 2,5 mL = 0,5 mL
Volume de MgCl2 = 2 mM/ 10 mM X 2,5 mL = 0,5 mL
Volume de homogenizado hepático = 1 g de proteína mL-1 / 50 g de proteína mL-1 X 2,5 mL = 0,05
mL
Volume de água = 2,5 mL – 0,5 mL – 0,5 mL– 0,5 mL – 0,05 mL = 0,95 mL
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Problema 11
O número de moles de A no meio de ensaio é 10 mol (0,001 mol/L x 0,01 L) e 10% deste valor é 1
mol. Para que, em 5 min, haja conversão de 1 mol a actividade de enzima adicionada deve ser de 0,2 UI (1
mol / 5 min = 0,2 mol/min). Dado que, no homogeneizado, a actividade da enzima E é 200 mol min-1
mL-1 o volume de homogeneizado a adicionar ao meio de ensaio terá de ser
200 mol min-1 -------- 1 mL
0,2 mol min-1 -------- X
X = 0,001 mL = 1 L
Nota: Poderia argumentar-se, com alguma razão, que, porque a concentração de A diminuía durante o
ensaio (e consequentemente, a velocidade de reacção) que 1 L de homogeneizado não seria suficiente para
fazer baixar a concentração de A de 1 mM para 0,9 mM. De facto, esta descida de concentração, só
provocaria uma descida da velocidade da ordem de 10% se o Km de A fosse (muito) maior que 1 mM. A
análise da equação 1 (página 8) permite compreender que se, por exemplo, o Km de A fosse, por exemplo,
de 1 M a concentração de A manter-se-ia “saturante” durante todo o ensaio. De qualquer forma, mesmo
quando se usam concentrações de substrato inferiores ao Km é costume admitir, até prova em contrário, que
uma descida de concentração do substrato de 10% durante um ensaio, não é susceptível de provocar uma
descida marcada na velocidade de reacção. No entanto, é altura de sublinhar a expressão “até prova em
contrário”: eventualmente um dos produtos (neste caso o B) pode ter uma acção inibidora marcada. Com os
dados disponíveis a solução proposta é a mais sensata.
Problema 12
Em 1 mL de homogeneizado há 10 mg de proteína  em 1 L há 10 g de proteína
Em 1 mg de proteína há 1 mol/min de enzima E  em 10 g há 10 nmol/min de enzima E.
Logo, em 60 min (1 hora) de ensaio, a manter-se v0 ao longo do ensaio, converter-se-iam 600 nmol de
A.
Em 1 L de ensaio há 1 mmol de A  em 1 mL há 1 mol de A (=1000 nmol).
600 nmol / 1000 nmol = 60%.
60% > 10%  não seria de esperar que a velocidade se mantivesse constante ao longo dos 60 min de
ensaio.
Problema 13
Em 1 L de solução de enzima há 1 pmol de enzima E (1  10-6 mol L-1 X 1  10-6 L = 1  10-12 mol =
1 pmol) que é capaz de converter 10 000 pmol de substrato / segundo (1 pmol X 10 000 s-1); ou seja, 10 nmol
s-1.
No meio de ensaio há 10 mol de A (0,01 mol L-1 X 0,001 L) e 1% deste valor é 0,1 mol (= 100
nmol).
Assim, em 10 s (100 nmol / 10 nmol s-1) ocorreria a conversão especificada no problema.
Problema 14
a) A Figura mostra que velocidade com que P se acumulou no meio de ensaio diminuiu ao longo do
tempo de ensaio: formaram-se 5 µmol de P nos primeiros 5 min mas apenas 4 µmol (9-5 mol) entre o min 5
e o min 10. A velocidade da reacção antes de se acumular P e consumir A (v0) seria, idealmente, o declive da
curva P formado versus tempo no min zero. No entanto, no gráfico apresentado o valor experimental
correspondente ao min 5 pode servir de base para uma boa estimativa de v0. Assim, vamos considerar que a
velocidade média nos primeiros 5 min de ensaio como uma boa estimativa de v0.
v0 = 5 mol de P / 5 min = 1 mol/min.
[É de notar que, neste exemplo, se se tivesse escolhido a velocidade média nos primeiros 10 min de
ensaio (9,5 µmol /10 min = 0,95 µmol/min) o resultado não seria muito diferente.]
1 UI é a quantidade de enzima que provoca uma velocidade de reacção de 1 mol/min: a actividade
enzímica de E adicionada era 1 UI.
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b) Dado que 1 UI era a actividade da enzima E em 2 mg de fígado então a actividade no fígado pode
ser facilmente calculada (1UI / 2 mg) como 0,5 UI / mg de fígado.
c) 20% de 1 mg = 0,2 mg de proteína.
0,5 UI / 0,2 mg de proteína = 2,5 UI / mg de proteína.
Problema 15
a) Consideremos o ensaio A. O primeiro ponto experimental obtido no min 10 poderá servir de base
para a estimativa de v0. [O ponto correspondente ao min 20 na linha A corresponde já a alguma lentificação
da reacção pelo que só admitindo um erro mais grosseiro na estimativa o poderíamos considerar.] Nos
primeiros 10 min de ensaio, a concentração de X passou de 100 para 90 mM, ou seja, a concentração de X
diminuiu 10 mM (= 0,01 mol/L).
Dado que o volume de ensaio era de 1 mL, a quantidade de X que foi convertida em Y pode ser
calculada como sendo 10 mol (0,01 M X 0,001 L = 0,00001 mol).
A velocidade de conversão nos primeiros 10 min de ensaio foi assim de 1 mol/min (= 10 mol /10
min) o que corresponde a 1UI. Porque o volume de soro adicionado ao ensaio foi 1 L então a actividade da
enzima E no soro era de 1 UI / l soro.
b) A actividade no tubo B pode ser facilmente calculada usando o mesmo raciocínio da alínea a) mas,
na realidade, é intuitivo observar que no caso B o valor da velocidade da reacção é metade da do caso A. Nos
primeiros 10 min de ensaio em vez de concentração de A baixar 10 mM baixou 5 mM. Assim a actividade no
caso B era não 1 UI mas 0,5 UI. A velocidade de reacção observada em B foi metade da observada em A
porque em B havia metade do número de moléculas da enzima E. Ou seja, em B o volume de soro foi, não 1
L, mas 0,5 L.
Problema 16
a) De acordo com a tabela, na ausência de homogeneizado (cuvete B antes do minuto 10) a variação
de absorvância foi nula: devemos deduzir que a velocidade de formação de P também o foi.
b) Nos primeiros minutos de ensaio (entre o minuto 0 e o minuto 4) a velocidade de variação de
absorvância na cuvete A era de 0,05 / min. Este resultado pode ser obtido usando, por exemplo, o valor
tabelado correspondente ao min 2 (Abs_min_2 – Abs_min_zero) / 2 min = 0,05 min-1. [Tendo em conta que
o gráfico absorvância versus tempo (que pode ser construído a partir dos dados da tabela) é uma recta até ao
min 4, também se poderia usar o min 4 em vez do min 2 que o resultado seria exactamente o mesmo].
Usando a curva de calibração da Figura pode calcular-se que a 0,05 de absorvância corresponde uma
concentração de 0,25 mM de P. O volume de ensaio era de 1 mL; logo o número de moles de P formados
por minuto na presença de enzima era de 0,25 (1  10-3 L X 0,25  10-3 mol L-1 = 0,25  10-6 mol).
O homogeneizado adicionado ao ensaio correspondia a 2,5 mg de fígado; assim a actividade da
enzima era 0,25 mol min-1 / 2,5 mg = 0,1 UI mg de fígado-1.
c) 0,1 UI mg de fígado-1 / 0,6 mol min-1 mg de proteína-1 = 0,167 mg de proteína / mg de fígado =
16,7%.
Problema 17
a) Sendo [A] = Km de A é de concluir que vinicial = ½ Vmax (ver equação 1 na página 8).
vinicial = 50 nmol min-1 mL de soro-1
b) Usando a equação 1: vinicial = 100 min-1 mL de soro-1  [2 M/(10 + 2) M] =
16,7 nmol min-1 mL de soro-1.
c) Quantidade de B formada = 33,4 pmol (16,7 nmol min-1 mL de soro-1  1 min  0,002 mL de soro).
d) A quantidade de A presente no início do ensaio era 2 nmol (2  10-6 mol L-1 X 1  10-3 L). A
percentagem de A convertido em 1 min seria 1,67 % (33,4 pmol / 2000 pmol = 0,0167).
e) Uma tão baixa percentagem de conversão de A em B (1,67%) permite pensar que a concentração de
A quase não variou durante 1 min de ensaio. (Aplicando a equação 1 a actividade teria descido em 1 min
menos de 1,67%). O facto de E ser uma hidrólase permite pensar que a constante de equilíbrio tem um valor
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muito superior a 1 M e portanto muito superior ao QR calculado para o final do ensaio (33,4 nM2 / (2000 nM
– 33,4 nM) = 0,567 nM). A não ser que um dos produtos (B ou C) tenha um potente efeito inibidor ou que a
enzima seja altamente instável nas condições de ensaio utilizadas é de presumir que a velocidade média no 1º
min de ensaio não seja muito diferente de vinicial.
f) Se em 1 min se converteu 1,67 % do substrato é de admitir que, a manter-se vinicil durante todo o
ensaio, em 30 min se tivessem convertido 50,1 %. Dado que a concentração do substrato no inicio do ensaio
(2 M) era inferior ao Km de A (10 M) estamos numa zona da curva actividade versus [A] em que a
descida da concentração de A se reflecte numa descida da actividade que é quase proporcional. (A aplicação
da equação 1 permite calcular que uma descida de 2 para 1 M na concentração de A faz descer a actividade
de 16,7 nmol min-1 mL de soro-1 para 9,09 nmol min-1 mL de soro-1; uma descida de 45%).
Logo, não é plausível que se tenham mantido durante o tempo de ensaio de 30 min condições que
suportem uma velocidade constante de conversão igual à vinicial.
Problema 18
Usando dados fornecidos (Vmax, Km, quantidade de E adicionada e concentrações de A nos
diferentes tubos) é possível, usando a equação 1 (página 8), preencher as duas primeiras colunas da Tabela
(ver abaixo). O tempo de ensaio e a velocidade permitem calcular as quantidades de A que teriam sido
consumidas se os resultados correspondessem à realidade. A quantidade de A no início do ensaio (nmol) em
cada um dos tubos pode ser calculada a partir das concentrações e do volume do meio de ensaio. A última
coluna mostra que, a acreditar no investigador, em 3 dos tubos mais de 100 % do substrato adicionado (!)
teria sido consumido nos 10 min do ensaio. De qualquer forma mesmo no caso do tubo em que a
concentração de A era 16 M, a acreditar nos dados fornecidos, 50 % do substrato teria sido consumido nos
10 min de ensaio e, neste caso, não é verosímil que a velocidade calculada usando apenas um tempo de
incubação [(16 nmol - 8 nmol) / 10 min)] pudesse ser considerada vinicial.
Tabela
[A] (M)
0
1
2
4
8
16
velocidade
(nmol/min)
0
0,2
0,333333
0,5
0,666667
0,8
A consumido em 10
min
(nmol)
quantidade de A
no início do
ensaio
(nmol)
0
2
3,333333
5
6,666667
8
0
1
2
4
8
16
percentagem
de A
consumido
200%
167%
125%
83%
50%
Este texto foi preparado (em Julho e Agosto de 2010) por Rui Fontes que agradece todas as críticas
que entendam fazer. Desde já um obrigado ao professor Nuno Alçada, à Joana Meireles Pinto e à
Inês Fonte Rodrigues Martins.
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